Stella Garrido
Monografia apresentada
como pré-requisito para conclusão
do Curso de Licenciatura em
História, do Centro de Ciências
Humanas, da Universidade Veiga de
Almeida, sob orientação da
professora Muza Clara Chaves
Velasques.
AGRADECIMENTOS
“Ainda que não existisse alma, nem inferno, nem céu, seria preciso ter
escolas para satisfazer nossas necessidades como habitantes deste
mundo, (...).”
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
1 Introdução
2 Origem do protestantismo
2.1 No mundo
2.2 No Brasil
6 Conclusão
Referências
1 Introdução
A questão educacional sempre esteve intrinsecamente ligada a ética
protestante. Os livros sobre a história do protestantismo, referentes às
questões brasileiras ou globais, sempre trazem alguma referência sobre
assuntos pedagógicos. Porém livros que abordem somente a educação
protestante não são encontrados com tanta facilidade, entretanto, essa
“contribuição do protestantismo para a educação brasileira tem sido um tema
bastante pesquisado pelos estudiosos da área de história da educação”. .
(MESQUITA, 2001, p. 9).
Esse trabalho tem como objetivo esclarecer ao leitor os elos de ligação
da ética protestante com a educação e fornecer um panorama geral do
desenvolvimento desses. Explicitando assim, a importância da chegada do
protestantismo no Brasil para a transformação da pedagogia e da criação de
um novo conceito educacional.
O instrumental de coleta de dados utilizado na metodologia deste
trabalho foi a análise de conteúdo, onde foram lidos textos de livros, sites” da
Internet e artigos de revistas especializadas. Esse tema por ser algo que está
começando a ser desvendado apresenta uma bibliografia escassa e pouco
difundida.
Para entendermos a ligação entre educação e protestantismo
precisamos compreender como se deu o surgimento do último. Neste sentido,
buscamos O primeiro capítulo aborda o surgimento de uma Igreja Reformada e
a introdução do seu pensamento nas terras brasileiras.
Quando estudamos educação religiosa precisamos entender os dogmas
que envolvem a religião em questão para que possamos ter uma verdadeira
compreensão da mesma. Logo, no segundo capítulo, tratamos de explicitar os
dogmas da Igreja Protestante, buscando aí, as bases nos dando base para que
possamos entender a sua ética e o seu comportamento.
O capítulo de número três relata exatamente a ligação entre
protestantismo e educação, no Brasil e no mundo, tentando trazer ao leitor um
panorama geral do histórico da criação dessa escola renovada. Essa parte do
estudo tenta demonstrar como essas escolas não eram apenas meras
instituições educacionais, mas sim o meio que os missionários encontraram
para evangelizar e pregar suas doutrinas.
O último capítulo da pesquisa tem por finalidade apresentar as primeiras
escolas protestantes brasileiras que surgiram e contar um pouco da sua
implantação. Ele traz também algumas das principais características e
inovações implantadas nessas instituições educacionais, apresentando o
impacto que isso causou na sociedade da época.
2 Origem do protestantismo
2.1 No mundo
O século XVI é marcado por uma série de transformações na sociedade,
como a ascensão burguesa e a explosão das idéias humanistas. Outro
acontecimento importante que ocorre e também contribui para mudar o
panorama da época: a Reforma Protestante. Como o próprio nome já diz, esse
movimento surge para contestar e exigir a reforma da Igreja Católica. Na
verdade, com o desenvolvimento do humanismo, com os absurdos cometidos
pelo clero e com a desorganização administrativa da igreja (prática da simonia,
cobrança de impostos abusivos, venda de cargos eclesiásticos e de
indulgências) o catolicismo é contestado e seus dogmas são postos em
cheque. (AVALIAÇÃO).
O movimento da Reforma cria a base de uma nova religiosidade, o
protestantismo. Vários discursos são criados a partir de uma base única.
Entretanto, esse protestantismo pode variar tendo vertentes diferentes
dependendo da região e da época onde ele apareceu, mas todos eles são
opositores a Igreja Católica.
