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Universidade Anhanguera-UNIDERP

Instituto Brasileiro de Direito Processual – IBDP


Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes – REDE LFG

Curso de Pós-graduação Lato Sensu TeleVirtual em


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Disciplina
Processo de Conhecimento

Aula 1
LEITURA OBRIGATÓRIA 2

Petrônio Calmon
Doutor em Direito Processual pela USP
Secretário-Geral do Instituto Brasileiro de Direito Processual
Procurador de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal
Membro do Instituto Ibero-americano de Direito Processual
Membro da Associação Internacional de Direito Processual

ABUSO DO PROCESSO

Como citar este texto:

CALMON, Petrônio. Abuso do processo. Material da 1ª aula da


disciplina Processo de Conhecimento, ministrada no curso de pós-
graduação lato sensu televirtual em Direito Processual Civil -
Anhanguera-UNIDERP|REDE LFG.
1. O abuso do processo no Brasil – soluções normativas vigentes.
Desde o primeiro Código de Processo Civil unificado brasileiro, em 1939, o Brasil
definiu, de forma estruturada, soluções legislativas para os atos de abuso no processo. O
código de 39 tratava da matéria já em seu art. 3o, que dispunha que a parte responderia por
perdas e danos se intentasse abusivamente demanda ou defesa. Embora com diversos traços
comuns ao abuso de direito material, o abuso de direito processual, à luz do Código de 1939,
merecia da doutrina análise que lhe destacava contornos e detalhes próprios. Catalogavam-se
como modalidades do referido abuso em relação ao processo civil: 1) o dolo, a respeito do
qual se distinguia o dolo substancial e o instrumental; 2) a temeridade; 3) a fraude; sob as
formas de processo aparente e simulado; 4) a emulação; 5) o capricho; 6) o erro grosseiro; 7)
a violência; 8) a protelação do feito; 9) a falta ao dever de dizer a verdade, 10) o anormal uso
do poder de disposição do processo.1
Com o advento do código de 1973 e suas inúmeras reformas, o direito processual
brasileiro passou a regular o fenômeno do abuso do processo de maneira praticamente
completa, porém de forma irregular e dispersa, sob nomenclatura variada e despropositada.
Embora em uma concepção pura de linguagem técnica, os termos ou expressões utilizados
tenham significados ou peculiaridades diferentes, na legislação, doutrina e jurisprudência
brasileiras o tema geral do abuso no processo é tratado com diversas denominações, dentre
elas: abuso do direito, abuso do processo, dano processual, litigância de má-fé, fraude, ato
atentatório à dignidade da justiça, ato atentatório ao exercício da jurisdição, comtempt of
court e ilícito processual.
Normalmente se considera como fenômeno único ou ao menos se estuda em
conjunto os dispositivos que visam a coibir o abuso no direito de demandar, o abuso no
direito de defesa, a má-fé processual, o ato atentatório ao exercício da jurisdição e as
obrigações decorrentes da sucumbência. Mais comum, no entanto, é o instituto da má-fé
processual, cujas condutas são expressamente definidas no Código de Processo Civil, sendo
punível aquele que litiga segundo essa motivação. A litigância de má-fé é instituto
contemplado pelo direito processual civil brasileiro, destinado pelo Código de Processo Civil
vigente a coibir a “chicana”, a lide temerária.2
Litigante de má-fé é, pois, a parte ou interveniente que, no processo, age de
forma maldosa, com dolo ou culpa, causando dano processual à parte contrária. É o improbus
litigator, que se utiliza de procedimentos escusos com o objetivo de vencer ou que, sabendo
ser difícil ou impossível vencer, prolonga deliberadamente o andamento do processo
procrastinando o feito.3
O Código de Processo Civil atual dedica um de seus primeiros capítulos (Capítulo II
do Título II do Livro I) ao que denomina “Dos deveres das partes e dos procuradores”. A
primeira seção deste capítulo é dedicada à descrição dos deveres, enquanto a segunda trata
da responsabilidade das partes por dano processual. Em complemento, diversos outros
dispositivos tratam da matéria, sendo fixadas as condutas inadmissíveis e suas respectivas
penas. Todavia, nota-se claramente que as condutas inadmissíveis previstas são elaboradas
como tipos abertos, pois não indicam, com a precisão necessária, em que consistem e quais
seriam seus elementos intrínsecos, para que se possa chegar com objetividade à aferição da
conduta e sua eventual subsunção à norma proibitiva.
Reforça-se, em sinal de advertência, que, certa ou errada, a doutrina brasileira
trata dos atos atentatórios ao exercício da jurisdição (comtempt of jurisdiction) e dos atos
atentatórios à dignidade da justiça (comtempt of court) em conjunto com o estudo do abuso
processual, embora aqueles sejam mais propriamente atos de descumprimento ou embaraço
de ordem judicial e não atos processuais com o fim de fraudar, protelar ou outro escopo
imcompatível com a ética que se espera dos litigantes. Conferindo-se tamanha abrangência,

