CAROLINA SAMORANO
Quando a sua televisão enguiça bem no clímax da novela, você pode, apesar da frustração,
levá-la à assistência técnica autorizada, certo? Se a garantia não cobre o defeito, é direito
seu reclamar no Serviço de Atendimento ao Consumidor do fabricante. Se realmente se
sentir lesado, é provável que formalize uma queixa no Procon. Mas e se o motivo do mau
humor for um pouco mais… íntimo? A quem reclamar se aquele brinquedinho adquirido
em uma loja de artigos sensuais não passar de propaganda enganosa? Levando em
consideração que alguns artigos eróticos custam quase R$ 1 mil, não parece um bom
negócio esquecê-los no fundo da gaveta.
Os sex shops são um filão altamente rentável, que cresce em média 15% ao ano e
movimenta algo em torno R$ 1 bilhão nesse período, informa a Associação Brasileira das
Empresas do Mercado Erótico (Abeme). Apesar disso, é um mercado que carece de
regulamentação e mecanismos de controle. Para complicar, boa parte dos produtos é
importada e sem representação no Brasil.
– Isso dificulta bastante o nosso trabalho. Como não existem regras nem órgãos
responsáveis pela fiscalização, as políticas de troca e reparação dos clientes ficam mesmo a
cargo das lojas – lamenta Evaldo Shiroma, presidente da Abeme.
– Usar um produto inadequado pode levar a uma reação alérgica leve, causar prurido e
vermelhidão e agravar doenças pré-existentes. Fora o fato de que atrapalha a relação sexual
– avisa o ginecologista Maurício Carielo.
Antes de expor os artigos na vitrine, a empresária Ana Cláudia Fraga, há 10 anos dona de
sex shop, cerca-se de cuidados.
– Vejo se o produto está liberado pela Anvisa, se está dentro do prazo de validade e dou
sempre preferência àqueles beijáveis, que a pessoa pode levar à boca sem problemas.
Ela também prioriza a venda de acessórios nacionais, cujas instruções são em português. A
preocupação se repete no recém-inaugurado Ponto das Comadres, um sex shop virtual
desenvolvido especialmente para o público feminino.
A falta de regulação do setor desagrada até aos fornecedores. Segundo Aline Silva, chefe
do departamento comercial da Hot Flowers, uma das maiores fabricantes de artigos eróticos
do país, a lacuna jurídica justifica as escassas informações nos rótulos — produtos que não
se encaixam na classificação cosmética não podem receber descrições “fantasia”.
– Uma legislação adequada permitiria que a gente fornecesse mais dados. Às vezes, o
consumidor se queixa do produto, mas o erro pode estar na aplicação.
– Mas eles vêm pré-testados pelo fabricante – esclarece. – Se estiver com defeito, a gente
faz a troca, mas já chegou gente aqui dizendo que era muito grande e queria trocar por um
menor. Aí não dá, né?
Como qualquer outra loja, os sex shops precisam estar de acordo com o Código de Defesa
do Consumidor.
– Produtos fora da validade, com defeito ou sem informações claras, isso a gente entende
como conflito na relação de consumo. É a mesma coisa para qualquer estabelecimento
comercial – explica Oswaldo Morais, diretor-geral do Procon-DF.
As reclamações desse tipo são raras por lá, mas acabam rendendo histórias curiosas, como a
da mulher que se decepcionou com o vibrador “da vizinha”.
– Ela chegou dizendo que já tinha testado várias pilhas em vão – lembra o diretor.
Mas tenha a certeza de ter feito uma ótima escolha antes de confirmar o pagamento, pois
preferências de tamanho, cor e material não são argumentos válidos para a troca.
Cosméticos eróticos, como óleos de massagem e géis com cores, sabores e que prometem
sensações precisam da aprovação da Anvisa. Para saber se o que comprou está de acordo
com as normas, você pode digitar o nome do produto no buscador do site
www.anvisa.gov.br ou ligar no 0800-642-9782.
Todo produto tem garantia legal de 90 dias, mesmo que você não receba nenhum
documento do fabricante. Dentro desse prazo, em caso de defeito, você pode retornar à loja
e pedir a troca ou o conserto. Algumas lojas ou fabricantes podem optar por uma garantia
maior, mas ela não é obrigatória.
Nenhuma loja — inclusive sex shop — é obrigada a fazer trocas por insatisfação do cliente.
Se você não gostar de um produto ou mudar de ideia no caminho para casa, pode ser que
tenha que se conformar.