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Avaliação de Aprendizagem

Instituição Credenciada pelo MEC – Portaria 4.385/05

Unis - MG
Centro Universitário do Sul de Minas
Unidade de Gestão da Educação a Distância – GEaD
Av. Cel. José Alves, 256 - Vila Pinto
Varginha - MG - 37010-540

Mantida pela
Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas – FEPESMIG
Varginha/MG

Todos os direitos desta edição reservados ao Unis-MG.


É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou parte do mesmo, sob qualquer meio, sem
autorização expressa do Unis-MG.

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Avaliação de Aprendizagem

MOREIRA, Simone de Paula Teodoro.


Guia de Estudo – Introdução ao Pensamento
Científico (EaD) - Simone de Paula Teodoro Moreira.
Carina Carvalho Tavares. Varginha: GEaD-
UNIS/MG, 2007.
70p.
1. Metodologia Científica. 2. Ciência. 3.
Conhecimento. I. Título.
Atualizado e revisado por DE BRITO Renato, em Agosto de 2010

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Avaliação de Aprendizagem

REITOR
Prof. Ms. Stefano Barra Gazzola

GESTOR
Prof. Ms. Wanderson Gomes de Souza

Supervisora Técnica
Profª. Ms. Simone de Paula Teodoro Moreira

Design Instrucional
Prof. Celso Augusto dos Santos Gomes
Rogério Martins Soares

Coord. do Núcleo de Recursos Tecnológicos


Lúcio Henrique de Oliveira

Coordenadora do Núcleo Pedagógico


Terezinha Nunes Gomes Garcia

Revisão Ortográfica / Gramatical

As Autoras
SIMONE DE PAULA TEODORO MOREIRA – simoneteodoro@sabe.br
Licenciada em Matemática, Física e Desenho Geométrico, especialista em Educação
Matemática e Redes de Computadores pelo UNIS/MG e em Informática em Educação pela UFLA.
Mestre em Tecnologias para Educação. Supervisora Técnica da Educação a Distância e professora
universitária nos cursos a distância e presenciais do UNIS/MG.

CARINA CARVALHO TAVARES


Graduada em Comunicação Social - Bacharelado em Publicidade e Propaganda, Pós Graduação em
Docência no Ensino Superior pelo UNIS/MG, Curso de Informática e Curso de Línguas - Inglês -
Avançado e Business. Ex-membro do Núcleo de Recursos Tecnológicos da GEaD e ex-tutora nos
cursos a distância do UNIS/MG. Atualmente atua no mercado de propaganda e publicidade.

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Avaliação de Aprendizagem

ÍCONES
REALIZE. Determina a existência de atividade a ser realizada.
Este ícone indica que há um exercício, uma tarefa ou uma prática para ser
realizada. Fique atento a ele.

PESQUISE. Indica a exigência de pesquisa a ser realizada na busca por mais


informação.

PENSE. Indica que você deve refletir sobre o assunto abordado para responder a
um questionamento.

CONCLUSÃO. Todas as conclusões, sejam de ideias, partes ou unidades do curso


virão precedidas desse ícone.

IMPORTANTE. Aponta uma observação significativa. Pode ser encarado como


um sinal de alerta que o orienta para prestar atenção à informação indicada.

HIPERLINK. Indica um link (ligação), seja ele para outra página do módulo
impresso ou endereço de Internet.

EXEMPLO. Esse ícone será usado sempre que houver necessidade de


exemplificar um caso, uma situação ou conceito que está sendo descrito ou
estudado.

SUGESTÃO DE LEITURA. Indica textos de referência utilizados no curso e


também faz sugestões para leitura complementar.

APLICAÇÃO PROFISSIONAL. Indica uma aplicação prática de uso profissional


ligada ao que está sendo estudado.

CHECKLIST ou PROCEDIMENTO. Indica um conjunto de ações para fins de


verificação de uma rotina ou um procedimento (passo a passo) para a realização
de uma tarefa.

SAIBA MAIS. Apresenta informações adicionais sobre o tema abordado de forma


a possibilitar a obtenção de novas informações ao que já foi referenciado.

REVENDO. Indica a necessidade de rever conceitos estudados anteriormente.

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Avaliação de Aprendizagem

Sumário

APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................................... 7
EMENTA........................................................................................................................................................... 8
1 TEORIA DO CONHECIMENTO ....................................................................................................... 9
2 O CONHECIMENTO E SUAS VÁRIAS DIMENSÕES ................................................................... 15
3.1 CONCEPÇÕES DE CIÊNCIA .................................................................................................... 25
4 LEITURA E EXPRESSÃO ESCRITA ............................................................................................. 29
4.1 LEITURA, ESCRITA E PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................ 30
4.2 RESUMO ................................................................................................................................... 37
4.3 APONTAMENTOS SOBRE A PRÓXIMA UNIDADE................................................................ 37
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 38

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Filosofia E Educação

APRESENTAÇÃO
Caro (a) aluno (a),

Este é seu Guia de Estudos da disciplina Introdução ao Pensamento Científico,


ministrada para o seu curso de Graduação.
Nós, professores e tutores, desejamos que você tenha sucesso nas suas atividades
e em todas as disciplinas do curso, e fazemos votos de que o estudo do pensamento
científico e das normas técnicas lhe ajudem nessa caminhada.
A produção científica, atualmente, já é um grande mercado de trabalho, e continua
a crescer. Estar atento aos passos introdutórios da pesquisa pode torná-lo acessível a
você. E ainda que você não pretenda enveredar pela pesquisa, o pensamento científico é
um grande instrumento de discernimento e crítica, que seguramente vai ajudá-lo (a)
extrair o máximo de aprendizado do seu curso. Mais ainda, trata-se de um belíssimo
instrumento de expressão humana e de conhecimento do mundo.
Para que você assegure o sucesso no curso, sugerimos que você jamais adie a
comunicação com professores e tutores. Teremos um grande prazer em colaborar com
você na busca pelos melhores caminhos para a construção do conhecimento.
Bom curso para todos nós e muito êxito a você neste novo projeto de vida que é a
educação superior!

São os votos de,

Simone de Paula Teodoro Moreira


Carina Carvalho Tavares

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Filosofia E Educação

EMENTA
O conhecimento científico, a ciência e o senso comum. O Método e Metodologia
científica. Técnica de esquematizar e resumir. Tipos de fichamentos e referências
bibliográficas. Redação do trabalho: estrutura lógica, estilo e citações. Apresentação
formal do trabalho. Seminário Normas da ABNT.

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Filosofia E Educação

TEORIA DO CONHECIMENTO
1 TEORIA DO CONHECIMENTO

Olá pessoal, tudo bem?

Para começar nossa aventura pelo mundo do conhecimento científico, convém


refletirmos um pouco sobre a história do conhecimento humano. Nem sempre o homem
se valeu do modo científico para conhecer o mundo. O bonde-ciência tomou curso há
pouco tempo se comparado com a história da humanidade. A história da ciência
ocidental tem aproximadamente 2.500 anos, e se iniciou na Grécia Antiga. Mas
recuemos um pouco no tempo para entender sua invenção.
Nos primórdios da humanidade, o conhecimento era desenvolvido para suprir as
necessidades básicas de sobrevivência. Traçando um panorama rápido e impreciso,
podemos relacionar o desenvolvimento mais acentuado dos conhecimentos à partir da
invenção da agricultura, aproximadamente 8.000 a.c, na Pré-história, durante a Idade da
Pedra Lascada. Com a agricultura, o homem deixou de ser nômade, começou a produzir
seus alimentos e passou a domesticar animais para o trabalho, o que reduziu tempo
necessário para garantir a sobrevivência. Cultivar a terra fez com que o homem
desenvolvesse, por exemplo, maiores conhecimentos de astronomia, para fixar as
estações do ano e organizar o plantio. Ainda hoje usamos o calendário astronômico com
semanas e meses lunares, anos solares etc.
As primeiras tentativas de explicar fenômenos naturais como as catástrofes, as
doenças e a morte eram de cunho sobrenatural. As culturas davam nomes e
personalidade aos fenômenos da natureza. Thor, para os nórdicos, e Zeus, para os
gregos, eram os deuses responsáveis pelos raios. E Guaraci, para os Tupis, era o deus-
sol. Este modo de pensar desenvolveu religiões nas várias culturas, e as figuras dos
curandeiros ou dos oráculos, representantes dos deuses entre os homens, passaram a
gozar da submissão absoluta dos demais mortais. A palavra destes semideuses traduzia
a vontade divina, por isto suas explicações sobre a vida e a natureza eram
incontestáveis.
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Filosofia E Educação

Em paralelo ao conhecimento religioso, outra forma de conhecimento passou ser


desenvolvida pelas sociedades primitivas. Os artesãos desenvolviam ferramentas e
soluções. Porém, desde que funcionassem, os instrumentos não precisavam ser
explicados para grupo, o que resultava numa produção claudicante.
A sanha pela explicação não teológica da vida e do mundo ganhou a forma com
que chega até nós hoje na Grécia Antiga, com a tradição dos filósofos. A principal
diferença entre a orientação mitológica, que vigia até então, e a orientação filosófica,
está em que na segunda os conhecimentos são elaborados a partir de especulações
racionais e questionáveis, construídas a partir de um jogo de perguntas e respostas sobre
o que se deseja saber. Embora hoje explicação racional nos pareça natural, sua invenção
significou uma forma absolutamente nova de olhar para o mundo. E é esta humanidade
nova que será nosso objeto de estudos nesta Unidade do Guia.

