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ENSINO CONTINUADO • 1993 • A DIREÇÃO DO TRATAMENTO · 7ª AULA

Sobre os principais conceitos lacanianos


Apostila de E. Laurent, sobre a Direção do Tratamento

Márcio Peter de Souza Leite


29 de março de 1993

Duas questões foram colocadas de início: uma sobre a questão do desejo, ponto 5 “Direção da
Cura”, a partir de uma afirmação de J.A.Miller no texto “ A clínica do superego”, de que o ensino de
Lacan só ter-se-ia realmente iniciado depois que ele abandonou a questão dialética – desejo de
reconhecimento ou reconhecimento do desejo e até que ponto isso tinha a ver com a batalha
travada pelo reconhecimento pela I P A, da Sociedade Francesa de Psicanálise.
Trata-se après-coup de atribuir significações, pois entender a questão com a IPA como um desejo
de reconhecimento, é uma questão nossa, talvez não fosse a de Lacan, pelo menos não no
mesmo sentido, pois ele não se expressou sobre isso.
Reconhecimento na teoria de Lacan é um termo que ele tira de Hegel, da dialética do senhor e do
escravo, da consciência de si, a partir do outro, um termo portanto que ele tira de outra disciplina e
que utilizou durante certo tempo em suas conceptualizações teóricas. Principalmente no primeiro
período de Lacan, antes de 1953 – Discurso de Roma – a doutrina da cura seria o reconhecimento
do desejo – exemplo, texto que já trabalhamos: A Intervenção sobre a Transferência – o que quer
dizer, que o objetivo de uma análise seria levar o sujeito a se defrontar com seu desejo recalcado.
Era isso também que Freud fazia, embora Lacan tenha sofisticado o procedimento ao falar nas
inversões dialéticas que levariam o sujeito a reconhecer o seu desejo. Isso é do imaginário e teria
a ver com as identificações do desejo do Outro com o desejo do sujeito.
O ensino do Lacan é uma superação disso. Trata-se, num segundo momento de introdução do
simbólico quando ele fala no inconsciente estruturado como uma linguagem, de tomar o desejo ao
pé da letra, isto é, o desejo tal como ele se mostra na materialidade significante e não o que ele
significa para o outro. Quando Miller diz que o ensino de Lacan avança só quando ele abandona a
questão do reconhecimento do desejo, quando deixa de buscar o encontro do sujeito com o desejo
recalcado e enunciado, (Miller está se referindo a essa doutrina da cura), e se propõe a buscar a
essência do desejo, a essência da estrutura do desejo que é a letra, o significante, mas isso
também é sem saída, porque não há maneira de nomear o desejo, porque o significante último não
existe, essa via do significante é a via da análise interminável. Aí Lacan vai passar para o terceiro
momento de sua teoria que é a questão objetal. A teoria da análise teria evoluído por etapas; a
primeira seria o reconhecimento do desejo, depois viria a tentativa de enunciar o significante último
sobre a verdade do sujeito, e por último, a questão do objeto. Seria no final de análise que estaria
a destituição subjetiva para o analisante e o dês-ser para o analista.
Na pág.12, Éric Laurent, diz que Lacan introduz a partir dos anos 60, uma descrição precisa dos
mecanismos diferentes da destituição subjetiva e do des-ser. Lacan fala disso na Proposição de 9
de Outubro de 1967. São palavras usadas por Lacan que foram elevadas a categoria de
conceitos. Acho que essa não era a intenção de Lacan, ele não trabalha com conceitos. Os
conceitos que ele formalizou são poucos, como o grande Outro, por exemplo. Destituição subjetiva
ele não explica em nenhum lugar, então o entendimento que podemos ter é um entendimento de
consenso, as pessoas vão convencionando o uso dessa referência e vão dando um sentido. Ainda
é uma referência dogmática, de difícil comprovação clínica. Só o passe comprovaria, segundo

