Graziela Trevisan, Maristela Angotti – Campus de Araraquara – Faculdade de Ciências e Letras – Pedagogia –
grazi.trevisan@yahoo.com.br – Bolsa BAAE III Monitoria (PROEX)
1. INTRODUÇÃO
A escola deve se abrir para a vida. É a partir desta concepção que Célestin Freinet,
professor primário de caráter humanista, enfatiza a importância da quebra dos valores tradicionais
da escola. Para Freinet, o processo educativo deve ser construído a partir das necessidades,
interesses e curiosidades que a própria criança apresenta, fazendo com que esta se torne
protagonista no seu desenvolvimento. A atenção dada à criança que tem todas suas observações
consideradas proporciona a identidade da mesma, enfatizando sua participação como ser sócio-
cultural e sua inserção na sociedade.
Freinet é considerado um autor clássico, mas suas observações e propostas são
facilmente empregadas na contemporaneidade. A proposta pedagógica freinetiana apresenta como
aspecto relevante a abertura de caminhos para que alunos e professores possam se expressar
livremente por meio do trabalho prático, ocasionando a integração da criança com o meio, a vida e
o trabalho. Para propiciar a integração e o tateamento experimental muito enaltecido pelo autor em
questão, esta proposta pedagógica apresenta como grande característica o sair da sala de aula e
poder levar os alunos para conhecer, baseados na experimentação, o povoado, o contexto sócio-
cultural, as profissões e a natureza através de uma aula-passeio. É necessário enfatizar que a partir
do tateamento experimental, da vivência, a criança faz a construção de suas experiências que é um
procedimento único e diferente para cada indivíduo e, desse modo, as experiências são construídas e
não copiadas, possibilitando a edificação da inteligência da criança.
Esta técnica também foi válida para proporcionar uma melhor qualidade de vida para
Freinet em seu trabalho, pois ele sofria de complicações respiratórias por ter participado da Primeira
Guerra Mundial. A dificuldade com a saúde aliada ao interesse da criança tornou-se o grande mote
para a aula-passeio. Esta afirmação pode ser vista na seguinte citação:
Seus alunos suportavam, visivelmente, tão mal quanto ele o clima pesado da classe.
Abriram-se as janelas até então fechadas. Via-se o grande castanheiro florir, ao
longo dos dias, seus botões rosados; os canários-da-terra construíam seus ninhos
nas árvores. (FREINET, 1979, p.18).
Com o início das aulas-passeio, Freinet precisava de mais técnicas para a elaboração
junto com as crianças. Foi, então, que surgiram, respectivamente, as propostas do texto livre, jornal
escolar e a correspondência interescolar todas com o objetivo de estimular as iniciativas dos alunos
e proporcionar o tateamento experimental para que a Educação Infantil não estivesse estruturada em
bases relativas a um processo de escolarização no sentido mais formalizado do termo.
Estas técnicas freinetianas podem exercer grande importância para a Educação Infantil
na atualidade, pois desenvolvem os princípios de Escola Ativa, na qual são priorizadas a atividade
espontânea e a livre expressão, proporcionando autonomia e identidade cultural para as crianças.
2. OBJETIVO
07217
O objetivo é discorrer sobre a importância do tateamento experimental que proporciona
a perspectiva para a utilização de diferentes técnicas e mostrar a possibilidade desta proposta ser
utilizada na Educação Infantil nos dias atuais.
Estas diferentes técnicas podem ser utilizadas ou empregadas para propiciar as inserções
em aspectos e elaborações culturais cada vez mais complexos.
Neste sentido, a observação do professor sobre seus e cada um de seus alunos é
fundamental, pois assim será possível conhecer a criança, sua personalidade, seu ritmo de
desenvolvimento, seus interesses e conhecimentos e as condições de cada aluno, identificação
individual e coletiva, em sua inserção cultural. Para que a observação possa ocorrer, o professor não
deve demonstrar uma autoridade autoritária, ou seja, aquela que reprime a criança. O aluno deve ter
respeito pelo professor porque reconhece o seu saber e, então, a autoridade docente decorre dessa
condição. Sobre esta relação professor-aluno Freinet entendia
[...] que era fundamental existir [...] respeito mútuo, respeito entre seres humanos
no desempenho de seus papéis; um relacionamento baseado na amizade, na
fraternidade, na cooperação para que pudesse proceder ao crescimento individual, a
apropriação e o aperfeiçoamento, a edificação de uma cultura numa relação
coletiva. (ANGOTTI, 2002, p.65).
