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REVELAÇÕES DE AGNALDO FARIAS

Crítica, curadoria e associações de críticos


Em entrevista publicada com exclusividade no site ArteCidadania, Agnaldo Farias
reclama da ausência da crítica na mídia brasileira, comenta sobre curadores que não sabe
m escrever e o papel das associações de críticos que, segundo ele, "só servem para ofert
ar comendas e premiações".
O portal ArteCidadania (http://artecidadania.org.br/) publicou, em 19 de junho d
e 2006, declarações ácidas do curador Agnaldo Farias, concedidas com exclusividade à jor
nalista Néri Pedroso.
Farias concedeu a entrevista quando esteve em Florianópolis (SC), participando do
projeto Conversa de Artista, coordenado pelo SESC/SC.
Dentre os assuntos abordados, Agnaldo lamenta a ausência da crítica analítica nos jorn
ais brasileiros, afirmando que a idéia parece ser mesmo exterminar, acabar. "Os jo
rnais estão cada vez mais superficiais", considerou.
Sobre curadores e curadorias, Farias lembrou que há curadores mal formados, ignora
ntes e que sequer sabem escrever sobre o trabalho, "uma barbaridade só possível num
país como o Brasil".
Ao comentar a atuação das associações de críticos de arte, como a ABCA e a APCA, que segun
do Agnaldo "só servem para oferecer comendas e premiações", o curador afirmou o que mu
itos sabem, mas pouquíssimos têm coragem de afirmar: "É paroquial, não há outra palavra. É
amentável".
Veja o texto completo:
As revelações de Agnaldo Farias
Em Florianópolis, crítico e curador de arte esclarece distinções entre as duas atividade
s e faz críticas à mídia impressa que parece desejar o extermínio das discussões mais analí
icas
Néri Pedroso
Criador e destruidor de reputações, o papel do crítico de arte e da curadoria é um assun
to mobilizador. O auditório lotado do Teatro do Serviço Social do Comércio (Sesc), em
Florianópolis, na segunda edição do projeto Conversa de Artista, comprova o potencial
do tema. Uma platéia, inicialmente atenta e depois interrogativa, acompanhou o anf
itrião Fernando Lindote, que teve como convidado o crítico de arte e curador Agnaldo
Farias.
O professor e doutor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo (USP) tem poder no panorama da arte brasileira. Na apresentação, além das sign
ificativas publicações, foram citadas suas atuações mais recentes, a de curador geral do
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), curador adjunto da Fundação Biena
l de São Paulo e curador de exposições temporárias do Museu de Arte Contemporânea (MAC), d
a USP.
Conversa de Artista, o projeto do Sesc coordenado por Fernando Lindote, um dos d
estaques da arte contemporânea nacional, busca aproximar o público de importantes ex
pressões do campo da cultura. No palco do teatro, um cenário mínimo: iluminação centraliza
da, duas cadeiras, um microfone no pedestal, uma mesa com uma jarra e dois copos
de água. Sem um roteiro preestabelecido Lindote questiona o convidado. Nos dois m
omentos - tanto no primeiro, com o curador independente Charles Narloch, quanto
no segundo, com Farias, o encontro foi pautado pela descontração. Bem à vontade, ambos
fizeram revelações importantes sobre os olhares e os mecanismos que marcam as monta
gens de exposições, salões, projetos artísticos e relacionamentos neste universo.
Farias inicialmente situou como construiu sua carreira acadêmica e profissional, e
lencando cronologicamente seu encontro, quase casual, com o mundo das artes. Rel
atou situações curiosas, algumas engraçadas, muitas determinantes para o trabalho que
o transformou num dos nomes mais importantes da cena brasileira. Estabeleceu tam
bém diferenciações num campo minado, pontuou os cuidados que um curador deve adotar, d
etalhou como ajudou - viajando, julgando salões, escrevendo livros e fazendo pales
tras -, a descentralizar e dar visibilidade à produção plástica de fora do eixo Rio-São Pa
ulo.
Extermínio da crítica
Antes da Conversa, em entrevista exclusiva, lamentou que a mídia impressa no Brasi
l tenha cada vez menos interesse em discussões mais analíticas e "faça uma aposta no t
al leitor mediano". Com isso evidentemente mediocriza, não dá problemas ao leitor. A
pretexto da notícia, não há espaço crítico ou, cada vez mais, de forma rarefeita. Para a
cultura é dramático, segundo ele, certo de que ainda há alguns cadernos, alguns bolsões
que ainda resistem, mas o sentimento é de que a idéia é de exterminar, acabar com a crít
ica. "Os jornais estão cada vez mais superficiais", considerou.
Na medida em que esse espaço foi perdido na mídia, sobra aos críticos uma modalidade d
e atuação que é o trabalho de quem tem uma interlocução com o artista e escreve sobre ele
a partir de catálogos ou exposições realizadas. Neste caso, observa Farias, há uma adesão
sobre a obra, o que não significa algo irrestrito, sem reservas. O fato do texto c
rítico ser pago por uma galeria impõe estreitos limites, mas não impede grandes diálogos
, excelentes interlocuções, como a própria história comprova com Mario Pedrosa e Lygia C
lark, Ferreira Gullar também com Lygia, Tadeu Chiarelli com a geração dos anos 1980-90
e tantos outros exemplos. "Essa interlocução é interessante para ambas as partes, mas
de fato a dimensão pública de questionar uma obra de arte se perdeu."
Inquietude e destravamento