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Lacan, essa posição do analisante. Mas nós ainda não sabemos o que é o passe, nos não temos
ainda o passe. Podemos pensar a partir da palavra.
Destituição é o que? O contrário de instituição, que significa colocar alguma coisa numa
determinada posição, criar alguma coisa, ”por esse ato institui-se a Sociedade Psicológica de São
Paulo “, por exemplo . É um ato de colocar alguma coisa ou pessoa no lugar de comando, nos
discursos, seria o lugar do agente. Na prática o que se institui na situação analítica? O sujeito
suposto saber, talvez. A palavra destituição não sendo de sentido claro, nós começamos a colocar
sentidos nela. Minha posição primordial é de clínico, eu penso nos conceitos a partir de minha
prática clínica, onde busco a propriedade e a comprovação dos conceitos. A questão da destituição
subjetiva ainda permite muitas explicações, ainda é dogmática, ainda não tem uma significação
compartida entre os analistas. A maioria usa a referência porque se Lacan falou, deve querer dizer
alguma coisa, isso seria uma afirmação universal afirmativa, ∀, o lugar da Verdade, porque Lacan
falou. Eu porém, parto da categoria da existência ∃; quando existe a manifestação do fenômeno é
que vou tentar entender a sua designação e não o contrário. A clínica disso é o passe, é a única
forma de verificação. A proposta da Escola é tornar pública a acumulação das experiências do
passe para que seja possível formalizar teoricamente aquilo que se tenha verificado na clínica.
Quem fala um pouco sobre isso é A. Quinet, no livro “As quatro mais uma, condições da análise”.
Eu entendo a mecânica disso: o momento da prática a que se refere essa proposta de destituição
subjetiva é o momento de cotejar o entendimento dessa sugestão do Lacan, é o que decorre da
leitura da Direção da Cura, que propõe como final do tratamento a posição do ser para a morte. É
uma idéia de Heidegger, o sujeito saber que a morte é o significante mestre, é a última palavra, é a
introjeção da castração, é o sujeito perceber-se como não completo, a partir disso assumiria uma
nova posição perante a vida, os valores, etc... . Mas isso não opera, porque não há um significante
mestre, um significante último, a proposta de Heidegger é a instituição da morte, e não a
destituição subjetiva. Não se trata de subjetivar a morte como diz Heidegger, o que seria incluir um
significante mestre em todas as significações do sujeito, mas de destituição subjetiva, de
dessubjetivação.
Lacan propõe o contrário da subjetivação da morte, subjetivar a morte, seria incorporar a morte
como um significante sempre presente na formação das cadeias, o sujeito ressignifica tudo a partir
desse significante mestre. Como exemplo, temos a fala de Salomão no Eclesiastes , “Tudo debaixo
do sol é vaidade”, isto é, a partir da idéia da morte, o valor das coisas do mundo, a glória, a
riqueza, o poder, o amor, fica modificado, diminuído, resignificado a partir desse significante que
resignifica todos os outros. Essa era também um pouco a prática lacaniana: o sujeito perceber que
não existe resposta para o desejo, que o desejo é pela letra, e não pelo objeto, essa talvez fosse
uma outra forma de entender a proposta de Lacan. Isso não leva a nada, porque não se sabe a
letra. Mesmo a morte não funciona dessa maneira, reorganizando os outros significantes, porque a
morte é um significante a mais, com isso se dialetiza infinitamente, sempre colocando um
significante mais.
Eu entendo então que Lacan passa então para uma outra proposta: não se trata mais do
significante, mas do objeto, e que esse objeto nada ou esse objeto tudo, é o objeto mais-de-gozar,
que a destituição subjetiva consistiria na separação do sujeito desse objeto, esse objeto que dá a
ilusão de completude. Antes se pensava que se poderia chegar nesse ponto da análise pela via do
significante. A partir daí, não. Não se chega nisso pelo significante, chega-se aí pelo objeto. É a
fórmula da fantasia $ ◊ a. A destituição subjetiva seria a separação do $ do seu objeto, isso não se
consegue pelo significante, por isso se chama destituição, porque não tem significação, porque é o
contrário de instituir, que significa instituir uma outra significação, reformulada por aquele
significante que resignifica os outros, um significante mestre, um significante último sobre a
verdade do sujeito no caso a morte, que também pode ser a introjeção da castração. A partir da
morte de Lacan um grupo de analistas, todos analisandos de Lacan, começou esse esforço de
leitura de Lacan de reordenar seus conceitos, privilegiando essa prática da destituição subjetiva
como final de análise como sendo a lacaniana, mostrando que no desenvolvimento da doutrina de
Lacan houve vários momentos, várias teorias da cura, que o analista se situa simultaneamente em

