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Índice
Í
CAPA Habitação

No início do século passado, cerca de 10% da população vivia em


cidades. No início do século XXI, eram mais de 80%. Com a urbanização,
a expectativa de vida dos brasileiros passou de 40 para 70 anos, nas
últimas seis décadas. Nesse período, também o analfabetismo e a
mortalidade infantil diminuíram graças ao acesso aos serviços de
educação e saúde. Mas o inchaço dos centros urbanos também trouxe
problemas graves: violência, degradação natural e perigo, muito perigo
para milhares de famílias que vivem em áreas de risco.

30

Logo ao término da reunião de pauta da edição número 3 da Revista Novo Am-


biente, o esb oço da capa já estava pronto, como um rascunho despretensioso
de um aluno que rabisca enquanto os professores falam. A arte, produzida pelo
nosso designer Rafael Chueire, ganhou a simpatia imediata de toda a equipe por-
que expõe de forma leve, mas não leviana, um problema sério. Típico do Chueire,
nosso chefe de diagramação que nos empresta seu talento nesta ilustração.
08 No meio

10 Desertificação
Nossos primeiros desertos
12 Tecnologia
Carrão na tomada
14 Eleições 2010
O Brasil que queremos na visão deles
30 Capa
Mundo (mal) ocupado
34 Proteção
18
Capa
Tragédia anunciada
Áreas de preservação
40 Capa Patrimônio biodiverso
Cidades sustentáveis
46 Capa
São Paulo 2010, 42 milhões de habitantes
54 Supermercados
Super
62 Lixeira
Papa-lixo
66 PCH
Pequenas notáveis
70 Queimadas
O fim do fogo?
74 Químicos
Economia
24
Sabão mais limpo
76 Castanha do Pará ISE
O que é que a castanha tem?
Lucro responsável
80 Coluna
Delson Amador
82 Bahia
Bahia desconhecida
86 Coluna
Svetlana Maria
88 Coluna
Edemar Gregorio
90 Dicas
Tome uma atitude
92 Velho Ambiente
Resíduos
94 Repercussão
Manejo do Parque do Monge Plano nacional 56
96 Lente Limpa O lixo nosso de cada dia
Paulo Negreiros
98 Da Redação
5 Agosto/2010
Editorial
E
Uma publicação da Novo Ambiente Editora e Produtora Ltda.
CNPJ/MF.: 12.011.957/0001-12
Rua Professor João Doetzer, 280 - Jardim das Américas - 81540-190 - Curitiba/PR
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S
Ano 1 - Edição 03 - Agosto/2010 - Distribuição dirigida e a assinantes
JORNALISTA RESPONSÁVEL - Carlos Marassi eja bem-vindo a mais esta edição da Revista
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revisão - Karina Dias Occaso Novo Ambiente! A cada página, a cada maté-
Impressão - Posigraf A tiragem desta edição de 20.000 exemplares ria fechada em nossa Central de Jornalismo,
é comprovada pela BDO Auditores Independentes.
Tiragem - 20 mil exemplares
vamos calibrando o tom que pretende balizar nossa
Diretor Geral
Dagoberto Rupp
linha editorial.
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Sempre levaremos as experiências acumuladas na
Jaqueline Karatchuk Paula Santos década de jornalismo segmentado que a Rodovias &
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comercial (DEC)
Vias nos proporcionou. E entre os exemplos que fi-
Paulo Roberto Luz João Augusto Marassi cam, o da cultura de imersão é talvez o mais relevan-
paulo@revistanovoambiente.com.br joao@revistanovoambiente.com.br
João Claudio Rupp Fábio Eduardo C. de Abreu te. Jamais o “transporte fácil de ideias alheias”, tão
joaoclaudio@revistanovoambiente.com.br fabio@revistanovoambiente.com.br
João Rodrigo Bilhan Paulo Negreiros
comum nestes tempos de internet em banda larga e
rodrigo@revistanovoambiente.com.br negreiros@revistanovoambiente.com.br criatividade curta. Nada vai substituir o trabalho in
ASSINATURAS loco de nossos jornalistas e fotógrafos, pois é do con-
Mari Iaciuk - mari@revistanovoambiente.com.br
Daiane Kelly de Oliveira - daiane@revistanovoambiente.com.br tato com as realidades por nós retratadas que surge a
Mônica Cardoso - monica@revistanovoambiente.com.br
sensibilidade para aprofundar e dar credibilidade ao
Central de Jornalismo
Edemar Gregorio Juvino Grosco
que publicamos.
edemar@revistanovoambiente.com.br jgrosco@revistanovoambiente.com.br
Rafael de Azevedo Chueire Juliano Grosco
Lançamos nossas lentes e letras no caos habita-
rafael@revistanovoambiente.com.br
Fernando Beker Ronque
juliano@revistanovoambiente.com.br
Marcelo C. de Almeida
cional que ainda assola milhões de irmãos menos as-
fernando@revistanovoambiente.com.br marcelo@revistanovoambiente.com.br sistidos em nossa pátria. Palmilhamos os escombros
Davi Etelvino Alexsandro Hekavei
davi@revistanovoambiente.com.br alex@revistanovoambiente.com.br das ocupações irregulares, paramos em iniciativas
Leandro Dvorak
leandro@revistanovoambiente.com.br
Lucyo Eduardo P. A. de Oliveira
lucyo@revistanovoambiente.com.br que apontam na direção de dias melhores. Como um
Paulo Negreiros
negreiros@revistanovoambiente.com.br
Ricardo Adriano da Silva
ricardo@revistanovoambiente.com.br
bom exemplo, participamos em Cubatão, a convite da
Leonardo Pepi Santos Tiago Casagrande Ramos Secretaria de Habitação do Estado de São Paulo, da
leo@revistanovoambiente.com.br tiago@revistanovoambiente.com.br
Leonilson Carvalho Gomes Oberti Pimentel entrega de residências-modelo às populações que vi-
leonilson@revistanovoambiente.com.br
Estanis Neto
oberti@revistanovoambiente.com.br
Uirá Fernandes
viam em risco e comprometiam o ecossistema da Ser-
estanis@revistanovoambiente.com.br uira@revistanovoambiente.com.br ra do Mar, no litoral paulista.
Marcelo Ferrari Aélcio Luiz de Oliveira Filho
ferrari@revistanovoambiente.com.br aelcio.filho@revistanovoambiente.com.br Importante, também, foi abordar a questão do lixo
ilustrações Webdesign
e suas mazelas sociais e apontar avanços na nova lei
Fernando Beker Ronque
fernando@revistanovoambiente.com.br que pretende reorganizar a relação que nossa socie-
conselho editorial dade tem com ele.
Dagoberto Rupp João Augusto Marassi
dagoberto@revistanovoambiente.com.br joao@revistanovoambiente.com.br Vem da gigante do minério, a multinacional bra-
João Rodrigo Bilhan Fábio Eduardo C. de Abreu
rodrigo@revistanovoambiente.com.br fabio@revistanovoambiente.com.br sileira Vale, o exemplo de equilíbrio entre forças do
Carlos Marassi Paulo Negreiros
marassi@revistanovoambiente.com.br negreiros@revistanovoambiente.com.br capitalismo e da natureza. Aproveitamos para dar iní-
Paulo Roberto Luz
paulo@revistanovoambiente.com.br
Marilene Velasco
mara@revistanovoambiente.com.br
cio a um ciclo de matérias que abordará a valorização
João Claudio Rupp Edemar Gregorio de papéis na Bolsa de Valores de empresas que com-
joaoclaudio@revistanovoambiente.com.br edemar@revistanovoambiente.com.br
Bem estar
põem o ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial.
Clau Chastalo Maria Telma da C. Lima
clau@revistanovoambiente.com.br telma@revistanovoambiente.com.br
Ana Cristina Karpovicz Paulo Fausto Rupp
cris@revistanovoambiente.com.br
Maria C. K. de Oliveira
paulofausto@revistanovoambiente.com.br Boa leitura!
Dagoberto Rupp Filho
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Colaboradores
Priscila Stefen Flávio Jacobsen

Central de jornalismo

FSC
Artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da Revista, sendo de total responsabilidade do autor.
7 Agosto/2010
Bilhões economizados
A Siemens acaba de divulgar que suas soluções de energia efi-
ciente, utilizadas para otimizar mais de 6.500 edifícios em todo o
mundo, já conseguiram economias totais de energia de cerca de
2 bilhões de euros, com redução de 1,2 milhão de toneladas de
emissões anuais de CO2. Segundo a empresa, os edifícios são res-
ponsáveis por cerca de 40% de todo o consumo de energia no mun-
do e seu consumo de energia e calor é responsável por aproximada-
mente 21% de todas as emissões de gases de efeito estufa.

No meio
Quantos somos?
Quantos somos e como vivemos em 2010? Essa são algumas
das perguntas que o 12º Censo Demográfico Brasileiro, que come-
çou no último dia 2 de agosto, vai ajudar a responder. Os números
que serão revelados nortearão muitas ações políticas, econômi-
cas, sociais e ambientais da próxima década brasileira. O último
censo nacional foi em 2000, e, de lá para cá, lidamos com números
de projeções. Os resultados do novo censo saem em dezembro.
Veja alguns números do Censo 2010, promovido pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):

• universo a ser recenseado: todo o território nacional;


• número de municípios: 5.565;
• número de domicílios: aproximadamente 58 milhões;
• número de setores censitários: 314.018;
• pessoal a ser contratado e treinado: cerca de 240 mil pessoas;
• orçamento previsto: R$ 1,4 bilhão.
Fonte: IBGE

Agosto/2010 8
Quão satisfeitos estão com suas comunidades:

Holanda 85%
Canadá 83%
Austrália 82%
Índia 76%
Satisfaction Alemanha 74%
Estados Unidos 73%
A multinacional francesa de pesquisa Ipsos aca- Grã-Bretanha 72%
ba de publicar um levantamento sobre a satisfação Argentina 63%
das pessoas com seus países. Foram mais de 26 mil Brasil 61%
pessoas entrevistadas em 23 países. Segundo a Ipsos, França 56%
61% dos brasileiros disseram estar satisfeitos com os Itália 52%
locais onde vivem, apontando como prioridade para Rússia 49%
o desenvolvimento de sua comunidade os serviços de Japão 48%
saúde (62%), as oportunidades de trabalho (56%) e o China 46%
controle da criminalidade (56%). Coreia do Sul 34%

Megadiversos
O Brasil tem um dos mais importantes compromissos sos, do qual fazem parte África do Sul, Bolívia, China, Colôm-
ecofinanceiros para definir se vai estar mesmo entre as cin- bia, Congo, Costa Rica, Equador, Filipinas, Índia, Indonésia,
co maiores potências econômicas do globo. É o momento de Madagascar, Malásia, México, Peru, Quênia e Venezuela, ou
adotar uma postura forte e inteligente diante da biodiversi- seja, países em desenvolvimento. A expectativa é que sejam
dade e de tudo o que ela representa. Em outubro, realiza-se definidas políticas bem claras sobre a biodiversidade e seu
no Japão a 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre mercado. Os países com grande diversidade, via de regra em
Diversidade Biológica (COP-10/CDB), da Organização das desenvolvimento, querem leis mais rigorosas quanto à ques-
Nações Unidas (ONU), que reunirá 191 países-membros. tão de direitos e patentes; já os desenvolvidos, que devem
Considerado o país mais rico em diversidade do planeta, o fazer corpo mole para o assunto, querem mais liberdade
Brasil pertence a um grupo seleto denominado Megadiver- para pesquisas e obtenção de patentes.

Exposucata
De 28 a 30 de setembro, será realizada no Centro
de Exposições Imigrantes a 5ª Exposucata, o maior
encontro sobre reciclagem da América Latina. Cerca
de 60 empresas devem expor produtos, equipamen-
tos e soluções para o processamento de recicláveis
em escala industrial. O evento abordará temas como
incentivos tributários para a atividade de reciclagem,
a reciclagem de equipamentos eletrônicos, o impacto
da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos sobre o
setor, entre outros.

9 Agosto/2010
Solo Desertificação

Nossos primeiros

H
á anos o Brasil já tem
seus primeiros núcle-
os de desertificação
intensa reconhecidos. São o olho
de um deserto que se torna maior
a cada ano. Os últimos estudos
do Ministério do Meio Ambiente
apontam que o processo de de-
sertificação grave ou muito grave
já atinge quase 200 mil km2 no
Nordeste, Minas Gerais e Espírito
Santo. Mais de 100 países sofrem
com o problema.

A ONU proclamou a Década das Nações


Unidas para os Desertos e Luta contra a
Desertificação (UNDDD, em inglês), no último
dia 16, em Fortaleza, no Ceará, durante a
Segunda Conferência Internacional: Clima,
Sustentabilidade e Desenvolvimento em
regiões Semiáridas (ICID 2010).

Agosto/2010 10
Mais de 30 milhões de brasileiros são di-
Os estudos indicam que 18% do retamente atingidos pelo processo de deserti-
semiárido está em processo grave ou ficação. Essas pessoas vivem em uma região de
muito grave de desertificação. 1,3 milhão de km², situada nos estados do Nordes-
te, Minas Gerais e Espírito Santo, marcada pela falta de
água e dificuldade de produção de alimentos. Desta
área, 180 mil km² já estão se encaminhando para se
tornarem desertos.
O bioma Caatinga, por exemplo, sofre com a pres-
são do carvão utilizado pela indústria do gesso, cerâ-
mica, siderurgia e uso doméstico. Este bioma é o único
exclusivamente brasileiro, rico em biodiversidade, mas
que já perdeu 45% de sua cobertura vegetal.

Principais causas da desertificação


 
• Extrativismo
Vegetal (extrativismo de madeira) e mineral

• Desmatamento desordenado

• Queimadas

• Indústria
Olarias/Panificação

• Pastoreio
(Superpastoreio/Sobrepastoreio)
90% dos pastos usam a Caatinga  (densidade populacional)

• Agricultura - Uso intensivo do solo na agricultura


(Irrigação mal conduzida\ Manejo e utilização
incorreta do solo - salinização)

1.Gilbués/PI 2.Irauçuba/CE 3. Seridó/RN 4. Cabrobó/PE


Área em km2 Área em km2 Área em km2 Área em km2
6.131 4.000 2.341 5.960

Região devastada Ocupação Solos aluviais utili- O solo frágil não su-
por mineradoras. desordenada do solo. zados para extração portou a pecuária e a
de argila e lenha. agricultura.
CARROS Tecnologia

Carrão na

Uma estrela de cinema iluminou a cena automobilística mundial no início


deste mês. Trata-se do Volt, o carro elétrico da General Motors que “viveu” o
papel de Jolt em Transformers 2 e chega ao mercado americano, no final do
ano, com o preço fixado em US$ 41 mil. A boa notícia é que ele faz parte do
grande incentivo que o governo de Barack Obama está dando para soluções
renováveis na indústria automobilística, e a isenção da taxa sobre o Volt pode
chegar a US$ 7,5 mil, o que pode reduzir o custo ao consumidor para US$ 33,5
mil (pouco mais de R$ 62 mil).

Foto: Divulgação

Agosto/2010 12
A
tecnologia arrojada foi desenvolvida para poupar
recursos naturais e diminuir as emissões. Além do
motor elétrico (com autonomia de 64 km), possui
um motor a combustão, usado para mover o carro e re-
carregar a bateria quando ela esvaziar.
A General Motors (GM), que durante muito tempo
foi sinônimo de carro grande e gastador de com-
bustível, ainda pisa com cuidado no terreno
dos combustíveis alternativos e informou
que serão produzidas, inicialmente,
10 mil unidades por ano, que só
serão vendidas nos estados
de Nova York, Texas e
Califórnia.

• Autonomia
Com o auxílio do motor a combustão, o veículo pode
fazer até 97 km com um litro de combustível, tendo
autonomia total de cerca de 510 km até achar uma to-
• Na tomada mada.
O Volt pode ser recarregado em uma tomada de 110
volts, necessitando de oito horas para carregar as ba-
terias, que têm autonomia de 64 km. Estudos da GM • Potência elétrica
apontam que 78% dos americanos percorrem em tor- As 220 baterias de íon-lítio dão ao motor uma po-
no dessa distância (40 milhas) e assim poderiam fazê- tência de 150cv e oferecem uma generosa garantia:
-lo sem gastar uma gota de gasolina. oito anos ou 160 mil km. O Volt chega a 160 km/h.