Há que se fazer distinções. A atuação do crítico nasce de uma proximidade com o trabalho ar
tico, um fascínio pela obra e uma inquietude no sentido de deixar destravar, de fa
zer verter aquilo que ela estimula dentro de si, porque tem relações, espectros, dim
ensões, extratos que são destravados pelas circunstâncias, pelos lugares e pelas exper
iências. Já o papel do curador, por sua vez, se diferencia e tem outros problemas, c
omo o relato de uma determinada história que interessa contar, a escolha de obras,
como elas são entendidas, como se relacionam e equacionam dentro do espaço. "A cura
doria convida a sair por aí, ver o que está sendo feito, tarefa deliciosa, fascinant
e, mas também muito cansativa."
Ambas as atividades são contaminadas pela experiência artística, que obriga "você a se r
einventar de certo modo". Curadoria sem atrito? É possível, considera Farias, mas ta
mbém pode ser profundamente conflituosa sob os mais variados aspectos. A tarefa pr
essupõe conceito, nexo, é preciso demonstrar o que articula os trabalhos, o conjunto
das obras, a visão do todo. O criador vê com parcialidade o processo, o que é compree
nsível, porque se trata da própria obra. Só não há mais conflito porque os artistas, ao co
ntrário dos músicos e de outras categorias, são pouco exigentes, não se atritam. "Eles são
muito dóceis, muito concessivos, acham que é melhor não brigar, porque isso pode se v
oltar contra eles. Fazem, às vezes, concessões absurdas." Alguns não precisam de curad
oria, como é o caso de Amélia Toledo, em exposição no Museu de Arte de Santa Catarina (M
asc), em Florianópolis, mas outros sim, porque aquilo mexe tanto com eles que não co
nseguem ter distanciamento, necessitam de alguém para servir como interlocutor ou
fazer algo que não tenham coragem, como cortar algum trabalho.
Farias nunca se arrependeu como crítico ou curador, embora já tenha ocorrido de não go
star da obra apresentada por um artista que integrou a Bienal de São Paulo. Diz não
se dar tanta importância assim, ao ponto de se arrepender. "O mais importante, a f
onte de tudo é o artista, ele é o cara do processo e o meu papel de curador é dar visi
bilidade à obra dele. O que mais me satisfaz é criar condições para que ele realize o tr
abalho. Uma boa curadoria é aquela que consegue fazer com que o artista realize al
go. Se errou não tem problema, é da lógica do jogo, de qualquer produção. Já falei com arti
tas, 'isso está errado, o seu ponto vista está equivocado, há coisas demais, mas se ac
ha que é assim, faz, porque é você que manda'."
Tiroteio
Outros dois pontos abordados: as mudanças no mercado e o papel das associações e entid
ades, como a Associação Brasileira dos Críticos de Arte (ABCA) e Associação Paulista dos C
ríticos de Arte (APCA), entre outras.
O desaparecimento da crítica na mídia impressa e o crescimento do mercado artístico de
terminaram modificações na relação entre criadores e críticos, antes interlocutores privil
egiados. Hoje os artistas buscam o mercado, nem todos, por mais que possa ser po
sitivo, estão interessados no fato de ter alguém falando sobre o trabalho ou não. "Mas
produzem para os curadores, que freqüentemente são críticos que migraram para a curad
oria, o que também não quer dizer que todos os críticos tenham se convertido em curado
res e que todos os curadores sejam críticos. Todo curador deveria ser um crítico, ma
s não é assim."
Farias lembrou que há curadores mal formados, muito ignorantes e que sequer sabem
escrever sobre o trabalho, "uma barbaridade só possível num país como o Brasil". Acima
de tudo, precisa saber escrever. Não adianta nada saber montar coisas e escrever
mal. "Eu diria até o seguinte: antes escreva bem, pelo menos será lido. E isso as pe
ssoas descuidam. Falamos mal e escrevemos pior ainda. É trágico como falam mal, é trágic
o como não sabem escrever, porque as escolas foram penalizadas, não temos uma formação sól
ida e consistente e também porque desprezamos os livros."
A tarefa analítica exige muito conhecimento. Em relação à arte contemporânea, fica mais co
mplicado porque uma das marcas desta produção é o número de disciplinas evocadas. "O car
a tem de saber muito para dar conta do recado." Para analisar a obra de Marepe,
por exemplo, terá de entrar na dimensão de sua cidade, no que é regional, no que é popul
ar, no diabo a quatro. No trabalho de Fernando Lindote deverá abordar o problema d
o corpo, a poética da Lygia Clark, se entrar no de Tunga deve buscar uma abordagem
mais surrealista, o que é imaginação, o imaginário. Igualmente, situa ele, é possível ler
obra a partir da psicanálise, de questões formais, da política, da economia.
Concessões inacreditáveis
Sobre o papel das associações e entidades de classe, como a ABCA e outras, Farias ac
ha que elas só servem para ofertar comendas e premiações, com diretorias que geralment
e fazem concessões inacreditáveis e, regra geral, têm uma visão muito romântica, completam
ente anacrônica. "É paroquial, não há outra palavra. É lamentável", define ele. Reconhece o
embates que já teve com algumas entidades, recusando inclusive um prêmio da APCA, e
faz a ressalva de que há gente boa neste universo.
Texto publicado originalmente no site Cultura e Mercado, no dia 20 de junho de 2
006 (http://www.culturaemercado.com.br/).

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