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ROMPER O CÍRCULO DA ESPIRAL

Breaking the spiral circle

Shoko Kimura

Universidade Federal de Minas Gerais


Pesquisadora do PRODOC – Grupo de pesquisa
da Condição e Formação docente
Av. Antonio Carlos 6627 Pampulha - Belo Horizonte, MG – Brasil
shokimura@oi.com.br

RESUMO

O texto analisa o conhecimento prévio que o aluno tem a respeito da Geografia e sua importância na
organização de um curso. Usando como base empírica uma pesquisa feita desde o ano de 2000 com
alunos do curso de Pedagogia da FaE/UFMG, busca-se construir um assoalho teórico que explique o
desafio de aprender o ensinar-aprender, mesmo quando o conhecimento geográfico desses alunos é
lacunar ou quase ausente.As reflexões rumam na direção de pensar esse desafio colocado ao futuro
professor das séries iniciais do Ensino Fundamental, considerando que a transposição didática para as
suas séries iniciais é um empreendimento de grande complexidade. Dentre várias circunstâncias, deve-se
destacar que o aluno que freqüenta o Ensino Fundamental é um protagonista específico, em vista dos
diversos estágios de aprendizagem resultantes das diferenças etárias. Estas, somadas à condição de sujeito
histórico-cultural que é o aluno, constituem o centro do desafio colocado ao professor desse nível de
ensino.

Palavras-chave: conhecimento prévio – conteúdos geográficos – transposição didática – Ensino


Fundamental

ABSTRACT

The text analyses the previous knowledge that the student has regarding Geography and its importance in
the organization of a course. Using, as an empirical basis, a research that took place in the year 2000 with
Education students of FaE/UFMG (School of Education of the University of the State of Minas Gerais), it
aims building a theoretical ground which can explain the challenge of learning the teaching-learning even
when the knowledge of geography of these students is scarce or almost non-existent.
The reflections gear towards thinking of this challenge placed before future teachers of beginning classes
of Elementary School, considering that the didactics transposition to these beginning classes is an
endeavor of great complexity. Among various circumstances, it should be pointed out that the student
who attends Elementary School is a specific role player, due to the various learning stages resulting from
age differences. These differences, added to the historical-cultural subject condition attributed to the
student, constitute the center of the challenge placed before the teacher of this teaching level.

Key-words: previous knowledge – geographical contents – didactical transposition – Elementary School

1. APRESENTAÇÃO: apoio para o desenho do curso, cujos


objetivos buscamos alcançar lançando
Existe uma aceitação quase que mão das estratégias e procedimentos
generalizada entre os educadores de que facilitadores da aprendizagem,
o ponto de partida do desenvolvimento informados pelo conhecimento acerca
do ensino-aprendizagem está no saber do aluno.
que aluno traz. Esse saber é um grande

