PATRÍCIA MIRANDA1
WALDENIR SIDNEY FAGUNDES BRITTO2
RESUMO
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Graduada no Curso de Ciências Contábeis, da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina –
(FACAPE)- .e-mail: patriciamirandabr@yahoo.com.br
² Mestre em Economia, Professor do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais
de Petrolina- (FACAPE) . email: waldenir@facape.br
1 - INTRODUÇÃO
A cabra foi o primeiro animal, domesticado pelo homem, capaz de produzir alimentos, há
cerca de seis mil anos atrás. De lá para cá, sempre acompanhou a história da humanidade,
conforme atestam os diversos relatos históricos, mitológicos e até mesmo bíblicos, que
mencionam os caprinos.
A partir da década de 90 autoridades, técnicos e criadores começaram a dar mais atenção para
a atividade da ovinocaprinocultura, ocorrendo profundas mudanças em alguns segmentos
nessa exploração, tais como: pesquisas foram desenvolvidas, tecnologias de ponta foram
assimiladas e, o que é mais importante, aumentou a demanda por produtos de caprinos e
ovinos no Brasil. Foi então que o Brasil começou a discutir efetivamente a atividade dentro de
uma visão de cadeia produtiva e de agronegócio.
A Caprinocultura é uma das atividades que está em ascensão no agronegócio brasileiro e que
desperta a atenção de investidores interessados em participar deste mercado. Um dos
principais indicadores deste aumento é número de visitantes nas principais feiras e exposições
do setor.
Existe uma grande variedade de produtos de origem caprina: carne, leite, couro, pêlo e
esterco, além de ter utilidade como tração animal. A microrregião de Juazeiro, no submédio
baiano por ser uma região semi-árida, sofre bastante com a falta de chuvas regulares o que
dificulta a atividade agropecuária, sendo essa a principal atividade econômica da região,
formada na sua maior parte de pequenos produtores rurais.
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Dessa forma, percebe-se que os produtores estão buscando caminhos para superar essas
dificuldades através de alguns investimentos em infra-estrutura e tecnologia com objetivo de
minimizar os efeitos causados pelas secas. Porém ainda estão fazendo isso de maneira
aleatória, sem que exista um controle da real situação, sem que os mesmos tenham noção da
realidade de quanto custa produzir nessa região.
Para que o produtor rural passe a administrar o seu sistema de produção como uma empresa,
se faz necessário que ele tenha conhecimento de quanto custa produzir aquele bem (caprinos
Boer proveniente do melhoramento genético, neste caso específico), ou seja, ele tem que
saber qual o custo real de criação e se o seu empreendimento é viável realmente
As informações sobre custos na criação de caprinos da raça Boer P.O., podem ser utilizadas
para diversas finalidades. Algumas dessas finalidades são: analisar a rentabilidade da
atividade de criação de caprinos da raça Boer P.O.; reduzir os custos controláveis; determinar
o preço de venda compatível com o mercado em que atua; planejar e controlar as operações
do sistema de criação de caprinos da raça Boer P.O; identificar e determinar a rentabilidade na
criação; identificar o ponto de equilíbrio do sistema de criação de caprino da raça Boer P.O. e
principalmente servir como ferramenta extremamente útil para auxiliar o criador de caprinos
no processo de tomada de decisões seguras e corretas.
2 - A CRIAÇÃO DE CAPRINOS
A Caprinocultura é uma das atividades que está em ascensão no agronegócio brasileiro e que
desperta a atenção de investidores interessados em participar deste mercado. Um dos
principais indicadores deste aumento é número de visitantes nas principais feiras e exposições
do setor.
De acordo com dados da organização da Feira Internacional de Ovinos e Caprinos (Feinco)
2007, que ocorreu em março, em São Paulo (SP), o evento atrai um público superior a 20 mil
pessoas por ano e sempre apresenta novidades tecnológicas capazes de agregar valor à
produção e proporcionar melhor rentabilidade do criador.
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Deve-se considerar, ainda, ao se definir um sistema de criação, os aspectos sociais,
econômicos e culturais, uma vez que esses têm influência decisiva, principalmente, nas
modificações que poderão ser impostas por forças externas e, especialmente, na forma como
tais mudanças deverão ocorrer para que o processo seja eficaz, e as transformações alcancem
os benefícios esperados, afirma Zimmer (1998).