1
Cf. HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, Abuso de direito processual no ordenamento jurídico brasileiro, in
Abuso dos Direitos Processuais, coordenado por JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA. Rio de Janeiro: Forense-
Instituto Ibero-Americano de Direito Processual, 2000.
2
Cf. BRUNELA VIEIRA DE VINCENZI, A boa-fé no processo civil. São Paulo: Atlas, 2003, p. 22.
3
Cf. NELSON NERY JÚNIOR e ROSA NERY. Código de processo civil comentado. São Paulo: RT, 2003, p. 222
2
poder-se-ia pensar em incluir no estudo do abuso processual, as medidas subrogatórias (ou
pelo menos as sancionatórias) previstas para o descumprimento das medidas judiciais que
determinam o cumprimento de obrigação de fazer, não fazer ou entrega de coisa. Afinal, o
disposto no inciso V e no parágrafo único do art. 14 guarda enorme similitude com o disposto
no § 5o do art. 461 do CPC. Apesar desta consideração, não se chegou a tamanha abrangência
neste trabalho.

2. Sistema preventivo de condutas.


A prevenção se faz pela própria repressão, que gera, ou deveria gerar, o temor da
pena e, em conseqüência, a indisposição para praticar os atos abusivos que proporcionariam
sua aplicação.
Todavia, no processo de execução, o Código de Processo Civil estabelece que o
juiz pode, em qualquer momento do processo, ordenar o comparecimento das partes e
advertir o devedor que o seu procedimento constitui ato atentatório à dignidade da justiça,
antes, é claro, da aplicação de qualquer penalidade. No processo de execução, conforme se
verá no item 4, a pena aplicada pode ser relevada pelo juiz, sob o compromisso do devedor
de que não mais praticará o ato. Esse dispositivo transforma a punição em uma mera
prevenção, visando a que qualquer atitude considerada abusiva não seja reiterada por alguma
das partes.

3. Condutas processuais abusivas

Condutas positivas:
Com forte apelo pedagógico, antes de dispor sobre as principais condutas
processuais abusivas, o Código de Processo Civil brasileiro estabelece condutas positivas pelas
quais devem se pautar todos os litigantes e aqueles que de qualquer forma participam do
processo (CPC, art. 14), a saber:
• expor os fatos em juízo conforme a verdade
• proceder com lealdade e boa-fé
• não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de
fundamento
• não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou
defesa do direito
• cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à
efetivação de provimentos judiciais de natureza antecipatória ou final.

Condutas negativas:
Não obstante essa nobre estratégia, como norma jurídica que é, o Código de
Processo Civil estabelece as condutas inadmissíveis que visa a coibir.
As condutas processuais abusivas previstas na legislação processual civil brasileira
podem ser classificadas em três grupos. O primeiro é o das condutas típicas caracterizadoras
da má-fé, previstas inicialmente no art. 17 do CPC e em diversos outros dispositivos, puníveis,
em regra, com multa e indenização. O segundo grupo contém as condutas que atentam contra
o exercício da jurisdição, costumeiramente chamadas de comtempt of court (art. 14, inciso
V). O terceiro grupo contém as diversas condutas para as quais estão previstas sanções de
natureza processual.

