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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO


POLÍCIA MILITAR
CENTRO DE CAPACITAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E PESQUISA
ACADEMIA DE POLICIA MILITAR COSTA VERDE
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SEGURANÇA PUBLICA

ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME COM CADÁVER:


QUALIDADE DO PROCEDIMENTO NA POLÍCIA MILITAR DE MATO GROSSO

FÁBIO LUIZ BASTOS – CAP PM


14

Várzea Grande – MT

2008

FÁBIO LUIZ BASTOS – CAP PM

ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME COM CADÁVER:


QUALIDADE DO PROCEDIMENTO NA POLÍCIA MILITAR DE MATO GROSSO

Monografia apresentada à Coordenação


do Curso de Especialização em Gestão
de Segurança Pública – CEGeSP/CAO
como requisito obrigatório para a
conclusão do curso e obtenção do grau
de Especialista em Gestão de Segurança
Pública.

Orientador: Esp. Alexandre Corrêa Mendes – Maj PM


15

Várzea Grande – MT

2008
ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME COM CADÁVER:
QUALIDADE DO PROCEDIMENTO NA POLÍCIA MILITAR DE MATO GROSSO

FÁBIO LUIZ BASTOS – CAP PM

Monografia submetida à Banca Examinadora, composta por professores e


convidados do Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública –
CEGeSP/CAO, do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu da Universidade do
Estado de Mato Grosso – UNEMAT, e julgada adequada para a concessão do Grau
de ESPECIALISTA EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA.

Banca Examinadora:

_____________________________________________
Alexandre Corrêa Mendes – Maj PM
Orientador / Presidente da Banca

_____________________________________________
Rhaygino Sarly Rodrigues Setubal – Maj PM
Membro

_____________________________________________
Ernesto Amado – Perito Criminal
Membro

Nota obtida pelo aluno: _______


16

_____________________________________________
Jorge Catarino de Morais Ribeiro – Ten Cel PMMT
Comandante da Academia de Polícia Militar Costa Verde

DEDICATÓRIA

Dedico a todos meus familiares,


em especial aos meus pais, Sr. Agentino
e Sra. Amiltes, como uma forma simbólica
de retribuição a todo esforço e dedicação
que tiveram na minha educação e de
meus irmãos.

Homenagem especial ao meu tio


Algemiro Martiniano da Silva (in
memorian), maior incentivador da minha
carreira militar.

Dedico ainda esta obra a todos os


valorosos guerreiros policiais militares,
17

que labutam diariamente na preservação


da Ordem Pública em nosso Estado,
mesmo com o risco da própria vida.

AGRADECIMENTO

Agradeço ao nosso Deus, grande


arquiteto do universo, pela graça da vida.

Agradeço ao Comando, Oficiais,


Praças e equipe pedagógica da APMCV,
pessoas que se dedicam para a formação
e qualificação dos comandantes da
Instituição.

Agradeço as orientações
ministradas, com grande sabedoria, pelo
Maj PM Alexandre Corrêa Mendes,
pessoa com profundo conhecimento na
área de Criminalística.
18

Agradeço ainda aos colegas da


Turma Paiaguás, pela união e apoio.

EPÍGRAFE
19

“O melhor da vitória não é o


prêmio obtido, mas a consciência de ter
vencido com as armas da honestidade”.

Anônimo

RESUMO

Este trabalho aborda o tema relacionado aos procedimentos policiais em


local de crime, mais especificamente trata da qualidade do procedimento de
isolamento e preservação de local de crime com cadáver, na capital do Estado de
Mato Grosso, culminando com sugestões para sua melhoria. Para isso, foram
utilizados os fundamentos da criminalística, onde buscou-se analisar as variáveis e
seus conceitos em um local de crime, e analisou-se os procedimentos operacionais
do policial militar nesse tipo de atuação. Discutiu-se ainda a competência legal dos
diversos órgãos no local de crime. Portanto, este trabalho busca apresentar a
importância da correta preservação de um local de crime com cadáver, em busca da
elucidação do crime e identificação da autoria do delito. Os policiais militares são, via
de regra, os primeiros agentes do Estado a chegarem a um local de crime, diante
disso, devem tomar as providências iniciais atinentes a sua competência,
preparando o local para o serviço pericial e para as investigações por parte da
Polícia Civil. Através de pesquisa de campo procurou-se levantar a qualidade e o
grau de satisfação deste serviço.

Palavras-chave:
Local de crime – isolamento e preservação – qualidade – Polícia Militar
20

ABSTRACT

This paper addresses the issue related to police procedures in place of


crime, specifically addresses the quality of the procedure for isolation and
preservation of local crime, with corpses in the capital of the state of Mato Grosso,
culminating with suggestions for its improvement. To do so was based on the science
of criminalistics, trying to examine the variables and their concepts in a place of
crime, and looked up the operating procedures of the military police in this type of
action. It was also discussed the legal competence of various bodies at the scene of
crime. Therefore, this paper seeks to present the importance of proper preservation
of a site of crime with corpses, in search of elucidation of crime and identification of
the authors of the crime. The military police are, as a rule, the first agents of the state
to reach a place of crime, before this, should take the initial attaching to its mission,
preparing the site for the service and expertise to the investigations by the Police
Civil. Through search of field sought to raise the quality and degree of satisfaction
from this service.

Keywords:
Place of crime - isolation and preservation - quality - Military Police
21

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1: Efetivo de peritos e sua proporção com os habitantes dos Estados... 30


Figura 1: Gráfico de respostas da pergunta 01 às praças do 3º CPA................. 68
Figura 2: Gráfico de respostas da pergunta 02 às praças do 3º CPA................. 69
Figura 3: Gráfico de respostas da pergunta 03 às praças do 3º CPA................. 70
Figura 4: Gráfico de respostas da pergunta 04 às praças do 3º CPA................. 71
Figura 5: Gráfico de respostas da pergunta 05 às praças do 3º CPA................. 72
Figura 6: Gráfico de respostas da pergunta 06 às praças do 3º CPA................. 73
Figura 7: Gráfico de respostas da pergunta 01 aos Peritos Criminais................. 75
Figura 8: Gráfico de respostas da pergunta 02 aos Peritos Criminais................. 76
Figura 9: Gráfico de respostas da pergunta 03 aos Peritos Criminais................. 77
Figura 10: Gráfico de respostas da pergunta 04 aos Peritos Criminais............... 78
Figura 11: Gráfico de respostas da pergunta 05 aos Peritos Criminais............... 79
22

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Respostas da pergunta 01 às praças da PMMT.................................. 68


Tabela 2: Respostas da pergunta 02 às praças da PMMT.................................. 69
Tabela 3: Respostas da pergunta 03 às praças da PMMT.................................. 70
Tabela 4: Respostas da pergunta 04 às praças da PMMT.................................. 71
Tabela 5: Respostas da pergunta 05 às praças da PMMT.................................. 72
Tabela 6: Respostas da pergunta 06 às praças da PMMT.................................. 73
Tabela 7: Respostas da pergunta 01 aos Peritos Criminais................................ 75
Tabela 8: Respostas da pergunta 02 aos Peritos Criminais................................ 76
Tabela 9: Respostas da pergunta 03 aos Peritos Criminais................................ 77
Tabela 10: Respostas da pergunta 04 aos Peritos Criminais.............................. 78
Tabela 11: Respostas da pergunta 05 aos Peritos Criminais.............................. 79
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

3º CPA – 3º Comando de Policiamento de Área, antigo 3º Batalhão de Polícia Militar


a. C. – Antes de Cristo
APMCV – Academia de Polícia Militar Costa Verde
BO – Boletim de Ocorrência
CAS – Curso de Aperfeiçoamento de Sargento
CF – Constituição Federal
CFC – Curso de Formação de Cabo
CFS – Curso de Formação de Sargento
CFSD – Curso de Formação de Soldado
CIOSP – Centro Integrado de Operações de Segurança Pública
CP – Código Penal
CPM – Código Penal Militar
CPP – Código de Processo Penal
CPPM – Código de Processo Penal Militar
CTB – Código de Trânsito Brasileiro
d. C. – Depois de Cristo
DHPP – Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa
IP – Inquérito Policial
IPM – Inquérito Policial Militar
MT – Mato Grosso
PM – Polícia Militar
PMs – Policiais Militares
PMMT – Polícia Militar do Estado de Mato Grosso
POLITEC – Perícia Oficial e Identificação Técnica
POP – Procedimento Operacional Padrão
SAMU – Serviço de Atendimento Médico de Urgência
SEJUSP – Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública
SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública
24

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................... 13

1 CRIMINALÍSTICA........................................................................................... 17
1.1 CONCEITOS................................................................................................ 17
1.2 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA CRIMINALÍSTICA.......................................... 18
1.2.1 No Mundo................................................................................................. 18
1.2.2 No Brasil................................................................................................... 20
1.2.3 Em Mato Grosso...................................................................................... 22
1.3 A PERÍCIA CRIMINAL................................................................................. 24
1.4 O PERITO CRIMINAL.................................................................................. 28

2 LOCAL DE CRIME.......................................................................................... 32
2.1 CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES............................................................ 32
2.2 GÊNESE DA PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME.............................. 34
2.2.1 Investigação Criminal e o Envolvimento dos Órgãos de Segurança
Pública....................................................................................................... 36
2.3 COMPETÊNCIA LEGAL DA PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME..... 37
2.3.1 Comentários sobre o Regulamento de Padronização em Mato
Grosso...................................................................................................... 40
2.4 CONCEITOS ESSENCIAIS EM LOCAL DE CRIME: LEVANTAMENTO,
VESTÍGIO, EVIDÊNCIA, INDÍCIO E CORPO DE DELITO......................... 42
2.5 DELIMITAÇÃO: LOCAL DE CRIME COM CADÁVER............................... 45
2.5.1 Perícias Realizadas em Local de Crime com Cadáver......................... 46

3 PROCEDIMENTO POLICIAL EM LOCAL DE CRIME................................... 49


3.1 FASES DA ATUAÇÃO DO ESTADO EM LOCAL DE CRIME.................... 49
3.2 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DO POLICIAL MILITAR EM
LOCAL DE CRIME COM CADÁVER.......................................................... 52
3.3 QUALIDADE DO PROCEDIMENTO POLICIAL.......................................... 59
3.3.1 Conceito de Qualidade............................................................................ 60
3.3.2 Indicadores de Qualidade....................................................................... 62

4 METODOLOGIA E RESULTADOS................................................................ 64
4.1 METODOLOGIA CIENTÍFICA..................................................................... 64
4.1.1 Método de Abordagem............................................................................ 64
4.1.2 Método de Procedimento........................................................................ 65
4.1.3 Técnicas de Pesquisa............................................................................. 65
4.1.4 População................................................................................................. 66
4.1.5 Amostra.................................................................................................... 66
4.1.6 Método de Análise................................................................................... 67
4.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS................................. 67
4.2.1 Dados quantitativos: questionário aos Policiais Militares.................. 67
25

4.2.2 Dados quantitativos: questionário aos Peritos Criminais.................. 74


4.2.3 Dados qualitativos: entrevistas............................................................. 80

CONCLUSÃO E SUGESTÃO............................................................................ 83

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 86

OBRAS CONSULTADAS.................................................................................. 89

APÊNDICES....................................................................................................... 90

ANEXO............................................................................................................... 110

INTRODUÇÃO

A impunidade cria na sociedade uma sensação de insegurança e injustiça,


fazendo nascer um descrédito para com o poder constituído do Estado.
Desta forma, tanto a sociedade, quanto o Estado, são afetados quando da
ocorrência de uma infração penal, por isso, o Estado chamou para si a titularidade
da ação penal, isto é, desenvolveu um sistema através do qual identifica, aprisiona,
julga e pune o infrator da lei penal.
26

Nesta trilha, o nosso ordenamento jurídico determina que o local onde tenha
ocorrido um delito seja preservado, visando manter intacto o estado em que se
encontravam os objetos daquele local para realização da perícia, coleta de provas e,
naturalmente, o sucesso da investigação criminal e a efetivação da ação penal.
O primeiro “agente do Estado” que chegar a um local de crime tem papel de
suma importância no isolamento e preservação desse local, pois caso não se dê o
devido valor nesse procedimento, poderá ser prejudicado para sempre o
levantamento do local, comprometendo a possível elucidação dos fatos e
identificação do autor do delito.
É sabido por todos que os policiais militares, via de regra, são os primeiros
“agentes do Estado” a chegarem a um local de crime, devido sua distribuição,
acessibilidade pela população, forma de atuação e missão constitucional.
Os locais de crime de maior complexidade com certeza tratam-se dos crimes
que resultem em morte (homicídio, suicídio, morte acidental, morte misteriosa, etc.),
necessitando de todo um ritual de procedimentos policiais, os quais envolvem várias
instituições como Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Peritos Criminais,
Instituto Médico Legal, etc.
Apesar de existirem normas positivas determinando e padronizando as
ações dos policiais em local de crime, é de conhecimento geral que tais medidas
não são realizadas, ou não se tomam as devidas cautelas que esses casos
requerem.
A Polícia Militar é constantemente criticada, tanto pela imprensa, quanto por
outros órgãos do sistema de Segurança Pública, por essas falhas em local de crime.
Inúmeros casos de falhas no procedimento de isolamento e preservação de
local de crime são noticiados, com alguma freqüência, na imprensa, alguns de
grande repercussão, como é o caso recente da morte da garota Isabela em São
Paulo, onde as investigações ficaram prejudicadas pelas falhas no isolamento e
preservação da cena dos fatos.
Diante disso, e voltando-se para a realidade mato-grossense, precisamos
pesquisar o porquê de não estar se dando o devido valor a este procedimento, e o
porquê do acontecimento dessas falhas, com o objetivo de melhorar a parte
incumbida à Polícia Militar, e, com a somatória das atuações dos outros órgãos,
buscar a tão almejada Ordem Pública.
27

Procurando atender esses anseios, atualmente todos os cursos de formação


na corporação reservam uma disciplina referente ao tema, portanto o policial militar
não pode alegar desconhecimento do assunto, com isso, sentimos a necessidade de
avaliar como se encontra a qualidade do procedimento referente ao isolamento e
preservação de local de crime.
Ressalta-se ainda o interesse pessoal deste autor, que, por toda nossa
carreira exercemos nossas atividades em unidades operacionais, e nos diversos
acompanhamentos a ocorrências policiais com cadáver, verificamos várias falhas,
principalmente a falta de padronização das ações, despertando a preocupação
sobre o assunto.
Por isso, delimitamos nossa pesquisa para as situações de local de crime
com cadáver, que, praticamente, são os únicos locais, com raras exceções, que as
Autoridades Policiais se fazem presente no local de crime e os Peritos Criminais são
requisitados a realizarem seus serviços in locu, portanto, obrigatoriamente esses
locais devem ser isolados e preservados.
O propósito final desta pesquisa é levantar se está sendo satisfatório o
procedimento de isolamento e preservação de local de crime com cadáver na capital
do Estado, para verificarmos se precisamos melhorar e em que precisamos
melhorar, em benefício da elucidação dos crimes contra a vida e,
conseqüentemente, melhoria de vida para o cidadão.
A pesquisa sempre parte de um problema, uma interrogação, uma situação
para a qual o repertório de conhecimento disponível não possui resposta adequada.
Com base nesse fundamento, chegamos à seguinte problematização:
A qualidade do procedimento policial de isolamento e preservação de local
de crime com cadáver, realizado pelos Integrantes da Polícia Militar na capital do
Estado de Mato Grosso, é satisfatória?
Para solucionar um problema científico são levantadas hipóteses que podem
ser confirmadas ou refutadas pela pesquisa. Com base no conhecimento empírico e
através das pesquisas preliminares, vislumbramos que para um serviço ser de
qualidade satisfatória, teria que atender a três quesitos: atender as exigências
legais, atender a finalidade do serviço e atender as necessidades dos clientes, com
isso, chegamos à seguinte hipótese:
Se o procedimento policial de isolamento e preservação de local de crime
com cadáver, realizado pelos integrantes da Polícia Militar de Mato Grosso na
28

capital, atende as exigências legais, garante a conservação do lugar, coisas e


cadáveres envolvidos no delito, e atende as necessidades dos clientes externos,
então a qualidade é satisfatória.
O objetivo geral de todo este trabalho é analisar se a qualidade do
procedimento de isolamento e preservação de local de crime com cadáver, realizado
pelos integrantes da PMMT na capital, é satisfatória, ao final sugerir formas de
melhorar sua atuação.
Para atingirmos esse objetivo maior, tivemos que realizar uma gama de
ações menores, denominadas de objetivos específicos.
Com isso, tivemos que levantar qual a necessidade de se isolar e preservar
um local de crime com cadáver, qual a competência da Polícia Militar nesse tipo de
ação, qual é o procedimento operacional mais eficiente no isolamento e preservação
de local de crime com cadáver, tivemos ainda que identificar quais os recursos
materiais disponíveis para executarem o referido procedimento e quais as principais
falhas, ao final levantamos o nível de satisfação por parte dos clientes do serviço de
isolamento e preservação de local de crime com cadáver.
Esta obra, além da introdução e conclusão, tem seu desenvolvimento divido
em quatro capítulos, onde, devido à extensão da fundamentação teórica sobre o
assunto, reservou-se os três primeiros capítulos para o embasamento dessa teoria.
No primeiro capítulo falamos sobre a Criminalística como ciência, seus
conceitos, origem e evolução ao longo do tempo, aproveitando-se para falar sobre a
perícia criminal e o perito criminal.
Na segunda parte do trabalho designamos a tratar do local de crime, seus
conceitos, gênese da necessidade de sua preservação, suas classificações, bem
como, realizou-se um comentário geral sobre as normas jurídicas e as competências
legais.
Logo em seguida, no terceiro capítulo, citamos a atuação do Estado em local
de crime, nas suas diversas fases, e os procedimentos operacionais dos policiais
militares quando da intervenção em um local de crime, também fizemos uma rápida
introdução aos conceitos e teorias da qualidade, voltada para o procedimento em
tela.
Finalizando o desenvolvimento do trabalho, no quarto capítulo apresentamos
a metodologia científica utilizada e os resultados das pesquisas de campo, com suas
respectivas análises e comentários.
29

Ao final do trabalho, com base em toda a pesquisa, fizemos nossa


conclusão e algumas sugestões para a melhoria da qualidade na atuação da Polícia
Militar em local de crime com cadáver.

1 CRIMINALÍSTICA

É de conhecimento geral a problemática referente ao isolamento e


preservação de local de crime, principalmente nos locais de crime com cadáver, em
que a curiosidade acaba levando pessoas a alterarem o local, prejudicando para
sempre o trabalho pericial e, como conseqüência, prejudicando a investigação
criminal e o esclarecimento do delito.
Mas para podermos falar sobre isolamento e preservação de local de crime,
se faz necessário, inicialmente, nos fundamentarmos na teoria da criminalística, pois
se trata de um conhecimento indispensável para que o policial tenha condições de
fazer o correto isolamento e preservação dos vestígios na cena do crime.

1.1 CONCEITOS
30

Buscando o conceito de Criminalística, encontramos várias definições,


sendo uma delas a seguinte:

Criminalística é a ciência que sistematiza observação,


interpretação e descrição dos elementos sensíveis em locais de crime, com
o objetivo de estabelecer vínculo entre pessoas, circunstâncias e eventos,
bem como estabelecer a verdade material dos fatos de interesse da justiça
(informação oral1).

Uma definição muito prática de criminalística é a feita por O’Hara (apud


GARCIA, 2002, p. 317)2: “criminalística é a ciência que aplica o conhecimento de
outras ciências na investigação dos crimes”.
Não se pode confundir Criminalística com Criminologia, pois apesar de
ambas terem o mesmo radical (crime), os objetos são diferentes, pois enquanto a
criminalística trata da pesquisa, coleta e exame de vestígios3, realizados por órgãos
específicos do Estado, buscando identificar autoria e modus operandi de um delito
penal, a criminologia estuda o crime, o fato criminoso, as causas da criminalidade
bem como a personalidade e a conduta da pessoa criminosa.
No universo da criminalística encontramos muitos tipos de exames:
levantamento de local de crime, documentoscopia, fonética, identificação de
veículos, engenharia legal, balística, residuográfico e laboratório forense (análise de
substâncias químicas, biológicas e toxicológicas), etc.
A medicina legal, devido sua complexidade, permaneceu uma especialidade
à parte da criminalística, cabendo aos Peritos Oficiais Médico-Legistas realizarem
exames em vivos (lesões corporais, atentado violento ao pudor, exame de
conjunção carnal, insanidade mental) e os exames em mortos (necrópsia), já aos
Peritos Oficiais Odonto-Legistas os exames constituem principalmente para
determinação da idade, casos de identificação humana por mordedura ou análise de
arcos dentários. Ainda convergem as ações dos Peritos Oficiais Médicos e Odonto-
Legistas na realização de exumações e antropologia4.

1
Informação oral fornecida pelo Perito Zuilton Brás Marcelino, quando ministrava aula no Curso de
Local de Crime, realizado na Academia de Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso no ano de 2006.
2
GARCIA, Ismar Estuleno. Procedimento Policial: Inquérito. 9. ed. Goiânia: AB Editora, 2002. p.
317.
3
Vestígio é todo material encontrado pelo perito em local de crime, que pode ter relação com o
delito, mas ainda não comprovado. Outros conceitos na seção 2.4.
4
COORDENADORIA Geral de Criminalística. Disponível em:
<http://www.seguranca.mt.gov.br/politec/coord_crimin.htm> Acesso em: 17 de maio de 2008.
31

Modernamente foram inseridos os conceitos de criminalística estática e


dinâmica, referindo a interação entre as autoridades envolvidas, onde a
criminalística estática é a usada tradicionalmente pela Polícia Judiciária Civil,
quando se requisita a perícia e aguarda-se os laudos chegarem, apenas para
cumprir a determinação legal.
Já a criminalística dinâmica é a perícia realizada com a interação da
autoridade policial, seus agentes, policiais militares que atenderam a ocorrência,
formando um verdadeiro trabalho de equipe, com contatos informais para discussão
dos pontos de vistas de cada agente do Estado envolvido.