• Dois motores • Preço


O carro possui dois motores, um elétrico e um a combus- Com a isenção fiscal, o Volt chega aos EUA custando cer-
tão, movido a E-85 (85% de etanol e 15% de gasolina, po- ca de U$ 33,5 mil. A GM está confiante no sucesso do
luindo muito menos), que começa a funcionar depois que automóvel e já anunciou planos de parcelamento em 36
o motorista rodar os 64 km de autonomia elétrica. vezes de U$ 350.

13 Agosto/2010
política Eleições 2010

O Brasil que queremos...


Ilustrações: Revista Novo Ambiente/Marco Jacobsen

...na visão deles

15 Agosto/2010
C
om maior ou menor entusiasmo, quase 136
milhões de brasileiros exercerão no dia 3 de ou-
tubro próximo uma das maiores conquistas da
Os 25 anos de democracia brasi- sociedade moderna, o sufrágio universal. Pela primeira vez
desde a redemocratização do país que viveu sob as hostes
leira foram suficientes para impri- militares por 21 anos, o eleitor não encontrará a figura do
mir na alma de nosso povo valores presidente Lula na urna eletrônica.
Como a prática é irmã da perfeição, aos poucos va-
fundamentais para a construção mos aprendendo a exigir mais dos candidatos e, numa
de um país mais próspero e justo. velocidade menor, vamos tentando fazer a assepsia ne-
cessária na política nacional. Caminhar se aprende cami-
A busca pelo comportamento éti- nhando, e se já não usamos as mesmas palavras de or-
co (e para entender o que isso sig- dem de outrora, ao menos estamos mais educados para
o exercício de nossos direitos e deveres cívicos (conceito
nifica na prática), seja dos eleito- pouco usado nestes tempos, mas que fazia a festa dos se-
res, seja dos políticos, é árdua por nhores de cuturno).
Não há dúvida sobre a importância ambiental no cerne
natureza, mas é nela que deposi- das discussões sobre a definição de um futuro muito próxi-
tamos nossas confianças de con- mo, mesmo porque a economia, a agricultura, a saúde públi-
ca e todo o bem-estar do brasileiro vão depender da harmo-
quistas consistentes e duradouras, nia com que ele convive com a natureza.
A sustentabilidade é a chave que abre esta nova era
como o próprio direito ao voto. de escassez dos recursos naturais e permeia os discursos,
as propostas e os planos de governo, ainda em constru-
ção. Os três candidatos com maiores intenções de votos,
Dilma Roussef (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV),
pensam mais ou menos assim:

Foto: Divulgação

Agosto/2010 16
Dilma Rousseff José Serra Marina Silva
Promete fortalecer práticas de O candidato lembra que, se Com duras críticas ao novo Có-
equilíbrio ambiental reduzindo o chegamos a uma situação confor- digo Florestal, as posições firmes
desmatamento e impulsionando tável hoje, foi porque houve o equi- de Marina Silva em defesa do meio
a matriz energética mais limpa do líbrio de uma situação econômica ambiente já lhe custaram muitas
mundo, mantendo a vanguarda na- que gerava desigualdade, pobreza brigas. Apesar de perder algumas,
cional na produção de biocombus- e degradação. Enquanto governa- Marina cresceu com o tema, e de
tíveis e desenvolvendo o potencial dor de São Paulo, Serra deu a pro- seringueira chegou a Senadora
hidrelétrico. Pretende, assim, cum- fundidade às questões ambientais. pelo estado do Acre. A defesa da
prir as metas voluntárias assumidas Criou em São Paulo 21 programas autossustentabilidade e desmata-
na Conferência do Clima, haja ou ambientais, que vão do saneamen- mento zero são as linhas de frente
não acordo internacional. No en- to a ações consistentes contra o das suas propostas para o meio
tanto, não é segredo que sua posi- desmatamento na Amazônia. Suas ambiente. Prevê o fim da expansão
ção desenvolvimentista se demons- políticas para a redução de emis- da fronteira agrícola com investi-
trou prioritária em relação à prote- sões de poluentes, melhoria na mento em tecnologia para aumen-
ção ambiental, motivo de conflito qualidade do ar e das águas devem tar a (baixa) produtividade em ter-
entre Dilma enquanto Ministra da ser repetidas em todo o Brasil caso ras brasileiras.
Casa Civil e Marina Silva enquanto Serra ganhe as eleições.
Ministra do Meio Ambiente

17 Agosto/2010
PROTEÇÃO Áreas de Preservação

Patrimônio
biodiverso

Agosto/2010 18
Fotos: João Marcos Rosa/Agência Vale

Diante da acelerada perda de biodiversidade em todo o planeta, as grandes


empresas passam a desempenhar um papel fundamental na conservação de
áreas nativas remanescentes. No Brasil, a Vale do Rio Doce é a empresa que
protege o maior número de hectares de unidades de conservação, assumindo
uma responsabilidade que deveria rapidamente ser imitada por outras.

Onça-pintada (Panthera onca)


no Parque Zoobotânico, Pará.

19 Agosto/2010
O
Brasil é considerado a maior potência
mundial em biodiversidade, mas por aqui
muitos ainda não entenderam os recados
do futuro e continuam na Era Medieval, transforman-
do árvores em lenha em vez de lucrar no mercado
verde, sustentável por natureza. A biodiversidade es-
conde todas as chaves genéticas para a descoberta de
como é construído um homem, um animal, uma plan-
Gavião-real (Harpia Hapyja) e
ta. E ela está se esvaindo de nossas matas. Quem pode
filhote, encontrados na Floresta
afirmar que a cura para grandes males da humanidade
não repousa silenciosa sobre um arbusto ainda não es- Nacional dos Carajás.
tudado pela ciência? E quem pode dizer que a solução
já não foi extinta sem sequer ser conhecida?
É na variedade biótica e no desconhecido que a ci-
ência deposita suas últimas grandes esperanças de evi-
tar um colapso de abastecimento humano, e, a menos
que consigamos fabricar nosso próprio oxigênio, a gen-
te depende das algas e das árvores para respirar. A agri-
cultura, a saúde, a indústria precisam entender melhor
nosso patrimônio químico-biológico para obter seus
respectivos lucros, sem que isso represente devastação
natural. Desde que o leitor começou a ler este texto,
dezenas de árvores nativas tombaram sobre o solo bra-
sileiro, e por mais que estudos apontem uma redução
no desmatamento em biomas como o amazônico, a
violência contra o meio ambiente ainda é grande, e o
Estado tenta, mas ainda não consegue deter.

Agosto/2010 20
Os programas de mitigação de impactos e com- A biodiversidade esconde todas as
pensação ambiental têm ganhado forma e ajudado a
proteger áreas que antes só eram protegidas no pa-
chaves genéticas para a descoberta
pel. E a iniciativa privada passará a ter um importante de como é construído um homem,
papel na preservação do nosso patrimônio natural. A um animal, uma planta. E ela está se
maior referência nacional deste tipo de ação vem da
Vale do Rio Doce, que antes mesmo da eclosão da cul-
esvaindo de nossas matas. Quem pode
tura ambientalista já alimentava a consciência de que afirmar que a cura para grandes males
os recursos naturais não são perenes e de que preci- da humanidade não repousa silenciosa
sava compensar seus impactos enquanto mineradora.
Hoje, a Vale é responsável por mais de 3 bilhões de ár-
sobre um arbusto ainda não estudado
vores e protege mais de 10 mil km² (1,1 milhão de hec- pela ciência?
tares) no Brasil e em outros países. Em parceria com
governos, ajuda a proteger áreas importantes no Rio
de Janeiro, Espírito Santo e Pará, e em países como a
Indonésia, incentivando o uso sustentável das florestas
por suas comunidades. Conheça a contribuição dessas A biodiversidade preservada nas
áreas para a biodiversidade. áreas da Vale não tem preço.

Mosaico de Unidades de
Conservação da Região de Carajás
Fica no sudoeste do Pará, fazendo parte dele a Flo-
resta Nacional de Carajás (411.950 hectares), a Floresta
Nacional do Tapirapé-Aquiri (192.550 hectares), a Floresta
Nacional do Itacaiúnas (82.450 hectares), a Reserva Bio-
lógica do Tapirapé (99.700 hectares) e a Área de Proteção
Ambiental do Igarapé do Gelado (20.640 hectares). Em
parceria com o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Am-
biente e Recursos Renováveis) e o ICMBio (Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade), a Vale ajuda
a proteger este bloco de unidades de conservação.

Entardecer na Floresta Nacional dos Carajás, Pará.


Parque Botânico de Vitória, Espírito Santo.

Parques Botânicos
Em Tubarão (SC) e em São Luís (MA), a Vale man-
tém parques botânicos com espaços para a educação
ambiental que, juntos, somam 133 hectares e prote- RPPN
gem mais de duas centenas de espécies, muitas em
extinção, como o pau-brasil, o jacarandá, o macaco- São 12 Reservas Particulares do Patrimônio Natural
-prego, o beija-flor-vermelho e outras. Em ambas as (RPPN) no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, que
cidades, o parque fica dentro do Complexo Industrial representam mais de 7 mil hectares de áreas protegi-
e é apresentado como um modelo de processo de res- das, com remanescentes de mata atlântica e cerrado.
tauração e preservação florestal. As áreas são igualmente utilizadas para pesquisas cien-
tíficas e visitação. Em Sabará, o Centro de Pesquisas e
Conservação da Biodiversidade do Quadrilátero Ferrí-
Parque Zoobotânico Vale fero (CeBio), mantido pela Vale, possui também arqui-
vamento genético da flora (banco de germoplasma). A
No interior da Floresta Nacional de Carajás, a Vale CeBio tem a missão de produzir 1 milhão de mudas por
mantém uma unidade de pesquisas com 30 hectares, ano para a recomposição ambiental da Vale.
inaugurada em 1985. Uma equipe com biólogo, médi-
co, técnicos em meio ambiente, botânicos e tratadores
pesquisa a mata e cuida de cerca de 260 animais, de 73 Convênios
espécies nativas, em cativeiro, entre elas a onça-pin-
tada, a arara-azul-grande, o macaco cuxiú, o macaco- Em 2008, em convênio com o governo do Rio de Ja-
-aranha-da-testa-branca, a jaguatirica e a ararajuba, neiro, a Vale adotou o Parque Estadual da Ilha Grande,
que vivem protegidos em ótimas condições e próximos uma área de 12 mil hectares reconhecida pela Unesco
ao seu habitat. Os principais objetivos são estudos como Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. No Espíri-
e reprodução que garanta o futuro da mata. Assim, a to Santo, outros três convênios ajudam na restauração
Vale busca contribuir para estabilizar o processo de ex- ecossistêmica, além de dar apoio e incentivo para que as
tinção com a reprodução em cativeiro – área em que comunidades e os produtores rurais desenvolvam cons-
tem obtido importantes avanços – e tentar repovoar as ciência sobre a importância da biodiversidade e da pre-
matas com as gerações futuras. servação de áreas nativas para o equilíbrio climático.

Agosto/2010 22
economia ISE
Lucro
responsável
Os investimentos socialmente responsáveis (SRI, da sigla em inglês)
surgiram nos anos 1990 trazendo novos conceitos nos mercado de
capitais de todo o planeta. No Brasil, o Índice de Sustentabilidade
Empresarial – ISE, da BM&Fbovespa, reflete o desempenho de papéis
de empresas selecionadas por suas práticas sustentáveis positivas. E
seu rendimento nos últimos 12 meses prova que a responsabilidade
social e ambiental é lucrativa e ganha do Ibovespa o índice das
empresas mais negociadas na bolsa brasileira.

25 Agosto/2010
ISE – Índice de

G
Sustentabilidade randes estudiosos de administração de
Empresarial empresas e economia podem discordar
em muitos conceitos e aspectos, mas cer-
Empresas que tamente concordam com uma afirmação daquele que
compõem o índice: é considerado um dos “gurus” da área no fim do século
passado, Peter Drucker, de que uma empresa deve ser
lucrativa não apenas para ser rentável para os acionis-
Aes Tiete tas, mas também para ser socialmente responsável.
Bradesco Em seu livro de 1993, A Sociedade Pós-Capitalista,
Drucker, ao tratar do tema “responsabilidade social”, já
Banco do Brasil
dizia: “O desempenho econômico é a primeira respon-
Braskem sabilidade de uma empresa. Uma empresa que não
BRF Foods apresente um lucro no mínimo igual ao seu custo de
Cemig capital é socialmente irresponsável.”
Há quase 20 anos já estava indicada a ligação pra-
Cesp ticamente inextricável entre o lucro e a sustentabilida-
Coelce de no conceito acima descrito. Hoje, investir em em-
Copel presas socialmente e ambientalmente responsáveis é
CPLF Energia mais lucrativo. A prova desta outra afirmação está no
Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado
Dasa em 2005 pela BM&FBovespa, a principal bolsa brasilei-
Duratex ra e uma das mais importantes do planeta.
Eletrobras Nos últimos 12 meses, segundo o boletim in-
formativo de junho de 2010 sobre o ISE, elaborado
Eletropaulo
pela BM&FBovespa, o índice teve um desempenho
Embraer de 27,29%, ficando à frente do Ibovespa (IBOV), com
Energias BR 18,04% de variação. Isto significa que quem apostou
Even no ISE lucrou mais no período e investiu em empresas
com governança corporativa socialmente e ambiental-
Fibria mente sustentável.
Gerdau Aliás, a sustentabilidade, tão em voga atualmente,
Gerdau Met integra no mundo corporativo outro conceito chama-
Romi do de triple bottom line, ou tripé. Nele considera-se o
resultado financeiro, o resultado social e o ambiental
Itaúsa – a Sustentabilidade Corporativa, ou Responsabilidade
Itaú Unibanco Social Empresarial (RSE), segundo o Instituto Ethos
Light Os investimentos em RSE, além de rentáveis, cau-
sam boa impressão nos consumidores, clientes, setor
Natura
público e sociedade (os stakeholders). Esta boa reputa-
Redecard ção, por sua vez, é igualmente importante para as em-
Sabesp presas, como descrevem os especialistas em estratégia
Sul America
Suzano Papel
Telemar
“O desempenho econômico é a
Tim Part
primeira responsabilidade de uma
Tractebel
empresa. Uma empresa que não
Usiminas
apresente um lucro no mínimo
Vivo
igual ao seu custo de capital é
socialmente irresponsável.”
Peter Drucker, em seu livro “A Sociedade Pós-Capitalista”
´

corporativa e relações de consumo e comportamento tes, além da rentabilidade do ISE. Um deles é o Con-
do consumidor, Daniel Domeneghetti e Roberto Meir, selho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
autores do recém-lançado livro Ativos Intangíveis. Sustentável (CEBDS).
“As empresas sustentáveis têm maiores chances A entidade possui, desde 2005, uma Câmara Te-
de vida longa, pois tendem a ganhar a preferência dos mática de Finanças Sustentáveis, formada por grandes
consumidores”, afirmam. E lembram ainda que “não grupos do mercado financeiro brasileiro, e trabalha para
existe empresa bem-sucedida em sociedade falida”. A a promoção do desenvolvimento sustentável partindo
preocupação e conscientização de empresários e so- do princípio de que as instituições financeiras têm papel
ciedade acerca do tema gera outros frutos interessan- fundamental neste contexto.

RESULTADO AMBIENTAL RESULTADO FINANCEIRO RESULTADO SOCIAL

27 Agosto/2010
Caminho sem volta
O Instituto Ethos, criado em 1998 por um grupo ses, é um dos maiores estudos sobre sustentabilidade
de empresários no Brasil para “auxiliar as empresas a entre CEOs já feito por uma consultoria, “embora não
analisar suas práticas de gestão e aprofundar seu com- seja uma pesquisa científica”.
promisso com a responsabilidade social e o desenvol- “As estatísticas revelam que o mundo dos negócios
vimento sustentável”, mostra dados que indicam os ru- já se mexe em direção a uma nova economia, embo-
mos das empresas ao redor do planeta em relação aos ra numa marcha desigual. Ainda que lentamente, as
investimentos em sustentabilidade. empresas estão mudando seus negócios e apontando
Segundo Cristina Spera, assessora do Instituto decididamente para a trilha do desenvolvimento sus-
Ethos, uma pesquisa feita pelo Pacto Global das Na- tentável”, explica Spera.
ções Unidas em parceria com a consultoria Accenture, Tal caminho, entretanto, não é garantia de suces-
com 766 presidentes de empresas (CEOs) de 100 paí- so sustentável. É preciso ir além do discurso. Atual
exemplo emblemático de empresa que fazia parte do
índice de sustentabilidade da bolsa de Nova York, mas
que foi excluída da carteira, a British Petroleum (BP),
protagonista de um dos mais graves vazamentos de
óleo da história, será lembrada ainda por muitos anos
por sua incapacidade de prevenção de acidentes em
exploração de águas profundas. E os acionistas da BP
dificilmente esquecerão também seus prejuízos após a
queda do valor das ações da empresa.
Nos próximos números, a Revista Novo Ambiente
vai mostrar os passos que deixam maiores ou menores
pegadas ambientais, acompanhando os investimentos
das empresas em práticas efetivamente sustentáveis
para a sociedade e a natureza.