Você está curioso para entender mais sobre a história do conhecimento


humano? Assista ao vídeo produzido pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). O vídeo divide-se em 7 parte.
http://www.youtube.com/watch?v=G0oImVekJzg&feature=player_embedded

Lakatos (2000) nos lembra que, na passagem em que a forma de conhecimento


mitológico deixou de ser a principal forma de interpretar o mundo, o conhecimento
passou a ser responsabilidade de uma nova tradição de olhar, que ficou conhecida como
Filosofia. Esta nova forma de conhecer inicialmente foi dedicada à compreensão dos
problemas da natureza, mas rapidamente extrapolou esse âmbito para refletir sobre as
várias facetas da vida humana, como as questões políticas, sociais e as artes. Crescendo
em envergadura reflexiva, a filosofia não tardou a elaborar um ramo voltado para os
estudos da origem, método e estrutura das formas de conhecimento que as diferentes
sociedades desenvolvem: a Epistemologia.

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Filosofia E Educação

Platão de Atenas - 428/27 a.C - 347 a.C, filósofo


grego, cujo nome verdadeiro era Aristócles; Platão era
um apelido que fazia referência á sua caracteristica
física, tal como o porte atlético ou os ombros largos, ou
ainda a sua ampla capacidade intelectual de tratar de
diferentes temas. Sua filosofia é de grande importancia e influencia.
Platão ocupou-se com varios temas, politica, metafísica e teoria do
conhecimento.

Mas o conhecimento, em geral, e o conhecimento científico, em particular, não


são, hoje em dia, objeto de investigação apenas da Filosofia. Ramos da própria ciência,
como a História, a Sociologia e a Psicologia têm voltado sua atenção para o estudo das
questões do conhecimento.
O leitor mais informado pode estar se perguntando por que escolhemos trazer à
baila rapidamente o termo "Epistemologia", ao invés de enveredarmos pela "Filosofia
da Ciência", o que seria o caminho natural, já que vínhamos falando da Filosofia. Foi
uma opção proposital. Acontece que não vamos discutir mais adiante apenas
conhecimento científico, mas também outros tipos de conhecimentos, e para isto a
Epistemologia nos socorre com mais propriedade.

René Descartes - Avançando 2000 anos em relação a


Platão, encontramos Descartes (de 1596 - 1650). Ele foi foi
um filósofo, físico e matemático francês que notabilizou-se
pelo seu trabalho revolucionário da Filosofia, onde
desenvolveu um método pesquisa modelo para todas as ciências do seu
tempo – o método cartesiano.
Descartes é um dos pensadores mais importantes e influentes da
história.

Sem perder tempo, conheçamos a conceituação do termo:


Segundo a Wikipédia (2010), a enciclopédia livre,

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Filosofia E Educação

Epistemologia ou teoria do conhecimento (do grego


"episteme" - ciência, conhecimento; "logos" - discurso),
é o ramo da Filosofia que trata dos problemas
relacionados à crença e ao conhecimento.

O quadro acima nos deixa ver como o surgimento da filosofia modificou a forma
de conceber o que sabemos sobre o mundo. No paradigma anterior, o da mitologia,
havia uma relação direta entre crença e verdade (como se no quadro acima não
existisse a parte amarela): a verdade era tudo aquilo em que acreditamos por vontade
ou forçados. Com o surgimento da filosofia, uma nova noção se interpõe entre crença e
verdade: o conhecimento. Partindo das crenças (pressupostos), o filósofo analisa de
forma metódica e racional as supostas verdades para chegar ao conhecimento
“verdadeiro” a respeito dela.
Podemos dizer que a epistemologia e ciência se confundem. Ambas se voltam
para o aspecto da validação da verdade a respeito da vida. Opondo a crença ou opinião
("doxa", em grego) e o conhecimento, o pensamento grego nos dá a ver que a crença é
um ponto de vista subjetivo e não justificado a respeito das coisas, e que para
“conhecer” de fato o mundo, é preciso usar de métodos comprováveis.
O conhecimento filosoficamente atestado resulta naquelas informações que
descrevem e explicam o mundo natural e social que nos rodeia com riqueza tal que nos
permite entender o que ocorre e como (diferente dos artesãos, que criavam ferramentas
funcionais, mas sem se preocupar em saber como elas funcionavam). Portanto, a
epistemologia trabalha com evidências que não se confundem com um sentimento de

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Filosofia E Educação

que estamos próximos da verdade. Evidência, aqui, tem o sentido forense, exige provas
consistentes, mesmo que elas contrariem nossas impressões primeiras.
O modo sistemático e abstrato de olhar para o mundo que floresceu na Grécia,
posteriormente disseminou-se pela (hoje) Europa através do Império Romano (27 a.c –
476 d.c). Embora a Grécia tenha sido dominada pelos romanos, sua cultura prevaleceu,
por ser mais forte, e o mundo romano traduziu para o latim toda a sabedoria grega,
inclusive os modos de fazer ciência.
A sabedoria grega foi cultivada no império romano até o ano de 313, quando o
Imperador Constantino foi acomedido pela hanseníase, doença mortal àquela época. Os
médicos pagãos, que seriam imolados caso não salvassem o rei, aconselharam o
déspota a se banhar no sangue de três mil crianças para se curar. Na iminência da
carnificina, os cristãos romanos convenceram o rei de que ele seria curado caso se
convertesse ao cristianismo, uma crença proibída no império. Conta a história que o rei
se converteu e curou-se. A partir de então, o conhecimento científico sofreu um revés e
refloresceu no ocidente a orientação messiânica, o que durou até o final da idadé
média, nos idos do século XV.
Havendo passado por esta breve história da primeira ascenção e queda do
conhecimento científico no ocidente, podemos retomar a questão das evidências, que
vínhamos discutindo. Mesmo com o renascimento do conhecimento religioso, a ciência
não parou de desenvolver-se longo da história, e a reflexão sobre a objetividade das
evidências levou os filósofos a assumirem diferentes posturas diante dos seus objetos
de estudo. Tais diferenças ficaram conhecidas como atitudes científicas.
Vamos conhecer melhor algumas atitudes científicas possíveis?
Ainda seguindo Lakatos (2000), ante a questão da possibilidade do
conhecimento, o sujeito pode tomar, entre outras, as seguintes atitudes:
Dogmatismo: atitude filosófica defendida por Descartes segundo a qual
podemos adquirir conhecimentos seguros e universais,e ter absoluta certeza disso.
Cepticismo: atitude filosófica oposta ao dogmatismo, que duvida que seja
possível um conhecimento firme e seguro (no sentido de definitivo) a respeito do
mundo.
Relativismo: atitude filosófica defendida pelos sofistas (opositores ao
pensamento platônico) que nega a existência de uma verdade absoluta e defende a idéia

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Filosofia E Educação

de que cada indivíduo possui sua própria verdade. Esta verdade depende do espaço e do
tempo.
Perspectivismo: atitude filosófica que defende a existência de uma verdade
absoluta a qual nenhum de nós pode conhecer inteira, só podemos compreender
pequenas partes. Cada ser humano tem uma parte da visão da verdade.
Essa gama de atitudes filosóficas frente ao conhecimento nos mostra que,
conforme o objeto de estudos ou a natureza do problema pesquisado, podemos
desenvolver essa ou aquela postura para circunscrever o alcance do nosso rigor, de
modo a não deixar que ele avance para o campo da crendice. Assim, o estudo de objetos
do mundo natural ou do universo completamente abstrato da matemática podem ter
como abordagem a atitude dogmática. Porém, em se tratando de objetos sociais, isto é,
do nosso universo cultural, essa perspetiva não pode prevalecer, sendo mais adequadas
as atitudes perspectiva ou relativista. O ceptismo foi a abordagem que fez a filosofia
caminhar, ao lado do perspectivismo. Entre essas duas últimas, temos duas direções
racionais opostas. No perspectivismo analisa-se os objetos em particular pela descrença
no universal. No ceptismo, pesquisa-se os casos particulares em sua relação universais
conceituais dos quais o particular participa.
Até aqui, vimos que o conhecimento científico nasce por oposição ao
conhecimento reliogiso, e conhecemos um pouco dos conflitos internos do fazer
científico. Agora, vamos estudar um pouco sobre as fronteiras externas desta forma de
conhecimento, relacionando-a com outros modos de saber também bastante praticados.

