VISEU
rumo à QUALIDADE
A VOZ DOS DOENTES DA UCIC DO
HSTV II
Rumo à QUALIDADE
A VOZ DOS DOENTES DA UCIC DO HSTV
II
Também na área da saúde não existe actualmente nenhuma intervenção ou algo que
sobre ela incida, que não teça considerações, questione ou manifeste preocupação
sobre a qualidade, seja numa perspectiva global e genérica seja nas suas diferentes
dimensões e atributos.
2º - Segundo
2ª - Segunda
ESENFV – Escola Superior de Enfermagem de Viseu
gl – Graus de liberdade
HSTV – Hospital de São Teotónio de Viseu
nº - número
OMS – Organização Mundial de Saúde.
UCIC – Unidade de Cuidados Intensivos Coronários.
SUMÁRIO fl.
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14
CAPÍTULO I
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
CAPÍTULO II
METODOLOGIA
BIBLIOGRAFIA
ANEXOS
Isto é tão importante que todas as empresas com preocupações de qualidade têm os
seus inquéritos, que provavelmente todos nós já fomos solicitados a responder.
Nos Serviços de Saúde, que cada vez mais se comportam como verdadeiras empresas,
estes factos também não podem ser descorados, até porque os cidadãos em virtude da
globalização da informação cada vez mais estão cientes e ciosos dos seus direitos que
incluem cuidados de saúde de qualidade.
Neste sentido queremos agradecer a colaboração dos colegas, para a realização deste
trabalho, pois sem a sua ajuda e colaboração não teria sido possível.
Com a realização deste trabalho pretendemos dar resposta a duas questões que
pensamos ser essenciais par a melhoria dos cuidados que prestamos:
1.Será que os doentes estão satisfeitos com os cuidados que lhe prestamos?
2. Quais serão as áreas em que necessitamos melhorar para aumentar a sua
satisfação?
Tendo como base estas questões estabelecemos como objectivo geral, estabelecer um
programa de melhoria contínua dos cuidados prestados na UCIC, tendo como
objectivos específicos:
Para além destes objectivos relacionados com a melhoria contínua dos cuidados na
unidade, temos também objectivos académicos dentre os quais se destaca o
aprofundamento de conhecimentos na área da qualidade e avaliação da satisfação dos
doentes e ainda consolidar conhecimentos na área da investigação e estatística.
Sabemos que é um trabalho árduo que nos espera mas esperamos que no final
sintamos a sensação gratificante não só do dever cumprido, mas também da alegria de
contribuirmos para uma melhor prestação de cuidados no serviço, onde trabalhamos , a
UCIC.
CAPÍTULO I
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O suporte teórico necessário a qualquer estudo de investigação é conseguido através
da revisão bibliográfica, pelo que este pode ser considerado o primeiro passo de
qualquer pesquisa científica (LAKATOS e MARCONI, 1995).
De acordo com RODRIGUES (1998), esta revisão da literatura constitui uma fonte de
ideias para investigar, permite a compreensão do texto conceptual e faculta
informações acerca do foco da investigação.
Contudo, RICHARDSON /1989) alerta para o facto de uma boa revisão bibliográfica não
implica que seja necessariamente exaustiva, abarcando todos e cada um dos textos
que tratam o problema.
Com base nestes princípios e tendo presente os objectivos propostos no início deste
estudo, iremos abordar ao longo deste capítulo perspectivas de diferentes autores
relacionadas com a qualidade e consequente satisfação dos doentes/utentes, tendo em
conta que estamos a estudar aqueles internados na UCIC.
Como foi dito anteriormente, este é um trabalho de continuação, inserido num programa
de melhoria contínua da UCIC, em que se pretende avaliar se as estratégias
implementadas em função dos resultados obtidos na primeira avaliação obtiveram os
resultados esperados ou seja uma maior satisfação com os cuidados prestados no
serviço.
Definir qualidade não é fácil, pois é um conceito em constante mutação, porém a sua
importância é inequivocamente posta em evidência por CHARVET-PROTAT, quando
afirma:
“A qualidade custa caro, mas existe algo mais caro que a qualidade: a sua ausência”.
(1998:720)
O mesmo autor refere ainda que não basta querer qualidade, é necessário sentir a sua
necessidade por isso tem que ser vista como a filosofia da própria empresa.
Isto quer dizer que um produto tem qualidade se conseguir ser utilizado para aquilo que
foi feito. O conceito de qualidade baseia-se no produto, não tendo em conta outros
factores, como seja as preferencias dos utilizadores.
Já para JURAN, citado pelo mesmo autor, um produto tem qualidade se:
“ a antecipação às necessidades dos clientes, traduzindo-as num produto útil e fiável, através da
criação de um sistema que o produza ao menor custo possível, para que este represente valor
para o cliente e lucro para a empresa”
(1998:7)
Por último as ISO 8402 de 1997, citadas por MADEIRA, definem qualidade como:
“O conjunto de propriedades e características de um produto ou de um serviço que lhe confere
aptidão para satisfazer necessidades explícitas ou implícitas do cliente”
(1998:8)
Como vimos, o conceito de qualidade tem vindo a evoluir de forma dinâmica, podendo
identificar-se várias fases na sua evolução.
Nesta fase, ainda, dá-se grande ênfase á participação dos clientes na empresa, não só
como clientes mas também como fornecedores, não de produtos na verdadeira
acepção da palavra, mas como fornecedores de ideias e sugestões. Destas ideias e
sugestões se poderá transformar o produto de modo a satisfazer mais o cliente.
Mais uma vez fica provado que nas modernas concepções de qualidade o cliente/utente
é parceiro essencial. A preocupação já não é só com aceitação do produto por parte do
cliente/utente mas é sobretudo o seu envolvimento na concepção desse mesmo
produto.
Este envolvimento do cliente nos processos de qualidade é a causa que nos levou a
pensar que seria impensável falar em satisfação dos doentes, sem abordarmos o tema
da qualidade, já que é uma das vertentes mais importantes dela.
2. A QUALIDADE NOS SERVIÇOS DE SAÚDE
O mesmo autor (2000) afirma que não haverá hoje em dia, nenhuma intervenção na
área da saúde ou que sobre ela incida, que não teça considerações, questione ou
manifeste preocupação sobre a qualidade na saúde, seja numa perspectiva global e
genérica seja nas suas diferentes dimensões e atributos.