1.2 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA CRIMINALÍSTICA

1.2.1 No Mundo

A expressão “Criminalística” é recente no mundo, porém sua origem é muito


antiga. Inicialmente o Estado licitamente utilizava de meios violentos, como a tortura,
para descobrir os autores de crimes, mas com o passar do tempo, a evolução e o
repúdio a métodos violentos, forçaram as autoridades a desenvolverem outros
métodos para a elucidação de fatos contrários às leis, com isso, iniciou-se o
emprego de conhecimentos científicos na elucidação de crimes.
Não existem dados precisos sobre a origem da criminalística no mundo,
havendo muitas controvérsias históricas sobre as primeiras utilizações de
conhecimentos científicos para a elucidação de crimes, mas existem rumores de que
no Império Romano já eram utilizados conhecimentos de medicina para desvendar
misteriosas mortes em um mosteiro.
Wehner (apud MOREIRA, 2004, p. 15)5 afirma que um dos marcos iniciais
da criminalística é uma investigação criminal procedida no ano de 1.100 a. C. na
cidade de Tebãs, no Egito, onde conseguiram identificar os autores do roubo de
tumbas reais, depois de realizado o exame do local e uma reconstituição dos fatos.
Wehner cita ainda que na Bíblia, no livro de Daniel, há um caso de uma
investigação em que Daniel examinou a entrada da galeria secreta do Templo do
Deus Bel, onde observou pegadas, concluindo que se tratavam de pegadas de

5
MOREIRA, Danilo Sagóvia. Preservação de Local de Crime: fatores que interferem na atuação
(...). Várzea Grande: APMCV, 2004. Monografia, Academia de Polícia Militar Costa Verde, 2004.
32

homens, mulheres e crianças, havendo ainda inúmeros outros fatos semelhantes


citados na Bíblia.
Sobre o que seria o primeiro exame direto em local de crime, Mendes
(2007)6 relata em sua obra monográfica que atribúi-se ao Imperador Romano César,
quando se fez presente em um local para constatar um homicídio.
Na Áustria, no final do século XIX, o juiz de instrução Hans Gross, que além
do conhecimento jurídico que possuía, era autodidata nos ramos de física, biologia,
química, microscopia, etc., em busca de formas científicas de elucidar crimes, criou
o “Manual de Instrução do Juiz Criminal”, orientando como descobrir e interpretar
indícios7, sendo um dos primeiros no mundo a confeccionar um compêndio com o
conhecimento de várias ciências voltado para a elucidação de crimes, sendo
considerado o “pai da criminalística”.
Segundo Santos (apud ANGELOTTI, 2004, p. 03)8, na velha civilização do
Egito também se realizava algumas atividades de perícia, pois quando o Rio Nilo
transbordava e inundava a área de alguém, cuja área era distribuída pelo Faraó,
essa pessoa lesada procurava o Faraó para reclamar do ocorrido, o qual enviava ao
local inspetores que mediam e avaliavam a área reduzida, para a diminuição dos
tributos.
Como podemos ver, desde os primórdios da humanidade e ao longo da
história humana existem fatos relacionados à Criminalística, ainda que de forma
tímida, sendo que nos tempos modernos as legislações incluem as perícias entre as
provas legais, pois se compreende não ser possível aos magistrados o
conhecimento universal, passando-se então a utilizar o conhecimento dos experts
em ciências para a realização de exames em pessoas, coisas e locais, produzindo
provas para a elucidação de um fato criminoso (ANGELOTTI, 2004)9.
A criminalística de forma mais científica como conhecemos hoje se iniciou
nas universidades, como, por exemplo, na Universidade de Lausanne na França,
onde, em 1908, criou-se o Instituto de Polícia Científica anexo ao laboratório da
Universidade, e, com o passar do tempo, verificou-se a importância desses
6
MENDES, Alexandre Corrêa. A Necessidade de Criação de um Corpo de Criminalística na
Polícia Militar de Mato Grosso. Várzea Grande: APMCV, 2007. Monografia, Academia de Polícia
Militar Costa Verde, 2007.
7
Indício é a expressão usada no meio jurídico que significa todas as informações relacionadas ao
crime, sejam elas periciais ou não, comprovadas ou não. Outros conceitos na seção 2.4.
8
ANGELOTTI, Carlos Roberto. Um tiro para a balística forense: enfocando os efeitos (...). Cuiabá:
UFMT, 2004. Monografia, FAECC, Universidade Federal de Mato Grosso, 2004. p. 03.
9
ANGELOTI, op.cit.
33

conhecimentos para a investigação criminal, e, com isso, foram transferidos para os


departamentos de polícia.

1.2.2 No Brasil

A criminalística no Brasil surgiu primeiramente por intermédio da medicina


legal, fato este explicado até pela própria tradição da medicina no mundo
(ESPINDULA, 2006, p. 4)10.
A criminalística no Brasil passou por várias fases, como a previsão legal da
perícia no Código de Processo Penal, o regime ditatorial de 1964, a Constituição
Cidadã de 1988 e outras mudanças após 1988.
Foi na decretação do Código de Processo Penal (CPP), em 1941, que se
unificou a legislação processual penal no Brasil, e nessa ocasião o legislador já dava
a devida importância para as perícias no conjunto de provas, determinando sua
realização nos delitos que deixassem vestígios.
Também determinava que as perícias fossem realizadas, via de regra, por
peritos oficiais (agentes oficiais do Estado), porém, devido aquela época a
criminalística no Brasil ainda não estava estruturada, preocupou-se o legislador em
prever também a nomeação de peritos ad hoc11 para situações em que não era
possível a atuação de peritos oficiais, ocorre que até hoje, em muitos municípios do
interior, ainda não existe estrutura de peritos oficiais, e nesses locais, quando
necessário, utiliza-se o recurso da nomeação de perito ad hoc.
Com o golpe militar de 1964, a perícia passou a ser manipulada pelo
governo, como forma de camuflar as arbitrariedades os laudos periciais eram
utilizados para respaldar suas atividades, dessa forma os processos eram facilmente
controlados, sendo que nesse período não houve quase que nenhum investimento
no setor pericial.
Carvalho (apud MOREIRA, 2004)12, diz que o objetivo da Criminalística,
desde suas origens, sempre foi de chegar a um resultado científico, indiferente às
preocupações da Polícia ou mesmo da Justiça, pois a força da criminalística
consiste em manter-se neutra, voltada para o mundo da ciência, porém no período
10
ESPINDULA, Alberi. Perícia Criminal e Cível: uma visão geral para peritos e usuários da perícia.
Campinas: Millennium, 2006. p. 4.
11
Ad hoc: termo em latim que significa “em lugar de...”, usado quando alguém é nomeado para
exercer uma função em lugar de outra pessoa, somente para aquele ato.
12
MOREIRA, op. cit., p. 17.
34

ditatorial a criminalística no Brasil passou por tristes momentos, onde os laudos


periciais serviram quase que exclusivamente para respaldar abusos do Estado.
Um exemplo marcante do uso induzido da perícia criminal nesse período foi
o assassinato do Jornalista Wladimir Herzog, morto por agentes do Estado nos
porões da ditadura militar, e nessa ocasião foi produzido um laudo pericial dando
como a causa da morte um suicídio por enforcamento (ESPINDULA, 2006, p. 6).
Após a promulgação da Constituição Federal de 198813, qual ficou conhecida
como Constituição Cidadã, que buscou atingir os anseios democráticos do povo
brasileiro, cada Estado da Federação elaborou sua própria Constituição Estadual
com base na carta federal, porém, como a lei maior não previa a estrutura dos
órgãos periciais, os Estados se diferenciaram, sendo que alguns buscaram a
desvinculação da Polícia Civil e sua total autonomia, outros mantiveram sua
estrutura vinculada com a Polícia Investigativa.
Acreditamos que os órgãos periciais em todo o Brasil caminham para essa
autonomia, desvinculada das Polícias Judiciárias, para que possam atuar na
produção de provas sem ingerências de outros setores, porém tendo sua estrutura
subordinada às Secretarias Estaduais de Segurança Pública.

Nesse sentido, Espindula também cita:

Atualmente a autonomia da perícia é vista por inúmeros


segmentos da sociedade, [...] como uma necessidade básica para
instrumentalizar a Justiça na apreciação de processos criminais respaldados
com provas substanciais, como também para garantir a defesa dos direitos
individuais e coletivos do cidadão (2006, p. 9)14.

No ano de 1994, com a edição da lei nº 8.862, alterou-se o Código de


Processo Penal (CPP) e o Código de Processo Penal Militar (CPPM), trazendo
muitas mudanças na questão da prova pericial, entre elas a exigência de dois peritos
oficiais, na sua impossibilidade, de dois profissionais com formação superior, trouxe
ainda a obrigatoriedade da preservação do local do crime até a chegada dos peritos.

1.2.3 Em Mato Grosso

13
BRASIL. Constituição Federal. Brasília: Senado Federal, 1988.
14
ESPÍNDULA, op. cit., p. 9.
35

No Estado de Mato Grosso, o que se tem notícia, a perícia criminal iniciou


com a medicina legal, onde os médicos-legistas usavam seus conhecimentos para
produzir provas que auxiliavam nas investigações criminais. No ano de 1934 foi
criada através de decreto estadual a função de médico-legista, na então Sub-
Chefatura de Polícia na estrutura da Polícia Judiciária Civil, já o setor de
identificação foi criado no ano seguinte, 1935, também inserida na estrutura da
Polícia Civil (NOGUEIRA, 2006)15.
Como afirma a perita Maria Eurélia (apud NOGUEIRA, 2006)16, no ano de
1980 foi previsto no Regimento Interno da Secretaria de Segurança Pública a
criação do Departamento de Polícia Científica, que tinha como sub-setores o
Instituto de Criminalística e o de Medicina Legal, porém tal estrutura ainda não tinha
sido criada por falta de meios. No mesmo ano, três funcionários foram para o Paraná
fazerem o Curso de Peritos Oficiais, que ao retornarem eram os únicos peritos
oficiais do Estado, e que enfrentaram problemas de toda ordem, como falta de
recursos materiais, desconhecimento por parte dos órgãos policiais sobre a
importância das perícias, entre outros problemas.
No ano seguinte, mais três funcionários foram fazer o Curso de Peritos
Oficiais, desta vez em Minas Gerais, e que somente com a vinda destes é que se
passou a requisitar a presença de peritos em local de crime.
Somente em 1990 foi introduzida no texto constitucional estadual a relativa
autonomia da estrutura da perícia estadual, desvinculando-se da Polícia Judiciária
Civil e galgando o patamar de Coordenadoria, com o nome de Coordenadoria Geral
de Perícias e Identificação, posteriormente mudando para Superintendência de
Perícias e Identificação.
No ano de 2005, através da Lei Complementar nº 21017, tornou-se uma
instituição autônoma, recebendo o nome de “Perícia Oficial e Identificação Técnica”,
com a sigla POLITEC, sediada em Cuiabá – MT, em um prédio com a estrutura
necessária para o desempenho de suas funções, possuindo modernos

15
NOGUEIRA, Breno Chaves. Atuação do Policial Militar do Estado de Mato Grosso em
Ocorrências de Homicídio (...). Várzea Grande: APMCV, 2006. Monografia, Academia de Polícia
Militar Costa Verde, 2006.
16
Idem, ibidem, p. 19.
17
MATO GROSSO. Lei Complementar nº 210, de 12 de maio de 2005. Dispõe sobre a estrutura da
POLITEC. Disponível em: <http://www.seguranca.mt.gov.br/politec/legislacao/lei_210.htm> Acesso
em: 21 de maio de 2008.
36

equipamentos para realizar as perícias, tendo suas atribuições divididas em quatro


Coordenadorias:

a) Coordenadoria Geral de Identificação: emite carteira de identidade e


antecedentes criminais;

b) Coordenadoria Geral de Medicina Legal: realiza exames de lesão


corporal, necrópsia, conjunção carnal, insanidade mental, exumação de
cadáver, antropologia, e odonto-legal;

c) Coordenadoria de Laboratório Forense: realiza exames na área de


química e biologia, como, por exemplo, identificação de sangue humano,
espermatozóide, pesquisa de metais, toxicologia, etc.;

d) Coordenadoria Geral de Criminalística: realiza levantamento de local de


crime, documentoscopia, engenharia legal, balística, meio-ambiente,
identificação de veículos, etc.

Com relação ao exame de DNA, a POLITEC / MT ainda não possui estrutura


para realizá-lo, porém, quando necessário, o material é encaminhado para a
Universidade Federal de Alagoas ou para o laboratório da Polícia Federal, com os
quais a POLITEC / MT possui convênio, para a realização deste tipo de exame
(informação oral18).
Com relação ao interior do Estado, todo o território mato-grossense foi
dividido em regiões (mapa ANEXO A), ficando como sede das regionais da
POLITEC os municípios pólos, Barra do Garças, Rondonópolis, Cáceres, Tangará
da Serra e Sinop, porém, devido à estrutura deficiente do interior e a extensão
territorial do Estado, muitas vezes se torna inviável e até impossível a requisição e
comparecimento dos peritos oficiais em certos municípios, obrigando as próprias
autoridades policiais a procederem, ou nomearem peritos ad hoc para que
procedam, aos levantamentos e exames necessários.

1.3 A PERÍCIA CRIMINAL


18
Informação oral fornecida por Ana Cristina Lepinsk Romio, Coordenadora Geral de Criminalística
da POLITEC/MT, no dia 10 Jun 2008.
37

Para falarmos sobre Criminalística, necessariamente precisamos falar sobre


a Perícia Criminal, que se trata do conjunto de exames técnicos realizados nos
universos da criminalística e da medicina legal.
A terminologia “perícia”, conforme o Novo Dicionário Aurélio19, vem do latim
peritia, que significa destreza, habilidade e conhecimento.
Para Garcia (2002, p. 161)20, Perícia Criminal “é o conjunto de técnicas
usadas, visando provar a materialidade do crime e apontar o autor”.
Sobre perícia criminal, Tourinho Filho (apud CAMPOS, p. 34)21 leciona que:

Entende-se por perícia criminal o exame procedido por pessoa


que tenha conhecimentos técnicos, científicos, artísticos acerca de fatos,
circunstâncias ou condições pessoais inerente ao fato punível, a fim de
comprová-las.

Portanto, a perícia criminal é o exame realizado tanto no universo da


criminalística quanto no da medicina legal, por pessoas que tenham o devido
conhecimento, em busca da elucidação de um crime, porém, como o objeto deste
estudo trata-se de local de crime, que pertence ao ramo da criminalística, nos
restringiremos a esta especialidade, citando apenas de forma superficial o ramo da
medicina legal.
As perícias criminais podem ser classificadas de várias formas, mas a
classificação mais utilizada no Brasil é a seguinte:

a) direta – sobre o próprio corpo (ex.: cadáver, porta violada);

b) indireta – raciocínio dedutivo (ex.: trajetória de tiro);

c) oficial – realizado por órgão público (ex.: departamentos de criminalística);

d) não oficial (ou inoficial) – delegado a terceiros (ex.: médico particular);

e) intrínseca – aplicada sobre o próprio corpo (ex.: necrópsia);

19
NOVO Dicionário Aurélio. Disponível em: <http://aurelio.ig.com.br/dicaureliopos/home> Acesso em:
21 de maio de 2008.
20
GARCIA, op. cit. p. 161.
21
CAMPOS, Joamir Rogério. A intervenção Policial Militar na Preservação dos Locais de Crime:
Uma Proposta de Padronização. Florianópolis: UNIVALI, 2007. Monografia, Universidade do Vale do
Itajaí, 2007.
38

f) extrínseca – sobre elementos que possam servir de prova (ex.:


autenticidade de uma carta).

Existe ainda a classificação dividindo as perícias em dois grandes grupos


pelo critério de especificidade, as perícias específicas, que são aquelas realizadas
apenas por peritos com determinada formação superior, pois exige-se conhecimento
específico, por exemplo, perícia em produtos químicos, deve ser realizada por perito
formado em química, e as perícias genéricas, que são as demais perícias que não
exigem conhecimento de determinada área científica, por exemplo, o exame em
local de crime.
A perícia inclui-se no rol das provas do processo penal brasileiro, que, assim
como as demais provas22, tem valor relativo, pois o juiz pode fazer livre apreciação
das provas, através da qual formará sua convicção (CPP, art. 157), sendo que ele
não é obrigado a ficar preso ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em
parte (CPP, art. 182).
O artigo 158 do CPP determina a realização de exame pericial sempre que a
infração deixar vestígio, isso demonstra a essencialidade da perícia como meio de
prova, podendo inclusive ocorrer a nulidade do processo caso não seja cumprida
essa determinação legal, pois o art. 564 do CPP, seção que trata das nulidades do
processo, em seu inciso III, alínea “b”, descreve que por falta do exame de corpo
delito nos crimes de deixar vestígios ocorrerá a nulidade, com exceção dos casos
em que houverem desaparecidos os vestígios (art. 167 CPP), quando então poderá
ser suprida a falta da perícia com outras provas legais.
Igual regra está previsto no Código de Processo Penal Militar, em seus
artigos 315, 316, 321 e 328.
A perícia criminal pode ser requerida pela Autoridade Policial (civil ou
militar), por membro do Ministério Público, Membros do Poder Judiciário e
Autoridades da Administração Pública (quando da apuração de infração
administrativa que deixar vestígio), podendo ainda ser solicitada pelas partes.
Nos crimes que deixam vestígios o juiz e a Autoridade Policial estão
obrigados a requerer a perícia (art.158 do CPP), já nos crimes que não deixam

22
São provas previstas no CPP: perícias em geral, interrogatório do acusado, confissão, inquirição do
ofendido, inquirição de testemunhas, reconhecimento de pessoas e coisas, acareação, documentos
e objetos apreendidos.
39

vestígios é uma faculdade das autoridades, que devem decidir de acordo com a
conveniência e oportunidade.
A perícia criminal se desenvolve em três fases distintas: a requisição da
Autoridade Policial, provocando a atuação dos órgãos periciais, a análise no local,
que incluem a observação e coleta de provas (vestígios), e a confecção do laudo,
transcrevendo-se tudo que foi levantado e concluído, sendo que esse laudo servirá,
inicialmente, para a fundamentação da Autoridade Policial, e, posteriormente, para a
formação da convicção da Autoridade Judicial.
O laudo pericial é uma peça técnica-formal que apresenta o resultado de
uma perícia, e nele deve ser relatado tudo o que fora objeto dos exames feitos pelos
peritos, é, portanto, o resultado final do detalhado trabalho técnico-científico feito
pelo perito criminal, cujo objetivo é subsidiar a polícia e a justiça sobre assuntos que
ensejam dúvidas, havendo necessidade de conhecimento específico para saná-lo.
O CPP, em seu art. 160, preceitua:

Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão


minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos
formulados.
O termo correto para designar o trabalho escrito dos peritos é, portanto,
laudo pericial, apesar de alguns usarem erroneamente outros termos, como
relatório, relatório técnico, informação, entre outros (TOCCHETTO, 2006)23.
Vários doutrinadores de criminalística, como Espindula, Rocha, Robles,
Tochetto e Reis, estabelecem várias formas de confecção do laudo pericial, sendo
que todos possuem em sua estrutura mínima cinco divisões: introdução, histórico,
descrição, discussão e conclusão (MENDES, 2007)24.
Com relação ao prazo para realizar os exames periciais no ramo da
criminalística, o CPP não estipula, e nem teria como, pois se diferente fosse, teria
que estabelecer um prazo para cada tipo de perícia, devido a peculiaridade de cada
uma, contudo, a técnica pericial prega que deve ser realizado o quanto antes, para
que vestígios temporários não desaparecem.
Único prazo estipulado é sobre a realização da autópsia, que pertence ao
ramo da medicina-legal, onde o art. 162 do CPP estipula o prazo de seis horas
depois do óbito para a sua realização, com exceção dos casos em que as lesões

23
TOCCHETTO, Domingos. Balística forense: aspectos técnicos e jurídicos. Campinas: Millenium,
2005.
24
MENDES, op. cit.
40

externas do corpo não deixem dúvida sobre o óbito e sua causa, quando então não
será necessário realizá-la.
Depois de realizado o exame, o prazo estipulado para conclusão do laudo
pericial é de no máximo 10 dias, podendo esse prazo ser prorrogado, desde que
solicitado pelos peritos (art. 160 do CPP). Esse prazo foi alterado pela lei nº 8.862
em 1994, sendo que antes disso o prazo era de apenas cinco dias, o que era
considerado insuficiente para conclusão dos laudos.
Entre as provas não há hierarquia, cabendo à Autoridade (Policial ou
Judicial) fazer livre análise e atribuição de valor à prova pericial, porém, na prática,
acaba tendo prevalência sobre as demais, devido à imparcialidade e objetividade da
prova técnico-científica, enquanto que as provas subjetivas dependem do
testemunho ou interpretação de pessoas, podendo inclusive ocorrer o emprego de
má fé, onde exista a intenção de distorcer os fatos.
Com isso, verificamos a importância da prova pericial na investigação e no
processo criminal, tornando-se fonte imperiosa para a polícia e a justiça, servindo
como norteador das ações e, muitas vezes, tornando-se a peça principal para
condenar ou inocentar um réu, sendo conhecida nos jargões jurídicos como a
“rainha das provas”.
E o primeiro, e mais importante, procedimento pericial para esclarecer um
delito é o levantamento do local onde ocorreram os fatos.
As perícias realizadas em local de crime com cadáver serão abordadas no
segundo capítulo.

