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Memorial da

Universidade Nova
UFBA 2002-2010

Naomar de Almeida Filho


Francisco Mesquita
Maerbal Marinho
Antonio Alberto Lopes
Eugênio Lins
Nádia Ribeiro
Joselita Macedo
Álamo Pimentel
Fernando Rego

Salvador, Bahia
Julho de 2010
Reitoria da Universidade
Federal da Bahia
ASSESSOR DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS:
Emílio José de Castro e Silva (2002-2010)

ASSESSOR DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E PROJETOS ESPECIAIS:


Universidade Federal da Bahia Oswaldo Barreto Filho (período)

ASSESSOR DE ...:
Roberto José Meyer Nascimento
REITOR:
Naomar Monteiro de Almeida Filho ASSESSOR DE COMUNICAÇÃO:
Vitor Hugo Soares; Cláudio Guimarães Cardoso; Lindinalva Silva Oli-
VICE REITOR: veira Rubim; Paulo Renan Rodrigues dos Santos; Maria Lucineide Fon-
Francisco José Gomes Mesquita tes; Marco Antonio Oliveira de Queiroz (2009-2010) (períodos)

SECRETÁRIA DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS:


Therezinha Maria Dultra Medeiros (2002-2010)
EQUIPE DO REITORADO

PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO:
Maerbal Bittencourt Marinho (2002-2010)

PRÓ-REITOR DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO:


José Sérgio Gabrielli de Azevedo (2002); Maria de Fátima Dias Costa MEMBROS DOS CONSELHOS SUPERIORES
(2003-2006); Hebert Conceição Torres de Farias (2006-2007); Anto- DA UFBA (2002-2010):
nio Alberto da Silva Lopes (2007-2010)

PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO:
Antonio Nery Alves Filho (2002-2003); Manoel José Ferreira de Car- CONSELHO UNIVERSITÁRIO:
valho (2003-2005); Álamo Pimentel Gonçalves da Silva (2005-2006);
Ordep Trindade Serra (2006-2008); Eugênio de Ávila Lins (2008-2010) Naomar Monteiro de Almeida Filho (Reitor), Francisco José Gomes
Mesquita (Vice-Reitor).
PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO:
Luiz Alberto Bastos Petitinga (2002-2003); Dora Leal Rosa PRÓ-REITORES: Álamo Pimentel Gonçalves da Silva, Dora Leal Rosa,
(2004-2006); Nádia Andrade de Moura Ribeiro (2007-2010) Joselita Nunes Macedo, Luiz Alberto Bastos Petitinga, Nádia Andrade
de Moura Ribeiro, Neusa Dias Andrade de Azevedo.
PRÓ-REITOR DE DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS:
Neusa Dias Andrade de Azevedo (2002-2006); DIRETORES DE UNIDADES UNIVERSITÁRIAS: Ana Maria Fernandes, Ânge-
Joselita Nunes Macedo (2006-2010) la Tamiko Tahara, Antonia Torreão Herrera, Antonio Albino Canelas
Rubim, Antonio Fernando Guerreiro M. de Freitas, Antônio Heliodo-
PRÓ-REITOR DE AÇÕES AFIRMATIVAS E ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: ro Lima Sampaio, Antonio Marcos Chaves, Antonio Wilson Ferreira
Álamo Pimentel Gonçalves da Silva (2006-2010) Menezes, Arthur Matos Neto, Caiuby Alves da Costa, Carmen Cé-
lia Carvalho Smith, Celi Nelza Zulke Taffarel, Celso Luiz Braga de
CHEFE DE GABINETE: Castro, Daniel Marques da Silva, Dioneire Amparo dos Anjos, Dirceu
Isabela Cardoso de Matos Pinto (2002-2006); Nádia Andrade de Mou- Martins, Dulce Tamara Rocha Lamego da Silva, Edmar José Borges de
ra Ribeiro (2006-2007); Aurélio Gonçalves de Lacerda (2007-2008); Santana, Eduardo Luiz Andrade Mota, Eliene Benício Amâncio Cos-
Lígia Jacobsen Álvares (2008-2009); Fernando Luiz Trindade Rêgo ta, Erick Magalhães Vasconcelos, Evelina de Carvalho Sá Hoisel, Fre-
(2009-2010)
derico Guaré Cruz, Giovandro Marcus Ferreira, Heinz Karl Novaes Luís Henrique Silva Souza, Marcelo Pereira Leite da Silva, Marcos
Schwebel, Heloniza Oliveira Gonçalves Costa, Horst Karl Schwebel, André dos Santos, Marcos Antônio Trajano Ferreira, Marta Caíres de
Iracema Santos Veloso, Joana Angélica Guimarães da Luz, João Carlos Souza, Natália Ferraz Bastos, Otávia Veiga Laranjeira Malheiros, Paulo
Salles Pires da Silva, Johnson Barbosa Nogueira, Johnson Meira Santos, de Aquino Pires, Poliana Rebouças de Magalhães, Rafael Damasceno
Jorge Antonio Moreira da Silva, José Bernardo Cordeiro Filho, José de Barros, Rafaela Espinheira Rodrigues, Robenilton dos Santos Luz,
Fernandes Silva Andrade, José Tavares Neto, José Vasconcelos Lima Rodrigo Carvalho Oliveira, Rogério Ferreira Silva, Rosa Bianca Mello
Oliveira, Juçara Bárbara Pinheiro, Kátia Maria de Carvalho Custódio, di Tullio, Rowena dos Santos Brito, Sandra Assis Brasil, Thálisson Luiz
Lídia Maria Brandão Toutain, Ligia Maria Vieira da Silva, Lina Maria Maia Santana, Tiago Andrade Gonçalves, Victor de Morais Cayres, Vi-
Brandão Aras, Luis Edmundo Prado de Campos, Luiz Antonio Mattos nicius da Silva Cerqueira, Virginia Costa, Wanderley Vitorino, Warn-
Filgueiras, Luiz Rogério Bastos Leal, Magda Helena Rocha Dantas, Ma- derson Pimenta Souza.
noel Barral Neto, Marco Antonio Nogueira Fernandes, Maria Celeste
de Almeida Wanner, Maria da Glória Lima Cruz Teixeira, Maria da REPRESENTAÇÃO DA COMUNIDADE: Antonio Luiz Paranhos Ribeiro Leite
Pureza Spínola Miranda, Maria Isabel Pereira Vianna, Maria Thereza de Brito, Arx da Costa Tourinho, Cleilza Ferreira Andrade, Dora Leal
Barral Araújo, Marlene Campos Peso de Aguiar, Mirabeau Levi Alves Rosa, Emiliano José da Silva Filho, João Luiz Silva Ferreira, José Carlos
de Souza, Nelson de Luca Pretto, Osvaldo Barreto Filho, Reginaldo Capinan, Manuel Vicente Ribeiro Veiga Junior, Maria Luiza Câmara,
Souza Santos, Roaleno Ribeiro Amâncio Costa, Roberto Paulo Cor- Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti, Valmir Carlos da Assunção,
reia de Araújo, Rosauta Maria Fagundes Poggio, Sérgio Coelho Borges Vera Lúcia da Cruz Barbosa.
Farias, Solange Souza Araújo, Sudário de Aguiar Cunha, Teresa Leal
Gonçalves Pereira, Yeda de Andrade Ferreira.