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Filosofia E Educação

O CONHECIMENTO
2 O CONHECIMENTO E SUAS
E SUAS VÁRIAS DIMENSÕES
VÁRIAS DIMENSÕES

A construção de conhecimentos válidos, vinculados a princípios éticos e sociais é


tarefa de constante revisão. Precisa ser retomada a cada momento para acompanhar as
mudanças nos hábitos e necessidades da humanidade e da natureza. Por isto, em
ciências, é importante sempre retornar aos pensadores que já se debruçaram sobre esta
ou aquela área do saber para, a partir deles, continuar a desenvolver os conhecimentos.
Retomar o que já foi produzido está na base de validação do conhecimento científico. É
o que fazemos aqui, neste Guia, ao nos embasarmos no pensamento de alguns teóricos,
conforme acontece logo abaixo, em nossa discussão sobre as diferentes formas de saber.
Seguindo a autora Eva Eva Lakatos (2000), em sua apreciação histórica das
formas de conhecimento, destacaremos adiante quatro delas: Científica, Filosófica,
Religiosa (ou teológica) e o Popular:
Conforme Trujillo (apud LAKATOS, 2000, p. 18),
Conhecimento popular é valorativo, pois se fundamenta numa seleção
operada com base em estados de ânimo e emoções: como o
conhecimento implica uma dualidade de realidades, isto é, de um lado o
sujeito cognoscente e, de outro, o objeto conhecido, e este é possuído, de
certa forma, pelo cognoscente, os valores do sujeito impregnam o objeto
conhecido. É também reflexivo, mas, estando limitado pela familiaridade
com o objeto, não pode ser reduzido a uma formulação geral. A
característica de assistemático baseia-se na "organização" particular das
experiências próprias do sujeito cognoscente, e não em uma
sistematização das idéias, na procura de uma formulação geral que
explique os fenômenos observados, aspectos que dificultam a
transmissão, de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer.
É verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida diária e diz
respeito ao que se pode perceber no dia-a-dia. É falível e inexato, pois se
conforma com a aparência e com o que se ouve dizer a respeito do

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Filosofia E Educação

objeto. Em outras palavras, não permite a formulação de hipóteses sobre


a existência de fenômenos situados além das percepções objetivas.

Analisando a citação acima, podemos notar que o conhecimento


popular é bastante utilizado, mesmo entre nós, que desde a escola
básica estamos em contato com o conhecimento científico.
O conhecimento popular é aquele que nasce através das nossas trocas
diárias completamente livres de métodos, justificativas ou qualquer
outra preocupação. E nisto está principal do saber popular em relação à
ciência. Nesta forma de aquisição do conhecimento, agimos
afetivamente, valorizando aquilo que a nós nos parece mais plausível,
sem qualquer preocupação com a validade destes saberes na esfera
universal. Embora haja reflexão e verificação, a exemplo do que vemos
em ciências, no saber popular essas características são completamente
aleatórias, o que faz dessa forma de conhecimento falível e inexata.
O saber popular gera e geri o senso comum.

Ainda segundo Trujillo,


O Conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida
consiste em hipóteses que não poderão ser submetidas à observação. Por
este motivo, o conhecimento filosófico é não verificável, já que os
enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do que ocorre no
campo da ciência, não podem ser confirmados nem refutados. É racional,
em virtude de consistir num conjunto de enunciados logicamente
correlacionados. Tem a característica de sistemático, pois suas hipóteses
e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada,
numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade.
É infalível e exato, já que, quer na busca da realidade capaz de abranger
todas as outras, quer na definição do instrumento capaz de apreender a
realidade, seus postulados, assim como suas hipóteses, não são
submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação).
É caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar os problemas
humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente
recorrendo às luzes da própria razão humana (p. 19).

Ao contrário do que reza o senso comum, as verdades filosóficas não


são verificáveis. Porém, diferentemente do conhecimento popular, elas
não são falíveis. O conhecimento filosófico consiste em um sistema
completamente abstrato, assim como o é a matemática, por exemplo,
(abstrata e infalível). Seu método racional de elaboração dos
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Filosofia E Educação

enunciados lhe o estatuto de infalível e universal. A razão, por ser uma


faculdade humana, torna conhecimento filosófico inteligível pelo
mundo todo.

Em relação a o conhecimento religioso, Trujillo afirma que:


Conhecimento religioso apóia-se em doutrinas que contêm proposições
sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural
(inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas
infalíveis e indiscutíveis (exatas).
É um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado,
finalidade e destino) como obra de um criador divino; suas evidências
não são verificadas: está sempre implícita uma atitude de fé perante um
conhecimento revelado. Parte do princípio de que as "verdades" tratadas
são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em "revelações" da
divindade (sobrenatural). A adesão das pessoas passa a ser um ato de fé,
pois a visão sistemática do mundo é interpretada como decorrente do ato
de um criador divino, cujas evidências não são postas em dúvida nem
sequer verificáveis (p.19).

O conhecimento religioso, por suas características, é diametralmente


oposto aos conhecimentos filosófico e científico, Uma vez que ele é
baseado na adesão irrefletida, e não na crítica. Mas, reparemos. O que
se abandonou foi o conhecimento religioso como forma válida de
produzir conhecimentos a respeito do mundo. Culturalmente, no plano
espiritual, a religião ainda permanece presente e cumpre um papel
importante, num campo em que a ciência não avança: o da inclinação
do homem para a transcendência.

Por fim, a respeito do conhecimento científico, Trujillo afirma que:


Conhecimento científico é real (factual) porque lida com ocorrência ou
fatos, isto é, com toda forma de existência que se manifesta de algum
modo.
Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou
hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida por meio da
experimentação e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento
filosófico. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado

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Filosofia E Educação

logicamente, formado por um sistema de idéias (teoria) e não


conhecimentos dispersos e desconexos.
Possui a característica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmações
(hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da
ciência. Constitui-se em conhecimento falível, em virtude de não ser
definitivo, absoluto ou final, por este motivo, é aproximadamente exato:
novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o
acervo de teorias existentes (p.20).

Aqui, chegamos à forma de conhecimento que é praticada no ensino


superior. O conhecimento científico baseia-se em verificação
(experimentação) e abstração (lógica racional). Sob sua batuta
articulam-se metodologicamente expectativas e resultados, num
procedimento de tal modo revolucionário em relação às demais formas
de conhecimento que a ciência acabou tornou-se, desde a modernidade,
a principal instituição social de interpretação do mundo e elaboração de
soluções instrumentais para a humanidade. Por suas características, o
saber científico nunca é definitivo. A exploração dos conhecimentos já
produzidos através do trabalho de pesquisa acaba por reformular o
corpus das áreas do conhecimento. Nos mundos da ciência e da
filosofia, a pergunta é sempre mais valorosa que a resposta. Tenhamos
isto em mente sempre!

Neste breve relato das principais formas de conhecimento, fica evidente o


importante papel do método para a validação dos saberes produzidos pela ciência e pela
filosofia, o que não exclui a importância das outras formas de saber discutidas para a
sociedade. Em conjunto, todas compõem o aparato simbólico da nossa aventura no
mundo. Entretanto, para a finalidade da nossa disciplina e do seu curso, os rigores da
ciência e da filosofia são imprescindíveis norteadores da nossa conduta enquanto
acadêmicos. No universo da ciência, a pergunta está no cerne do processo de
aprendizagem. Tenha isto em mente ao entrar em sala de aula, seja ela física ou virtual,
e também ao redigir seus trabalhos acadêmicos. Vamos praticar um pouco do que já
vimos como forma de fixar os novos conhecimentos?