1.4 O PERITO CRIMINAL

O novo dicionário Aurélio define a expressão perito como sendo a “qualidade


de experiente, hábil, especialista”, e essa definição traduz fielmente a função do
perito criminal, que é profissional que realiza os exames periciais, e para isso
precisa ter um grande conhecimento de determinada ciência.
Sobre a conceituação de perito, assim se expressa Capez (apud CAMPOS,
2007)25: “é um auxiliar da justiça, devidamente compromissado, estranho às partes,
portador de um conhecimento técnico altamente especializado e sem impedimentos
ou incompatibilidades para atuar no processo.”
25
CAMPOS, op. cit., p. 23.
41

Kehdy (apud CAMPOS, 2007)26 define perito criminal como sendo “o


profissional de Polícia Técnica que possui incumbência de proceder ao exame das
peças materiais (vestígios) encontradas nos locais de crime”.
O CPP, em seu art. 159, estabelece que as perícias criminais devem ser
realizadas por dois peritos oficiais, porém, no parágrafo 1º do mesmo artigo, abre-se
exceção para os casos em que os peritos oficiais não puderem realizar a perícia,
quando então poderão ser nomeadas duas pessoas idôneas, portadoras de diploma
de curso superior, para exercerem a função de peritos ad hoc27.
Com isso, pode-se afirmar que o perito pode ser oficial, quando se tratar de
agente do Estado, ou perito não-oficial, quando se tratar de particular nomeado para
tal função (ad hoc).
Esse recurso de nomeação de peritos não-oficiais pode ser muito bem
aplicado à realidade de Mato Grosso, em alguns municípios do interior do Estado
onde não existem órgãos de perícia oficial, e as Coordenadorias Regionais ficam
muito distante, impossibilitando o deslocamento dessas equipes.
Porém, ressaltamos que a Lei nº 11.690, de 09 de junho de 2008, que
entrará em vigor em 09 de agosto de 2008, está trazendo várias alterações ao CPP,
sendo uma delas sobre o artigo 159 do CPP, admitindo que a perícia seja feita por
apenas um perito oficial, e não por dois como se exige atualmente.
Sobre isso o magistrado Reis28 comenta: “Quis o legislador, certamente,
simplificar e com isso tornar mais ágeis as perícias. É presumivelmente mais simples
e mais rápida a perícia feita por apenas um perito oficial”.
Já nos locais onde não existam peritos oficiais, continua sendo necessário a
nomeação de duas pessoas para realizar a função de peritos ad hoc.
Em relação aos peritos na seara processual penal militar, deverão ser em
número de dois (CPPM, art. 318), porém, em caso de não ser possível a realização
por Peritos Criminais, os peritos a serem nomeados (ad hoc) preferencialmente
devem ser oficiais da ativa da corporação, e que detenham habilidade e idoneidade
para seu desempenho (CPPM, art. 48).
A lei que altera de “dois” para “um” o número de peritos oficiais para a
realização de perícias não está abrangendo o processo penal militar, pois apenas
26
Idem, ibidem.
27
Ad hoc: termo em latim que significa “em lugar de...”, usado quando alguém é nomeado para
exercer uma função em lugar de outra pessoa, somente para aquele ato.
28
REIS, Nazareno César Moreira. Primeiras Impressões sobre a Lei nº 11.690/2008.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11414> Acesso em: 26 Jun 2008.
42

altera artigos do Código de Processo Penal (comum), portanto continuará sendo


necessário dois peritos oficiais dentro da processualística castrense.
A expressão perito oficial abrange tanto os peritos médicos legista, que
realizam as perícias diretamente no corpo humano, quanto os peritos criminais, que
realizam as demais perícias.
O enxergar para o perito deve ser muito bem exercitado, porque a sua
abrangência significa – inclusive – deduzir. O perito ao constatar um vestígio no local
do crime, deverá, a partir da sua análise, deduzir pela existência de outros vestígios
ou a probabilidade das suas existências e, portanto, buscá-los incansavelmente.
A atualização do CPP realizada em 1994 trouxe ainda outra
responsabilidade ao perito criminal prevista no art. 169, parágrafo único, a de terem
que registrar em seus laudos a alteração do estado das coisas, o isolamento e
preservação, e discutir as conseqüências dessa alteração no trabalho pericial.
Porém o perito não agirá como um fiscal do trabalho de outros setores,
também não deixará de realizar a perícia por falta de preservação do local, mas, se
constatado que o local não foi devidamente preservado, trazendo prejuízo ao exame
pericial, apenas relatará em seu laudo, que chegará ao conhecimento da Autoridade
Judiciária, que tomará as providências que entender necessárias.
No quadro a seguir, constando o efetivo de peritos criminais e sua proporção
com os habitantes de cada Estado, servirá para visualizarmos a exagerada
deficiência de peritos criminais na maioria dos Estados.

Estado População Efetivo de Proporção


Peritos Criminais Perito / habitantes
Acre 557.526 24 1 / 23.230
Amapá 477.032 27 1 / 16.556
Amazonas 2.812.557 33 1 / 85.229
Pará 6.192.307 163 1 / 37.989
Rondônia 1.379.787 53 1 / 26.033
Roraima 324.397 22 1 / 14.745
Tocantins 1.157.098 43 1 / 26.909
Alagoas 2.822.621 39 1 / 72.374
Bahia 13.070.250 168 1 / 77.799
Ceará 7.430.661 13 1 / 571.589
Maranhão 5.651.475 51 1 / 110.813
Paraíba 3.443.825 53 1 / 64.977
Pernambuco 7.918.344 171 1 / 46.306
Piauí 2.843.278 10 1 / 284.327
Rio G. do Norte 2.776.782 30 1 / 92.559
Sergipe 1.784.475 18 1 / 99.137
43

Distrito Federal 2.051.146 201 1 / 10.204


Goiás 5.003.228 104 1 / 48.107
Mato Grosso 2.504.353 85 1 / 29.462
Espírito Santo 3.097.232 30 1 / 103.241
Minas Gerais 17.891.494 471 1 / 37.986
Rio de Janeiro 14.391.282 300 1 / 47.970
São Paulo 37.032.403 1.100 1 / 33.665
Paraná 9.563.458 149 1 / 64.184
Santa Catarina 5.356.360 70 1 / 76.519
Rio G. do Sul 10.187.798 77 1 / 132.309
SOMATÓRIA 169.799.170 3.552 1 / 47.803
Quadro 1: Efetivo de peritos e sua proporção com os habitantes dos Estados.
Fonte: IBGE e Associação Brasileira de Criminalística.

E essa deficiência explica a dificuldade e às vezes a impossibilidade da


presença e prestação de serviços por parte dos Peritos Criminais em muitos
municípios do interior do Estado, pois eles se concentram na capital e municípios
pólos.
Em Mato Grosso a proporção de perito/habitante é de 1/29.462, porém a
proporção recomendada, segundo a Associação Brasileira de Criminalística29, é de 1
perito criminal para cada 5.000 habitantes, assim, seguindo essa recomendação,
Mato Grosso precisaria de um efetivo de 418 de Peritos Criminais, ao invés de 85
Peritos Criminais existente atualmente, o que representa 17 % do efetivo necessário.
Apesar de o CPP em vigor não determinar qual deve ser a formação de um
perito criminal, já se entendia que, da mesma forma que se exige para o perito ad
hoc a formação superior (CPP, art. 159, §1º), por analogia o perito oficial também
deveria ter formação superior, além do curso de formação específico de perito
oficial.
No entanto, a Lei nº 11.690, que altera o art. 159 do CPP, e entrará em vigor
em agosto de 2008, determina que o perito oficial seja portador de diploma de curso
superior, sanando a dúvida quanto ao nível de escolaridade exigida aos peritos
oficiais.
Portanto, o perito oficial criminal deve atender a dois requisitos: ser portador
de diploma de curso superior e possuir o curso de formação técnico-profissional.

29
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIMINALÍSTICA. Dados Sobre o Efetivo de Peritos no Brasil.
Disponível em: <http://www.abcperitosoficiais.org.br> Acesso em: 28 de maio de 2008.
44

E dentro dessa perspectiva, atualmente todos os concursos para o cargo de


perito oficial no Brasil exigem a formação superior dentro das áreas científicas de
utilização na criminalística.

2. LOCAL DE CRIME

2.1 CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES

“Local de crime” pode ser definido como sendo uma área física onde tenha
ocorrido um fato, em tese delituoso, e que, portanto, exigem providências de polícia
(KENDY apud GARCIA, 2002)30.
A Portaria nº 15/2005/Gan/SEJUSP, define que local de crime “é todo sítio
onde tenha ocorrido um evento que necessite de providências de polícia”31.
Existem locais que ocorreram fatos em que se tem a dúvida inicial se aquele
fato trata-se de uma infração penal, mas pelas configurações iniciais, ainda não
esclarecidos, existe a possibilidade de ser um delito, nessa situação esses locais
são considerados locais de crime, e merecedores dos cuidados de isolamento e
preservação, para que seja feita as devidas apurações e, somente então, concluir se
tratava de crime ou não.
Portanto, toda área onde tenha ocorrido um fato cujo esclarecimento
interessa à Justiça Penal considera-se local de crime.
Eraldo Rabelo, um dos maiores especialistas peritos do Brasil, assevera, em
forma de parábola, a fragilidade de um local de crime:

30
GARCIA, op.cit., p. 322.
31
MATO GROSSO. Portaria nº 15/2005/Gan/SEJUSP de 23/02/05. Institui o Regulamento de
Padronização de Procedimentos em Local de Crime.
45

Local de crime constitui um livro extremamente frágil e delicado,


cujas páginas por terem a consistência de poeira, desfazem-se, não raro, ao
simples toque de mãos imprudentes, inábeis ou negligentes, perdendo-se
desse modo para sempre, os dados preciosos que ocultavam à espera da
argúcia dos peritos 32.

Posto isso, definimos local de crime como toda área física onde tenha
ocorrido um fato criminoso, com certeza ou ainda duvidoso, e que possa existir
indícios, que serão submetidos a um levantamento por parte de Peritos Criminais.
Para prosseguirmos, precisamos diferenciar o conceito de isolamento, que é
a limitação física de uma área usando meios como fita, cone, corda, etc., e o
conceito de preservação, que é a ação para que não se altere o estado dos
vestígios, como a postura vigilante do policial para impedir a entrada de pessoas, o
ato de cobrir com lona os vestígios caso chova, etc.
Os doutrinadores da criminalística fizeram uma classificação dos locais de
crime para facilitar a interpretação dos dados obtidos pela perícia, os quais podem
ser classificados por quatro referências:

a) quanto a natureza do crime:


- contra a pessoa, (na qual se enquadra os locais com cadáver);
- contra o patrimônio;
- contra a economia popular;
- de trânsito, etc.;

b) quanto a área onde foi praticada:


- local interno: ambiente fechado, com limites fixos, ex.: casa, escritório;
- local externo: ambiente aberto, sem limites fixos, ex.: via pública, praça;

c) quanto a sua relação com o fato:


- local imediato: onde ocorreu o fato e se encontra a maioria dos
vestígios, ou todos;
- local mediato: adjacências do local onde ocorreu o fato, e possa conter
outros vestígios relacionados;
- local relacionado: locais diversos que se relacionam entre si por se
acharem vinculados ao mesmo crime;

32
Apud NOGUEIRA, op. cit., p. 22.
46

d) quanto a sua conservação:


- local idôneo: que não sofreu alteração;
- local inidôneo: que foi modificado após o delito.

No Iº Seminário Institucional sobre Local de Crime, realizado no Ceará, em


outubro de 2007, levantou-se a informação de que mais de 50% dos locais de crime
são alterados antes da chegada dos Peritos Criminais33, portanto este é um dos
grandes problemas relacionados à local de crime, o descaso com seu isolamento e
preservação.
2.2 GÊNESE DA PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME

A preocupação com a preservação dos vestígios em um local de crime


surgiu junto com a perícia, pois o início de qualquer procedimento pericial para
esclarecimento de um delito será o local onde ocorreu esse fato.
Sendo que o principal requisito para que o perito realize, de maneira
satisfatória, o seu papel em um local de crime, é que esse local esteja
adequadamente preservado, a fim de não se alterar qualquer vestígio produzido
pelos envolvidos no fato, pois alguns vestígios podem permanecer conservados por
muito tempo, mas outros, ao contrário, têm a sua duração mínima, se rapidamente
não for avaliado pela perícia criminal.
Portanto, a finalidade de se preservar um local de crime é de não se perder
qualquer vestígio produzido pelos envolvidos no fato, garantindo as atividades de
levantamento de local de crime pelos peritos criminais.
Porém, esse é um dos grandes problemas, pois, segundo Espindula (2006),
os órgãos policiais não possuem a cultura de isolar e preservar corretamente um
local de crime, relegando a segundo plano tal procedimento.
No Plano Nacional de Segurança Pública, na parte que trata do Diagnóstico
Geral das Atividades de Perícia no Brasil, cita que uma das principais dificuldades
da realização de perícia técnica na maioria dos estados brasileiros, é o desrespeito
aos procedimentos de preservação de local de crime34.

33
MAIS de 50% das cenas de crimes são violadas. Jornal O Povo, Fortaleza, 18 Out 2007.
34
BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Plano Nacional de
Segurança Pública. s.d. Disponível em: <http://www.seguranca.mt.gov.br/docs/PNSP.pdf> Acesso
em: 23 de maio de 2008.
47

Existem alguns casos que foram amplamente divulgados na mídia nacional


sobre o prejuízo às investigações criminais devido a falta de isolamento e
preservação do local do crime, como o caso Paulo César Fárias, mais antigo no ano
de 1997, e casos mais recentes, como a morte da garota Isabela em São Paulo, no
ano de 2008.
Com o advento da lei nº 8.862, no ano de 1994, alterando o Código de
Processo Penal (CPP), a questão de isolamento e preservação de local de infração
penal recebeu o devido valor pelo legislador, determinando legalmente para que os
agentes do Estado providenciem a preservação de vestígios, no entanto, mesmo
com a previsão legal da preservação de local de crime, os agentes responsáveis
pela preservação ainda deixam a desejar.
Dispõe o art. 6º do CPP:

Logo que tiver conhecimento da prática de infração penal, a


autoridade policial deverá:
I – Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o
estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais.

O art. 169 do CPP determina que a autoridade policial providencie


imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos
peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografia, desenhos e outros
esquemas elucidativos.
Sobre a importância da preservação do local de crime, Tourinho Filho cita:

O exame do local do crime é de interesse inestimável à elucidação


das infrações e descoberta da autoria. Proibindo a alteração do estado e
conservação das coisas, até terminarem os exames e perícias, a Autoridade
Policial visa, com tal atitude, impedir a possibilidade de desaparecerem
certos elementos que possam esclarecer o fato e até mesmo determinar
quem tenha sido o seu autor (1997, v. 1, p. 232)35.

Porém, existem locais de crime que se tornam inviáveis sua preservação,


como é o caso de um local de crime por acidente de trânsito, que, dependendo da
situação, podem causar novos acidentes e vitimar novas pessoas.
Com isso, sendo verificada com o tempo a necessidade de abrir exceção a
esses tipos de locais, no ano de 1973 foi editada a lei nº 5.970, excluindo a
necessidade de preservação de local de acidente de trânsito para a realização de
35
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. v. 1.
p. 232.
48

perícia, desde que estejam em leito de via pública prejudicando o tráfego, e para
isso os policiais que autorizarem a remoção deverão, fazer um pequeno
levantamento da situação e lançar tudo em boletim de ocorrência, mas se não
estiver prejudicando o tráfego, o local deverá ser isolado e preservado.
No capítulo anterior citamos os inúmeros tipos de perícias dentro do
universo da criminalística, sendo que um deles tratava-se do exame (ou
levantamento) de local de crime, que, assim como as demais perícias, serve de
fundamentação tanto para a investigação (fase policial), quanto para o processo
criminal (fase judicial).

2.2.1 Investigação Criminal e o Envolvimento dos Órgãos de Segurança


Pública

No instante em que há a quebra da ordem pública através do cometimento


de um fato tipificado como infração penal, surge para o Estado o dever de punir,
porém essa punição não poder ser de forma arbitrária, pois o Estado também é
obrigado a cumprir as leis, portanto antecede essa punição a ação denominada de
persecução penal, seguindo o devido processo legal.
Uma das fases da persecução penal no Estado Brasileiro é a investigação
criminal, que é o conjunto de procedimentos, na fase policial, que buscam identificar
a autoria de um delito e sua materialidade, envolve a participação de várias
instituições, cada uma fazendo seu papel, muitas vezes visualizadas de forma
fragmentadas ou isoladas, pela falta de integração entre essas instituições, o que
acaba prejudicando a investigação.
O local de encontro de várias instituições de segurança pública, e às vezes
até órgãos não policiais, chamasse “local de crime”, pois ali há a necessidade de
prestação de serviços de vários órgãos, onde podemos citar, como exemplo, a
Polícia Militar como primeira instituição a chegar ao local e providenciando o
isolamento do local, a Polícia Civil como encarregada de realizar a apuração do
crime, iniciando a investigação e a parte cartorária, a perícia criminal realizando o
levantamento do local e coleta de vestígios, os bombeiros socorrendo as vítimas que
estejam vivas, agentes de trânsito no controle do tráfego de veículos, o Instituto
Médico Legal no recolhimento e perícia do cadáver, etc.
49

Como vimos, muitos segmentos da segurança pública tem atribuições e


responsabilidades na investigação criminal, e sem a integração desses segmentos,
o resultado será prejudicado.
Portanto, o local de crime interessa a todos os órgãos de Segurança
Pública, pois as tarefas de cada um se complementam, e que ao final visam um
objetivo em comum, que é esclarecer o crime.
Citamos o envolvimento de vários órgãos para podermos chegar ao papel da
Polícia Militar, cuja principal atribuição em local de crime é garantir a atuação de
outro segmento, os Peritos Oficiais Criminais, pois nos locais de crime existem
infinitas provas (vestígios) a serem observados, analisados, coletados, re-
analisados, cujos serviços são realizados por esses profissionais, que são
funcionários do Estado com conhecimento técnico-científico para esse mister.
Para que o trabalho pericial seja realizado de maneira eficiente e eficaz faz-
se necessário, em primeiro lugar, que haja o correto isolamento da área e a
preservação dos vestígios no local, e é aí que entra o serviço da Polícia Militar.

2.3 COMPETÊNCIA LEGAL DA PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME

Que existe a determinação legal para que se tomem as providências de


isolamento e preservação em local de crime até a chegada dos peritos, não resta
dúvida, porém existe uma imprecisão sobre a quem compete cumprir essa
determinação.
O art. 6º do CPP dita os passos a serem tomados pela Autoridade Policial
quando do recebimento da notícia da infração penal, com a apuração e condução do
Inquérito Policial (IP), entre outros, o de colher provas, ouvir as partes, proceder a
reconhecimentos e acareações, portanto, a “Autoridade Policial” menciona no
referido artigo trata-se do Delegado de Polícia Judiciária Civil, pessoa competente
para realizar a apuração da infração penal e conduzir o Inquérito Policial.
Sobre isso, o mestre Tourinho Filho (2002)36 diz que “as diligências
dispostas no art. 6º do CPP [qual inclui a preservação do local de crime] tratam-se
de um programa para um bom delegado” [grifo nosso].
Vejamos o artigo 6º do CPP, in verbis:

36
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 1.
50

Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a


autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o
estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
liberados pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do
fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do
disposto no Capítulo III do Título VII, deste Livro, devendo o respectivo
termo ser assinado por 2 (duas) testemunhas que Ihe tenham ouvido a
leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a
acareações;
VII – determinar se for caso, que se proceda a exame de corpo de
delito e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo
datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de
antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista
individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado
de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros
elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e
caráter.

Porém, com relação ao inciso I do art. 6º, qual determina o isolamento e


preservação do local de crime, a corrente majoritária defende que essa
determinação estende-se a todo agente de segurança pública que primeiro chegar
ao local, principalmente ao policial militar, vejamos por quê.
Alega-se, inicialmente, que compete à Polícia Militar a preservação da
Ordem Pública, e que a necessidade de elucidar um crime trata-se do bem maior da
Ordem Pública, portanto também, dentro desse contexto, também seria uma
atribuição da Polícia Militar.
Alega-se ainda que devido a real impossibilidade dos delegados
comparecerem aos locais de crime, e a Polícia Militar que quase sempre chega
primeiro a qualquer local de crime, devido seu efetivo maior, forma de trabalho
ostensivo, distribuição na área e acessibilidade à população, não seria viável
aguardar a possível chegada de uma equipe da Polícia Civil para iniciar o isolamento
e preservação, quando já se encontra no local uma equipe policial.
Campos (2007, p. 48)37 em sua obra monográfica, trás o raciocínio de
Cordioli referente a este assunto:

37
CAMPOS, op. cit., p. 48.
51

É atribuição de toda autoridade policial, de todo policial,


conhecer e preservar os vestígios e indícios de um local de crime sendo
necessário exigir deles todos, suficiente conhecimento criminalístico, para
se desempenharem a contento da função. Porque se isso não ocorrer, não
sendo devidamente preservados os vestígios e indícios, por incompetência
ou falta de conhecimento, nas primeiras providencias, pode-se prejudicar
completamente o trabalho pericial e, conseqüentemente, tornar nula a ação
da justiça. (CORDIOLI, 1996, P. 34) [grifo nosso].

Portanto, Cordioli entende que o termo “Autoridade Policial” a que se refere


inciso I do art. 6º do CPP refere-se a todo policial que primeiro chegar ao local.
Ainda sobre esse raciocínio:

Evidentemente, quando nos referimos à autoridade policial


(delegado de polícia) como responsável pelas providências de isolamento e
preservação, deve ser levado em consideração dois aspectos muito
relevantes: primeiro, que o código de processo penal inteligentemente não
entra na regulamentação dos detalhes operacionais e, segundo, que nosso
sistema de segurança pública vigente, quem normalmente inicia os
primeiros trabalhos no local de um crime é a Polícia Militar e, portanto, está
inserida nesse contexto de responsabilização que a Lei determina.
(SENASP, 2006).

Vimos que a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) também


prega que cabe a Polícia Militar, quando for ela a primeira instituição a chegar ao
local, providenciar o isolamento e preservação do local de crime.
Ainda sobre a responsabilidade da Polícia Militar no local de crime,
Espindula sabiamente afirma:

Apesar de estar afeto ao delegado essa responsabilidade [de


preservar o local de crime], na prática sabemos que, em sua grande
maioria, quem primeiro toma contato com os locais de crime é a Polícia
Militar, tendo em vista a sua própria presença ostensiva e preventiva em
vários pontos das cidades, cabendo-lhe, portanto, responsabilidades
parciais nessa importante tarefa (2006, p.71)38.

Alguns autores usam a expressão “todo policial”, outros usam o termo


Polícia Militar, alegando que é a primeira a chegar no local, com isso, concluímos
que a responsabilidade de preservar o local de crime, é, no primeiro momento, do
primeiro funcionário de segurança pública que chegar ao local, seja policial militar,
policial civil, policial federal, bombeiro, perito, agente de trânsito, etc., e assim que a
autoridade policial (delegado que presidirá as apurações) chegar ao local, deve
assumir a responsabilidade, que por sinal lhe compete e lhe é determinado em lei.

38
ESPINDULA, op. cit., p. 71.
52

Ressaltamos ainda a importância do primeiro policial que chegou ao local,


de permanecer até o final da perícia no local para que haja uma interação e troca de
informações entre as instituições envolvidas, em busca da verdadeira criminalística
dinâmica, com o objetivo final em comum, pois cada órgão envolvido executa
determinada tarefa, que na verdade são complementares entre, não existe tarefa
isolada, e todos visam um único objetivo final, que é o esclarecimento do crime.
Com relação aos crimes militares a situação não é diferente, pois a
determinação do Código de Processo Penal Militar (CPPM) é que a Autoridade
Policial Militar39, ao tomar conhecimento de uma infração penal militar, tome diversas
providências, que são semelhantes às previstas no CPP para o delegado, inclusive o
de isolar e preservar o local dos fatos e o estado das coisas até a chegada dos
peritos (art. 12 CPPM).
A legislação penal também reservou punição para condutas que alterem os
locais de crime, desde que devidamente isolado por autoridade competente.
O Art. 166 do Código Penal (CP) tipifica, in verbis: “ Alterar, sem licença da
autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei: Pena –
detenção,de 1 mês a 1 ano, ou multa”.
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em seu capítulo destinado aos crimes
de trânsito, também prevê punição para quem desfigure intencionalmente o local do
acidente com vítima, in verbis:

Art. 312. Inovar artificialmente, em caso de acidente


automobilístico com vítima, na pendência do respectivo procedimento
policial preparatório, inquérito policial ou processo penal, o estado de lugar,
de coisas ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial, o perito, ou
juiz: Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

2.3.1 Comentários sobre o Regulamento de Padronização em Mato Grosso

Especificamente no Estado de Mato Grosso, com a finalidade de padronizar


as ações, distribuir corretamente as tarefas dos diversos órgãos de Segurança
Pública e melhorar a eficiência nas atuações em local de crime, foi instituída pela
SEJUSP, através da Portaria nº 15/2005/GAB/SEJUSP, datada de 23/02/05, o
“Regulamento de Padronização de Procedimentos em Local de Crime”.