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todas elas desde que as conheça e opera a partir disso. Quem principalmente tem se dedicado à
formalização da teoria após a morte de Lacan, é J.A.Miller, em seus Seminários, que já são 12.
Nesses Seminários ele vem trabalhando esses conceitos de forma sistemática; alienação e
separação, relação entre S1 e a, abertura e fechamento do inconsciente, pulsação temporal,
destituição subjetiva, todas as questões clínicas e teóricas implicadas nessa formalização da
psicanálise e que supõe o conhecimento de toda teoria anterior a esse último modelo.
Quando isso tomou consistência a partir de um grupo de analistas que se referem ao mesmo tipo
de prática, foi a posta em ato da verificação dessa proposta. Nós, aqui no Brasil, não podemos
opinar porque não estamos no mesmo nível de experiência, não podemos verificar a
operacionalidade, a eficácia, o que não implica não ter posições frente a isso. Eu ainda fico com
meu referencial e espero para ver se os conceitos são operativos, em que resultam e como é
possível repetir na clínica sua aplicação teórica.
O que eu acho que faz sentido: que não dá para ficar no desejo, porque seria uma analise
interminável, que é tanto possível quanto preferível operar fora do sentido, o que eu percebi
através do trabalho com psicóticos, é que isso faz efeito também nas neuroses, isso significa não
se guiar pelo sentido, mas se prestar a uma escuta sobre a causação do sujeito, alienação,
separação, pulsação temporal, é o analista operar perante a evidência da manifestação do
inconsciente sem compreender absolutamente. Mas na destituição, trata-se de outra coisa. Vai-se
operar no objeto causa do desejo e não no desejo. Não na letra do desejo, porque antes do desejo
ser formalizado em sua letra, ele já é destituido em algum lugar. Por isso trata-se de uma questão
da técnica, não se trata de significante, de um significante a mais, é fora do sentido. A
interpretação não visa o sentido nem a significação, mas opera no intervalo da cadeia; aí dá para
entender porque Lacan opera assim, porque ele está operando antes do desejo, não está
interpretando no desejo via significante, está operando antes da formulação do desejo via letra,
mas antes, diretamente sobre o objeto causa do desejo. É essa a proposta de Lacan que é
seguida por muitos profissionais que dizem que ela opera e que é essa que deveria ser a análise
do analista, e seu instrumento de verificação seria o passe. Toda essa questão é ainda muito
pouco explicitada, é ainda muito dogmática, os textos de Lacan, se referem a questão mas não a
explicam, então o momento atual é de reflexão sobre muitas questões, inclusive essa; os analistas
tem que fazer uma verificação a partir de suas experiências e tornar a questão teórica num
consenso, numa experiência compartida. Esse é o último modelo teórico deixado por Lacan, mas
só aqueles que tinham sido analisados por Lacan e que tinham chegado em suas análises à
posição da destituição subjetiva, de separação do objeto causa de desejo é que poderiam elaborar
sobre a questão teórica, sua pertinência e sua operacionalização na prática, a partir da morte de
Lacan em 1981.
Mesmo por ocasião de sua morte ninguém falava disso ainda, ninguém tinha acompanhado Lacan
nesse último modelo. Não se falava ainda de alienação e separação, de interpretação fora do
sentido, de destituição subjetiva, as referências ainda eram as do modelo da Direção do
Tratamento. Embora esses conceitos ainda sejam muito dogmáticos, o que podemos dizer é que
no final da análise ocorre uma mudança na situação estrutural. Existe ainda uma certa suposição
de saber, mas o analisando se dá conta, que o analista não tem um saber, uma resposta sobre seu
gozo. Trata-se aí do segundo modelo de transferência do fim de análise que é diferente da
transferência inicial, isso já está em Direção do Tratamento, em 1958. Os conceitos de destituição
subjetiva e des-ser ainda não se impõem, não estão claros como outros conceitos lacanianos, cuja
compreensão e prática são de consenso geral entre os analistas lacanianos. Por exemplo, o
conceito do grande Outro –A– é de consenso geral, é de fácil compreensão, se impõe por si
mesmo. É até comum em literatura, já percorre uma linguagem; é uma forma de falar de um Outro
que transcende o semelhante – a. É um conceito que facilita a compreensão dos textos freudianos.
O conceito de sujeito é da filosofia, Lacan aprimora e traz a ele uma precisão maior, faz a distinção
entre o eu e o sujeito, que é do inconsciente.

