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“VAIA DE BÊBADO NÃO VALE?

”: Contribuições do Aporte Antropológico


Para a Discussão da “Lei Seca” em Maringá-PR 1

Thomás Antônio Burneiko Meira 2

RESUMO: Desde as primeiras experiências em território brasileiro, a chamada “Lei


Seca”, que limita o horário de funcionamento de bares e espaços similares, tem se
mostrado controversa. Embora uma parcela dos políticos e representantes da segurança
pública a considerem eficaz no combate à violência urbana, proprietários e
freqüentadores dos estabelecimentos sancionados expressam descontentamento,
alegando prejuízos sociais e comerciais. Na cidade de Maringá - PR, a medida tem se
fortalecido nos últimos anos, a partir de algumas sanções colocadas em prática pela
Prefeitura Municipal, com o respaldo das associações dos moradores de bairros. Dada
essa situação, o presente artigo pretende introduzir a perspectiva antropológica no
debate acerca dessa questão. Mediante o aporte de uma revisão bibliográfica que
contempla a função social dos bares e de alguns dados etnográficos recolhidos em uma
pesquisa na cidade de Londrina – PR, a hipótese defendida é a de que tais espaços não
são “naturais” ou necessariamente propícios à “desordem”, “criminalidade” e violência;
pelo contrário, quando se considera a “lógica nativa” tais suportes tendem a constituir
como lugares “organizados” e privilegiados para a sociabilidade no contexto urbano,
que se revela cada vez mais segregado e carente de opções de lazer.

PALAVRAS-CHAVE: “Lei Seca”. Bares. Sociabilidade. Etnografia Urbana.

INTRODUÇÃO

Males da alma são como males do corpo.


E, por coincidência, o remédio é sempre em doses.
Thiago Ferrari, “Poemas de Bar”.

Há aproximadamente dois anos, em agosto de 2008, já próximo à conclusão de


minha dissertação de mestrado, me mudei da cidade de Londrina, localizada na região
norte do Paraná, para o município de Maringá, no noroeste do estado. Visando acelerar
minha adaptação em uma cidade que me era praticamente desconhecida, optei por
residir na Zona 07, um bairro contíguo à Universidade local, compartilhado por muitos
estudantes, distribuídos em inúmeras “repúblicas”, e várias famílias. Por tratar-se de

1
Artigo apresentado na VIII Semana de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
2
Mestre em Antropologia Social pela PPGAS – Universidade de São Paulo; Professor de Sociologia e
Antropologia da Faculdade Metropolitana de Maringá – UNIFAMMA.
2

uma área repleta de bares, lanchonetes, padarias, lan-houses, entre outros equipamentos
urbanos destinados à sociabilidade entre os jovens universitários, acreditava que a
permanência naqueles arredores me permitiria uma integração mais rápida à sociedade
maringaense e especialmente à sua vida acadêmica. De fato, em apenas algumas
semanas eu já havia me aproximado de muitas pessoas, em sua maioria estudantes, que
partilhavam de minhas preferências, sobretudo musicais e intelectuais, e com as quais
atualmente mantenho contatos regulares.

Ao mesmo passo em que me adaptava à cidade e avançava na elaboração de meu


estudo, uma questão amiúde despertava minha atenção. Quanto mais a pesquisa – sobre
os circuitos de lazer e a vida noturna em Londrina – apontava para a importância social
dos bares e botequins em uma cidade notadamente segregada, também se tornavam cada
vez mais freqüentes as situações e relatos de conflitos envolvendo famílias e
universitários na Zona 07, em Maringá. As primeiras acusavam os estudantes de
“barulhentos” e “baderneiros”, enquanto esses últimos se defendiam mediante o
argumento de que “faziam faculdade”, e, portanto, “não eram vagabundos” e estavam
“apenas se divertindo”. Nessas contendas, os bares, assim como alguns outros
equipamentos urbanos análogos, eram representados pela maior parte das famílias da
região como locais potenciais para a “bagunça” e para a produção dos “desagradáveis”
ruídos provocados durante todas as noites da semana. Ainda, quando as desavenças
exigiam a intervenção da polícia, dificilmente o poder público tomava posição favorável
aos estudantes, que em algumas vezes eram obrigados a assinar boletins de ocorrência,
responder a processos e, não raramente, eram encaminhados à delegacia.

Para além de uma impressão pessoal, o aparente estigma incidido pelas famílias
da região aos bares e botecos do bairro se confirmou algum tempo após minha chegada
à cidade, no mês de novembro de 2008. Nessa ocasião, mediante um projeto de lei
aprovado em caráter de urgência pela Câmara de Vereadores, com o apoio de alguns
moradores da área, fora proibida, pela segunda vez consecutiva, a venda de bebidas
alcoólicas nas proximidades da Universidade Estadual de Maringá no período do
vestibular, que ocorreria dali a alguns dias. Conforme os termos utilizados pela
assessoria de imprensa da Prefeitura em seu site institucional, a medida, que previa
multas pesadas aos comerciantes que a desacatassem, visava coibir os “excessos”,
“abusos” e “tumultos” proporcionados, especialmente, pela poluição sonora e pelo
consumo de bebidas entre os universitários (BARBOSA, 11.11.2008; 17.11.2008).
3

Aproximadamente um mês depois do ocorrido, no mês de dezembro outra lei fora


aprovada pela Câmara Municipal, tornando a restrição permanente, embora
contemplasse um perímetro mais reduzido: bares e espaços similares localizados nas
proximidades das Instituições de Ensino Superior do município estavam, a partir de
então, proibidos de comercializar bebidas alcoólicas. Nesse sentido, tanto na visão do
poder público municipal como na perspectiva das famílias que habitam o bairro em
questão, os bares e outros equipamentos urbanos análogos figuravam como os
principais responsáveis pela suposta “desordem” cotidianamente praticada entre os
estudantes pelas ruas e esquinas da Zona 07.

Toda essa situação me preocupava bastante, já que eu estava prestes a concluir


um estudo etnográfico que, dentre suas principais teses, defendia que os bares em geral,
e um deles em particular – o Valentino, na cidade de Londrina –, não são “natural” ou
potencialmente propícios à violência, à criminalidade ou à “bagunça”. Pelo contrário,
minha pesquisa indicava que tais espaços possuíam suas regras e eram suportes
privilegiados para a experiência urbana, sobretudo, em cidades caracterizadas pela
segregação espacial. Assim, enquanto os londrinenses pareciam sentir, de maneira
generalizada, imenso orgulho de sua vida noturna efervescente, o mesmo não ocorria
em Maringá. Tornou-se, então, inevitável questionar: afinal, o que levava determinados
grupos sociais, marcadamente não freqüentadores dos locais por eles estigmatizados, a
associar os bares da Zona 07 e seus usuários à idéia de “tumulto”, “excesso” e “abuso”?
A situação vivenciada em Maringá comprometia os dados e as conclusões que se
delineavam a partir de minha pesquisa em Londrina?