39
São autoridades policiais militares, para fins de aplicação da legislação processual penal militar, os
oficiais responsáveis por comando, direção ou chefia, ou aquele que o substitua ou esteja de dia, de
serviço ou de quarto, tanto das Forças Armadas, quanto das Forças Auxiliares (art 10, § 2º, CPPM).
53

O referido regulamento define atribuições e procedimentos a serem


adotados, sob pena de responsabilidade, pelos servidores das instituições de
segurança pública no Estado de Mato Grosso, no atendimento às ocorrências em
locais de crime (de todos os tipos de crime), de maneira que haja um gerenciamento
integrado quando da atuação conjunta das equipes responsáveis pelo trabalho no
local de crime.
O regulamento determina, de forma genérica e sem abranger os detalhes
operacionais, as atribuições de todos os órgãos subordinados à SEJUSP, sendo
eles CIOSP, Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros Militar e POLITEC,
sendo que serviu na verdade para dirimir algumas dúvidas e divergências entre os
órgãos quando em uma ação conjunta em local de crime.
Ao que coube à Polícia Militar, o Capítulo III da referida Portaria traça alguns
procedimentos:

a) Se houver vítima deverá verificar se ainda está com vida, caso positivo
providenciar socorro, caso negativo isolar e preservar a área imediata e,
se possível a mediata;

b) Se a comunicação não foi oriunda do CIOSP, no âmbito do município de


Cuiabá e áreas metropolitanas, deverá transmitir a informação ao referido
órgão;

c) Deverá preencher o boletim de ocorrência, repassando os dados ao


CIOSP e à Autoridade Policial;

d) Caso o local seja alterado, deve identificar o causador e registrar no


boletim de ocorrência;

e) Ficar guarnecendo o local enquanto perdurar a necessidade do


isolamento e preservação.

Praticamente a única novidade que a Portaria trouxe para a Polícia Militar, é


a atribuição de isolar e preservar o local de crime, dirimindo dúvidas sobre a
competência para realizá-lo, e a determinação de permanecer guarnecendo o local
54

enquanto houver necessidade de manter o isolamento, já aos demais órgãos apenas


repetiram suas competências já previstas no ordenamento jurídico.
Outra determinação contida nessa Portaria, de caráter administrativo, é que
todos os órgãos subordinados à SEJUSP providenciem para que cada viatura
disponha de materiais para proceder ao isolamento e preservação de local de crime,
especificando que deve ser dois rolos de fita zebrada e cones de sinalização, o que
entendemos que seria o suficiente para se realizar um bom isolamento de local de
crime.
Sobre este Regulamento, a Perita Criminal Claudine de Campos Baracat,
assevera sobre sua importância:

A “Padronização de Procedimentos em Local de Crime”


representa um avanço para Mato Grosso, sendo válido frisar que, além
deste, apenas dois outros Estados da federação expediram normas acerca
de tais procedimentos, entretanto é preciso que os dirigentes das
instituições que compõem a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança
Pública procedam à ampla divulgação do regulamento em tela,
notadamente no nível operacional, por se trata de uma norma de grande
relevância para a persecução penal e para a sociedade em geral, resultado
do excelente trabalho de um grupo de profissionais dedicados às questões
da segurança pública.40

2.4 CONCEITOS ESSENCIAIS EM LOCAL DE CRIME: LEVANTAMENTO,


VESTÍGIO, EVIDÊNCIA, INDÍCIO E CORPO DE DELITO

O Perito Oficial Criminal, requisitado a realizar o levantamento de um local


de crime, “conversa” com o local e tem como “tradutor” os vestígios que não só
fotografa, mas coleta e encaminha-os para o pertinente laboratório, da seção interna
especializada, para serem também verificados os micro-vestígios.
Desta forma, estes vestígios e micro-vestígios constituem o objeto
perseguido pelo Perito Criminal, onde citamos como exemplo os seguintes: fios de
cabelos, manchas de sangue, esperma, saliva, tecidos biológicos, impressões
digitais, vestes, cartuchos, projéteis, cacos, entre outros, coletados pessoalmente
em local de crime, bem como aqueles vestígios encaminhados pelas autoridades
fazendo relação com a ação delituosa41.
Destarte, temos que trazer os conceitos essenciais de termos que devem ser

40
BARACAT, Claudine de Campos. Perita Oficial Criminal da POLITEC em Mato Grosso.
41
MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública. Perícia Oficial e
Identificação Técnica. Plano Estadual de Perícia Oficial e Identificação Técnica. Cuiabá: 2005.
55

de conhecimento comum aos membros de todas as instituições da Segurança


Pública envolvida no evento para dinamizar as ações em um local de crime.
No Procedimento Operacional Padrão (POP) da Polícia Militar de São Paulo
referente ao isolamento e preservação de local de crime42, levantamento de local de
crime está definido como sendo “o estudo detalhado do local onde foi praticado o
delito, por meio de observação pessoal, croquis, fotografias, realizado por equipe
pericial especializada”.
O levantamento de local de crime (também chamado de exame, constatação
ou perícia de local de crime) é definido no trabalho monográfico de Sêmpio como
sendo,

o conjunto de exames que se realizam diretamente no local da constatação


do fato, visando a caracterização deste e a verificação, a interpretação, a
perpetuação e a legalidade, bem como a coleta dos vestígios existentes da
ocorrência, no que tiverem de útil para a elucidação e a prova dela e de sua
autoria material. (2003, p.12)43.

Assim, levantamento de local de crime é o conjunto de procedimentos


periciais para encontrar os vestígios no local do crime.
Vestígio pode ser definido como todo “material bruto que o perito constata
no local de crime”44.
Nas diretrizes dos Peritos Criminais Federais45, vestígio é conceituado como
sendo “as alterações resultantes da conduta humana, por ação ou omissão,
representadas por elementos materiais e que possam ter relação com a infração
penal”.
Portanto, vestígio é todo material encontrado em local de crime que, pelas
características e interpretações iniciais dos peritos, pode estar relacionado com o
fato, mas ainda não comprovado, e que somente após ser examinado
adequadamente é que poderá se afirmar se está ou não relacionado com o fato.

42
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Padrão nº 2.05.06. Preservação de Local de
Crime. São Paulo, 2002.
43
SÊMPIO, Helder Taborelli. A Polícia Militar na Preservação de Local de Crime. Cuiabá: UFMT,
2003. Monografia, FAECC, Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.
44
BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Local de Crime:
isolamento e preservação. Apostila de curso. Brasília, 2006.
45
BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento de Polícia Federal. Instrução Normativa nº 014-
DG/DPF, de 30 de junho de 2005. Estabelece normas e diretrizes para os Peritos Criminais
Federais.
56

Após o vestígio ser adequadamente examinado e os peritos concluírem que


realmente está relacionado ao evento, não restando dúvida, ele deixa de se um
vestígio e passa a denominar-se evidência.
Esse conceito converge com a definição do Novo Dicionário Aurélio,
“evidência: qualidade do que é evidente; certeza manifesta”.
Assim, evidência é o vestígio, que após as devidas análises, comprovou-se
ter relação com o crime.
O CPP não utiliza os termos vestígio ou evidência, mas sim indícios, deste
modo, indício é a expressão usada no meio jurídico que significa todas as
informações relacionadas ao crime, sejam elas periciais ou não, comprovadas ou
não.
A criminalística nacional utiliza ainda a classificação de vestígio em
verdadeiro, quando é produzido diretamente pelo autor da infração, vestígio ilusório,
quando não está relacionado com as ações dos atores da infração, e não tenha sido
colocado de maneira intencional, e o vestígio forjado é aquele que não está
relacionado com o fato e foi colocado na cena do crime de maneira intencional.
O vestígio ainda pode ser removível, quando não se encontram fixados em
suporte, ou irremovível, quando estão fixados em suporte, formando marcas e
manchas.
Corpo de delito, citado em muitos artigos do CPP, não é apenas o corpo da
vítima, mas sim todo os vestígios materiais (objetos e coisas) deixado pelo crime
(TOURINHO FILHO, 2008)46.
Capez (apud CAMPOS, 2007)47 afirma que existem dois tipos de corpo de
delito:

a) corpo de delito direto: quando há traços materiais, sendo o exame feito


diretamente sobre o próprio corpo de delito ( ex.: cadáver, janela
arrombada);

b) corpo de delito indireto: quando o fato não deixou vestígios, já


desapareceram ou foram destruídos, e neste caso advém de um
raciocínio dedutivo sobre um fato narrado por testemunhas.

46
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 10. ed. São Paulo: Saraiva,
2008. p. 88.
47
CAMPOS, op. cit.
57

Portanto, corpo de delito é a materialidade do crime, aquilo que pode ser


percebido por um dos sentidos e tenha relação com o fato delituoso.
Existe um princípio chamado de “Princípio da Troca de Locard”, também
chamado por alguns de “princípio da intercomunicabilidade”, desenvolvida em 1892,
em Lyon na França, pelo cientista francês Edmond Locard.
Locard afirmava que toda vez que houvesse um contato entre duas
superfícies, haveria uma troca mútua de substâncias, então todo o contato do
criminoso com o local, ele deixará marcas no local e levará alguma coisa no local,
havendo uma troca de evidências, e essa troca também ocorre com a vítima entre o
local e o criminoso (MARTIS, [s.d.])48.

2.5 DELIMITAÇÃO: LOCAL DE CRIME COM CADÁVER

Após falarmos sobre a origem, conceitos e classificações da criminalística e


dos locais de crime, chegamos ao foco de nosso trabalho que é o local de crime com
cadáver.
Em virtude de o policial não saber inicialmente o que realmente ocorreu em
um local que foi acionado, e deparando-se com um cadáver, em que muitas vezes
não aparenta ter ocorrido crime nenhum, adota a terminologia geral de “local de
encontro de cadáver” para todos os locais onde exista um cadáver, até maiores
esclarecimentos.
Sobre isso exemplifica Garcia (2002, p.322)49: “Sabe-se que suicídio não é
crime, mas o local onde tenha ocorrido será tratado como ‘local de crime’ até que
fique devidamente esclarecido não ser o caso de homicídio ou acidente”.
Alguns estudiosos da área utilizam a expressão “local de morte violenta”,
porém preferimos utilizar a expressão “local de encontro de cadáver”, pois existe a
situação de morte natural, o que, obviamente, não se trata de morte violenta, a
morte natural, em alguns casos, também será tratado como local de crime até os
esclarecimentos necessários.
Morte natural é aquela produzida por fatores biológicos decorrentes da
própria existência e cabe a medicina determinar a causa da morte, já a morte

48
MARTIS, Helena Fernandes. Perita Criminal do Instituto de Criminalística do Estado de Goiás.
49
GARCIA, op. cit., p. 322.
58

violenta é decorrente de fatores extra-normais, por intervenção, quer por ação ou


omissão de terceiros, ou da própria vítima, ou outros fatores alheios às vontades.50
Uma guarnição policial militar, quando do atendimento de uma ocorrência
policial, deverá ao final confeccionar o boletim de ocorrência, narrando tudo que
aconteceu e as providências tomadas pela referida guarnição, e nessa confecção
deverá constar a natureza da ocorrência.
Em se tratando de ocorrência com cadáver, os policiais, mediante
visualização do local e análise das características, deverá optar por uma natureza
que, no caso da PMMT, encontram-se relacionadas no Manual de Codificação de
Ocorrências51, sendo que essa natureza constante do boletim de ocorrência da
Polícia Militar serve apenas para estatística interna, pois a tipificação do fato que
constará no IP será determinada pela Autoridade Policial que preside as apurações
(Delegado de Polícia Civil).
O Manual de Codificação de Ocorrências da PMMT orienta que, para
ocorrências com cadáver, as naturezas a serem consignadas no boletim de
ocorrência sejam as seguintes:

a) homicídio: consiste em matar alguém, quando está visível sinais de


violência;

b) suicídio: quando alguém tira sua própria vida;

c) encontro de cadáver: quando é localizado um cadáver que não possui


qualquer sinal de violência ou característica de suicídio;

d) cadáver localizado: consiste na localização de pessoa desaparecida e


procurada, sendo encontrada morta;

e) acidente com vítima fatal: quando em acidente de trânsito, algum


envolvido vai a óbito;

2.5.1 Perícias Realizadas em Local de Crime com Cadáver

50
Conceitos extraídos de apontamentos da aula de criminalística no Curso de Formação de Oficiais
em 1997.
51
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO. Manual de Codificação de Ocorrências:
Instruções Gerais para Preenchimento do Boletim de Ocorrência. Cuiabá: 1996.
59

A perícia em local de crime com cadáver é uma das atividades da


criminalística que mais oferece riqueza de vestígios, capaz de proporcionar ao perito
criminal um trabalho de desafio ao raciocínio lógico e à metodologia científica que
devem ser aplicados em cada caso.
Também é o local que mais exige dos peritos, devido a repercussão que
normalmente cerda os fatos junto à sociedade.
Não iremos aprofundar nos procedimentos periciais, pois este não é o
objetivo deste estudo, somente citaremos os tipos de perícias e procedimentos
realizados em locais de crime com cadáver, para termos a noção de o que deve ser
preservado pelo primeiro “agente do Estado” a chegar a um local de crime com
cadáver.
No local onde houver cadáver é recomendável aos policiais e peritos que
chequem se realmente a vítima está morta, pois já houveram casos em que a vítima
ainda estava com vida e, devido à aparente morte, ninguém se preocupou em
certificar se realmente a vítima estava em óbito. É evidente que existem situações
que não será preciso fazer tal verificação, onde ao se observar de longe, já é
possível saber que a vítima não sobreviveria.
Em um local de crime com cadáver podem ser realizados os seguintes tipos
de procedimentos periciais:

a) fotografia: é a melhor forma de convencimento de como se encontrava o


local, O próprio CPP, em seu artigo 164, determina que “os cadáveres
serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados [...]”;

b) exame dos vestígios: manchas de sangue, vestígios de luta, armas de


fogo, projéteis e cápsulas, impressões digitais, pegadas, outros, sendo
que o exame em vestígios se divide em cinco fases:
- busca: é a procura pelos vestígios;
- constatação: ao localizar algum objeto ou marca analisar de pode ter
alguma a ver com o fato;
- registro: descrição do exato local onde se encontrava;
- identificação: descrição do tipo de vestígio;
- encaminhamento: ao laboratório para exame complementar.
60

c) exame do cadáver: interligando os vestígios do ambiente com os do


próprio cadáver, procura de ferimentos, sinais de violência, sinais de luta,
sinais de defesa, vestígios intrínsecos52;

d) vestígios extrínsecos: que foram depositados sobre o cadáver, como


pelos, areia, detritos, etc.;
e) exame das vestes: analisando estado e marcas que possam ter relação
com o fato delituoso.

Além do levantamento do local de crime, ainda são realizados outros


exames em locais diversos, como o exame do cadáver (necrópsia) no Instituto
Médico Legal e exames em laboratório dos vestígios recolhidos do local.
Somente de posse das informações das três fases (exame do local,
necrópsia e exame de laboratório) os Peritos Criminais farão a análise geral a fim de
formar suas convicções técnicas dos fatos e aí finalmente confeccionar o laudo
pericial (ESPINDULA, [s.d.])53.

52
Vestígios do próprio corpo, como vômito, saliva, fezes, vísceras, sangue, etc.
53
ESPINDULA, Alberi. Conclusão Pericial: Técnicas Criminalísticas para Conclusão de Laudo
Pericial. Disponível em: <http://www.espindula.com.br/default4.htm> Acesso em: 23 de maio de
2008.
61

3 PROCEDIMENTO POLICIAL EM LOCAL DE CRIME

Para chegarmos aos procedimentos do policial militar ao intervir em um local


de crime com cadáver, precisamos primeiro ponderar sobre as fases da atuação do
Estado em um local de crime, as quais citaremos a seguir.

3.1 FASES DA ATUAÇÃO DO ESTADO EM LOCAL DE CRIME

Para fins de estudo da problemática, e suas conseqüências, em um local de


crime, a atuação do Estado foi dividida em cinco fases distintas:

a) Antes da Chegada do Primeiro Policial

Na classe policial já não existe a cultura de preservar um local de crime,


muito menos na população, que por falta de conhecimento e por curiosidade natural,
acabam alterando o local e destruindo os vestígios, principalmente nas cenas com
cadáver, em que as pessoas querem visualizar a vítima o mais próximo possível.
E do momento da ocorrência do fato até a chegada do primeiro policial o
local do delito está desprotegido.
Sobre essa questão, Espindula (2006, p. 153) sugere criação, por parte do
governo, de programas de esclarecimento e conscientização da população sobre a
importância da preservação de local de crime.

b) Após a Chegada do Primeiro Policial

Como explicitamos no segundo capítulo, qualquer profissional de segurança


pública que chegar primeiro ao local de crime, independente de seu órgão, deve
62

tomar as providências iniciais, apesar de em Mato Grosso a SEJUSP ter


padronizado que cabe a Polícia Militar (PM) fazer o isolamento e preservação de
local de crime, mas a justificativa para essa padronização é que normalmente a PM
é a instituição que primeiro chega ao local, portanto, se membros de outras
instituições de segurança pública chegarem primeiro, devem iniciar as providências
de isolamento e preservação, por isso, quando nos referimos ao primeiro policial,
estamos nos referindo a todo profissional de segurança pública (na verdade equipe
de profissionais, pois ninguém trabalha só) que primeiro chegar ao local, pois sua
presença simboliza a presença do Estado, independente de ser do nível federal,
estadual ou municipal, qual podemos citar policiais militares (independente de posto
de graduação), policiais civis (delegados, agentes e escrivãs), policiais federais,
policiais rodoviários federais, bombeiros militares, peritos, guardas municipais,
agentes de trânsito, etc.,
A portaria nº 15/2005/GAB/SEJUSP, que instituiu o Regulamento de
Padronização de Procedimentos em Local de Crime na estrutura da SEJUSP,
determina para o policial militar, em suma, tome as seguintes providências em local
de crime: fazer o isolamento e preservação do local imediato e, se possível, mediato,
verificar se a vítima se encontra com vida, caso positivo socorrê-la, confeccionar o
boletim de ocorrência, passar dados ao CIOSP e tomar providências para que o
local não seja modificado, inclusive pelo próprio policial.
Essas são as providências, conforme estabelece o Regulamento de
Padronização supracitado, a serem tomadas pelo policial militar de Mato Grosso,
quando do atendimento a um local de crime que deixem vestígios, independente de
sua natureza, porém as consideramos muito genéricas e superficiais, sendo que os
procedimentos são muito mais complexos, principalmente quando se trata de local
de crime com cadáver, por isso vemos a necessidade de melhor detalhá-los, o que
será feito mais a frente.

c) Após a Chegada da Autoridade Policial

A Autoridade Policial tem o dever legal de comparecer a um local de crime a


fim de tomar as providências que determina o art. 6º do CPP, mas, devido a grande
carga de tarefas dessas autoridades e estrutura deficiente das policias judiciárias,
normalmente a Autoridade Policial (delegado) só vai até o local de crime quando se
63

trata de um local de encontro de cadáver, quando, por vezes, não determina apenas
que sua equipe de agentes policiais desloque até o local, como acontece em muitos
municípios do interior do Estado.
Mas cabe a Polícia Judiciária Civil a apuração dos crimes, portanto se não
forem até o local, o primeiro policial deve fazer a ocorrência chegar até eles.
Ao chegar no local, a Autoridade Policial deve procurar o primeiro policial
para receber as informações sobre os fatos.
No local de encontro de cadáver, a Autoridade Policial pode, se julgar
necessário, entrar no local para confirmar se a vítima está em óbito, devendo fazer
pelo mesmo trajeto do primeiro policial.
Também pode checar o isolamento, podendo, se achar necessário, reforçar
ou ampliar a área isolada, pois a partir daquele momento a Autoridade Policial passa
a assumir as responsabilidades naquele local.
A equipe policial civil normalmente já inicia as investigações no próprio local,
entrevistando pessoas a cerca dos fatos, arrolando testemunhas, apreendendo
objetos e destacando algum policial descaracterizado para se infiltrar no meio das
pessoas para coletar informações, e outras providências que a autoridade policial
julgar necessárias.

d) Após a Chegada dos Peritos Criminais

Nos municípios onde existem órgãos periciais, e cidades vizinhas, os peritos


criminais são requisitados e comparecem no local, já nas localidades que não
existem peritos, as próprias autoridades policiais acabam procedendo a inspeção no
local, lavrando-se um Auto de Verificação de Local de Crime (Garcia, 2002, p. 168)54.
Mas chegando no local os peritos devem conversar com o primeiro policial e
com a Autoridade Policial para verificar as informações e tudo que já foi levantando.
Feito isso, inicia o exame pericial, fazendo uso das técnicas criminalísticas e
metodologia necessária, em seguida recolhendo os vestígios que forem necessários
para fazer o exame complementar de laboratório, para finalmente liberar o local de
crime.

e) Após a Liberação do Local Pelos Peritos Criminais

54
GARCIA, op. cit., p. 168.
64

Depois de liberado o local para a Autoridade Policial, este poderá apreender


outros objetos que não foram recolhidos pelos peritos, bem como autorizar a equipe
de Medicina Legal a recolher o cadáver para exames da área específica.
Ao final de todo o trabalho deverão reunir-se o primeiro policial, a Autoridade
Policial e os Peritos Criminais, para discutirem as informações que possuem, pois
durante o levantamento do local pode ter surgido outras informações, bem como o
ponto de vista e sugestões do representante de cada órgão, para que a Autoridade
Policial possa dar prosseguimento às apurações.
Não será o delegado sozinho que esclarecerá o crime, mas sim a somatória
de esforços de todos os envolvidos na ação, pois apesar de cada órgão ter sua
atribuição definida, elas são complementares entre si.