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Filosofia E Educação

Olá pessoal, tudo bem?


Nessa atividade, bem ao modo como se faz ciência, vamos retomar o
que já estudamos para fazer a reflexão avançar.
Toda a discussão sobre conhecimento religioso que travamos até aqui,
relaciona-se com a ciência desenvolvida na Europa e que tomou conta
de todo o ocidente. No Brasil, o mundo metodológico chegou através
das caravelas portuguesas (engenhos científicamente desenvolvidos).
O processo de apropriação desta “cultura do outro”, porém, não
substitiu completamente a cultura local. O contato dos índios e negros
com a cultura científica provocou uma mestiçagem também
intelecutal. Este processo é o tema do poema “Erro de Português” , de
Oswald Andrade, publicado em 1928.
Sabendo de antemão que no poema estão em choque os
conhecimentos científico e popular, escreva um texto dissertativo que
use o que aprendemos sobre estas duas formas de conhecimento para
interpretar o poema.

Link para o poema : http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#erro

RESPOSTA COMENTADA
O primeiro aspecto que chama nossa atenção ao pensar o poema em relação aos
conceitos de conhecimento científico e religioso que estudamos é o título do poema.
Ao passo que a ciência tem a questão da verdade, e portanto do que é certo, como
finalidade, o poema se anuncia como um “Erro”.
Lendo o poema, depreende-se que, pela metáfora ou metonímia da roupa, o poeta
discute a imposição da cultura científica européia ao índio. Relacionando com a
questão das formas de conhecimento, é como se o poema sugerisse que os portugueses
cometeram um erro ao não deixar os índios despí-lo de sua cultura (cientifica) para
vestí-lo com a cultura (popular, indígena).
Entretanto, mesmo tento os portugueses colonizado culturalmente os povos nativos e
outros trazidos para o trabalho escravo basta olhar para nossas ruas para notar a
presenta destas duas formas de conhecimento em nosso mundo. As ruas serpenteiam
pela paisagem, traindo sinuosamente a retidão dos quarteirões cartesianamente
planejados. As casas, quando mais antigas, mais assimetrias apresentam, sinalizando
que, apesar de todos os esforços, o conhecimento popular de antes da ciência ainda é
bastante presente na organização do nosso mundo.

Para delinear melhor os modos de operação do conhecimento científico, vamos


pegar carona com Chauí (2006) para ver esquematicamente as diferenças da relação do

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Filosofia E Educação

sujeito aprendiz com seu objeto de aprendizado em cada uma das formas de
conhecimento que estudamos acima.
O SENSO
A RELIGIÃO A
A CIÊNCIA COMUM
(o mito) FILOSOFIA
(popular)
Critérios de A cultura ética e
A experimentação A Fé A razão
verdade moral

As crenças
A experiência A dialética (O
Metodologia A observação silenciosas
pessoal discurso)
(Ideologias)

Relação
Relação suprapessoal, na qual Relação
Relação
interpessoal, na a Revelação do transpessoal na
“impessoal”, A
qual a ideologia Sagrado se manifesta qual a palavra
isenção do cientista
Relação é estabelecida (revela) diz as coisas.
diante de sua
sujeito-objeto pelas idéias sobrenaturalmente ao O mundo se
pesquisa: O mito da
dominantes e profano através do manifesta
neutralidade
pelos poderes rito (Dramatização pelos
científica.
estabelecidos. do mito, ou seja, da fenômenos.
liturgia religiosa).

E com relação às características de cada uma das formas;

CONHECIMENTO POPULAR CONHECIMENTO CIENTÍFICO


Valorativo = baseado em ânimo e emoções,
Factual = lida com ocorrências ou fatos, toda
os valores do sujeito impregnam o objeto do
a forma de existência que se manifesta.
conhecimento.
Contingente = proposições têm veracidade ou
Reflexivo = não pode ser reduzido a uma
falsidade conhecidas pela experiência e não só
formulação geral.
pela razão.
Assistemático = organização particular das Sistemático = saber logicamente ordenado,
experiências, não geral. formando um sistema de idéias.
Verificável = limitado ao âmbito da vida
Verificável = hipóteses precisam ser testadas.
diária.
Falível = se conforma com a aparência e com
o que se houve dizer sobre determinado Falível = não definitivo, absoluto ou final.
objeto.
Aproximadamente exato = novas
Inexato = não permite formular hipóteses
proposições e técnicas podem reformular as
para além das percepções objetivas.
teorias existentes.

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Filosofia E Educação

CONHECIMENTO RELIGIOSO
CONHECIMENTO FILOSÓFICO
(TEOLÓGICO):

Valorativo = baseado em hipóteses que não


Valorativo = apoiado em doutrinas com
podem ser submetidas à observação, emerge
proposições sagradas.
da experiência.

Racional = consiste num conjunto de


Inspiracional = revelado pelo sobrenatural.
enunciados logicamente correlacionados.

Sistemático = visa à representação coerente Sistemático = faz menção a origem,


da realidade estudada, tentando apreendê-la na significado, finalidade e destino, mundo como
totalidade. obra de um criador divino.

Não verificável = emerge da experiência e Não verificável = atitude de fé implícita


não da observação/experimentação. frente ao conhecimento revelado.

Infalível = não é submetido ao teste da


Infalível = verdades indiscutíveis.
observação.

Exato = ele é um esforço da razão pura, com


a finalidade de questionar os problemas Exato = aspira ser a manifestação da verdade
humanos e discernir entre o certo e o errado; imutável.
emprega o método racional, em que prevalece
a coerência lógica.

Ainda com a ajuda de Marilena Chauí (2003), vejamos mais especificamente as


diferenças entre o conhecimento científico e o senso comum, uma vez que a diferença
entre os dois será a mais presente em nossa trajetória. Se o ensino básico e fundamental
é cientificamente elaborado, como dissemos mais cedo, o trabalho crítico-metodológico
a que temos acesso durante essa fase, enquanto alunos, não é suficiente para a finalidade
em que nos inscrevemos ao optarmos pelo ensino superior. Aqui, estamos no nível de
ensino que elabora os métodos com os quais nos beneficiamos na escola e também na
vida cotidiana. Por isto é importante insistirmos na diferença entre atitude científica e
senso comum.
Vejamos o quadro tecido por Chauí (2006);

SENSO COMUM ATITUDE CIENTÍFICA

Subjetivo = exprime sentimentos e opiniões


individuais ou de grupos, variáveis de acordo Objetivo = procura as estruturas universais e
com as pessoas ou os grupos, dependendo das necessárias das coisas investigadas.
condições em que vivem.

21
Filosofia E Educação

Quantitativo = busca critérios de comparação


Qualitativo = julga as coisas como
e de avaliação para coisas que parecem ser
pesadas/leves, doces/azedas, quente/ frio, etc.
diferentes.

Heterogêneo = refere-se a fatos que julga-se Homogêneo = busca leis gerais de


diferentes, porque percebe-se como diversos funcionamento dos fenômenos, que são as
entre si. mesmas para fatos que parecem diferentes.

SENSO COMUM ATITUDE CIENTÍFICA


Generalizador = reúne individualidades
Individualizador = cada coisa ou cada fato
percebidas como diferentes sob as mesmas
aparece como um indivíduo ou como um ser
leis, os mesmos padrões ou critérios de
autônomo.
medida.
Diferenciador = não reúne nem generaliza
Generalizador = tende a reunir numa só
por semelhanças aparentes, mas distingue os
opinião ou numa só idéia coisas e fatos
que parecem iguais desde que obedeçam a
julgados semelhantes.
estruturas diferentes.
Só estabelecem relações causais depois de
Estabelece relações de causa e efeito entre estudar a estrutura do fato estudado e suas
coisas ou fatos relações com outros semelhantes ou
diferentes.
Surpreende-se com a regularidade, a
constância, a freqüência, a repetição e a
Admira o que é imaginado como único,
diferença das coisas e procura mostrar que o
extraordinário, maravilhoso ou miraculoso.
extraordinário é um caso particular do que é
normal, regular, freqüente.
Distingue-se da magia, opera um
Confunde o conhecimento científico com a desencantamento ou desenfeitiçamento do
magia, considerando que ambos lidam com o mundo, mostrando que nele não agem forças
misterioso, o oculto, o incompreensível. secretas, mas causas e efeitos racionalmente
inteligíveis.
Costuma projetar nas coisas ou no mundo
Afirma que, pelo conhecimento, o homem
sentimentos de angústia e medo diante do
pode libertar-se dos medos e das superstições.
desconhecido
Procura renovar-se e modificar-se
Cristaliza-se em preconceitos com os quais
continuamente, evitando a transformação das
passamos a interpretar toda a realidade que
teorias em doutrinas e destas em preconceitos
nos cerca.
sociais.