3. DESENVOLVIMENTO
As práticas pedagógicas de Célestin Freinet estão embasadas na atividade espontânea da
criança e esse aspecto faz com que a pedagogia freinetiana apresente uma abertura de caminhos
para que alunos e professores possam se expressar livremente por meio do trabalho prático.
O professor deve oferecer condições para que as crianças tenham possibilidade de
atingir o desenvolvimento integral. Para que ocorra este desenvolvimento é possível a utilização das
diferentes linguagens em educação como, por exemplo, a fala, o desenho, a pintura, a modelagem
em argila, a massinha de modelar, a música, o cinema, entre outras, que têm grande destaque na
obra de Élise Freinet, esposa de Freinet. O uso destas diversas linguagens em educação possibilita o
desenvolvimento não somente a partir da leitura e da escrita, conduzindo de maneira natural para
estes dois últimos processos.
Outro ponto importante é que o professor deve sempre estimular o aluno, reconhecendo
suas iniciativas e cooperando para que este possa elaborar suas opiniões e colaborar para as trocas
entre a classe e o professor. A crítica construtiva, o estímulo e o incentivo dados as iniciativas dos
alunos são características da chamada Pedagogia do Sucesso ou Pedagogia do Bom Senso,
efetivadas entre os membros, crianças e adultos, do grupo classe.
A finalidade da Pedagogia Freinet é poder realizar a felicidade e a realização do
indivíduo a partir do conceito de que estes são livres e protagonistas de seu desenvolvimento,
considerando sua pertença sócio-cultural.
As propostas pedagógicas de Freinet enfatizam a importância de não permanecer apenas
dentro da sala de aula, mas explorar todo o ambiente que está do lado de fora, conhecendo a
comunidade e trabalhando em grupo.
Com esse objetivo de realizar a integração das crianças com o meio ambiente, visto que
em suas aulas Freinet observava como seus alunos ficavam inquietos e desatentos, foi colocada em
prática a aula-passeio na qual Freinet saía com seus alunos para o campo para a observação de cada
detalhe. Nestas aulas-passeio, ocorriam também visitas aos ateliês da aldeia onde ficava a escola e
assim as crianças aprendiam sobre algumas profissões. Ao retornarem à sala de aula, as crianças,
entusiasmadas, contavam suas observações e experiências. Estas observações, inicialmente, eram
escritas na lousa por Freinet e o treinamento da leitura tinha como textos estas próprias palavras
ditadas pelas crianças a partir da elaboração de suas experiências.
07218
Para otimizar a capacidade de comunicação e expressão, bem como as trocas culturais
que geram conhecimentos para e entre as crianças, Célestin Freinet teve a idéia de imprimir os
textos que as crianças produziam sobre as aulas-passeio e criou o Jornal Escolar. Desse modo, as
crianças demonstravam demasiado interesse em produzir seus próprios textos e imprimi-los para
mostrar aos seus familiares e posteriormente estabeleceram troca entre escolas no país e com outros
povos.
O êxito da pedagogia freinetiana fez com que estas novas técnicas saíssem da França e
atingissem outros países. Esta repercussão deu início à correspondência interescolar, na qual as
crianças trocavam bilhetes, cartas, desenhos e também contavam como era a vida nos lugares em
que estavam, revelando hábitos, valores, alimentação, vestimentas, comércio local, enfim, formas
de viver.
Referências Bibliográficas
ANGOTTI, Maristela. O Trabalho Docente Na Pré-Escola. Revisitando teorias, descortinando
práticas. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2002. p. 47-66.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20/12/1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
_______. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil. Relatora: Edla de Araújo Lira Soares. Resolução nº 1 de 29
de janeiro de 1999.
FREINET, Élise. O Itinerário de Célestin Freinet. A livre expressão na pedagogia Freinet. Rio de
Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S. A., 1979. 166p.
________, Célestin. As Técnicas Freinet da Escola Moderna. Editorial Estampa, 1975. 170p.
07219
________, Célestin. O Método Natural I. A aprendizagem da língua. Editorial Estampa, 1977.
405p.
07220