Ao dirigir-me hoje a esta Sessão Plenária da Chempor 2005 é meu dever pessoal e
indeclinável invocar a memória e o exemplo do Professor Joaquim Barbosa Romero,
vulto eminente da Engenharia Química e Amigo de eleição,
e que foi o Fundador em 1975, juntamente com o Doutor Reg Bott, da organização
periódica em Portugal das Conferências Internacionais sobre Engenharia Química,
desde o início designadas por Chempor.
- um exemplo, porque pela forma como sempre se colocou ao serviço duma missão,
secundarizando as vãs glórias de carreirismos desenfreados, sempre contribuiu para a
promoção técnica e humana de todos aqueles que, como eu, tiveram o grato privilégio
de com ele privar pessoalmente ao longo de muitos anos.
Num país como Portugal, onde os recursos naturais de alto valor são muito escassos, a
competitividade económica depende muito dos “Clusters” económicos e industriais que
houver a clarividência estratégica e a competência técnica para construir, promover, e
optimizar.
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Clemente Pedro Nunes. Telefone: (+351) 21 3949029 Email: pedronunes@cuf-sgps.pt
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A Refinação de Petróleos e as Indústrias Petroquímicas, bem como outros sectores da
Química Orgânica Pesada e das Especialidades Químicas, constituem no seu conjunto
uma malha industrial cuja competitividade se baseia, em grande medida, na articulação
entre as várias unidades produtivas, na logística dos abastecimentos, na articulação com
os factores energéticos tanto em termos de electricidade como de combustíveis, e na
articulação com os mercados a jusante.
Um dos aspectos económicos mais relevantes a considerar para se definir uma estratégia
industrial nesta área é que a respectiva competitividade depende em grande parte das
sinergias entre as várias unidades instaladas, visto que o aproveitamento tecnológico e
economicamente optimizado de muitos co-produtos, sub-produtos, e mesmo de alguns
“resíduos”, das diferentes unidades industriais é que permite o reforço de todo o
conjunto.
Um dos exemplos clássicos neste âmbito é que as naftas parafínicas de muito baixo
índice de octana, e como tal com muito pouco valor para o mercado das gasolinas, são
uma excelente matéria-prima para a petroquímica de olefinas/ “steam-cracker”.
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A outra vertente importante em termos estratégicos é que os investimentos nas várias
unidades deste “cluster” têm que ser devidamente articulados.
a) Desde logo, a própria Repsol tem em Sines duas importantes unidades de fabrico
de polímeros, as fábricas de Polietilenos de Baixa Densidade (PEBD) e de
Polietilenos de Alta Densidade (PEAD), com respectivamente cerca de 150 x
103 tons/ano e 120 x 103 tons/ano de capacidade de produção e que são
directamente utilizados na indústria de transformação de plásticos quer em
Portugal, quer em Espanha, bem como noutros mercados de exportação.
c) Por sua vez, a produção de MDI em Estarreja congrega à sua volta, para além da
produção de anilina, um núcleo de indústrias de apreciável dimensão, e
perfeitamente interligadas, que no seu conjunto dão um significativo contributo
ao Valor Acrescentado Bruto de todo o “cluster” de refinação de petróleos /
industria petroquímica, objecto desta comunicação.
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Assim, a Quimigal / Grupo CUF produz também em Estarreja cloro e soda, de
que a unidade de MDI da DOW é também o maior cliente, a Air Liquide produz
hidrogénio e monóxido de carbono (CO), totalmente integrados na fileira de
poliuretanos, e a Bresfor produz em Aveiro formaldeido, também em grande
parte directamente utilizado no fabrico de MDI.
Por outro lado o amoníaco e a ureia são importantes produtos não só na cadeia
produtiva destinada à agricultura (adubos nítrico-amoníacais, através da sua
transformação prévia em ácido nítrico), como também para a fileira do
MDI/poliuretanos, uma vez que é exactamente a partir deste amoníaco que se
produz em Estarreja o MNB que é depois transformado em anilina.
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g) Duas outras importantes unidades de derivados petroquímicos estão também
instaladas em Portugal:
Para isso têm que recolher todos os dados disponíveis, no nosso caso sobre as indústrias
de petróleos, e de petroquímica, em termos de realidades físicas, e dos recursos e
competências humanas que elas envolvem.
Vejamos três casos que directamente dizem respeito aos engenheiros de processos
químicos interessados neste “cluster”:
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propriedade da Borealis, empresa multinacional de capitais noruegueses,
austríacos, e do Abu Dhabi.