Esta aparente unanimidade, bem como a relativa naturalidade e facilidade em lidar com
conceitos e metodologias relativamente recentes, mesmo no contexto europeu, na área
suscita algumas questões:
9 Será que este rápido processo de aculturação e adopção de ideias é só
mais uma moda, transitória como a maioria delas, reflectindo um
comportamento provinciano de novo riquismo, ainda frequente em Portugal,
facilitado, também, por ser tema politicamente correcto?;
9 Ou representa um movimento de ideias e projectos, ainda em fase inicial,
não totalmente definidos, mas já com um pulsar firme que lhe advém de uma
exigência profissional e social cada vez mais firmemente assumida?
Certamente que estas duas realidades coexistem, com uma preponderância variável,
dependente da conjugação de variados factores.
De facto, a qualidade na saúde tem que ser analisada num contexto de um sistema de
saúde de uma sociedade complexa, em constante evolução, que se caracteriza em
quatro pontos essenciais:
A Qualidade na doença surge, assim, como uma exigência de todos os envolvidos nos
cuidados de saúde, sendo vista como um seu atributo essencial. Tem, no entanto,
algumas características que decorrem das suas especificidades e que a diferenciam de
outros sectores: busca satisfazer as necessidades e não responder à procura,
oferecendo mais; deve ser proactiva, de modo a prevenir e dar resposta, e não servir de
pretexto para a procura de novas oportunidades de mercado; reúne, integradamente,
como atributos, a efectividade, eficiência, aceitabilidade e a equidade, e não a exigência
única da aceitabilidade.
“Assistência médica de qualidade é a prática de uma medicina racional, baseada nas ciências
médicas, que faz ênfase nas actividades de prevenção, requer a cooperação inteligente entre
população e profissionais de saúde, trata o indivíduo como um todo integrado, inclui a
manutenção de uma relação estreita e contínua entre médico e paciente, e é coordenada com
outras actividades do bem estar social, coordenando ainda todos os tipos de serviços médicos;
envolve a aplicação de todos os serviços necessários da medicina científica moderna às
necessidades de toda a população.
(1999:3)
Em 1974 o Instituto de Medicina dos Estados Unidos, citado pelo mesmo autor definia-
a:
“O fim último de um sistema assistencial de qualidade deve ser, obter uma assistência em
cuidados de saúde mais efectiva, no que diz respeito ao melhoramento ao estado de saúde e
satisfação da população com os recursos que a sociedade e os indivíduos decidiram investir para
tal”
(1999:3)
De uma forma genérica, e que é aceite por todos podemos dizer que cuidados de
qualidade são os cuidados que são:
Para sabermos que os cuidados que prestamos têm estas características é essencial
ouvir os utentes desses mesmos cuidados. Se na vertente técnica muitas vezes eles
não possuem a capacidade de darem uma opinião já noutras, como seja a
acessibilidade e a aceitabilidade são eles que têm a principal palavra a dizer.
“A Audição dos clientes é um dos pilares de um sistema da gestão da Qualidade. Sem ela não se
conhecem as suas necessidades e preferências e sem esse conhecimento é impossível, mesmo
que se desejem fornecer bens ou serviços que satisfaçam aquelas necessidades e preferências”.
(1992:20)
Se não tivéssemos outras razões para efectuar o presente estudo teríamos nesta frase
a razão suficiente para a sua realização.
O entendimento de que os doentes poderiam ser actores nos cuidados e não apenas
simples consumidores passivos não era possível até há bem pouco tempo, tal como
nos diz BRICKILL (1995). Actualmente a maneira de ver os doentes, embora haja ainda
muitas resistências, tem que ser como agentes dos seus próprios cuidados. A eles
compete decidir e sobretudo opinar sobre a forma como são prestados os cuidados.
Estes direitos estão expressos na Carta dos Direitos e Deveres dos doentes, e que
muitos profissionais se “recusam” a reconhecer, expressamente nos artigos 6, 8 , 10 e
12, que falam respectivamente do direito a ser informado da sua situação de saúde, de
dar ou recusar o seu consentimento, de acesso aos dados registados no seu processo
clínico e de apresentar sugestões e reclamações.
È necessário, tal como diz RIBEIRO (1995) deixar de prestar cuidados centrados no
tratar que se caracteriza por ter uma orientação instrumental e centrada na doença e
passar a centrar os cuidados no cuidar tendo como fulcro o bem estar do utente/doente
visto numa perspectiva holística e humanista em que a finalidade última é a sua
realização pessoal.
“é a sensação agradável que se manifesta quando as coisas correm à nossa vontade, (...)sentimento de
aprovação, contentamento:Alegria.
(1990)
Destas definições podemos concluir tal como Henriques, (2000) dizendo que a
satisfação é uma atitude e um sentimento interior que precede os comportamentos. Se
uma pessoa ficou contente, satisfeita com um produto ou serviço terá um
comportamento, se pelo contrário ficou insatisfeita o comportamento será
completamente diferente.
“ A avaliação da qualidade de cuidados é um processo que permite garantir a cada doente, actos
de diagnóstico e terapêutica assegurando o melhor resultado em termos de saúde, conformes ao
estado actual da ciência médica, ao melhor custo para o melhor resultado, com os mínimos riscos
iatrogénicos e produzindo o mais alto grau de satisfação em termos de processos, resultados e
de contactos humanos no interior do sistema de cuidados (...)
(1996)
Rosemberg, citado pelo mesmo autor diz que a satisfação do doente/utente pode ser:
“... considerado como um resultado dos cuidados e mesmo um elemento do próprio estado de saúde”.
(1996)
Esta definição leva-nos a dizer que uma pessoa não satisfeita com os cuidados, não
atingiu a plenitude da sua saúde. É também o que podemos depreender da definição de
saúde da OMS que diz que é o estado de completo bem estar físico, psíquico e social e
não só a ausência de doença ou enfermidade.
Sendo assim, para que os serviços de saúde atinjam na plenitude os seus objectivos, é
essencial que prestem cuidados de saúde que satisfaçam os seus utentes.