O Brasil possui um dos maiores rebanhos caprino do mundo, tem como principal vantagem o
fato de possuir grandes áreas de terras com baixo custo e clima favorável, enquanto países
ricos enfrentam custo de produção elevado por causa de condições climáticas adversas, alto
preço das terras e elevada remuneração da mão-de-obra, afirma Coelho (1999).
Conforme Lôbo (2002), os caprinos são adaptados tanto em ambientes mais favoráveis ao seu
desenvolvimento quanto as mais extremas condições climáticas, de aridez e de limitações
topográficas como áreas de montanha. E com relação ao hábito alimentar, os caprinos são
classificados como de hábito intermediário ou misto, já que possuem a capacidade de
consumir tanto alimentos de maior valor nutritivo (concentrados) como alimentos mais ricos
em fibras (capins). Alguns destes animais são flexíveis e variáveis ao longo do ano de acordo
com o período da vegetação.
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Apesar disso, o Brasil não se destaca como grande produtor de carne caprina, devido ao
sistema de criação extensivo adotado, raças sem padrão genético definido e a sazonalidade
das chuvas não favorecem as pastagens durante o ano todo. Com isso, o rebanho caprino
ganha peso no período das chuvas e perde na seca. O confinamento para complementação das
pastagens pode ser vantajoso nas épocas de seca, ao manter constante o crescimento e engorda
dos animais e conseguir maior produtividade do rebanho.
A exploração de caprinos e ovinos na região Nordeste é uma opção viável e rentável não
somente para pequenos e médios produtores, mas também para grandes pecuaristas que
desejem explorar uma atividade que não exige altos investimentos em infra-estrutura e na
aquisição de animais, além de apresentar rápido retorno do capital investido.
Segundo Filho e Alves apud Nunes (2002), a região semi-árida nordestina tem vocação
natural para o pastoreio e, em particular, para a exploração da ovinocaprinocultura. A carne de
ovinos e caprinos é uma das principais fontes de proteínas na região. A pele é de excelente
qualidade, o leite tem alto valor nutritivo e os derivados lácteos têm larga aceitação no
mercado.
Para Ribeiro (2002), ao se discutir padrão racial é necessário inicialmente conceituar o que é
uma raça. Raça é um grupo de indivíduos de uma determinada espécie com características
hereditárias que permitem agrupá-los entre si e separá-los de outros da mesma espécie.
Portanto, ao se definir um padrão racial é necessária a descrição das características que
permitam a identificação dos indivíduos da raça em questão. Essas características podem ser
divididas em:
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9 Características Econômicas: estão relacionadas à aptidão dos animais, como
produção de leite, carne, pêlo ou pele.
De acordo com Brennand (2007), o critério de escolha da raça caprina Boer não foi à toa, Ele
sempre acreditou no potencial do caprino Boer, pois essa raça reúne três características
essenciais para uma criação produtiva: alta taxa de fertilidade, carne de qualidade e excelente
adaptação às regiões tropicais.
Itens Comercializáveis
O mercado de produtos caprinos encontra-se em franca expansão, quer seja ao nível estadual,
nacional e com grandes perspectivas para o mercado internacional. A existência de uma nova
cultura da população, em ter uma vida com mais qualidade, evidenciando a segurança
alimentar, constitui um grande segmento de mercado, desde que toda a cadeia produtiva tenha
o perfil desses consumidores.
O caprino é um animal de dupla aptidão, que seria carne e pele, mas, quando se trata de
qualidade e quantidade de carcaça, em primeiro lugar destaca-se o caprino da raça Boer. O
valor econômico do Boer é em primeiro lugar, determinado pela qualidade de seus produtos
que são carne e também a pele.
Toda e qualquer atividade agropecuária precisa ser economicamente viável. Para tanto, são
propostos alguns passos que, se seguidos, irão proporcionar um instrumento de
acompanhamento e análise da viabilidade econômica de sistemas de criação de caprinos de
raça. Para que possa ser avaliada economicamente a viabilidade de se investir na atividade da
caprinocultura, fazem-se necessárias informações relacionadas às diversas etapas do processo
produtivo. Considerando que a viabilidade econômica tem papel-chave na tomada de decisão
sobre os investimentos a serem feitos dentro da empresa rural.