Foto da Plataforma de Petróleo:


a British Petroleum foi excluída
do índice de sustentabilidade da
bolsa de Nova York.

Fotos:Divulgação

Agosto/2010 28
capa Habitação

Mundo
(mal) ocupado
Foto: Revista Novo Ambiente/Estanis Neto

No início do século passado, cerca de 10% da população vivia em cidades. No


início do século XXI, eram mais de 80%. Com a urbanização, a expectativa de
vida dos brasileiros passou de 40 para 70 anos nas últimas seis décadas. Nesse
período, também o analfabetismo e a mortalidade infantil diminuíram graças ao
acesso aos serviços de educação e saúde. Mas o inchaço dos centros urbanos
também trouxe problemas graves: violência, degradação natural e perigo, muito
perigo para milhares de famílias que vivem em áreas de risco.

31 Agosto/2010
S
egundo dados oficiais, pelo menos 20 milhões ço da produção habitacional, o preço dos imóveis e dos
de brasileiros não têm casa ou moram de forma terrenos nas capitais e regiões metropolitanas disparou.
precária e irregular, ocupando áreas onde viver Ou seja, toda essa disponibilidade de crédito está indo
é arriscado ou representa danos inestimáveis aos recursos para o preço do terreno e com isso é muito difícil produ-
naturais. O déficit habitacional no país tem diminuído, se- zir uma unidade de R$ 50 mil, R$ 60 mil, que é o valor to-
gundo o governo federal, o qual anunciou em março des- tal da unidade fixado para a faixa de renda mais baixa”,
te ano que o número de brasileiros que não possuem um declara a arquiteta em seu blog na internet.
lugar digno para morar caiu de 7,2 milhões em 2005 para A situação é preocupante, segundo Rolnik, pois de
5,8 milhões em 2008. Apesar do expressivo saldo devedor, um lado existem os avanços gerados pelo Minha Casa
os números são consistentes. Meio milhão de famílias co- Minha Vida, e de outro, as classes D e E não estão sen-
lherão os frutos de uma política habitacional que, na últi- do atendidas pelo programa nos grandes centros urba-
ma década, evoluiu no Brasil graças aos intensos debates nos, justamente as que mais precisam.
e trabalhos desenvolvidos entre sociedade, organizações, Este tipo de pressão do mercado pode estar relacio-
governos e iniciativa privada, que resultaram na criação do nado a outra distorção na ocupação de regiões metropoli-
Ministério das Cidades, em 2003. O Ministério veio para tanas. Segundo dados da Relatoria Especial da ONU para o
articular ações e entidades, preenchendo uma lacuna Direito à Moradia Adequada e o Fórum Urbano Mundial, o
deixada pelo extinto BNH (Banco Nacional da Habitação), número de favelas no mundo diminuiu, mas o número de
criado pelo regime militar em 1964 e que sucumbiu corro- favelados aumentou, o que significa um aumento do nú-
ído pela corrupção em 1986. mero de moradores nas favelas já existentes.
Com o programa “Minha casa, minha vida”, que Segundo o Ministério das Cidades, a ilegalidade
concede crédito por meio da Caixa Econômica Fede- presente na ocupação do solo a partir de terras invadi-
ral, o governo Lula pretende resolver a questão habi- das ou parceladas irregularmente é gigantesca, princi-
tacional de cerca de três milhões de pessoas até o fim palmente nas metrópoles, o que traz sérias consequên-
de 2010. No entanto, especialistas como a arquiteta cias para a formação dos quadros urbanos.
urbanista Raquel Rolnik, relatora especial da Organi- O Brasil vive a dicotomia de apontar como uma das
zação das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Mo- maiores economias do mundo e deixar mais de 10%
radia Adequada, alertam sobre problemas que surgem de sua população sem um lugar decente para morar. O
quando a oferta de crédito aumenta. problema da ocupação desordenada tem deixado seus
“O programa está funcionando bem no interior, rastros de tragédia, devastação, doenças e toda sorte
mas não nas capitais, e o agravante é justamente que, de carências enfrentadas por aqueles que vivem sem
com a grande disponibilidade de crédito e com o avan- infraestrutura mínima que lhes garanta ao menos parte
dos direitos humanos. É uma legítima bandeira verde e
amarela a ser empunhada pelos novos governantes.

Foto: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi

Agosto/2010 32
“Durante a fase de crescimento urbano e econômico (7% a.a. entre 1940
e 1970), essa tradição de desigualdade social não cobrou um preço muito
alto, mas, estancado o crescimento, tudo mudou. Durante as décadas de
1980 e 1990, o país cresceu apenas 1,3% e 2,1%, respectivamente, não
incorporando sequer todos os ingressantes ao mercado de trabalho. O baixo
crescimento acentuou as mazelas urbanísticas (relacionadas ao solo) e
influiu no aparecimento de novos aspectos negativos nas grandes cidades: o
desemprego e a violência. Esta era praticamente desconhecida nas cidades
até o início dos anos 1970.”

Ermínia Maricato, professora titular da USP, membro da equipe de transição em novembro de 2002 e
Secretária Executiva do Ministério das Cidades entre 2003 e2005 (extraído do ensaio veiculado no site do Ministério)

33 Agosto/2010
capa Ocupação

Tragédias
anunciadas

O primeiro ano da década da infraestrutura,


2010, começou com tristezas para muitos
habitantes de diferentes regiões brasileiras.
Deslizamentos e enchentes destruíram
vidas, bairros e cidades inteiras. Ocupações
em áreas de risco em locais como Angra dos
Reis e Ilha Grande, ou falta de planejamento
urbano sustentável no Nordeste, causaram
a morte de dezenas de pessoas e prejuízos
para os cofres públicos. Infelizmente, os fatos
provam mais uma vez que planejar é muito
mais do que uma questão de organização. É
pré-requisito para um futuro melhor.

Agosto/2010 34
Foto: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi

35 Agosto/2010
Flagrante da violência das águas.

O
Fotos: Divulgação
s números resultantes das tragédias ocor-
ridas no Brasil no primeiro semestre de
2010, causadas em grande parte pela ocu-
pação irregular de áreas de risco, são tão desconcer-
tantes ou desorganizados quanto os motivos que os
originam. Antes mesmo de começar, o ano de 2010
trouxe tristes notícias para muitos brasileiros, sobretu-
do moradores da cidade fluminense de Angra dos Reis
e sua tão famosa e aprazível Ilha Grande.
Mais de 50 mortos no primeiro dia do ano (21 no
morro da Carioca, em Angra, e 32 na praia do Bananal,
em Ilha Grande), mais de 200 casas demolidas e mais
de 4.300 pessoas desalojadas em 87 bairros da cidade.
Ainda que irrelevantes se comparados aos prejuízos de
vidas humanas, os danos financeiros também foram
contabilizados em torno de R$ 80 milhões, apenas em
caráter emergencial – para obras de contenção e cons-
trução de habitações para os desabrigados.
Na Ilha Grande, terra de belezas naturais quase in-
descritíveis, com trilhas em meio à fauna e à flora de
Mata Atlântica, comunidades simples e receptivas e
praias de águas cristalinas, a tragédia chegou nos mes-
mos moldes, ceifando vidas de turistas que esperavam
uma virada de ano festiva.
O resultado foi fruto de 70 anos de ocupação lenta,
desordenada e irregular, segundo o Instituto Estadual
do Ambiente (Inea), do Rio de Janeiro. Levantamento
do mesmo instituto constatou outros 23 pontos de des-
lizamento de terra na ilha naquele fatídico período de
Deslizamento em Ilha Grande, janeiro de 2010.
chuvas recordes.

Agosto/2010 36
Foto: Revista Novo Ambiente/Estanis Neto

Poderia ser evitado?


Menos de seis meses depois dos eventos de An-
gra dos Reis e sua ilha paradisíaca, o povo nordestino,
historicamente sofrido, passou por nova provação de
uma tragédia que, para muitos, foi igualmente conse-
quência da falta de planejamento urbano e social na
hora de ocupar o solo.
Dois estados, Alagoas e Pernambuco, pagaram
caro a conta da natureza: dezenas de mortos, milhares
de desabrigados e estimativas de mais de 50 mil casas
destruídas pelas enchentes causadas por chuvas aci-
ma de todos os limites esperados para a época. Outros
R$ 100 milhões em verbas emergenciais para ajudar
em questões pontuais e muito distantes da dor das
perdas materiais e emocionais de tanta gente.
Resultados tão negativos talvez não sejam unica-
mente decorrentes da falta de planejamento urbano e
de ocupação e uso do solo nas cidades, pois contaram
com o fator imprevisível da natureza, mas é fato que
muitos foram pegos de surpresa, sobretudo os mora-
dores das áreas de risco, que, por ignorância ou não,
possuem igualmente sua parcela de culpa, pois aloja-
ram suas famílias em áreas perigosas.
Como prova da aparente falta de planejamento,
os R$ 80 milhões prometidos em janeiro para as emer-
gências de Angra dos Reis chegaram apenas três me-
ses depois à cidade. A própria Secretaria Nacional de
Defesa Civil declarou a intenção de alterar o repasse da
verba de prevenção de desastres à época. Até então, o
órgão não fazia nenhum tipo de estudo para saber se
as obras propostas pelos municípios ou Estados eram
mesmo a melhor alternativa para as regiões, e só en-
tão surgiu a ideia de criar um cadastro nacional de pro-
jetos para desastres.
Agora, cidades que perderam suas identidades
após catástrofes como estas só têm como alternativa
retomar cambaleante a vida cotidiana e colher os ca-
cos do que restou debaixo da lama e dos escombros.

Como prova da aparente falta de


planejamento, os R$ 80 milhões
prometidos em janeiro para as
emergências de Angra dos Reis
chegaram apenas três meses
depois à cidade.

Fortes chuvas do início do ano causaram


pesados danos à infraestrutura.
capa Ocupação

Cidades
sustentáveis

Agosto/2010 40
Se por um lado a ocupação desordenada do solo é um grave
problema em na maior parte do planeta, bons exemplos de
planejamento urbano não faltam, falta adequá-los para a realidade
das cidades brasileiras. A Rede Social Brasileira por Cidades Justas
e Sustentáveis reúne movimentos sociais em 40 cidades brasileiras
de todos os portes e lança uma publicação contando casos de
sucesso no Brasil e no mundo.

C
idades sustentáveis. No terceiro milênio
isso já passou a ser sinônimo de cidades
desenvolvidas, em um aspecto mais com-
pleto, uma imagem tridimensional, que adiciona as
questões ecológicas às duas dimensões (econômica e
social) até então utilizadas como base de planejamen-
to de bem estar das sociedades. A Rede Social Brasilei-
ra por Cidades Justas e Sustentáveis, uma organização
apolítica e inter-religiosa da qual fazem parte 40 cida-
des brasileiras, e o Movimento Nossa São Paulo lança-
ram publicação “Cidades Sustentáveis” no final de ju-
lho. Trata-se de um retrato que aponta para além dos
problemas. Bons exemplos no Brasil e no mundo afora
mostram que embora não seja fácil, é relativamente
simples construir comunidades onde dá gosto de viver.
Basta vontade política e (principalmente) das próprias
comunidades, norteadas pela organização estratégica.
A publicação aponta que mais da metade da po-
pulação mundial vive em cidades, e que, até 2050, se-
rão 75%. As cidades consomem dois terços do total de
energia produzida e produz 75% de todo o lixo. No Bra-
sil mais de 80% da população está em áreas urbanas,
o que levou a rede a considerar os papéis estratégicos
do planejamento e do desenho urbano na abordagem
das questões ambientais, econômicas, culturais, edu-
cacionais, de justiça social, trabalhistas, de segurança,
climáticas e da saúde e como isso se reflete na qualida-
de de vida das pessoas.

41 Agosto/2010
Fotos: Revista Novo Ambiente/Estanis Neto

No que tange às questões habitacionais, os objeti-


vos das ações da rede são de regenerar e reutilizar áre-
as abandonadas ou socialmente degradadas; evitar a
expansão das cidades, estimulando o desenvolvimento
urbano no interior dos estados, controlando a densida-
de populacional; assegurar a compatibilidade de uso de
edifícios e áreas urbanas, oferecendo equilíbrio entre
emprego, habitação e áreas urbanas, dando prioridade
ao adensamento populacional nos centros das cidades,
para evitar intensa mobilidade que causa problemas
de tráfego; e adotar critérios de desenho urbano e de
edificações sustentáveis e promover a arquitetura e as
tecnologias de construção de alta qualidade.
Tais movimentos agregados pela rede têm conquis-
tado resultados importantes. São Paulo foi a primeira
cidade brasileira a aprovar uma emenda que obriga
os prefeitos a apresentarem um programa de metas
quantitativas e qualitativas nos primeiros 90 dias após
a posse. Anápolis (GO), Araraquara (SP), Eunápolis (BA),
Formiga (MG), Ilhabela (SP), Ilhéus (BA), Itapeva (SP),
Jundiaí (SP), Mirassol (SP), Niterói (RJ), Ribeirão Bonito
(SP), Taubaté (SP) e Teresópolis (RJ) também aprovaram
projetos semelhantes. Uma conquista do planejamento
racional contra a tradicional “técnica” administrativa de
“apagar incêndios” na medida em que vão surgindo. Co-
nheça, a seguir, alguns casos de sucesso apresentados
Av. Paulista - São Paulo. na publicação (texto original editado).

Planejamento Urbano Orientado pela Sustentabilidade

• Curitiba (Brasil)
De 1990 ate hoje, o foco principal do planejamen-
to da cidade foi o desenvolvimento sustentável e a in-
tegração da Região Metropolitana de Curitiba. O ponto
mais original da estratégia é o que otimiza a eficiência
e a produtividade dos transportes, ocupação do solo e
desenvolvimento da habitação, integrando-os. O resul-
tado da estratégia foi que a cidade se tornou uma vitrine
de urbanismo ecológico e humano, com melhorias con-
tínuas em todos os aspectos do município. A cidade tem
200 km de ciclovias e 52 m2 de area verde por habitante.
Há um modelo de serviço de transporte de baixo custo,
utilizado por mais de dois milhões de pessoas por dia.

Calçadão de Curitiba.
Assentamento na Namíbia.

• Realocação da Moradia
Walvis Bay (Namíbia)
O objetivo do projeto é desenvolver um plano para
realocar para outra área os moradores de Kuisebmond
– um bairro de Walvis Bay (Namíbia) que sofreu cresci-
mento populacional significativo, na segunda metade
dos anos 90, com impacto negativo sobre os serviços
sociais e infraestrutura urbana. Em dois anos, traba-
lhando em conjunto com as comunidades afetadas,
projetou-se uma nova área: o assentamento de Tutale-
ni. Mais de 800 famílias foram transferidas com êxito e
agora têm acesso a serviços que, há pouco mais de um
ano, pareciam inatingíveis.

Foto: Divulgação

• Moradia com Coração


Medellin (Bolívia)
As margens do rio Juan Bobo, em Medellin, 300 fa- o modelo de intervenção, beneficiando mais de seis
mílias viviam em condições críticas, suscetíveis ao des- mil famílias, com a meta de fornecer 15 mil soluções
pejo, expulsão e desapropriação. Os números: 80% das habitacionais. O resultado acumulado até dezembro
moradias com carências estruturais; 35% localizadas de 2009 foi de 6.318 soluções habitacionais novas tra-
em zonas com restrições geográficas; 94% apresen- mitadas, das quais: 652 moradias terminadas; 1.021 a
tando títulos de propriedade ilegais. O assentamento terminar; 4.645 em execução – o que significa 60% da
não dispunha ainda da prestação de serviços básicos. meta institucional.
Por meio da aplicação de um
modelo alternativo de reorde- Foto: Divulgação
namento, reajustes no uso do
solo e recuperação ambiental,
a gestão do projeto “Viviendas
con Corazón” teve como meta
melhorar as condicões de vida
das famílias e permitiu o re-
assentamento voluntário das
famílias e a melhoria integral
de suas condições de acesso
a moradia. Atualmente as fa-
mílias dispõem de serviços de
água, esgoto e coleta de lixo
e um sistema de mobilidade
e de espaços públicos dese-
nhados estrategicamente. O
município de Medellin, por
meio do seu Plano de Desen-
volvimento Local 2008-2011,
teve a intenção de expandir

Medellin, Bolívia.