3.2 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DO POLICIAL MILITAR EM LOCAL DE


CRIME COM CADÁVER

Como citamos anteriormente, as providências previstas para o policial militar


de Mato Grosso tomar, quando do atendimento a um local de crime que deixem
vestígios, foram estabelecidas pelo “Regulamento de Padronização de
Procedimentos em Local de Crime”.
Porém, as consideramos muito genéricas, pois o referido Regulamento
estabelece padrão para todos os órgãos da SEJUSP de forma superficial, não
aprofundando nos detalhes operacionais, principalmente quando se trata de
intervenção em local de crime com cadáver, que versa de um local muito complexo,
e necessita de todo um ritual de cuidados a serem tomados.
Posto isso, vislumbramos a necessidade de detalhar melhor as atividades
operacionais do primeiro policial, para o atendimento em local de crime com
cadáver, e a seguir citaremos os procedimentos, passo-a-passo, de forma mais
detalhada, salientando que os passos aqui explanados são norteadores, porém cada
ocorrência atendida tem suas próprias peculiaridades, portanto não devem ser
seguidas cegamente.
Mediante pesquisa bibliográfica junto às obras de doutrinadores na área de
criminalística e de policiamento ostensivo, bem como através de visualizações in
locu de situações desta natureza, chegamos aos seguintes procedimentos, os quais,
para fins de estudo, estão divididos em 14 passos:
65

a) Recebimento da Notícia da Ocorrência pela Guarnição Policial

Uma guarnição policial militar, normalmente, recebe a notícia da ocorrência


de duas formas: da Central de Operações ou diretamente do solicitante. Quando
receber da Central de Operações, usualmente via rádio, deverá anotar todos os
dados disponíveis e deslocar-se para o local do delito.
Recebendo diretamente do solicitante, deverá anotar os dados da ocorrência
e do solicitante e deslocar-se para o local, devendo ainda, no início do
deslocamento, repassar a notícia da ocorrência à Central de Operações. Em ambos
os casos, o deslocamento deve ser feito pelo melhor itinerário e em velocidade
segura, cabendo ao comandante da guarnição decidir sobre a conveniência do uso
de sirene e dispositivo luminoso intermitente.

b) Chegada no local: preocupação com a segurança da equipe

Normalmente quando o primeiro policial chega ao local, ele se depara com


uma aglomeração na cena do crime, confusão e não possui detalhes do ocorrido,
por isso, apesar de algumas diretrizes, como, por exemplo, o Manual Básico de
Policiamento Ostensivo55, pregarem que a primeira preocupação do policial em local
de crime deve ser socorrer a vítima, chegou-se ao consenso que o primeiro
procedimento do primeiro policial é com relação a sua própria segurança, pois ainda
poderá estar no local o autor do crime, e se a equipe policial não estiver segura, não
terá como fazer mais nada.
Por isso, antes mesmo de descer da viatura, ao aproximar do local, já deve
estar atento observando as pessoas e veículos, parar a viatura em local estratégico
e a uma distância razoável do foco da ocorrência, deve abordar o local com toda a
cautela, com atenção 360º, empregando técnicas policiais de progressão no terreno
com segurança e observando o comportamento e reação de todos, já verificando a
necessidade de solicitar reforço policial.

c) Restabelecimento da Ordem

55
BRASIL. Ministério do Exército. Inspetoria-Geral das Polícias Militares. Manual Básico de
Policiamento Ostensivo. [S.l.], [S.ed], [S.d.].
66

Pode ser que quando da chegada do primeiro policial, esteja acontecendo


alguma situação que precisam de intervenção e restabelecimento imediato, como,
por exemplo, o autor ainda estar cometendo o crime (flagrante), tumulto
generalizado, tentativa de linchamento, etc., e sem restabelecer a normalidade
também são será possível passar para o passo seguinte.

d) Entrada no Local para Verificação e Socorro da Vítima

Estando seguro para prosseguir nas ações, se visualizar alguma vítima,


deverá chegar até ela para verificar seu estado, se ainda está viva, gravidade de
ferimentos, etc., mesmo aparentando, à distância, estar em óbito, é necessário
checar pessoalmente o estado da vítima (ESPINDULA, 2006, p. 165).
De preferência apenas um policial desloca-se até a vítima, enquanto os
outros policiais devem ficar fazendo a segurança, o deslocamento deve ser em linha
reta, tendo o cuidado de não pisar em possíveis vestígios nesse trajeto.
Chegando à vítima, se constatar que está viva, deverá providenciar o
socorro imediato, pois dependendo da gravidade deverá acionar equipes de socorro
especializadas, como o Resgate do Corpo de Bombeiros ou o SAMU56.
Mas constatando o estado de óbito da vítima, através da ausência dos sinais
vitais57 e outras características como dilatação da pupila do olho, rigidez cadavérica,
etc., não deve mais tocar na vítima, nem em seus pertences ou em qualquer outro
objeto (arma, valores etc.), pois tudo no local pode ser um vestígio.
O policial, ainda próximo à vítima, observa a área imediata e os vestígios
visíveis para já traçar mentalmente a área a ser isolada.
Portanto, como regra: estando a vítima viva deve-se preocupar em socorrê-
la, mas estando a vítima morta deve-se preocupar em preservar os vestígios.
O primeiro policial não pode mexer no cadáver na tentativa de identificá-lo, a
identificação da vítima deve ser feita após a chegada dos peritos.
Campos (2007, p. 84)58 ainda orienta que em locais externos, caso o corpo
da vítima esteja causando grande constrangimento aos familiares e cidadãos em

56
Sigla do Serviço de Assistência Móvel de Urgência, equivalente ao serviço de resgate, porém com
médico e enfermeiro na equipe.
57
Sinais vitais são: pulso, respiração, temperatura e pressão arterial.
Disponível no site: <http://www.soenfermagem.xpg.com.br/sinais.html> Acesso em: 31 mai 2008.
58
CAMPOS, op. cit., p. 84.
67

geral, deve-se cobrir o corpo com lona plástica, tomando o cuidado para não
modificar a posição do corpo e de outros vestígios.

e) Saída do Local Imediato

A saída do local imediato (onde se encontra o cadáver e a maior


concentração de vestígios) Deve ser feita pelo mesmo trajeto que chegou até a
vítima, também observando os vestígios pelo caminho, fins de informar à Autoridade
Policial e aos Peritos Criminais, isso também é importante para saber qual o limite
da área a ser isolada.

f) Diligências Iniciais

O primeiro policial deve entrevistar pessoas que estejam próximas e que


possam passar alguma informação sobre o ocorrido, pois, por vezes o autor do
crime ainda está no local ou nas imediações, com o objetivo de localizá-lo e prendê-
lo.
Havendo mais de uma equipe disponível, uma deve iniciar os procedimentos
de isolamento do local e preservação do local, e a outra deve diligenciar para
localizar o criminoso.
Caso haja apenas uma equipe e, pelas informações iniciais o criminoso não
se encontra no local e não será possível localizá-lo de imediato, deve optar por
permanecer no local e iniciar os procedimentos de isolamento e preservação.
Tanto na conversa inicial com os populares, como em qualquer momento do
isolamento, devem ser arroladas testemunhas que presenciaram ou tomaram
conhecimento dos detalhes do fato.

g) Isolamento e Preservação do Local

Retirar os curiosos que por ventura se encontrem no local, desviar o trânsito


se for o caso de via pública59, e posicionar-se em um ponto distante para visualizar
toda a área e os vestígios a fim de decidir os limites do isolamento, para isso deve
59
O local em via pública só poderá ser alterado antes da chegada dos peritos quando se tratar de
acidente de trânsito em que as pessoas e veículos envolvidos estejam no leito da via pública
prejudicando o tráfego, conforme Lei nº 5.970 de 11 de maio de 1973.
68

usar todos os recursos disponíveis, fornecidos pelo órgão de origem ou improvisado


no local (fita zebrada, cone, cavalete, corda, etc.) para delimitar fisicamente a área
isolada, podendo a qualquer momento ser ampliado caso seja visualizado novos
vestígios.
A área a ser isolada não tem tamanho ou formato pré-estabelecido, mas por
falta de conhecimento de alguns policiais, acabam isolando apenas o cadáver,
quando na verdade devem isolar além do limite que se encontra o último vestígio.
Sendo um local interno (ambiente fechado), limita-se o acesso de pessoas a
toda a edificação e, se necessário e possível, à área adjacente, mantendo as portas
e janelas da forma como foi encontrada.
Após isolado o local, ninguém, nem mesmo os primeiros policiais, superiores
desses policiais, jornalistas ou parentes da vítima, poderão entrar no local, até a
chegada da Autoridade Policial, devendo para isso os policiais manterem uma
postura vigilante e atenta no isolamento do local.
Em caso de chuva pode o policial cobrir os vestígios com lona plástica para
preservá-los o mais próximo da situação que foi deixado pelos perpetradores.

h) Comunicação à Central de Operações

Deverá informar à Central de Operações, no caso da Capital e de Várzea


Grande é o CIOSP, no caso do interior do Estado é a Central da própria UPM, via
rádio ou telefone, dando ciência sobre a ocorrência do delito e as providências
tomadas, e solicitando o acionamento da equipe da Polícia Civil e dos Peritos
Criminais (art. 5º do Regulamento), ficando então no aguardo das demais equipes.
De acordo com as normas de cada unidade policial, deve-se também
informar o superior, comandante ou chefe do setor para conhecimento da
ocorrência.

i) Chegada da Autoridade Policial (ou equipe de Polícia Civil)

Quando da chegada da Autoridade Policial, ou sua equipe de agentes (pois


como já expomos anteriormente nem sempre é o delegado que comparece ao local),
o primeiro policial deve procurá-los para repassar as informações que detêm sobre
69

os fatos, sobre os vestígios visualizados e sobre as providências que já foram


tomadas até aquele momento.
A Autoridade Policial passa a assumir responsabilidades no local, portanto
ele pode entrar na área para confirmar a morte da vítima, bem como reforçar ou
ampliar a área isolada, lembrando que o Regulamento da SEJUSP estabelece a
atribuição à Polícia Militar de isolar e preservar o local, portanto deve permanecer
guarnecendo local.
Qualquer informação obtida no decorrer da intervenção, caso avalie
necessário o conhecimento imediato da Autoridade Policial, deve ser repassado.

j) Chegada dos Peritos Criminais

Quando da chegada dos peritos criminais o primeiro policial deve procurá-


los para repassar informações, o estado que se encontrava o local quando de sua
chegada, as providências tomadas, bem como informar qual o trajeto feito para
chegar até a vítima e os vestígios visualizados no percurso.
Deve ainda permanecer guarnecendo o local mantendo o isolamento e
segurança dos outros profissionais envolvidos.
Esta fase deve ser ignorada nos municípios onde não possua órgão de
criminalística, ocasião em que a própria Autoridade Policial e seus agentes farão a
constatação em local de crime.

l) Reunião de encerramento

O primeiro policial deve permanecer até o momento da liberação do local


pelos Peritos Criminais, quando então não haverá mais necessidade de manutenção
do isolamento do local, podendo desfazer o isolamento e recolher o material
utilizado (art. 8º do Regulamento).
Na ocasião do encerramento, sugere-se a realização de uma reunião com
os representantes de cada órgão participante, onde o primeiro policial deve
participar, quando devem ser retransmitidas possíveis informações que tenham
sidas coletadas no andamento da ocorrência, bem como expor os pontos de vista de
cada órgão, para então realmente encerrar as ações no local.
70

m) Confecção do Boletim de Ocorrência e Encerramento

De tudo que aconteceu o primeiro policial deve confeccionar um boletim de


ocorrência constando os dados obtidos, narrando o histórico dos fatos e as
providências tomadas, e constando a natureza conforme se resolveu na reunião de
encerramento, enquadrando no Manual de Codificação de Ocorrências da PMMT,
registrando-o na delegacia competente.
Por final, deverá dar ciência à Central de Operações e/ou superior de
serviço sobre o término da ocorrência policial.

n) Tratamento da Imprensa

Assim como as demais pessoas, jornalistas e outros profissionais da


imprensa não podem acessar o local de crime até a liberação pelos Peritos
Criminais, com isso, os policiais que estão fazendo o isolamento do local devem, de
forma educada, esclarecer sobre o isolamento, sua importância e a necessidade de
preservar rigorosamente os vestígios.
Deve ainda solicitar a divulgação sobre essa necessidade e importância da
preservação do local de crime para conhecimento da população em geral.
Quando de entrevistas sobre o delito em questão, deve comentar de forma
superficial sobre os fatos, evitando emitir opiniões pessoais, e não repassar detalhes
sobre o fato, pois são sigilosos e sua divulgação pode prejudicar a investigação
criminal.

o) “Kit Local de Crime”

Para a atuação em local de crime, principalmente nos locais de crime com


cadáver, se faz necessário alguns equipamentos, os quais devem ser
providenciados pelos respectivos órgãos de segurança pública, conforme determina
o Regulamento de Padronização de Procedimentos em Local de Crime, com isso,
criando um verdadeiro “kit local de crime”, que deve ficar disponível nas viaturas dos
71

órgãos de segurança pública, sob a responsabilidade de cada comandante / chefe


de viatura.
Esse kit pode conter os seguintes materiais: fitas zebradas, de preferência
mais de um rolo, cones de sinalização, luvas descartáveis, lona plástica para
proteção de vestígios, corda, sacos plásticos, coletes reflexivos, lanterna, prancheta,
papel, caneta, entre outros.

3.3 QUALIDADE DO PROCEDIMENTO POLICIAL

A necessidade de se avaliar a qualidade no Serviço Público ocorre


principalmente pela necessidade de melhorar o produto do referido Órgão Público.
Conforme Theda Skopol (1951)60, a avaliação consiste em “voltar a colocar o
Estado em seu lugar”, ou seja, os resultados de uma avaliação de qualidade serve
para ver se o Estado, o órgão no caso, está fazendo aquilo que ela deveria estar
fazendo, pois fora disso de nada adianta um processo avaliativo.
Portanto, os resultados das avaliações devem ser vistas como subsídios
para futuros planejamentos de cada órgão com vistas à melhoria da produção do
produto.
Segundo Bergamini e Beraldo (1988)61, a avaliação de desempenho, que era
subjetiva, pois avaliava o comportamento, passou a ser objetiva porque avalia
cumprimento de metas.
Conforme Lucena (1992)62, o processo de avaliação abrange cinco fases:

a) negociação do desempenho: estabelecimento de metas;

b) análise da capacidade profissional: pois para poder exigir de alguém


esse alguém deve estar capacitado;

c) acompanhamento do desempenho: reuniões periódicas para avaliar o


andamento dos trabalhos e resultados parciais;

d) avaliação de desempenho: parecer final com base nas metas


estabelecidas inicialmente;

60
Retirado da Apostila da disciplina de Gestão para Qualidade no Serviço, do CEGeSP, 2008.
61
BERGAMINI, Cecília Whitaker; BERALDO, Deobel Garcia Ramos. Avaliação do Desempenho
Humano na Empresa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1988.
62
LUCENA, Maria Diva da Salete. Avaliação de Desempenho. São Paulo: Atlas, 1992.
72

e) comprometimento: é o resultado do processo, com o compromisso de


adotar algo que se julga necessário para melhoria.
Como vimos, a avaliação de desempenho de uma empresa é apenas uma
das fases do processo de avaliação, porém as demais fases fogem da
governabilidade e objetivo desta pesquisa.
Para podermos avaliar o desempenho e verificar o grau de satisfação do
cliente, precisamos primeiro conceituar “qualidade”.

3.3.1 Conceito de Qualidade

O conceito de qualidade já existia a muito tempo, porém somente com a


evolução das formas de gestão pública, de patrimonialista para burocrática e
posteriormente para gerencial, é que passou a ser uma preocupação dos órgãos
públicos.
Gil diz que qualidade é “eficácia no atendimento ao cliente, na satisfação de
seus anseios/desejos sobre o produto” (1997)63.
“Produto com qualidade é aquele que atende perfeitamente, de forma
confiável, acessível, segura e no tempo certo às necessidades do cliente”
(CAMPOS, V., 1992)64.
Deming conceitua que “qualidade é a satisfação do cliente, no presente e no
futuro” (apud OLIVEIRA, 200, p. 25)65.
Já Juran afirma que “qualidade é a adequação ao uso [do cliente]” (apud
PALADINI, 1997)66, ou seja, o produto será de qualidade se estiver adequado ao uso
do cliente.
Paladini (1997)67 classifica os produtos em três categorias:

a) bens tangíveis: produtos que exigem forma concreta;

b) serviços: ações desenvolvidas pela empresa em atendimento a


solicitação;

63
GIL, Antônio de Loureiro. Gestão da Qualidade Empresarial. São Paulo: Atlas, 1997.
64
CAMPOS, Vicente Falconi. Controle da Qualidade Total. 7. ed. Belo Horizonte: QFCO, 1992.
65
OLIVEIRA, Marcelo Silva. Qualidade na Educação Universitária. São Paulo: USP, 2000. Tese
(Doutorado), Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2000. p. 25.
66
PALADINI, Edson Pacheco. Qualidade Total na Prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
67
Idem, ibidem.
73

c) métodos: procedimentos lógicos desenvolvidos pela empresa ou


informações por ela organizada.
Paladini (1997)68 usa o bolo para exemplificar as três categorias de produto,
na qual bem tangível seria se o cliente compra-se o bolo, serviço seria se o cliente
fornece-se os ingredientes para um terceiro fazer o bolo, e método seria se o cliente
compra-se apenas a receita do bolo.
Com essa explicação concluímos que o produto fornecido pela Polícia
Militar, quando do isolamento e preservação de um local de crime, enquadra-se na
categoria de serviços.
Em todos os conceitos de qualidade analisados, verificamos que está
intimamente ligado com a “satisfação do cliente”, onde, no conceito de Paladini
(1997)69, cliente “é aquele que utiliza o produto de uma empresa” e quem define a
qualidade do produto é o cliente, portanto, a avaliação da qualidade de um produto,
seja ele tangível, serviço ou método, deve-se iniciar a partir o cliente.
Os autores sobre o assunto dividem cliente em dois tipos: os internos, que
são membros da própria empresa ou órgão e que recebe produto de outro setor, e
os clientes externos que não fazem parte da empresa.
Queiroz (2002) define clientes internos e externos da seguinte forma:

Cliente interno é o próprio corpo da empresa, aquele que recebe o


trabalho executado na etapa anterior do processo para então executar a sua
parte e passar seu produto à etapa seguinte, e cliente externo é o
consumidor do resultado gerado por todo o processo que é a empresa, ou
seja, é o destinatário do processo empresarial (apud ADMS, 2007, p. 30) 70.

Com isso, vislumbramos que os clientes diretos do serviço de isolamento e


preservação de um local de crime são externos, pois se tratam dos peritos criminais,
que não fazem parte da “empresa” Polícia Militar.
Usamos o termo clientes diretos, pois entendemos que exista ainda o cliente
secundário, que é a Autoridade Policial que, para instruir as investigações, precisa
do resultado do exame pericial, e ainda o cliente final, que se trata do cidadão, razão
de existência do Estado e seus órgãos.

68
PALADINI, op. cit.
69
Idem, ibidem.
70
ADMS, André Luiz. Nível de Satisfação dos Funcionários de Postos de Combustíveis do
Centro de Florianópolis (...). Florianópolis: UNIVALI, 2007. Monografia, Universidade do Vale do
Itajaí, 2007.
74

Uma empresa precisa atender seu cliente com qualidade para que possa
sobreviver à competitividade, porém nos serviços públicos não existe
competitividade, pois não visa lucro, e possui exclusividade na atuação de seus
serviços (ou pelo menos deveria possuir).
Portanto, diferente de uma empresa privada, um órgão público precisa
atender seu cliente com qualidade para garantir uma melhor qualidade de vida para
o cidadão, razão de existir qualquer órgão púbico.
Um conceito de qualidade, que pode ser muito bem aplicado ao serviço de
isolamento e preservação de um local de crime, é o usado por Barros:

Qualidade é um conjunto de características de desempenho de um


produto ou serviço que, em conformidade com as especificações, atende e,
por vezes, supera as expectativas e anseios do consumidor [cliente]
(1999)71.

Com esse raciocínio, para o produto ser de qualidade deve atender as


especificações, que nós entendemos serem as legislações e normas sobre
isolamento e preservação de local de crime.
Deve ainda atender, ou até superar, as expectativas do cliente, que são os
peritos criminais, portanto, as expectativas e anseios dos peritos em relação à local
de crime, é um local bem isolado e os vestígios bem preservados, cuja satisfação só
pode ser avaliada e medida mediante pesquisa direta com os peritos criminais.
Sobre a satisfação do cliente, Kotler diz que:

[...] é função do desempenho percebido e das expectativas. Se o


desempenho atender as expectativas, o consumidor estará satisfeito, e se
excedê-las, estará altamente satisfeito ou encantado (1998) 72.

3.3.2 Indicadores de Qualidade

Indicador é uma unidade de medida que permite a avaliação periódica das


variáveis de uma organização, mediante sua comparação no tempo com os
correspondentes referenciais.
Ávila usa a seguinte definição para indicadores:

Em nosso entendimento, indicadores de desempenho são,


primordialmente, as ferramentas com as quais se pode medir e mensurar,
quantitativa e qualitativamente os padrões de desempenho de uma
71
BARROS, Claudius D’Artaguan C. de. Excelência em serviços: uma questão de sobrevivência no
mercado. 2. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.
72
Apud ADMS, op. cit., p. 32.
75

determinada Instituição ou Órgão (2003, p. 44)73.


Para as empresas privadas os indicadores de qualidade dizem respeito aos
lucros obtidos pela empresa, já nos órgãos públicos isso não é possível, pois não se
visa lucros, e os recursos se originam dos impostos (contribuição obrigatória) para a
finalidade de prestar serviços à comunidade de forma “gratuita”, com isso o indicador
de qualidade dessa forma de serviço é a eficiência e o grau de satisfação do cliente.
Ávila (2003)74 classifica os indicadores em:

a) pré-indicadores: todos os parâmetros que nos conduzem a uma


avaliação prévia da atividade a ser desenvolvida, para traçar um
resultado provável;

b) indicadores de eficiência: verificam sobre o uso racional e otimizado dos


recursos utilizados na atividade específica;

c) indicadores de eficácia: verificam sobre o alcance do objetivo da


atividade desenvolvida;

d) indicadores de impacto: aferem sobre os efeitos no social das ações


realizadas.

Com isso, rematamos que a qualidade de um serviço público pode ser


medida pelo grau de satisfação de seus clientes e pela verificação do alcance dos
objetivos da atividade desenvolvida (no caso desta pesquisa, o isolamento e
preservação de local de crime com cadáver).

