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SAMBA DO CRIOULO DOIDO

Vinte anos atrás uma propaganda na televisão perguntava: “Tostines é fresquinho porque
vende mais ou vende mais porque é fresquinho?”. Estava criado o Paradoxo de Tostines. Duas
décadas depois a discussão sobre a taxa de juros no Brasil parece querer criar um novo
bordão: “A taxa de juros é alta porque o país não cresce ou o país não cresce porque a taxa de
juros é alta?”. E tanto uma pergunta quanto a outra nos leva a resposta nenhuma. Ou a
qualquer uma.

A dificuldade de se entender (ou de se explicar) a questão da taxa de juros já foi justificada pelo
pouco acesso às informações. Entretanto, a cada dia que passa a mídia nos bombardeia com
mais informações sobre as implicações da alta (ou da queda) dos juros, os “porquês” desta ou
daquela decisão do Banco Central, e quanto mais informações recebemos, mais distantes
ficamos da realidade. Qual seria o problema: falta de qualidade nas informações, necessidade
de um conhecimento técnico acima da média ou a idéia é mesmo não dar idéia nenhuma?

O artigo em anexo, alerta para o fato do país continuar atraindo investimentos externos, apesar
da crise internacional, e para os riscos da valorização do real frente ao dólar. Lembra também
que apesar da taxa de juros ter caído nos últimos meses, ela continua entre as maiores do
mundo, e que apesar disso o país pouco sentiu a crise internacional. Mais e mais paradoxos.

O conceito de juros não é novo, e remonta os primeiros registros de civilizações existentes. Na


antiguidade, progredia na Babilônia. Durante a Idade Média, foi condenado pela Igreja Católica,
sendo considerado um pecado (“Pecado da Usura”). Somente foi “perdoado”, para sorte dos
banqueiros, pelas mãos de Martinho Lutero (Reforma Luterana) e de João Calvino (Reforma
Calvinista).

O juro é, em uma definição formal, a taxa cobrada a partir de todo capital emprestado por um
determinado período de tempo. A porcentagem do principal que é paga como taxa (o juro), por
um determinado período de tempo, é chamada de taxa de juros. Ainda que “Aluguel do
Dinheiro” nos pareça uma definição mais próxima do popular e mais fácil de ser entendida pelo
brasileiro médio.

Já a taxa básica de juros (SELIC) é determinada pelo governo e norteia a economia brasileira e
os negócios com títulos públicos registrados no Banco Central. É usada como instrumento de
controle de preços (controle da inflação). A taxa alta dificulta o crédito ao consumidor e ao setor
produtivo, conseqüentemente diminuindo a demanda por produtos e serviços. Também atrai
investimentos especulativos. Mas faz a economia girar mais lentamente. A taxa baixa dá animo
à economia, oferecendo créditos mais baratos ao setor produtivo e ao consumidor. Fazendo a
roda girar mais rápido.

Mas, não é tão simples assim. Para entender o quadro geral, vamos nos ater a um subconjunto
de elementos e variáveis.

João recebe 1.000 “merrecas novas” como salário. Seus gastos mensais se resumem aos
ingressos para assistir o “Framengo no Maraca” e a cervejinha, que é de lei. Isso quer dizer
que sobram 200 “merrecas novas” no final do mês (os ingressos estão pela hora da morte e só
bebendo muito pra esquecer isso). O que João deve fazer com o dinheiro que sobra? Guardar
na poupança pensando em uma hipotética viagem ao Japão para comemorar mais um título
mundial ou fazer um investimento que tenha um retorno financeiro?

João é rubro-negro, mas não é burro. Ele sabe que pode receber “algum” em troca de suas
economias. Mas, quanto será esse “algum”? Valerá à pena?
Esse “algum” é formado pela aplicação de uma taxa de juros sobre o montante das economias
de João. E a decisão de João sobre onde aplicar suas economias depende de quão atrativa
seja essa taxa de juros. Então, consideremos agora que José, seu irmão, está interessado em
trocar sua “bicicreta” (José também é rubro-negro). João poderia emprestar suas economias a
José, claro que cobrando uma módica quantia em troca deste, digamos, favor.