Passado algum tempo, com a dissertação já concluída, essas respostas


começaram a se esboçar. Como indicavam os dados etnográficos acumulados durante
cerca de quatro anos e meio de pesquisa no Bar Valentino 3, principal foco da análise
realizada em meu antigo município, esse espaço possuía uma lógica particular, uma
ordem que lhe era própria, e, portanto, seu ambiente não era “bagunçado”, “tumultuado”
ou “desordenado”. Contudo, para a percepção e interpretação dessas regras era
necessário vislumbrá-lo sob um olhar treinado, uma perspectiva específica, que,

3
Meus estudos acerca do Bar Valentino ocorreram em dois períodos distintos. Entre meados de 2004 e o
final de 2005, quando realizei uma pesquisa de Iniciação Científica durante o curso de Graduação em
Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), e entre o início de 2006 e o final de
2008, quando estive vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade
de São Paulo (PPGAS-USP) e ao Núcleo de Antropologia Urbana desta mesma Universidade (NAU-
USP).
4

certamente, era desconhecida daqueles que, em Maringá, associavam diretamente os


bares e botecos de meu bairro à idéia de “bagunça”, “tumulto” e “desordem”. Além
disso, ainda que o objeto de meu estudo se mostrasse tendencialmente mais violento em
certos períodos de sua história, isso se dava porque o bar estava inserido na dinâmica
mais ampla de crescimento e expansão da cidade, e não por uma propensão do espaço
em si mesmo. A discordância entre famílias e estudantes na Zona 07, portanto, parecia
advir de uma incompreensão acerca das normas informais vigentes nos bares e de sua
inserção no âmbito mais geral do município.

Dadas essas considerações, pretendo, primeiramente, expor algumas concepções


mais gerais acerca da “Lei Seca”, para, em seguida, traçar uma breve revisão
bibliográfica sobre a função social dos bares, acompanhada de alguns dados
etnográficos recolhidos no Bar Valentino, na cidade de Londrina. Pretendo, com esses
procedimentos, sustentar o argumento de que, sob a perspectiva antropológica, esses
espaços, bem como o ambiente mais amplo das urbes nas quais estão inseridos, se
revelam como suportes organizados e privilegiados para a experiência urbana.
Conforme esse raciocínio, a caracterização da Zona 07, em Maringá, como um bairro
“desorganizado”, onde impera a “bagunça” em detrimento do “sossego” e dos “bons”
costumes, se mostra associada a um olhar demasiadamente distanciado da realidade e
que, em certos casos, pode implicar na adoção de medidas intolerantes por parte do
poder público. Transcendendo os contextos locais aqui abordados, acredito, ainda, que
essa reflexão, em torno da “Lei Seca” em Maringá, possa contribuir para um debate de
cunho mais geral acerca das funções latentes (DUMAZEDIER, 1999) exercidas pelos
bares, que, em grande medida, tem sido ignorada pelos municípios adeptos de medidas
restritivas similares às observadas neste artigo.

1. “VAIA DE BÊBADO NÃO VALE?”: concepções sobre a “Lei Seca” e


o caso de Maringá - PR

O termo “Lei Seca” ganhou popularidade nos Estados Unidos após a I Guerra
Mundial, quando o presidente norte-americano Thomas Woodrow Wilson (1912 –
1921) adotou uma política econômica isolacionista, que visava, sobretudo, alavancar o
mercado interno de seu país. Como afirma Arruda (2003), essa medida se refletiu no
campo dos costumes, já que implicou na emergência de uma “onda” conservadora, que
5

acentuou a intolerância racial, social e política, e que incentivou o ressurgimento de


grupos anticatólicos, anti-semitas, xenófobos e racistas, tais como a Ku-Kux-Klan.
Nessa tentativa de preservação dos “bons” costumes da sociedade norte-americana, a
expressão Dry Law, como ficou popularmente conhecida, designava a emenda
constitucional que, a partir de 1920, proibia a produção e o comércio de bebidas
alcoólicas nos Estados Unidos. Como se sabe, a chamada “Lei Seca” culminou na
disseminação de organizações criminosas, que tornaram as destilarias clandestinas, o
contrabando, a violência e a corrupção de autoridades policiais comuns nas grandes
cidades norte-americanas e, especialmente, em Chicago (ARRUDA, 2003). Devido ao
fracasso desse movimento de “assepsia moral”, pautado na proibição do consumo de
substâncias etílicas, que enriquecia gangsteres e aumentava os índices de criminalidade,
a medida foi revogada em 1933, durante o mandato de Franklin Roosevelt (1933 –
1945).

Na Europa, as primeiras experiências que se popularizam pela alcunha de “Lei


Seca” ocorreram na Inglaterra e no País de Gales, que desde a I Guerra Mundial eram
obrigados a fechar as portas de seus pubs às 23h (BERNARDES, 2006). Como
acontecera nos Estados Unidos, na prática, a legislação não funcionou, embora tenha
sido revogada apenas mais recentemente, em 2006. Nesse caso, a alegação era a de que,
com o encerramento simultâneo do expediente em vários bares, muitas pessoas
potencialmente embriagadas tendiam a sair juntas dos estabelecimentos, aumentando,
assim, os riscos de brigas e acidentes de trânsito. Além disso, em diversas ocasiões, a
medida levava, ainda que involuntariamente, à maior embriaguês dos freqüentadores
que, com certa freqüência, entornavam diversos drinks seguidos antes que os bares
fechassem. Portanto, é possível considerar, já de início, que as discussões acerca da
imposição de limites no horário de funcionamento de bares, restaurantes e similares,
emergem no Brasil ao mesmo passo de sua superação em outros países.

No caso brasileiro, a expressão “Lei Seca” se popularizou a partir de 2002,


quando o município de Diadema, na Região Metropolitana de São Paulo, inspirado em
uma experiência realizada em Bogotá, na Colômbia (OLIVEIRA, 2006), e na política da
“Tolerância Zero”, adotada pela polícia de Nova York na década de 1990
(BERNARDES, 2006), instaurou uma lei que limitava o funcionamento de bares das
23h às seis horas da manhã (CAVALCANTI, CRISTO & PYLRO, 2007). Como aponta
a análise sociológica realizada por Oliveira (2006), esse caso é tido como paradigmático
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na discussão da viabilidade dessa restrição, já que a cidade tem sido apontada como
modelo de pioneirismo e sucesso na redução significativa de seus índices de
criminalidade. Desde então, os resultados obtidos pelo município paulista tem
incentivado diversas outras localidades a adotarem sanções equivalentes, na tentativa de
conter ou reduzir as altas cifras relativas à violência urbana.

