Pela quarta vez desde o fim do apartheid, os eleitores sul-africanos preparam-se
para votar e renovar a Assembleia Nacional. Jacob Zuna é o grande favorito para assumir a presidência da África do Sul. Líder do African National Congress (ANC), o partido socialista no poder desde 1994, Jacob Zuma tem como apoiantes a maior parte da população pobre, as forças de esquerda e grande parte da etnia zulu. A actual situação politica calma, é reflexo da escolha de Kgalema Motlanthe para presidente de transição, uma vez que lhe é reconhecido o carácter ponderado e a abertura ao diálogo. Logo no seu primeiro discurso como presidente, assegurou que continuaria a política económica do seu antecessor. Mobilizador, Jacob Zuma apelou à comunidade europeia para que ajudasse a fazer da África do Sul um país cada vez melhor e sublinhou que o seu partido se manterá fiel aos princípios estabelecidos na Freedom Charter, um documento que estabelece que a África do Sul pertence a todos os que nela vivam, sejam brancos ou negros. Sob a direcção do ANC, o país está longe de cumprir as promessas sociais pós - apartheid. A estratégia económica deste partido agravou substancialmente as desigualdades sociais. A sociedade sul – africana reestruturou-se, passou de uma sociedade dividida racialmente para uma sociedade claramente estratificada em classes sociais. Em 1996 o ANC optou por uma política neoliberal, com uma gestão autoritária, centralizada e tecnocrata do Estado. Esta política gerou maus resultados sociais aos quais se somaram as tensões politicas devido às falhas nas políticas de transformação social. O Estado estendeu o seu poder a todos os níveis, do Exército á policia, dos média ao sistema judiciário e ao Banco Central, com as acusações de corrupção e favorecimento a multiplicarem-se. Nos últimos dez anos o desemprego entre os negros passou de 23 para 48% e entre os brancos de 4 para 10%. Ao longo dos últimos anos várias foram as manifestações , protestos e revoltas contra a corrupção e a insuficiência de serviços sociais. A exoneração do vice – presidente Jacob Zuna por suposta implicação num caso de corrupção acabou por agudizar a crise politica. O ex – presidente sul – africano construiu um discurso afro – nacionalista assente em posições controversas sobre a Sida. Em consequência, mais de 5,3 milhões estão actualmente infectados e destes apenas 50 mil tiveram acesso a medicamentos anti - retrovirais. A África do Sul é um país com enormes recursos humanos e materiais, sendo o país mais industrializado e desenvolvido do continente africano, todavia, atravessa uma grave crise económica com uma onda de criminalidade e corrupção que tem aumentado drasticamente, principalmente com casos de brutal xenofobia contra imigrantes. Com uma população estimada de cerca de 49 milhões de habitantes, com uma esperança média de vida de 49 anos, os negros correspondem a 79% da população total e dividem-se por quatro grupos étnicos: Nguni, Sotho – Tswana, Tsonga e Venda. Os brancos representam apenas cerca de 10% da população e na sua maioria são desdentes de colonos europeus. Um dos maiores problemas da sociedade sul – africana é a criminalidade. A violência tem um impacto profundo nas cidades, nomeadamente em Joanesburgo, onde muitos habitantes têm optado por se transferir para condomínios fechados na periferia da cidade. Esta violência é reflexo de uma estratificação social mal definida, com um número muito grande de imigrantes ilegais , cerca de 4 milhões, vindos d e países como o Zimbabué, que acabam por se fixar em bairros – de –lata degradados contribuindo para aumentar ainda mais a pobreza, a instabilidade e a insegurança no país, agravando consideravelmente as desigualdades sociais. Só no último ano a população imigrante na África do Sul cresceu mais de 20 por cento. As cidades estão cheias de bairros - de -lata , habitados por pessoas pobres e desempregadas. Nestes bairros começam muitas das ondas de violência xenófoba, pois as pessoas desesperadas e desempregadas culpam os imigrantes de usurparem os empregos no país. No entanto, antes dos imigrantes chegarem ao país já havia miséria. As cidades funcionam também como um pólo de diversidade cultural, mas não basta esta heterogeneidades, se faltam as condições básicas de saneamento, saúde, emprego e habitação. Apesar do crescimento económico do país ter sido estável o ano passado, as riquezas não foram bem distribuídas. Alguns tornaram-se mais ricos, enquanto a maior parte permaneceu pobre ou empobreceu, com a agravante do aumento do preço dos alimentos. O país, com uma democracia muito jovem ainda tem tentado resolver questões como as desigualdades sociais, desemprego, crise na saúde e a corrupção. Para combater a pobreza, o país tem apostado na educação dos seus jovens e crianças. As políticas educacionais estão centradas na erradicação da pobreza e na qualidade da educação. Esta será a única forma de quebrarem o ciclo de reprodução da pobreza. isto porque, os mais ricos têm maior escolaridade do que os mais pobres e os brancos têm melhor qualidade de vida do que os negros. Portanto, mesmo quando alcançam altas taxas de crescimento e conseguem reduzir a pobreza, as desigualdades sociais não diminuem, porque as pessoas ricas tornam-se mais ricas com maior velocidade do que as pessoas pobres conseguem melhorar sua situação.