73
ÁVILA, Paulo de Faria. Indicadores de Desempenho nas Ações de Polícia Preventiva. Cuiabá:
Individual, 2003.
74
ÁVILA, op. cit.
76

4. METODOLOGIA E RESULTADOS

4.1 METODOLOGIA CIENTÍFICA

Neste trabalho científico, inicialmente, procurou-se fundamentar


teoricamente sobre o tema, o qual, devido à extensão do assunto, dividiu-se em três
grandes tópicos, onde cada um se corporificou em um capítulo do trabalho, sendo
eles: criminalística, local de crime e procedimento policial.
Posteriormente realizou-se a pesquisa de campo, aplicando-se
questionários, aos policiais militares e peritos criminais, e entrevistando autoridades
ligadas ao tema.
Houve uma certa dificuldade em aplicar o questionário aos peritos criminais,
pois alguns se encontravam em dispensas diversas (folga de serviço, férias,
licenças, etc.), porém não chegando a prejudicar a pesquisa.
Já os aspectos que facilitaram as pesquisas, foram a farta literatura sobre os
assuntos de Criminalística, bem como a colaboração maciça por parte dos policiais
militares do 3º Comando de Policiamento de Área (3º CPA) no preenchimento dos
questionários.
Metodologia é o conjunto de métodos e técnicas utilizadas para a realização
de uma pesquisa, diante disso, precisamos especificar quais foram os métodos e as
técnicas utilizadas nesta pesquisa para se responder o problema e atingir os
objetivos propostos.
Segundo Bunge (apud MARCONI; LAKATOS, 2006, p.45)75, “método
científico é o conjunto de procedimentos por intermédio dos quais se propõe o
problema científico e colocam-se à prova as hipóteses”.
Os métodos de uma pesquisa se dividem em método de abordagem, de
procedimentos e de análise, a seguir veremos os métodos que foram utilizados.

4.1.1 Método de Abordagem

75
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica. 4. ed. 3. reimpr.
São Paulo: Atlas, 2006.
77

Método de abordagem diz respeito à concepção teórica, é a parte mais


abstrata. Utilizou-se neste trabalho monográfico o método hipotético-dedutivo.
De acordo com Ferreira, o método hipotético-dedutivo funciona da seguinte
maneira:

Desencadeia-se a partir da percepção de uma lacuna nos


conhecimentos científicos produzidos em uma determinada área até aquele
momento, em função da qual se formula novas hipóteses. Em seguida,
através do processo de inferência dedutiva, testam-se as hipóteses
(1998)76.

Verificamos que o autor sintetiza o método hipotético-dedutivo em três


etapas: o surgimento do problema, a formulação de hipóteses, e o teste das
hipóteses através da dedução.
No caso deste trabalho, temos o problema, que é a dúvida de que a
qualidade do serviço de isolamento e preservação de local de crime com cadáver
realizada pelos policiais militares da capital de Mato Grosso é satisfatória; formulou-
se uma hipótese, de que para a qualidade de um serviço ser satisfatória teria que
atender alguns requisitos (são eles: exigências legais, garantir a finalidade e atender
a necessidade dos clientes); e, utilizando-se da dedução (premissa maior para
menor), chegou-se a formula: todo serviço de qualidade satisfatória atende esses
requisitos, então se o serviço realizado pela PM atender esses requisitos, será
satisfatória, restando, portanto, provar se o serviço em questão atende os requisitos.

4.1.2 Método de Procedimento

Método de procedimento diz respeito à maneira específica que será


trabalhado a pesquisa. Foram utilizados o descritivo e estatístico. Descritivo porque
expõe as características do fenômeno, e estatístico porque avalia em termos
quantitativos o problema da pesquisa.

4.1.3 Técnicas de Pesquisa

76
MÉTODO Hipotético-Dedutivo. Disponível em:
<http://www.pucrs.campus2.br/~jiani/metodologia/metodos2.doc> Acesso em: 17 Jun 2008.
78

Marconi e Lakatos (2006)77 definem técnica de pesquisa como sendo o


conjunto de processos de que servem uma ciência para a coleta de dados, ou seja,
é a parte prática da coleta de dados.
Neste trabalho utilizou-se das seguintes técnicas:

a) pesquisa bibliográfica: consulta de documentação indireta como obras,


livros, trabalhos monográficos e artigos científicos;

b) pesquisa de campo: produção de documentação direta através de


questionários aplicados aos peritos criminais e aos policiais militares,
bem como através de entrevistas com pessoas que ocupam cargos
relacionados com o tema;

c) pesquisa documental: consulta de revistas, jornais e sites.

4.1.4 População

É o conjunto de seres que possuem ao menos uma característica em


comum, e sua delimitação é a explicitação de suas características em comum
(MARCONI; LAKATOS, 2006, p. 108)78.
Neste caso, temos duas populações, as quais possuem as seguintes
delimitações: as praças policiais militares do serviço operacional da Capital 79, que
são em um total de 827, e os peritos oficiais criminais que realizam levantamento de
local de crime na capital, que são em um total de 28.

4.1.5 Amostra

Amostra é a parcela convenientemente selecionada da população, devido à


dificuldade de se atingir toda a população.
Com relação aos policiais militares, pegou-se como amostra 150 Praças do
serviço operacional do 3º Comando de Policiamento de Área (3º CPA).

77
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do Trabalho Científico. 6. ed.
São Paulo: Atlas, 2006.
78
MARCONI; LAKATOS, op. cit. p. 108.
79
Fonte: Seções Sistêmicas das Unidades que compõem o Comando Regional I (Cuiabá).
79

Escolheu-se esta unidade PM porque, estatisticamente, é a que mais atende


ocorrências policiais com cadáver, e as Praças são os que normalmente chegam
primeiro ao local de crime, e, portanto, são os que tomam as providências iniciais no
local, onde se aplicou 150 questionários (18,14% da população), mais somente 126
foram respondidos.
Com relação aos peritos criminais, a intenção inicial era atingir 100% da
população, ou seja, todos os peritos criminais da capital que realizam levantamento
de local de crime, que são no total de 28 peritos, porém, por motivos diversos, e
alheios a vontade do pesquisador, conseguiu-se aplicar os questionários a apenas
14 peritos criminais.

4.1.6 Método de Análise

Com relação aos questionários, utilizou-se o método quantitativo, onde


foram calculados os dados estatísticos, tabulados e produzido tabelas e gráficos
para a melhor visualização, sendo em seguida avaliados, comparados e
comentados.
Já com relação às entrevistas, utilizou-se o método qualitativo para a
fundamentação e comprovação da hipótese.

4.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

A pesquisa de campo foi de grande valia, uma vez que analisamos não só a
opinião dos peritos criminais, que são os clientes diretos do serviço de isolamento e
preservação de local de crime com cadáver, mas também a opinião dos próprios
policiais militares, de forma que puderam fazer uma auto-análise e apontar suas
próprias falhas.

4.2.1 Dados quantitativos: questionário aos Policiais Militares

O questionário aplicado aos policiais militares do 3º CPA (APÊNCIDE A) foi


aplicado de forma aleatória, portanto probabilista, pois todos os elementos da
população tinham a mesma probabilidade de serem escolhidos.
O questionário possui seis questões, sendo que as questões 1, 2, 3 e 4 são
perguntas fechadas, com apenas a opção de escolha de uma alternativa, e as
80

questões 5 e 6 são mistas, pois possui a parte de escolha de alternativa, e a parte


aberta para que o policial questionado acrescentasse outras colaborações.
A seguir faremos a apresentação das questões e dos resultados, em forma
de tabela e gráfico, para melhor visualização, em seguida faremos a análise e
comentários sobre os resultados da questão.
4.2.1.1 Pergunta 01: Que curso da corporação você já realizou em sua carreira?

Tabela 1
Respostas da pergunta 01 às praças da PMMT
Resposta Freqüência Percentual
CAS................................ 00 00%
CFS................................ 03 02%
CFC................................ 18 13%
CFSD............................. 116 85%
Total 137 100%
Fonte: praças do 3º CPA.
Nota: os dados percentuais foram arredondados para melhor visualização.

Figura 1: Gráfico de respostas da pergunta 01 às praças do 3º CPA.

Esta primeira questão serviu para visualizar, na amostra selecionada, quais


os cursos realizados pelas praças durante sua carreira, pois atualmente todos os
cursos de formação/aperfeiçoamento da corporação possuem a disciplina de
criminalística, possuindo a carga horária de 20 horas/aula80.
Dos questionados, a grande maioria possuíam apenas o Curso de Formação
de Soldado (CFSD), sendo que 18 possuíam o Curso de Formação de Cabo (CFC)
80
Fonte: Seção Técnica de Ensino do Centro de Formação de Aperfeiçoamento de Praças (CFAP).
81

e apenas 03 possuíam o Curso de Formação de Sargento (CFS). Nenhum dos


questionados possuíam o Curso de Aperfeiçoamento de Sargento (CAS).
Foram questionados 126 PMs, sendo que a freqüência das respostas
resultou em um total de 137 porque refere-se aos PMs que possuem dois cursos e
responderam marcando duas alternativas.
4.2.1.2 Pergunta 02: Como você classifica a instrução sobre isolamento e
preservação de local de crime ministrada durante seu curso de formação /
aperfeiçoamento?

Tabela 2
Respostas da pergunta 02 às praças da PMMT
Resposta Freqüência Percentual
Excelente....................... 00 00%
Bom................................ 72 57%
Ruim............................... 20 16%
Péssimo......................... 13 10%
Não teve instrução......... 21 17%
Total 126 100%
Fonte: praças do 3º CPA.
Nota: os dados percentuais foram arredondados para melhor visualização.

Figura 2: Gráfico de respostas da pergunta 02 às praças do 3º CPA.

Esta segunda questão, que é continuação da primeira, visa verificar o nível


das instruções sobre isolamento e preservação de local de crime na visão do próprio
PM, pois se levantou que a qualidade no procedimento estaria ligada ao
conhecimento sobre o assunto. Dos 126 PMs questionados, nenhum considerou
excelente as instruções, uma boa parte (57%) considerou bom, e, somando-se os
que consideram ruim e péssimo temos a cifra de 26%, o que consideramos alto, e
82

que por isso esses PMs, com certeza, não tiveram proveito suficiente. O que não
conhecíamos, e achamos um dado interessante, é que 17% afirmaram que não
tiveram instruções sobre local de crime, o que pode nos levar a dois raciocínios, ou
realmente não tiveram, ou tiveram, mas foi tão desqualificada e não se lembram, e
isso acaba refletindo diretamente na atividade fim da Instituição.
4.2.1.3 Pergunta 03: Você conhece o Regulamento de Padronização de
Procedimentos em Local de Crime, instituído pela SEJUSP em 2005?

Tabela 3
Respostas da pergunta 03 às praças da PMMT
Resposta Freqüência Percentual
Sim................................. 02 02%
Não................................ 124 98%
Total 126 100%
Fonte: praças do 3º CPA.
Nota: os dados percentuais foram arredondados para melhor visualização.

Figura 3: Gráfico de respostas da pergunta 03 às praças do 3º CPA.

Quase que a totalidade dos questionados (98%) desconhecem a existência


do Regulamento de Padronização de Procedimentos em Local de Crime, instituído
através da Portaria nº 15/SEJUSP/2005/GAB em 23/02/2005, ou seja, após três
anos de sua vigência, não se preocupou em divulgá-lo, o que também deve ter
ocorrido em outros órgãos.
83

A própria portaria, em seu art. 34, determina que todos os órgãos de


segurança pública providencie uma cópia do regulamento para que fique em cada
uma das viaturas, o que não ocorreu até a presente data, nem ao menos houve
qualquer instrução referente ao citado regulamento.

4.2.1.4 Pergunta 04: Você já atendeu alguma ocorrência com cadáver (homicídio,
suicídio, morte acidental, morte natural, etc.)?

Tabela 4
Respostas da pergunta 04 às praças da PMMT
Resposta Freqüência Percentual
Sim................................. 117 93%
Não................................ 09 07%
Total 126 100%
Fonte: praças do 3º CPA.
Nota: os dados percentuais foram arredondados para melhor visualização.

Figura 4: Gráfico de respostas da pergunta 04 às praças do 3º CPA.

Nesta questão buscamos levantar, dentro da amostra, qual o percentual de


PMs que atenderam ocorrências com cadáver, as quais incluem homicídios,
suicídios, morte natural, morte acidental, entre outras formas, e que portanto
precisaria dos procedimentos de isolamento e preservação por parte da guarnição
PM, até a chegada da Autoridade Policial e Peritos.
84

Tivemos como resultado que 93% dos PMs questionados já atenderam tal
tipo de ocorrência, o que já esperávamos esse percentual elevado, pois o 3º CPA é
a Unidade da PMMT que mais atende ocorrências com cadáver, apenas 7%
disseram ainda não terem feito este tipo de atendimento.
Esta questão serve ainda de subsídio para a próxima pergunta, onde
verificaremos sobre os materiais e equipamentos utilizados.
4.2.1.5 Pergunta 05: Caso tenha atendido (ocorrências com cadáver), nesse
atendimento quais foram os instrumentos e equipamentos utilizados para o
isolamento e preservação do local de crime?

Tabela 5
Respostas da pergunta 05 às praças da PMMT
Resposta Freqüência Percentual
Cone............................................ 25 21%
Fita zebrada................................ 27 23%
Corda.......................................... 06 05%
Cavalete...................................... 01 01%
Somente a presença do policial.. 22 19%
Viatura......................................... 26 22%
Meios improvisados.................... 10 09%
Total 117 100%
Fonte: praças do 3º CPA.
Nota: os dados percentuais foram arredondados para melhor visualização.

Figura 5: Gráfico de respostas da pergunta 05 às praças do 3º CPA.

Como na questão anterior 117 PMs responderam que atenderam


ocorrências com cadáver, apenas estes responderam a quarta questão, que se
refere aos materiais utilizados no isolamento. Os materiais mais usados foram cones
e fitas zebradas (soma de 44%), os quais consideramos materiais suficientes para
fazer um bom isolamento. Porém percentual considerável não dispunha de qualquer
material para fazer o isolamento de um local de crime, onde 19 % fizeram uso
85

apenas da apenas da presença para isolar o local, e outra parte (22%) usou apenas
a viatura de serviço para isolar, e ainda temos aqueles (9%) que utilizaram material
improvisado do próprio local, sendo que no questionário deixamos um espaço para
informar que tipo de material improvisado foi utilizado, e tivemos como resposta os
mais diversos como: galhos de árvore, pneus, barbante, lençol, pedra, pedaço de
madeira, tijolo, cipó, etc., valendo-se da criatividade do policial.
4.2.1.6 Pergunta 06: Pela sua experiência profissional, como você avalia, de uma
forma geral, a qualidade do procedimento dos policiais militares de
isolamento e preservação de local de crime com cadáver?

Tabela 6
Respostas da pergunta 06 às praças da PMMT
Resposta Freqüência Percentual
Excelente....................... 02 02%
Bom................................ 74 59%
Ruim............................... 41 32%
Péssimo......................... 09 07%
Total 126 100%
Fonte: praças do 3º CPA.
Nota: os dados percentuais foram arredondados para melhor visualização.

Figura 6: Gráfico de respostas da pergunta 06 às praças do 3º CPA.

Esta pergunta serviu como uma auto-avaliação, na qual os próprios policiais


militares classificaram a qualidade do procedimento que eles mesmos realizam
referente ao isolamento e preservação de local de crime com cadáver, onde tivemos
86

como resposta que 02% acham excelente, 59% acham bom, 32% acham ruim e
07% acham péssimo.
Em uma auto-avaliação a tendência é não fazer uma auto-crítica,
escondendo nossos próprios defeitos, mas isso não aconteceu aqui, pois, apesar de
a maioria achar que está bom, uma parte considerável entende que o procedimento
é ruim ou péssimo, mostrando que os próprios policiais estão tendo esta visão.
Ainda nesta pergunta, deixamos um espaço aberto para que o policial
fizesse algum comentário sobre a qualidade do procedimento em local de crime,
resultando algumas respostas interessantes:

a) solicitações de mais instruções e cursos sobre o assunto;

b) afirmação que a má qualidade está ligada a falta de material;

c) reclamações da grande quantidade de curiosos em um local de crime


com cadáver, quando da chegada da guarnição;

d) reclamações da demora da chegada das equipes de Polícia Civil e


Peritos;

e) reclamações da falta de uma parte prática nas instruções que receberam


durante o curso de formação.

Contribuições estas que devem ser levadas em considerações, pois os


próprios policiais afirmam que a falta de material adequado prejudica a qualidade do
serviço, e outra reclamação interessante é a falta da parte prática no curso, pois
apesar de possuir a disciplina nos cursos de formação, não está havendo a parte
prática sobre local de crime.
Outra consideração é sobre a demora da chegada de outras equipes, o que
também pode influenciar no isolamento e preservação de um local de crime, pois
quanto mais se demora, mais fica difícil o trabalho, com a aglomeração de curiosos,
o cansaço dos policiais, etc.

4.2.2 Dados quantitativos: questionário aos Peritos Criminais


87

O questionário aplicado aos Peritos Oficiais Criminais (APÊNDICE B),


inicialmente tinha-se a intenção de atingir a toda a população, ou seja, todos os
peritos da capital de atuam em levantamento de local de crime, mas por motivos
alheios, foi possível aplicar em somente 14 peritos.
O questionário possui cinco questões, sendo que as três primeiras são
perguntas fechadas, e as duas seguintes são questões mistas (com parte objetiva e
parte subjetiva).
A seguir faremos a apresentação da questão e dos resultados, em forma de
tabela e gráfico, para melhor visualização, em seguida faremos a análise e
comentários sobre os resultados.

4.2.2.1 Pergunta 01: Na sua concepção, o desempenho dos Policiais Militares no


isolamento e preservação de local de crime com cadáver (homicídio, suicídio,
morte natural, morte acidental, etc.) é:

Tabela 7
Respostas da pergunta 01 aos Peritos Criminais
Resposta Freqüência Percentual
Excelente....................... 00 00%
Bom................................ 02 14%
Ruim............................... 08 57%
Péssimo......................... 04 29%
Total 14 100%
Fonte: pesquisa junto aos Peritos Criminais.
Nota: os dados percentuais foram arredondados para melhor visualização.

Figura 7: Gráfico de respostas da pergunta 01 aos Peritos Criminais.


88

A maioria dos Peritos Criminais (57%) acham “ruim” o desempenho dos PMs
em local de crime com cadáver, apenas 14% acham “bom”, sendo que nenhum dos
Peritos questionados optou pela resposta “excelente”
A somatória dos que acham “ruim” e “péssimo” resulta em 86% das
respostas, com isso, verificamos que o conceito da qualidade neste tipo de serviço
junto aos Peritos Criminais não é dos melhores.
4.2.2.2 Pergunta 02: Como o (a) senhor (a) avalia o nível de integração entre os
PMs e os Peritos Criminais quando da atuação em local de crime com
cadáver?

Tabela 8
Respostas da pergunta 02 aos Peritos Criminais
Resposta Freqüência Percentual
Excelente....................... 02 14%
Bom................................ 08 57%
Ruim............................... 04 29%
Péssimo......................... 00 00%
Total 14 100%
Fonte: pesquisa junto aos Peritos Criminais.
Nota: os dados percentuais foram arredondados para melhor visualização.

Figura 8: Gráfico de respostas da pergunta 02 aos Peritos Criminais.


89

Como já discutimos no segundo capítulo, a integração entre as diversas


instituições em local de crime faz toda a diferença, e, na visão da maioria dos Peritos
Criminais, essa integração entre PMs e Peritos está boa, pois a somatória dos que
acharam “bom” e “excelente” corresponde a 71% da amostra, uma pequena parcela
(29%) acha ruim a integração, sendo que nenhum achou péssimo.

4.2.2.3 Pergunta 03: Na sua visão, qual o percentual de vezes que o perito encontra
os locais de crime com cadáver inidôneo por falha dos Policiais Militares?

Tabela 9
Respostas da pergunta 03 aos Peritos Criminais
Resposta Freqüência Percentual
De 0 a 10%........(baixíssimo)............ 00 00%
De 11% a 30%...(baixo).................... 02 14%
De 31 % a 50%..(médio)................... 02 14%
De 51% a 80%...(alto)....................... 06 43%
De 81% a 100%.(altíssimo)............... 04 29%
Total 14 100%
Fonte: pesquisa junto aos Peritos Criminais.
Nota: os dados percentuais foram arredondados para melhor visualização.

Figura 9: Gráfico de respostas da pergunta 03 aos Peritos Criminais.


90

A grande maioria dos Peritos Criminais disseram que a quantidade de vezes


que encontra o local de crime com cadáver inidôneo (alterado) por falha dos PMs
está entre alta e altíssima, ou seja, as falhas cometidas pelos PMs tem prejudicado
diretamente a atuação dos Peritos Criminais, já que o serviço pericial necessita de
um local devidamente conservado, o que, segundo esta pesquisa, não vem
ocorrendo.
4.2.2.4 Pergunta 04: Na sua visão, qual é a principal falha do PM no isolamento e
preservação de local de crime com cadáver?

Tabela 10
Respostas da pergunta 04 aos Peritos Criminais
Resposta Freqüência Percentual
Deixar a imprensa entrar no local..... 00 00%
Deixar parentes da vítima no local.... 01 07%
O PM mexer no cadáver................... 05 36%
O PM recolher a arma do crime........ 01 07%
O PM ficar andando pelo local.......... 02 14%
O PM mexer nos vestígios................ 03 22%
O PM deixa material no local............ 01 07%
Outros............................................... 01 07%
Total 14 100%
Fonte: pesquisa junto aos Peritos Criminais.
Nota: os dados percentuais foram arredondados para melhor visualização.

Figura 10: Gráfico de respostas da pergunta 04 aos Peritos Criminais.

As duas maiores falhas, na resposta dos Peritos, tratam-se de ações dos


próprios PMs que mexem no cadáver e mexem nos vestígios, cuja somatória
corresponde a 58% das respostas, ou seja, apesar de os PMs isolarem o local,
91

impedindo o acesso de curiosos, os próprios PMs acabam alterando o local e os


vestígios, prejudicando o exame pericial.
Estas respostas coincidem com a entrevista feita com a delegada da DHPP,
que veremos a frente, a qual também afirma que os PMs mexem no cadáver na
tentativa de colher dados para preenchimento do Boletim de Ocorrência.
O único perito que assinalou a resposta “outros”, registrou no questionário
que se refere ao PM deixar curiosos entrarem no local.
4.2.2.5 Pergunta 05: O (a) senhor (a) se considera satisfeito com a qualidade dos
procedimentos dos PMs em local de crime com cadáver? Porque?