De maneira geral, a medida foi tomada dois anos após a cidade de Diadema,
com seus aproximadamente 400 mil habitantes, quebrar seu próprio recorde de mortos
por agressão, em 1999. Nessa ocasião, foram somados 493 casos ou 140,5 óbitos para
cada 100 mil pessoas. É necessário ressaltar que cerca de 60% dos crimes ocorriam
dentro ou nas proximidades de bares. Segundo Oliveira (2006), diante desses dados
alarmantes, a cidade intensificou a realização de fóruns sobre violência e segurança
pública, que ganharam periodicidade mensal e reuniam, de maneira inédita, chefes de
polícia, vereadores, Prefeito, além de várias lideranças comunitárias. Mediante uma
série de medidas, que iam do incentivo às denúncias anônimas à intensificação do
policiamento em toda a malha urbana, em apenas um ano a taxa de mortos por crimes
violentos caiu 23%, declinando ainda mais nos anos subseqüentes.

Entretanto, apesar dos números, à primeira vista, passíveis de louvor e otimismo,


as estatísticas são questionáveis. Primeiramente, Oliveira (2006) observa que Diadema
apresenta uma das maiores densidades populacionais do país, com 11.200 habitantes por
Km². De encontro a esse número, o município possui 3.870 estabelecimentos
responsáveis pela venda de bebidas alcoólicas, gerando uma razão de um bar, ou
equipamentos urbano similar, para cada 98 habitantes. Nesse sentido, qualquer
acontecimento, violento ou não, vivenciado nessa cidade, certamente, ocorrerá nas
proximidades desses espaços, tornando esses apontadores protestáveis. Conforme o
autor, outro fato que deve ser considerado é o de que, nesse município, a redução no
número de mortes por crimes violentos já ocorria anteriormente à adoção da “Lei Seca”.
Na visão de Oliveira (2006), isso se deve, sobretudo, pelas várias medidas colocadas em
prática a partir da abertura, incomum, do diálogo entre Estado e sociedade civil no que
se refere à segurança pública, bem como à presença intensiva da polícia nas áreas mais
críticas da malha urbana do município.

Ainda conforme o estudo de Oliveira (2006), das 62 maiores cidades paulistas


observadas pelo autor – entre 1999 e 2005 –, 25 municípios apresentaram redução de
mais de 50% na taxa de mortes violentas, embora apenas sete deles houvessem adotado
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a chamada “Lei Seca”. Além disso, os 74% de redução nos óbitos decorrentes de
relações sociais violentas acumulados por Diadema estão abaixo dos 75% registrados
por Ribeirão Preto, dos 78% de Praia Grande e dos exponenciais 80% obtidos no
Guarujá, sendo que nenhuma dessas três cidades adotou qualquer tipo de restrição no
horário de funcionamento dos bares. Tais números se mostram, portanto, como indícios
relevantes de que não há uma correlação direta entre o espaço dos bares e a violência
urbana. Nesses termos, a imposição de limites ao funcionamento desses
estabelecimentos, se considerada como uma medida mecânica, que por si mesma
resolve os índices de criminalidade, dificilmente sanará certas mazelas sociais.
Certamente, independente do contexto considerado, o mesmo ocorrerá se a restrição for
agravada pela exclusão de parcelas da população no debate, imprescindível, acerca da
relação entre bares e criminalidade.

Com base em outros estudos, há que se estar atento, ainda, para as implicações
da “Lei Seca” no possível reforço de preconceitos existentes na sociedade brasileira,
especialmente, em relação aos moradores das periferias das grandes cidades. Como
postulam Cavalcanti, Cristo & Pylro (2007) em pesquisa preliminar sobre as bases para
a instalação da medida em Vitória - ES, em alguns centros urbanos, como Recife - PE, a
escolha das localidades para a adoção da restrição tem sido seletiva, atingindo,
principalmente, as periferias. Embora a Secretaria de Defesa Social (SDS) de
Pernambuco argumente que tenha se pautado em análises estatísticas para a
determinação das áreas atingidas pelo decreto, as medidas restritivas tendem a atingir a
“liberdade de consumo apenas das camadas menos favorecidas” (CAVALCANTI,
CRISTO & PYLRO, 2007, p. 07). Os referidos autores observam também que na
maioria das cidades pesquisadas no Espírito Santo, a maior incidência dos crimes
violentos ocorre entre às 18h e 23h, acompanhada de uma curva descendente e que
tende a se estabilizar por volta das cinco horas da manhã. Visto que, nesse estado, as
restrições impostas ao funcionamento dos bares ocorrem, em média, das 23h às 05h, ou
da 01h às 06h, delineia-se claramente um estigma infundado por parte do poder público
para com os notívagos capixabas – sobretudo os grupos de jovens – que buscam
diversão nas madrugadas.

Nesses termos, a “Lei Seca”, se aplicada de maneira discriminatória, pode


assumir um sentido inverso ao esperado. Primeiramente, porque a fiscalização poderá
não contemplar os horários considerados mais críticos, conforme algumas estatísticas.
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Em segundo lugar, quando realizada de maneira seletiva, privilegiando apenas áreas


periféricas, a legislação tende a reforçar a associação, bastante disseminada no senso
comum, entre pobreza e criminalidade. Como atestam as pesquisas realizadas por
Caldeira (2000) no contexto da metrópole paulistana, assim como por Zequim (2004),
Carvalho (2008) e Meira (2009) na cidade de Londrina, essa associação é falsa, já que,
entre outros fatores, o aumento da criminalidade está associado a “[...] uma rede de
ilegalidade que perpassa desde as elites e o próprio poder público até as camadas mais
populares” (MEIRA, 2009, p. 102). Em longo prazo, portanto, a aplicação
preconceituosa da Lei, na medida em que fortalece potenciais estigmas já sedimentados
na sociedade brasileira, pode dificultar ainda mais, por exemplo, a absorção das
populações periféricas pelo mercado de trabalho. Em conseqüência, espera-se o
aumento nas tentativas de geração de renda por meios ilegais, tais como a “pirataria”,
tráfico de drogas, contrabando e “justiça paralela”.