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Entendemos que esse saber séries/ciclos iniciais do Ensino
prévio é um instrumento para o diálogo Fundamental, porém, fazem-no com
de interlocutores, facilitando o conteúdos específicos que deixam a
transcurso da intertextualidade. Já que desejar. Cria-se, nessas circunstâncias,
esta é uma troca que requer o uma situação que precisa ser encarada
estabelecimento de uma ponte dialógica do ponto de vista epistemológico e
entre o enunciador e o receptor do texto, pedagógico.
é preciso buscar os conhecimentos de Defrontamo-nos com um duplo
ambos os lados. desafio, caracterizando não só a área de
Julgamos, também, que trata-se Geografia mas todas aquelas que
de um princípio do ensino- necessitam de conhecimentos
aprendizagem, qualquer que seja o nível específicos de uma determinada área do
e a modalidade de ensino. conhecimento, conforme relatam os
Este texto é um esforço para professores das diversas práticas de
pavimentar teoricamente essas questões, ensino.
tomando como ponto de apoio empírico Devemos perguntar de que
os dados da pesquisa integrante do maneira, de um lado, os alunos da
curso de Pedagogia da Faculdade de Pedagogia podem compreender as
Educação da Universidade Federal de questões teórico-metodológicas da
Minas Gerais (FaE/UFMG), cujo Geografia enquanto ciência, sem que
objetivo é identificar o saber geográfico elas sejam acompanhadas pelo
do qual são portadores os alunos que conhecimento a respeito das mais
freqüentam as disciplinas voltadas para diversas realidades concretas? De outro
o ensino de Geografia. Nesta pesquisa lado, de que maneira esses alunos
são buscados os saberes geográficos podem construir seu assoalho didático-
prévios desses alunos, pois, pedagógico do ensinar-aprender
diferentemente dos alunos da Geografia no Ensino Básico pois seus
licenciatura em Geografia, a formação conhecimentos específicos dessas
acadêmica ao longo do curso de realidades concretas são lacunares ou
Pedagogia não prevê, evidentemente, o mesmo ausentes e, via de regra,
tratamento dos conhecimentos ou resultam em uma apreensão teórico-
conteúdos específicos das diversas metodológica abstrata? Dito de outra
práticas de ensino e, assim, também os maneira, como se pode realizar a
da Geografia. Por isso, consideramos articulação entre teoria e prática de
que o patamar dos conhecimentos determinada produção do conhecimento
geográficos escolares desses alunos foi quando falta um dos pólos desse
constituído no Ensino Básico, em binômio?
especial no Ensino Médio, de cuja Mais ainda, de que maneira os
condição temos, pois, uma situação alunos da Pedagogia podem
exemplar. compreender essas questões da
Os alunos do curso de Pedagogia Geografia articuladas ao seu ensino,
cursam da base teorico-metodológica da diante das dificuldades acima
Geografia na disciplina .“Fundamentos apontadas, tendo em vista,
da interpretação espaço-temporal da precipuamente, sua formação como
realidade social” e tratam do seu ensino professor das séries iniciais do Ensino
na disciplina “Metodologia do Ensino Fundamental, o que implica,
de Geografia”, ministradas, necessariamente, a aquisição e
respectivamente, nos 7º.s e 8º.s mobilização das bases didáticas e
semestres. Constituem os fundamentos metodológicas específicas dessa
de sua formação para a docência nas modalidade de ensino?

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Como realizar essa formação de Pedagogia, cujos conhecimentos sobre
modo que se criem condições para uma os processos educativos são consistentes
transposição didática voltada para uma mas apresentam uma grande lacuna
Geografia cúmplice dos propósitos quanto aos conteúdos específicos e as
postos no horizonte de quem se proposições para a abordagem espacial
pergunta: da Geografia.
A pesquisa na qual se escora
Para que serve o sistema educacional (...) este texto visa traçar um quadro mais
se não for para (...) ajudar a decifrar os exato dessas percepções que se têm tido
enigmas do mundo, sobretudo o do
estranhamento de um mundo produzido
ao longo dos anos de docência, desde o
pelos próprios homens? (SADER, 2005) ingresso em 2000 na FaE.
Acrescentamos, ainda, o fato de que as
Apesar dos dilemas e desafios disciplinas destinadas ao ensino de
apontados acima, a formação do Geografia são desenvolvidas em uma
professor das séries/ciclos iniciais do carga horária exígua (90h/semestre), o
Ensino Fundamental precisa ganhar que torna imperativa a otimização do
consistência teórica no campo uso do tempo. Daí o conhecimento
específico do conhecimento em questão. prévio do saber geográfico do aluno
Ao mesmo tempo, é preciso que nosso constituir-se em um instrumento
empenho de formadores de professores importante na organização dos cursos.
caminhe na direção de se pensar uma
transposição didática de uma prática 2. O SABER GEOGRÁFICO PRÉVIO DO
docente que conflui para os alunos de ALUNO
menor idade. Pensamos que é uma
Simon Schwartzman (1994),
empreitada de grande complexidade,
analisando o ensino superior no Brasil,
cuja dificuldade extrapola aquelas da
referiu-se aos cursos “clássicos” para
transposição didática para os alunos das
formação de profissionais liberais,
séries intermediárias e finais do Ensino
aqueles que atingem socialmente o mais
Fundamental e do Ensino Médio e
alto grau de cotação, como a Medicina,
aquelas da regência de disciplinas nos
a Engenharia, Odontologia e outras
cursos superiores.
alçadas ao patamar de nobreza.
A formação dos alunos do curso
Destacou a existência de outros cursos
de Pedagogia da FaE, no que se refere
que ele denominou “vocacionais”,
ao ensino em geral e às questões
referindo-se àqueles cuja criação é
educacionais, percorre um caminho
historicamente mais recente, voltados
bastante diversificado e complexo,
para a formação tecnológica e
atingindo uma densidade bastante
demandas reais ou criadas pela
significativa. É instigante comparar
sociedade, como Decoração, Hotelaria,
esses alunos com os da Prática de
Turismo, Processamento de Dados etc,
Ensino de Geografia, estudantes da
cursos não tão bem reconhecidos, tanto
graduação em Geografia do Instituto de
pela comunidade acadêmica como na
Geo-Ciências da UFMG. Estes têm uma
nobiliarquia da sociedade em geral.
posição arraigada a respeito da
Entre esses, encontram-se os cursos que
importância dos conteúdos geográficos
formam o que autor chamou de “novas
específicos por si mesmos,
profissões”(comparando-os com a
considerando que o ensino-
tradição de cursos como Medicina,
aprendizagem pode dar-se
Odontologia, Engenharia etc) da área de
independentemente de processos
ciências humanas, das quais a
pedagógicos e educacionais. É uma
Pedagogia faz parte. Este curso é
situação oposta à dos alunos do curso de
procurado, quando da realização dos