22
Filosofia E Educação

“A ciência se distingue do senso comum porque este é uma


opinião baseada em hábitos, preconceitos, tradições cristalizadas,
enquanto a primeira se baseia em pesquisas, investigações metódicas e
sistemáticas e na exigência de que as teorias sejam internamente
coerentes e digam a verdade sobre a realidade” (CHAUI, 2003, p. 45).

Para avançarmos, levemos conosco dois aspectos fundamentais da forma de


conhecimento científica: sua adesão aos métodos e sua oposição radical ao modo de
aprender do senso comum.

23
Filosofia E Educação

DEFINIÇÕES DE CIÊNCIA
DEFINIÇÕES DE CIÊNCIA

OBJETIVOS

Agora que já demitamos as características do conhecimento científico em relação


à algumas das formas de conhecimento mais comuns, vamos visitar algumas definições
de ciência mais recorrentes, para aprofundarmos um pouco nossa apreciação sobre
modo de construção do saber que estará presente em nossas vidas de graduandos e
graduados.
Retomemos Lakatos (2000),
 Conceito de Ander-Egg: “A ciência é um conjunto de conhecimentos
racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e
verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza”.
 Conceito de Trujillo: “A ciência é todo um conjunto de atitudes e
atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto
limitado, capaz de ser submetido à verificação”.
 Lakatos e Marconi: “A ciência, portanto, constitui-se em um conjunto
de proposições e enunciados, hierarquicamente correlacionados, de
maneira ascendente ou descendente, indo gradativamente de fatos
particulares para os gerais e vice-versa (conexão ascendente = indução;
conexão descendente = dedução), comprovados (com a certeza de serem
fundamentados) pela pesquisa empírica (submetidos à verificação). [...]
Ciência é uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de
proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de
certos fenômenos que se decide estudar. Um conjunto de atitudes e
atividades racionais dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto
limitado, capaz de ser submetido à verificação”.

"A ciência não é um órgão novo de conhecimento. A ciência é a


hipertrofia de capacidades que todos têm. Isto pode ser bom, mas pode
ser muito perigoso. Quanto maior a visão em profundidade, menor a
24
Filosofia E Educação

visão em extensão. A tendência da especialização é conhecer cada vez


mais de cada vez menos". (ALVES, 1996)

Nas definições acima, as noções de método e sistema seguem as mais


freqüentes. Na definição de Alves (1996), aparece uma preocupação
resultante da evolução da ciência apresentada definições anteriores: o
excesso de especialização.
Por exemplo: o desenvolvimento das técnicas de mineração resultou
em problemas ambientais, assim como a evolução da tecnologia
biomédica nos coloca hoje diante de impasses éticos. Além do
conhecimento de técnicas, leis e métodos, o fazer científico cobra do
cientista responsabilidade e conseqüência.
O cenário da especialização, na atualidade, está sendo substituído pelo
cenário da interdisciplinaridade. Tradições científicas e diferentes áreas
profissionais cada vez mais se agrupam em busca de pontos de vista
mais complexos sobre o mundo.

3.1 CONCEPÇÕES DE CIÊNCIA

No universo científico, diferentes concepções de ciência ganharam finalidade e


espaço, gerando diferentes modelos de “objetividade”. Os modelos que discutiremos
abaixo não se excluem entre si, antes se complementam, sobretudo diante do cenário
interdisciplinar atual, a que aludimos antes.
Ainda seguindo a trilha de Chauí (2006), conheçamos o empirismo, o
racionalismo e o construtivismo. Reparemos como se trata de concepções ideais de
cientificidade para o entendimento da natureza e da própria ciência. Durante a leitura,
tente descobrir qual ou quais destas concepções se adéquam melhor à sua área do
conhecimento, isto é, ao curso superior que você escolheu.
O EMPIRISMO, como concepção de ciência cujo modelo de objetividade se
origina na medicina grega, entende que a ciência é a interpretação dos fatos baseada em
observações e experimentos. Nesse sentido, a única forma válida de conhecimento é
aquela obtida através do emprego dos sentidos1, pois só assim é possível elaborar
induções que nos leve à definição do objeto (suas propriedades e leis fundamentais).
Entretanto, é importante destacar que as teorias do empirismo resultam das observações

1
“De acordo com esse ponto de vista, se alguma coisa não pode ser observada então de nada
adianta tentar explicar fenômenos naturais ou de qualquer outro tipo” (JOHNSON, 1997, p.83).

25
Filosofia E Educação

e dos experimentos, mas elas não se colocam na obrigação de confirmar conceitos, mas
sim na função de produzi-los (CHAUÍ apud AUED, 2006). Assim, “tudo o que se pode
fazer é compreender empaticamente uma seqüência de acontecimentos”
(WALLERSTEIN, 1999, p. 454). Se retornássemos Platão, poderíamos acusar uma
divergência entre o empirismo e o pensamento do filósofo grego, posto que ele
criticasse a sensibilidade como instrumento do saber para depositar todas as fichas na
racionalidade. Porém, a sensibilidade, no empirismo, fica a serviço do método, e não do
senso comum, o que recoloca essa corrente na chave científica.
Em contraste, a concepção do RACIONALISMO, cujo modelo de objetividade
se origina da Matemática, entende que a ciência é conhecimento dedutivo e
demonstrativo (portanto, é conhecimento capaz de provar a verdade necessária e
universal de seus enunciados e resultados). Em outras palavras, o racionalismo é a
unidade sistemática de axiomas, postulados, definições (que determinam a natureza e as
propriedades de seu objeto) e demonstrações que provam as relações de causalidade que
regem o objeto investigado. Aqui, objeto científico é a representação intelectual
universal, necessária e verdadeira das coisas representadas, correspondendo à própria
realidade (que é racionalmente e inteligível). Assim, as experiências científicas são
realizadas para verificar e confirmar demonstrações teóricas, e não para produzir o
conhecimento do objeto uma vez que esse só pode ser conhecido exclusivamente pelo
pensamento (CHAUÍ apud AUED, 2006). Para as ciências exatas e para a filosofia, a
concepção racionalista serve feito uma luva. No campo das ciências sociais, porém,
outras abordagens ganham espaço e questionam a lisura abstrata dos enunciados
puramente racionais. Por isto, dentro das ciências sociais, o racionalismo tem nomes
específicos, como o método nomotético, que preconiza a existência de regularidades no
mundo social (WALLERSTEIN, 1999) ao focalizar enunciados gerais que expliquem
padrões sociais mais amplos (JOHNSON, 1997).
A concepção de ciência CONSTRUTIVISTA, iniciada no XXI, se diferencia das
concepções empirista e racionalista porque entende que a ciência é uma construção de
modelos explicativos da realidade, e não uma representação da própria realidade. Nas
duas definições anteriores, essa idéia já estava expressa, porém não era assumida. Nesse
sentido, o trabalho científico exige que o método permita construir axiomas, postulados,
definições e deduções sobre objeto (coerência entre os princípios) e, ao mesmo tempo,
que a experimentação empírica guie e modifique axiomas, definições e demonstrações

26
Filosofia E Educação

(os modelos dos objetos ou estruturas dos fenômenos são construídos com base na
observação e na experimentação empírica). Em síntese, a concepção construtivista não
espera que o trabalho cientifico apresente a realidade em si, mas que ofereça estruturas e
modelos do funcionamento da realidade (CHAUÍ apud AUED, 2006). Essa concepção
demonstra a evolução da compreensão do papel do conhecimento científico no mundo
contemporâneo. A partir do século XX, passa-se a entender que o discurso científico,
por seus rigores, configura antes um campo fechado de interpretação da realidade do
que um discurso acerca da realidade propriamente dita. O advento do construtivismo
relativiza a ambição grega de dizer “a verdade” sobre mundo e recoloca a ciência ombro
a ombro com as outras formas de conhecimento que foram desprestigiadas por ela ao
longo história, e que serviram de apoio para que o saber científico pudesse construir a
autoridade de que goza nos dias de hoje.
Vejamos abaixo um quadro comparativo das três concepções de ciência que
vamos discutindo.