João pensa em cobrar 5% de juros, visto que após realizar uma pesquisa em alguns bancos
observou que a média da taxa de juros é de 10% (coisa de irmão). Ao mesmo tempo, José tem
a informação que o Banco R (não, não é o Banco Rural, esqueçamos os mensaleiros! Ao
menos por enquanto) está emprestando a 4%. Quais serão os próximos movimentos?

Isso vai depender de vários fatores diferentes. Vejamos o lado de cada um

Se João não tem necessidade de dinheiro sobrando no bolso, pois o preço da cerveja está
tabelado e os jogos já estão definidos, então ele pode emprestar a 4% para o irmão, só pra
“ficar bem na foto”. No entanto, caso ele esteja pensando em acompanhar o “Framengo” em
sua próxima partida em Belo Horizonte, contra o “Atrético” (desculpe, foi irresistível), suas
despesas estarão acima do planejado, gerando a necessidade de uma sobra de dinheiro no
bolso. Essa necessidade de liquidez (o nome é bonito, tinha que usar em algum lugar) pode
reduzir sua capacidade de empréstimo. Neste caso, ele avaliará se o risco de ficar sem liquidez
(já pensou, não poder ir a BH ver “crássico”) valerá somente 4% de retorno ou não.

Por outro lado, José poderá abrir mão de 1% de diferença em benefício do irmão, por motivos
pessoais, é claro. Mas, caso esta diferença venha a impossibilitar a concretização da troca da
“bicicreta”, certamente preferirá obter o financiamento no Banco R.

Desta forma, a taxa de juros pode influir na decisão de ambas as partes. Cada um analisará
suas necessidades e os benefícios de uma ou outra operação. Mesmo sendo em um pequeno
conjunto de elementos (João e José) e trabalhando com poucas variáveis (aquisição de bens
de consumo e lazer), é difícil prever qual será o desfecho e como a taxa de juros influenciará
cada um dos irmãos.

Vamos estender o exemplo anterior, substituindo João e José por um conjunto de elementos
composto por grandes e pequenos empresários (de indústrias, comércios e serviços), governos
(federal, estadual e municipal), pequenos e grandes investidores no mercado financeiro, a
Petrobrás, a Vale, o “ValérioDuto”, os sonegadores, os corruptos... e vamos parar por aqui.

Troquemos o “Framengo” e o “Atrético” por algumas dezenas de variáveis de abrangência local


ou global, como instabilidade cambial, valorização do real frente ao dólar, aumento ou redução
da demanda de energia, quebra da safra de soja (calma, é só uma simulação), carga abusiva
de impostos, crise financeira internacional, portos ineficientes, quebra da Bolsa de Luxemburgo
(mais uma irresistível!), “Delúbios”, ”Lulas”, “FHCs”, e outras menos traumáticas.

Junte tudo no liquidificador, e acrescente uma eleição presidencial próxima (e Jesus, com
boatos de terceiro mandato).

Desta forma, o governo mais parece um marisco, entre o rochedo e o mar. Sofre pressões do
mercado externo, por seu endividamento, e por isso precisa captar recursos, em último caso,
aumentando a taxa de juros para atrair capital financeiro. Em contrapartida, os empresários
nacionais (não confunda com nacionalistas) argumentam que não é possível investir com juros
altos, e pressionam o governo a reduzir a taxa de juros.

Em um “paraíso” como o desenhado acima, atribuir à taxa de juros a responsabilidade de única


ferramenta de controle da inflação e de regulação da atividade econômica soa ingênuo e
superficial, é como acreditar que podemos abrir um cofre com um canivete.
No artigo citado, o país é apresentado como um paraíso para investimentos estrangeiros
principalmente por suas altas taxas de juros. Parece que o país é destino exclusivamente de
capital especulativo, do tipo que ao menor sinal de crise volta para investimentos mais
“seguros” como os papéis americanos, remunerados em taxas bem menos “apetitosas”.