Também Varo et Al (1996), referem que a melhoria dos serviços de saúde exige
conhecer a opinião que o doente/utente tem deles e o grau de satisfação que obtêm
com os seus cuidados.
Para estes autores, um serviço de saúde presta cuidados de qualidade quando satisfaz
as necessidades e expectativas do doente/utente.
“ ... com efeito , poder-se-ia ser tentado a acreditar que a satisfação, nasce, em absoluto, dos
cuidados recebidos. Ora, segundo a teoria da necessidades, a satisfação é a expressão da
diferença entre o que se espera e o que se obtém”.
(1995)
Henriques (2000), de uma forma prática diz que as pessoas têm as seguintes
necessidades:
• Necessidade de ser bem recebido – o acolhimento é o primeiro passo para a
satisfação.
• Necessidade de ser servido atempadamente – quantos de nós já não
reclamámos por estarmos demasiado tempo à espera.
• A necessidade de se sentir confortável – consegue-se imaginar uma pessoa
doente e ainda por cima sem condições de conforto? Será sofrimento a
dobrar.
• A necessidade de serviço bem organizado – desorganização é igual a caos,
sinónimo de não qualidade.
• A necessidade de ser compreendido – que poderá haver pior que estar a
sofrer e não conseguir fazer-se entender? E não ter quem o compreenda?
• A necessidade de ter ajuda ou assistência – e estar com sede com o copo tão
perto mas sem poder chegar-lhe?
• A necessidade de se sentir importante – qual a autoestima ou autoimagem
que deprecia sinais de deferência?
• A necessidade de se ser apreciado – quem pode viver sem amor?
• A necessidade de se ser reconhecido e lembrado – e de um “olá” de onde
nos conhecemos?
• A necessidade de ser respeitado – “respeito” a palavra que as pessoas
idosas mais dizem se estar a perder!
Resumindo podemos dizer que para que o utente se sentir satisfeito no seu processo
de saúde/doença é essencial que não lhe façamos perder a identidade, a sua
individualidade e o cuidemos, como diz Chalifour (1989), com compreensão empática,
respeito caloroso e autenticidade.
Num estudo de meta análise, Hall, citado pelo mesmo autor, identificou nos trabalhos
estudados outra classificação que compreende:
1. A humanização.
2. A informação.
3. A qualidade global.
4. A competência.
5. A satisfação global.
6. A administração.
7. O acesso.
8. Os custos.
9. As facilidades/amenidades.
10. Os resultados.
11. A continuidade dos cuidados
12. A atenção aos problemas psicossociais.
1. Satisfação global.
2. Satisfação com o processo de admissão.
3. Satisfação com os serviços de alimentação.
4. Satisfação com os cuidados de enfermagem.
5. Satisfação com os serviços de apoio.
6. Satisfação com os cuidados médicos.
7. Satisfação com os testes e tratamentos médicos.
8. Satisfação com a organização e instalações para as visitas.
9. Satisfação com o quarto/acomodações.
10. Satisfação com a alta.
Por esta pequena amostra de opiniões, verificamos que as dimensões utilizadas variam
de autor para autor, o que não admira dada a subjectividade do assunto em questão.
Isto foi também à conclusão a que chegou Hall, citado por Lairy, em avaliação de
estudos de satisfação efectuados entre 1987 e 1990, o que o leva a dizer que:
“O questionário universal, não existe, é criado para cada estudo, o que leva a que nenhum
sistema de inquérito, tenha sido validado, para que seja considerado (...)como fiável, válido para
a avaliação da satisfação”.
(1996:20)
Para este mesmo autor, este facto tem a vantagem de poder abordar cada problema no
seu contexto, contudo impede qualquer tipo de comparação.
No nosso caso e como não queremos fazer comparação entre serviços de saúde, mas
queremos somente avaliar a satisfação dos doentes internados na UCIC, numa
perspectiva de melhoria contínua de qualidade, pareceu-nos também melhor, adaptar
um questionário já existente à nossa realidade e assim verificarmos os aspectos onde
teremos que actuar para melhorar os respectivos cuidados.
Sentindo esta dificuldade e a nível dos cuidados primários em 1993, foi criado a nível
Europeu um grupo de trabalho com o objectivo de escrever uma proposta de
investigação a apresentar à União Europeia. Desse grupo de trabalho de que faziam
parte os investigadores Portugueses o Prof. Pedro L. Ferreira e o Dr. António
Rodrigues, do Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Faculdade de Economia
de Coimbra, surgiu em 1996 um instrumento padronizado denominado “EUROPEP”.
Este protocolo foi alargado aos cuidados diferenciados com a aplicação de inquéritos
de satisfação aos doentes internados, tendo sido efectuados inquéritos aos doentes de
vários hospitais do País, como referimos anteriormente.
Pela análise de diversos estudos de satisfação, Lebow, (?), destaca alguns aspectos
importantes a ter em conta:
Para se compreender essa ideia, é fundamental, na opinião desta autora, ter presente o
conceito de UCI (Unidade de Cuidados Intensivos) e qual o tipo de doentes nela são
admitidos.
Desde então estas unidades têm desempenhado, na opinião de CURRY (1995 ),um
papel fundamental na assistência a doentes em estado grave, mercê dos avanços
médicos, técnicos e de enfermagem, permitindo salvar vidas, muitas vezes em
circunstâncias aparentemente impossíveis.
Na opinião de HALL, SCHMIT e WOOD ( 1998 ),a medicina intensiva pretende dar
respostas terapêuticas rápidas aos doentes com falência de sistemas de órgãos vitais,
utilizando para tal, protocolos standartizados e eficazes. Quando a recuperação é
impossível, são cada vez mais as técnicas que ajudam a aumentar o conforto em
doentes terminais, com base no senso clinico de decidir se devem ou não manter-se as
intervenções de suporte de vida.
Feita esta breve abordagem histórica das UCI, importa definir o que é igualmente
entendido pelo termo “cuidados intensivos” ou “medicina intensiva”.
“... um ramo da ciência médica que tem por finalidade, a correcção de desvios ou lesões graves
das funções vitais - desde que reversíveis – nomeadamente da função respiratória,
cardiovascular, lesões do sistema nervoso central e outras que, por ocorrerem em determinados
órgãos, possam pôr termo á vida”.