Os opositores do catolicismo aparecem até mesmo antes do século XVI,
como, por exemplo, haviam movimentos camponeses que lutavam pela terra, e
esses colocavam que a Igreja deveria ser mais justa e próxima de seus fieis,
propondo uma religião pura e primitiva, seguindo os valores básicos do
cristianismo, e até mesmo sem a figura institucional da igreja.
O marco inicial do movimento protestante acontece em 31 de Outubro
de 1517 quando o Monge Martinho Lutero afixa na porta da catedral de
Wittenberg 95 teses. Essas foram escritas por ele e apontam falhas e
contradições na instituição católica. A reforma Luterana não é única, há
também a Reforma Calvinista, Anglicana e a Anabatista (considerada uma
Reforma mais Radical).
Como já era de se esperar a Igreja Católica reage. Essa instituição
combate um movimento que procura conter a expansão do protestantismo. Na
verdade essa reformulação da Igreja Católica, que tem como marco referencial
o ano de 1517, já vinha sendo pensada, mas só se torna realidade com o
aparecimento dos reformados protestantes. A Contra Reforma então marca o
início de uma nova era do catolicismo.
Dentro da reforma da Igreja Católica acontece o Concílio de Trento.
Nessa reunião o papa negou os valores protestantes, proibiu a venda de
indulgências, criou seminário, instituiu o index (índice dos livros proibidos), cria
a “Companhia de Jesus” e manteve a inquisição.
Para entender a Reforma Protestante temos que primeiramente saber
em que contexto e porque ela se deu. Isso significa buscar suas bases que
estão fincadas no Humanismo. Esse Renascimento é “um prodigioso florescer
da vida, e em todas as formas que, embora as suas maiores manifestações se
tenham verificado de 1490 a 1560, não ficou limitada dentro destes marcos”.
(MOUSNIER, 1960, p. 17).
Esse período é marcado por uma nova forma de pensar, pela ascensão
da classe burguesa, desenvolvimento nas relações de produção de capital e
trabalho e pela formação dos Estados Absolutistas. O homem é posto como
centro das atenções e o pensamento científico começa a questionar algumas
afirmações vigentes até então, e dentre elas, as religiosas. Existia naquele
contexto a necessidade de uma nova religião mais sensível e que não fosse
tão mal compreendida e mal conhecida como o catolicismo. Muitos dos
pensadores da época apesar de replicarem muitos aspectos do sistema vigente
e até mesmo da igreja ocidental eram religiosos e tinham fé.
Uma vertente do pensamento humanista leva a uma maior reflexão do
papel da igreja e das verdades que ela pregava. A Europa se vê envolta numa
efervescência contestadora, o que acaba chegando nas bases da Igreja
Romana. Alguns pensadores como o humanista Erasmo e o boêmio de Praga,
João Hus se opunham a alguns preceitos e dogmas do catolicismo. Em sua
obra Elogio a Loucura, Erasmo critica a postura da igreja e relata que:
Os monges consideram não saber ler um sinal de
sanidade. Zurzam os salmos nas igrejas como asnos. Não
entendem uma só palavra do que dizem, mas imaginam ser o
som agradável aos ouvidos dos santos. Os frades
mendicantes fingem assemelhar-se aos Apóstolos, mas não
passam de vagabundos imundos, ignorantes e ousados.
(ERASMO DE ROTERDAN apud DOWNS, 1969, p. 16).
2.2 No Brasil
Em 1500 os portugueses chegam na terra que viria a se tornar o Brasil
de hoje. O que acontece é que esses ibéricos quando desembarcam trouxeram
sua bagagem cultural e com ela está o catolicismo. Essa era a religião oficial
de Portugal e que exercia uma grande influência e poder no reino, e na colônia
não seria diferente. Entretanto a implantação do catolicismo demoraria alguns
anos até ser realizada nessa nova colônia.
Pero Vaz de Caminha ao descrever o Brasil ao rei de Portugal se mostra
preocupado com a evangelização dos indígenas e declara: “O melhor fruto que
nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a
principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”. (CÉSAR, 2000. p.
23).
Os primeiros missionários católicos chegaram em março de 1545 com o
primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza.A religião católica então
será imposta a todos, e até mesmo os índios que habitavam a terra tem sua
liberdade de expressão reprimida e são forçados a catequese.