43 Agosto/2010
• Desenvolvimento Urbano
Sustentável - Malmo (Suécia)
O bairro de Augustenborg, construído no final dos residenciais que são ecologicamente sustentáveis e ofe-
anos 40, passou por uma transformação notável a par- recer um ambiente agradável para os moradores. Um
tir de 1998, quando o Programa de Investimento Local total de 65 ações foram lançadas, principalmente nas
concedeu fundos para fazer deste bairro um espaço áreas de transporte, energia, águas residuais, gestão
sustentável social, econômica e ambientalmente. Foi dos resíduos e da biodiversidade. A energia para os mil
criada uma importante usina solar que deu origem a apartamentos é 100% produzida localmente e com ori-
Solar City Malmo, que agora opera em toda a cidade. gem em fontes renováveis. Isto significa que a emissão
Em 2009, foi instalada uma turbina eólica na escola. O de CO2 de suas casas é quase zero.
bairro tem, ainda, um sistema de águas pluviais e telha- Em Augustenborg, houve aumento de 50% da bio-
dos verdes que diminuíram as inundações frequentes e, diversidade no bairro e aumento da participação dos
simultaneamente, criou um ambiente estético com alta cidadãos nas votações, de 54%, em 1998, para 79%,
biodiversidade. Mais de um terço do lixo é transforma- em 2002. Não foi registrada nenhuma inundação des-
do em adubo fértil por meio de compostagem de resí- de a instalação da rede de canais no bairro. Houve
duos alimentares. Também em Hamnen Malmo Vastra queda de 20% no consumo total de energia e de 25%
(Western Harbour), um novo e moderno bairro foi cons- no aquecimento do ambiente e da água. Foi organiza-
truído onde ficava uma área portuária e industrial. É um da uma frota comunitária composta de veículos elé-
projeto piloto que mostra como é possível criar áreas tricos. Setenta por cento dos resíduos domésticos são
reciclados e há compostagem dos restos orgânicos. Es-
paços verdes estão em toda parte e há tratamento lo-
cal de águas pluviais, com captação de 70% das águas
superficiais. Foram instalados 12 mil m2 de telhados
verdes, que incluem um jardim botânico.

Malmo, Suécia.
Foto: Divulgação

Agosto/2010 44
capa Habitação

São Paulo, 2010


42 milhões de habitantes

Agosto/2010 46
Fotos: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi

O estado paulista nunca parou de crescer, devido a sua força econômica e


política, e hoje abriga uma das maiores cidades do planeta. Com a estrutura
e o PIB maiores do que de muitos países, oferece oportunidades para muitas
pessoas, mas nem todas têm sorte na roda da migração e acabam indo viver
em regiões irregulares e de risco. Só uma estratégia para longo prazo pode
ajudar a resolver essa questão, mas medidas imediatas precisam ser tomadas.

47 Agosto/2010
Ocupação perigosa e irregular.

Nas últimas décadas, o problema aumentou e, so-


bretudo na capital, o espaço ficou saturado. E a cidade
se verticalizou de tal forma que é muito difícil ver o ho-
rizonte. O estado moderno, dinâmico e pujante ainda é
o sonho (algumas vezes realizado, outras não) para pes-
soas que saem de todos os cantos do Brasil e do mundo
em busca de trabalho e melhores perspectivas de vida.
O grande desafio exige planejamento de longo prazo ca-
minhando de mãos dadas com medidas rápidas e emer-
genciais, como a retirada de famílias de áreas de risco.
A Secretaria de Estado da Habitação, por meio da
Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urba-
no (CDHU), tem apresentado planejamento e sucesso
na implantação de projetos de transferência de famí-
lias que vivem em áreas de mananciais, como no caso
da construção do Rodoanel, e também de áreas de ris-
co, como é o caso do Programa de Recuperação Socio-
ambiental da Serra do Mar.
A Revista Novo Ambiente conversou com Lair
Krähenbühl, uma das maiores autoridades em habita-
ção no país, para conhecer um pouco mais os progra-
mas de remoção e transferência de famílias que o esta-

U
m em cada cinco brasileiros vive sobre solo do de São Paulo vem executando e que têm se tornado
paulista. O estado de São Paulo tem 645 bons modelos a ser seguidos.
municípios e é o mais rico e populoso do
país, com mais de 40 milhões de habitantes, concen-
trando alguns dos maiores aglomerados urbanos do
mundo, como a Região Metropolitana de São Paulo.
Historicamente, o estado recebeu ondas migratórias
constantes e de diferentes características, e nunca es-
teve preparado para solucionar os problemas de habi-
tação na mesma velocidade em que a cidade crescia.

Unidades habitacionais entregues pela CDHU em Cubatão.

Agosto/2010 48
Goldman e Lair Krähenbühl na
entrega de chaves em Cubatão.

Fotos: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi

Estamos investindo mais de R$ 1 bilhão aqui, o que significa,


para uma população como a de Cubatão, de 120 mil
habitantes, mais de R$ 10 mil por habitante.

Alberto Goldman, governador de São Paulo

Durante a entrevista, o Secretário da Habitação


do Estado de São Paulo ressaltou que o Programa So-
cioambiental da Serra do Mar é um processo único no
Brasil e que, segundo o Banco Interamericano de De-
senvolvimento (BID), é a maior intervenção do mundo
com essa característica. “Em termos de transferência
pacífica de famílias, mais complexo do que isto, só em
caso de guerras”, disse Krähenbühl.
A Revista Novo Ambiente esteve no evento de en-
trega de 96 unidades prontas para morar no Parque
São Luiz, para famílias realocadas dos bairros Cota, no
município de Cubatão, no dia 11 de agosto. O Secre-
tário lembrou que serão 26 condomínios, totalizan-
do 1.840 unidades. O governador Alberto Goldman,
também presente na entrega dos imóveis, lembrou
a importância dos investimentos para Cubatão e re-
gião: “Estamos investindo mais de R$ 1 bilhão aqui, o
que significa, para uma população como a de Cubatão,
120 mil habitantes, mais de R$ 10 mil por habitante. Postes com alimentação solar e eólica
Não há nenhuma intervenção do poder público em ne- ajudam a gerar eletricidade, o que reduz os
nhum município de São Paulo, e duvido que mesmo no
gastos dos moradores.
Brasil, com investimentos de R$ 10 mil por habitante.”
Entrevista – Lair Krähenbühl
Lair Krähenbühl é Secretário da Habitação do Es- Sistematicamente tinha gente morrendo, através de
tado de São Paulo e Presidente da CDHU. Como Se- deslizamentos e atropelamentos na estrada. Come-
cretário, reformulou a política habitacional de inte- çamos os trabalhos de levantamento de informações
resse social com a criação do Conselho Estadual de e percebemos que havia mais de cinco mil famílias vi-
Habitação e do Fundo Garantidor Habitacional. Ado- vendo de forma arriscada sobre um dos maiores ativos
tou medidas importantes para promover a regulari- do Brasil em termos de meio ambiente.
zação fundiária, uma das prioridades da sua adminis-
tração. Criou o Programa Estadual de Regularização Qual é o impacto atual que essas cinco mil famílias
de Núcleos Habitacionais “Cidade Legal”, para apoiar que vivem em ocupações irregulares causam sobre
tecnicamente as prefeituras na regularização e regis- o bioma da Mata Atlântica, que tem ali um dos seus
tro dos núcleos habitacionais, públicos ou privados. maiores remanescentes?
Reestruturou o Grupo de Análise e Aprovação de Pro- • A ocupação desordenada causa o assoreamento
jetos Habitacionais (Graprohab). Em seu gabinete, dos rios. Além dos danos ambientais, ainda traz o risco
Lair recebeu uma equipe de reportagem da Revista de desestruturar pontes ou uma parte da estrada. Quan-
Novo Ambiente para falar de soluções habitacionais do você resolve o problema da habitação e do meio am-
populares, em especial das questões emergenciais biente, você está colaborando muito para a balneabili-
para que se evitem novas tragédias com desmorona- dade das praias, evitando a favelização na beira dos cór-
mentos ou enchentes. regos que vão dar em rios, que deságuam no mar. Três
mil famílias que vivem no bairro Pilão contaminam o rio
Sob qual circunstância nasceu o Progra- Cubatão, que é onde a Sabesp capta água para abastecer
ma de Recuperação Socioambiental da as cidades de Santos, Guarujá e São Vicente.
Serra do Mar?
• Quando Serra me convidou para
participar do governo, ainda em 2006,
após ganhar as eleições no primeiro tur-
no, já apresentou sua preocupação com
as habitações em áreas de risco, parti-
cularmente com a Serra do Mar, uma
área que vem sendo ocupada desde a
construção da estrada. Ali ficaram os alo-
jamentos provisórios e acabaram se tor-
nando construções definitivas. Tínhamos
poucos diagnósticos sobre essa questão.

Em vermelho, as
dimensões da
cadeira de rodas.
Em azul, a forma
em que ela pode
se movimentar no
cômodo.

Agosto/2010 52
E quais foram os primeiros passos para tirar essas famí- técnicos ou sujeitos a inundação de todas essas áreas
lias da situação de risco e recuperar o meio ambiente? no país. É mais barato você prevenir, começar a fazer
• Fizemos um levantamento, por meio de fotos aére- isso tudo agora. Por meio do Fórum dos Secretários Es-
as, de toda a costa paulista, para saber qual era a situação taduais de Educação, que hoje eu presido, levamos isso
das ocupações na Serra do Mar. Ali iniciamos um projeto ao governo federal, mas as coisas estão tão lentas, que
que nos próximos seis, sete anos irá erradicar todas as fa- nós vamos nos deparar com novas chuvas e as medidas
mílias de áreas de risco de todas as urbanizações irregula- não foram tomadas.
res na Serra do Mar e em nosso litoral.
Primeiro, iniciamos o congelamento da área, com a Quais são os conceitos de universalidade aplicados nas
polícia limitando o acesso de materiais de construção à moradias criadas pela CDHU?
área. Então numeramos todas as casas e barracas e cadas- • Criamos o desenho universal pensando em quem
tramos as famílias, confirmando que se tratava de pessoas tem dificuldades de locomoção. Temos uma quantida-
de baixa renda que realmente não sabiam dos riscos que de enorme de deficientes físicos no Brasil, temporários
estavam correndo, pois a Serra do Mar é uma formação ou permanentes, além de gestantes com dificuldades
instável em toda sua extensão, é desastre anunciado. de locomoção. Pelos tradicionais corredores com 70
cm quase não passam cadeiras de rodas. No banheiro,
Para onde serão transferidas essas famílias? o cadeirante entra de frente e não consegue área de
• Fomos buscar experiência no Brasil todo atrás manobra, muitas vezes tem que ser carregado no colo.
dos melhores especialistas e os contratamos para fazer Isso ampliou em 10% o espaço físico das casas popula-
esta discussão. Segundo o Banco Interamericano, esta res que construímos utilizando o desenho universal. No
é a maior ação com essas características de transferên- custo, isso representou um aumento de apenas 5%.
cia pacífica de que eles participam no mundo (cerca de Algumas medidas são simples, como calcular a
US$ 800 milhões em financiamentos). Procuramos re- altura dos interruptores e o peitoril das janelas a uma
alocar todos para áreas próximas. Em sigilo, para evitar altura na qual o cadeirante possa olhar para fora. Nós
a especulação imobiliária, começamos a levantar to- tivemos que adotar um olhar diferente neste projeto,
dos os imóveis disponíveis próximo à área que deveria isso faz parte de uma visão do governo do estado de
ser desocupada. Compramos três mil imóveis da Caixa São Paulo, que criou a primeira secretaria de estado
que estavam abandonados, muitos deles nessa região, para pessoas portadoras de deficiência.
onde, ao todo, serão construídas 5.330 moradias para
estas pessoas, com fácil acesso aos serviços de educa-
ção, saúde e transporte.

É possível espelhar essa experiência em dimensões


nacionais?
• A partir do começo do ano, começamos a en-
tregar esses imóveis e criaram-se modelos para que
possamos aplicar em outros municípios, buscando
recursos internacionais. As carteiras ambientais de fi-
nanciamento têm os juros subsidiados, que é dinheiro
barato para o Brasil. Isso, o Rio de Janeiro poderia usar;
o pessoal do Paranoá, em Brasília; na região de manan-
ciais de Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba.
Isso nos inspirou a propor, em âmbito nacional, um
plano de erradicação de área de risco, que significa fa-
zer um levantamento sobre os riscos geológicos, geo-
consumo Supermercados

Super
O
s maiores centros de compras domésticas estão realinhan-
do métodos e conceitos para os desafios do terceiro milê-
nio. Os supermercados, verdadeiros “templos do consu-
mo”, estão adotando um posicionamento exigente diante dos fornece-
dores e seus produtos, obrigando a indústria a rever seus impactos. São
aliados de peso na luta pelo equilíbrio, uma relação mais harmoniosa
entre o consumo e o planeta.

• O Carrefour de Piracicaba prometeu eliminar as sa-


colas até 2014, oferecendo sacolas reutilizáveis que
suportam cinco vezes mais que as plásticas, além de
caixas de papelão que podem ser reutilizadas para
acondicionar lixo. O prazo é um pouco distante ainda,
mas a iniciativa parece ser o início de uma revolução
estratégica que deve trazer bons resultados para o ho-
mem e seu ambiente.

• O Wall Mart, dentro de seu “projeto de sustentabili-


dade ponta a ponta”, considerou toda a rede de produ-
ção e venda, assumiu e documentou um compromisso
ambiental com o Brasil. As metas vão desde a ampliação
de espaço para os produtos orgânicos até o boicote ao
gado, soja e derivados vindos de áreas de desmatamen-
to ou com envolvimento de trabalho escravo.

• O grupo Pão de Açúcar vendeu quase 1 milhão de


sacolas retornáveis em 2009. Neste período, os super-
mercados do grupo (Extra, CompreBem e Pão de Açú-
car) passaram a ter sacolas mais resistentes, que po-
dem acomodar muito mais peso por unidade. Segundo
a assessoria do grupo, quase 100 milhões de sacolas
deixaram de ser usadas no ano passado graças ao con-
ceito de uso racional. Isso representou uma redução
de 26% do total de sacolas usadas em 2008.

Agosto/2010 54
Foto: Divulgação

Os orgânicos ganham espaço nas preteleiras.

55 Agosto/2010
Resíduos Plano Nacional

O lixo nosso
de cada dia
Geradores de resíduos sólidos, tremei! A lei que prevê o tratamento
do lixo no Brasil consolida o conceito de “logística reversa”, ou seja,
atribui responsabilidade total sobre os resíduos dos produtos aos
que fabricam, comercializam e consomem, e cabe a eles participar
do processo de recolhimento e reciclagem. A nova política de
resíduos também joga uma pá de cal nos lixões, definitivamente
proibidos. Agora é preciso saber se a fiscalização vai dar conta.

Agosto/2010 56
Fotos: Revista Novo Ambiente/Paulo Negreiros

T
odos os dias, mais de 150 mil toneladas de
lixo são produzidas nas cidades brasileiras, e
só agora o país tem regras claras para o tra-
tamento desses resíduos. A Lei de Resíduos Sólidos foi
sancionada pelo Presidente Lula no início deste mês e
estabelece importantes avanços e estimula financia-
mentos a cooperativas de reciclagem. Resta agora ins-
trumentalizar a fiscalização.