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Lacan aliás usa a peculiaridade da língua francesa, para fazer a distinção entre o ego (moi), o eu
(je) e o sujeito do inconsciente, que também pode ser explicada pelo sujeito do enunciado (je), e o
sujeito da enunciação (sujeito do inconsciente), entre o dito pelo je e o dizer pelo inconsciente.
Conceito de objeto ‘a’: será que Lacan acrescenta alguma coisa ao conceito de objeto? É que nem
tudo é significante. Para Freud existe a representação das palavras, é a representação de coisas,
representação de objetos, representante da representação. Lacan trabalha apenas com o
representante – representativo (o significante) que é a única representação que existe e dela difere
o objeto. Que objeto é este? Um objeto concreto? Não, ao contrário. É um conceito de
formalização difícil que durante muito tempo foi encarado como metafísico, inapreensível, por
muitos analistas. Atualmente é de uso consensual. São poucos os autores que falam disso, temos
J.D.Nasio, J.A.Miller, que explicam o conceito de objeto ‘a’. Difícil porque é explicado pela
negativa. O objeto ‘a’ é o que condiciona o real, é a moldura que cada um põe na realidade, não é
o quadro é a moldura. Está no Seminário XI, no capítulo sobre o olhar, nos livros de J.D.Nasio –
“Os olhos de Laura”, e “5 Lições sobre a teoria”, e “A criança magnífica da psicanálise”, e nos
Seminários de J.A.Miller. (Moldura – maneira particular de se delimitar o mundo). Os conceitos
lacanianos de metáfora, metonímia e significante são bem conhecidos, há um acordo sobre eles.
Sobre objeto ‘a’, já não existe um consenso entre sua formalização e utilização.
Os conceitos de alienação e separação têm no seu uso como conseqüência, a pulsação do
inconsciente. J.A.Miller faz uma formalização teórica muito interessante e completa dos conceitos
de alienação e separação em seu Seminário, enquanto Lacan os explicava no Seminário XI pela
teoria dos conjuntos. A pulsação temporal tem como conseqüência a produção do sujeito, a
produção do sujeito é alienação e separação. O inconsciente pensado como algo que se abre e se
fecha, a pulsação temporal seria o que responderia a prática do tempo variável da sessão. Embora
Lacan já tivesse falado no Seminário I do fechamento do inconsciente como resistência, isso ainda
não estava ligado à idéia de pulsação temporal e de separação. É como se toda a teoria de Lacan
até 63/64 – Seminário XI – só falasse da alienação, tal como está entendida na Direção do
Tratamento, isto é pela via do significante, só depois ele vai falar de separação, separação que é a
do objeto ‘a’, e do analista devendo operar no intervalo da cadeia, isto é operar na separação. São
conceitos muito novos sobre os quais ainda não existe um consenso, só alguns autores falam
sobre isso, tais como J.A.Miller e G. Pommier.
Poucos são os analistas que se interrogam sobre essa última proposta teórica de Lacan, talvez
porque esses últimos elementos não se tenham feito necessários para a sua clínica. O difícil é não
poder usar todos esses elementos, porque não se sabe sobre eles. Nesse ponto, é louvável o
esforço de J.A.Miller, que pretende formalizar e tornar conhecida toda a doutrina de Lacan. O
trabalho desse grupo da Escola, tem sido o de refletir, de investigar, de formalizar todos os
conceitos de Lacan e nós temos também que conhecê-los , para poder usar quando isso se fizer
necessário. Algumas pessoas fazem uso de uns instrumentos, e não de outros, alguns grupos,
preferem trabalhar com o nó borromeano, outros preferem a topologia, mas é importante conhecer
todos.
Fantasia – é uma condição necessária para um determinado sujeito. Ele necessita ver as coisas de
uma determinada maneira, quando as coisas não são como o sujeito deseja isso causa angústia.
Tem que ser como ele quer. O fim da análise, seria a separação desse objeto de completude cuja
falta cria angústia, o sujeito continua desejando que as coisas sejam como ele quer, mas se não
forem ele não vai sofrer, ele vai conseguir conviver com uma outra realidade diferente do seu
desejo.
Separação – a partir do verbo separare, que também quer dizer engendrar, gerar, parir, é uma
visão conceitual. Lacan, está falando da causação do sujeito, a partir de uma lógica do significante.
Na articulação da cadeia, S1, S2, Sn, num determinado momento algo falta no Outro, o que causa a
aparição do sujeito; não existe sempre sujeito na cadeia, o que produz a cadeia é a busca da
completude no Outro, por isso as pessoas falam; no momento em que falta algo no Outro se
engendra o sujeito (do inconsciente), aparece o sujeito, que cai da cadeia. Nesse momento, o