(1990:14)
BRICKILL (1995) referia-se a este facto ao afirmar que os enfermeiros têm relutância
em dar resposta às necessidades não médicas do doente.
Será que os doentes/utentes destas unidades não são pessoas? Não têm famílias com
necessidades?
Wanda Roberts Johanson em 1992, citada por BRICKILL (1995: 44) referia-se ao
mesmo facto fazendo a seguinte pergunta:
“ Pode-se falar em competência, em relação aos cuidados que prestamos, quando as reais
necessidades dos doentes e família, não são tidas em conta?”
A mesma autora diz ainda:
Pela prática que temos de trabalho numa destas unidades, parece-nos que estas
reflexões vêm directamente questionar os cuidados que praticamos. Houve nos últimos
anos uma verdadeira revolução em termos de técnicas de ponta em que se beneficia
imenso o nosso doente/utente como sejam a introdução de técnicas como o
cateterismo cardíaco ou a angioplastia, mas uma pergunta continua a ser pertinente,
será que a evolução técnica está a ser acompanhada pela evolução na componente
humana e relacional?
Perante esta realidade, torna-se imperativo alterar a filosofia dos cuidados se realmente
queremos prestar cuidados de qualidade, que cada vez mais os utentes exigem de nós.
Esta nova filosofia, como já dissemos tem que centrar os cuidados no doente/utente,
fazendo dele um participante desses mesmos cuidados.
De “paciente”, (pessoa que sofre) o doente/utente deve passar a ser “cliente” no sentido
em que nesta palavra está implícita a ideia de liberdade de escolha. Um cliente pode
decidir entre usar ou não usar um produto ou serviço. Pode mesmo reclamar em
relação a esse serviço ou produto ou mesmo ser chamado a participar na sua
concepção.
O “cliente” passa a não ser apenas o doente, mas também a sua família.
BRICKILL (1995) afirma que ver os doentes como clientes é mais do que um plano, é
uma mudança de mentalidade. É uma perspectiva contínua de satisfazer as
necessidades dos doentes e proporcionar cuidados de qualidade. Ver o doente como
cliente não trivializa o seu papel, pelo contrário eleva-o à condição de consumidor – um
ser humano com capacidade de discriminação e conhecimento.
É essencial lembrar também que nos Hospitais e sobretudo nas Unidades de Cuidados
Intensivos os doentes/utentes pretendem comunicação e contacto humano.
“... deve procurar-se o máximo de técnica com o máximo de humanidade. O centro de saúde ou o
hospital mais belo e bem equipado seriam um centro de zootecnia superior sem a confiança dos
doentes, a motivação do pessoal e a simpatia compreensiva que reconheça a dignidade da
pessoa e o valor inestimável do sofrimento e da angústia”
(1999:22)
Os profissionais de saúde e têm que ser todos têm que ter um sexto sentido que lhe
permita ver no interior do doente/utente. É o que ele nos pede e segundo Moleiro ainda
citado por IMPERATORI (1999) é uma obrigação profissional e um dever institucional.
A insatisfação dos Doentes/utentes é devida na maior parte das vezes às atitudes dos
profissionais, e não propriamente a consequências de má prática profissional.
Os trabalhos que estamos a efectuar vão nesse sentido. Pretendemos ser uma
referencia para os nossos doentes/utentes ao dar voz ao que afirma BASTOS:
“... não é por acaso que a expectativa dos utilizadores dos serviços de saúde em relação ao
papel dos enfermeiros inclui, para além da participação na prevenção e tratamento da doença, da
informação sobre as suas actividades de vida, expressões como: que sejam amigos, que ouçam, que
acompanhem nos momentos difíceis.
( 1999:3)
CAPÍTULO II
METODOLOGIA
Quando se pretende estudar um problema, utilizando o método científico, diz-
se que se está a realizar um estudo ou uma investigação, mas seja qual for a
designação é sempre um trabalho desenvolvido por várias etapas, todas elas
interligadas e extremamente importantes. O método científico, é a forma mais
avançada de investigação já criada pelo homem. É conhecido, por ser um
processo controlado, disciplinado e sistemático.
“ O homem valendo-se das suas capacidades, procura conhecer o mundo que o rodeia. Ao
longo dos séculos, vem desenvolvendo sistemas mais ou menos elaborados que lhe
permitem conhecer a natureza das coisas e o comportamento das pessoas”
(1993:19)
No mesmo sentido, GIL (1989), diz que a metodologia é como o caminho para se
chegar a determinado fim.
Tendo como base estes pressupostos, em 2000 foi elaborado um projecto no serviço
que se dividiria em 3 fases distintas:
a. Avaliação base da satisfação dos doentes/utentes da UCIC.
b. Interpretação dos resultados e aplicação de estratégias de melhoria
nas áreas de menor satisfação.
c. Avaliação de novo da satisfação de modo a verificar se às estratégias
utilizadas correspondeu um aumento da satisfação dos
doentes/utentes.
A primeira fase decorreu ainda no ano de 2000, com a avaliação de base, que foi
tema para um trabalho de investigação de um grupo de enfermeiros a frequentar o
complemento de formação desse ano.
Este facto poderá ser útil para o trabalho pois poderemos comparar o
comportamento na satisfação das áreas em que houve intervenção e naquelas em
que não houve.
ÁREAS A NECESSITAREM
ESTRATÉGIAS ACTIVIDADES A DESENVOLVER
INTERVENÇÃO
1. Ambiente terapêutico. 1. Elaborar norma que vincule o pessoal da unidade a • elaborar a norma.
proporcionar ambiente calmo. • elaborar cartaz.
2. Criação de um cartaz a colocar na coluna junto à • colocar cartaz na coluna e entrada do
central a recomendar silêncio. serviço.
3. Indicação de um elemento da equipa para servir de • nomear diariamente o moderador.
moderador nas situações em que não se cumpra a • elaborar o folheto
norma. • distribuir folheto pelos elementos da
4. Elaborar folheto que contenha a norma e miniatura equipa e alunos em estágio.
do cartaz que deve ser entregue a todos os
elementos da equipa, a novos elementos que a
venham a integrar e a alunos que venham a fazer
estágio na unidade.