REPRESENTAÇÃO DO CONSEPE: Juceni Pereira de Lima David, Nilce de


Oliveira, Pedro Reginaldo dos Santo Prata, Ricardo Carneiro de Miran- CONSELHO SUPERIOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO:
da Filho.
PRESIDENTES DOS CONSELHOS ACADÊMICOS: Francisco Lima Cruz Teixei- Naomar Monteiro de Almeida Filho (Reitor), Francisco José Gomes
ra, Maria das Graças Reis Martins. Mesquita (Vice-Reitor).
REPRESENTAÇÃO DOCENTE: João Augusto de Lima Rocha, Joviniano So- PRÓ-REITORES: Álamo Pimentel Gonçalves da Silva, Antonio Alberto da
ares de Carvalho Neto. Silva Lopes, Antonio Nery Alves Filho, Eugênio de Ávila Lins, Hebert
Conceição Torres de Farias, Maerbal Bittencourt Marinho, Maria de Fáti-
REPRESENTAÇÃO DOS SERVIDORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS: Antonio
ma Dias Costa, Manoel José Ferreira de Carvalho, Ordep Trindade Serra.
Valter Almeida Silva, José de Deus da Silva, Jundiara da Paz Paim, Luiz
Fernando Bandeira, Marieta Barbosa da Silva, Nadja Maria Montene-
REPRESENTANTES DE UNIDADES UNIVERSITÁRIAS: Alberto Rafael Cordi-
gro Barbosa, Renato Jorge Pinto, Vladimir Fraga da Silva.
viola, Alejandra Hernandez Muñoz, Amália Nascimento Sacramento,
Ana Cristina Ferrmino Soares, Ana Helena Hiltner Almeida, André
REPRESENTAÇÃO ESTUDANTIL: Ademário Sousa Costa, Alencastro Vini-
Luiz Martins Lemos, Ângelo Marconi Maniero, Antonio Fernando de
cius Villas Boas, Ana Carolina Santos, Ana Virginia Alves Santana, An-
Souza Queiroz, Antonio Luiz Barbosa Pinheiro, Antonio Neri Filho,
tônio Gabriel Pinto de Almeida Júnior, Antonio Ricardo de Campos
Antonio Virgilio Bittencourt Bastos, Antrifo Sanches Neto, Arno Bri-
Matos, Antonio Teixeira Lima Junior, Bruno de Almeida Moura, Caio
chta, Cassiara Carmelo de Souza, Celeste Maria Philligret Baptista,
Bandeira Nascimento Silva, Caio Cardoso Marambaia, Caio Tavares
Florença, Cristiano Marques do Nascimento, Daniele Costa Silva, Die- Celso Luiz Braga de Castro, Ceres Mendonça Fontes, Cláudia Dias de
go Espinheira da Costa Bonfim, Eduardo Ribeiro dos Santos, Emanuel Santana, Cláudio Guimarães Cardoso, Cristiane Corrêa Paim, Cristina
Lins Freire Vasconcellos, Everaldo Evaristo dos Santos Neto, Fabrício Araújo Paim Cardoso, Cristina Maria Meiro de Melo, Daniel Tourinho
Santos Moreira, Fernando Luís Monteiro de Jesus, Fernando Luiz Sei- Peres, Dante Eustachio Lucchesi Ramacciotti, Darci Neves dos San-
xas Maltez, Gabriel Ribeiro de Oliveira, Gion Aléssio Rocha Brunn, tos, Deolindo Checcucci Neto, Dinéa Maria Sobral Muniz, Djanilson
Igor de Carvalho Gonçalves da Costa, Isac Tolentino de Araújo Junior, Barbosa dos Santos, Dulce Aquino, Edson Emanuel Starteri Sampaio,
Isadora Salomão de Oliveira, João Gabriel Cabral, José Santos Souza Eduardo Fausto Barreto, Eduardo Tadeu Santana, Eliete da Silva Bis-
Santana, Leila Carla Alves Ferreira, Leonardo Oliveira de Farias, Lí- po, Elisabete de Araújo Ulisses dos Santos, Elizabeth Santana Borges,
gia Guimarães Leal, Liz Duque Magno, Luciano de Almeida Lopes, Eloísa Leite Domenici, Enaldo Silva Vergasta, Eugênio de Ávila Lins,
Evandro Carlos Ferreira dos Santos, Fabiana Dultra Brito, Fernando REPRESENTAÇÃO DOS SERVIDORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS: Edilene
Costa da Conceição, Fernando da Silva Freitas Pinto, Fernando Martins Costa, Iolita Oliveira Teles de Souza, Marieta Barbosa da Silva, Sandra
Carvalho, Geraldo Sampaio Costa, Gilda Ieda Sento Sé de Carvalho, Regina de Oliveira Santana.
Hebert Conceição Torres de Farias, Heloysa Martins Carvalho Andra-
de, Horst Karl Schwebel, Hygia Maria Nunes Guerreiro, Iguaracyra REPRESENTAÇÃO ESTUDANTIL: Alexnaldo Queiroz de Jesus, Aloísio da
Barreto de Oliveira Araújo, Ilhering Guedes Alcoforado de Carvalho, Silva Pires, Amanda Cunha, André Luís Dias de Lima, Antonio Au-
Ilka Dias Bichara, Isaac Costa Lázaro, Israel de Oliveira Pinheiro, Ivaldo gusto Alves Junior, Antônio Francisco Cruz Arapiraca, Caio Cardoso
Nídio Sitonio Trigueiro, Ivan Menezes Calazans, Ivani Santana, Jacques Marambaia, Caio Fernandes Barbosa, Carlos Ernesto de Andrade Ra-
Antonio de Miranda, Jacyan Castilho de Oliveira, Jairo Lins de Albu- mos, Carolina Silva Mendonça, Ciro Florence, Daniel Rocha Barbosa,
querque Sento Sé, Jamacy Costa Souza, João Lamarck Argolo, João Danilo Lobo Ramos, Diamilli Nepomuceno, Ellen da Silva Coutinho,
Vieira Neto, Joilson João Laje Magalhães, Jonival Barreto Costa, Jorge Emily, Eva Dayane Almeida de Góes, Felippe Silva Ramos, Fernan-
Luiz Lordelo de Sales Ribeiro, Jorge Mario Carvalho Malbouisson, José do Bezerra, Gabriel Vianna, Gillian Leandro de Quiroga Lima, Hugo
Alberto Bandeira Ramos, José Fernandes Silva Andrade, José Francisco Viotto Abreu, Isac da Costa Tolentino, Ismael, Jaqueline Ferreira de