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inconsciente aqui é o saber, aqui aparece a falta no Outro. Então enquanto o sujeito está dizendo o
que sabe, é alienação, quando ele para de dizer o que sabe, ele produz um sujeito do
inconsciente, isso é a separação. O inconsciente não está todo o tempo na fala, ele aparece
quando há falta no ‘A’. Definição de Inconsciente de Lacan: “O inconsciente, é o rastro do que
opera na causação do sujeito”. Quando há separação, há inconsciente.
O termo sujeito em Lacan sempre quer dizer sujeito do inconsciente. Lacan inverte a ordem de
importância proposta por Freud. Freud só fala em inconsciente, Lacan só fala em sujeito, ele vai
dar precisão ao sujeito, que é causado por duas operações: alienação e separação, só há
inconsciente no momento da separação. Ao dar precisão ao sujeito Lacan também precisa o
inconsciente. Só a fala do sujeito não constitui manifestação do inconsciente; é palavra vazia em
oposição a palavra plena, que talvez se possa dizer que é a separação. A causação do sujeito
reformula a Direção da Cura. O processo que Lacan usa na sua formalização é empírico e teórico,
mas não fenomênico, ele privilegia a teoria e não a clínica.
Palavra vazia – é o sujeito falar o que quer mesmo dizer, pois nem tudo é inconsciente, nem tudo é
recalcado, é o momento da alienação. O momento analítico acontece quando algo se presentifica
como dificuldade na fala e a cadeia se interrompe, porque uma significação qualquer produz
angústia.
Angústia – é a falta de significação, algo que não pode ser dito, o paciente para de associar
livremente, e faz uma fantasia que lhe proporcione uma completude objetal.
Sintoma – é a análise do significante como vemos na Direção da Cura, o analista no lugar de ‘A’.
Transferência – Lacan já diz algo no Seminário XI onde ele coloca a relação da transferência, com
a abertura e fechamento do inconsciente; a transferência só aparece no fechamento do
inconsciente. Quem fala sobre isso é G. Pommier no seu livro e J.A.Miller em seus Seminários, que
já são doze. No primeiro ele trabalha alienação e separação, sintoma e fantasia, dois momentos
distintos do tratamento, depois pulsação temporal. Miller apresenta os conceitos sempre como
pares de opostos, essa é uma forma útil para a compreensão, embora eu não goste, porque é uma
forma demasiado lógica. O trabalho de E.Laurent é um pouco ressignificar um conceito a partir do
outro, como por exemplo em Sintoma e Fantasma. Éric Laurent está propondo a leitura da Direção
do Tratamento a partir desses conceitos, a partir da causação do sujeito.

Significante Objeto ‘a’


Alienação Separação
Abertura do Inconsciente Fechamento do Inconsciente
Sintoma Fantasia
Metonímia Metáfora
Desejo Gozo – Repetição
Destituição subjetiva Des-ser
Palavra Vazia Palavra Plena
Sujeito do Enunciado Sujeito da Enunciação
Dito Dizer

A transferência está incluída em todo o processo da análise.


A repetição é um constructo teórico que fala da mecânica de um fato que é o gozo, o nome da
coisa repetida é gozo.