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exames vestibulares, pelos alunos no imaginário dos alunos e aqueles que,
pertencentes aos setores sociais de por algum motivo, foram significativos;
menor poder aquisitivo, geralmente - conhecimentos geográficos que,
oriundos das escolas públicas. independentes da escolarização, o aluno
Esse cenário também está expõe sobre a realidade mundial
presente na FaE/UFMG, onde se contemporânea, o Brasil e Minas
destaca, ainda, uma parcela razoável de Gerais;
alunos afro-descendentes. Além disso, - um exercício teórico-metodológico de
tanto os alunos do curso diurno como os interpretação espacial, através da
do noturno são alunos trabalhadores, em análise de uma situação concreta;
especial os últimos. - expressão gráfica do aluno acerca de
Pode-se perceber entre eles as sua concepção de Geografia;
práticas mais costumeiras entre os - expressão gráfica do aluno acerca de
alunos universitários da atualidade, em sua concepção de ensino de Geografia.
que as leituras e o tempo de estudo fora
do horário de aula tornam-se cada vez Esses dados permitem
mais exíguos. A fragmentação do curso descortinar o cenário de uma formação
justificada através do discurso da geográfica bastante aquém do
flexibilização curricular é um dos considerado necessário em ensino
fatores para a instalação desse quadro. superior. Geralmente eles se associam a
Ainda que a atual organização do alunos vindos das escolas públicas,
ensino superior no país faça dos estudos porém, não é muito diferente a situação
um equivalente da organização da dos alunos oriundos de escolas
sociedade, fabril, fragmentada, com particulares, quando buscamos
tempos e espaços comprimidos, a informações sobre sua aprendizagem
FaE/UFMG, no entanto, consegue que em Geografia, tanto no Ensino
seus alunos desenvolvam um padrão de Fundamental como no Ensino Médio.
ensino bastante satisfatório e vasto, Somente um aluno que cursou escola
diversificado e complexo. particular relembra suas aulas de
A essa base geral do curso de Geografia desenvolvidas com didáticas
Pedagogia da FaE, acrescentamos um mais dinâmicas, permitindo ao aluno
assoalho informativo construído através reter suas percepções dotadas de uma
de coleta de dados, mediante um grande positividade.
relatório denominado “A construção A memória espacial não resulta
dos primeiros significados de uma relação direta com a escola, ela
geográficos”.Trata-se de um antecede no tempo e na variedade de
instrumento de pesquisa de 5 páginas, fatos acontecidos ao longo da vida das
realizado desde o ano de 2000, pessoas, desde seu nascimento, seus
solicitando informações que podemos espaços de sociabilidade, trajetórias e
agrupar, genericamente, nos seguintes experiências. A escola pode contribuir
tópicos: para dotá-las de atributos que sejam
instrumentos compartilhados para uma
- dados pessoais e perfil da compreensão do mundo. Quando
escolarização; buscamos obter informações dos alunos
- memória espacial da infância; sobre as lembranças evocadas pelo local
-informações quanto às metodologias de de nascimento, o inédito é que não
ensino vistas nas escolas fundamental e pudemos construir um quadro mais
média; consistente, pois a grande maioria não
- informações sobre os conteúdos mora e viveu sua infância no local de
geográficos específicos ainda presentes