Serafim, José Lucimar Tavares, José Sergio Gabrielli de Azevedo, José Lima, Joelson Conceição Souza, Júlio Leonardo Barbosa Pereira, Kle-
Umbelino Brasil, Juceni Pereira de Lima David, Jussara Sobreira Se- ber Rosa de Souza, Leila Carla Alves Ferreira, Lucas Nonato Nunes,
tenta, Leonardo Vincenzo Boccia, Lídia Maria Brandão Toutain, Lúcio Lucy dos Santos Cardoso, Ludmila Meira, Maiane Cecília Santos Rosa,
Leopoldo Aragão da Silva, Luis Augusto Carvalho Malbouisson, Luis Maiara Alves Oliveira, Marcela Machado, Márcio Alexandre Nonato
Claudio Cajaíba Soares, Luís Paulo Guimarães dos Santos, Luiz Alber- Cavalcante, Marcos Araújo Nascimento, Marcos Melo de Almeida,
to Almeida, Luiz Alberto Petitinga, Luiz Augusto Mazzarolo, Luiz Pau- Mariana Seixas, Marta Caires Souza, Morjan Lisboa de Matos, Myna
lo Guimarães dos Santos, Luzimar Gonzaga Fernandez, Manoel José Lizzie Oliveira Silveira, Otávia Veiga Laranjeira Malheiros, Paulo Hen-
Ferreira de Carvalho, Mara Zélia de Almeida, Marcelo Santos Castilho, rique Carvalho e Silva, Paulo José Riela Tranzilo, Paulo Moraes Neto,
Marcos Barbosa, Marcos Silva Palácios, Maria Auxiliadora da Silva, Ma- Rafael Bastos Oliveira, Rafaela Espinheira Rodrigues, Regiane Matos,
ria Cecília de Paula Silva, Maria das Graças Reis Martins, Maria de Fáti- René Augusto de Almeida Scaldaferri, Rinaldo de Castilho Rossi, Ro-
ma Dias Costa, Maria de Lourdes Figueiredo Botelho, Maria do Carmo drigo Yuri Fernandes, Tâmara Caroline Almeida Terso, Thiago Fiel dos
Soares de Freitas, Maria Eduarda Serpa, Maria Elizabeth Borges, Maria Santos, Vinicius Oliveira Fraga.
Hilda Baqueiro Paraíso, Maria Linert Lubisco, Maria Theresa Barral
Araújo, Maria Vidal de Negreiros Camargo, Marilene Lobo Abreu Bar-
bosa, Maristela Pina dos Santos, Maurício de Almeida Chagas, Mirella
Márcia Longo Vieira Lima, Miriam Cristina M. Rabello, Mirian Santos
Paiva, Monclar Eduardo de Lima Valverde, Mônica Cristina Cardoso
CONSELHOS DE CURADORES:
da Guarda, Mônica Leila Portela de Santana, Nancy Elizabeth Oddo-
ne, Nídia Franca Roque, Nidia Nilce de Oliveira, Nilza Maria Costa dos
Adeildo Osório de Oliveira, Antonio Wilson Ferreira Menezes, Arno
Reis, Oddone Braghirolli Neto, Odilon Matos Rasquim, Olga Verônica
Brichta, Celso Luiz Braga de Castro, Edivânia, Edna Maura Prata de
Montenegro de Souza, Ordep José Trindade Serra, Osmar Gonçalves
Araújo, Eduardo Fausto Barreto, Eduardo José Silva, Eliete Gonçal-
Sepúlveda, Osvaldo Manuel Santos, Paulo Antonio de Freitas Balanço,
ves da Silva, Elinalva Vergasta de Vasconcelos, Francisco Lima Cruz
Paulo César Costa Maia, Paulo de Oliveira Mafalda Junior, Paulo Fábio
Teixeira, Helena Argolo Benício, Ihering Guedes Alcoforado de Car-
Dantas Neto, Paulo Lauro Nascimento Dourado, Pedro Bernardo da
valho, Isaac Costa Lázaro, Jairo Lins de Albuquerque Sento Sé, Jés de
Rocha, Pedro Luiz Bernardo da Rocha, Pedro Reginaldo dos Santos
Jesus Fiais Cerqueira, João Victor, Johnson Barbosa Nogueira, Johnson
Prata, Regina Cerqueira Wanderley Cruz, Regina Yatsuda, Reginaldo
dos Santos Prata, Reginaldo Souza Santos, Reinaldo Pessoa Martinelli, Meira Santos, Joilson João Lage de Magalhães, José Bernardo Cordeiro
Renato da Silveira, Renato José Amorim da Silveira, Ricardo Carneiro Filho, José de Andrade de Silva Filho, José Fernandes Silva Andrade,
de Miranda Filho, Roberto Paulo Correia de Araújo, Roberto Sidnei Al- Luís Paulo Guimarães dos Santos, Marco Antonio Nogueira Fernandes,
ves Macedo, Robson Barreto Matos, Rogério Hermida Quintella, Solan- Marcos André dos Santos, Nilza Maria Costa dos Reis, Osmar Gon-
ge Souza Araújo, Solange Veloso Viana, Sonia Lúcia Rangel, Sonia Maria çalves Sepúlveda, Paulo Fábio, Reginaldo Souza Santos, Renato Jorge
Chada Garcia, Sônia Maria da Silva Gomes, Soraia Freaza Lobo, Susan Pinto, Sonia Maria da Silva Gomes, Sudário de Aguiar Cunha, Wilson
Martins Pereira, Teresa Cristina Bahiense de Souza, Teresa Leal Gonçal- Araújo Lopes.
ves Pereira, Teresinha Guimarães Miranda, Therezinha Froes Burnham,
Thomaz Cruz, Vilma Souza Santana, Virginia Maria Rocha Chaves.
CAPÍTULO 5
154 UFBA Nova, Universidade Nova, REUNI UFBA
155 Da UFBA nova ao REUNI UFBA
Sumário 164 Expansão de vagas e cursos noturnos
172 Bacharelados Interdisciplinares

CAPÍTULO 6
APRESENTAÇÃO 192 Plano Diretor Físico e Ambiental
14 Memorial anísio-graciliano 193 Antecedentes
198 Diretrizes e estratégias
CAPÍTULO 1 201 Implementação do Plano Diretor
20 UFBA, ano 2002 207 UFBA Ecológica
20 Ensino
23 Pesquisa e extensão CAPÍTULO 7
25 Estrutura institucional, instalações e pessoal 218 Segundo mandato: outras ações
27 Despesas e financiamento 218 Assistência estudantil
29 Arquitetura curricular 230 Internacionalização da UFBA
31 Síntese e avaliação 242 Reestruturação normativa da UFBA

CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 8

Planejamento da inovação 262 Balanço financeiro


262 Evolução da receita
38 numa instituição hipercomplexa 267 Despesas e controle de custos
39 Eixos programáticos do primeiro mandato
270 Análise
45 Metas estratégicas do segundo mandato
57 Do Plano de Metas à Rede de Impactos
CAPÍTULO 9
65 Comentário
274 UFBA Nova em 2010
275 Ensino
CAPÍTULO 3
279 Pesquisa e extensão
72 Marcos do primeiro mandato 284 Condições institucionais
72 Hospitais universitários: crise e reestruturação
292 Avaliação geral
82 Restauração da Faculdade de Medicina do Terreiro
94 Criação da UFRB
CAPÍTULO 10
100 Interiorização da UFBA
109 Comentário 298 Começo
299 Projeto político de transformação
300 Abrimos a casa de Edgard
CAPÍTULO 4
303 Vetores de transformação
112 Ações afirmativas na UFBA 304 Uma agenda Pós-REUNI
113 Retrato de uma universidade quando elitista
118 Histórico e descrição do Programa
129 Avaliações do modelo
149 Comentário
Reitoria da Universidade Federal da Bahia

APRESENTAÇÃO

Memorial
anísio-graciliano
O que é um Relatório? Em princípio, como diz o termo, signi-
fica relato de eventos e fatos, analítico e retrospectivo. Idealmen-
te, todo relatório deve ser objetivo, metódico, informativo e deta-
Memorial anísio-graciliano lhado. No plano institucional, trata-se de documento de avaliação
e prestação de contas referente a mandato ou período de gestão.
Para que serve um Relatório? Em condições normais, falando
francamente, tem como finalidade o mero atendimento de nor-
mas e regulamentos concernentes a registro e arquivamento de
Effectivamente, nesses adiantados princípios do seculo vin-
te, o serviço de educação publica ainda estava jungido á dados e informações oficiais. Quase sempre se dirige ao público
velha orientação colonial de educação para uma classe fina interno das instituições a que se refere, com circulação restrita.
da sociedade. Receberá atenção momentânea e se tornará objeto da famosa
A idéa de educação universal, de educação como elemento “leitura diagonal” de alguns dirigentes, compreensivelmente pre-
fundamental de vida democrática, não nos havia possuído. ocupados em primeiro ver como sua seção ou unidade aparece
Éramos um Estado com uma larga população analphabeta no texto. Será integralmente lido e valorizado apenas por opo-
de viver primitivo e primitivo estado social e uma diminuta sitores político-institucionais do momento, por eventuais porta-
classe de letrados cujos índices de vida foram directamen- dores de curiositas morbo e, em futuro distante, por pesquisado-
te copiados das mais amadurecidas classes educadas da res de historiografia aplicada, doutos e metódicos. Em geral, o
Europa.
fim dos relatórios são estantes, armários e gavetas.
Dentro do contraste entre essa aristocracia intellectual e
o ilota sertanejo, está a explicação de muitos problemas Por tudo isso, neste momento, não se trata de submeter um
actuaes do paiz. Relatório às instâncias competentes. Melhor será escrever um
Quatro annos de administração são apenas um minuto breve memorial histórico.
para a solução de problema como o que ahi se esboça. Para este Memorial, desejamos destino diverso da poeira das
Mas, o que de logo desejamos registrado é a mudança de estantes, do fundo dos armários e da escuridão das gavetas. Te-
orientação. mos a pretensão de apresentar a docentes, servidores e estudan-
(Anísio Teixeira. Relatorio do Serviço de Instrucção Publica do Estado tes da nossa universidade, e aos cidadãos baianos e brasileiros,
da Bahia, Apresentado ao Exº. Snr. Consº. Braulio Xavier da Silva Pe-
um relato honesto, responsável e sobretudo legível do que foi
reira, Secretario do Interior, Justiça e Instrucção Publica. Quatriennio
de 1924 a 1928). para nós este mandato de Reitoria, estes anos de crescimento
como equipe gestora.
Esta é uma pretensão, ou ambição, a um só tempo, anísia e
graciliana. Anísio Teixeira dirigiu ao Governo da Bahia um ex-
cepcional libelo, sutil e sóbrio, citado em epígrafe, chamando à
responsabilidade cívica e ética autoridades, cúmplices de uma
elite que usava a educação como arma política para sua hege-
monia. Graciliano Ramos se impôs o desafio de elaborar um re-
latório que, bem escrito, pudesse ser lido pelo povo de Palmeira
dos Índios, nas Alagoas dos anos 1930, onde foi um Prefeito que
buscava a participação de todos os cidadãos na vida da cidade.
14 15
Essas figuras lograram ser exceções históricas ao desmazelo trabalho, dessa forma contribuindo para recuperar o valor social
de dirigentes públicos perante seus relatórios de governo, pois da universidade.
pensavam que, legando bons relatos de atos, tornar-se-ia huma- Esperamos vê-lo amplamente lido, compreendido, debatido
namente possível mudar a ordem burocrática das coisas, e assim e utilizado como pretexto para discussão e crítica, não somen-
sustentar a mudança. Em sentidos diversos, criam que documen- te por dirigentes e membros da comunidade universitária, mas
tos oficiais podem ser instrumentos de identidade institucional e também por parlamentares, instituições e organizações parceiras,
de transformação da sociedade. Acreditamos nisso também. por outros organismos de governo e, quem sabe, pelos cidadãos
Gracilianos, buscamos leitores e parceiros para este Memo- e cidadãs comuns que, em última instância, são a razão de ser da
rial, com a pretensão de torná-lo peça de apresentação eficaz da nossa Universidade Federal da Bahia.
nossa instituição perante à sociedade que nos sustenta e apoia.
Nesse sentido, fizemos um esforço para que nosso relato seja: (a)
Naomar de Almeida Filho
demonstrativo, com apresentação de metas, mapas e etapas de Reitor da Universidade Federal da Bahia
realização coletiva; (b) interpretativo, com destaque para casos Gestão 2002-2010
exemplares que marcaram o período de gestão; (c) avaliativo, em
um sentido preciso, propondo-se a analisar motivos e contextos
dos fatos e eventos narrados.

