Sr. Cônego, a imprensa tem tratado com muita freqüência do problema da homossexualidade.
O Sr. poderia dizer o que ensina a Igreja Católica a respeito, e o que Ela recomenda para a
pessoa se afastar desse vício?
Resposta:
Com muito gosto me honrarei de dar aos caros leitores de Catolicismo alguma orientação sobre o
problema da homossexualidade e homossexualismo, assunto tão delicado, mas também tão atual
quanto sinistro.
A respeito da homossexualidade, a doutrina católica distingue entre a tendência homossexual
(homossexualidade) -- que pode ser devida a defeitos genéticos, de educação ou a fatores
psicológicos e morais -- e a prática homossexual (homossexualismo).
Tendência homossexual
A tendência homossexual é uma paixão, isto é, um apetite desordenado, que já denota um desvio da
natureza, pois o instinto sexual normalmente só se manifesta em relação a pessoas de outro sexo,
uma vez que foi dado ao homem e à mulher com vista à procriação.
A pessoa que sofre essa tentação -- contrária à natureza, é preciso realçar -- tem obrigação moral de
combatê-la a ferro e fogo, e não consentir absolutamente em nada do que ela pede. Nem por
pensamentos, nem por palavras, nem por atos. Se a pessoa assim agir, estará isenta de culpa. É
tentação vencida, é vitória alcançada. É aumento em graça e virtude!
A paixão pode solicitar até veementemente para um ato mau, mas se a pessoa tentada não consente,
lutando para afastar o mau pensamento e fugindo das ocasiões de queda, não só não comete pecado,
mas ganha méritos perante Deus, pela batalha vitoriosa que desenvolve contra as más inclinações
que tem dentro de si, triste herança do pecado original.
Por outro lado, a prática homossexual -- ou seja, manter relações sexuais com pessoas do mesmo
sexo -- constitui um pecado abominável aos olhos de Deus, daqueles que a Igreja classifica como
"pecados que clamam a Deus por vingança".
De fato, na Sagrada Escritura são várias as condenações explícitas a esse pecado, mostrando
eloqüentemente a sua ignomínia. Basta citar o proverbial exemplo das cidades de Sodoma e
Gomorra, que foram destruídas num apocalíptico dilúvio de fogo vindo do céu, como castigo por
esse pecado (Cfr. Gen., cap. 18 e 19). Também no Levítico a condenação ao homossexualismo é
clara e radical: "Aquele que pecar com um homem como se fosse mulher, ambos cometem coisa
execranda e sejam punidos de morte; o seu sangue caia sobre eles" (20, 13). Existem ainda
condenações ao abjeto ato sodomítico em outros livros da Bíblia, que seria supérfluo acrescentar.
Requinte desenfreado de luxúria
Nem sempre a prática homossexual (homossexualismo) deriva de uma tendência
(homossexualidade) observada desde a juventude ou mesmo desde a infância. Muitas pessoas se
tornam homossexuais por um requinte desenfreado de luxúria. Querem ter novas "experiências"
nessa matéria, embora antes fossem perfeitamente normais, ou seja, heterossexuais de tendência e
de prática. Isto constitui um pecado ainda mais grave, pois não se trata apenas de uma concessão à
tendência desregrada e antinatural que porventura a pessoa já tivesse, mas sim da procura
deliberada de um pecado contra a natureza, em busca de novas sensações torpes e vergonhosas,
severamente proibidas por Deus.
"Vítima" do homossexualismo
Outras vezes uma pessoa de tendência originária normal, heterossexual, pode ser "forçada" -- note
bem: forçada -- a adotar práticas homossexuais devido a uma permanência prolongada em certos
ambientes de baixo nível moral, como penitenciárias, navios em viagens de longo curso, etc. Neste
caso o pecado, embora gravíssimo e abominável, pode não ter o mesmo grau de abominação do
caso anterior, principalmente se a pessoa for vítima de violência para consentir no ato torpe. Mas
deve heroicamente opor toda a resistência possível, sacrificando até a própria vida, a exemplo de
uma Santa Inês, de Santa Maria Goretti e de tantos outros heróis da Fé e da Pureza.
As pessoas que adotam práticas homossexuais nestas duas circunstâncias, geralmente ficam sendo
taradas bissexuais, ou seja, com tendência e práticas sexuais com pessoas do mesmo sexo e do
outro. Neste caso, suas práticas homossexuais constituem pecado gravíssimo contra a natureza, que
clamam a Deus por vingança devido ao extremo grau de malícia que lhes é próprio, enquanto as
relações heterossexuais, se realizadas fora do casamento, constituem pecado de fornicação ou, mais
grave ainda, de adultério.
"(...) esses infelizes, não somente não refreiam tal tendência, mas fazem algo de muito pior e caem
no vício contra a natureza. São cegos e estúpidos, cuja inteligência obnubilada não percebe a
baixeza em que vivem. Desagrada-me este último pecado, pois sou a pureza eterna. Ele me é tão
abominável, que somente por sua causa fiz desaparecer cinco cidades (cf. Sb 10,6). Minha justiça
não mais consegue suportá-lo. Esse pecado, aliás, não desagrada somente a mim. É insuportável aos
próprios demônios, que são tidos como patrões por aqueles infelizes ministros. Os demônios não
toleram esse pecado. Não porque desejam a virtude; por sua origem angélica, recusam-se a ver tão
hediondo vício. Eles atiram as flechas envenenadas de concupiscência, mas voltam-se no momento
em que o pecado é cometido". (Santa Catarina de Sena, O Diálogo, 2a ed., Paulinas, 1984).