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nascimento, ou seja, a grande maioria é reconstrução podemos edificar para a
constituída de migrantes. formação de formadores?
Relevo, clima, vegetação, Dentre as ilustrações em forma
hidrografia, mapas, países e capitais, de desenhos feitas pelos alunos sobre a
enfim, esse é o panorama que se revela Geografia, a grande maioria traça um
na pesquisa junto aos alunos da contorno de mapa, seja de Minas
Pedagogia. Poucos se lembram de Gerais, do Brasil e mesmo do mundo.
temas além desses itens, e quando Ou seja, a forma é um forte elemento
lembram, revelam-nos aquele ensino de que persiste como rastro de memória.
Geografia no Ensino Básico que temos Da Geografia aprendida (ou não) na
visto há décadas. Escola Básica sobrevive a geo-grafia,
Provoca-nos um mal-estar a expressa em uma representação oca.
constatação de que a escolarização para Quando os alunos representam o
pouco serve, a não ser para fragmentar ensino de geografia através de
o conhecimento e torná-lo inútil e mal ilustrações gráficas, via de regra é
quisto.Uma das situações mais colocada a figura de um professor, um
instigantes advém do oposto dessa quadro-negro e alunos sentados em
constatação, em que os conhecimentos fileira, um atrás do outro. Alguns
geográficos mais significativos a que os desenhos têm o cenário enriquecido
alunos se referem não resultam da pela presença de livros e mapas mas,
escolarização. Quando solicitados a invariavelmente, no “baloon” do
apontar seus conhecimentos geográficos desenho inscrevem-se frases do tipo
que independem da escolarização, os “blá-blá-blá”, e os alunos são
alunos discorrem, ainda que representados como pessoas entediadas
precariamente, sobre realidades e alheias ao contexto onde estão, a sala-
concretas como a realidade mundial de-aula.
contemporânea, o Brasil e Minas Vale o registro do depoimento
Gerais.. dos alunos de que eles não apreciaram
Nesse sentido, verificamos no as aulas de Geografia no Ensino Básico.
imaginário geográfico dos alunos a Queixam-se de que lhes foi exigida a
presença de questões candentes como a “decoreba”, da qual nada ou quase nada
globalização. Quase todos os alunos restou.
caracterizam o Brasil por suas Ricoeur (RICOEUR, 2007)
desigualdades sociais econômicas, refere-se à possibilidade de memória
assim como referem-se às disparidades através dos rastros deixados pela
regionais a diversidade cultural. É realidade. Os rastros grafados em uma
interessante observar que a mineiridade base material como os livros, os rastros
é um forte sentimento de identidade e da alma, gravados no fundo de nossas
Minas Gerais, apesar das grandes emoções como pathos, e os rastros
desigualdades e problemas sócio- corporais, que se articulam aos
econômicos, é visto como um estado em anteriores. Se é assim, perguntamos:
desenvolvimento. Também é instigante houve a constituição da aprendizagem e
que os alunos refiram-se ao motivo do ela foi registrada para ela ser
sucesso a caminho: o investimento do rememorada ou será que nossos alunos
capital estrangeiro. Tempos modernos, tiveram seus rastros apagados?
tempos do pensamento único. Se é esse É muito preocupante que os
o imaginário do qual os alunos são estudiosos da memória e aprendizagem,
portadores, esta é a matéria-prima com desde os da filosofia, da psicologia até
a qual precisamos trabalhar. Que os da neurociência refiram-se à
processos de desconstrução e importância da organização do