2. Alimentação. 1. Proporcionar informação aos doentes sobre a dieta. • Informar os doentes sobre a dieta.
2. Supervisionar a alimentação de forma a identificar as • Informar a dietista dos resultados do
razões da reclamação ou recusa da alimentação. inquérito e notificar dos procedimentos
3. Chamar a dietista sempre que as razões encontradas que vamos adoptar.
digam respeito à qualidade da alimentação. • Chamar a dietista sempre que
necessário.
• Registar as chamadas da dietista.
3. Visitas 1. Propor o alargamento da visita da tarde até ás 15h • Elaborar um documento a apresentar
15m, sendo o período das 15 às 15h 15 m ao director do serviço, solicitando o
destinado à visita de pessoa significativa para o alargamento. Este documento deverá
doente indicada por este. conter razões de peso para o
alargamento entre as quais, a
preservação da intimidade familiar, a
possibilidade de facilitar a
comunicação/relação cuidador, doente
e família e facilitar a integração no
ambiente sócio-familiar após a alta.
Características pessoais
Doente/utente Sexo, idade, estado civil, etc.
Cuidados de saúde
1ª Fase enfermagem
informação
etc.
3ª Fase
Satisfação/
Insatisfação
Medidas correctivas
2ª Fase
UCIC
Este esquema é dinâmico permitindo a avaliação da satisfação e implementação de
medidas correctivas de forma sistemática, o que é essencial num processo de
melhoria contínua de cuidados.
“... a resposta hipotética a um problema para cuja solução se realiza toda a investigação”.
(1986:118)
Nesta perspectiva a hipótese é algo que nos indica o caminho e que o torna estreito
de forma a não haver fugas de percurso. Nessa tentativa e tendo como base o
modelo de análise apresentado parece-nos adequado trabalharmos o tema através
da seguinte hipótese de investigação que é complexa, dado estarem incluídas nela
as várias dimensões da satisfação e que nos parece responder à pergunta de
partida “ será que as intervenções introduzidas na prestação dos cuidados
melhoram a satisfação dos doentes/utentes internados na UCIC?”:
“... é toda a qualidade de uma pessoa, grupo ou situação que varia ou assume um valor
diferente”.
(1995: 26)
Variáveis independentes - são aquelas que têm carácter explicativo, isto é, são a
causa do fenómeno a estudar. Podem ser manipuladas, de forma a poder-se inferir
da sua correlação com o fenómeno estudado.
“... a especificação das operações que o pesquisador deve executar para colectar as
informações exigidas”.
(1995:27)
VARIÁVEL DEPENDENTE:
Seguindo a terminologia adoptada para o nosso estudo, podemos então dizer que a
satisfação é a percepção dos doentes sobre a qualidade dos cuidados recebidos.
Irá ser operacionalizada através de uma escala de likert de 38 ítens em que estão
referidas as diversas dimensões, consideradas por nós importantes, da satisfação.
Para cada dimensão elaborámos várias afirmações em que o inquirido terá de dar a
sua opinião, sendo esta classificada consoante o seu nível de concordância. Se
concorda completamente atribuiremos a pontuação de 5 e se discorda
completamente atribuiremos uma classificação de 1. Aos níveis intermédios
atribuiremos a pontuação de 2, 3 e 4 consoante o seu grau de concordância às
afirmações.
O score encontrado assim, é um número que não nos diz grande coisa, por isso
iremos transformá-lo em percentagem através da seguinte fórmula:
• Satisfação global
• Cuidados dos enfermeiros
• Acomodações
• Visitas
• Alimentação
• Comunicação/informação
• Relacionamento interpessoal
VARIÁVEL INDEPENDENTE:
Como variável independente, que como já dissemos é aquela que pode influenciar a
variável dependente é:
Grau de instrução, que podemos definir como o nível académico obtido, que
é uma variável qualitativa e que iremos operacionalizar em 7 categorias:
1 – Não sabe ler nem escrever.
2 – Com a quarta classe.
3 – Com segundo ciclo
4 – Com o secundário
5 – Com curso médio
6 – Com curso superior
7 – Outro.
Para Gil
“... o pesquisador selecciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam,
de alguma forma, representar o universo”.
(1994:?)
Apesar de sabermos dos riscos que corremos ao utilizar este tipo de amostra em
termos de representatividade foi aquela a que nos foi possível recorrer em função do
tempo disponível e da técnica de colheita de dados programada.
Assim a amostra é constituída por todos os doentes que conseguimos que
preenchessem o instrumento de colheita de dados no período entre quinze de Julho
e 15 de Agosto de 2000 para o grupo antes da implementação das medidas
correctivas e já utilizado na 1ª fase do projecto que foram 60 doentes e de 60
doentes após a implementação das medidas correctivas, perfazendo um total de 120
elementos. A obtenção dos dados do 2º grupo decorreu de 15 de Maio a 15 de
Junho.
5. - INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS.
5.2 – PRÉ-TESTE
O tratamento dos dados será feito pelos colegas do serviço, utilizando para isso
meios informáticos. Os programas a utilizar serão:
O Statistical Package for Social Sciences (SPSS) para Windows - Para tratamento
estatístico dos dados.
“... aceitamos o risco de, em 100 amostras, uma hipótese nula verdadeira ser rejeitada cinco
vezes”.
(1995:242)
Assim de forma prática sempre que obtivermos, como resultado do teste de hipótese
utilizado, um α ou p (indicação da significância de modo informático) inferior a 0.05
rejeitamos a hipótese nula e dizemos que existe relação estatisticamente
significativa entre as variáveis estudadas. Se pelo contrário obtivermos um p
superior a 0.05 aceitamos a hipótese nula e dizemos não existir relação entre as
variáveis estudadas.
CAPÍTULO III
4Idade
Tendo em conta que o estudo decorre na UCIC e sabendo que a patologia mais
frequente é o enfarte do miocárdio, esta distribuição pode considerar-se dentro dos
parâmetros normais pois sabemos que a idade é epidemiologicamente importante,
sendo a década dos cinquenta a idade crítica no aparecimento desta doença.