S1 S2

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Todos são termos que Lacan usa, mas nem sempre tem uma conceituação unívoca, podem ser
entendidos de formas diferentes em contextos diferentes, não são termos absolutos. Por exemplo,
abertura e fechamento do inconsciente é do Seminário XI, termos ligados à metáfora do esfíncter,
mas Lacan só fala nisso nesse Seminário, é um termo que ele não volta a usar daí para diante. É
uma analogia que Lacan fez apenas num determinado momento, que está ligada à produção do
inconsciente. Na verdade o inconsciente de que falamos é o sujeito do inconsciente, então só
existe na separação, na alienação ainda não há inconsciente. Separação é a produção do sujeito
do inconsciente. Esses termos são muito analógicos, eu entendo mais a abertura ao inconsciente
na alienação; pela associação livre, abre-se o caminho para a produção do sujeito do inconsciente
que vai aparecer em ato. O fechamento do inconsciente? É difícil entender essa metáfora, porque
Lacan já tinha usado isso como momento de resistência no qual se presentifica a transferência, no
Seminário I, no sentido freudiano pela presentificação da pessoa do analista quando se interrompe
a alienação. E no Seminário XI, o que está diferente? Lacan está introduzindo a noção de intervalo
na cadeia, que é a idéia de objeto ‘a’, e a cadeia significante, pensada em termos binários, S1...
S2... . Ele está introduzindo a idéia que o momento da aparição da transferência que eqüivaleria ao
momento da separação, quando o intervalo da cadeia aparece em ato, é o momento da produção
do sujeito do inconsciente, é a produção do objeto ‘a’. Esse modelo do Seminário XI, é portanto
diferente do momento anterior, embora a fenomenologia seja a mesma. Lacan está dizendo que o
engendramento do sujeito se dá pela separação do objeto ‘a’, é isso que produz o sujeito do
inconsciente, é essa lógica. É a implicação disso no manejo da transferência:

S1 S2

O analista aí opera não na posição de ‘A’, mas desde a posição de objeto ‘a’. Há um outro
procedimento que vai operar fora do sentido e não no sentido. Entretanto, o conceito de
fechamento do inconsciente continua sendo meio analógico, embora continue presente ainda na
pulsação temporal do inconsciente, que é uma idéia posterior ao Seminário XI, é do escrito
Posição do Inconsciente. A grande diferença é que Lacan muda seu modo de pensar, de
desenvolver seu raciocínio teórico; aquilo que ele explicava pelo modelo tri-dimensional e temporal
do esfíncter ele vai depois explicar topologicamente, que é a sua nova maneira de refletir sobre
isso. No Seminário Le Sinthome, ele vai pensar a aparição do objeto ‘a’ (que equivale à produção
do sujeito do inconsciente) a partir dos nós, mas já sem essa metáfora muito médica de sístole e
diástole. Mesmo a questão da pulsação temporal que inclui a idéia de tempo, será depois pensada
de outra forma, a partir da topologia. Alguns dos termos que aqui estão colocados ele mantém,
outros não. Mantém alienação e separação, significante e objeto ‘a’, desejo e gozo; sintoma e
fantasia são termos de J.A.Miller, mas que se mantêm na teoria. Sintoma aqui é uma forma de
Lacan falar da combinatória significante, da alienação, este é o uso que Miller faz. Em oposição à
fantasia como algo permanente, o sintoma é algo fugidio. Esse quadro acima é de J.A.Miller, que
teve formação lógica, dialética, aprendeu a pensar por opostos, o que tem a utilidade de tirar a
idéia do “em si”, os conceitos tem valor, não por si próprios, mas em relação aos seus opostos,
isso é uma hermenêutica, uma maneira de se pensar fatos da psicanálise. Não é importante se
saber o lado em que o conceito está, o importante é saber pensar sobre isso. Mas os autores não
têm unanimidade sobre os conceitos, sobre sua evolução. Nesse quadro, o primeiro é o conceito
de palavra vazia e palavra plena, utilizado por Lacan no Discurso de Roma – Função e Campo –
de 1953 e que ele não retomou depois. É uma idéia meio poética, palavra plena de sentido
equivalendo ao inconsciente, palavra vazia se referindo apenas à relação imaginária, é muito
imprecisa essa maneira de expressar. Podemos por exemplo relacionar a palavra vazia à