57 Agosto/2010
Enquanto Lula assinava o documento, uma equipe
da Revista Novo Ambiente acompanhava centenas de
Demorada mas bem-vinda
pessoas que se lançavam perigosamente (veja vídeo no
site) sobre (e às vezes sob) as toneladas de lixo deixadas O texto final da lei é resultado de um longo debate
pelos caminhões a menos de 15 km dali, no Aterro de entre poder público, sociedade civil e iniciativa priva-
Brasília, que, embora tenha essa denominação oficial, da. As primeiras iniciativas para estabelecer um marco
não consegue operar plenamente como aterro, já que regulatório para os resíduos sólidos começaram no fi-
mantém montanhas de lixo a céu aberto, o que o carac- nal dos anos 80. Mais de uma centena de proposições
teriza, na verdade, como um lixão. acabaram formando o Projeto de Lei 203, de 1991, que
Embora a lei proíba explicitamente qualquer tipo resultou na Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010, a
de catação em meio ao lixo, catadores cadastrados ou qual trata do acondicionamento, coleta, tratamento,
aqueles que entram clandestinamente ainda tinham transporte e destinação dos resíduos sólidos, isto é,
livre acesso ao local no primeiro dia de validade da lei. institui a política nacional desse tipo de resíduo. Du-
Um dos seguranças do local, que prefere não se identi- rante 19 anos, o Projeto tramitou no Congresso, até
ficar, diz que muitas famílias ganham seu sustento revi- que atingiu um consenso da sociedade expresso em
rando os dejetos, e também que por ali surgem perso- sua aprovação.O texto aponta que 150 mil toneladas
nagens perigosos, como foragidos da justiça. O cheiro de lixo são produzidas diariamente no Brasil, sendo
é insuportável e as moscas estão por tudo. E esse é o que 59% deste total vai parar em lixões e apenas 13%
ambiente de trabalho de cerca de duas mil pessoas só são destinados de forma correta a aterros sanitários.
nesse depósito de Brasília. O segurança ainda conta que Ainda segundo o documento, nem 10% dos municípios
ex-colegas largaram a função para catar objetos reapro- oferecem coleta seletiva de lixo, ou seja, apenas 405
veitáveis ou recicláveis, o que chega a lhes conferir uma dos 5.564 municípios brasileiros. Qualquer tipo de li-
renda de até R$ 2 mil por mês. xão e queima de lixo a céu aberto estão proibidos.

Estamos vivendo um momento


histórico. Este projeto mostra a
importância do meio ambiente e
procura resolver o maior problema
ambiental do país hoje, que é esta
questão dos resíduos sólidos.
Izabela Teixeira, ministra

vão parar em lixões

Agosto/2010 58
O cheiro é insuportável e as
moscas estão por tudo. E esse é o
ambiente de trabalho de cerca de
duas mil pessoas só nesse depósito
de Brasília. O segurança ainda
conta que ex-colegas largaram
a função para catar objetos
reaproveitáveis ou recicláveis, o
que chega a lhes conferir uma
renda de até R$ 2 mil por mês.

59 Agosto/2010
A implantação da lei proposta trará
reflexos positivos no âmbito social,
ambiental e econômico, pois não “A implantação da lei proposta trará reflexos po-
só tende a diminuir o consumo sitivos no âmbito social, ambiental e econômico, pois
dos recursos naturais, como não só tende a diminuir o consumo dos recursos natu-
rais, como proporciona a abertura de novos mercados,
proporciona a abertura de novos gera trabalho, emprego e renda, conduz à inclusão so-
mercados, gera trabalho, emprego cial e diminui os impactos ambientais provocados pela
e renda, conduz à inclusão social disposição inadequada dos resíduos. Sendo assim, es-
taremos inserindo o desenvolvimento sustentável no
e diminui os impactos ambientais manejo de resíduos sólidos do país”, aponta a Senado-
provocados pela disposição ra Marina Silva, que assina as observações encaminha-
inadequada dos resíduos. das junto ao documento ao Presidente Lula.

Marina Silva, Senadora

Catadores trabalham em péssimas condições


no lixão. Ao fundo, a capital federal.

Agosto/2010 60
Logística reversa
Agora, as empresas têm que recolher e dar a des-
tinação aos produtos que fabricaram ou distribuíram,
instalando postos de recolhimento em locais de co-
mércio. Para que o sistema de retorno dos produtos
que não possuem mais utilidade dê certo, a sociedade
tem o papel fundamental de fazer sua parte, ou seja,
levar os resíduos até os pontos de coleta em vez de jo-
gar no lixo. Os fabricantes e vendedores também são
responsáveis pelo recolhimento das embalagens. A
logística reversa, o conceito mais moderno do proje-
to, retira corretamente a responsabilidade do Estado
sobre os resíduos industriais, tal qual acontece na Eu-
ropa. Inicialmente, vale para pilhas, baterias, agrotóxi-
cos, pneus, eletroeletrônicos e lâmpadas.

Catadores
As cooperativas de catadores de materiais reciclá-
veis, responsáveis por grande parte da coleta no país,
devem ganhar linhas de financiamento público para
que possam se organizar e tirar o trabalho da infor-
malidade. A lei prevê que as embalagens deverão ser
fabricadas com materiais que proporcionem sua reu-
tilização ou reciclagem, o que aumenta consideravel-
mente a oferta aos catadores. Institui ainda, de forma
genérica, programas de conscientização sobre a sepa-
ração do lixo e de qualificação para os catadores.

Responsabilidade
compartilhada
Todos passam a compartilhar a responsabilidade
sobre os resíduos sólidos – a sociedade, as indústrias,
o comércio e as três esferas do governo. As pessoas
terão a obrigação de acondicionar corretamente seu
lixo, fazendo a separação dos recicláveis nos locais
onde existe a coleta seletiva. Os municípios, principais
responsáveis pela destinação dos resíduos, poderão
conceder benefícios fiscais a empresas e entidades
que promovam a reciclagem, e os consórcios entre os
municípios para destinar o lixo serão prioritários nas
linhas de financiamento do governo federal. E mais: o
não cumprimento das suas determinações incorrerá
em crime ambiental, podendo implicar em multas e,
com exceção do lixo doméstico, até reclusão.

61 Agosto/2010
resíduos Lixeira

Agosto/2010 62
Fotos: Revista Novo Ambiente/Estanis Neto

Papa-lixo
Recipientes ecologicamente corretos, cujo conteúdo é coletado
diariamente, substituem velhas e ineficientes lixeiras e caçambas com
economia de espaço e um aumento de capacidade que ainda permite
receber podas, entulhos e até materiais de construção civil.

63 Agosto/2010
O
s “papa-lixos” da capital do Rio Grande do de lona especial que cobre o fundo do recipiente, sobre
Norte fazem parte de um conceito moderno a qual está depositado o lixo. Depois disso, a carga parte
de recolhimento de resíduos que pode ser- para o aterro sanitário de Ceará-Mirim, já que Natal está
vir como exemplo para outras capitais. No país, predomi- em estágio avançado de extinção de seus lixões.
na o uso de ineficientes caçambas de metal para o recolhi- Esteticamente mais agradáveis, as novas lixeiras
mento de grandes quantidades de lixo, entulho ou podas. ganharam a simpatia da população e dos turistas. “Elas
A nova estrutura, utilizada pela prefeitura de Natal, é são bonitas e, embora de um tamanho grande, são
mais leve e ocupa menos espaço que as de metal, e a hi- discretas e não interferem no visual maravilhoso que
gienização é muito mais fácil e eficiente. O papa-lixo, na oferece a orla de Natal”, diz o dentista mineiro Julio Al-
verdade, é parte de um novo sistema de coleta de lixo, cântara Lopez, em visita à capital potiguar.
cuja operação é terceirizada. A empresa contratada tam- A população aponta que os insetos em torno dos
bém é responsável pela coleta e utiliza caminhões es- depósitos comunitários diminuíram, assim como o
peciais, cujo objetivo é evitar o contato humano com os mau cheiro.
dejetos, que devem ser acondicionados de forma segura A instalação dos pontos de coleta veio após estu-
ao meio ambiente. Os resíduos são retirados do papa-lixo dos realizados pela Companhia de Serviços Urbanos de
por caminhões, cujos guindastes levantam uma espécie Natal (Urbana) que identificaram áreas vulneráveis ao
depósito irregular de lixo. O custo mensal de cada um
dos 80 papa-lixos é de R$ 1.500,00, e a Urbana reduziu
seus custos em 40% após adotar o sistema. A limpeza
dos depósitos papa-lixos é realizada diariamente.
Elas são bonitas e, embora de um
tamanho grande, são discretas e não
interferem no visual maravilhoso que
oferece a orla de Natal.
Julio Alcântara Lopez, turista mineiro

Agosto/2010 64
energia PCH

Pequenas
notáveis
Geradoras de energia limpa e renovável e menos impactantes ao meio ambiente
do que as grandes usinas hidrelétricas, elas recebem cada vez mais recursos e
conquistam a atenção do mercado de energia. Investidores estão ampliando
suas apostas nas Pequenas Centrais Hidrelétricas – as PCH –, que, além de
todas as qualidades, são importantes na descentralização da geração de
energia elétrica no Brasil. Só falta o setor público colaborar mais para que elas
deslanchem de vez.

PCH Indiavaí no Mato Grosso

Agosto/2010 66
Fotos: Divulgação/Brennand Energia

PCH Antônio Brennand no Mato Grosso

A
s Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) ocu-
pam posição de destaque no Brasil quando O Brasil pode virar um canteiro de
o assunto é fonte de energia renovável. Seu obras nesta área. Se tudo sair do
papel na diversificação da matriz energética brasileira
papel, é possível que em dez anos
é estratégico para assegurar abastecimento de energia
elétrica no território nacional. essas usinas respondam por 10%
Além de permitir a descentralização da geração de da nossa matriz.
energia, as PCH causam impactos ambientais meno- Daniel Araujo Carneiro, advogado especialista no assunto e Gerente de Pesquisa e
res se comparadas às grandes usinas hidrelétricas, já Desenvolvimento e Eficiência Energética do Grupo AES Brasil
que não podem alagar mais do que 3 km2 para formar
seu reservatório. O modelo, regulado pela Agência Na- A previsão é confirmada pelos números do Banco
cional de Energia Elétrica (Aneel) desde os anos 1990, de Informações de Geração (BIG) da Aneel: hoje, são
permite, ainda, que os projetos sejam executados em 371 PCH em operação no país, 61 em construção e ou-
um tempo menor. Enquanto as usinas de grande porte tras 150 outorgadas (que ainda não iniciaram sua cons-
podem levar até dez anos para entrar em operação, as trução). Pelos dados BIG-Aneel, hoje as PCH respon-
Pequenas Centrais Hidrelétricas têm suas obras con- dem por quase 3,2 mil MW e, somadas as unidades
cluídas em até três anos. em construção e as outorgadas, será possível chegar
Os principais representantes do mercado de ener- a um total de quase 6,2 mil MW. Atualmente, as PCH
gia já perceberam estas vantagens e vêm investindo respondem por 2,89 % da geração de energia no Brasil.
cada vez mais em PCH, que, por suas características, O fôlego do setor é tamanho, que existe até even-
também obtêm licenças ambientais mais rapidamente to próprio para reunir os empresários, investidores,
e são dispensadas de remunerar municípios e estados empreendedores, fabricantes, consultores, especia-
pelo uso dos recursos hídricos. Para ser considerada listas, agentes públicos e financeiros, como é o caso
uma PCH, a usina deve ter capacidade instalada supe- da Conferência de PCH – Mercado e Meio Ambiente,
rior a 1 MW (megawatt) e inferior a 30 MW. atualmente em sua sexta edição, agendada para acon-
“O Brasil pode virar um canteiro de obras nesta tecer no início de setembro.
área. Se tudo sair do papel, é possível que em dez anos Mais um exemplo do potencial das Pequenas Cen-
essas usinas respondam por 10% da nossa matriz”, res- trais Hidrelétricas vem de outra empresa do setor. O
salta Daniel Araujo Carneiro, advogado especialista no grupo Brennand Energia, com sede em Pernambuco e
assunto e Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento e escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, vem
Eficiência Energética do Grupo AES Brasil, autor do li- desde 2000 ampliando sua carteira de PCH e hoje já possui
vro PCHs – Pequenas Centrais Hidrelétricas. 11 delas espalhadas pelo Brasil.

67 Agosto/2010
Nem toda energia é positiva
Recentemente, as PCH sofreram um duro golpe em
seu potencial. O leilão de fontes alternativas promovido
pela Aneel no dia 22 de julho fixou preços-teto para a ven-
da energia proveniente das PCH em R$ 155/MWh, um va-
lor considerado inviável pela Associação Brasileira dos Pe-
quenos e Médios Produtores de Energia Elétrica (APMPE).
“O valor é baixo e não atende o mercado”, afirma Ricardo
Pigatto, presidente da APMPE.
Não bastasse esta questão, outro vilão desafia as Pe-
quenas Centrais Hidrelétricas: a carga tributária. “Desone-
rar o setor é muito importante. O governo nos exige mo-
dicidade tarifária, e uma PCH na fase de construção tem
34,5% de impostos. Se não tivéssemos que pagar tantos
impostos, certamente seríamos muito mais competiti-
vos”, declarou Pigatto no site da Associação. O represen-
tante do setor lembra também que, além de não haver
isenção ou redução tributária, não houve evolução tecno-
lógica para as PCH, impactando os preços.
Mas ainda existem outros problemas. Um estudo da
Enercons – Consultoria em Energia, empresa com sede na
capital paranaense, alerta para a atual política do governo
federal quando o assunto é a geração de energia, por meio
de sua agência reguladora do setor, a Aneel, e da Empresa
de Pesquisa Energética (EPE), ambas ligadas ao Ministério
de Minas e Energia (MME).
Segundo informações da Consultoria, a entrada
de 81 novas usinas térmicas, que utilizam a queima
de combustível fóssil para gerar energia elétrica, pre-
vistas no Plano Decenal de Expansão de Energia 2008-
2017 da EPE, causará um aumento significativo nas
emissões de CO2 do setor elétrico. A capacidade total
dessas termoelétricas chega a 13.600 MW de potência
instalada, ou seja, quase uma Usina de Itaipu inteira,
que tem 14.000 MW de capacidade instalada. “Te-
remos uma Itaipu de poluição”, observa o Diretor da Enquanto a Aneel e a EPE
Enercons, o engenheiro Ivo Pugnaloni. seguem o questionável
Enquanto a Aneel e a EPE seguem o questioná-
vel caminho da aposta em usinas poluentes como as caminho da aposta em usinas
térmicas, o documento elaborado pela Consultoria poluentes como as térmicas,
lembra que, segundo a Eletrobrás, o Brasil possui um o documento elaborado pela
potencial hidráulico inventariado e ainda não aprovei-
tado de quase 200 mil MW. Um vasto campo para o Consultoria lembra que, segundo
crescimento das PCH. a Eletrobrás, o Brasil possui um
potencial hidráulico inventariado
e ainda não aproveitado de
quase 200 mil MW.

Agosto/2010 68
E as fontes alternativas?
Curiosamente, o próprio Ministério de Minas e Energia possui,
desde 2004, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Ener-
gia Elétrica, o Proinfa. Segundo o próprio MME, o objetivo do Proinfa
é justamente “aumentar a participação da energia elétrica produzida
por empreendimentos concebidos com base em fontes eólica, bio-
massa e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) no Sistema Elétrico In-
terligado Nacional (SIN)”.
Resta saber, agora, como ficam as PCH na competição pelas fatias
de um mercado disputado também pelas geradoras de energia eólica e
as de biomassa. Interesses diversos podem direcionar os investimentos
para qualquer uma destas alternativas, mas, se lembrarmos da imensi-
dão de recursos hídricos disponíveis no Brasil, as pequenas e notáveis ge-
radoras hidrelétricas podem ter um futuro promissor.

Segundo o próprio MME, o objetivo do Proinfa


é justamente “aumentar a participação da
energia elétrica produzida por empreendimentos
concebidos com base em fontes eólica, biomassa e
Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) no Sistema
Elétrico Interligado Nacional (SIN).

Fotos: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi

69 Agosto/2010
qualidade do ar Queimadas

O fim do
fogo?
Fotos: Revista Novo Ambiente/Marcelo Cardoso

O estado de São Paulo tomou a dianteira em 2009 ao


sancionar lei própria para a Política Estadual de Mudanças
Climáticas e a partir dela desencadeou uma série de
ações em diferentes segmentos da atuação ambiental,
envolvendo a sociedade e o setor privado. Uma dessas
ações é o Protocolo Agroambiental, um compromisso
entre o governo paulista e a indústria produtora de açúcar,
etanol e bioeletricidade do estado para acabar de vez com
as queimadas. Apesar do avanço, os habitantes de cidades
próximas às lavouras de cana-de-açúcar ainda terão de
conviver com o problema pelo menos até 2017.

71 Agosto/2010
O Protocolo Agroambiental
Diante de tantos desafios, a indústria paulista do
setor decidiu também adiantar-se. Apesar da lei pre-
vendo o fim da queima na época de colheita da mono-
cultura até 2031, para alegria dos moradores de mu-
nicípios como Araraquara, Catanduva, Jaboticabal, Ri-
beirão Preto e São José do Rio Preto, deve trazer bons
ventos antecipadamente um documento assinado em
2007 pelo governo do estado de São Paulo, a União da
Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), as Secretarias de
Estado do Meio Ambiente e de Agricultura e Abasteci-
mento, além da Organização de Plantadores de Cana
da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana).
O Protocolo Agrombiental, parte do Projeto Eta-
nol Verde, estabelece o compromisso de antecipação
dos prazos legais para o fim do uso do fogo na colheita.