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pensamento, que deve ser vivida com entrelaçado e dotado de dinamismo
sensibilidade e carga afetiva. Para a ininterrupto que modifica
incorporação do mundo, razão e constantemente e complica aquele
emoção devem andar de mãos dadas. entrelaçamento”. (Idem, ibidem).
O grande dilema está em
3. BUSCANDO ROMPER O CÍRCULO DA querermos compartimentar e isolar a
ESPIRAL realidade, está em um grande temor que
herdamos do positivismo de que os
Uma das primeiras entes e os artefatos precisam ser bem
conseqüências dessas percepções é que, definidos e assumir contornos precisos.
apesar de soar estranho, boa parcela do Qual parcela ou totalidade nos aparece
tempo escolar dos cursos para os alunos com essa precisão, lancetada e
da Pedagogia passou a ser destinada ao delineada, como se a realidade não se
tratamento de conteúdos específicos de entrelaçasse numa tessitura
Geografia, em especial no que se refere caleidoscópica? Nesse exato instante, a
à produção do espaço de Minas Gerais. população mundial não é a mesma de
Partimos do princípio de que esses um minuto atrás. Os grãos dos solos se
conhecimentos são básicos uma vez compactaram ou se esfacelaram, as
que, posteriormente, serão objeto da árvores não têm as mesmas e tantas
transposição didática para o ensino- folhas, algumas nascidas agora, outras
aprendizagem dos alunos das recém caídas no chão, e o chão que se
séries/ciclos iniciais do Ensino cobre de folhas não se recobre mais
Fundamental. com aquele solo. Os homens podem ter
Ao mesmo tempo, nosso saído da terra, como em geral têm feito
empenho voltou-se em desenvolver por motivos que não são exatamente os
estratégias para uma aprendizagem mais do solo, mas os do chão que se torna
significativa, tendo como centro a mercadoria e, por isso, sendo
observação direta do meio, procurando, apropriado por alguns, deixa muitos
a partir dela, construir e mobilizar os sem chão. Os “conceitos cavalgam” e
conhecimentos geográficos que vão se montam, não nos permitem traçar
sendo adquiridos: os alunos de uma paisagem fixa. O rural e o urbano
Pedagogia fazem trabalho de campo só se definem no imposto territorial
para a análise de uma realidade urbano e rural mas, na sua concretude,
concreta. Os dados empíricos vão são o entrelaçamento de um com outro.
sendo revelados como nos ensina Caio Não mais relevo, clima,
Prado Jr (1980: 77): vegetação, pintar mapas sem saber
porquê, mas a realidade dinâmica e em
Como é fácil observar quando passamos
em revista os nossos conhecimentos e os
constante transformação. Observá-la,
conceitos que os exprimem, esses analisá-la, buscar seu sentido e elaborar
conceitos nunca se apresentam isolados conceitos à medida que eles vão se
e bem definidos, mas cavalgam pondo na realidade. Quando a
mutuamente, confundem-se sempre uns observamos, especialmente através de
com outros nos limites respectivos, às
vezes recobrem completamente e
um trabalho de campo, a realidade nos
compreendem-se uns aos outros. chega inteira, inclusive quando cheia de
lacunas, pois estas são constitutivas da
O mundo não é relevo, clima, espacialidade construída por uma
vegetação, ele se expressa em conceitos sociedade capenga.
que “se apresentam não como Ainda assim, permanece o
elementos isolados e estáticos, mas grande desafio desse professor das
como um conjunto intimamente séries iniciais do Ensino Fundamental.