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alienação, momento em que ainda não há produção do sujeito do inconsciente, à metonímia
também. Lacan introduz metáfora e metonímia em Instância da Letra, de 1957, e no Seminário III,
das Psicoses de 1956; aí ele abandona os termos de palavra plena e vazia.
Sintoma e fantasia não são termos de Lacan. Foi J.A.Miller quem instituiu seu uso, principalmente
como uma forma de condensar os outros conceitos.
Objeto ‘a’ e significante não estão explicitamente na fala ou escrita de Lacan, foi também J.A.Miller
que os deduziu a partir da teoria de Lacan. À pergunta sobre o que há no inconsciente, pode-se
responder que há significantes e que há também algo que não é significante; esse algo é o objeto;
algo que faz parte da estrutura do inconsciente e que não se veicula pelo significante. Essa é uma
diferença muito importante e que não está explicitada na obra de Lacan, mas é dela deduzida.
Gozo e desejo sim, são conceitos explícitos na teoria. Lacan introduz a questão do gozo a partir do
Escrito – A subversão do sujeito (1960), onde ele propõe o gozo como uma categoria essencial na
psicanálise, a categoria central da psicanálise. Até então ele achava que o desejo era a causa das
formações do inconsciente, a partir daí coloca o gozo nesse lugar e opera uma mudança muito
importante, cujo sentido no conjunto da obra só agora é que se está tornando mais claro, a
exemplo de Freud, cujo texto “A Organização Genital Infantil” de 1923, que resignificou toda sua
formalização teórica anterior, mas que só teve sua importância percebida muitos anos depois por
Lacan, também a virada introduzida por Lacan com o conceito de gozo só agora começa a ser
devidamente compreendida e explicada pelos autores. Em 1960, em Subversão do Sujeito, Lacan
faz pela primeira vez uma crítica ao Complexo de Édipo, desde então aponta o Complexo de Édipo
como insuficiente para dar conta da prática analítica e começa a desenvolver o gozo. No Seminário
XVII ele passa o tempo todo criticando o Complexo de Édipo; aí entra também a leitura de
J.A.Miller, que ao separar em capítulos e colocar títulos no Seminário está privilegiando, indicando
uma determinada leitura. Um dos capítulos por exemplo recebeu o nome de “Para além do
Complexo de Édipo”; ao nomear uma parte importante do Seminário com esse título Miller já está
indicando um sentido, talvez sem isso as pessoas não entendessem assim. Essa crítica continua
daí por diante, até o fim da obra dele, por exemplo no Seminário sobre Joyce, onde formaliza o
Complexo de Édipo a quatro, diferentemente da idéia freudiana do Complexo de Édipo a três. O
erro de Freud para Lacan, teria sido não incluir o quarto elemento – o Nome do Pai, ao Real, ao
Simbólico, e ao Imaginário, e Lacan faz toda a demonstração do porque o Édipo freudiano não dá
conta da psicanálise. O N.P. é um significante, o significante da Lei do ‘A’, está relacionado ao
simbólico, ele não é o simbólico. Por ser um significante, ele se articula no simbólico, mas se
articula também no imaginário e no real; temos os três Pais, o Imaginário, o Simbólico, e o Real,
mais um que é o importante, que é o N.P, que é o agente da separação. Estas últimas
elaborações de Lacan são muito complexas, porque há um salto qualitativo do método de
pensamento. Ele vinha antes pensando numa certa lógica combinatória e de repente passa de
uma lógica dedutiva para uma dedução topológica. Essa é a questão principal do Seminário XVII,
Lacan vai aí pensar a questão da função paterna, hegelianamente, articulada à questão do senhor
e do escravo. O senhor é uma invenção do escravo, a partir disso, Lacan coloca o discurso do
analista como uma invenção do discurso da histérica, a que sabe sobre a falta. Um é que produz o
outro, então Freud só poderia inventar a psicanálise a partir da histérica, pois é a histérica que
inventa o amo, o analista também é uma invenção dela, pois está no lugar de todo o poder que lhe
falta. Daí Lacan parte para uma crítica da sociedade moderna, diz que a sociedade moderna
inverteu a ordem antiga, e que nela quem está no lugar do escravo é o pai porque tem que
sustentar a família e faz uma crítica ao Édipo freudiano a partir disso: se o escravo moderno é o
pai, quem é o amo, o senhor do pai? Aquele que decide da Lei, esse é o senhor. Lacan está
dizendo que a questão do pai não tem nada a ver com quem decide da Lei, é isso que ele está
tentando separar, é a partir disso que ele vai formalizar o N.P, como o do quarto elemento do
Édipo. O N.P é o agente da Lei, não tem nada a ver com o pai no sentido social ou biológico. O
N.P é um puro significante. No capítulo “Para além do Complexo de Édipo”, Lacan começa
criticando Moisés e o monoteísmo, mostrando que a questão do Pai é um sintoma de Freud, que
não era uma dedução da psicanálise. O texto de Freud só tem sentido, se sua hipótese de Moisés

