UMBERTO ECO
Exploração
Este é o tipo de investigação que lida com os novos problemas/assuntos/tópicos sobre os quais
pouco se conhece, pelo que não é possível, logo de início, formular muito bem a ideia a investigar.
O problema pode surgir de qualquer parte da disciplina; pode ser um puzzle de investigação teórica
ou ter uma base empírica. O trabalho de investigação terá de determinar quais as teorias e
conceitos apropriados, desenvolvendo novas teorias e conceitos, se necessário, e verificar se as
metodologias existentes podem ser utilizadas. Esta investigação implica, obviamente, ultrapassar as
fronteiras do conhecimento na esperança de que algo de útil seja descoberto.
Experimentação
Neste tipo de investigação, tenta-se encontrar os limites das generalizações previamente propostas.
Tal como referimos anteriormente, esta é uma actividade de investigação básica. Será que esta
teoria se aplica a elevadas temperaturas? Nas indústrias de nova tecnologia? Aos pais da classe
trabalhadora? Antes do aparecimento do franchise universal? A quantidade de testes a fazer é
infinita e contínua, porque, deste modo, conseguimos aperfeiçoar (especificando, alterando,
clarificando) as importantes, mas perigosas, generalizações que são o motor de desenvolvimento da
nossa área de investigação.
Resolução de problemas
Neste tipo de investigação, partimos de um determinado problema “do mundo real” e reunimos
todos os recursos intelectuais possíveis para nos concentrarmos na sua solução. É necessário
definir o problema e descobrir o método para a sua solução. A pessoa que estiver a trabalhar nesta
investigação pode ter de criar e identificar diferentes soluções do problema em cada uma das fases
do processo. Esta investigação envolve, normalmente, uma grande variedade de teorias e métodos,
muitas vezes abrangendo mais do que uma área, já que os problemas do mundo real tendem a
“confundir-se” e dificilmente a sua solução está confinada ao universo limitado de uma disciplina
académica.
Teoria de fundo
Trata-se do campo de estudo no qual está a trabalhar e que deve conhecer muito bem – isto é, a
um nível verdadeiramente profissional. Por conseguinte, deve estar por dentro do que se passa
actualmente nessa área: que desenvolvimentos, controvérsias e descobertas estão nesse momento
a despertar o interesse dos praticantes mais conceituados e, consequentemente, a estimular a
investigação desse assunto.
A melhor forma de demonstrar isso é através de um levantamento bibliográfico. Lembre-se de que
não está a recolher bibliografia gratuitamente; está a fazê-lo para demonstrar que tem um
conhecimento verdadeiramente profissional sobre a teoria de fundo da sua área de estudo.
“Profissional” significa que tem algo a dizer sobre a sua área que os seus colegas gostariam de
ouvir. Assim, organizar o material de uma forma interessante e útil, avaliar as contributos dos
outros (e justificar as críticas, e claro), identificar tendências na actividade de investigação, definir
áreas de fraqueza teórica e empírica são tudo actividades fundamentais através das quais poderá
demonstrar que domina a teoria de fundo de uma forma profissional.
É importante salientar que não se trata de fazer uma simples listagem enciclopédica, em que todos
os livros são apresentados com apenas uma descrição de cada obra, sem qualquer organização e
avaliação lógica. Deste modo não estaria a revelar a capacidade de avaliação profissional que se
exige numa investigação. Seria quase como, durante o exame de condução, nunca guiar a mais de
20 quilómetros por hora. Reprovaria por não ter demonstrado confiança e competência suficientes
para conduzir um automóvel. Também numa investigação, é necessário dominar a teoria de fundo
com confiança e competência e demonstrá-lo através da pesquisa bibliográfica.
Teoria focal
0 segundo elemento da estrutura formal de um relatório é a “teoria focal”. É aqui que descreve
exactamente, e com grande pormenor o que é que está a investigar e porquê. Deve definir a
natureza do problema e começar a analisá-lo. A formulação de hipóteses, se necessário, a análise
dos argumentos de outros e a utilização dos seus próprios dados e análises com vista a promover o
debate são as tarefas fundamentais nesta fase.
Durante a fase da teoria focal é fundamental limitar a sua tese. Assim, terá um “enredo” bem
delineado que lhe permitirá descrever o que está a fazer de uma forma organizada. A sua tese e a
necessidade de a sustentar com os seus dados e argumentos constituem um trabalho importante,
assim como a definição de critérios para determinar o que é relevante incluir no seu estudo. Deve
pois ter o cuidado de não apresentar argumentos com base em elementos sem importância ou
alheios à sua área de estudo e que em nada contribuem para sustentar a posição definida na sua
tese. Na teoria focal, a tese deve estar sempre em foco!
Sumário
1. Certifique-se de que a sua tese cobre os três elementos da estrutura formal do relatório
(teoria de fundo, teoria focal, e teoria de dados).
2. Não alongue o seu relatório (que aqui é sinónimo de “dissertação”) mais do que o
necessário para sustentar a sua tese (que aqui significa “argumento”).
3. Lembre-se de que só precisa de dar um pequeno passo em frente no que diz respeito à
componente de “originalidade” do seu trabalho.
4. Discuta com o seu orientador as muitas e variadas formas do seu relatório ser considerado
“original” e chegue a um consenso quanto ao modo como irá interpretar este requisito.
5. Escreva a sua tese numa linguagem de leitura agradável, utilizando os termos técnicos
adequados, mas evitando o jargão.
Bibliografia: ECO, Umberto (1977); Como se Faz uma Tese em Ciências Humanas; Ed. Presença,
1998.
Umberto Eco (Alessandria, 1932) licenciou-se em Filosofia, pela Universidade de Torino (em 1954) e tornou-se professor
de Estética, na mesma instituição, em 1961; actualmente (e desde 1975) lecciona a cátedra de Semiótica, na
Universidade de Bologna. No seu percurso académico foi, também, reconhecido doutor honoris causa por mais de 20
universidades.
A sua actividade completa-se ainda na área da escrita, tendo já sido editor, cronista (entre outros, nos jornais Il giorno, La
stampa, Corriere della Sera, La Repubblica, L’Espresso, Il Manifesto), ensaísta e novelista; estando a sua obra traduzida
em diversas línguas. De entre os vários livros publicados destaca-se O Nome da Rosa (1980), O Pêndulo de Foucault
(1988) e A Ilha do Dia Antes.