O Brasil, apesar de possuir um dos maiores rebanhos de caprinos do mundo e possuir grandes
áreas de terras com baixo custo e clima favorável, não possui, porém, os sistemas de criação
mais adequados. O sistema de criação de caprinos de raça é extremamente complexo,
envolvendo processos biológicos, climáticos e econômicos, o que introduz um alto grau de
incertezas aos resultados obtidos. O acompanhamento dos custos na criação de caprinos de
raça, especificamente a raça Boer P.O., é de fundamental relevância, pois assim pode-se
avaliar a rentabilidade econômica da atividade de criação de caprinos Boer .
Para Carvalho e Lopes (2002) algumas das finalidades de se apurar os custos de produção são:
a) analisar a rentabilidade da atividade; b) reduzir os custos controláveis; c) determinar o
preço de venda compatível com o mercado em que atua; d) planejar e controlar as operações
do sistema de produção; e) identificar e determinar a rentabilidade do produto; f) identificar o
ponto do equilíbrio do sistema de produção; g) servir como ferramenta extremamente útil para
auxiliar o produtor no processo de tomada de decisões seguras e corretas.
3 - ANÁLISE ECONÔMICA
TABELA 02- Custos variáveis e custos fixos do Sítio Acauã, microrregião de Juazeiro-
Bahia- 2006. Custo Operacional de Produção:
Especificações
1.1 Custos Variáveis Valor (R$)
Concentrados e sais minerais 15.049,05
Sanidade do Rebanho 1.311,50
Compra de Embriões p/ Transferência 39.421,20
Transporte de Caprinos 2.058,00
Subtotal 62.189,75
1.2 Custos Fixos Valor (R$)
Mão-de-obra e Encargos Sociais 36.000,00
Depreciação dos Reprodutores 100,00
Depreciação das Matrizes 11.666,90
Imposto (ITR) 100,00
Irrigação 1.554,00
Manutenção de Pastagens e Forrageiras 1.067,00
Energia, Combustível e Lubrificantes 10.450,28
Reparo e Benfeitoria de Instalações 2.043,00
Reparo de Máquinas, Motores e 2.050,00
Equipamentos
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Ferramentas e Utensílios Diversos 1.507,90
Energia Elétrica do sistema de Irrigação 8.400,00
Assistência Veterinária 4.150,00
Subtotal 79.089,08
Total 141.278,83
Fonte: Dados da Pesquisa, ano 2006.
O valor custo total da produção representou a soma dos custos fixos e dos custos variáveis,
que foram de R$ 141.278,83. Eles representaram o desembolso feito pelo criador durante o
exercício de 2006 em estudo, com exceção da depreciação que embora não seja um
desembolso, representa uma reserva de caixa, que deveria ser feita para reposição dos bens
patrimoniais (animais, instalações, máquinas, equipamentos, etc.) ao final de sua vida útil. A
receita do período permitiu que se fizesse essa reserva. Isso significa que ao final da vida útil
dos bens, nas condições e/ou situações encontradas, o criador teria recursos monetários para a
aquisição de novos bens substitutos, principalmente para reposição dos animais reprodutores,
que são nesse caso as máquinas da empresa e dessa forma não se descapitalizaria.
A compra de embriões para transferência foi de R$ 39.421,20, sendo esse o item de maior
relevância na determinação dos custos variáveis, devido esse item ser importado, portanto tem
cotação em dólar, mas apresenta-se convertida em reais.