Tabela 11
Respostas da pergunta 05 aos Peritos Criminais
Resposta Freqüência Percentual
Sim................................. 01 07%
Não................................ 10 72%
Em parte........................ 03 21%
Total 14 100%
Fonte: pesquisa junto aos Peritos Criminais.
Nota: os dados percentuais foram arredondados para melhor visualização.

Figura 11: Gráfico de respostas da pergunta 05 aos Peritos Criminais.

Esta questão é mista, pois possui tanto a parte fechada, quanto aberta.
O gráfico acima mostra a grande fatia de Peritos Criminais que não estão
satisfeitos com a qualidade dos procedimentos dos PMs em local de crime com
cadáver, no percentual de 72%, sendo explicado, na parte subjetiva da questão, que
92

as falhas nos procedimentos PM prejudicam crucialmente o serviço pericial e,


conseqüentemente a qualidade de seus laudos.
A parcela que está em parte satisfeita (21%), justificou que os PMs vem
melhorando aos poucos a qualidade deste procedimento, mas que ainda cometem
algumas falhas.
E a pequeníssima parcela que está satisfeita (apenas um perito,
correspondente a 07% da amostra), disse que os PMs ultimamente vem realizando
corretamente este tipo de procedimento.
4.2.3 Dados qualitativos: entrevistas

Como forma de pesquisa de campo intensiva, foram realizadas três


entrevistas com autoridades, cujos cargos dispõe de conhecimento sobre o tema
local de crime, bem como sobre a atual situação e qualidade dos procedimentos por
parte dos policiais militares quando na atuação em local de crime.
As entrevistas foram da forma estruturada, pois as perguntas eram pré-
formuladas.
As entrevistas, em sua forma integral, encontram-se em apêndice, porém
para fundamentarmos nossos estudos, se faz necessário expor as partes mais
interessantes e comentá-los um a um.

4.2.3.1 Entrevistas com o Corregedor Geral da Polícia Militar de Mato Grosso

Aos doze dias do mês de junho do ano de dois mil e oito, às 11:30 horas,
nas dependências da Corregedoria Geral da Polícia Militar, prédio da SEJUSP, foi
realizada a entrevista com o Sr. Cel PM Raimundo Francisco de Souza, Corregedor
Geral da PMMT, referente ao tema “qualidade do procedimento policial militar de
isolamento e preservação de local de crime com cadáver”, com três perguntas pré-
formuladas, cujas respostas foram gravadas e transcritas.
Na pergunta referente à classificação da qualidade do procedimento de
isolamento e preservação em local de crime com cadáver, o Corregedor Geral da
PMMT classificou-o como ruim, proferindo a seguinte fala:

[...] eu entendo que a qualidade não é boa, não por falta de


conhecimento, porque os policiais militares, oficiais e praças, recebem as
informações e orientações durante os cursos, e sabem que devem
93

preservar o local de crime, mas infelizmente, a maioria dos locais de crime


não são preservados [...]81

Na questão referente a o que o Corregedor atribui essas falhas, respondeu


que não é por falta de conhecimento, mas sim por falta de responsabilidade em
cumprir as regras sobre local de crime.
Perguntou-se ainda, na visão dele, o que é preciso ser feito para melhorar a
qualidade do procedimento em questão, sendo respondido, em suma, que é
necessária uma conscientização dos policiais militares sobre a importância em
preservar um local de crime, e ainda que o órgão pericial mostre os resultados das
perícias para que o policial dê valor à preservação, e, por último, que o Ministério
Público comece a responsabilizar os policiais que prejudicarem as investigações por
falta de preservação de local, in verbis:

Além de conscientizarmos nossos policiais que isso é importante,


[...] mas também o órgão pericial dar retorno à polícia mostrando que aquela
preservação que ele fez deu resultado, [...] e, finalmente, começar a
responsabilizar, o próprio Ministério Público, ao receber o inquérito, e
verificando que consta no laudo pericial que o local não foi preservado, ele
pode fazer o efeito regressivo em desfavor daqueles primeiros agentes do
Estado que chegou primeiro no local, devendo ser responsabilizados pela
justiça, pois prejudicaram uma investigação.

4.2.3.2 Entrevista com a Delegada de Polícia da Delegacia Especializada de


Homicídios e Proteção à Pessoa

Aos doze dias do mês de junho do ano de dois mil e oito, às 15:30 horas,
nas dependências da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa,
foi realizada a entrevista com a Dra. Silvia Maria Pauluzi, Delegada de Polícia lotada
na DHPP, e pessoa designada pelo delegado titular para realizar a entrevistas
representando àquela delegacia.
A entrevista tratou do tema “qualidade do procedimento policial militar de
isolamento e preservação de local de crime com cadáver”, com quatro perguntas
pré-formuladas, cujas respostas foram gravadas e transcritas.
Na pergunta referente à qualidade do procedimento do policial militar, a
entrevistada classificou como precária, mas ela estendeu essa classificação também
para a Polícia Judiciária Civil, dizendo que também deixam a desejar.
81
Entrevista com o Cel PM Raimundo Francisco de Souza, Corregedor Geral da PMMT, no dia
12.06.2008, na sede da Corregedoria Integrada.
94

É muito precária, a falta tanto na Polícia Militar, quanto na Polícia


Civil, mas principalmente na Polícia Militar, pois quando a DHPP é
acionada, a Polícia Militar, que é a polícia ostensiva, ela é a primeira a
chegar no local de crime, raramente é a Polícia Civil a primeira a chegar a
um local de crime, e nós temos muita dificuldade com isso [...]82

Ainda nessa mesma resposta, disse que a preocupação do PM é apenas de


fazer rapidamente seu boletim de ocorrência (B.O.), e para isso mexe no cadáver a
procura de documentos para facilitar o preenchimento do B.O., não se preocupando
em preservar o local para a realização da perícia.
Em outra pergunta sobre o nível de integração entre policiais militares e
policiais civis, quando da atuação em local de crime com cadáver, ela respondeu
que é muito boa, que nunca teve problema algum, e os PMs colaboram muito com a
investigação, fornecendo informações que possuem.
Perguntou-se ainda qual a principal falha do PM quando da atuação em local
de crime com cadáver, e respondeu que é a contaminação de provas, o policial
manusear os vestígios antes da chegada da perícia, modificando e destruindo
marcas e vestígios.

4.2.3.3 Entrevista com o Superintendente da Perícia Oficial e Identificação Técnica

Aos dezessete dias do mês de junho do ano de dois mil e oito, às 11:30
horas, na Superintendência da POLITEC, no prédio da SEJUSP, foi realizada a
entrevista com a Sr. Antônio Carlos de Oliveira, Superintendente da POLITEC,
referente ao tema “qualidade do procedimento policial militar de isolamento e
preservação de local de crime com cadáver”, com três perguntas pré-formuladas,
cujas respostas foram gravadas e transcritas.
Na visão do Superintendente, a qualidade vem melhorando graças aos
cursos ministrados sobre o assunto, mas que ainda deixa a desejar, pois ainda
ocorrem muitas falhas, como, por exemplo, os policiais ficarem dentro da área de
isolamento, e não fora, como deveria ser, e o manuseio de vestígios por parte dos
PMs, antes da chegada dos peritos criminais.

82
Entrevista com Silvia Maria Pauluzi, Delegada de Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso, no dia
12.06.2008, na DHPP.
95

Para o Superintendente Antônio Carlos de Oliveira, só irá melhorar a


qualidade mediante cursos e treinamentos sobre o assunto, bem como com trocas
de informações entre as instituições.
O superintendente citou ainda sobre a reunião a ser realizada ao final dos
trabalhos na cena de crime, envolvendo representantes de todos os órgãos
envolvidos, para que sejam expostas as falhas, e, com isso, evitarmos que se repita,
reunião esta que também achamos necessário e foi citada por ocasião do capítulo
sobre os procedimentos operacionais dos PMs em Local de Crime.

CONCLUSÃO E SUGESTÃO

Constatamos que existe considerável bibliografia, tanto livros, quanto


trabalhos monográficos, sobre o tema, o que facilitou a fundamentação teórica.
Utilizando-se do método hipotético-dedutivo para chegar à solução, chegou-
se a seguinte formula: para o serviço ter uma qualidade satisfatória precisaria
atender os seguintes requisitos: atender as exigências legais, atender a finalidade do
serviço, atender a necessidade do cliente.
Como foi exposta da seção 3.3.1, o procedimento de isolamento e
preservação trata-se de um produto da categoria de serviços, e, para ter qualidade,
precisa satisfazer seus clientes.
Sobre as exigências legais, como foi discutido na seção 2.3, cabe
inicialmente a todo profissional de segurança pública, que primeiro chegar ao local,
tomar as providências iniciais de isolamento e preservação em local de crime, sendo
que, com a chegada da PM, ela assume o serviço, pois tal atribuição foi estabelecida
no Regulamento de Padronização de Procedimentos em Local de Crime instituída
pela SEJUSP/MT, portanto, toda vez que a PM vai para o local de crime, ela está
atendendo as exigências legais.
96

A finalidade de isolar e preservar um local de crime, como foi exposto na


seção 2.2, é de manter o local, e tudo que se encontra nele, o mais original possível,
para que os Peritos Criminais possam realizar o levantamento de Local de Crime,
procedendo aos mais diversos tipos de exames.
Como foram levantados na pesquisa de campo, os próprios policiais
militares acabam alterando os locais de crime, portanto não está atendendo a
finalidade de manter o local intacto.
Cliente, como foi exposta da seção 3.3.1, trata-se de quem se utiliza dos
serviços da Polícia Militar, que no caso de local de crime, trata-se dos Peritos
Criminais como clientes diretos, os quais, conforme exposto na seção 4.2.2, em sua
grande maioria não se sentem satisfeitos com tal serviço.
Temos ainda as Autoridades Policiais da DHPP, que podem ser
considerados clientes secundários, e, por isso, foi entrevistada um dos Delegados, a
qual estava representando os demais, que também declarou sua insatisfação sobre
o serviço.
Levantou-se ainda que as viaturas policiais militares não possuem
equipamento disponível para proceder o isolamento de um local de crime, o que
seria facilmente resolvido com a adquirição de uma ou duas fitas zebradas para
cada carro de serviço, além de alguns cones, o que não ocasionaria grande gastos.
Diante de tudo exposto, concluímos que o procedimento de isolamento e
preservação de local de crime com cadáver realizado pelos policiais militares na
capital do Estado de Mato Grosso não é satisfatória.
Levantou-se ainda que, apesar de existir um regulamento de padronização
de procedimentos em local de crime, o mesmo atinge todos os órgãos da SEJUSP,
e é muito superficial, não tratando dos detalhes operacionais, e ainda trata dos
locais de crime de forma genérica, não especificando os procedimentos para os
diversos tipos de locais.
Um benefício de toda esta pesquisa é o apontamento das principais falhas,
as quais, concluímos, são decorrentes da falta de material adequado e falta de
padronização nas ações.
Com isso, na tentativa de melhorar a qualidade deste tipo de serviço,
sugerimos quatro providências:
Primeiramente, que a Instituição Polícia Militar e as Unidades Policiais
Militares providenciem um conjunto de material, o qual é determinado pelo
97

Regulamento de Padronização de Procedimentos em Local de Crime, o que


chamamos de “kit local de crime”, de forma que cada viatura operacional disponha
destas ferramentas para realizar, com qualidade, a missão de isolamento e
preservação de local de crime, sendo que no terceiro capítulo, na seção 3.2.14,
sugeriu-se alguns itens que podem conter nesse kit.
Em seguida, a partir dos tipos de falhas detectadas na pesquisa de campo,
da pesquisa documental aos diversos manuais de policiamento, bem como pela
visualização in locu de ocorrências desta natureza pelo autor do trabalho, levantou-
se, de forma detalhada, no terceiro capítulo, quais seriam os procedimentos
necessários a serem tomados pelo PM em local de crime com cadáver.
Com isso, sugerimos que sejam divulgados esses procedimentos, em forma
de orientação ou determinação, a todos policiais militares, para que sirva de
norteador nas ações desta natureza, por isso, editamos esses procedimentos em
forma de uma Diretriz Operacional (APÊNDICE A).
Sugerimos ainda a divulgação e incentivo às praças da PMMT para que
participem de cursos disponíveis sobre o assunto, como, por exemplo, o curso de
“Local de Crime” realizado à distância pela SENASP, o qual é de grande qualidade e
está disponível gratuitamente a todos profissionais de segurança pública, com
acesso via internet.
Por último, sugerimos que seja feita a divulgação e instruções referente ao
Regulamento de Padronização de Procedimentos em Local de Crime, qual foi
instituído no ano de 2005, mas que até hoje, não é conhecimento das praças da
PMMT, como ficou comprovado na pesquisa de campo.
Como nosso trabalho se delimitou aos procedimentos em locais de crime
com cadáver, que tem sua própria ritualística, fica ainda como sugestão, para futuras
pesquisas, o estudo de outros tipos de locais de crime, como em crime contra o
patrimônio, contra o meio-ambiente e crime de trânsito.
Finalizando, esperamos que, com este trabalho, possamos ter contribuído
com a literatura policial, bem como com a melhoria deste tipo de ação policial, que
significa um minúsculo galho da grande árvore que são as ações policiais em sua
magnitude, de forma que o conjunto de contribuições e melhorias reflita diretamente
na justiça e na qualidade de vida do cidadão, razão de existência dos órgãos
policiais.
98

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Combustíveis do Centro de Florianópolis Em Relação à Qualidade do Serviço
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99

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Disponível em: <http://www.seguranca.mt.gov.br/politec/legislacao/lei_210.htm>
Acesso em: 21 de maio de 2008.
100

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101

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 18. ed. São Paulo:
Saraiva, 1997. v. 1. p. 232.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 24. ed. São Paulo:
Saraiva, 2002. v. 1.

OBRAS CONSULTADAS 83

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Elaboração e Formatação. 14. ed. Porto Alegre: [S. ed.], 2006.

LOUREIRO NETO, José da Silva. Processo Penal Militar. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2000.

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para a Polícia do Século XXI. Florianópolis: Insular, 2005.

MATO GROSSO. Secretaria de Justiça e Segurança Pública. Academia de Polícia


Judiciária Civil de Mato Grosso. Local de Crime. Apostila de Curso. Cuiabá, 2006.

POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS. Manual de Inquérito Policial Militar. [Belo


Horizonte]:[S.ed.], 1995.

SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Inquérito policial e auto de prisão em


flagrante nos crimes militares. São Paulo: Altas, 1999.

VADE MECUM. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.

83
Trata-se das obras que foram consultadas, porém não foram citadas na parte textual.
102

APÊNDICES

APÊNDICE A – Sugestão de Diretriz Operacional......................................... 91


APÊNDICE B – Questionário aos Peritos Criminais..................................... 99
APÊNDICE C – Questionário aos Policiais Militares..................................... 101
APÊNDICE D – Entrevista com o Corregedor Geral da PMMT..................... 103
APÊNDICE E – Entrevista com Delegada da DHPP...................................... 106
APÊNDICE F – Entrevista com o Superintendente da POLITEC................. 108
103

APÊNDICE A – Sugestão de Diretriz Operacional

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO

DIRETRIZ OPERACIONAL Nº XXXXXX

1 FINALIDADE

Instituir normas de ações padronizadoras para nortear as intervenções da


Polícia Militar do Estado de Mato Grosso em locais de crime com cadáver.

2 JUSTIFICATIVA

A PMMT tem sido alvo de inúmeras críticas referente a falhas nos


procedimentos dos policiais militares quando da intervenção em um local de crime
com cadáver;
A Portaria nº 15/2005/GAB/SEJUSP, de 23Fev2005, instituiu o Regulamento
de Padronização de Procedimentos em Local de Crime no Estado de Mato Grosso,
porém, tal normativa refere-se a todos os órgãos da SEJUSP, e trata os
procedimentos de uma forma muito superficial e genérica, principalmente no que se
refere aos locais de crime com cadáver;
Considerando que a Polícia Militar, como instituição responsável pela
preservação da Ordem Pública, deve primar para realizar seus serviços com a
melhor qualidade possível, procurou-se traçar, de forma detalhada, os
procedimentos operacionais das guarnições policiais militares quando da
intervenção em locais de crime com cadáver (homicídios, suicídios, morte acidental,
morte natural, morte misteriosa, etc.), os quais servirão de norteador, pois não existe
104

uma situação igual a outra, portanto não se pode padronizar de forma rígida as
ações.
Portanto, este Diretriz é resultado de pesquisa junto aos doutrinadores na
área de criminalística e de policiamento ostensivo.

3 FUNDAMENTAÇÃO LEGAL

a) Constituição Federal;
b) Código Penal;
c) Código de Processo Penal;
d) Código Penal Militar;
e) Código de Processo Penal Militar;
f) Código de Trânsito Brasileiro;
g) Portaria nº 15/2005/GAB/SEJUSP.

4 EXECUÇÃO

A execução está dividida em doze passos, mais um ultimo referente ao


tratamento com a imprensa em um local de crime:

4.1 Recebimento da notícia da ocorrência pela guarnição policial

Uma guarnição policial militar, normalmente, recebe a notícia da ocorrência


de duas formas: da Central de Operações ou diretamente do solicitante. Quando
receber da Central de Operações, usualmente via rádio, deverá anotar todos os
dados disponíveis e deslocar-se para o local do delito.
Recebendo diretamente do solicitante, deverá anotar os dados da ocorrência
e do solicitante e deslocar-se para o local, devendo ainda, no início do
deslocamento, repassar a notícia da ocorrência à Central de Operações. Em ambos
os casos, o deslocamento deve ser feito pelo melhor itinerário e em velocidade
segura, cabendo ao comandante da guarnição decidir sobre a conveniência do uso
de sirene e dispositivo luminoso intermitente.
105

4.2 Chegada no local: preocupação com a segurança da equipe

Normalmente quando o primeiro policial chega ao local, ele se depara com


uma aglomeração na cena do crime, confusão e não possui detalhes do ocorrido,
por isso, apesar de algumas diretrizes, como, por exemplo, o Manual Básico de
Policiamento Ostensivo, pregarem que a primeira preocupação do policial em local
de crime deve ser socorrer a vítima, chegou-se ao consenso que o primeiro
procedimento do primeiro policial é com relação a sua própria segurança, pois ainda
poderá estar no local o autor do crime, e se a equipe policial não estiver segura, não
terá como fazer mais nada.
Por isso, antes mesmo de descer da viatura, ao aproximar do local, já deve
estar atento observando as pessoas e veículos, parar a viatura em local estratégico
e a uma distância razoável do foco da ocorrência, deve abordar o local com toda a
cautela, com atenção 360º, empregando técnicas policiais de progressão no terreno
com segurança e observando o comportamento e reação de todos, já verificando a
necessidade de solicitar reforço policial.

4.3 Restabelecimento da ordem

Pode ser que quando da chegada do primeiro policial esteja acontecendo


muitas situações que precisam ser restabelecidas de imediato, como o autor ainda
estar cometendo o crime (flagrante), tumulto generalizado, tentativa de linchamento,
etc., e sem restabelecer a normalidade também são será possível passar para o
passo seguinte.

4.4 Entrada no local para verificação e socorro da vítima

Estando seguro para prosseguir nas ações, se visualizar alguma vítima,


deverá chegar até ela para verificar seu estado, se ainda está viva, gravidade de
ferimentos, etc., mesmo aparentando, à distância, estar em óbito, é necessário
checar pessoalmente o estado da vítima (Espindula, 2006, p. 165).
106

De preferência apenas um policial, desloca-se até a vítima, enquanto os


outros policiais devem ficar fazendo a segurança, o deslocamento deve ser em linha
reta até, tendo o cuidado de não pisar em possíveis vestígios nesse trajeto.
Chegando à vítima, se constatar que está viva, deverá providenciar o
socorro o mais rápido possível, pois dependendo da gravidade deverá acionar
equipes de socorro especializadas, como Resgate e SAMU.
Mas constatando o estado de óbito da vítima, através da ausência dos sinais
vitais (pulso, respiração, temperatura e pressão arterial) e outras características
como dilatação da pupila do olho, rigidez cadavérica, etc., não deve mais tocar na
vítima, nem em seus pertences ou em qualquer outro objeto, arma, valores etc., pois
tudo no local pode ser um vestígio.
O policial, ainda próximo à vítima, observa a área imediata e os vestígios
visíveis para já traçar mentalmente a área a ser isolada.
Portanto, como regra: estando a vítima viva deve-se preocupar em socorrê-
la, mas estando a vítima morta deve-se preocupar em preservar os vestígios.
O primeiro policial não pode mexer no cadáver na tentativa de identificá-lo, a
identificação da vítima deve ser feita após a chegada dos peritos.
Campos (2007) ainda orienta que em locais externos, caso o corpo da vítima
esteja causando grande constrangimento aos familiares e cidadãos em geral, deve-
se cobrir o corpo com lona plástica, tomando o cuidado para não modificar a posição
do corpo e de outros vestígios.

4.5 Saída do local imediato

A saída do local imediato (onde se encontra o cadáver e a maior


concentração de vestígios) Deve ser feita pelo mesmo trajeto que chegou até a
vítima, também observando os vestígios pelo caminho, fins de informar à Autoridade
Policial e aos Peritos Criminais, isso também é importante para saber qual o limite
da área a ser isolada.

4.6 Diligências iniciais


107

O primeiro policial deve entrevistar pessoas que estejam próximas e possam


passar alguma informação sobre o ocorrido, pois, por vezes o autor do crime ainda
está no local ou nas imediações, com o objetivo de localizá-lo e prendê-lo.
Havendo mais de uma equipe disponível, uma deve iniciar os procedimentos
de isolamento do local e preservação dos vestígios, e outra diligenciar para localizar
os criminosos.
Caso haja apenas uma equipe e, pelas informações iniciais o criminoso não
se encontra no local e não será possível localizá-lo de imediato, deve optar por
permanecer no local e iniciar os procedimentos de isolamento e preservação.
Tanto na conversa inicial com os populares, como em qualquer momento do
isolamento, devem ser arroladas testemunhas que presenciaram ou tomaram
conhecimento dos detalhes do fato.