33 33
30
27.7% 27.7%
20 21
16 17.6%
10 13.4%
7 7
5.9% 5.9%
Nº
90 - 100
20 - 30
30 - 40
40 - 50
50 - 60
60 - 70
70 - 80
idade 80 - 90
Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
padrão
119 29 91 62.25 12.91 166.64
Verificamos ainda que a maior parte dos doentes se concentra nos escalões etários
entre [50 – 80[ anos em ambos os grupos, havendo contudo no grupo 2 um aumento
de doentes no escalão etário [40 – 50[ anos, o que indicia, um aumento de doentes
internados com enfarte do miocárdio na década dos 40, que na prática já havíamos
notado.
Gráfico nº 2 – Histogramas de distribuição dos doentes segundo a idade por grupos
de estudo.
Grupo 1 Grupo 2
30 30
20 20 21
18
16
15
12
10 10 11
5 5
4 4
3 3
Nº
Nº
0 0
90 - 100
90 - 100
20 - 30
30 - 40
40 - 50
50 - 60
60 - 70
70 - 80
80 - 90
20 - 30
30 - 40
40 - 50
50 - 60
60 - 70
70 - 80
80 - 90
idade idade
24
20 20
20
18
15
14
10 10
9
6 6
Nº
Nº
0 0
90 - 100
20 - 30
30 - 40
40 - 50
50 - 60
60 - 70
70 - 80
80 - 90
90 - 100
20 - 30
30 - 40
40 - 50
50 - 60
60 - 70
70 - 80
80 - 90
idade idade
4Sexo:
A distribuição dos doentes dos doentes por sexo está representada na tabela nº 1.
Pela sua análise verificamos que 70% dos doentes estudados são do sexo
masculino, sendo a sua distribuição pelos grupos de estudo idêntica, 67.7% no
grupo 1 e 73.3% no grupo 2 o que indicia uma prevalência maior de doença
coronária nos homens que está perfeitamente descrita e aceite.
A seguir ao grupo dos reformados vem os activos do sector secundário, que inclui o
comércio e os serviços, com 28 elementos que corresponde a 23.7%. A distribuição
nos grupos em estudo é bastante diferente, sendo no grupo 1 31% e no grupo 2
apenas 16.7%.
doméstica 100
reformado 65 35
sexo
activo sector terciá 100
feminino
masculino
0 20 40 60 80 100
10 30 50 70 90
Pela análise da tabela 3 constatamos que a maior parte dos doentes, 67, 55.8%
residem numa aldeia.
A distribuição por grupos de estudo é idêntica, continuando a moda a ser nos dois
grupos viver numa aldeia, com 56.7% no grupo 1 e 55% no grupo 2.
Com aproximadamente metade dos que vivem na aldeia estão os que vivem na
cidade, sendo 27.5% no conjunto dos doentes, 28.3% no grupo 1 e 27.5% no grupo
2.
Por estes números podemos confirmar que a área de influência do hospital é
essencialmente rural, vivendo a maior parte da população em aldeias ou vilas.
Pela análise do gráfico 5, que representa a distribuição dos doentes pela actividade
profissional por local de residência, constatamos que as domésticas residem na sua
maior parte, 67%, numa aldeia e que os activos do sector terciário vivem na sua
totalidade numa vila, 25% ou numa cidade, 75%, sendo que os activos do sector
primário vivem maioritariamente, como seria de esperar numa aldeia. Os activos do
sector secundário estão distribuídos de uma forma mais homogénea pelos locais de
residência identificados, 43% numa aldeia e 23 % quer numa cidade ou numa vila.
doméstica 27 67
reformado 22 63
aldeia
activo sector terciá 75 25
vila
cidade
0 20 40 60 80 100
10 30 50 70 90
%
4Grau de instrução:
quarta classe 76 24
segundo ciclo 78 22
secundário 79 21
curso médio 67 33
Grau de instrução
masculino
0 20 40 60 80 100
10 30 50 70 90
4Tipo de habitação:
Pela análise da tabela nº 4 constatamos que uma grande parte dos doentes vivem
em construções rústicas com água e electricidade, 52 a que correspondem 43,3%, o
que está de acordo com o local habitual de residência, uma aldeia da maior parte
dos doentes. 34,2 % vivem numa vivenda e 15,8% vivem numa vivenda. 6, 3,33%
moram em casa rústica com electricidade mas sem água e apenas 2, 3.3% numa
casa rústica sem água e sem electricidade.
Comparando os grupos, não encontramos diferenças relevantes continuando a ser a
moda em ambos viver numa casa rústica com água e electricidade, 46.7% e 40.0%
respectivamente. No grupo 2 existem dois doentes, 3.3% a viverem numa casa
rústica sem água e electricidade.
4Rendimento mensal:
Verifica-se ainda que mais de 75% dos doentes auferem um rendimento até 200
contos que será o salário da maior parte da população portuguesa.
doméstica 71
reformado 54 24 17
60
55
50
47.8%
40
30
29
20 25.2%
10 12
1.7%
10.4% 7 6
Nº
0
10 - 12
12 - 14
14 - 16
16 - 18
18 - 20
20 - 22
22 - 24
8 - 10
0-2
2-4
4-6
6-8
34
30
20 21
20
13
10 16
10
8
4
3 4 3 3
2 2
Nº
Nº
0 0
10 - 12
12 - 14
14 - 16
16 - 18
18 - 20
20 - 22
22 - 24
0-2
2-4
4-6
6-8
8 - 10
10 - 12
12 - 14
14 - 16
16 - 18
18 - 20
8 - 10
0-2
2-4
4-6
6-8
Feita que está a apresentação dos resultados encontrados no que diz respeito aos
itens que escolhemos para a caracterização da amostra e de uma forma resumida
podemos caracterizá-los da seguinte forma:
A sequência que iremos seguir na apresentação dos dados e para cada uma das
dimensões da satisfação, é a seguinte:
1. Apresentação dos resultados da satisfação do conjunto dos doentes.
2. Apresentação e comparação dos resultados entre os grupos de estudo.
3. Apresentação da hipótese relacionada com a dimensão estudada.
4. Apresentação do teste de hipóteses e seus resultados.
4Satisfação geral:
Sendo assim, pela análise do gráfico 10, podemos constatar que o grau de
satisfação dos doentes se distribui de um mínimo de 51% a um máximo de 100%,
sendo a média 86,21%, o que é uma média alta de satisfação.