Não obstante esses argumentos que tornam a “Lei Seca” questionável, e até
mesmo preconceituosa, a cidade de Maringá, localizada no noroeste paranaense, figura
entre as dezenas, ou centenas, de centros urbanos que têm debatido essa questão de
forma bastante polêmica. O município, relativamente recente – fundado em 1947 –,
conta com 325.968 mil habitantes, dentre os quais, aproximadamente, 57.815 são
estudantes universitários (LIMA et al., 2010). Em meio a esses últimos, cerca de 20.500
estão matriculados na Universidade Estadual de Maringá (UEM), fundada em 1969 e
que atualmente ocupa mais de 01 milhão de M ² da malha urbana maringaense, com
uma de suas faces voltadas para a Zona 07. Não apenas pela quantidade de cursos, mas
também pela qualidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão ali oferecidas, a
UEM atrai jovens de todas as regiões do país, que se concentram majoritariamente em
pensões ou “repúblicas”, localizadas nos arredores do campus universitário. Conforme
estudo quantitativo realizado por Lima et al. (2010, p.13) sobre as concepções acerca da
chamada “Lei Seca” durante a vigência do vestibular da Instituição, “[...] o bairro que
possui a maior concentração de estudantes na cidade é o Jardim Alvorada e, em seguida
a Zona 07, mas, em se tratando de universitários, essa abriga maior número”.

Como se espera de um bairro ocupado por universitários, principalmente,


quando o contingente deles é expressivo, a Zona 07 se caracteriza como uma das áreas
mais efervescentes e festivas da cidade. Devido à concentração de bares, botecos,
lanchonetes, sorveterias, restaurantes, lan-houses, fotocopiadoras, e, principalmente,
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“repúblicas”, entre outros equipamentos urbanos destinados à sociabilidade dos jovens


que ali residem, o movimento na região é intenso não somente durante todo o dia, como
também no período da noite e, inclusive, nas madrugadas. Muitos grupos de estudantes
caminham incessantemente com suas mochilas nas costas e livros na mão, enquanto
outros trocam os cadernos por garrafas de cerveja e cartas de baralho para apreciar o
movimento. Não é raro ver jovens aglomerados em cadeiras e bancos dispostos nas
calçadas, ou ao redor dos carros e caminhonetes que, em sua maioria, irradiam músicas
sertanejas ou batidas eletrônicas. Nos finais de semana, que para grande parte dos
universitários já começa às quintas-feiras, a agitação é ainda mais pulsante,
principalmente nas proximidades dos bares “Canarinho” e “Manhattan”, ou nos portões
de acesso à Universidade quando, um pouco mais esporadicamente, são realizadas
festas promovidas pelos Centros Acadêmicos de diversos cursos nas praças do campus.

Até 2008, o ápice da festiva vida estudantil, na visão dos próprios alunos, se
dava com a realização do vestibular, normalmente programado para pouco tempo após
as provas finais da UEM. Nesse sentido, Lima et al. (2010, p. 12-13) observam que o
exame do vestibular é coincidente “[...] com o término do semestre letivo e início de
férias para os universitários”, provocando certa exaltação e a procura por “[...] algum
tipo de lazer para comemorar as férias, e ainda, despedir-se dos amigos que moram em
outras cidades” (LIMA et al., 2010, p. 12-13). Não se pode deixar de citar também que
a chegada periódica de aproximadamente 20.000 jovens em Maringá para a realização
dos processos seletivos, é acompanhada da possibilidade de novas amizades, do
encontro com futuros “calouros”, além das potenciais paqueras, contribuindo bastante
para a maior agitação dos universitários que habitam a Zona 07. Em uma analogia
citada pelos autores, coibir o funcionamento dos bares nessa ocasião é “[...] como
proibir o álcool no carnaval” (Lima et al., 2010, p. 15).

Cabe observar que, anteriormente à instauração da “Lei Seca”, as festas


realizadas no período dos exames de admissão na Universidade eram marcadas pela
integração entre os discentes que, finalmente, conseguiram se formar, e aqueles que se
mostravam confinantes ao ingresso na vida universitária. Contudo, ao mesmo passo em
que a realização das provas era vista pelos universitários como o próprio auge da vida
acadêmica, os moradores da região pareciam ter outra avaliação acerca da Zona 07,
principalmente quando se considerava o andamento dos vestibulares. Como
demonstram diversas reportagens, as concepções construídas pelas famílias que habitam
10

o bairro, afinadas com as declarações do poder público municipal, tendem a ser


convergentes: as festas ali ocorridas eram vistas quase que invariavelmente como
“excessos”, “baderna” e “barulho”. Para citar uma pesquisa fundamentada em dados
quantitativos, Lima et al. (2010) constataram que os principais fatores associados à
etigmatização dos rituais festivos ocorridos durante os exames da UEM são a
“violência”, que na visão da vizinhança é proporcionada pelo exagero nas drogas e
bebidas, assim como a alegação de que “[...] quem está se preparando para o vestibular
não deve beber e sim estudar e se concentrar para a prova” (LIMA et al., 2010, p. 10).

Diante dessa situação, em 2008, um grupo de moradores da Zona 07 promoveu


um abaixo-assinado que, posteriormente, se tornou um projeto de lei, liderado pela
vereadora Marly Martin (DEM). Aprovada pela Câmara Municipal de Maringá e
sancionada pelo Prefeito da Cidade, a chamada “Lei Seca”, que parece associar os
“problemas” do bairro à quantidade de bares ali presentes, foi aprovada nesse mesmo
ano, dispondo em seu primeiro artigo que “[...] ficam proibidos a venda e o consumo de
bebidas alcoólicas, nos estabelecimentos comerciais de e por autônomos, no entorno da
Universidade Estadual de Maringá, no período de realização de vestibulares” (DIÁRIO
OFICIAL da Prefeitura do Município de Maringá, 2008 apud LIMA et al., 2010, p.06).
Aos infratores a medida ainda previa o pagamento de multa no valor de 5.000R$ para os
estabelecimentos comerciais, e de 500R$, acompanhados da apreensão da mercadoria,
no caso dos ambulantes.

Ainda em 2008, no mês de dezembro, outra lei fora aprovada pela Câmara
Municipal, proibindo a venda de bebidas alcoólicas num raio de 150 metros dos portões
de acesso das Instituições de Ensino Superior do município, sob pena de multa no valor
de 1.500R$, acompanhada da cassação do alvará de funcionamento dos
estabelecimentos que a descumprissem. Como ocorrera nas experiências realizadas nos
períodos das provas, a nova proibição também foi controversa, dividindo opiniões. Se
consideradas ambas as medidas em conjunto, as opiniões se decompõem entre: parte
dos moradores dos bairros, e, especialmente os da Zona 07, parcela dos vereadores e
Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Noroeste do estado do Paraná
(SINEPE/NOPR), que concordam com a restrição, em suas visões, necessária para
“garantir a segurança e a paz pública aos estudantes e à população que convive próximo
[SIC] às instituições de ensino” (COLOMBO, 2009, N/p.), conforme o texto legal. Por
outro lado, a maioria dos estudantes, que paga impostos, mas não vota em Maringá,
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reclama que não está sendo ouvida nos debates, enquanto proprietários dos bares e o
Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (SindiHotel), alegam grandes
prejuízos, taxando a medida como inconstitucional.