“...metas, mapas e etapas


de realização coletiva...”
Respeitosamente anísios, temos a ambição de tê-lo como re-
gistro consciente e sistemático de uma fase de profunda mudan-
ça institucional na UFBA, incorporando elementos contraditó-
rios emanados do debate que sempre nos dispomos a manter
com os segmentos que compõem a comunidade universitária.
Isto porque, interessados no futuro, o que “de logo desejamos
registrado é a mudança de orientação”. Pois, se nos permitem a
paráfrase, sabemos que oito anos de administração são apenas
dois minutos para a solução de problemas tão sérios como os que
formaram (ou deformaram) nossa querida universidade.
Trazemos, portanto, e não escondemos, elevada expectativa
para o presente Memorial. Este será, almejamos, por um lado,
elemento catalisador de re-pensamento e reconstrução da insti-
tuição e, por outro lado, dispositivo de difusão de uma imagem
institucional que, esperamos, conseguimos construir com nosso
16
CAPÍTULO 1

UFBA,
ano 2002
UFBA, ano 2002

Neste Capítulo, oferecemos uma descrição sumária da Univer-


sidade Federal da Bahia que encontramos no ano de 2002. Toma-
mos como fonte principal de informação o Relatório de Gestão
daquele exercício.
Ao assumir a Reitoria no início de agosto daquele ano, demos
continuidade aos programas e projetos da gestão anterior. Enquan-
to isso, nossa equipe e colaboradores completavam o diagnóstico
da situação e avançavam no delineamento mais detalhado de um
plano de ação para o mandato que se iniciava. Assim, o Relatório
2002 foi elaborado pela nova equipe que assumiu a Pró-Reitoria
de Planejamento e Administração no segundo semestre daquele
ano, tendo sido construído já pensando no seu uso como subsídio
para avaliação do processo de transformação pretendido.
Com essa finalidade, apresentaremos inicialmente, sem comen-
tários, análises ou interpretações imediatas, dados referentes aos
principais eixos de operação da instituição universitária: ensino
de graduação e de pós-graduação, pesquisa e extensão, pessoal,
estrutura institucional e instalações físicas, orçamentação, despe-
sas e financiamento. Em seguida, faremos uma avaliação sucinta
dos principais problemas e questões que configuravam o contexto
institucional da época, demarcando a natureza das crises que afe-
tavam o desenvolvimento da universidade.
Pretendemos com isso, da maneira mais objetiva possível, esta-
belecer uma linha de base a partir da qual possamos posteriormente
avaliar volume, teor, direção e natureza das metas e ações propostas,
planejadas e executadas com vistas a uma profunda mudança estru-
tural e conjuntural da Universidade Federal da Bahia.

ENSINO
Em 2002, com 17.941 estudantes de graduação e 1.672 de pós-
20 graduação, a UFBA era uma universidade de porte intermediário 21
e expressão acadêmica mediana, entre as instituições federais de radia em Salvador (em imóveis residenciais improvisados como re-
educação superior no Brasil. sidência universitária desde a década de 1950), para estudantes do
Na graduação, oferecíamos a cada ano pouco mais de 3,8 mil interior do Estado, e 83 lugares em Cruz das Almas, com oferta li-
vagas em 55 cursos, ministrados em sua quase totalidade no perí- mitada de serviços sociais e de saúde. A única política de promoção
odo diurno. Mais de 2/3 das vagas destinavam-se a carreiras profis- de acesso aos segmentos de baixa renda era a isenção de taxas de
sionais, em 38 cursos de graduação, com aulas nos turnos matutino inscrição ao Vestibular que, em 2002, beneficiou 1.800 candidatos.
e vespertino (o que na prática inviabilizava a permanência, na uni-
versidade, de jovens da classe trabalhadora). Única opção à noite, PESQUISA E EXTENSÃO
a Licenciatura em Física dispunha de apenas 40 vagas anuais. Em
Em 2002, a pesquisa na UFBA concentrava-se em 68 núcleos
geral, os cursos de formação docente ocupavam pouco mais de
consolidados, de um total de 225 grupos de pesquisa registrados
30% da oferta. Com altas taxas de evasão, atribuídas a dificuldades
no CNPq. Do contingente de 1.722 docentes ativos, apenas 638
sócioeconômicas do alunado, matrículas nas licenciaturas repre-
pesquisadores-doutores atuavam em 784 linhas de pesquisa; destes,
sentavam menos de 20% do total (exatos 6.261 estudantes).
106 eram Bolsistas de Produtividade do CNPq. Isto significa que os
Na pós-graduação (PG), podia-se constatar maior dinamismo re- Bolsistas-Pesquisadores do CNPq representavam menos de 5% do
lativo. Em modalidades chamadas de PG senso-estrito, contávamos total de docentes e 17% dos pesquisadores ativos. Os nossos pes-
com 61 cursos: 44 mestrados e 17 doutorados, ofertando 749 vagas quisadores orientavam pouco mais de 800 estudantes de graduação,
anuais (159 no nível doutorado). Nessa época, a UFBA abrigava 1,7 sendo que 390 destes recebiam bolsas de iniciação científica.
mil estudantes de pós-graduação, sendo 1.057 nos mestrados e 615