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QUÍMICA DERIVADA DE REPSOL YPF
PENÍNSULA IBÉRICA
TARRAGONA
Capacidades en kt/año
POLIETILENO BD 345
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Sendo que a CEPSA é também uma grande empresa petrolífera e petroquímica em
Espanha, com maioria de capital espanhol mas com fortes ligações ao grupo
multinacional francês TotalFinaElf, temos que o reequacionamento estratégico e as
oportunidades que se abrem à Petrogal e ao Grupo CUF, que são as maiores
empresas de capitais maioritariamente portugueses integradas no “cluster”
Petrolífero / Petroquímico, é uma prioridade que se deve situar no centro das
atenções dos engenheiros químicos portugueses.
Note-se que o VCM é obtido a partir de etileno que é hoje produzido em Sines pela
Repsol, que assim poderá diversificar as suas aplicações a jusante, para além dos
polietilenos.
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É importante referir ainda numa perspectiva ibérica, que um adequado diagrama
processual para produção do VCM em Estarreja poderá consumir também
quantidades significativas de EDC.
A expansão da fileira de MDI / Poliuretanos em Estarreja, nos últimos oito anos fez
com que a unidade de anilina da Quimigal / Grupo CUF consuma todo o benzeno
produzido pela fábrica de aromáticos da Petrogal em Matosinhos, e além disso seja
necessário importar anualmente mais de
50 x 103 tons de benzeno.
As novas capacidades produtivas destes dois co-produtos poderão por sua vez
viabilizar a competitividade de significativas interligações a jusante:
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- Por outro lado, o futuro aumento da produção de propileno em Sines permitirá que
esta importante olefina, actualmente exportada na sua totalidade, possa vir a
alimentar uma nova unidade de polipropileno de mais de 250 x 103 tons/ano, a que
será já duma dimensão competitiva, mesmo em termos mundiais.
Poder-se-á mesmo dizer que nos últimos anos, talvez em grande parte por culpa da
inércia em que Portugal se deixou cair em termos de planeamento estratégico industrial,
foram mais os espanhóis que viram a importância da componente portuguesa deste
“cluster” ibérico e que mais fortemente apostaram nele, nomeadamente quando
compraram o complexo petroquímico de Sines.
Mas isso não quer dizer que as estratégias dos engenheiros químicos e das
empresas portuguesas nesta área devam estar dependentes da estratégia
espanhola. Muito pelo contrário!
Quanto mais as competências dos recursos humanos, nesta área existentes em Portugal,
forem treinados e formados para responder aos desafios já colocados, ou previsíveis,
destas indústrias instaladas no nosso país, quanto maior forem as capacidades de
Inovação Tecnológica que as Universidades Portuguesas desenvolvam a partir da
realidade das empresas industriais instaladas em Portugal, ou melhor, ligadas ao
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“cluster” Petrolífero/Petroquímico existente na Península Ibérica, mais este “cluster”
terá condições de ser competitivo no contexto da economia globalizada, e assim fixar
em Portugal e na Península Ibérica empregos altamente qualificados para engenheiros
químicos.
Sendo que a Petrogal, que é a outra grande empresa petrolífera ibérica tem uma
vertente petroquímica reduzida, e que o Grupo CUF não tem hoje qualquer
vertente petrolífera, parece fazer todo o sentido reforçar os vínculos estratégicos, e
mesmo accionistas entre ambas, a fim de dar maior dimensão estratégica,
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financeira, e tecnológica ao “cluster” Petrolífero/Petroquímico português no
quadro da península Ibérica.
6. Nota Final
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O “CLUSTER” PORTUGUÊS DA REFINAÇÃO DE PETRÓLEOS/INDÚSTRIAS PETROQUÍMICAS
Quimigal / Estarreja
Refinaria reformados Fábrica de Benzeno Sal
Matosinhos; Aromáticos; Electrólise de
MNB Anilina Nacl Renoeste
Petrogal Petrogal
Matosinhos
anilina Cloro
Bresfor
Tobueno Xilenos Hidrogénio
Amoníaco
Formaldeido
CO
Adubos Fábrica de Amoníaco Air Liquide / MDI / DOW Poliuretanos
nítrico- / Ureia; Grupo CUF; Estarreja
amoníacos Lavradio
HCl
Resíduos de cracking
Industrias da
Borracha
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Mas essa realidade existe e é uma das maiores oportunidades que se deparam à
engenharia química em Portugal, tanto em termos do projecto, da gestão de
produção, como, e sobretudo, da Inovação Tecnológica Competitiva.
Seremos todos nós, que teremos que responder, e de vencer os sérios desafios que se
nos deparam, seremos também nós que um dia seremos julgados pelos resultados.
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