A parcela da sociedade maringaense que se mostra favorável à proibição da


venda de bebidas alcoólicas durante o vestibular ou nas proximidades das IES parece
ganhar cada vez mais espaço na discussão. Afinal, como atesta reportagem recente,
publicada pelo portal H.News no mês passado, o projeto que visa tornar a “Lei Seca”
permanente no município – que permanecia “engavetado” desde 2008 – voltou à agenda
do Legislativo Municipal de maneira mais incisiva. Segundo a vereadora Marly Martins
(DEM), que lidera a discussão, o “clima” agora é mais favorável para sua aprovação,
uma vez que, como apura o autor da matéria, a medida agora tem o apoio do Prefeito,
além de a discussão estar “travando” a pauta da Câmara Municipal, ou seja, [...] “não se
pode entrar em votação nenhum outro projeto sobre regulamentação de vendas de
bebidas alcoólicas na cidade enquanto não for discutida esta matéria” (ELÓI, 2010,
N/p.). Se aprovada, as restrições valerão a partir das 23h para os bares e das 2h para
restaurantes, sendo que os estabelecimentos que almejarem transcender esse limite
deverão solicitar um alvará especial, passando pelo crivo do poder público.

Dadas as considerações tecidas até aqui, como demonstram experiências


anteriores e, sobretudo, o caso paradigmático de Diadema - SP, a proibição da venda de
bebidas alcoólicas nos vestibulares, nos arredores das Instituições de Ensino Superior
ou de maneira generalizada durante as madrugadas, será o melhor caminho para coibir a
suposta “desordem” causada pelos universitários na Zona 07, e em toda a cidade? Os
bares são realmente espaços catalisadores de “tumultos” e grandes responsáveis pela
violência urbana? Os festejos promovidos pelos jovens universitários nos arredores da
UEM devem ser vistos apenas como “bagunça” ou, antes disso, se compõem também
como rituais constituidores das identidades sociais daqueles que movimentam a
economia e dão vida ao município? Essa parcela da população tem sido ouvida nos
debates? E os vereadores e demais articuladores em torno da restrição no funcionamento
dos bares, conhecem a fundo os estudos já realizados sobre a chamada “Lei Seca”?

Todas essas respostas, se é que elas realmente existem de maneira absoluta,


demandam uma discussão ampla e intensiva, que envolva todos os setores interessados
e se realize para além de moralismos e estatísticas falsamente esclarecedoras. Em
sentido inverso ao reforço da “Lei Seca” os argumentos tecidos por ora, se
12

acompanhados da introdução do aporte antropológico no tratamento da questão,


indicam que, sob a perspectiva dessa disciplina, a réplica para todos esses
questionamentos tende a ser negativa. Apesar disso, certamente, a Antropologia, assim
como a restrição permanente no horário de funcionamento dos bares, não trará uma
solução “mágica” para essas contendas. Mas é exatamente por priorizar a ótica de atores
sociais que alegam ser excluídos da questão, bem como por possibilitar o desacordo em
relação à maioria das opiniões estabelecidas pelo senso comum, marcadamente pautada
em dados quantitativos duvidosos, que a disciplina se torna passível de contribuição
para um efetivo debate.

2. PARA ALÉM DO “CAOS URBANO”: os bares sob a lógica nativa

Como mostra a experiência cotidiana, acompanhada de casos recentes


amplamente divulgados pela mídia 4, a violência urbana parece crescer de maneira
exponencial, especialmente, nos municípios de médio e grande porte. Por esse fato, os
discursos arrolados no ideário do “caos urbano”, que qualificam as cidades como
ambientes tendencialmente “inóspitos”, “decadentes” e “desorganizados”, também
ganham cada vez mais espaço no imaginário construído pelo senso comum, nas
reportagens veiculadas pela mídia e em algumas análises relativamente valorizadas no
campo acadêmico. Como já exposto acima, os bares e seus arredores, com certa
freqüência, são vistos como espaços potencializadores de relações sociais violentas e,
por isso, apontados como responsáveis por parte da suposta “desordem” atualmente
observada nos municípios brasileiros 5.

No entanto, visto que, como sugerem os estudos quantitativos realizados por


Oliveira (2006), assim como por Cavalcanti, Cristo e Pylro (2007), essa correlação é

4
Como, por exemplo, os casos do assassinato da ex-amante do goleiro Bruno Fernandes, da execução do
cartunista Glauco, ambos em 2010, e da morte da menina Isabela Nardoni, em 2009 – apenas para citar os
mais recentes –, afora tantos outros ocorridos todos os dias e que envolvem pessoas “anônimas”.
5
Afirmações como “[...] o objetivo da lei [seca] é transformar a cidade em um lugar mais humano e
agradável de se viver” (CIDADES DO BRASIL, 2001. Grifo meu), “[...] nesses locais [os bares], há altos
índices de acidentes porque jovens costumam beber e [...] hoje, vivemos numa selva urbana” (SEIXAS,
2007. Grifo meu) ou “[...] [a ‘Lei Seca’] é importante para manter a ordem” (ORTEGA, 2008. Grifo
meu), proferidas, respectivamente, por representantes da segurança ou do poder público de Barueri - SP,
Salvador - BA e Maringá - PR, demonstram que a associação entre bares e “caos urbano” é generalizada e
perpassa todo o país.
13

questionável, a que se deve a sedimentação dessa crença no imaginário popular e sua


ampla disseminação pela imprensa? Oliveira (2006) postula que o jornalismo,
televisivo, radiofônico ou escrito, tende a se apoiar em mensagens simples e diretas, que
acabam por empobrecer as reflexões sobre a questão. Dessa forma, em sua visão, as
manchetes salientam, por exemplo, que “Diadema reduziu o crime em 20% porque
adotou a ‘Lei Seca’” sem informar que tal feito demandou “[...] esforços como melhor e
maior policiamento, incluindo a integração entre as ações das polícias Civil e Militar e a
Guarda Civil, e a decisão do Poder Executivo Municipal de priorizar a segurança
pública” (OLIVEIRA, 2006, p. 04).

Nesse mesmo sentido, em seu clássico Sociedade de Esquina, escrito na década


de 1930, White (2007) já apontava que os subúrbios de Boston – representados em sua
obra pelo pseudônimo de Eastern City –, embora concebidos pela mídia da época como
“pobres”, “degradados” e “caóticos”, possuíam uma organização complexa, com alto
grau de integração entre seus habitantes. Conforme o autor, primeiramente, essa
disparidade, entre a vida social efetivamente transcorrida nos subúrbios e os estigmas
disseminados pela imprensa, se dava, sobretudo, em decorrência da visão
demasiadamente especializada dos meios de comunicação, que para a venda de
conteúdos se concentram na crise e na espetacularização dos eventos. Em suas palavras,
“[...] se um gangster comete um assassinato, isso é notícia. Se segue tranqüilo as rotinas
diárias de seu negócio, não”. Da mesma forma, “[...] se o político é indiciado por aceitar
propina, isso é notícia. Se apenas presta os usuais favores pessoais para sua clientela de
eleitores, não” (WHYTE, 20017, p. 20). Além disso, essas representações, não
raramente, se valiam da “frieza” proporcionada pelas estatísticas, que apoiadas nos
índices alarmantes relativos à educação e ao desemprego nessas áreas, contribuíam para
sua concepção como regiões “confusas” e caracterizadas pelo “caos social”.