A
complexa relação entre os municípios do São duas situações: áreas em que é possível implantar
interior paulista e as lavouras de cana-de- a colheita mecanizada (com declive inferior a 12%) e
-açúcar está em transformação. Se de um áreas em que a mecanização não pode ser adotada.
lado estão os benefícios do setor sucroalcooleiro para Para a colheita de 2009/2010, a mecanização já
as pequenas e médias cidades, como geração de em- atinge 56%, segundo dados do Instituto Nacional de
pregos, arrecadação de impostos para a região e for- Pesquisas Espaciais (Inpe). Na colheita 2006/2007,
talecimento da economia local, de outro está um dos o percentual era de 34%. Poucos meses após a
mais incômodos momentos para quem mora perto de criação do Protocolo Agroambiental, 141 in-
uma grande plantação: a queimada na hora da colheita. dústrias do setor já haviam aderido, cor-
Comuns na época de inverno, as queimadas des- respondendo a mais de 90% do total de
pejam fuligem sobre as casas e quintais, acinzentam os cana produzida em São Paulo.
horizontes, poluem e causam o agravamento da sen-
sação de ar seco e das doenças respiratórias em época
de escassez de chuva.
Para dar um ponto final ao problema, sobretudo
em tempos de atenção focada nos temas ambien-
tais e de mudanças climáticas, o estado de São Paulo,
maior produtor de cana-de-açúcar do país, criou a Lei
n. 11.241, em 2002. Em seu texto original, a lei dispõe
sobre a “eliminação do uso do fogo como método des-
palhador e facilitador do corte da cana-de-açúcar”. Ou
seja, o fim da queimada.
“O ar fica muito seco nesta época, e com as queima-
das a situação piora muito, sem falar da sujeira que lite-
ralmente cai do céu”, reclama a dona de casa Vera Lucia
Torres dos Santos, moradora da capital que também pos-
sui casa em Araraquara, a 270 km de São Paulo, para onde
viaja frequentemente para visitar a família.
No entanto, como toda lei deve atender aos mais
distintos segmentos sociais, estipularam-se prazos
para que as indústrias produtoras de açúcar, etanol e
bioeletricidade tivessem tempo de se adequar, já que
tais mudanças exigem investimentos nos processos
produtivos e operacionais das instalações atuais.

Agosto/2010 72
Mecanização e safra recorde
“Queimar a palha de cana é um sistema medieval Interessante notar que tais medidas, além de favo-
e cultural, mas com o compromisso de adesão ao Pro- recer a qualidade do ar e da vida das pessoas, também
tocolo foi dado um passo na redução da poluição do ar podem beneficiar indiretamente outros segmentos
e uma contribuição para minimizar os efeitos da baixa da economia – como dos produtores e vendedores de
umidade que o interior paulista vem sofrendo nos úl- máquinas agrícolas – graças à busca de equipamentos
timos anos”, disse o Secretário Estadual do Meio Am- para a mecanização da colheita da cana-de-açúcar.
biente à época, Xico Graziano. Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de
Para reforçar o contexto de atuação pela sustenta- Veículos Automotores (Anfavea) mostram um aumen-
bilidade socioambiental, o governo paulista novamen- to de 42,8% nas vendas de máquinas agrícolas em ju-
te, desta vez em 2009, criou uma lei, conhecida como nho de 2010, em comparação ao mesmo mês de 2009.
Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), que O fator principal desse crescimento nas vendas é,
determina metas de redução de 20% das emissões dos obviamente, a atual safra recorde brasileira, cujas proje-
gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento ções feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
do planeta. Tal meta, segundo a Assessoria de Comuni- tística (IBGE) apontam mais de 146 milhões
cação do governo estadual, é quatro vezes mais rigoro- de toneladas de grãos em 2010.
sa do que a definida no Protocolo de Kyoto. Certamente, a mecanização da
colheita da cana no estado que é
o maior produtor da monocultura
O Protocolo Agrombiental, do Brasil deve colaborar em parte
para um aumento nas vendas de
parte do Projeto Etanol Verde, máquinas e também para a me-
estabelece o compromisso de lhoria da qualidade de vida, para
antecipação dos prazos legais a diminuição da poluição e para o
aumento da produtividade. Sai o
para o fim do uso do fogo na fogo, entra a sustentabilidade – e
colheita. o ar puro do campo.

Foto: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi

73 Agosto/2010
ÁGUa Químicos

Sabão
mais limpo
A mais conhecida marca de sabão em pó do Brasil retira de sua fórmula
o fosfato de sódio, um vilão para o meio ambiente. Medidas de
sustentabilidade como esta revolucionaram a estrutura da Unilever e vão
dar um grande alívio à natureza em escala mundial.

P
oucas marcas são tão fortes na cabeça dos mais de 150 países. Nos últimos cinco anos, embora a
consumidores quanto a do sabão em pó produção tenha aumentado em torno de 20%, redu-
OMO. O produto tem credibilidade entre ziu-se em 25% a utilização de água, em 24% o consu-
aquelas que estão na linha de frente das compras no mo de energia e em 59% as emissões de gases de efei-
mercado – as donas de casa – e é o mais vendido no to estufa nas fábricas do Brasil. Hoje, 56% da energia
país. “O branco que sua família merece” agora está se utilizada pela empresa provêm de fontes renováveis.
transformando no branco que a natureza merece. As
marcas OMO, Surf e Brilhante, da Unilever, começam
a ser vendidas sem o STPP (fosfato de sódio) em sua Eco-design
fórmula.
Já em 2007, a Procter & Gamble, que fabrica o sabão
em pó Ariel, iniciou a substituição do fosfato – eficiente na A preocupação com o ciclo de vida do produto,
limpeza e perigoso para o equilíbrio do meio ambiente – desde a extração da matéria-prima ao desenho das
por outra substância de impacto muito menor, e a própria embalagens, está bastante presente nas estratégias da
Unilever já vinha reduzindo progressivamente o elemento empresa. E a profundidade das iniciativas convence.
em suas fórmulas. O volume de consumo das marcas que Alguns exemplos do chamado Eco-design são bastante
agora baniram o uso de fosfato permite a previsão de um interessantes:
impacto positivo muito grande no meio ambiente, princi- 1) a embalagem do OMO foi modificada para o for-
palmente nas águas, as principais afetadas pelo STPP. mato horizontal, que utiliza 10% menos recursos na-
A medida está inserida em uma grande reenge- turais. Mais leve e menor, gasta-se 33% menos água e
nharia de produtos e produção, fortemente calcada na energia em sua fabricação;
sustentabilidade, que é considerada um dos maiores 2) o amaciante de roupas Comfort Concentrado
movimentos estratégicos da história do grupo anglo- passou por um amplo estudo de design. Na solução
-holandês Unilever. Trata-se do projeto “Por um pla- encontrada, suas propriedades foram concentradas e
neta mais limpo”, que atinge todos os setores e que a fórmula passou a utilizar menos 78% de água. A Uni-
não é apenas um projeto de filantropia, mas sim uma lever calcula que isso ainda represente uma economia
ação que busca readequar e tornar mais econômica e de 58% de plástico na embalagem e 52% de caixas de
eficiente a imensa produção industrial, distribuída em papelão para seu transporte.

Agosto/2010 74
O preferido das donas de casa em nova formula menos poluente.

Foto: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi


produção Castanha do Pará

O que é que a
castanha tem?
Ao comermos uma, apenas uma, castanha-do-pará (hoje nomeada
oficialmente como castanha-do-brasil), não somos capazes de imaginar
o tamanho – e a dificuldade – da cadeia produtiva que a envolve. E foi
pensando nisto que fomos até o pé de castanha no coração da Amazônia
para descobrir o valor, não apenas comercial, deste fruto.

Agosto/2010 76
Fotos: Revista Novo Ambiente/Priscila Stefen

A
castanha-do-brasil é coletada em pelo me- clareira na floresta. Fomos recepcionados por muitas,
nos cinco estados do Norte do país. Nós es- mas muitas borboletas amarelas.
colhemos o Amapá para contar um pouco Junto com as borboletas, alguns castanheiros nos
desta história. Tudo começa em Laranjal do Jari, divisa esperavam e, logo de cara, no olhar deles saltava o or-
com o Pará. São quatro horas de carro com tração nas gulho de estarem ali. Claro que também percebemos
quatro rodas para chegar até Porto Sabão, uma estrei- o cansaço. Um trabalho difícil que poucos imaginam
ta faixa de areia onde estacionam voadeiras (pequenos como acontece.
barcos de alumínio) que ganham o rio Jari acima. Ao en- Há duas décadas, aproximadamente, esses ho-
trar em uma das voadeiras é que começa a parte mais mens moravam no meio da floresta, ou seja, bem lon-
emocionante da viagem. Cinco horas subindo o rio sem ge da pequena cidade urbanizada mais próxima. Dali
parar, observando a exuberância e a imponência da flo- sempre tiraram seu sustento e até bem pouco tempo
resta, tivemos que parar e percorrer a pé um trecho de atrás muitos não sabiam nem o que era dinheiro. Os
100 m (que mais parecia uma praia de rio). Nesta hora atravessadores dominavam o comércio da castanha
chovia muito – a Amazônia nos dá estas surpresas com integralmente. Ficavam em barcos recolhendo a cas-
temporais fortíssimos uma hora, duas horas depois um tanha coletada pelos extrativistas a um preço muito in-
sol de quarenta graus e nenhuma nuvem no céu – e já ferior ao que realmente valia. A moeda corrente eram
estávamos cansados. Como o rio tem muitas corredei- mantimentos como arroz, feijão e frango. Para se ter
ras e tivemos alguns contratempos, como passar a vo- uma ideia, uma lata de leite em pó valia, na década de
adeira de 10 m de comprimento por terra por causa 1980, três barricas de castanha. Cada barrica acomoda
das fortes corredeiras, dormimos no caminho em uma mais de 100 kg de castanhas-do-brasil. “O atravessa-
simples parada chamada Itacará, onde funcionava um dor tem a lábia, um bom papo, então na verdade nós
garimpo décadas atrás. Lavamos algumas roupas, es- trabalhávamos pela comida, comprava o básico para
ticamos as redes e, assim que caiu a noite, dormirmos sobreviver. E nós nunca pagávamos a conta com ele,
para, antes de amanhecer, voltar a “ganhar” o rio, como era um processo contínuo, sempre deixava um saldo
os povos ribeirinhos falam. Mais seis horas de voadei- devedor pro ano seguinte”, explica Mariolando Araújo,
ra em uma paisagem única e chegamos a uma pequena um dos castanheiros que acompanhamos.

O rio tem muitas corredeiras e tivemos


alguns contratempos, como passar a
voadeira de 10 m de comprimento por terra
por causa das fortes corredeiras.

77 Agosto/2010
A grande virada desta história é protagonizada jus-
tamente por Mariolando e seu irmão, Sebastião Araú-
jo. Eles resolveram encarar os atravessadores e criar
meios próprios para transportar, beneficiar e vender
a castanha que produziam. Começaram mobilizando
outros castanheiros e o próprio governo da época para
a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
do Rio Iratapuru (afluente do rio Jari), que viria garantir
o território para trabalhar o extrativismo da castanha
de maneira organizada. A Reserva foi decretada em
1997, com 800 mil hectares, e também protege a área
de possíveis desmatamentos, como os vivenciados por
eles mesmos na década de 1970 com a chegada do
Projeto Jari à região, com o objetivo de fabricar celulo-
se a partir de eucaliptos.
Em boa parte do entorno de Laranjal do Jari, no
Amapá, e Monte Dourado, no Pará (esta última pro-
jetada exclusivamente para acolher os trabalhadores
da fábrica de celulose), não se vê mais floresta nativa
e sim grandes monoculturas de eucalipto. O tal projeto
faliu e já passou por três donos. Agora os proprietários
A repórter Priscila Stefen corta rios e igarapés não podem mais abrir área nativa para plantar euca-
da Amazônia para conhecer o cilco da castanha liptos, principalmente na área e no entorno da reserva
ambiental. “Foram três pontos importantes que en-
volveram a conquista da reserva ambiental. Primeiro
Fotos: Revista Novo Ambiente/Priscila Stefen manter a floresta. Com a floresta, nós temos água no
rio. O rio funciona que é a nossa estrada. Para você ter
um projeto que garanta estabelecer relações comer-
ciais com outros grupos, com outras empresas, precisa
ter uma aérea limitada, garantida; afinal, por quanto
tempo aquilo vai tá ali pra gente poder negociar? Foi

Foram três pontos importantes que


envolveram a conquista da reserva
ambiental. Primeiro manter a
floresta. Com a floresta, nós temos
água no rio. O rio funciona que é
a nossa estrada. Para você ter um
projeto que garanta estabelecer
relações comerciais com outros
grupos, com outras empresas,
precisa ter uma aérea limitada,
garantida; afinal, por quanto
tempo aquilo vai tá ali pra gente
poder negociar?
Sebastião Araújo, líder castanheiro

Agosto/2010 78
Linha de beneficiamento da castanha

um ponto importante. E daí a garantir o direito de cada mercado nacional e internacional. Muitos foram morar
extrativista que ele vai ter a certeza que ninguém vai em Laranjal do Jari e hoje passam 90 dias coletando a
destruir aquilo que ele tem”, explica Sebastião Araújo. castanha durante a safra. Pessoas que antes nem sa-
Outro fator importante para a continuidade do tra- biam ler, nunca tinham saído da floresta, agora já nego-
balho extrativista da castanha de forma digna e susten- ciam com grandes compradores em São Paulo e Belém.
tável foi a organização das comunidades que moravam Portanto, organizados eles conseguiram sair da
na floresta em associações, para que pudessem nego- mão do atravessador. Mesmo assim, em torno de 50%
ciar seus próprios produtos e ter uma visão melhor do dos extrativistas dependem deste mercado informal já
que nem todos têm esta visão e possibilidade de gerir
o próprio negócio.
Produtos derivados da castanha Este é o caminho da castanha-do-brasil, do Pará, da
Amazônia, que nós saboreamos de maneira fácil, com-
prando no supermercado. Agora, muito mais voltado
para a sustentabilidade e respeito à castanheira, árvo-
re que, além de símbolo da Amazônia, é protegida por
lei, sendo proibido o seu corte. Uma conquista dos pró-
prios extrativistas, que sempre viram a castanha descer
rio abaixo sem saber o seu verdadeiro valor. “Esse ga-
nho foi muito importante pra nós. Porque primeiro ele
deixou uma lição no passado, do que a gente fez de er-
rado. Era não estar organizado, a gente não tinha recur-
so, não tinha escola, não tinha uma série de coisas. Mas
mesmo a gente fazendo alguma coisa errada, a gente
tinha uma razão. E eu deixo aqui uma mensagem, que
todos deixem a sua opinião particular e convivam em
conjunto. Aceitem o que o ambiente fala, que é o ho-
mem, a floresta e os rios e os animais que estão aí. Por-
que não adianta ser bom pra mim e ser ruim pro futuro.
Chegamos aqui e nós vamos ver o futuro, o que vamos
fazer pra deixar uma herança muito legal para os que
virão por aí”, encerra Sebastião Araújo.
Então, que tal valorizar mais a hora de escolher de
onde veio a castanha que está na sua mão e saboreá-la?