RACIONALISMO EMPIRISMO CONSTRUTIVISMO

Ciência é interpretação de Ciência como construção de


Ciência como conhecimento fatos baseados em modelos explicativos da
racional dedutivo. observação e experimentos realidade (e não a própria
para estabelecer induções. realidade).

Combinação do empirismo e
Se todas as premissas são
Se todas as premissas são racionalismo com acréscimo:
verdadeiras a conclusão é
verdadeiras a conclusão deve conhecimento aproximável e
provavelmente verdadeira,
ser verdadeira. corrigível.
mas não necessariamente.
Toda conclusão, ou conteúdo Definições, axiomas, etc. podem
A conclusão tem informação
factual, já estava implícita nas ser modificados pela
que não estava implícita nas
premissas. experimentação.
premissas.

RACIONALISMO EMPIRISMO CONSTRUTIVISMO

Objeto científico: Objeto científico: Objeto científico como


representação intelectual representação intelectual construção lógico-intelectual
verdadeira das coisas verdadeira das coisas diferente da realidade em si
representadas. representadas. mesma.
Corresponde à própria A experiência produz Apresentação de uma “verdade
realidade, racional e conceitos. aproximada”.

27
Filosofia E Educação

inteligível em si mesma. Cuidado com os métodos Ideal de cientificidade:


experimentais para a 1. que haja coerência entre os
As experiências científicas
formulação de teoria e princípios que orientam a teoria;
são realizadas para verificar
garantia de objetividade. 2. que os modelos dos objetos
confirmar as demonstrações
(fenômenos) sejam construídos
teóricas e não produzir Suposições sobre o objeto;
com base na observação e
conhecimento sobre o objeto. observações e experimentos;
experimentação;
definição de fatos e leis;
Definição do objeto; leis; 3. que os resultados possam
propriedades, previsões.
dedução das propriedades; alterar os modelos, mas também
efeitos posteriores; previsões. os próprios princípios da teoria.

“Tanto no racionalismo como no empirismo a teoria científica é


tida como explicação e representação verdadeira da própria
realidade, caráter de verdade absoluta. Para o construtivismo a
teoria científica é uma verdade provisória, construção intelectual
possível”. (CHAUI, 2003, p.65)

Nesta breve reflexão sobre as formas de conhecimento e sobre as definições e


concepções de ciência, nos deparamos com um catatau de desconcertantes problemas,
filosóficos e pragmáticos, que constituem o assunto da teoria do conhecimento, ou
Epistemologia. A celeuma serve apenas para nos deixar intranqüilos quanto à validade
dos saberes científicos, de modo que, através do trabalho crítico, nós possamos
contribuir ativamente para o aprimoramento e para a renovação do conhecimento
humano.

Finalmente podemos assumir que, por que estivemos na


companhia da Filosofia, não chegamos a nenhuma resposta
definitiva. Não era essa nossa intenção. Se já sabíamos,
entendemos com riqueza maior que é através da discussão
crítica que o conhecimento progride, e em se tratando de
ciência, a progressão é metodologicamente arquitetada.

Recuemos um pouco agora no horizonte perspectivo para pensar a nossa entrada


neste universo do saber, afinal, já participamos dele desde a matrícula no ensino
superior.

28
Filosofia E Educação

4 LEITURA E EXPRESSÃO ESCRITA


LEITURA E EXPRESSÃO
ESCRITA

Neste capítulo, vamos buscar entender melhor como cada um de nós, estudantes,
se inscreve no universo do conhecimento científico. Até aqui, passamos por grandes
nomes, conceitos e concepções de ciência. Tanta autoridade muitas vezes provoca
desconforto e medo, o que é equivocado: ciência se faz com o trabalho cotidiano de
cada agente envolvido com o universo dos estudos e da pesquisa. Através da leitura e da
escrita, problemas de pesquisa com diferentes níveis de complexidade são investigados
por alunos, professores e pesquisadores, entretecendo de modo solidário e crítico a
infindável teia do saber.
Mas, porém, é importante ter em mente que os problemas científicos não surgem
da leitura que “apreende” conteúdos nem são resolvidos pela escrita que narra o já
sabido. Em ciências, lê-se até saber aquilo que o texto já não revela e escreve-se para
além do sabido, explorando os limites da compreensão daquilo que foi entendido.
O modelo de alfabetização a que somos submetidos, seja no ensino público ou
particular, nos prepara para ler as informações da imprensa, onde tudo é positividade.
Isto se deve, também, ao fato de que as teorias da leitura disseminadas na pedagogia e
nos cursos de comunicação tornaram-se ultrapassadas. Os modelos que entendem o
texto como um reservatório de conteúdos a serem decifrados e apreendidos vigoraram
no mundo do conhecimento desde o pensamento da Grécia Antiga até os idos dos anos
sessenta do século passado (Séc. XX).
Foi quando sugiram as Teorias da Recepção e do Efeito Estético, que
revolucionaram a compreensão do processo da leitura. Criadas na Alemanha, elas ainda
não foram muito difundidas por aqui. Mas já possuímos um grande representante
brasileiro nesta área do saber: Luiz Costa Lima – renomado professor de literatura
carioca e colunista eventual da Folha de São Paulo.
Entretanto, aqui não estudaremos as teorias da leitura propriamente. Teremos
notícias das novidades que ela traz por meio da compreensão do texto professada no
texto que segue, sobre leitura, escrita e problema de pesquisa.
Vamos lá?

29
Filosofia E Educação

4.1 LEITURA, ESCRITA E PROBLEMA DE PESQUISA2


Antes de avançarmos pelo famigerado pensamento científico propriamente, nos
convém procurar por uma imagem que apazigúe a fama malsã que a disciplina carrega.
No mundo prático e instrumental em que vivemos, que não raro se torna excessivamente
reducionista, os cuidados do fazer científico são vistos freqüentemente como rigores
engessantes, capazes de tornar o trabalho acadêmico uma tarefa burocrática e
entediante. Se o Pensamento Científico, porém, se parecesse com isto, ele não haveria
de ter sido tema para narradores sensíveis como Umberto Eco (1977) e poetas líricos
como Gaston Bachelard (2001). Precisamos lançar pontes sobre esse abismo juntos.
Encontramos uma boa imagem para nos socorrer neste afã de desconstruir o
imaginário pernicioso do fazer acadêmico no seguinte trocadilho: “Pensamento
Científico é o cão, mas cachorro é o melhor amigo do homem.”
Aquilo que nos parecer o diabo pode ser generoso, de grande valia e plenamente
acessível.
Tradicionalmente, o Pensamento Científico é abordado pelo viés da tipologia dos
métodos de pesquisa e os rigores formais (normas) do texto acadêmico, o que lhe valeu
a fama de disciplina fria e tediosa. O nosso percurso cuidará destes aspectos também,
afinal, o que caracteriza a ciência é o método. Mas é importante saber que a
familiaridade com a tipologia dos métodos vem com a prática da pesquisa, não é
exigido de ninguém dominar todas as técnicas antes da prática. É no uso que a
naturalização dos rigores acontece. Portanto, comecemos a tratar o pensamento
científico sem letra maiúscula, com mais intimidade.
Nas faculdades, centros universitários e universidades, os alunos entram em
contato com os rigores formais da pesquisa através da sistemática das orientações
bancas avaliativas. No caso da iniciação científica do Unis-MG, por exemplo, os
trabalhos passam por três avaliações parciais, em que os avaliadores sugerem
direcionamentos para aprimorar a pesquisa em desenvolvimento, de modo que ela vá
para a avaliação final com as condições acadêmicas necessárias para aprovação. A
pesquisa é um trabalho de criação coletiva. Ainda que o pesquisador desenvolva seus
estudos individualmente, para ter validade acadêmica estes estudos precisam ser
apresentados à comunidade científica em congressos, simpósios e outros eventos de
intercâmbio de pesquisa.