Mais recentemente, os estudos realizados por Magnani (2006, 2007) acerca da


cultura urbana das – ou “nas” – grandes cidades e, principalmente, na metrópole
paulistana, também sugerem que o discurso midiático, na medida em que marcadamente
apoiado em indicadores sociais, econômicos e demográficos, acaba por enfatizar apenas
os aspectos “desagregadores” da dinâmica citadina, implicando na criação de uma
“inevitável” sensação de “caos urbano”. Em sua argumentação, esse é um olhar
demasiadamente distanciado da realidade e que normalmente ignora as visões de mundo
dos atores sociais que, “[...] por meio do uso vernacular da cidade (do espaço, dos
14

equipamentos, instituições) nas esferas do trabalho, religiosidade, lazer, cultura,


política, vida associativa, estratégias de sobrevivência, são os responsáveis por sua
dinâmica cotidiana” (MAGNANI, 2007, p. 07).

De maneira complementar a tais perspectivas, qualificadas em suas análises


como “de passagem” e “de longe e de fora”, o antropólogo defende que o aporte
etnográfico é capaz de contemplar a articulação entre as lógicas nativas, captadas sob o
enfoque “microscópico” do cotidiano, e os princípios mais abrangentes que, de certa
forma, definem a vida urbana. Trata-se, na realidade, de uma Antropologia “das”
cidades a partir das pesquisas desempenhadas “nas” cidades. Em detrimento das
variáveis “macro” e dos grandes números, ao concentrar a atenção nos detalhes da vida
cotidiana e nas estratégias de (sobre)vivência nas urbes, a etnografia é passível de
revelar municípios mais “humanizados” e menos “selvagens”, para utilizar uma
metáfora bastante comum nos discursos midiáticos. Desse ponto de vista, para além da
criminalidade, da violência e do “caos”, as cidades, assim como os espaços que a
constituem, também se revelam como ambientes produtores de estilos de vida e suportes
para experiências urbanas de diferentes matizes (MAGNANI, 2006).

No que se refere especificamente aos bares e equipamentos urbanos análogos, as


pesquisas de cunho qualitativo realizadas em áreas como a História, Sociologia, além da
própria Antropologia, parecem demarcar que, além de sua “função comercial manifesta”
(MARCELINNO, 2000), expressa na venda de bebidas, normalmente alcoólicas, esses
espaços também possuem algumas “funções latentes” (DUMAZEDIER, 1999), que os
caracterizam como locais privilegiados para a sociabilidade nas cidades. Sob esse
prisma, o sociólogo francês Dumazedier (1976, 1999) observa, por exemplo, que a
partir da Revolução Industrial, quando foi instaurada na Europa uma sociedade
predominantemente urbana, o espaço dos cafés se tornou uma verdadeira instituição em
seu país, comportando relações sociais espontâneas e livremente escolhidas. O autor
argumenta que, na França, a grande maioria dos indivíduos que procura por estes
espaços não o faz apenas para o consumo de bebidas, mas, sobretudo,para buscar
contatos e trocas sociais que ornem, completem ou compensem as relações cotidianas
impostas pelo trabalho ou pelos deveres familiares.

No caso brasileiro, o historiador Chalhoub (2001) analisa como os botequins se


constituíram como espaços fundamentais para a resistência política e cultural do
proletariado carioca numa época em que o Rio de Janeiro experimentava a transição de
15

uma ordem agrário-escravagista para outra de cunho capitalista, quando se iniciava uma
configuração urbano-industrial nas maiores cidades do país. Segundo o autor, um dos
fatores que evidencia isso de maneira mais nítida era o grande contingente de
trabalhadores que procurava os botequins para “tomar uma branquinha” ou “jogar
conversa fora” durante o expediente, denunciando uma recusa do proletariado carioca
ao ideal burguês de separação rígida entre trabalho e lazer na passagem do século XIX
para o XX. Para Chalhoub, era nos bares que a grande maioria dos trabalhadores
expressava seus ideais, não a partir da militância, mas através de seus hábitos e
costumes cotidianos.

Mais atualmente, e numa perspectiva etnográfica, as pesquisas de Magnani


(1998) e Mello (2005), demonstram, respectivamente, como os bares da periferia de São
Paulo e os chamados “pés sujos” do Rio de Janeiro comportam uma pluralidade de
funções em contextos nos quais as opções de lazer são escassas e limitadas. Nas
periferias destas cidades, tais espaços estão associados tanto às atividades lúdicas (onde
se joga partidas de baralho, sinuca, dominó), como às festividades (com as tradicionais
rodas de samba, chorinho e serestas) e à troca de informações (sobre futebol,
oportunidades de trabalho, notícias da política, dificuldades da vizinhança), funcionando
quase que como clubes sociais para seus freqüentadores. Nas palavras de Mello, os
botequins, e especialmente os do tipo “pé sujo”, são importantes suportes de
sociabilidade em contextos normalmente marcados pela exclusão porque “[...] têm a ver
com a idéia de vizinhança e proximidade [...] onde reforçamos, sem perceber, a
sensação de pertencimento à rua, ao bairro e à cidade” (2005, p. 31).

Esse mesmo princípio pode ser encontrado na etnografia realizada por Torres
(2000) acerca das práticas de lazer no bairro do Bexiga e na esquina da Avenida
Paulista com a Rua da Consolação, na cidade de São Paulo. Em sua pesquisa, a autora
cita espaços como o “Café do Bexiga” e o “Bar Riviera” que, nas décadas de 1960 e
1970, se constituíram como importantes suportes para manifestações políticas e
culturais em uma conjuntura em que partidos políticos e faculdades encontravam-se sob
a pressão do regime militar. Especialmente no que se refere ao “Café do Bexiga”,
Torres observa que seu espaço foi fundamental que “[...] certos valores, certos filmes,
certos livros ficassem esquecidos” (2000, p. 63), em um momento de grande
efervescência artística em todo o país.
16

Como em todos esses casos, o Bar Valentino, na cidade de Londrina- PR, no


qual realizei pesquisa de campo durante aproximadamente quatro anos e meio 6,
também pode ser considerado como um suporte capaz de assumir diversas “funções
latentes” que transcendem os objetivos puramente “comerciais” normalmente atribuídos
aos bares. Primeiramente, desde a inauguração de seu espaço, em 1979, lhe foi atribuída
uma “vocação artística”, que o transformou em palco para peças de teatro, musicais,
mostras de vídeo, exposições e happenings, levando-o a incorporar a maioria dos artistas
londrinenses – músicos, atores, artistas plásticos, cineastas, escritores e poetas.
Especialmente por isso, o Bar Valentino assume ainda mais relevância no contexto local
quando se considera que a cidade no qual está inserido possui uma efervescência artística
fora do comum para os padrões de um centro urbano de porte médio, que passa por um
processo de “metropolização”. Afinal, se atualmente Londrina se estabelece como um
reconhecido pólo produtor e irradiador de artes no país, sobretudo no que se refere ao teatro
e à dramaturgia, parcela disso se deve ao bar, já que seu espaço sempre manteve uma
relação bastante íntima com o desenvolvimento destas manifestações.