A comunidade científica da UFBA publicou, em 2002, um to-
em programas de doutoramento. Quase 70% dos cursos haviam al-
tal de 198 artigos, indexados na Web of Science, o que representa
cançado conceito quatro ou cinco na avaliação trienal da CAPES em
0,09 artigos/docente e 0,31 artigos/pesquisador. Indicadores de
2001, com média geral de 4,0. Tínhamos 20 cursos de mestrado nível
produtividade em pesquisa colocavam a UFBA em quarto lugar
3 e nenhum programa classificado em níveis de excepcionalidade
na região Nordeste e em 17º em todo o País. Um dado extrema-
(acima de cinco) pela CAPES. No que se refere à pós-graduação lato-
mente preocupante: mais de 70% do quadro docente não registra-
senso, 1.491 estudantes estavam matriculados em 38 cursos de espe-
va qualquer produção científica, artística ou cultural referenciada.
cialização, incluindo 244 alunos em programas de residência médica.
A área de extensão experimentava forte dinamismo e algum
Dados referentes ao ensino revelavam uma universidade de perfil
viés de expansão, principalmente devido à consolidação de um
elitista, com apenas 2.022 estudantes pobres (aplicando os critérios
programa pioneiro denominado Atividades Curriculares em Co-
atuais do Programa de Ações Afirmativas), pouco mais de 11% do
munidade (ACC). Em 2002, 444 estudantes de 38 cursos (cerca
corpo discente de graduação. Replicando a profunda desigualdade da de 70% do total de cursos de graduação então existentes na UFBA)
sociedade brasileira, estudantes de baixa renda concentravam-se em registraram-se em 42 grupos de ACC. Além disso, modalidades
carreiras profissionais de menor procura. Cursos de alta concorrência tradicionais de extensão, como cursos de atualização e eventos,
(Medicina, Direito, Psicologia, Comunicação, Odontologia, Engenha- totalizaram 934 atividades regularmente registradas, a partir das
rias, Administração) mostravam-se socialmente excludentes, tendo quais foram expedidos 19.509 certificados. Não obstante, o im-
como exemplo extremo a graduação em Odontologia que, em 2002, portante setor de prestação de serviços de saúde, particularmente
acolhia apenas 4% de estudantes provenientes de escola pública. a assistência hospitalar, passava por séria crise, com redução de
Naquela época, nenhuma bolsa-permanência era disponibiliza- leitos nos hospitais-escola (de 250 para 140 no Hospital Univer-
da para o contingente de estudantes necessitado de apoio social. sitário Professor Edgard Santos e de 75 para 32 na Maternidade
22 Assistência estudantil, na prática, restringia-se a 230 vagas de mo- Climério de Oliveira). Na interface extensão-pesquisa, não en- 23
contramos registro de patentes requeridas ou marcas produzidas ESTRUTURA INSTITUCIONAL, INSTALAÇÕES E PESSOAL
por docentes e pesquisadores da UFBA naquele ano ou antes dele.
Em 2002, a estrutura institucional da Universidade Federal da
Em 2002, o nível de internacionalização da UFBA era bastan-
Bahia compreendia 27 unidades universitárias, 17 órgãos suple-
te reduzido: à parte o intercâmbio científico espontaneamente re-
mentares e 7 organismos da administração central. A universidade
alizado por grupos consolidados e pesquisadores reconhecidos, a
dispunha de três campi, sendo dois situados em Salvador – Cam-
UFBA registrava apenas 53 convênios com instituições estrangeiras.
pus Universitário do Canela e Campus Federação-Ondina – e um
Não obstante, a maior parte desses acordos terminava como letra
Campus de Ciências Agrárias, no Município de Cruz das Almas,
morta, sem efeitos concretos. Durante todo o ano de 2002, menos
de 30 estudantes de graduação da UFBA cumpriam programas de onde se localizava a Escola de Agronomia (desmembrada em 2005
intercâmbio acadêmico em universidades estrangeiras com respal- para formar a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, como
do institucional, restritos a áreas específicas de conhecimento. Nes- veremos adiante).
se ano, apenas 6 estudantes estrangeiros haviam sido matriculados Em números consolidados, a UFBA apresentava os seguintes
nos cursos de pós-graduação da UFBA, com bolsas do Programa de dados físicos: 5.410 ha de terreno próprio; 285.413 m² de área
Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG). construída em 166 edificações, incluindo um total de 286 salas
Merece referência, ainda, a Editora da Universidade Federal da de aula, distribuídas em sua maioria nos imóveis das unidades e
Bahia – EDUFBA, que, no ano de 2002, publicou 30 títulos, in- órgãos, mas também em 2 Pavilhões de Aulas (ambos no campus
cluindo três reedições, correspondendo a uma tiragem de 15.450 Ondina). Os mapas dos campi de Salvador, com a localização dos
exemplares. No exercício, vendeu cerca de 15 mil livros, incluindo imóveis e marcos ambientais daquela época, podem ser vistos nas
títulos de outras editoras universitárias, em três postos de vendas. Figuras 2.1 e 2.2.