Em primeiro lugar, o cenário não é tão simples. É bom lembrar que pouco tempo atrás as taxas
de juros estavam bem acima dos níveis atuais e nem por isso fomos inundados por capital
especulativo, visto que se isso tivesse ocorrido as conseqüências da crise internacional não
teriam sido tão superficiais (comparativamente aos mercados de primeiro mundo) quanto o
foram.

Vivenciamos no passado situações de crise (México, Rússia e Ásia) e naqueles momentos o


impacto foi muito maior, visto que os capitais especulativos representavam grande parte dos
capitais estrangeiros aqui investidos. Nos últimos sete anos (por favor, resistamos às
considerações políticas), a economia mundial cresceu e o Brasil aproveitou bem essa onda de
crescimento, exportando como nunca na história (desta república... desculpe, foi difícil resistir).
Aqui é importante ressaltar que a falta de planejamento do Governo Federal acabou por
impedir que a economia obtivesse crescimento nos mesmos níveis que outras economias
emergentes.

Apesar disso, a economia brasileira apresentou crescimento consistente, ainda que menor que
o previsto/desejado, e isso fortaleceu a economia como um todo. O resultado disso é o
comportamento dos índices econômicos que voltaram a apresentar recuperação bem antes de
economias mais estruturadas e sólidas do ponto de vista econômico-financeiro, como
Inglaterra, Espanha, Portugal, França e (surprise!) os Estados Unidos.

Em segundo lugar, o “descolamento” das economias americanas e européias não foi uma
habilidade natural, um “dom”, muito pelo contrário, é fruto de um trabalho de aproximação com
outros países emergentes como Rússia, China, Índia, entre outros. É resultado de trabalho e
planejamento (por incrível que isso possa parecer).

Por último, e não menos importante, o crescimento da classe média, resulta também dos fatos
citados acima, mas principalmente do reconhecimento, por parte do governo federal, de que
um mercado interno fortalecido poderia tornar o país menos suscetível às variações de “humor”
dos mercados internacionais. No final das contas, foi muito mais um pensamento do governo
que se mostrou correto (por incrível que isso possa parecer II, para afastar totalmente as
questões políticas) do que resultado de “fortalecimento de democracias de livre-mercado
plurais e liberais”. Foi muito mais um decisão econômica do que uma transformação política.

Em última análise, é preciso cautela quando se analisa uma economia como a brasileira. As
diferenças regionais são enormes, a infra-estrutura é precária e a (ir)responsabilidade política é
coisa de louco (digamos, literalmente). Por isso, tanto a tentativa de “demonizar” a taxa de
juros, responsabilizando-a por todos os males de nossa economia, quanto a tentativa de elevar
aos céus esta mesma taxa de juros por atrair investimentos externos, como defende o artigo,
parece singela demais quando comparada às complexidades da economia brasileira.

Que os “gringos” não nos escutem, mas isso aqui é mesmo o “Samba do Crioulo Doido”. O
melhor que podemos fazer é pensarmos no Brasil como se fosse uma religião: não tente
entender, apenas tenha fé.
BIBLIOGRAFIA

Artigo “Brasil volta a ser o paraíso dos investimentos estrangeiros, diz “El País”
http://economia.uol.com.br/ultnot/bbc/2009/05/28/ult2283u1826.jhtm

Wikipedia
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Juros)

A História da Matemática Comercial e Financeira


(http://www.somatematica.com.br/historia/matfinanceira.php)

Entenda o que muda com os juros mais baixos no Brasil


http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u558116.shtml

Veja como a taxa básica de juros influencia a economia


http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u558084.shtml

Artigo - A taxa de juros e os agentes econômicos- por Regina Célis Ferreira


http://www.lucianacapiberibe.com/2009/05/03/artigo-a-taxa-de-juros-e-os-agentes-economicos-
por-regina-celis-ferreira/

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