Por seu “clima” espontâneo, advindo de seus propósitos artísticos, o bar, passou a
ser concebido por seus freqüentadores como um “lugar diferente”, adquirindo também
certas funções associadas ao cotidiano político e sexual de Londrina. Pois, como no
exemplo extraído da análise realizada por Torres (2000), por seu ambiente considerado
“criativo” e “democrático”, o Bar Valentino se tornou importante suporte para debates e
articulações entre uma parcela da população local no momento em que o Brasil passava
pelo processo de abertura política. Além disso, na década de 1980, quando, conforme
Heilborn (1999) e Loyola (1999), a epidemia de HIV racionalizou e sancionou a
sexualidade mediante discursos que se tornaram eminentemente públicos, o bar também se
transformou em lócus privilegiado para a manipulação das identidades (homo)sexuais na
cidade. Como constatado na época da pesquisa, muitos de seus freqüentadores mantinham
suas sexualidades em segredo nas demais esferas socializantes, como o trabalho, a família e
a faculdade, as tornado públicas naquele espaço. Afinal, pela “atmosfera artística” que lhe
era característica, ali os símbolos adquiriam um caráter polissêmico, associado aos
aspectos mais valorizados do que estigmatizados do estilo de vida GLBTT (Gays,

6
Como citado em nota anterior, o estudo do Bar Valentino ocorreu em duas etapas. Na primeira delas,
entre meados de 2004 e final de 2005, o espaço estava localizado na região central de Londrina. Já na
segunda, entre 2006 e o final de 2008, o bar fora transferido para um bairro nobre, no sudoeste da malha
urbana. Em linhas gerais, em minha dissertação de mestrado, procurei apreender o processo de
“metropolização” da cidade a partir dessa transferência, tanto no que se refere ao plano físico-espacial,
como no dos hábitos e costumes construídos nas práticas de lazer da população local.
17

Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transgêneros), como a “espontaneidade”, “alegria”,


“sensibilidade”, “diversidade estética” e “relação com as artes”. Enquanto alguns de
seus freqüentadores eram vistos no cotidiano como “gayzinhos”, “veados” e “sapatões”,
nesse bar eles eram percebidos enquanto “cults”, “intelectuais”, “cabeças-abertas” e
“espontâneos”.

Portanto, pelas “funções latentes” que adquiriu ao longo do tempo, mais do que
um “simples” bar, o Valentino se transformou em importante ponto de encontro e
suporte de sociabilidade para grupos sociais diversos e heterogêneos, que ali
vislumbravam possibilidades para exercer mais abertamente seus interesses associados
às artes, política, drogas, sexualidade ou aos (im)previsíveis encontros proporcionados
pelo cotidiano. Ao contrário do que propõe a mídia ou do que se propaga pelo senso
comum, a interação entre os diversos grupos de freqüentadores do Bar Valentino –
dentre os quais se observava desde “travecos” até “manos”, passando por “playboys” –
não era marcada pelo “caos”, “desordem” ou “bagunça”. Como sugerem os dados a
seguir, essas interações se revelavam organizadas, desde que apreendidas de maneira
sistemática.

Dentre os princípios de classificação nativa presentes no Bar Valentino por volta


de 2006 – anteriormente à sua mudança de endereço –, era perceptível que os
freqüentadores mais antigos, nascidos em Londrina ou “londrinenses por adoção” – que
já viviam a algum tempo na cidade –, tendiam a permanecer nas proximidades do
extenso balcão, a fim de conversar com os funcionários, que pela convivência quase que
diária se tornaram “amigos de longa data”. Um pouco mais distantes, os universitários,
relativamente recém chegados à cidade, se concentravam nas mesas ou no ambiente
externo. Já os “manos”, incorporados mais tardiamente ao bar, preferiam as calçadas do
entorno. Assim, a própria disposição espacial dos usuários em relação ao balcão
demarcava, de modo simbólico, seus status, assim como sua assiduidade e a “distância
estrutural” (EVANS-PRITCHARD, 1999) 7 para com os funcionários. Aos verdadeiros
“dinossauros” – conforme a terminologia nativa para designar os freqüentadores mais
antigos e assíduos –, eram reservados, ainda, alguns símbolos de status construídos a

7
De maneira geral, conforme a análise clássica de Evans-Pritchard (1999) sobre as concepções de
“tempo” e “espaço” entre os Nuer do Sudão Meridional, enquanto o conceito de “distância ecológica”
demarca relações espaciais de maneira absoluta, a noção de “distância estrutural” é sempre relativa, pois
se refere a um sistema de lealdades políticas, etárias e de linhagens que, quando acionado, em caso de
conflitos e guerras, por exemplo, acaba por anular qualquer noção física, ou “ecológica”, de distância.
18

partir da relação de intimidade estabelecida no balcão: o próprio trânsito pelo seu