24 25

Campus do Canela 2002 Campus Federação-Ondina 2002


CPD (Centro de Processamento de Dados). Em 2002, foram
comprados mais 811 computadores e 83 impressoras, com re-
cursos de convênios.
O corpo docente da UFBA, em 2002, compunha-se de 1.901
professores do quadro permanente (1.722 ativos, 179 afastados
– 162 para capacitação) e 504 substitutos, correspondendo a
2.697,5 unidades de Professor Equivalente. Os níveis de titula-
ção do quadro docente permanente eram medianos (40% mes-
tres e 38% doutores); 68% dos docentes cumpriam regime de
Dedicação Exclusiva (DE).
O corpo técnico-administrativo totalizava 3.211 servidores,
27% com nível superior de educação. A maioria dos servidores
encontrava-se lotada em órgãos suplementares (1.375 ou 43%),
principalmente nas unidades assistenciais de saúde (1.224 ou
PAC – Pavilhão de
Aulas do Canela 38%); 771 servidores (24% do total) trabalhavam nos órgãos da
Através de Emenda Parlamentar de Bancada, aprovada em administração central. Apenas um terço do total, (1.065 servido-
2000, conseguiu-se algum grau de melhoria de instalações, me- res), atuava no apoio às atividades-fim nas unidades universitárias.
diante reformas diversas, destacando-se o investimento na cons- Além desses, a instituição contava com 676 trabalhadores de em-
trução de três novos prédios: o Centro de Convivência, o Pavilhão presas terceirizadas para os necessários serviços de apoio adminis-
de Aulas do Canela – PAC e o Pavilhão de Aulas da Federação III – trativo, vigilância, manutenção e limpeza.
PAF III. O PAC foi concluído em 2002 e posto em funcionamento No geral, a universidade sofria com a não renovação de quadros,
no primeiro semestre de 2003. O Centro de Convivência, conclu- levando ao enfraquecimento da capacidade operacional da insti-
ído em 2001, não chegou a operar porque as licitações para os ser- tuição, decorrente da falta de autorização dos ministérios federais
viços nele previstos resultaram desertas. O PAF III encontrava-se para a realização de concursos públicos. No plano específico sala-
com obras em andamento quando a empresa construtora desistiu rial, acumulavam-se perdas de rendimento, benefícios e vantagens
da obra, após sucessivas multas por descumprimento contratual. dos servidores, com redução nas condições de vida e trabalho e na
Em 2002, a UFBA contava com uma Biblioteca Central e 34 motivação do pessoal que desempenhava atividades essenciais. De
fato, o funcionamento da maioria dos cursos e programas da UFBA
Bibliotecas Setoriais situadas em unidades universitárias e ór-
mostrava-se prejudicado pela franca crise institucional no tocante
gãos suplementares. Mais de 80 bibliotecárias e 100 auxiliares
ao desempenho dos corpos docente e técnico-administrativo.
encontravam-se dispersos na gestão e operação de pequenas bi-
bliotecas ou coleções que, por alegada falta de pessoal, funciona-
vam apenas durante o dia, em horários superpostos às aulas. O DESPESAS E FINANCIAMENTO
acervo compreendia 250 mil títulos de livros, 6,5 mil periódicos O orçamento da UFBA, previsto na Lei Orçamentária Anual de
nacionais e 5,2 mil periódicos estrangeiros; em 2002, aquisições 2002, foi de R$ 294.742.224,00. A execução orçamentária e fi-
totalizaram 986 livros e 254 periódicos estrangeiros. nanceira, correspondente ao ano fiscal de 2002, realizou um mon-
O parque de equipamentos de informática da UFBA, na épo- tante de 360 milhões de Reais. Excluindo inativos, o orçamento
ca, incluía 3,9 mil microcomputadores e mais de 4 mil pon- operacional executado em 2002 alcançou 230 milhões de Reais.
26 tos de rede, além de 11 servidores de maior porte instalados no Registrou-se um aporte extraorçamentário de 36 milhões, além de 27
receita própria de 8,2 milhões, provenientes de serviços e taxas. ARQUITETURA CURRICULAR
Neste orçamento, destacam-se despesas com Pessoal (80,8%), Ma-
A velha UFBA mantinha inalterada a arquitetura curricular dos
nutenção (7,2%) e recursos de convênios específicos para custeio seus cursos de graduação, de raízes oitocentistas, consolidada pela
dos hospitais (5,6%). Em 2002, foram celebrados 481 convênios e Reforma Universitária de 1968.
contratos, sendo 21% com empresas e entidades do setor privado.
Em 2002, sua arquitetura curricular caracterizava-se por marcan-
A Tabela 1.1 permite analisar o perfil das despesas correntes te ambiguidade e excessiva diversificação em nomenclatura e na-
da UFBA em 2002. Do total de quase 23 milhões executados em tureza dos currículos de graduação. Nessa estrutura, engessamento
custeio, 15,6 milhões foram oriundos do Tesouro Nacional, dire- dos currículos dos cursos, rigidez dos pré-requisitos, impossibilidade
tamente do Orçamento da União (54,5%) ou da Secretaria de En- de mobilidade interna e reduzida articulação entre campos de saber
sino Superior do MEC, via convênios e suplementações (13,3%). são alguns dos fatores indicativos da necessidade de reorganização
Apenas 3 milhões (13%) aplicados em custeio provieram de Re- dos cursos de graduação. A tais problemas, agregava-se, por um lado,
ceitas Próprias. O item de despesa que mais onerou o orçamento o ingresso direto aos cursos profissionais, através do vestibular, como
da UFBA em 2002 foi Vigilância (com 17% do total), seguido de única possibilidade de acesso à educação superior. Por outro lado,
Limpeza e Energia Elétrica (14%, ambos); Água e Telefone custa- a formação acadêmica e profissional de pós-graduação mostrava-se
ram, cada um, 6% do total de custeio. Deve-se ainda mencionar a pouco articulada com os outros níveis de educação universitária.
existência de dívidas históricas a fornecedores de Energia Elétrica Com facilidade, podíamos observar na UFBA, em 2002, proble-
(1,2 milhão) e Água (5 milhões), herdadas como contencioso de mas de estrutura e funcionamento dos cursos de graduação que re-
exercícios anteriores. petiam, aprofundavam e agudizavam o que ainda ocorre em institui-
ções congêneres. De fato, o modelo brasileiro de formação superior
Tabela 1.1. Despesas Correntes por Fonte de Financiamento: Súmula continua orientado para uma especialização precoce em certos cam-
pos do saber, que se expressa no foco quase exclusivo em competên-
Fonte cias específicas. Esse modelo inviabiliza, na maioria dos casos, a circu-
Item de Receita lação de estudantes entre cursos, impede quase totalmente qualquer
Despesa Tesouro Própria Sesu-Mec Total % possibilidade de aproveitamento de créditos e, consequentemente,
Vigilância 2.845.908 33.668 983.996 3.863.572 17 perspectivas de mobilidade estudantil intra ou interinstitucional.
Limpeza 2.308.755 98.908 787.382 3.195.045 14 Na velha UFBA, os cursos de graduação eram predominante-
Energia Elétrica 2.137.866 530.216 327.699 3.095.781 14
mente orientados para formação profissional. Mesmo aqueles que
Água 1.142.632 188.815 – 1.331.447 6
não tinham essa natureza, como os bacharelados em áreas básicas,
Telefone 962.028 299.050 – 1.261.078 6
ofereciam currículos excessivamente concentrados, sem abertura
para outras áreas do conhecimento. Isso ocorria mesmo nos cur-
Total 12.396.805 3.041.334 3.183.335 22.660.646 100
sos que haviam reformado seus currículos após a publicação das
Fonte: Relatório de Gestão UFBA-2002
respectivas Diretrizes Curriculares Nacionais. Efetivamente, inexis-
tiam propostas curriculares inovadoras, em decorrência da incom-
A UFBA concluiu o ano de 2002 com um déficit financeiro patibilidade entre tais propostas e as regras de classificação, organi-
de 7,3 milhões de Reais, transferido para o exercício de 2003, in- zação e oferecimento de componentes curriculares, bem como de
cluindo 2,1 milhões de dívida a fornecedores, o que veio a onerar formas de avaliação, então vigentes na instituição. Mesmo inova-
de modo substancial o orçamento do ano seguinte. O déficit finan- ções curriculares tímidas, como cursos superiores de formação tec-
ceiro operacional (razão dívida / OCC) foi estimado em 20,8%, nológica ou programas de educação à distância, não compunham o
28 relativo ao orçamento total de custeio. horizonte pedagógico da nossa Universidade. 29
Princípios norteadores básicos dos currículos contemporâne- SÍNTESE E AVALIAÇÃO
os, como flexibilidade e interdisciplinaridade, eram praticados de
Uma síntese da situação da UFBA no ano-base 2002 pode ser
modo incipiente, por pequeno número de cursos de graduação. As encontrada no Quadro 1.1, onde buscamos integrar todos os indi-
práticas pedagógicas, adotadas nos cursos de graduação, eram tra- cadores compilados neste capítulo. A partir desta visão panorâmica,
dicionais, com predominância de aulas expositivas e uso reduzido poderemos agregar alguns elementos interpretativos necessários ao
de recursos tecnológicos e outras formas inovadoras de ensino. Os entendimento da situação institucional naquele ponto no tempo.
módulos de estudantes eram flagrantemente pequenos, mesmo em
O tamanho relativamente pequeno do alunado de graduação
componentes curriculares cuja natureza não requer reduzida rela-
refletia duas décadas de estagnação: desde 1980, a UFBA já alcan-
ção aluno/professor.
çara a marca de 18 mil matrículas. Nesse período, o crescimento