Primeiro grupo – condutas de má-fé:


3
• deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso
(CPC, art. 17, I)
• alterar a verdade dos fatos (CPC, art. 17, II)
• usar do processo para conseguir objetivo ilegal (CPC, art. 17, III)
• opuser resistência injustificada ao andamento do processo (CPC, art. 17, IV)
• proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo (CPC, art.
17, V)
• provocar incidentes manifestamente infundados (CPC, art. 17, VI)
• interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório (CPC, art. 17, VII)
• requerer a citação por edital, alegando dolosamente que réu é desconhecido ou
incerto ou que o local onde se encontra é ignorado, incerto ou inacessível (CPC,
art. 233)
• opor embargos declaratórios manifestamente protelatórios (CPC, art. 538,
parágrafo único)
• interpor agravo de instrumento para os tribunais superiores quando
manifestamente inadmissível ou infundado (CPC, art. 557, § 2o)

Segundo grupo – atos atentatórios ao exercício da jurisdição:


• não cumprir com exatidão os provimentos mandamentais (CPC, art. 14, V,
primeira parte)
• criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais de natureza antecipatória
ou final (CPC, art. 14, V, segunda parte)
• fraudar a execução (CPC, art. 600, I combinado com o art. 593)
• opor-se maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos (CPC,
art. 600, II)
• resistir injustificadamente às ordens judiciais (CPC, art. 600, III)
• não indicar ao juiz onde se encontram os bens sujeitos à execução (CPC, art. 600,
IV)

Terceiro grupo – condutas para as quais são previstas sanções processuais:


• emprego de expressões injuriosas nos escritos apresentados no processo (CPC, art.
15)
• processo simulado – autor e réu se servirem do processo para praticar ato simulado
ou conseguir fim proibido por lei (CPC, art. 129)
• abuso do direito de defesa (CPC, art. 273)

4. Espécies de sanções e responsabilidades previstas e a quem são dirigidas


Como punição contra os atos de abuso do processo, o direito brasileiro prevê não
somente sanções de ordem pecuniária, como a multa e a indenização por perdas e danos, mas
igualmente, impedimentos ou restrições de direito processual, como a proibição de falar nos
autos, de manifestar novo recurso ou de só poder assim proceder se recolher o valor
correspondente à sanção aplicada.

4
A sanção para o ato abusivo pode ser, também, a decretação de sua própria
nulidade, podendo até ser proposta ação rescisória para desconstituir sentença que tenha sido
prolatada sem que a nulidade tenha sido, antes, decretada.
Para os atos atentatórios à dignidade da justiça ou, em melhor expressão, atos
atentatórios ao exercício da jurisdição, discute-se a possibilidade de ser decretada a prisão
como conseqüência do descumprimento de ordem judicial ou de ato que embarace a
efetivação de provimentos judiciais de natureza antecipatória ou final. Conforme já se
salientou, o disposto no inciso IV do art. 14 do CPC em muito se assemelha com o previsto
para o cumprimento das decisões que condenam a obrigação de fazer, não fazer ou entrega
de coisa, conforme disciplina dos arts. 461 e 461-A do CPC. Como medidas subrogatórias ou
sancionatórias, o § 5o do art. 461, aplicável ao art. 461-A, estabelece a possibilidade de
aplicação de multa, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e
impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.
Ocorre que no Brasil é previsto o crime de desobediência, previsto no art. 330 do
Código Penal – “desobedecer a ordem legal de funcionário público: pena – detenção, de
quinze dias a seis meses, e multa.” Há, pois, a permanente ameaça da aplicação das penas
previstas para esse crime, o que, evidentemente, há que ser feito na sede própria do
processo penal. Adianta-se, no entanto, que com o advento da Lei dos Juizados Especiais (Lei
nº 9.099, de 1995), o crime de desobediência passou a ser considerado de menor potencial
ofensivo, para os quais há vedação expressa da prisão em flagrante, retirando o caráter
coercitivo prático de valer-se deste tipo de ameaça para evitar-se o descumprimento de
ordem judicial.
Discute-se a aplicação da prisão cível para os casos de descumprimento de ordem
judicial. Para uns a Constituição Federal veda essa possibilidade. Para outros, a Constituição
somente veda a prisão civil por dívidas, mas não outras espécies de prisão civil. De qualquer
forma, esta discussão é de lege ferenda, pois ninguém pode ser privado de sua liberdade sem
expressa previsão legal, ainda que a prisão tenha natureza não-penal.
Há, ainda, no Código Penal, o crime de fraude processual, previsto no art. 347 –
“inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de
lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: pena – detenção
de três meses a dois anos, e multa”.
Considerando a classificação das condutas abusivas supra apresentada, são as
seguintes as sanções previstas e seus destinatários:

Primeiro grupo – condutas de má-fé:


Em todos os casos de responsabilidade por abuso processual, responde por perdas
de danos aquele que pleitear de má-fé como autor, réu ou interveniente.
Em relação às condutas previstas no art. 17 do CPC, o juiz ou tribunal, de ofício ou
a requerimento, condenará o litigante de má-fé a pagar multa não excedente a 1% sobre o
valor da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os
honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou. A indenização será desde logo fixada
pelo juiz, em quantia não superior a 20% do valor da causa ou liquidada por arbitramento
(CPC, arts. 16 e 18).
Em relação à citação indevida por edital (art. 233 do CPC), a parte incorrerá em
multa de cinco vezes o valor do salário mínimo, que reverterá em benefício do citando.
Em relação aos embargos de declaração protelatórios (art. 538, parágrafo único),
o código fixa uma multa não excedente a 1% do valor da causa, sendo que, na reiteração a
multa é elevada a até 10%, ficando condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao
depósito do valor respectivo. Aqui estão previstas a multa indenizatória e a sanção de
natureza processual, pois como os embargos de declaração interrompem o prazo para a
interposição de qualquer outro recurso, este somente poderá ser apresentado após o depósito

5
do valor da multa. Não o fazendo no prazo, o recurso pretendido restará deserto, não
devendo ser conhecido.
Em relação à interposição de agravo de instrumento para dar seguimento aos
recursos excepcionais, caso manifestamente inadmissível ou infundado, a multa mantém-se
entre 1 e 10% do valor corrigido da causa.

Segundo grupo – atos atentatórios ao exercício da jurisdição:


Há duas disposições no Código de Processo Civil brasileiro que tratam de atos
atentatórios à justiça. Seguindo a ordem do código, a primeira encontra-se no parágrafo único
do art. 14, que fala mais propriamente em ato atentatório ao exercício da jurisdição. A
segunda é a prevista no art. 600, que se expressa de forma diferente: ato atentatório à
dignidade da justiça.
Em ambos os casos, a multa é cabível sem prejuízo de outras sanções cíveis,
criminais e processuais. A enorme diferença é que a multa prevista no art. 14 é a favor do
Estado, inscrita como dívida ativa, enquanto que, no art. 600, a multa é a favor da parte
contrária, exigível na própria execução.
Enquanto que o tratamento conferido pelo parágrafo único do art. 14, introduzido
no Código de Processo Civil pela Lei nº 10.358, de 2001, é coerente com seus escopos, o
antigo art. 600 e o art. 601, este alterado pela Lei nº 8.953, de 1994, revelam impropriedade
de linguagem e incongruência entre a conduta punível e a sanção prevista.
A impropriedade de linguagem do art. 600 advém da utilização da expressão ato
atentatório à dignidade da justiça. Falar em atentado à dignidade da justiça é demonstrar
nítida inspiração no comtempt of court do velho direito consuetudinário inglês, que tem por
fundamento o comtempt power, que legitima punir os atos praticados por qualquer pessoa
que causem ou sejam aptos a causar dano à justiça, à sua imagem, ao respeito do povo pela
justiça, a sua credibilidade e à honra de seus membros.4 Por outro lado, falar em atentado ao
exercício da jurisdição guarda mais coerência com o objeto jurídico que se pretende
proteger, que não é, hoje, a imagem ou a credibilidade da Justiça como instituição, mas sim
a atuação livre e soberana do órgão jurisdicional. Por tal razão, na própria Inglaterra há
estudos modernos propondo que se utilize a expressão comtempt of jurisdiction.
A incongruência entre a conduta punível e a sanção prevista no art. 601 está no
fato de esse dispositivo fixar como sanção uma multa destinada à parte contrária. Ora, se o
bem jurídico que se pretende proteger é a justiça, em sua dignidade ou atuação, coerente
seria destinar a multa ao Estado e não à parte contrária. Melhor é o disposto no parágrafo
único do art. 14, que confere ao Estado a multa pela prática de ato que contra ele se pratica.
Ainda que a parte contrária seja prejudicada (o que seria reparado com a indenização por
perdas e danos) a atividade de desacato representa uma ofensa ao órgão judicial.
Para a parte contrária está destinada a sanção de natureza cível, ou seja, a
indenização por perdas e danos. Sob esse fundamento, se fará justiça a quem sofre as
conseqüências materiais pelo desacato à ordem judicial. Todavia, a sanção principal contra
quem desacata o Estado não deveria ter seu fruto destinado ao litigante contrário, mas sim ao
próprio Estado, como o são as demais sanções de natureza penal.
Situação especial se encontra o advogado. Embora o próprio Estatuto da Advocacia
(Lei 8.906, de 1994) estabeleça em seu art. 32 que “o advogado é responsável pelos atos que,
no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa” e no parágrafo único desse artigo que
“em caso de lide temerária, o advogado será solidariamente responsável com seu cliente,
desde que coligado com este para lesar a parte contrária”, a Ordem dos Advogados do Brasil
exerceu forte pressão sobre o parlamento brasileiro quando da discussão do projeto de lei que
originou a Lei. 10.358, de 2001, para excluir o advogado da incidência das sanções previstas
no parágrafo único do art. 14, acrescentado por essa nova lei, o que de fato aconteceu. Na
Câmara dos Deputados, o projeto elaborado pelo Instituto Brasileiro de Direito Processual,
4
Cf. BRUNELA VIEIRA DE VINCENZI, A boa-fé no processo civil. São Paulo: Atlas, 2003, p. 22.
6
que já havia sido modificado pelo Governo Federal, antes de apresentá-lo ao parlamento,
sofreu enorme deturpação, ao excluir o advogado da incidência das sanções previstas para
aquele que não cumpre com exatidão osprovimentos mandamentais ou cria embaraço à
efetivação de provimentos jurisdicionais de natureza antecipatória ou final. Tal deturpação se
deu com a inserção, logo no início do parágrafo, da frase “ressalvados os advogados que se
sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB”.
Por fim, cumpre salientar que, quando se trata das condutas abusivas previstas no
art. 600 (relacionadas com o processo de execução) o Código de Processo Civil prevê a
possibilidade de o juiz relevar a pena, caso o devedor se comprometa a não mais praticar
qualquer dos atos previstos como abusivos e dê fiador idôneo que responda pela integralidade
de suas obrigações objeto da execução.

Terceiro grupo – condutas para as quais são previstas sanções processuais:


• emprego de expressões injuriosas nos escritos apresentados no processo (CPC, art.
15) – sanção: o juiz, de ofício ou a requerimento do ofendido, mandará riscá-las
• processo simulado – autor e réu se servirem do processo para praticar ato simulado
ou conseguir fim proibido por lei (CPC, art. 129) – sanção: o juiz proferirá
sentença extinguindo o processo sem julgamento de mérito, com fundamento na
simulação.
• abuso do direito de defesa (CPC, art. 273) – sanção: o juiz poderá, a requerimento
da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no
pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da
verossimilhança da alegação.