interior, já que esta era uma área restrita aos proprietários e ao pessoal “da casa”, e,
portanto, às pessoas de grande confiança; o privilégio de “pendurar” a conta, que
também denotava uma relação de estima; usufruir de copos mais refinados e
diferenciados dos demais freqüentadores; e a oportunidade de interferir na seleção
musical do bar. Por usufruir “temporariamente” destes quatro símbolos, os que atuavam
como DJs nas noites temáticas, embora não fossem pessoas necessariamente próximas
aos funcionários, adquiriam notável prestígio por ali, tornando-se, para muitos, o centro
das atenções quando se apresentavam no Valentino.
8
Outro exemplo pode ser observado em decorrência a uma mudança
significativa, ocorrida em 2002. Nessa época, em algumas ocasiões, o Bar Valentino
passou a contar com a presença de Disc-Jockeys (DJs), que diversificaram a seleção
musical já tradicional – outrora limitada ao jazz, ao blues, à MPB e ao rock clássico – e
que já perdurava há muitos anos. Desde então, o bar, em certos dias, e até determinado
horário, passou a ser procurado por públicos mais específicos. As noites “Raw Power” e
“Terça Tilt”, por exemplo, eram embaladas, respectivamente, pelos clássicos do punk
rock ou do glam rock e do “rock alternativo”, aglutinando predominantemente grupos
que compartilhavam de preferências musicais semelhantes; no caso, as diferentes
vertentes do rock – como punks, darks, rockabyillis, mods e “alternativos”. Já no
“Valentino Eletrônico”, “Noite Latina”, e “Noite do Charuto Cubano”, como seus
próprios nomes sugerem, prevaleciam, de maneira respectiva, as tendências musicais
eletrônicas e os ritmos latinos. Neste caso, a “seleção musical” aparecia apenas como
uma variante indireta, uma vez que a lógica de aglutinação se dava em torno da
“(homo)sexualidade”. Pois, nestas datas, o público não era formado necessariamente
por apreciadores de música eletrônica ou de ritmos latinos, mas predominantemente por
grupos de alguma forma ligados ao universo GLBTT, que, pela sensualidade mais
aflorada despertada por estes ritmos, encontravam nestas noites temáticas mais
possibilidades de paquera e aproximação de seus pares do que na “Raw Power”, por
exemplo.

Finalmente, nos limites deste artigo, cabe observar que, como em qualquer outro
espaço inserido em uma cidade segregada, como é o caso de Londrina, o Bar Valentino
apresentava certos conflitos, que aumentaram de forma acintosa a partir de meados da

8
Para mais exemplos nesse sentido, ver Meira (2009).
19

década de 1990, quando se tornaram freqüentes os assaltos, roubos de carros e o tráfico


de drogas nas proximidades do espaço. Muitos de seus freqüentadores mais antigos, em
seus discursos, atribuíram esse fenômeno a presença maciça dos chamados “manos”, ou
seja, das populações periféricas que, pelo aumento na infra-estrutura viária e na oferta
de linhas de ônibus, passaram ter acesso facilitado ao centro da cidade e,
conseqüentemente, ao bar. Entretanto, para além dessa falsa associação entre pobreza e
criminalidade, já observada nesse trabalho, quando se vislumbra uma Antropologia “da”
cidade a partir das pesquisas realizadas “na” cidade, percebe-se que, se os índices de
criminalidade e violência aumentaram nesse período, esse fato decorre da própria fase
de crescimento e expansão da cidade nas últimas décadas. Pois, na medida em Londrina
atravessa um processo de metropolização, com nítida descentralização de sua malha
urbana, com o desenvolvimento de potenciais “subcentros” em seu quadrante sul-
sudoeste, para onde têm migrado as elites, houve também uma dispersão dos
investimentos públicos e privados em saúde, educação e segurança, que certamente
contribuiu para o aumento dos índices de criminalidade no centro da cidade, e, mais
particularmente, nas proximidades do Bar Valentino.

Mediante as considerações trazidas nas limitações deste trabalho, percebe-se


que, sob o artifício teórico-metodológico da etnografia, a aparente “confusão” reinante
no Bar Valentino – já que ali se aglomeravam dezenas, centenas, de pessoas em grupos
heterogêneos e “flutuantes” em quase todas as noites –, na realidade, se desvela como
uma série de interações sociais que, embora imbricadas, são ordenadas e possuem
significados importantes para aqueles que as vivem. Porém, para que sua lógica seja
apreendida, é necessário se desvencilhar dos limites impostos pelas estatísticas,
especialmente, se consideradas de maneira absoluta e isolada. Mais do que isso, é
preciso um olhar minucioso, sensível e atento aos detalhes, que considere, da melhor
maneira possível, a lógica presente na visão de mundo dos protagonistas da vida urbana,
a saber, os próprios atores sociais em sua diversidade. De maneira geral, nos bares, que
se supõe não haver outra moral que não a do álcool, violência ou malandragem, há
regras, que normalmente são incompreendidas, justamente, porque complexas.

Tratando-se de um debate, em que muitas questões ainda devem ser discutidas,


há que se questionar se esses últimos dados apresentados podem ser aplicados ao
contexto maringaense ou a qualquer outro. Apesar disso, dado o caráter generalista do
método etnográfico, que busca articular contextos microscópicos, por assim dizer, a
20

conjunturas mais gerais, acredito que a introdução do aporte antropológico na discussão


do tema pode revelar novas faces nas contendas relacionadas à chamada “Lei Seca”, não
apenas em Londrina ou Maringá, como também nos municípios que adotaram, ou em
vias de adotar, essa medida. De qualquer forma, uma das conclusões possíveis após o
exame da questão sob esse prisma é a de que restringir o horário de funcionamento dos
bares e equipamentos similares significa, de certa forma, também privar os habitantes de
nossas cidades de usufruir de orientações políticas, estéticas, sexuais, dentre outras,
formuladas e construídas no contato com o “outro”, sob o qual se fundamentam
princípios estruturais relevantes, como os de “democracia” – em uma acepção plena do
termo – e “urbanidade”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer desse artigo, fora defendida a idéia de que, como indicam algumas
pesquisas, não parece haver uma correlação direta entre as interações sociais observadas
no espaço dos bares e o aumento nos índices relativos à violência urbana em algumas
cidades brasileiras. Dessa forma, restringir o horário de funcionamento de tais espaços,
por si só, não resolverá ou amenizará parte das referidas mazelas sociais. Se o caso de
Diadema - SP é tido como referência de sucesso para a redução desses apontadores, a
leitura mais minuciosa do episódio ali ocorrido revela que, nesse município, as ações
preventivas têm se realizado em múltiplas direções, inclusive, mediante a inclusão de
todas as parcelas da população nos debates em torno da violência. Em contraponto, no
contexto maringaense, os defensores da “Lei Seca” parecem excluir os estudantes dessa
discussão, dificultando, assim, que as possíveis soluções surjam de maneira eficiente e
democrática. Tratando-se de suportes constitutivos e privilegiados para a experiência
urbana, limitar o funcionamento dos bares implica, necessariamente, na restrição da
possibilidade de experiências sociais enriquecedoras por parte da população de nossas
cidades. Outras medidas, que se constituem como funções básicas do Estado, tais como
a segurança pública em toda a malha urbana, a educação gratuita de qualidade e a
igualdade de possibilidades frente ao mercado de trabalho, certamente, serão mais
eficientes e trarão menos prejuízos sociais. Assim, como questiona Oliveira (N/d.) ao
nomear um de seus textos, “Fechamos os bares. E se não der certo, chamamos a
Polícia?”.
21

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Estadual de Londrina (UEL), 2004. Dissertação de Mestrado em Geografia, Meio
Ambiente e Desenvolvimento.

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