2
Por Renato de Brito
30
Filosofia E Educação

Como se vê, ciência é produzida por gente como eu e você. E se não parece, é por
conta de certas tradições acadêmicas que, na tentativa de reduzir a subjetividade do
processo da ciência em busca da objetividade absoluta, acabam contribuindo para a
formação de um imaginário desumanizado do fazer científico.
Uma das práticas que contribuem para isto mais explicitamente é aquela que
ordena a retirada das marcas de identificação do sujeito do discurso científico. Para
conquistar o lugar de respeito que ocupa na sociedade contemporânea, ao longo da
história da ciência essa prática simplória ganhou importância e legou conseqüências
vastas, especialmente para os iniciantes na prática acadêmica. Vejamos um exemplo.
“A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao
sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”.
Na frase acima, o sujeito enunciador está oculto, não é possível identificá-lo na
sentença, o que faz parecer que a ciência é uma instituição capaz de afirmar-se por si no
mundo, como se ela não fosse um conceito completamente abstrato, questionável pela
própria natureza e, nos termos acima apresentados, fruto da ação de um sujeito
enunciador. O que há por trás dessa frase é a voz de um pesquisador que, embasado na
sua experiência e formação, define ciência nos dizeres apresentados. Em discursos
assim, o que fica excluído é somente a marca textual da pessoa, mas é sempre um
sujeito de carne e osso aquele que escreve como, você e eu.
Um cientista é um sujeito que iniciou a vida acadêmica cursando a educação
superior, como estamos fazendo aqui, e que extrai sua autoridade muito mais dos anos
de prática e dedicação ao trabalho científico do que de uma superioridade intelectual
qualquer. Ciência é um fazer cotidiano, um trabalho como outro qualquer.
As pessoas que se dedicam a fazer ciência, dentre as quais agora nos incluímos,
orbitam em sua prática em torno de três grandes pontos articuladores: a leitura, a escrita
e o problema de pesquisa. Ainda que o pesquisador tenha por objeto aquilo a que nos
acostumamos chamar de “realidade”, em sua abordagem ele procederá com uma leitura.
De outra parte, independentemente da área do conhecimento a que ele pertence, seu
trabalho deverá ser registrado por escrito. E o que mobilizará ambos os gestos do
pesquisador será a discussão de um problema de pesquisa.
Primeiramente, convém saber que um “problema de pesquisa” não se assemelha a
um problema da vida cotidiana. Parece mesmo que “problema” não seja o termo mais
adequado para este conceito acadêmico. “Limite” talvez fosse mais adequado, uma vez

31
Filosofia E Educação

que a invenção do “problema de pesquisa” está situada na junção entre aquilo que a
ciência já produziu e a necessidade obstinada de levar esse corpo de conhecimento a
novos horizontes.
Assim, para entender como se inventa um “problema de pesquisa” é preciso
lembrar que cada pesquisador fala em nome de certa ciência. Seu trabalho é o de
expandir o corpo de conhecimentos da área do saber em nome da qual ele fala, de
expandi-lo em direção à diferenciação. Duas responsabilidades, portanto, estão em
questão no jogo da invenção do problema de pesquisa: repetir e diferenciar. Para fazer
ciência é preciso repetir e repetir até ficar diferente. Só repetir não é o suficiente. Não
repetir não é admissível. Pensamento científico é sistematicidade e diferença.
Resumindo em uma frase: fazer ciência é ler o que já foi escrito a respeito do que foi
pensado e encontrar nesse texto uma dobra, um ponto cego, uma zona de não dito que
sirva de problema para o pesquisador.
O “problema de pesquisa”, portanto, não pode ser encontrado no mundo apenas,
deve nascer sempre do diálogo com os textos acadêmicos. E a parte encontrada no
mundo, quando houver, deverá ser transgredida a discurso (interpretada) para que possa
ser criticada. Portanto, para enlear a ciência o pesquisador deve fazer seu trabalho
pendular com entrega entre a curiosidade e a confissão, isto é, entre a leitura e a escrita,
sempre. Trata-se de, primeiramente, evocar o já feito, ou um pouco do que já foi feito,
para, em segundo lugar, desdobrá-lo em comentários acerca daquilo que ficou por dizer.
São essas as bases movediças do saber acadêmico, um incessante movimento de
impressão e expressão, de desconstrução e construção, de repetição e diferença. E aqui,
ainda nos primeiros parágrafos de nossa travessia, assistimos a morte de um mito: o
fazer científico não exige a competência de um talentoso, mas a dedicação de um
humilde. Explico-me.
Ocorre que não se exige que o estudioso acumule vasta erudição para que seu
trabalho seja considerado pertinente. A pesquisa acadêmica dispõe de uma gama de
registros diferentes, tais como, teses, dissertações, monografias, artigos, resenhas,
resumos, ensaios. Cada tipo de documento exige determinado esforço de pesquisa e tem
objetivos distintos. Alguns demandam grande labor, como a tese, em que se exige que o
pesquisador discuta um problema inédito para a área do saber evocada. Para um
trabalho assim, naturalmente, é preciso ter certa erudição do corpo científico. Por isto,
as teses, no Brasil, são trabalhos acadêmicos cobrados apenas de quem aspira ao título

32
Filosofia E Educação

de Doutor, a mais alta patente acadêmica reconhecida legalmente no país. Outros


documentos, porém, exigem conhecimentos bem mais modestos, como o artigo
científico e a monografia, em que o estudioso deve se preocupar apenas em ser claro ao
discutir um problema pontual. Por isso, são essas as produções que se exige que um
graduando ou pós-graduando realizem para merecer seus títulos. De idêntico, todos os
tipos de trabalho acadêmico têm o fato de que, na história de sua construção, os
cientistas estiveram a ler e escrever. Por mais prodigiosa que seja a mente do
pesquisador, ela precisa de alguns anos de leitura para ser capaz de discutir a fundo um
tema mais largo. Do mesmo modo, por mais preguiçosa que seja a pesquisa, ela será
aceitável apenas se for realizada com leitura criteriosa e detida, e registrada em escrita
clara e generosa. Avencemos um pouco na reflexão acerca dos gestos de leitura e
escrita.
Para caracterizar a leitura acadêmica, se nos fosse autorizado tomar livremente
conceitos dos estudos de texto, poderíamos nos dar por satisfeitos utilizando os termos
“compreensão” e “interpretação”. Por compreensão de um texto, definiríamos a
competência de retomar as idéias do autor, sem, no entanto, poluí-las com nossas
impressões e opiniões acerca do que está escrito. A compreensão bem sucedida exigiria
esse asseio literário. Reproduzida pela escrita, a manifestação da boa compreensão seria
expressa pela nossa capacidade de parafrasear textos, ou em outras palavras, de repeti-
los com nossas palavras. E aqui a preguiça intelectual encontrar-se-ia deitada em rede
mansa e à sombra de coqueiros: para compreender um texto não seria preciso saber
nada, e nem seria preciso pensar: bastar-nos-ia ouvir com os olhos: ouvir
silenciosamente o que o autor do texto deixou narrado. Ainda não seria hora de lançar
os olhos críticos e articular uma interpretação sagaz e ambiciosa sobre o sentido último
do texto, tal como aprendemos na escola. Este gesto ficaria reservado para um segundo
momento, o da interpretação, que seria mais segura de si tanto quanto mais demorado e
curioso fosse o trabalho de compreensão, quer se tratasse da leitura de um ou de cem
textos. E a boa nova desta brincadeira de dividir a leitura em compreensão e
interpretação é que ela traduz verdadeiramente os ensinamentos trazidos pelas teorias do
efeito estético a que nos referimos antes. É tudo verdade! Para ler bem não é preciso
pensar, o esforço intelectual é completamente dispensável, e mais ainda, deve ser
evitado!