Apesar disso o Brasil passa por duas tentativas fracassadas de
implantação do protestantismo. A primeira delas acontece com os franceses
que se estabelecem no Rio de Janeiro de 1555 a 1560 e a segunda é tentativa
é feita pelos holandeses que se estabeleceram no Nordeste entre 1630 a 1654.
(MENDONÇA, VELASQUES FILHO, 1990, p. 12). Apesar disso, em 1557, foi
celebrado por calvinistas franceses no Rio de Janeiro, o primeiro culto
evangélico 57 anos depois da primeira missa católica. (GWERCMAN, 2004, p.
53-54). Só que essa era uma prática proibida, já que nos territórios
portugueses só eram permitidas práticas católicas.
Um fato importante que irá propiciar o crescimento da cultura protestante
é que o catolicismo teve um período de estagnação na colônia portuguesa.
Esse período representa a era do Marques de Pombal, sendo que um dos
pontos centrais da política pombalina foi expulsão dos jesuítas e o confisco dos
seus bens, tendo como conseqüência uma maior laicização do sistema vigente.
Essa medida terá um grande impacto sobre a colônia e “pode ser
compreendida no quadro dos objetivos de centralizar a administração
portuguesa e impedir áreas de atuação autônomas por ordens religiosas cujos
fins eram diversos dos da Coroa”. (FAUSTO, 2002, p. 60). Com isso a Igreja
Católica apesar de ser uma das instituições mais notórias e influentes do
período imperial acaba perdendo espaço. Além dessas conseqüências o Brasil
também sofre na questão da educação, afinal, o sistema já era precário e após
a expulsão dos jesuítas ele se torna praticamente inexistente. Para exemplificar
essa falta de preocupação com a educação podemos citar a falta de bibliotecas
públicas, universidades e um ensino primário pouco difundido.
A implantação de protestantismo irá se tornar aceita somente a partir do
século XIX com a assinatura do Tratado de Comércio e Navegação entre
Portugal e Inglaterra que é uma conseqüência da abertura dos portos as
nações amigas que acontece em 28 de Janeiro de 1808. Devido à invasão de
tropas napoleônicas nos países Ibéricos a família real portuguesa se refugia
em sua colônia mais próspera, o Brasil, e assim com a abertura dos portos as
nações amigas uma série de acontecimentos são desencadeados. Como a
Inglaterra era a maior potencia da época, exercendo uma grande influência
sobre as demais nações, ela assina em 1810 outro tratado, que é o de
Comércio e Navegação. Com essa abertura de comércio a outras nações
aparece a necessidade de “se criar alguma regulamentação legal para que os
estrangeiros realizassem seus cultos, ainda que de modo restrito”. (MAFRA,
2001. p. 13). Mas a liberdade religiosa só é legitimada de fato com a
Independência do Brasil e a Constituição de 1824, mas, ainda assim, era
obrigatória algumas restrições na realização das reuniões religiosas.
O protestantismo era conhecido como a religião da palavra devido à
ligação direta que eles tinham com o uso da Bíblia. Essa era distribuída em
Portugal e depois trazida ao Brasil, mas isso se dá de uma forma discreta a
partir de 1814. A chegada do primeiro correspondente da Sociedade Bíblica
Americana, o missionário metodista Daniel Parish Kidder, irá trazer algumas
inovações quanto ao uso das escrituras sagradas. Kidder dizia que a Bíblia
deveria ser usada como um manual de conduta nas escolas primárias,
publicando até mesmo em 12 de dezembro de 1837 um anúncio no Jornal do
Comércio que dizia:
4.2 No Brasil
Para se entender a influência da cultura protestante na educação
brasileira é preciso primeiramente saber como se deu o desenvolvimento da
questão educacional nessa colônia desde 1500.
O modelo educacional católico se estabelece através dos portugueses
com os padres católicos jesuítas que em 1549, 15 dias após da sua chegada
na colônia, fundam a primeira escola brasileira em Salvador. Esses membros
da Companhia de Jesus propagavam a fé católica e a educação, sendo os
responsáveis pela catequização das indígenas.
usando uma pedagogia inovadora. Muitas dessas escolas, que aconteciam nas
o perfil dos fieis que freqüentavam a igreja, que terá as camadas populares se
juntando com a reduzida classe média baixa que já fazia parte do corpo de
membros.