Podemos ainda ver que a maior parte dos doentes, 80 que corresponde a 66.7%,
apresenta-se completamente satisfeito e 39, 32.5%, encontra-se satisfeito.
80
80
66.7%
60
40
39
32.5%
20
1
0.8%
Nº
0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
score em percentagem
Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
padrão
120 51 100 86.21 11.27 126.94
Gráfico nº 10 – Distribuição dos doentes por score de satisfação geral por grupos de
estudo.
Grupo 1 Grupo 2
50 40
45
35
40
30
30 25
20
20
14 10
10
Nº
Nº
0 0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100 0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
Para podermos dizer haver diferença significativa, temos que efectuar o teste de
hipóteses.
Pela sua análise verificamos que temos uma significância do teste (p) inferior a 0.05,
pelo que rejeitamos a hipótese nula que diz não haver diferença de médias entre os
dois grupos, e podemos afirmar que existe diferença significativa na satisfação geral
entre os dois grupos.
Poderá ser confundida com a satisfação total, que a engloba. Diz respeito à
satisfação em relação aos aspectos gerais da qualidade dos cuidados , das
intenções em recomendar o serviço aos familiares e amigos e do nível de satisfação
das expectativas.
120
100 106
80 88.33%
60
40
11.67%
20
14
Nº
0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
padrão
120 63 100 93,02 9.24 85.47
54
50 50 52
40 40
30 30
20 20
10 10
8
6
Nº
Nº
0 0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100 0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
Estatísticas Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
Grupos padrão
Grupo 1 60 63 100 95.42 8.68 75.30
Grupo 2 60 75 100 90.62 9.24 85.40
Tendo ainda em conta as médias dos grupos apresentadas no gráfico nº 12, temos
que rejeitar a nossa hipótese de investigação pois o teste indica-nos que o score de
satisfação não só não se manteve mas diminuiu significativamente no grupo
estudado após a implantação das medidas correctivas.
Através do gráfico 13, que representa o grau de satisfação dos doentes com os
cuidados de enfermagem, podemos constatar que o grau de satisfação é elevado,
85.40%, sendo o mínimo de 57% e o máximo 100%.
120
100
98
80 81.7%
60
40
17.5%
20
1 21
0.8%
Nº
0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
score de satisfação - %
46
50 52
40
40
30
30
20
20
14
10
10
7
0 0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100 0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
Estatísticas Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
Grupos padrão
Grupo 1 60 57 100 92.11 9.97 99.50
Grupo 2 60 63 100 86.70 10.57 111.71
Da mesma forma que nas hipóteses anteriores temos que rejeitar a nossa hipótese
de investigação também, pois a média é inferior no grupo 2 pelo que temos que
dizer que a satisfação dos doentes do grupo estudado antes da implementação das
medidas é superior às dos doentes estudados após a sua implementação.
Quadro nº 4 – Resultados do teste t para a hipótese 1c
Diferença
Variável gl t p Interpretação
de médias
Satisfação com os cuidados
118 5.42 2.887 0.005 AS
de enfermagem
Pela análise do gráfico 15 que representa a distribuição dos doentes segundo o grau
de satisfação com as acomodações/condições de alojamento, concluímos que a
média de satisfação é elevada, 88,21%, indo de um mínimo de 45% a um máximo
de 100%.
100
90
80
75%
60
40
20
21
7.5%
17.5%
9
Nº
0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
score de satisfação - %
Existe uma distribuição diferente nos dois grupos, havendo no grupo dois
substancialmente menos doentes, 14 , a estarem completamente satisfeitos e um
número maior de doentes nem satisfeitos nem insatisfeitos, 8 contra 1 do grupo 1.
38
50 52
30
40
30 20
20
14
10
10 8
7
Nº
Nº
0 0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100 0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
Estatísticas Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
Grupos padrão
Grupo 1 60 45 100 93.50 12.15 147.71
Grupo 2 60 45 100 82.92 17.13 293.47
Esta diferença, pela análise das médias dos dois grupos é desfavorável ao grupo 2,
pelo que, também neste caso, temos de rejeitar a nossa hipótese de investigação e
dizer que a satisfação dos doentes estudados antes da aplicação das medidas
correctivas é maior do que a dos doentes estudados após a aplicação dessas
medidas.
Em relação às visitas, pela análise do gráfico 17, que representa a distribuição dos
doentes segundo o grau de satisfação com as visitas podemos constatar que a
média de satisfação é de 82,47%, sendo o grau mínimo de 42% e o máximo de
100%.
Observando o gráfico nº 18, que representa a distribuição dos doentes por grupos de
estudo segundo o score de satisfação com as visitas, verificamos que no grupo 2
existe diminuição dos doentes completamente satisfeitos passando de 36 para 26.
Verifica-se também que existe um aumento do score mínimo no grupo 2 que não é
acompanhado pela satisfação média do grupo que apresenta um score de satisfação
médio menor, 84.24% contra 80.64%.
Gráfico nº 17 – Distribuição dos doentes segundo o score de satisfação
com as visitas
70
60 62
50 51.7%
45
40
37.5%
30
20
10 13
10.8%
Nº
0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
score de satisfação -%
Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
padrão
120 42 100 82.47 15.50 240.40
36
26 26
30
20
20
19
10
10
8
5
N N
º 0 º 0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100 0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
Estatísticas Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
Grupos padrão
Grupo 1 60 42 100 84.24 15.42 237.81
Grupo 2 60 50 100 80.69 15.51 240.68
Pela análise do gráfico 19, que se refere ao score de satisfação dos doentes com a
alimentação, podemos verificar que a média é 79.61%, mas que existe uma grande
amplitude no score de satisfação pois ela estende-se desde um mínimo de 42% a
um máximo de 100%.
60
56
54
50
45% 46.7%
40
30
20
8,3%
10
10
Nº
0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
score de satisfação - %
Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
padrão
120 42 100 79.61 15.31 234.27
35
33
30 30
23
20 20
19
10 10
8
Nº
Nº
0 0 2
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100 0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
Estatísticas Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
Grupos padrão
Grupo 1 60 42 100 81.34 16.95 287.22
Grupo 2 60 56 100 77.87 13.39 179.16
100
80 82
68.34
60
40
36
20 30%
1
1 0.83%
0.83%
Nº
0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
score de satisfação
Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
padrão
120 29 100 85.51 14,37 173.06
Comparando os dois grupos, pela análise do gráfico nº 22, podemos constatar que
no grupo dois deixaram de existir doentes insatisfeitos ou nem satisfeitos nem
insatisfeitos.