Outra espécie de abuso: o abuso do direito de demandar


A infração mais grave ao princípio da probidade processual é, sem dúvida, a que
caracteriza o “abuso do direito de demandar”. Tal direito não diz respeito apenas à atividade
do autor ao propor a ação, mas, também, abrange a do réu em defender-se ou, na linguagem
do Código de Processo Civil, em responder (excepcionar, contestar ou reconvir).5

5. Fatores para determinar a responsabilidade civil pelo dano processual


Alguns doutrinadores brasileiros entendem que o legislador optou por um critério
objetivo de aferição da má-fé, pois estabeleceu taxativamente as condutas assim
consideradas. Todavia, a fixação objetiva das condutas não significa que foi estabelecida a
responsabilidade objetiva. Se assim fosse, dever-se-ia concluir de idêntica maneira em
relação ao direito penal, onde, como se sabe, as condutas típicas são objetivamente
expressas, mas somente se pune a conduta praticada com dolo ou culpa.
No Brasil, embora a legislação processual tenha evitado a nomenclatura do direito
civil (erro, dolo, coação, fraude e simulação) são os mesmos os fundamentos e as
conseqüências do abuso do processo e do abuso do direito material, ambos fundados no
princípio da responsabilidade subjetiva.6
Quando se trata do abuso no processo, é certo que as condutas são fixadas
taxativamente, embora sejam consideradas tipos aberto, pois não encerram todas as
atividades possíveis, mas sim certos resultados aos quais se pode chegar mediante qualquer
ação ou omissão dos litigantes. Todavia, certo é também que não se pode punir quem

5
ALCIDES DE MENDONÇA LIMA, Abuso do direito de demandar, in Revista de Processo, São Paulo: Revista dos
Tribunais, nº 19, 1980, jul.-set.
6
Cf. RUI STOCO, que conclui sua obra Abuso no processo e má-fé processual (São Paulo, RT, p.150)
afirmando: “Na má-fé processual a imputação é subjetiva, na esteira da teoria do abuso do direito, da
qual decorre e onde ncontra fundamento e sustentação.”
7
simplesmente pratica um ato, mas somente aquele que o pratica agindo com disposição, se
não para causar dano ou desacato, mas pelo menos com consciência de que irá atingir
objetivo vedado pelo ordenamento, como, por exemplo, defender-se sem fundamento, não
dizer a verdade sobre os fatos, não revelar onde se encontram bens sujeitos à execução ou
recorrer somente para protelar o desfecho do processo. Esses são exemplos de condutas que,
ao cometê-las, obviamente o litigante está ciente de estar abusando, ou seja, esta agindo
com dolo ou culpa.
Em relação à interposição de agravo de instrumento para dar visando seguimento
aos recursos excepcionais, evidentemente a lei não está pretendendo punir quem
simplesmente recorre sem razão, o que significaria o reconhecimento de responsabilidade
objetiva, mas deseja punir quem recorre com intuito meramente protelatório. Ocorre que a
aferição da índole protelatória somente é possível quando, antes, verifica-se a
inadmissibilidade patente ou a manifesta ausência de fundamento para o recurso. A sanção,
no entanto, somente deverá ser aplicada quando reconhecido o intuito meramente
protelatório.