79 Agosto/2010
80
Delson Amador
engenheiro eletricista

Quando o caos invade a faixa


T ema de capa desta edição da Revista Novo Am-
biente, a ocupação desordenada é muito mais do
que o pesadelo estético que observamos pela janela de
populações de seu entorno. O desrespeito a esta prer-
rogativa e suas pesadas consequências onera os co-
fres públicos e obriga à busca por paliativos que nem
nossos carros quando passamos por uma via periférica de sempre são eficientes. É necessário agir com profilaxia,
um grande centro urbano. Afora os problemas de ordem enfim, dentro de um planejamento que estabeleça
social, de saúde pública e até mesmo ambientais que ela criteriosamente as formas básicas de uma urbaniza-
acarreta, acumula-se outro aspecto igualmente preocu- ção organizada, que sem dúvida ofereça um nível de
pante, que é o momento em que essas áreas irregulares qualidade de vida muito superior ao das “terras de
avançam sobre faixas de domínio rodoviárias. ninguém”, que expõem a população à brutalidade de
A resultante desta movimentação é uma variável que um trânsito imerso em um contexto quase impossível
escapa ao controle de entes públicos e tem um impacto de administrar, deslizamentos de terra, falta de sane-
profundo e direto na dinâmica dos transportes. Indutoras amento básico – por vezes inviável diante do tipo de
de crescimento, as rodovias, como as grandes estradas de lugar – e o enorme custo social da falta de dignidade
ferro de outrora, provocam um aumento de atividade e habitacional. Um fato tão crítico que violenta a civilida-
impulsionam economicamente as regiões por onde são de e faz de uma rotina simples o ir e vir de direito, um
instaladas. Esta é uma característica estimada em qual- desafio cujo sucesso está atrelado à variação da sorte
quer projeto, mas que sofre, por vezes, a influência da im- de cada um. Sorte, por sinal, não faz parte nem do es-
ponderabilidade da mancha urbana que desperta. copo nem das atribuições da engenharia, que nasceu
É a evolução descontrolada destes fatores que faz para proporcionar conforto, segurança e permitir que
com que uma rodovia mude de “personalidade”, pas- o homem vença suas limitações. Os exemplos vêm de
sando a assemelhar-se mais com uma avenida. Perfis de países desenvolvidos como os EUA, que não inviabili-
tráfego extremamente distintos, com velocidades dire- zaram o crescimento de suas cidades; ao contrário,
trizes igualmente díspares, misturam-se repentinamen- quando investiram em obras de arte especiais, capazes
te em um adensamento urbano sem qualquer estrutura de interligar o trânsito urbano às rodovias, ampliaram
para absorvê-los ou dar uma vazão adequada a eles. sua capacidade de indutoras de desenvolvimento.
“Davis” contra “Golias”, um embate diário que cobra um Acredito ser quase inviável tentar solucionar vias
alto preço em vidas. Os exemplos da situação que des- que já contem com alta densidade populacional. Me-
crevo são inúmeros e carecem de uma solução estarre- lhor adaptá-las à condição atual de avenida e investir
cedoramente simples: fazer cumprir com rigor a lei. em novas vias para o trânsito rodoviário, exemplo do
O respeito à faixa de domínio é a única forma de que São Paulo está fazendo com o Rodoanel. Porém,
humanizar uma estrutura rodoviária, pois é essa fai- o respeito à faixa de domínio é discussão premente e
xa que permite a correta implantação de dispositivos que deve pautar a agenda de investimentos dos próxi-
que possibilitam uma interação harmoniosa com as mos anos no Brasil.
turismo Bahia

Bahia
desconhecida
Será que existe alguma novidade em uma região tão conhecida e explorada
turisticamente como Porto Seguro? Não é exatamente algo novo, pois está lá há
séculos, mas pode-se considerar uma redescoberta do ecoturismo pra aqueles
que gostam de estar mais perto de um Brasil natural e sustentável.

Agosto/2010 82
Fotos: Revista Novo Ambiente/Priscila Stefen

P
orto Seguro. Bahia. Uma cidadezinha tão
turística que só de ouvir falar já nos vêm à
memória: carnaval, axé, grupos de excursão Bem antes do descobrimento do Brasil,
(que, aliás, são muitos por lá) e muita, muita gente a
cada temporada. Mas existe um outro lado de Porto
a região Sul da Bahia, inclusive Porto
Seguro que poucos conhecem. Por enquanto... Um Seguro, era praticamente toda ocupada
lado onde a história, a cultura e a identidade da região por povos indígenas das etnias Pataxó,
estão sendo recuperados.
Bem antes do descobrimento do Brasil, a região Sul
Maxacali e Botocudo. Com o passar dos
da Bahia, inclusive Porto Seguro, era praticamente toda séculos, elas foram praticamente extintas
ocupada por povos indígenas das etnias Pataxó, Maxacali por este turismo comercial que nós
e Botocudo. Com o passar dos séculos, elas foram pratica-
mente extintas por este turismo comercial que nós conhe-
conhecemos hoje.
cemos hoje. Atualmente, só restam poucos índios pataxós
na região, mas eles já estão bem “aculturados” – como
costumam falar – e vivem de maneira bem diferente dos
índios mais antigos, seus ancestrais. Alguns documentos A história desse lugar é marcada pela luta dos índios
recentes elaborados por historiadores declaram, inclusive, pelo direito ao território historicamente ocupado por seus
o fim da etnia pataxó no Brasil. ancestrais. De um lado, o interesse comercial sempre an-
Mas nossa equipe de reportagem foi conhecer um dou a passos largos, rapidamente. De outro, líderes pata-
cantinho onde os próprios pataxós fazem um trabalho xós buscavam a demarcação da Terra Indígena de Coroa
diário para resgatar a identidade de seu povo e provar o Vermelha, município a poucos quilômetros de Porto Se-
contrário. Estamos falando da Reserva da Jaqueira, um guro. Há 13 anos, a Reserva da Jaqueira, que faz parte de
dos poucos remanescentes de Mata Atlântica no Sul da Coroa Vermelha, estava prestes a ser desmatada por um
Bahia, com uma área de 825 hectares – equivalente a 82 grupo imobiliário que estava grilando as terras em toda a
campos de futebol. faixa litorânea do Sul da Bahia.

Cultura nativa é preservada na


Reserva da Jaqueira

83 Agosto/2010
Em 1997, os índios conquistaram parte das terras que los próprios pataxós, mostram a riqueza de uma mata
sempre ocuparam. Coroa Vermelha foi decretada Terra preservada e todos os poderes das plantas medicinais
Indígena por esforços conjuntos liderados pelo cacique – geralmente usadas pelos pagés para curar suas tri-
da época. Mas foi uma mulher, chamada Nitinawã Pata- bos. O visitante também ouve palestras sobre a etnia e
xó, que resolveu sair da cidade, onde eles já estavam vi- acompanha o que os pataxós chamam de “ritual de inte-
vendo, e voltar a viver como indígena. Ela foi até a Reserva gração com o homem branco”. Ao final do passeio, que
da Jaqueira junto com as duas irmãs e a mãe e, num ritual pode ser de uma ou duas horas, o turista experimenta
à terra em noite de lua cheia, decidiram morar ali como um peixe assado na folha de patioba, uma espécie na-
antigamente: em ocas, chamadas por elas de kijemes, tiva da região. Os passeios custam entre R$ 25,00 e R$
com a vestimenta também usada pelos mais antigos – as 35,00 por pessoa, pagos diretamente aos índios, não ha-
mulheres de saia de palha e cascas de coco, e os homens vendo intermediação de agências de viagem.
apenas com as saias de palha –, além de fazer diariamente Para complementar a renda dos pataxós que deci-
a pintura na pele, principalmente no rosto. Para integrar diram retirar o mínimo possível da Mata Atlântica para
as pessoas que foram deixando aos poucos a aldeia ur- preservar o pouco que resta na região, eles mesmos
banizada de Coroa Vermelha (após o decreto, a aldeia de passaram a extrair a fibra da palmeira piaçava, aquela
pataxós vive ainda principalmente do turismo), Nitinawã usada para fazer vassouras. Antes, essa atividade não
começou a resgatar os rituais fechados, onde eles cultuam existia na região porque ela era ocupada por “homens
os elementos naturais. brancos”, mas os índios sempre souberam fazer esse
De volta à terra, principal garantia dos índios para tipo de extrativismo. Com a demarcação da terra, os
poder ser quem são, eles percebem que os 825 hec- pataxós descobriram o potencial do manejo das pal-
tares de Mata Atlântica não podem ser aproveitados
como antigamente. “Nós precisamos preservar este
espaço. Decidimos não caçar, não pescar nem cortar
as árvores”, conta Nitinawã. Mas, ao mesmo tempo, Ao final do passeio, que pode ser de uma
precisavam sobreviver. Foi aí que surgiu a ideia de abrir ou duas horas, o turista experimenta um
a Reserva para o etnoturismo, que envolve o turismo peixe assado na folha de patioba, uma
cultural e ambiental. “Essa é uma forma de a gen-
te legitimar a nossa cultura, nossos costumes, nossa espécie nativa da região.
identidade e mostrar para o homem branco que nós
podemos viver em harmonia, desde que todos se res-
peitem”, finaliza a líder indígena.
Chegar à Reserva realmente faz parecer que volta-
mos ao tempo em que os índios eram maioria naquela
região. Os passeios pelas trilhas ecológicas, guiados pe-
Crianças conhecem a cultura Pataxó

meiras que têm ali. Em uma parceria com o Instituto acontecia. Estamos organizando um barracão dentro
BioAtlântico, eles mapearam todos os pés de piaça- da Reserva da Jaqueira para beneficiar a fibra e fazer
va e chegaram a mais de 20 mil árvores. “O plano de vassouras”, explica Aderno Pataxó, membro da aldeia e
manejo vem para nos fortalecer e para aprendermos cunhado de Nitinawã.
a extrair a fibra da piaçava de maneira que possamos Na Reserva da Jaqueira, a organização, a discipli-
trabalhar o ano inteiro com o material, o que antes não na, a união e o respeito pelo território conquistado
ajudam a manter a tradição da cultura pataxó. Se os
índios não estivessem ali, provavelmente já teriam
sido extintos. Para organizar o trabalho de turismo,
os próprios indígenas criaram a Associação Pataxó de
Ecoturismo, em 1998. É um novo olhar e uma grande
descoberta de uma região que já se mostrava saturada
pelo turismo de grande porte.

Essa é uma forma de a gente


legitimar a nossa cultura, nossos
costumes, nossa identidade e
mostrar para o homem branco
que nós podemos viver em
harmonia, desde que todos se
respeitem.
Nitinawã Pataxó, líder indígena

85 Agosto/2010
86
Svetlana Maria de Miranda
advogada especialista em Direito Ambiental

A legalização inconstitucional
da crueldade aos animais
A relação do ser humano com animais sempre
foi regida pela noção de domínio. Acostuma-
do à ideia de legitimidade da exploração dos animais
o ato de praticar abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar
animais silvestres, domésticos ou domesticados, nati-
vos ou exóticos.
e da natureza, o homem tem agido, muitas vezes, com No entanto, em total divergência aos ditames
arbitrariedade, torpeza e irresponsabilidade. constitucionais e infraconstitucionais acima dispostos,
A Constituição da República, no afã de frear o vigora desde 2004 no estado do Rio Grande do Sul uma
aludido processo e proporcionar um meio ambiente alteração promovida no Código Estadual de Proteção
ecologicamente equilibrado para a coletividade, haja aos Animais que permite o sacrifício de animais em
vista a importância da atuação da fauna e da flora na cultos e liturgias de religiões de matriz africana, lega-
conservação do equilíbrio ambiental, atribui ao Poder lizando, dessa forma, a prática de atos de crueldade
Público a incumbência, entre outros deveres, de prote- contra animais, mesmo que constitucionalmente essa
gê-las, vedando as práticas que coloquem em risco sua ação seja condenada e abolida.
função ecológica, provoquem a extinção das espécies A sociedade parece que ainda não acordou para o
ou submetam os animais a crueldade. fato de que é chegada a hora de se esfacelarem velhos
A crueldade advém do que é cruel, que por sua vez tabus. Os animais, embora não tenham personalidade ju-
significa aquilo que se satisfaz em ser ruim, insensível, rídica, possuem personalidade própria, de acordo com a
desumano, ou seja, que submete o animal a um mal sua espécie, natureza biológica e sensibilidade. O direito
além do absolutamente necessário. à integridade física e à vida é imanente a todo ser vivo, e
Nessa seara, a Lei de Crimes Ambientais tipifica está umbilicalmente ligado à sua própria natureza, indife-
como crime punível com as penas de detenção e multa rentemente de ser humana, silvestre ou doméstica.

Ilustração: Revista Novo Ambiente/Marco Jacobsen


88
Edemar Gregorio
escritor e jornalista

Uma outra chance


E la dá duas tossidas, convulsiona e pifa defini-
tivamente. Minha máquina de lavar roupas
bateu as engrenagens depois de dez anos ajudando a
países banhados pelo Pacífico, onde o Japão “desova”
seus “calhambeques” a preço de banana.
Certo, mudei de assunto bruscamente. Só estava
vida de um homem solteiro como eu. Desconfio que ilustrando um problema de sociedades que baseiam
ela esteja se fazendo de morta para conseguir outra suas economias no consumo, como a nossa está fazen-
sobrevida, já foi consertada duas vezes. Outra chance do. Por um lado, temos produtos melhores e mais bara-
para ela? Olho para as ferrugens que começam a su- tos, e, de tão baratos, a tentação nos manda comprar os
bir de seus pés. Sim, minha querida, me desculpe, mas novos e cada vez mais belos designs. Os não tão novos,
desta vez você vai para... para onde? Dei-me conta de em geral com pequenos defeitos, ficam abandonados.
que acabava de arrumar um baita passivo ambiental A umidade e a poeira se encarregam de inutilizá-los
e que a logística reversa, estipulada pela nova Lei de para sempre. Ah, por favor! Não me deixe com remor-
Resíduos Sólidos, não atribui obrigações retroativas. sos (digo para mim), quero me livrar daquele trambolho
Ou seja, os fabricantes não são responsáveis pela des- que precisa da força de três homens para ser levantado.
tinação dos produtos vendidos antes da promulgação Sites que intermedeiam doações. Eles são ótimos!
da lei. Dancei. E a máquina ali, começando a tomar Alguns, como o Agente Cidadão, ainda buscam a doa-
feições perversas de um monstro ambiental prestes a ção no local e entregam na casa do beneficiado, sem
contaminar o planeta com sua carcaça longeva, burra- custos. Seria uma beleza, mas teria que mandar con-
mente muito mais durável que sua vida útil. sertar a falecida para que tivesse utilidade real. Mas,
Confesso que sou mais consumista do que deve- se eu mandasse arrumar, iria me enrolar para comprar
ria ser e que já estava de olho em uma nova máquina outra. Pequenos dilemas de quem quer viver em uma
com secadora de roupas, o que resolveria muito bem o era sustentável.
único problema que tenho no sobrado em que moro: Fundi as opções: mandei consertar e vou doar.
a falta de uma área ensolarada para secar minhas rou- “Ah, o malandro passou o passivo pra frente”, você
pas. É agora que eu levo! Mas e o passivo? deve ter pensado. Confesso que deu uma vontadinha,
Já na década de 80, eletrodomésticos e automó- mas minha consciência não permitiu. No mais, em um
veis seminovos eram entulho sem nenhum valor co- site eu vi que estudantes precisam, agora fico até sem
mercial no Japão. Isso porque a reconstrução do país jeito de não colaborar. Vai lá: “Doo máquina de lavar, 8
pós-guerra, arrasado por bombardeios e duas bombas kg, porta frontal, revisão com seis meses de garantia.
atômicas, se fundamentou na produção industrial, e a Quando ficar definitivamente fora de uso, garanto seu
dinâmica de sua economia trouxe uma grande depen- descarte de forma correta”. Pronto, consciência limpa
dência do consumo interno para sua estabilidade. Com (e mais tempo para achar uma destinação correta).
isso, há décadas, é mais barato comprar produtos no- Resolvi dar mais uma chance para minha velha
vos do que mandar arrumar. Aqui ainda não é assim, amiga; ademais, não queria vê-la virando uma criatura
pelo menos no plano geral das coisas. Rejeitados lá, do mal assim, tão fácil. O mundo não mudou com isso,
bem aceitos cá, na América do Sul, em especial nos mas eu, sim. Já é alguma coisa.

Ilustração: Revista Novo Ambiente/Marco Jacobsen


DICAS Ecológicas

Tome uma atitude!


Quando o assunto é preservar o meio ambiente, você pode se perguntar:
mas o que eu posso fazer para mudar alguma coisa? O primeiro passo pode
ser mudar a postura em relação ao consumo – atitude que faz uma grande
diferença no final da cadeia produtiva.

Tijolo ecológico
C omposição: terra, cimento (de 5 a 12%) e água.
O tijolo de solo-cimento é mais ecológico porque
sua produção, por meio de prensagem hidráulica, ocorre
sem a queima de madeira e o consumo de energia (pre-
sentes na fabricação dos tijolos cerâmicos convencionais).