43 40
40
39
30 30
20 20
21
15
10 10
Nº
Nº
0 0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100 0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
Estatísticas Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
Grupos padrão
Grupo 1 60 29 100 87.62 14.50 210.34
Grupo 2 60 61 100 83.39 11.39 129.64
Passando mais uma vez à análise inferencial, para comparar os dois grupos em
relação à comunicação/informação apresentámos a hipótese 1g:
100
100
80 83.3%
60
40
15%
20
2 18
1.7%
Nº
0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
score de satisfação - %
Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
padrão
120 57 100 90.38 10.12 102.38
Comparando os dois grupos em estudo, no que diz respeito ao relacionamento
interpessoal, podemos constatar pela análise do gráfico nº 24 que existe um maior
número de doentes completamente satisfeitos no grupo 1, 56 contra 44 no grupo 2.
Grupo 1 Grupo 2
50
60
56
44
50 40
40
30
30
20
20
14
10
10
Nº
4
Nº
0 0
0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100 0 - 20 20 - 40 40 - 60 60 - 80 80 - 100
Estatísticas Desvio
N Mínimo Máximo Média Variância
Grupos padrão
Grupo 1 60 73 100 93.50 8.46 71.65
Grupo 2 60 57 100 87.25 10.72 114.98
Estes valores elevados de satisfação, por vezes são confundentes, pois existe uma
tendência para eles nos trabalhos de avaliação de satisfação, tal como nos diz
LEBOW (?).
Hall, citado por LAIRY (1996) afirma que os doentes são geralmente pouco
propensos a criticar o sistema de saúde. Afirma mesmo que apenas 4 em 100
pessoas descontentes têm a capacidade de criticar, isto provavelmente porque, eles
pensam que criticar um serviço tem implícito a crítica a pessoas concretas, pelo que
preferem o silêncio. Por essa razão e ainda segundo o mesmo autor as críticas são
dirigidas essencialmente ao aspecto hoteleiro.
Alimentação – 77.87%
Visitas – 80.69%
Acomodações – 82.92%
Comunicação/informação – 83.39%
Perante isto coloca-se uma questão, o que poderemos considerar como score
aceitável de satisfação?
Lebow volta a elucidar-nos sobre o assunto, ao dizer que ao discutirmos os
resultados de uma avaliação da satisfação devemos ter em conta um grau de
satisfação base que nunca deve ser abaixo de 75 a 90% de satisfação, para que os
cuidados possam ser considerados cuidados de qualidade. Assim à primeira vista
um valor de satisfação de 65% poderia parecer aceitável, mas na perspectiva de
Lebow seria um valor pobre na avaliação dos cuidados.
Strasser, ainda citado por LAIRY (1996) diz que depende de vários factores entre os
quais os objectivos do promotor da investigação, a possibilidade de comparação
com valores anteriores e o julgamento de valor dado aos resultados obtidos.
Contudo Strasser afirma que “o melhor indicador de um bom resultado ou de um
mau resultado da medida de satisfação é a sua evolução ao longo do tempo”.(1996
p. 29)
Perante estes resultados temos que colocar a questão: o que será que falhou para a
obtenção destes resultados absolutamente inesperados? Será que os doentes
estudados no segundo grupo tinham expectativas superiores ao primeiro ou será
que as estratégias encontradas não foram as estratégias adequadas ou não foram
aplicadas convenientemente?
Tal como afirma LAIRY (1996) citando Steudler a satisfação dos doentes não nasce
em absoluto dos cuidados recebidos mas sim, seguindo a teoria das necessidades,
da diferença do que se espera e daquilo que se obtém. Sendo assim, é essencial
conhecer de uma forma profunda as necessidades dos doentes para que os
cuidados consigam satisfazê-las.
Nesta perspectiva, temos que admitir que apesar de não existirem diferenças
significativas nos aspectos sóciodemográficos estudados dos dois grupos o nível de
expectativas do segundo grupo será maior, sendo por outro lado um grupo mais
homogéneo em que a dispersão dos resultados é menor. Fica-nos a ideia que os
doentes do segundo grupo são mais críticos e por isso demonstram uma satisfação
média menor, mas por outro lado fica-nos a sensação que conseguimos com as
nossas acções melhorar a satisfação dos mais exigentes.
Apesar de tudo, pensamos não haver justificação para uma descida da satisfação
tão estatisticamente significativa, pois se as medidas não concorreram para a
melhoria dos resultados, também não concorreram de certeza para a queda
registada.
Ficamos com a ideia de que é necessário continuar com estes estudos, para
consolidarmos o nível base que temos que exigir no serviço, pois como afirma
Strasser citado anteriormente, só conhecendo a evolução da satisfação dos doentes
ao longo do tempo poderemos ter resultados indicadores de melhoria ou de
degradação da satisfação.
CONCLUSÃO E SUGESTÕES.
No nosso caso, dado o trabalho ser uma parceria com o serviço onde trabalhamos,
pelas conclusões a que chegámos, apetece-nos continuar, pois sabendo que temos
ainda um longo caminho a percorrer rumo à qualidade total, sentimo-nos gratificados
pelos sinais de satisfação que os nossos doentes têm em relação aos cuidados que
lhe prestamos diariamente.
Em relação às visitas e alimentação terão que ser accionados mecanismos para que
os departamentos responsáveis sejam conhecedores do presente trabalho, e se lhes
faça sentir a necessidade de melhorar nos aspectos identificados.
Se conseguirmos implementar as alterações preconizadas, esperamos que o
presente trabalho seja continuado por colegas nossos que possam vir a fazer o Ano
Complementar de Formação em Enfermagem, apresentando nova avaliação e
comparação dos dados para verificar se realmente o processo de melhoria que
preconizamos está a andar.
BRICKILL, C. E. (1995) – ICU for the 90’s. Nursing Management. V (26), (44 – 48).