4.7 Isolamento e preservação do local

Retirar os curiosos que por ventura se encontrem no local, desviar o trânsito


se for o caso de via pública, lembrando que locais em via pública só poderá ser
alterado antes da chegada dos Peritos Criminais se tratarem de acidente de trânsito
que esteja prejudicando o tráfego, conforme Lei nº , e posicionar-se em um ponto
distante para visualizar toda a área e os vestígios a fim de decidir os limites do
isolamento, para isso deve usar todos os recursos disponíveis, fornecidos pelo órgão
de origem ou improvisado no local (fita zebrada, cone, cavalete, corda, etc.) para
delimitar fisicamente a área isolada, podendo a qualquer momento ser ampliado
caso seja visualizado novos vestígios fora do isolamento inicial.
A área a ser isolada não tem tamanho ou formato pré-estabelecido, mas por
falta de conhecimento de alguns policiais, acabam isolando apenas o cadáver,
quando na verdade devem isolar além do limite que se encontra o último vestígio.
Sendo um local interno (ambiente fechado), limita-se o acesso de pessoas a
toda a edificação e, se necessário e possível, à área adjacente, mantendo as portas
e janelas da forma como foi encontrada.
Após isolado o local, ninguém, nem mesmo os primeiros policiais, superiores
desses policiais, jornalistas ou parentes da vítima, poderão entrar no local, até a
chegada da Autoridade Policial, devendo para isso os policiais manterem uma
postura vigilante e atenta no isolamento do local.
108

Em caso de chuva pode o policial cobrir os vestígios com lona plástica para
preservá-los o mais próximo da situação que foi deixado pelos perpetradores.

4.8 Comunicação à Central de Operações

Deverá informar à Central de Operações, no caso da Capital e de Várzea


Grande é o CIOSP, no caso do interior do Estado é a Central da própria UPM, via
rádio ou telefone, dando ciência sobre a ocorrência do delito e as providências
tomadas, e solicitando o acionamento da equipe da Polícia Civil e dos Peritos
Criminais (art. 5º do Regulamento), ficando então no aguardo das demais equipes.
De acordo com as normas de cada unidade policial, deve-se também
informar o superior, comandante ou chefe do setor para conhecimento da
ocorrência.

4.9 Chegada da Autoridade Policial (ou equipe de Polícia Civil)

Quando da chegada da Autoridade Policial, ou sua equipe de agentes (pois


nem sempre é o delegado que comparece ao local), o primeiro policial deve procurá-
los para repassar as informações que detêm sobre os fatos, sobre os vestígios
visualizados e sobre as providências que já foram tomadas até aquele momento.
A Autoridade Policial passa a assumir responsabilidades no local, portanto
ele pode entrar na área para confirmar a morte da vítima, bem como reforçar ou
ampliar a área isolada, lembrando que o Regulamento da SEJUSP estabelece a
atribuição à Polícia Militar de isolar e preservar o local, portanto deve permanecer
guarnecendo local.
Qualquer informação obtida no decorrer da intervenção, caso avalie
necessário o conhecimento imediato da Autoridade Policial, deve ser repassado.

4.10 Chegada dos Peritos Criminais

Quando da chegada dos peritos criminais o primeiro policial deve procurá-


los para repassar informações, o estado que se encontrava o local quando de sua
chegada, as providências tomadas, bem como informar qual o trajeto feito para
chegar até a vítima e os vestígios visualizados no percurso.
109

Deve ainda permanecer guarnecendo o local mantendo o isolamento e


segurança dos outros profissionais envolvidos.
Esta fase deve ser ignorada nos municípios onde não possua órgão de
criminalística, ocasião em que a própria Autoridade Policial e seus agentes farão a
constatação em local de crime.

4.11 Reunião de encerramento

O primeiro policial deve permanecer até o momento da liberação do local


pelos Peritos Criminais, quando então não haverá mais necessidade de manutenção
do isolamento do local, podendo desfazer o isolamento e recolher o material
utilizado (art. 8º do Regulamento).
Na ocasião do encerramento, sugere-se a realização de uma reunião com
os representantes de cada órgão participante, onde o primeiro policial deve
participar, quando deve ser retransmitido possíveis informações que tenham sidas
coletadas no andamento da ocorrência, bem como expor os pontos de vista de cada
órgão, para então realmente encerrar as ações no local.

4.12 Confecção do boletim de ocorrência e encerramento

De tudo que aconteceu o primeiro policial deve confeccionar um boletim de


ocorrência constando os dados obtidos, narrando o histórico dos fatos e as
providências tomadas, e constando a natureza conforme se resolveu na reunião de
encerramento, enquadrando no Manual de Codificação de Ocorrências da PMMT,
registrando-o na delegacia competente.
Por final, deverá dar ciência à Central de Operações e/ou superior de
serviço sobre o término da ocorrência policial.

4.13 Tratamento da imprensa

Assim como as demais pessoas, jornalistas e outros profissionais da


imprensa não podem acessar o local de crime até a liberação pelos Peritos
110

Criminais, com isso, os policiais que estão fazendo o isolamento do local devem, de
forma educada, esclarecer sobre o isolamento e sua importância e a necessidade de
preservar rigorosamente os vestígios, bem como solicitar a divulgação sobre essa
necessidade de preservação para conhecimento da população em geral.
Quando de entrevistas sobre o delito em questão, deve comentar de forma
superficial sobre os fatos, evitando emitir opiniões pessoais, e não repassar detalhes
sobre o fato, pois são sigilosos e sua divulgação pode prejudicar a investigação
criminal.
5 Kit local de crime

Para a atuação em local de crime, principalmente com cadáver, se faz


necessário alguns equipamentos, os quais, conforme determina o Regulamento de
Padronização de Procedimentos em Local de Crime, deve ser providenciados pelos
órgãos de segurança pública, criando um “kit local de crime”.
Toda a guarnição, sob fiscalização do comandante da equipe, deve conferir
esses materiais ao assumir o serviço, e zelar enquanto estiver em sua guarda.
Se possível, ao final de cada ocorrência, recolhê-los para utilização em
futuras ocorrências, evitando-se ao máximo o desperdício, principalmente com a fita
zebrada.
111

APÊNDICE B – Questionário aos Peritos Criminais

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO


CENTRO DE CAPACITAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E PESQUISA
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR COSTA VERDE
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA

QUESTIONÁRIO AOS SENHORES PERITOS CRIMINAIS QUE REALIZAM


LEVANTAMENTO DE LOCAL DE CRIME

O presente questionário tem por finalidade subsidiar o Trabalho Monográfico


de Conclusão do Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública, cujo
tema é sobre a qualidade do procedimento do policial militar em local de crime com
cadáver.
São apenas cinco perguntas, e as respostas serão de relevante valor para se
conhecer a real situação do assunto pesquisado.
Não se faz necessária a sua identificação, portanto sua identidade estará
resguardada, podendo responder com sinceridade.
Desde já agradeço.
Capitão PM Fábio Luiz Bastos

1. Na sua concepção, o desempenho dos Policiais Militares (PMs) no isolamento


e preservação de local de crime com cadáver (homicídio, suicídio, morte natural,
morte acidental, etc.) é:
( ) Excelente
( ) bom
( ) ruim
112

( ) péssimo

2. Como o (a) senhor (a) avalia o nível de integração entre os PMs e os Peritos
Criminais quando da atuação em local de crime com cadáver?
( ) Excelente
( ) Bom
( ) Ruim
( ) Péssimo
3. Na sua visão, qual o percentual de vezes que o perito encontra os locais de
crime com cadáver inidôneo por falha dos Policiais Militares? (marcar apenas um).
( ) 10% ( ) 60%
( ) 20% ( ) 70%
( ) 30% ( ) 80%
( ) 40% ( ) 90 %
( ) 50 % ( ) 100%

4. Na sua visão, qual é a principal falha do PM no isolamento e preservação de


local de crime com cadáver? (marcar apenas um).
( ) Deixar a imprensa entrar no local;
( ) Deixar parentes da vítima entrar no local;
( ) O próprio PM mexer no cadáver para colher informações;
( ) O PM recolher a arma do crime;
( ) O PM ficar andando pelo local;
( ) O PM mexer nos vestígios;
( ) O PM deixar material no local (como bituca de cigarro, etc.);
( ) Outro ___________________________________________________________

5. O (a) senhor (a) se considera satisfeito com a qualidade dos procedimentos


dos PMs em local de crime com cadáver?
( ) Sim
( ) Não
( ) Em parte
113

Porque?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_____________________________________________________________

APÊNDICE C – Questionário aos Policiais Militares

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO


CENTRO DE CAPACITAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E PESQUISA
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR COSTA VERDE
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA

QUESTIONÁRIO ÀS PRAÇAS DA POLÍCIA MILITAR

O presente questionário tem por finalidade subsidiar o Trabalho Monográfico


de Conclusão do Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública, cujo
tema é sobre a qualidade do procedimento do policial militar em local de crime com
cadáver.
São apenas seis perguntas, e as respostas serão de relevante valor para se
conhecer a real situação do assunto pesquisado.
Não se faz necessária a sua identificação, portanto sua identidade estará
resguardada, podendo responder com sinceridade.
Desde já agradeço.
Cap PM Fábio Luiz Bastos

1. Que curso da corporação você já realizou em sua carreira?


( ) Curso de Aperfeiçoamento de Sargento (CAS);
( ) Curso de Formação de Sargento (CFS);
( ) Curso de Formação de Cabo (CFC);
( ) Curso de Formação de Soldado ( CFSD).
114

2. Como você classifica a instrução sobre isolamento e preservação de local de


crime ministrada durante seu curso de formação / aperfeiçoamento?
( ) Excelente
( ) Bom
( ) Ruim
( ) Péssima
( ) No meu curso não teve instrução sobre esse assunto
3. Você conhece o Regulamento de Padronização de Procedimentos em Local
de Crime, instituído pela SEJUSP em 2005?

( ) Sim
( ) Não

4. Você já atendeu alguma ocorrência com cadáver (homicídio, suicídio, morte


acidental, morte natural, etc.)?
( ) Sim
( ) Não

5. Caso tenha atendido, nesse atendimento quais foram os instrumentos e


equipamentos utilizados para o isolamento e preservação do local de crime?
( ) Cone
( ) Fita zebrada
( ) Corda
( ) Cavalete
( ) Somente a presença do policial
( ) Viatura
( ) Material improvisado, qual:___________________________________________

6. Pela sua experiência profissional, como você avalia, de uma forma geral, a
qualidade do procedimento dos policiais militares de isolamento e preservação de
local de crime com cadáver?
115

( ) Excelente
( ) Bom
( ) Ruim
( ) Péssimo

Se tiver algum comentário a fazer:


___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________________________________________________________________
APÊNDICE D – Entrevista com o Corregedor Geral da PMMT

ENTREVISTA COM O SR. CORREGEDOR GERAL DA POLÍCIA MILITAR DO


ESTADO DE MATO GROSSO

Aos doze dias do mês de junho do ano de dois mil e oito, às 11:30 horas,
nas dependências da Corregedoria Geral da Polícia Militar, prédio da SEJUSP, foi
realizada a entrevista com o Sr. Cel PM Raimundo Francisco de Souza, Corregedor
Geral da PMMT, referente ao tema “qualidade do procedimento policial militar de
isolamento e preservação de local de crime com cadáver”, com três perguntas pré-
formuladas, cujas respostas foram gravadas e transcritas, como se vê à baixo:

PERGUNTA 01: Pelo conhecimento que o Sr. tem na área de criminalística


e pela experiência profissional do Sr. na função de Corregedor Geral, como o Sr.
classifica, de uma forma geral, o nível de qualidade do procedimento policial militar
de isolamento e preservação de local de crime com cadáver na capital?
RESPOSTA: Relativo a essa pergunta, eu entendo que a qualidade não é
boa, não por falta de conhecimento, porque os policiais militares, oficiais e praças,
recebem as informações e orientações durante os cursos, e sabem que devem
preservar o local de crime, mas infelizmente, a maioria dos locais de crime não são
preservados, porque o que eu tendo como preservação de local de crime é ninguém
entrar no local, nem mesmo o policial militar, deve isolar o local, se for local fechado,
isola na porta, se for local aberto isola o mais distante possível, aonde o policial
entende que há vestígios do crime, infelizmente a maioria das vezes, principalmente
nos encontros de cadáver, que é o tema de seu trabalho, o policial vai verificar a
116

identidade da vítima, mexendo em seu bolso para pegar a identidade, sendo que
isso não é preciso naquele momento, pois o que não deveria ter ocorrido já ocorreu,
que é a morte da vítima, o que resta ao policial militar é preservar o local o máximo
possível, a partir daí é papel da perícia criminal, que vai identificar, verificar
documentos, características pessoais, infelizmente ocorre isso, não se deixa a
imprensa entrar, não deixa outras pessoas entrar, mas o próprio policial altera o
local e os vestígios, pois uma marca de seu coturno pode prejudicar, uma pequena
marca, um papel de balinha pode elucidar o crime, uma embalagem de cigarro, pois
umas pessoas fumam determinado tipo de cigarro, outros não gostam de fumar, cito
o exemplo de uma senhora que roubou uma criança em Goiás, onde a identificação
da senhora foi feita através de uma “bituca” de cigarro jogada no lixo; um fio de
cabelo, um pelo pubiano pode definir o autor de um estupro seguido de morte, e que
se o policial não tomar os devidos cuidados, pode pisar em cima e levar o vestígio
grudado em seu coturno; então no meu entender o procedimento é ruim, e não por
falta de conhecimento dos policiais, mas por falta de responsabilidade, de cumprir as
regras de atendimento de local de crime, porque todos policiais conhecem e sabem,
e também não é por falta de material, pois pode-se usar “meios de fortuna”; as
outras provas que são colocadas no inquérito, como a testemunha, é conhecida
como a “prostituta das provas”, e a prova pericial é a prova cabal, e em nosso país
não se dá tanto valor a prova material, mas em outros países menos desenvolvidos
que o nosso, o próprio policial coleta os vestígios, já iniciando os serviços periciais, a
Colômbia, por exemplo, que a justiça não aceita inquérito somente com provas
testemunhais, é preciso a prova material, e a própria polícia já faz esse serviço de
coleta, aqui no Brasil nós temos um outro órgão que faz isso, que é o Instituto de
Criminalística, mas nós temos que fazer a nossa parte, que é,no mínimo, preservar.

PERGUNTA 02: É de conhecimento geral que vem acontecendo falhas nos


procedimentos de isolamento e preservação de local de crime, a que o senhor atribui
a ocorrência dessas falhas?
RESPOSTA: Eu já dei aula de criminalística, e entendo que as falhas não
ocorrem por falta de conhecimento, pois em todos os cursos de formação se
aprende, e todos nós sabemos que é preciso preservar um local de crime, seja com
cadáver ou não, o que o policia tem que fazer é preservar e, no máximo ouvir as
117

pessoas no local, para passar ao perito, entendo que é por falta de responsabilidade
em cumprir as regras referente ao local de crime.

PERGUNTA 03: Na visão do senhor, o que é preciso ser feito para melhorar
a qualidade do procedimento do policial militar de isolamento e preservação de local
de crime?
RESPOSTA: Além de conscientizarmos nossos policiais que isso é
importante, e essa consciência não passa pelo crivo de apenas dizer a ele que é
importante, mas também o órgão pericial dar retorno à polícia mostrando que aquela
preservação que ele fez deu resultado, transformando-se em prova material e
identificando a autoria, e com isso o policial vê e entende que isso é realmente
necessário, então os Oficiais tem que orientar diariamente batendo nessa tecla que
é necessário preservar os locais de crime, e finalmente começar a responsabilizar, o
próprio Ministério Público, ao receber o inquérito, e verificando que consta no laudo
pericial que o local não foi preservado, ele pode fazer o efeito regressivo em
desfavor daqueles primeiros agentes do Estado que chegou primeiro no local,
devendo ser responsabilizados pela justiça, pois prejudicaram uma investigação.
118

APÊNDICE E – Entrevista com Delegada da DHPP

ENTREVISTA COM A DRA. SILVIA MARIA PAULUZI


DELEGADA DE POLÍCIA LOTADA NA DELEGACIA ESPECIALIZADA DE
HOMICÍDIOS E PROTEÇÃO À PESSOA

Aos doze dias do mês de junho do ano de dois mil e oito, às 15:30 horas,
nas dependências da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa,
foi realizada a entrevista com a Dra. Silvia Maria Pauluzi, Delegada de Polícia lotada
na DHPP, neste ato representando o Delegado Titular Dr. Márcio Pieroni, referente
ao tema “qualidade do procedimento policial militar de isolamento e preservação de
local de crime com cadáver”, com quatro perguntas pré-formuladas, cujas respostas
foram gravadas e transcritas, como se vê à baixo:

PERGUNTA 01: Na concepção da Sra., como delegada da DHPP, portanto


cliente do serviço de isolamento e preservação de local de crime com cadáver, como
a Sra. classifica a qualidade do procedimento policial militar de isolamento e
preservação de local de crime com cadáver na capital? E porque?
RESPOSTA: É muito precária, a falta tanto na Polícia Militar, quanto na
Polícia Civil, mas principalmente na Polícia Militar, pois quando a DHPP é acionada,
a Polícia Militar, que é a polícia ostensiva, ela é a primeira a chegar no local de
crime, raramente é a Polícia Civil a primeira a chegar a um local de crime, e nós
temos muita dificuldade com isso, já foram encaminhados vários ofícios para o
comando da PM para que haja uma melhor orientação, até os próprio peritos já
119

disseram que fizeram palestras para os PMs; quando a gente chega no local a gente
depara com os PMs fazendo o isolamento sem a fita zebrada, então a primeira coisa
que eu faço no local é colocar a fita zebrada, porque normalmente a PM não tem
essa fita zebrada; muitos não tem conhecimento, claro que não é obrigado a ter
conhecimento jurídico de saber até onde se estende um local de crime, porque as
vezes aconteceu uma briga dentro de um bar, e a vítima é atirada na rua, então o
local de crime não é somente não rua onde estava o cadáver, e tem alguns
profissionais que não tem esse conhecimento e isolam somente o corpo, e não
sabem que local de crime é todo local onde ficaram vestígios; muitos policiais
também mexem no corpo naquela ânsia de fazer seu boletim de ocorrência, mexem
na vítima para pegar sua carteira para pegar documentos, então não existe uma
política de ensinamento para que esses policiais cheguem no local e se atenham a
isolar o local e deixar que quando os peritos não chegarem, eles mexam e
identifiquem a vítima, isso vai influenciar na dinâmica do laudo, nos locais que
existem impressões digitais a serem colhidas, principalmente em veículo, a situação
é pior, porque todos os policiais mexem e acabam deixando suas impressões
digitais.

PERGUNTA 02: Como a Sra. avalia o nível de integração entre Policiais


Militares e Policiais Civis quando da atuação em local de crime com cadáver?
RESPOSTA: Na minha visão, a integração sempre teve, quando eu chego
em um local de crime os PMs passam as informações que possuem, e eu nunca tive
problema, e acredito que os outros delegados da DHPP também não tem nada a
reclamar sobre isso, os PMs sempre ajudam com informações colhidas no bairro,
porque a PM é a polícia do bairro, é a polícia que faz a ronda, então ela tem mais
informações, e sempre passam essas informações para a gente, então existe essa
integração.

PERGUNTA 03: Na sua visão, quais são as principais falhas dos policiais
militares quando do isolamento e preservação nos locais de crime com cadáver?
RESPOSTA: é a contaminação de provas, pois a partir do momento que o
policial chega no local e começa a manusear os vestígios, está contaminando as
provas, por exemplo, quando se tem um suspeito, e tem as impressões digitais
120

colhidas no local, pode-se fazer o confronto e chegar a autoria, mas se as provas


estiverem contaminadas, fica prejudicado.

PERGUNTA 04: qual a estrutura da DHPP?


RESPOSTAS: temos cinco delegados, sendo um delegado titular e quatro
delegados que instauram inquérito e tiram plantão 24 horas, cada um com sua
equipe, para atuarem em Cuiabá em Várzea Grande, em todos os casos com
cadáver, com exceção dos casos que está evidente que não se trata de um crime.

APÊNDICE F – Entrevista com o Superintendente da POLITEC

ENTREVISTA COM O SR. ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA


SUPERINTENDENTE DA PERÍCIA OFICIAL E IDENTIFICAÇÃO TÉCNICA

Aos dezessete dias do mês de junho do ano de dois mil e oito, às 11:30
horas, na Superintendência da POLITEC, no prédio da SEJUSP, foi realizada a
entrevista com a Sr. Antônio Carlos de Oliveira, Superintendente da POLITEC,
referente ao tema “qualidade do procedimento policial militar de isolamento e
preservação de local de crime com cadáver”, com três perguntas pré-formuladas,
cujas respostas foram gravadas e transcritas, como se vê à baixo:

PERGUNTA 01: Na concepção da Sr., como Superintendente da POLITEC,


como o Sr. classifica a qualidade do procedimento policial militar de isolamento e
preservação de local de crime com cadáver na capital? E porque?
RESPOSTA: Eu acredito que, tendo em vista alguns cursos já ministrados
de maneira integrada com todas as polícias e órgãos ligados a segurança pública,
tem melhorado bastante, mas acredito que não estão supridas todas as falhas com
relação ao isolamento e preservação de local de crime, principalmente porque, às
vezes, falta algum item na estrutura, como, por exemplo, não afixar a fita zebrada
em local distante do cadáver, desta forma deixando os populares chegarem bem
próximo do corpo da vítima.
121

PERGUNTA 02: Na visão do senhor, quais seriam as principais falhas dos


PMs no isolamento e preservação de um local de crime com cadáver?
RESPOSTA: Ainda ocorre muito de todos os policiais envolvidos na
ocorrência estarem dentro da área de isolamento, o que pode ocasionar a
contaminação dos vestígios, outro falha seria a mudança de local de alguns
vestígios dentro do local de crime, às vezes por curiosidade dos policiais que
chegaram primeiro no local, e isso tudo prejudica a conclusão do exame pericial, às
vezes só de o policial tocar na arma de um crime, já vai tirar a possibilidade de
impressão digital, ou o posicionamento que essa arma parou no local, cito como
exemplo um caso antigo de que quando o perito chegou no local, a arma não estava
na cena do crime, e em um segundo momento, quando os peritos foram tirar as
fotografias, a arma apareceu sobre a vítima.

PERGUNTA 03: No entendimento do senhor, o que poderia ser feito para


estar melhorando esse procedimento de isolamento e preservação de local de crime
com cadáver, por parte dos PMs?
RESPOSTA: Só vai melhorar a medida que for sendo praticado em
treinamentos, e essa troca de informações entre as instituições para saber quais são
as falhas para que possam melhorá-las, infelizmente a sobrecarga de ocorrências é
tão grande que não permite ao final da cena de crime ser realizada uma reunião
entre os órgãos envolvidos para expor as principais falhas cometidas naquela
ocasião. Seria também salutar a participação da POLITEC na Academia de Polícia
Militar, pois na Academia da Polícia Civil nós temos uma grande participação.
122

ANEXO A – Mapa das Regiões da POLITEC no Estado

PRESENÇA DA POLITEC NO ESTADO DE MATO GROSSO


Regiões e Cidades Pólos sede de Coordenadoria Regional de POLITEC

Fonte: POLITEC/MT

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