Fotos: Divulgação
Esse tipo de tijolo é autotravado: o encaixe preciso
requer apenas um filete de cola branca, dispensando a ar-
gamassa e gerando uma economia de até 50% no tempo
de execução da obra. A aparência lisa permite também
que o tijolo seja aplicado sem reboco, reduzindo ainda
mais o consumo de material. Outro benefício são os furos,
que facilitam a passagem dos dutos elétricos e do sistema
hidráulico. Na hora da compra, vale se certificar se o pro-
duto obedece ao que preceitua a Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) e se a empresa ou as máquinas
Sacolas de pano
A
usadas contam com certificado de qualidade. gora parece que elas serão mais úteis do que
Preço médio: R$ 310 (milheiro de 10 x 20 cm), R$ nunca. Pelo menos no Rio de Janeiro. Em julho
450 (milheiro de 12,5 x 25 cm) e R$ 690 (milheiro de de 2009, foi sancionada a Lei Estadual n. 5.502, que prevê
15 x 30 cm). o recolhimento das sacolas plásticas dos estabelecimen-
tos comerciais e a substituição por bolsas retornáveis.
Microempresas passaram a ter três anos para se adaptar
à lei; pequenas empresas tiveram um prazo de dois anos;
e empresas de médio e grande porte já podem ser mul-
tadas caso não tenham cumprido a lei, já que tinham um
ano para fazer a adaptação. Quem não cumprir será mul-
tado em valores que variam de R$ 200,00 a R$ 20 mil. A lei
determina que a cada cinco itens comprados no comércio,
como em supermercados, o cliente que não usar sacola
plástica vai ganhar um desconto de, no mínimo, R$ 0,03.
Além disso, cada 50 plásticos que você entregar no super-
mercado podem ser trocados por 1 kg de arroz ou feijão (a
empresa que não comercializar arroz ou feijão pode fazer
a troca por outro item da cesta básica).
Que tal tomar atitude e já começar a levar as bol-
sas retornáveis mesmo se sua cidade ainda não tiver
uma lei como esta?

Agosto/2010 90
Safári no Brasil Código Florestal Russo
Foto: ASCOM/PF

Era só o que faltava, mas agora não


falta mais. Não bastasse o desmata-
mento, a lastimável perda de biodi-
versidade pela qual passamos ganhou Foto: Divulgação

uma joia: um caçador-empresário foi


A Rússia enfrenta o verão mais quente de seus últimos mil
preso pela Polícia Federal, na Opera-
anos. Em junho, foram dez recordes de alta, girando em torno
ção Jaguar, por trazer caçadores bra-
de 40 graus. Os incêndios já devastaram mais de 10% de áre-
sileiros e gringos para participar de
as federais protegidas e já mataram mais de 50 pessoas, se es-
safáris em que onças-pintadas, pardas
palhando por várias partes do território russo. O Greenpeace
ou pretas, eram abatidas de forma co-
acusa o Primeiro-Ministro Vladimir Putin, que assinou o novo
varde e despropositada. Ou melhor,
Código Florestal russo em 2007. Entre outras medidas, o do-
seu propósito era, se o cliente pagasse
cumento quebrou o controle de queimadas e deu fim à guarda
bem, que a onça fosse empalhada por
florestal. O Greenpeace reuniu 50 mil assinaturas pedindo a
um taxidermista e levada como troféu
restauração do corpo de guarda e alertou o governo russo em
para casa. Só se for para o prêmio de
abril sobre a eminência dos incêndios. “Se a situação dos guar-
covardia coletiva. Quinze pessoas fo-
das florestais não for modificada, o país pode enfrentar uma
ram presas pelo dano inestimável ao
catástrofe em suas florestas no próximo verão”, dizia o docu-
patrimônio natural brasileiro.
mento da ONG. Não deu outra.

Desflorestamento
O Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Ama-
zônia (Imazon), que realiza monitoramento paralelo ao
oficial, apontou que, em junho deste ano, 172 km2 de flo-
resta amazônica foram destruídos, 18 km2 dentro de áre-
as sob proteção ambiental. O Imazon aponta que, entre
agosto de 2009 e junho de 2010, o desmatamento atin-
giu 1.333 km2, número 8% maior que no mesmo período
do ano passado. O campeão da motosserra é o Pará, que
tinha 67% do total de árvores derrubadas, seguido por
Amazonas (13%) e Mato Grosso (10%).

Foto: Revista Novo Ambiente/Oberti Pimentel

Agosto/2010 92
Emissões pesadas
No maior aeroporto do Brasil, o de Guarulhos, fo-
Esquentou, de fato ram emitidos mais de 14 milhões de toneladas de ga-
ses poluentes em 2009. Segundo notícia publicada no
O relatório anual Estado do Clima, resultado do tra- site da Confederação Nacional dos Transportes, um
balho de 300 renomados cientistas de 48 países, apon- avião polui dez vezes mais que um carro. A Prefeitu-
ta que o aquecimento global é inegável. Os estudos já ra de Guarulhos está exigindo o plantio de árvores na
apontavam elevações progressivas e inéditas nos anos proporção dos gases emitidos.
80 e 90, mas agora já está confirmado que a década en-
tre 2000 e 2009 foi a mais quente já registrada na his-
tória. O relatório foi divulgado pela Administração Na-
cional de Atmosfera e Oceano (NOAA) e considera dez
indicadores de aquecimento. Sete deles estão em ele-
vação (temperatura média do ar, taxa de vapor de água
no ar, conteúdo de calor nos oceanos, temperatura do
ar sobre o oceano, temperatura do ar, temperatura da
superfície do mar e nível do mar) e três apontam declí-
nio (cobertura de neve, geleiras e gelo sobre o mar).

Foto: Revista Novo Ambiente/Leonilson Gomes

O impacto dos trilhos da Valec


O Ministério Público Federal no Tocantins entrou
com uma ação civil contra a empresa Valec, respon-
sável pela ferrovia Norte-Sul, por diversas irregulari-
dades na obra.
No relatório de vistoria realizado pelo Ibama,
foram constatadas, entre outras irregularidades, a
deposição de materiais excedentes em áreas de pre-
servação permanente; a obstrução de passagens de
água; a má gestão de resíduos sólidos e efluentes; a
não execução do Programa de Recuperação de Áre-
as de Exploração de Jazidas e Bota-Foras; a falta de
licenciamento ambiental para as estruturas de apoio
localizadas fora da faixa de domínio; a ocorrência de
processo erosivo em taludes proveniente de corte
ou aterros, devido à não revegetação; a revegetação
insuficientemente estabelecida em caixas de em-
préstimos. “A ação conclui que a Valec preocupou-se
exclusivamente em avançar as obras físicas dos tri-
lhos numa velocidade espantosa, deixando para trás
todo o estrago provocado pelo desenvolvimento das
obras, relegando o cumprimento de suas obrigações
socioambientais”, aponta o Procurador da República
Álvaro Manzano, que assina a ação e requer da Justi-
ça Federal fixação de multa à Valec recomposição de
todos os danos ambientais provocados pelo empre-
endimento e pagamento de indenização pelos danos
causados ao meio ambiente pela construção “estaba-
nada” das obras da ferrovia Norte-Sul.

Foto: Revista Novo Ambiente/Leonilson Gomes

93 Agosto/2010
resposta Repercussão
!
Manejo do Parque do Monge
R ecebemos algumas dezenas de e-mails, de vá-
rios estados do Brasil, a respeito da matéria in-
vestigativa que apontou procedimentos questionáveis
• Antes mesmo do início dos trabalhos de revitali-
zação do Parque, o IAP realizou uma pesquisa com mo-
radores e turistas para saber o nível de satisfação que
no plano de manejo e no processo de erradicação de as pessoas tinham em relação ao parque. E a maioria
espécies exóticas do Parque do Monge. Dois destes e- das pessoas responderam que estavam insatisfeitas
-mails criticam a matéria, um do Instituto Ambiental com as instalações e achavam importante as mudan-
do Paraná, (que se lê na íntegra logo abaixo) e outro do ças que estão sendo feitas. Além disso, as visitas eram
Instituto Hórus, seu parceiro em processos de manejo. feitas de forma desordenada e causavam danos aos
A indignação deu o tom dos outros e-mails, mas publi- ambientes naturais do Parque.
cá-los pareceria que tentamos ser tendenciosos na for- • Além disso, o IAP juntamente com representan-
mação de opinião. Estas opiniões podem ser vistas em tes do município, instituições privadas, terceiro setor
nosso site. Após o educado e-mail da assessoria de co- e sociedade civil organizada constituíram o conselho
municação da Secretaria de Meio Ambiente do Estado gestor do parque onde todas as informações são discu-
do Paraná, resolvemos, por iniciativa própria, sem ne- tidas de forma transparente e democrática e também
nhuma obrigação legal que nos determinasse a fazê-lo, todas as reuniões abertas ao público.
publicar na íntegra a resposta, para, como cita o asses- • Para melhorar a conservação e o uso público, a
sor, “contribuir para a democratização e o acesso as in- área foi estudada sob todos os aspectos: físicos, bioló-
formações”. O leitor pode ler a matéria sobre o manejo gicos e sociais. Os estudos realizados no decorrer deste
no Parque do Monge, publicada na edição anterior, no processo foram consolidados no Plano de Manejo do
site: www.revistanovoambiente.com.br, ler a resposta Parque, o qual recomendou a recuperação dos am-
abaixo, se possível, visitar o parque em questão e tirar bientes, com a finalidade de aliar conservação com
suas próprias conclusões. Se ainda quiser ouvir outras educação ambiental, oferecendo ao público visitante
matérias que surgiram da repercussão causada, poden- um ambiente agradável para o lazer e o aprendizado.
do acessar o site da TV Parananense (RPC) afiliada da • Comparativo de Fotos: As fotos mostradas na pá-
Rede Globo no Paraná, que dedicou uma matéria de gina 25 da revista mostram um comparativo um tanto
mais de oito minutos ao tema ou no maior jornal para- quanto tendencioso porque são paisagens de pontos
naense a Gazeta do Povo, após a publicação da nossa referenciais diferentes uma da outra e induz um com-
matéria. parativo ao leitor do antes e depois. Em relação a esse
comparativo, mostra-se nítido o objetivo da matéria
Leia a resposta do IAP à matéria publicada na edi- em causar impacto emocional e formar opiniões ao lei-
ção passada. tor através de comparativos e conceitos equivocados.
• Reconhecemos o impacto que vem sendo causa-
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recur- do pela exploração florestal das espécies exóticas inva-
sos Hídricos e o Instituto Ambiental do Paraná, através soras, porém o benefício ambiental em se recompor os
da Assessoria de Comunicação Social, esclarece as in- ambientes naturais originais e sua recuperação da bio-
formações publicadas na matéria “Promessa, a gente diversidade superará o ilusório conforto da permanên-
precisa cumprir”, da edição de julho 2010, da Revista cia dos reflorestamentos e da desordem que se conso-
“Novo Ambiente – Desenvolvimento com Equilíbrio” lidou por muitos anos na Unidade de Conservação de
que fala sobre a revitalização do Parque Estadual do Proteção Integral.
Monge, na Lapa. • No entanto, todas as intervenções feitas até ago-
Portanto, com o intuito de contribuir para a demo- ra, na revitalização do Parque, foram respaldadas tec-
cratização e o acesso as informações, sempre levando nicamente e baseadas em resoluções e decretos res-
em conta o respeito aos leitores deste importante ve- peitando todos os atos legais.
ículo de comunicação, seguem algumas informações: • Reabertura do Parque. Diferentemente do que
• Primeiro, algumas das informações publicadas foi informado na matéria, o Parque foi reaberto par-
na matéria não correspondem com a verdade e nem cialmente atendendo pedidos dos fiéis que vão até o
com o sério trabalho de revitalização que vem sendo local para o pagamento de promessas. Portanto, essas
feito no Parque Estadual do Monge, na Lapa, por pro- visitas são realizadas com monitores e o acesso restri-
fissionais altamente qualificados do IAP. to. A equipe de reportagem foi autorizada entrar no

Agosto/2010 94
Parque porque já tinha sido combinado com a Assesso-
ria de Comunicação do órgão.
• Plano de Manejo. Para que todos saibam o Pla-
no de Manejo é um instrumento de zoneamento nor-
teador que apresentará o direcionamento das várias
ações que serão realizadas dentro de uma unidade de
conservação, bem como a manutenção, administra-
ção, fiscalização, manejo ambiental, entre outros. Por-
tanto, um instrumento que estabelece critérios e até
mesmo define o futuro do parque e/ou unidade.
• Investimentos. O Governo do Estado irá investir
cerca de R$ 6 milhões, isso significa quase o dobro do
recurso que foi destinado com o recolhimento da ma-
deira do Parque que é sim, monitorado e acompanha-
do por profissionais do IAP. Além dos R$ 3,5 milhões –
oriundos da licitação da extração de madeira - serão
investidos cerca de R$ 3 milhões em esgotamento e
infraestrutura.
• Atrasos. O Governo do Estado, por meio dos
órgãos ambientais Sema e IAP, reconhece sim que a
revitalização não está cumprindo os prazos estabele-
cidos previamente, mas isso devido as trâmites buro-
cráticos e os prazos legais estabelecidos na adminis-
tração pública e em algumas situações as condições
climáticas. Portanto, todas as ações estão sendo fei-
tas de forma transparente e conta com a compreen-
são da comunidade.
• Diferente do que foi citado na matéria, o Gover-
no do Estado não tem o interesse de tirar o parque da
comunidade lapeana e de seus visitantes. Mesmo por-
que é notória a importância do parque que já está inse-
rido no roteiro turístico e histórico cultural de uma das
cidades mais importantes do Paraná. Por isso, os pro-
fissionais estão trabalhando para proporcionar uma
unidade de conservação melhor para o lazer, a religião,
o entretenimento, e, principalmente, sendo referência
do ponto de vista ambiental.

Assessoria de Comunicação Social – IAP / SEMA


imprensasemapr@gmail.com

Links para as matérias:


RPC:
www.rpctv.com.br/paranaense/video.phtml?Video_ID=&seq=95
010,95011,95014,95013&Progra_ID=5)
Gazeta do Povo:
(http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.
phtml?tl=1&id=1035729&tit=Parque-do-Monge-fica-aberto-so-
-mais-2-meses
Lente Limpa

Paulo Negreiros é nosso fotógrafo em Brasília, onde nasceu, filho de candango. Trabalha há 22 anos com
fotojornalismo na capital federal, onde adquiriu respeito e admiração de profissionais da imprensa e dos
leitores. Pela nova Lei de Resíduos Sólidos (Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010), é expressamente proi-
bido qualquer tipo de catação em aterros, mas essa é uma realidade que ainda só existe na teoria. Na
foto, uma catadora analisa o incógnito resíduo enquanto, ao fundo, o Distrito Federal finge não saber
Paulo Negreiros aonde vão parar as toneladas de lixo que são descartadas diariamente.
DA REDAÇÃO Um Novo Ambiente

Direto dos escapes:


o ar que respiramos
E
la tem várias cores e vem acompanhada de
uma infinidade de ruídos. Azulada, preta,
branca, tanto faz, a fumaça emitida pelo
cano de descarga de um automóvel é uma das imagens
que compomos quando pensamos em “qualidade do
ar”. Pois bem. E os fatores que contribuem para sua
piora? Uma frota antiga, motores desregulados, ex-
cesso de veículos, transportes coletivos ineficientes (e
poluentes) são algumas das alternativas que são enu-
meradas pela maioria de nós, que não presta atenção
ao mais elementar objeto desta cadeia: o combustível.
Foi pensando nele que a Central de Jornalismo da
Revista Novo Ambiente resolveu investigar a fundo,
convocando especialistas no assunto para elucidar dú-
vidas e fazer um “raio-X” sobre a qualidade (e a parce-
la de sua culpa na poluição do ar) do combustível que
circula pelos tanques, motores (e pulmões) da popu-
lação, e essa matéria será publicada em nossa próxi-
ma edição. Se, por um lado, pressupomos um imen-
so avanço tecnológico no setor automobilístico, com
motores cada vez mais econômicos, eficientes e que
poluem menos, por outro, temos pouca ou nenhuma
percepção sobre o que ocorre com o principal elemen-
to que os faz funcionar.
É fato notório que, por razões e particularidades
brasileiras (como a adição de álcool na gasolina), o tipo
de combustível que sai de nossas bombas é no mínimo
bastante peculiar, o que no começo das importações
da era Collor resultou em alguns embaraçosos casos
de carrões caríssimos fumaceando como Winston
Churchill pelas ruas. A maior parte das “tropicaliza-
ções”, adaptações dos carros para o mercado e con-
dições brasileiras, começou, inclusive, motivada pela
qualidade da gasolina disponível por aqui. Será que
de lá para cá os combustíveis mudaram, melhoraram,
avançaram no ritmo “automobilístico” da indústria? É
o que queremos descobrir.

Agosto/2010 98

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