6. Condutas abusivas mais frequentes


O recurso protelatório, sem dúvida, é a prática mais frequente e a mais difícil de
ser punida, pela dificuldade de provar o ânimo de fraudar. Não é simples infirmar um recurso
infundado e incabível como protelatório, pois há de se garantir o direito de postular e de se
valer dos recursos previstos na lei. Essa é uma garantia constitucional.
Considerando que a lei brasileira é extremamente rigorosa, agasalhando teorias
como o dever de veracidade das partes e da proibição da defesa abusiva, pode-se imaginar
que essas são práticas corriqueiras, impossíveis de serem objeto de pesquisa e, sobretudo, de
punição. A punição dessas práticas somente seria quantitativamente considerável caso fosse
feita opção pela responsabilidade objetiva, o que deve ser repudiado.
Outra prática freqüente no Brasil, mas que algumas medidas legislativas e
administrativas recentes estão reduzindo sua ocorrência, é a propositura de várias demandas
idênticas concomitantemente ou sucessivamente, visando a obter a mais proveitosa medida
de urgência possível. Após lograr êxito nessa empresa mesquinha e fraudulenta, desiste-se
das demais demandas. Tal fato era comum em Mandado de Segurança e Ação de Alimentos.
Hoje, o Código de Processo Civil dispõe que serão distribuídas ao mesmo juiz as causas em
que o pedido é uma reiteração, mesmo tendo havido desistência. Todavia, para o sucesso
desse nóvel dispositivo se faz necessário rigoroso controle físico das inúmeras petições
iniciais, o que tem sido realizado com sucesso em alguns casos com o auxílio da informática,
cuja universalização, no entanto, ainda não é uma realidade.

7. Suficiência do atual sistema normativo brasileiro


O sistema brasileiro é teoricamente completo, mas carece de melhor
sistematização e abordagem técnica, tudo com vistas a proporcionar verdadeira e eficaz
punição das práticas abusivas. O exagero das medidas e das sanções muitas vezes tem o
condão de proporcionar uma situação contrária da que se pretende. É o que ocorre. Não se
percebe que haja confiança no sistema, pois não se leva à sério o tema do abuso processual.
As disposições legislativas aparentam ser suficientes e perfeitas, mas não são aplicadas na
medida da necessidade. Para ser suficiente, o sistema normativo deveria ser melhor, mas a
verdadeira solução está no desenvolvimento de uma cultura favorável.

8. Considerações complementares e conclusivas


A diversidade de linguagem apontada no início deste ensaio, a dispersão dos
ordenamentos e os tipos abertos são os mais fortes fatores para se considerar como um
verdadeiro sonho a existência de um sistema efetivo de prevenção e repressão ao abuso no
processo civil brasileiro.
8
Não se poderia afirmar que o Brasil não regula o abuso no processo, pois há
normas em demasia. O que lhes falta, no entanto, é uma formulação técnica mais adequada,
necessária para fazer valer seus preceitos, pois hoje tornou-se muito fácil evitar a aplicação
das sanções previstas. Para tanto, sente-se falta de um sistema forte de prevenção e
repressão às condutas abusivas e atentatórias ao exercício da jurisdição e é importante
salientar o papel do juiz nesse sistema, pois a ele compete não somente certificar o direito e
proporcionar as medidas práticas necessárias à satisfação do direito já certificado, mas
igualmente dirigir o processo (CPC, art. 125), assegurando às partes igualdade de tratamento,
prevenindo ou reprimindo qualquer ato contrário à dignidade da justiça.
Todavia, o que se espera de um sistema repressor não é somente que seja forte e
eficaz, mas que proporcione tranqüilidade e confiança à sociedade. Estabelecer mais
severidade no combate ao abuso processual tem como pressuposto a melhor estrutura e
organização do poder judiciário, a fim de que este preste o serviço público ao qual é
destinado com qualidade e eficácia, mas para proporcionar à sociedade a confiança neste
sistema, deve-se dotá-la de mecanismos de controle suficientes para, em contrapartida,
coibir os abusos eventualmente cometidos pelos operadores da prestação jurisdicional.
Comenta-se que as reformas processuais promovidas no Brasil nos últimos dez
anos, todas empreendidas pelo Instituto Brasileiro de Direito Processual, sob a coordenação
dos professores Sálvio de Figueiredo Teixeira, Athos Gusmão Carneiro e Ada Pellegrini
Grinover, proporcionaram significativo aumento dos poderes do juiz, gerando exageros e
abusos. Todavia, não se pode cessar de realizar uma obra importante somente porque outra
parte da construção nacional encontra-se obstacularizada por uma infinita luta corporativa.
Cabe à técnica definir os melhores caminhos à serviços dos legítimos escopos da jurisdição,
sempre considerando a existência de instituições saudáveis. Cabe à política proporcioná-las.

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