1[1]
O casal Kalley fundou em 1855 a escola dominical juntamente com a Igreja Evangélica
Brasileira em Petrópolis. Eles tinham um estilo discreto de evangelização, que visava o bom
entendimento com as pessoas de outras religiões para evitar um atrito de idéias, e receberam,
algumas vezes, a visita do imperador D. Pedro II.
O primeiro missionário presbiteriano chega ao Brasil em 1859 e dentre
as obras que realizou encontram-se a formação da primeira escola e o primeiro
seminário, outrossim, o primeiro jornal protestante que se chamava Imprensa
Evangélica, que circulou de 1864 até 1892. O nome desse homem era
Simonton e suas propostas para a evangelização eram:
6 Conclusão
Podemos afirmar que a influência do protestantismo na educação
brasileira apesar de ser bastante significativa, ainda é algo pouco difundida e
estudada. A criação das escolas confessionais ajudou no crescimento e
desenvolvimento educacional no Brasil, já que trouxeram para o país um novo
fôlego à pedagogia que, em outros países, já estava mais desenvolvida.
Procuramos perceber um pouco da contribuição à educação brasileira
após a chegada do protestantismo no Brasil e da implantação dos seus
conceitos. Neste sentido, percebemos que a educação protestante só pode ser
pensada, a partir de suas origens, dentro de um processo de afirmação das
bases de um projeto que parte do Estado Americano. A intenção clara era a de
assegurar o domínio religioso na América Latina. A partir daí, a análise da
educação protestante no Brasil mostra a influência calvinista como formatadora
da nova educação que chegava ao país. Educar passa a fazer parte de um
projeto maior de sociedade. As missões protestantes deram um sentido
ideológico para o projeto liberal norte americano no Brasil, que trouxe com ele
as escolas confessionais que eram um meio de penetração nas camadas
burguesas.
A educação protestante, desde a alfabetização, procurou inserir as
camadas populares neste projeto. Afinal, estava ali o vínculo de penetração do
discurso nas camadas populares. O protestantismo então absorve uma parte
da sociedade que não era muito assistida pela Igreja Católica e dá a essas
pessoas uma nova perspectiva de vida. Isso ocorre porque esses indivíduos se
tornam mais valorizados após obterem uma escolarização que antes da
chegada das Igrejas Reformadas não era disponível. Com isso o
protestantismo ganha novos fiéis para o seu rebanho, e vai aumentando sua
influência e divulgando suas idéias pela sociedade.
Entretanto, há ainda a necessidade de se estudar mais esse tema pelo
seu grau de importância, não só para a história da educação, mas também
para que possamos entender e aprender com o fazer da educação nos outros
países de cultura protestante a dar um valor maior a nossa educação.
Devemos destacar ainda, que apesar do catolicismo ser a religião oficial
do país e de todos os percalços que o protestantismo passou para ser
implantado no Brasil, as escolas protestantes garantem o seu espaço e são
reconhecidas como instituições fundamentais para um reforma educacional.
O fato do esquecimento histórico a que ficaram relegadas as escolas
confessionais protestantes entende-se pelo fato da educação brasileira ter tido
a hegemonia da igreja católica, em suas diversas congregações, desde os
tempos dos jesuítas, a partir de 1549. Enquanto os livros de história da
educação valorizam as idéias da educação católica, marcando apenas o início
de funcionamento das escolas protestantes, outros segmentos religiosos
tiveram importância na educação brasileira, inclusive a protestante.
Referências
BARBOSA, José Carlos. Negro não entra na Igreja; espia pela banda de
fora: Protestantismo e escravidão no Brasil Império. Piracicaba: UNIMEP,
2002.
O SONHO se realizou. In: Revista Mackenzie. Ano1, n.1, 1998. Disponível em:
<http://mackenzie.com.br/editoramackenzie/revistas/revistamack>. Acesso: 7
dez 2005.