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TABELA 03- Resultado Econômico do Sítio Acauã, microrregião de Juazeiro-2006
( = ) RENDA BRUTA
360.100,00
Venda de Animais P.O. Fêmeas a partir de 12 Un
60 3.500,00 210.000,00
meses
Venda de Animais P.O. Macho a partir de 6 Un
60 2.000,00 120.000,00
meses
Venda de Animais Descartados Fêmeas a Un
7 2.500,00 17.500,00
partir de 6 anos
Venda de Animais Descartados Macho a partir Un
7 1.800,00 12.600,00
de 6 meses
( - ) CUSTO OPERACIONAL DE
141.278,83
PRODUÇÃO
Custos Variáveis 62.189,75
Animais de 6 até 12 meses 6.980,50
Concentrado e Sais Minerais KG 5.686 1,05 5.970,30
Sanidade do Plantel GR 290 1,75 507,50
Animais com até 6 anos 55.711,95
Compra de Embriões p/ Transferência Un 70 563,16 39.421,20
Concentrado e Sais Minerais KG 17.905 0,75 13.428,75
Sanidade do Plantel KG 1.005 0,80 804,00
Transporte de Caprinos 2.058,00
Custos Fixos 79.089,08
Imposto (ITR) 100,00
Depreciação dos Reprodutores Un 3 33,333 100,00
Depreciação das Matrizes Un 70 166,67 11.666,90
Mão-de-obra e Encargos Sociais Un 4 9.000,00 36.000,00
Irrigação 1.554,00
Manutenção de Pastagem e Forrageira 1.067,00
Energia, Combustível e Lubrificantes 18,50 564,88 10.450,28
Reparo de Benfeitoria e Instalações 2.043,00
Reparo de Máquinas, Motores e Equip. 2.050,00
Ferramentas e Utensílios Diversos 1.507,90
Energia Elétrica 8.400,00
Assistência Veterinária 4.150,00
( = ) RENDA LÍQUIDA 218.821,17
( - ) Remuneração do Capital Investido 26.053,17
( = ) LUCRO / PREJUÍZO 192.768,00
( = )Rentabilidade (Lucro/Receita*100) 53,53%
Fonte: Dados da Pesquisa, ano 2006
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Renda Bruta (RB)
A renda Bruta é o resultado da comercialização dos animais que foram vendidos durante o
período de 2006. Sendo composto da venda de animais com idade variando de 6 meses para
os machos e 12 meses para as fêmeas e os animais adultos são descartados a partir de 6 anos
de idade da propriedade e vendidos, somando-se ao montante da renda bruta da atividade com
um valor de R$ 360.100,00 no ano de 2006.
Ainda com base na TABELA 03, temos o valor da Renda Líquida do Sítio Acauã, calculada
como sendo a renda bruta menos os custos operacionais de produção, a qual se destina à
remuneração do empresário e do capital. Pode-se observar que a RL do ano de 2006 foi de R$
218.821,17, sendo esse resultado considerado a médio e longo prazo, uma situação de
conforto para o produtor rural que exerce a atividade de criação de caprino Boer.
Neste estudo, as receitas são os resultados da venda dos animais pelo seu valor de mercado. A
fonte de receita é a venda de caprinos com idade de 6 a 12 meses os machos e as fêmeas a
partir de 12 meses de idade, que são destinados para melhoramento genético do plantel e
matrizes e reprodutores que são descartadas a partir de 6 anos de idade. A rentabilidade é o
lucro obtido das vendas menos os custos.
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
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carne e pele, e pode ser utilizado em sistemas intensivo quanto o extensivo de produção. O
Boer deve ser comercializado com idade entre seis e quinze meses e carcaça com peso por
volta de 23kg para ser um produto aceitável.
Existe o interesse do mercado externo em adquirir produtos finais da cadeia produtiva (carne
e pele) do Brasil, entretanto esta demanda só poderá ser atendida e suprida por criadores que
forem profissionais, que tenham seus registros no Ministério da Agricultura, além da
rastreabilidade dos produtos e monitoramento sanitário específico. Também, por outro lado,
deve-se em primeiro lugar abastecer o mercado interno, devido a um déficit dos produtos
tanto carne como de pele.
Por todas características produtivas e principalmente por sua origem, acredita-se que o
caprino Boer possa contribuir de forma decisiva para o melhoramento genético da
caprinocultura destinado a comercialização de carne e pele de caprinos. Visto que essa
atividade é de extrema importância para o desenvolvimento do agronegócio no Nordeste do
Brasil.
Por fim, a criação de caprinos Boer é um bom negócio se conduzido com profissionalismo e
gestão adequada. Visando o crescimento do agronegócio da caprinocultura no Vale do São
Francisco, e assim mais do que criadores de cabritos, devem se tornar empreendedores de
uma atividade econômica de excelente potencial a ser desenvolvida nessa região.
5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FEINCO. Feira Internacional de Caprinos e Ovinos. Anuário Brasileiro de Caprinos &
Ovinos. Publicação Revista de Caprinos e Ovinos O BERRO, ano 2007.
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