È um país que se caracteriza pela migração do campo para as cidades. Grande
parte da população rural migra para as cidades maiores, locais de grande potencial económico, mas onde se acabam por gerar grandes bolsas de pobreza, desemprego, criminalidade e más condições de vida. A cidade não consegue ter capacidade para tantas pessoas, nem empregos, nem habitação para todos. Assim, á volta das cidades criam-se numerosos bairros – de –lata, focos de intensa pobreza e de acentuada falta de condições de vida. Para combater este fenómeno, a África do Sul tem apostado em políticas de descentralização. Foram criados projectos de desenvolvimento regional. Assim, têm-se deslocalizado empresas, comércio e serviços para outras áreas não – urbanas, de forma a concentrar aí a população, proporcionando-lhe emprego e condições de vida mais apelativas que nos centros urbanos. O racismo foi outro dos problemas sul-africanos, tal como actualmente é a xenofobia. Até 1994 o país viveu sob um regime de apartheid, ou seja, de segregação racial, durante o qual, saíram do país mais de três milhões de pessoas. O país criou assim, uma clara divisão entre pessoas brancas e pessoas de raça negra. Às pessoas negras era vetada a participação no governo nacional e na maioria das eleições importantes. Viam-se também impossibilitados de aceder a determinados empregos ou a empregar pessoas brancas , bem como a manter negócios ou práticas profissionais destinadas somente a brancos. Embora a segregação racial existisse na África do Sul desde o século XVII, o termo passou a ser usado legalmente em 1948. Assim , durante este regime o governo era controlado por brancos de origem europeia (holandeses e ingleses), que criavam leis e governavam apenas para os interesses dos brancos. Aos negros eram impostas várias leis, regras e sistemas de controlo social. As principais leis do apartheid foram: a proibição de casamentos entre brancos e negros , a obrigação de declaração de registo de cor para todos sul-africanos a proibição de circulação de negros em determinadas áreas das cidades ; a criação de bairros só para negros; a proibição de negros no uso de determinadas instalações públicas e a criação de um sistema diferenciado de educação para as crianças negras. A aposta na educação dos negros era muito fraca e este fenómeno reflecte- se ainda hoje, pois os elevados níveis de iliteracia da população impedem o seu desenvolvimento. Nos anos 1970 a educação de cada criança negra custava ao estado apenas um décimo de cada criança branca. Educação superior era praticamente impossível para a maioria dos negros: as poucas universidades de alta qualidade eram reservadas para brancos. Além disso, a educação provida aos negros era deliberadamente não designada para prepará-los para a universidade, e sim para os trabalhos braçais disponíveis para eles. Este sistema vigorou até o ano de 1990, quando o presidente sul-africano tomou várias medidas e colocou fim ao apartheid. Entre estas medidas estava a libertação de Nelson Mandela, preso desde 1964 por lutar contra o regime de segregação. Em 1994, Mandela assumiu a presidência da África do Sul, tornando-se o primeiro presidente negro do país numa eleição não - racial. Para resolver a desigualdade interna, várias políticas sociais foram implantadas. O racismo é histórico no país. Os negros foram excluídos das melhores escolas e de algumas categorias de profissões. Os negros não podiam possuir indústrias nem terras. Actualmente, as políticas nacionais visam reduzir esse problema, mas acabaram por criar novas formas de desigualdade social, que se prendem com motivos económicos. O fosso entre ricos e pobres é muito grande e as desigualdades no país prevalecem.