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ter sido assassinado for correta, é a mesma coisa que Totem e Tabu, o pai primitivo da horda
assassinado pelos filhos, comido, ingerido, se transforma na Lei. É um questionamento que Lacan
faz do lugar do pai, tanto na história quanto na sociedade, não tem nada a ver a função do pai com
o pai biológico, porque muitas vezes essas funções não se superpõem. Lacan dissocia a função
do lugar e precisa a função paterna diferenciando-a desse lugar. Tem uma frase no texto
Subversão do Sujeito, que já indica isto: “Qual é o nexo entre o assassinato do pai e a proibição do
incesto?”. Realmente não tem nada a ver um com o outro. O pai da horda tem todas as fêmeas
então os machos mais jovens se reúnem e matam o pai para terem acesso às fêmeas. Esse é um
fato. Depois, para que esse assassinato não se repita eles estabelecem a lei proibindo o incesto.
Outro fato totalmente separado do primeiro (Totem e tabu). A pergunta é : Porque eles tem que
matar o pai? Porque não o prenderam em algum lugar? Matar e comer tem para Freud o valor de
introjetar, quase via oral, a Lei do pai; é uma maneira mítica de falar mas que não é necessária
porque não é preciso um mito para explicar um efeito, e que também tem outro aspecto: o sujeito
que decidiu matar o pai está novamente na função paterna, está decidindo da Lei. Isso é de
conseqüências clínicas fundamentais, já que isso é fazer semblant de objeto, é estar no lugar do
agente da separação do objeto ‘a’. É a partir daí que o analista opera, ele marca o lugar de quem
decide do sentido, é uma instrumentação técnica do que Lacan demonstra que seriam os modos
de produção do sentido, o sentido é a função paterna e é disso que se trata numa análise, a
produção de sentido, que é onde um analista intervém; não opera mais com o sentido mas com os
modos de produção do sentido, operando não mais no recalcado mas no recalcante, isso é um
avanço que tornou a clínica mais eficaz, é uma outra maneira de proceder.
É isso que vamos ver. O quadro que fizemos dos conceitos nos serve para perceber em que
momento de Lacan nós estamos. O uso do conceito de objeto ‘a’ implica na diferença entre
sintoma e fantasia, entre gozo e desejo, entre alienação e separação, os outros são anteriores,
como já vimos.
Dito e dizer, são os últimos, são do L’Étourdit, são muito úteis na clínica. Lacan chegou com esses
conceitos a uma grande simplificação na sua teoria, tão complexa na sua enunciação, mas tão
simples que ele reduz afinal a prática analítica ao que se joga entre o dito e o dizer. Temos que ver
os matemas de metáfora e metonímia em Instância da Letra. Enunciado e enunciação são termos
de lingüística.
O que importa é a operacionalidade de todos esses conceitos. Podemos fazer várias correlações
entre esses conceitos, mas nenhuma é totalmente eficaz, todas são aproximativas de fatos clínicos
e as vezes não têm nada a ver. Servem para situar momentos diversos do desenvolvimento teórico
de Lacan (por exemplo, em 1950, ele ainda não tinha o conceito de metáfora e metonímia).

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