33
Filosofia E Educação

Todo texto é uma estrutura de apelo produzida precisamente para contar algo ao
leitor, é uma matéria generosa da qual, inicialmente, não é preciso desconfiar. Essa
regra é válida para todo e qualquer texto, seja ele literário, jornalístico, fotográfico ou
cinematográfico. Com relação ao texto acadêmico, outros aspectos são interessantes.
Um texto acadêmico, pensado abstratamente, apresenta a seguinte estrutura básica: uma
introdução que narra resumidamente tudo aquilo de que o trabalho trata, um resumo,
que narra introdutoriamente aquilo que se discute, uma descrição minuciosa do
“problema” e, por fim, a conclusão tirada da celeuma. Por conta deste arranjo, é comum
que os leitores de textos acadêmicos iniciantes desistam da leitura no meio da
empreitada, o que quase sempre acontece durante a fase de “problematização” do
trabalho, antes que o autor tivesse a oportunidade de narrar o desenredo do “problema”
e a conclusão a respeito do assunto. Independentemente de ser acadêmico ou não, um
texto é uma unidade que só entrega seu sentido aos que têm a paz de fazer a travessia
(leitura) completa. Por vezes a travessia é longa, centenas de páginas. Porém,
convenhamos, ela não cobra do leitor mais que a atenção devota (ouvir com os olhos)
àquilo que a escritura confessa. Na economia dos textos acadêmicos, a fase da
compreensão de texto serve ainda para cumprir outra tarefa: a construção dos
referenciais teóricos, ou seja, a parte evocativa do trabalho de pesquisa, na qual o
pesquisador presta seus respeitos à ciência em nome da qual ele fala. Atropelar a fase de
compreensão da leitura ou confundi-la com a interpretação na hora da escrita resulta em
que o pesquisador se sinta sem palavras para estender sua discussão por várias páginas.
Oxalá teremos paz-ciência para não cometer esse reducionismo em nossos trabalhos.
Paz-cientemente trabalhada a compreensão, podemos então passar à nossa
segunda fase inventada: a da interpretação do texto. Em nossa economia narrativa de
brincadeira, equivale ao momento de confessar as impressões pessoais acerca dos
argumentos ouvidos (com os olhos) durante a compreensão. A interpretação volta-se
reflexivamente para a compreensão, e conta a ela as perguntas constrangedoras que toda
leitura bem feita faz surgir. Tarefa igualmente diáfana, puro trabalho de invenção, a
interpretação costuma colocar alguma dificuldade para os acadêmicos, sobretudo os
demasiado ambiciosos. A impossibilidade de retomar as idéias do autor diante da
emergência de criticá-las solicita do estudioso antes um novo gesto de humildade que de
sagacidade. Uma compreensão do texto bem feita faz com que o leitor chegue ao final
da travessia naturalmente com algumas perguntas em mente. E não é preciso

34
Filosofia E Educação

empreender esforço racional para que as perguntas surjam. Sempre que escrevemos, nos
vemos diante da obrigação de fazer passar um pensamento denso pelo espaço estreito de
uma palavra. Neste espaço estreito de linhas que formam parágrafos e que compõem
textos completos, a seleção do que é dito sempre deixa em sombras toda uma zona de
não dito.
Para dar um exemplo prático de interpretação, retomemos o trocadilho que nos
socorreu ao começar esse texto: “Pensamento Científico é o cão, e o cachorro é o
melhor amigo do homem.”
A interpretação do trocadilho seria satisfatória se referisse ao fato de que os
termos “cão” e “cachorro”, utilizados na composição, são sinônimos e ao mesmo tempo
operam uma inversão de sentido: na primeira parte da expressão, ele serve para
caracterizar depreciativamente o Pensamento Científico, e que no segundo momento,
serve para revalorizá-lo. Nesta interpretação, percebe-se que o texto gerou perguntas
sobre a função dos termos sinônimos na economia narrativa do período, e que não
houve paráfrase do período analisado, isto é, o trabalho de compreensão não foi
realizado. Para fazer a compreensão desse mesmo trecho, poderíamos dizer que o autor
afirma, através de expressões populares, que a metodologia científica é desagradável,
mas que ao mesmo tempo é de grande ajuda.
E Se desejássemos dar mais dignidade científica para nossa análise, seria preciso
buscar na literatura dos gêneros textuais a caracterização do conceito de “trocadilho”,
ou pelo menos confessar que, se classificamos a frase como um “trocadilho”, é tão
somente por apreço à palavra “trocadilho”, sem o menor compromisso coma acepção
acadêmica ou mais recorrente do termo.
Como podemos perceber, sempre que narramos, seja lendo o texto ou o mundo,
abrimos naturalmente espaço para o comentário crítico: tal fenômeno é da natureza da
comunicação verbal (á qual estamos submetidos desde que aprendemos a falar), daí
podermos dizer que para compreender e interpretar não é preciso pensar: basta se deixar
levar pelas sugestões. O texto escrito é como o peso das asas necessário ao vôo. As
letras impressas são como que as asas, o feno fino da compreensão. O sentido
interpretado, este é o “voar para fora da asa” de que o poeta Manuel de Barros (2007)
fala.
Feito este percurso inicial, esperamos ter desenhado um lugar mais confortável
para o estudo e a pesquisa. A disciplina Introdução ao Pensamento Científico tem como

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Filosofia E Educação

horizonte mais largo o desejo de ajudá-los a aproveitar melhor todas as disciplinas do


seu curso, e se tivermos talento, inspirá-los a enveredar na pesquisa científica. De
imediato, que essas lições de leitura nos sirvam para criticar nosso Guia de Estudos.
E sem perder tempo, vamos exercitar as habilidades de interpretação e
compreensão de texto?

No texto “Leitura, escrita e problema de pesquisa”, encontramos um


convite para participarmos do fazer científico e ao mesmo encontramos
uma crítica ao nossos hábitos de leitura e de escrita.
Tomando por base as “técnicas” de compreensão e interpretação de
textos, redija um comentário dissertativo e crítico acerca do texto abaixo
proposto.

http://caderno.josesaramago.org/2009/03/11/sentido-comum

Compreensão:

Interpretação:

RESPOSTA COMENTADA
Compreensão: O texto de José Saramago apresenta uma discussão que envolve três
elementos principais. A política, o conhecimento científico e o conhecimento religioso.
Ao anunciar que a o presidente americano Barack Obama decretou o fim de barreiras
ideológicas para pesquisas da área de saúde, o autor destaca que isto equivaleu à
devolução das decisões científicas a este ramo do saber, o que contraria as diretrizes do
conhecimento religioso, como fica evidente a leitura que o periódico do vaticano fez do
caso. O autor mostra-se favorável à decisão do presidente americano, o que fica
explícito no último parágrafo da crônica.

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Filosofia E Educação

Interpretação: Esta crônica de Saramago nos deixa ver o intrincado jogo de poder
disputado entre três grandes instituições humanas Estado, Igreja e Ciência. O tom
amplamente favorável à ciência tem uma justificativa biográfica: Saramago sempre foi
declaradamente ateu. Porém, não é neste dado que ele embasa sua argumentação. É em
defesa dos enfermos que o autor defende a decisão do presidente americano,
mencionando que, com ela, as decisões e responsabilidades da ciência voltam ao
âmbito desta instituição social, onde a Igreja costuma tentar interferir com freqüência,
na tentativa defender seus dogmas. Remontando à história, encontramos que, durante a
Idade Média, Igreja e Estado trabalhavam juntos a organização da sociedade, donde
vem a forte presença do ponto de vista religioso no mundo científico. Foi a evolução
das ciências que engendrou novas formas de organização dos Estados, como a
democrática, por exemplo, o que teve o efeito de retirar a instituição religiosa da
organização legal das sociedades, configurando-se assim uma nova dupla dominante:
Estado e Ciência. Olhando assim, retrospectivamente, entendemos com maior riqueza a
peleja que a crônica de Saramago encena.

Nesta primeira unidade do nosso Guia de Estudos, fizemos uma


rápida incursão pela história da ciência para, ao fim, trazer este
universo mais para perto de nós, através das questões da leitura
escrita e problema de pesquisa. Para os capítulos seguintes, é
importante levar o papel central da retomada do corpo de
saberes já desenvolvidos para a elaboração da crítica científica,
a importancia do referenciamento bibliográfico e também a
necessidade do rigor metodológico, se desejamos ser atores da
construção acadêmica do conhecimento.

4.2 RESUMO
Neste capítulo conhecemos um pouco da história das ciências, alguns conceitos
de ciência e entendemos que ela se diferencia das outras formas de conhecimento
(religioso, filosófico e popular) pelos seus métodos. Conhecemos, também as
concepções empiricista (experimental), racionalista (abstrata) e construtivista (
interpretativa) do saber científico. Por fim, compreendemos como, em nossa rotina
acadêmica, entramos em contato com o universo dos rigores científicos através dos
gestos da leitura, da escrita e da elaboração de problemas de pesquisa.

4.3 APONTAMENTOS SOBRE A PRÓXIMA UNIDADE


Na próxima unidade, conheceremos a diferença entre método e metodologia e
enveredaremos pelos tipos de método mais famosos.
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