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A transposição didática para o fazer- Nós, professores, podemos
pensar, para o ensinar-aprender trabalhar com esses diferentes textos na
caminhando na direção do aluno o aquisição do conhecimento geográfico,
aluno: se o nosso aluno da graduação é podemos construir uma
um adulto, ele, no seu futuro ofício de intertextualidade em diferentes
professor, terá alunos crianças e jovens. patamares. As diversas modalidades de
Eis a grande sutileza de seu trabalho, de texto dialogam entre si, em murmúrios,
ter como interlocutor alguém com uma quase-silêncios, voz alta, algazarra,
especificidade complexa. Além do desenhos bem definidos ou borrados,
contexto histórico-cultural, soma-se a corpos tímidos e escondidos ou
heterogeneidade etária. Não é à toa que desenvoltos, frases truncadas ou
os teóricos da psicogênese referem-se fluentes, sentimentos e pensamentos
aos diversos estágios de que buscam os atalhos para se
desenvolvimento, da infância à idade expressarem. Como estabelecer um
adulta. Daí que esse desafio de ensinar- diálogo com o outro que parece
aprender nas séries iniciais é um vôo expressar-se em outro idioma que não
rasgando a experimentação. aquele que me foi ensinado no curso
Toda vez que entramos em sala- superior?
de-aula, precisamos cobrir-nos com a É muito sintomático que
vestimenta do protagonista. O que falo? pensadores dos mais diferentes campos
Como falo? Para quem falo? Meu do conhecimento refiram-se à razão e à
interlocutor é alguém muito especial e emoção. Henry Wallon deu grandes
sua compreensão não é ainda a mesma passos na psicogênese ao apontar para a
compreensão que os adultos têm do importância da emoção, assim como
mundo. Aliás, meu interlocutor também Milton Santos na Geografia e, para
é um falante, ou apenas um ouvinte? entrarmos em um campo que nos parece
Mais ainda: do que falamos? frio, a neurociência, esta nos realça o
Milton Santos (1994) referia-se papel fundamental das sensações,
à importância da corporeidade, da emoções e afetos na organização do
socialidade e do cotidiano. Ele se referia pensamento e sua moradia na memória.
à análise espacial e não ao Ensino A vida que corre sem sentido passa e
Básico. Porém, parece-nos até que ele, não deixa rastros. Como criar sentido
já em 1994, antecipava alguns caminhos para as coisas?
para essa modalidade de ensino. Serão a
corporeidade, a socialidade e o 4. AFINAL, ONDE ESTÁ O FINAL?
cotidiano os eixos candentes
vertebradores do currículo de Os dados coletados pela
Geografia, em especial para as séries pesquisa quando do início da disciplina
iniciais? ministrada são comentados e, ao final
Ainda assim, permanecem várias do curso, buscamos mostrar aos alunos
questões para esse professor o processo pelo qual eles passaram,
protagonista, que é, na verdade, um analisando seu ponto de partida e de
comunicador. Daí a importância de chegada e a trajetória percorrida. Ao
termos clareza sobre o discurso. longo do semestre, realizaram grandes
Os diferentes textos do discurso: aquisições que vão comparecer nos
. textos escritos trabalhos de final do curso. Algumas
. textos falados dessas aquisições expressam-se como
. textos gráficos verdadeiras obras-primas.
. textos corporais O final está em não finalizar,
. outros textos uma vez que o conhecimento é

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transitório, os conceitos são históricos e Por este caminho, por esta passagem
o espaço se transforma com uma Encontram-se lembranças
desencontradas
voracidade inacreditável. Não sendo, Perdidas, esquecidas ou abandonadas
infelizmente, possível reproduzir as De um tempo passado que não tem dono.
encenações e ilustrações feitas pelos Tempo de ninguém.
alunos da Pedagogia, julgamos que
mais vale finalizar este texto Impressas sobre o trajeto de uma rua
interminável
transcrevendo um dos vários poemas de Essas lembranças tornam-se memórias
sua autoria, não só porque ele é Memórias que resistem ao novo tempo
representativo de até onde uma Que alimentam as permanências
possibilidade didático-pedagógica pode Que obrigam as mudanças a
chegar como uma tentativa de se redesenharem seu percurso.
romper com o círculo da espiral, mas Por esse velho novo espaço
também porque esse poema é a própria As pessoas passam
essência de uma representação que não Em direção à sobrevivência...
é mais oca: Sobrevivência negada aos sentidos
E ao que se deseja ser vivido.

Autores: Fabiana, Junia, Mônica, Paula


e Rosângela. Março de 2003. .

SANTOS, Milton. A natureza do


REFERÊNCIAS espaço: técnica e tempo, razão e
emoção. São Paulo: Hucitec, 1994.
PRADO JR, Caio. Dialética do SCHWARTZMAN, S. O futuro da
conhecimento. São Paulo: Brasiliense, educação superior no Brasil. In:
1980. PAIVA, Vanilda & WARDE, Mirian
RICOEUR, Paul. A memória, a Jorge (orgs). Dilemas do ensino
história, o esquecimento. Campinas, superior na América Latina.
SP: Ed Unicamp, 2007. Campinas-SP: Papirus, 1994
SADER, Emir. In: MÉSZÁROS, Istvan.
Educação para além do capital. São Data recebimento: 15.08.2009
Paulo: Boitempo, 2005 Data de aceite: 16.08.2009

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