Quadro 1.1. Indicadores Acadêmicos e Institucionais, UFBA 2002

Ítens de avaliação 2002 Ítens de avaliação 2002


Candidatos em Processos Seletivos de Graduação 38.995 Grupos de Pesquisa cadastrados no CNPq 225
Cursos de Graduação 55 Bolsas de Iniciação Científica 390
Cursos de Graduação Noturnos 1 Média do Conceito CAPES dos Cursos de PG 4,0
Vagas na Graduação 3.851 Número de cursos PG com conceito CAPES 6 + 0
em Cursos Noturnos 40 Bolsistas de Produtividade CNPq 106
em Licenciaturas 476 Artigos publicados (Web of Science) 198
em Cursos Superiores de Tecnologia 0 Razão artigo/docente (Prof-Eq) 0,07
em Bacharelados Interdisciplinares 0 Patentes requeridas 0
Matrículas na Graduação 17.941 Ações Extensionistas 934
Cursos de Pós-Graduação 61 Total de participantes 19.509
Mestrados 44 Projetos Atividade Curricular em Comunidade 42
Doutorados 17 Estudantes engajados em ACC 444
Vagas na Pós-Graduação 749 Área total construída 285.413
Mestrados 590 Número de Pavilhões de Aulas 2
Doutorados 159 Total de salas de aula 286
Matrículas na Pós-Graduação 1.672 Número de Bibliotecas 35
Mestrados 1.057 Acervo bibliográfico (livros + periódicos) 259.342
Doutorados 615 Servidores Técnicos e Administrativos 3.211
Estudantes de escola pública (critério cotas) 2.022 Servidores terceirizados 676
Vagas em residência universitária 230 Número de docentes (Quadro Permanente) 1.901
Número de bolsas-moradia 230 Número de docentes (Substitutos) 504
Bolsas em programas de Permanência 0 Total de docentes (Professor-Equivalente) 2.697,5
Convênios com universidades estrangeiras 53 Proporção de Doutores no Quadro Docente 33,4%
Estudantes da UFBA em intercâmbio no exterior 38 Razão Aluno/Professor (RAP)* 11,3:1
Estudantes estrangeiros na UFBA 38 * RAP = Total Alunos (Graduação + PG) / (Total Professores Equivalentes em DE / 1,55)
30 Estudantes estrangeiros de pós-graduação (PEC-PG) 6 RAP2002 = (17.941 + 1.672) / (2.697,5 / 1,55) = 19.929 / 1.740,3 = 11,270 31
de vagas no Vestibular foi de apenas 8%, contrastando com um servidores docentes, técnico-administrativos e estudantes sucessi-
aumento de 130% na demanda social por vagas na universidade. vas e periódicas (quase todos os anos), dilatando o tempo médio
Em relação à pós-graduação e à pesquisa, verificava-se um claro de conclusão e aumentando o grau de desistência dos discentes.
descompasso entre o potencial da instituição e os patamares efeti- No ano-base 2002, todo um contexto de crise impossibilitava,
vamente alcançados. num ciclo vicioso, qualquer proposta de ampliação de atividades,
O Quadro 1.2, extraído diretamente do Relatório de Gestão programas e vagas ou de implantação de inovações curriculares de
2002, apresenta indicadores compostos, padronizados pelo Tribu- maior monta. Esse contexto de paralisia institucional decorria de
nal de Contas da União (TCU), visando à avaliação comparati- uma situação crítica de dupla natureza: uma crise estrutural de
va entre exercícios orçamentários. Verifica-se que, naquele ano, financiamento e uma crise de responsabilidade e motivação dos
o custo médio por estudante da UFBA situava-se em R$ 641,66/ quadros que compunham a comunidade universitária.
mês, flagrantemente reduzido dada a existência de cursos de ope-
A crise financeira da UFBA traduzia-se, em primeiro lugar,
ração onerosa, o que certamente refletia o grau de desinvestimen-
em quase nenhuma disponibilidade para investimentos em cons-
to na educação superior pública da época. Havia quase 11 estu-
trução e manutenção predial e de equipamentos e, em segundo
dantes por docente e aproximadamente cinco para cada servidor
lugar, em recursos para custeio menores que o total de gastos.
técnico-administrativo. A importância relativa da pós-graduação
Esse cenário de grandes dificuldades prevaleceu em boa parte
mostrava-se reduzida, com um GEPG (Grau de Envolvimento
do exercício de 2002, estendendo ao ano fiscal de 2003, gerando
com Pós-Graduação) estimada em menos de 0,1. Por outro lado, o
grande apreensão para a UFBA quanto à possibilidade de vir a
Índice de Qualificação do Corpo Docente (IQCD) aproximava-se
cumprir seus compromissos.
de três, numa escala de 0-5.
As condições de funcionamento de muitos dos cursos e pro-
A TSG (Taxa de Sucesso na Graduação) da UFBA situava-se
gramas eram precárias, na época, devido a problemas financeiros
em 0,63. Tal indicador representa a relação entre o número total
da instituição que, por falta de investimentos de capital, levaram
de diplomados no tempo t pelo total de ingressantes no período (t
– i). Esse indicador reflete essencialmente a evasão estudantil que, ao sucateamento da estrutura física e de equipamentos. Em para-
na época, correspondia a 43% dos ingressantes. Além disso, recebe lelo, a contenção do orçamento de custeio resultava em redução
grande influência do tempo médio de conclusão de curso: no caso de atividades essenciais. Com a aceleração da inflação no final do
da UFBA, no período 1980-2002, muito sofremos com greves de ano de 2002, as tarifas dos serviços públicos tiveram reajustes que
superaram os 25%, situando-se bem acima dos índices utilizados
na elaboração do orçamento das universidades federais. Por sua
Quadro 1.2. Resumo de Indicadores da UFBA 2002 — Modelo TCU vez, mudanças introduzidas na execução do orçamento, visando
a adequá-lo aos compromissos assumidos em relação à política
Indicador Dado econômica implicaram em dificuldades para essas instituições
cumprirem suas obrigações regulares junto a concessionárias de
Custo Corrente/Aluno Equivalente 7.765,25
Aluno Tempo Integral/ Professor Eqv. 40h 10,8
serviços públicos, fornecedores e prestadores de serviços, de acor-
Aluno Tempo Integral/ Funcionário Eqv. 40h 4,9 do com os prazos contratuais.
Funcionário Eqv. 40h/ Professor Eqv. 40h 2,2 A crise de recursos humanos da UFBA traduzia-se, em primei-
Grau de Envolvimento com Pós-Graduação — GEPG 0,08 ro lugar, pela reduzida capacidade de reposição de quadros na
Índice de Qualificação do Corpo Docente — IQCD 2,94 quantidade e qualidade necessárias e, em segundo lugar, manifes-
Taxa de Sucesso na Graduação — TSG 0,63 tava-se na desmobilização, desmotivação e desresponsabilização
32 Fonte: Relatório de Gestão UFBA-2002 do seu corpo de servidores docentes e técnico-administrativos. 33
Observava-se, principalmente no corpo docente, uma sensação Enfim, a UFBA cada vez mais se alienava das instituições e mo-
de inferioridade e impotência frente às condições deficientes de vimentos sociais da região e do país. Dois efeitos dessa alienação
trabalho, improdutividade forçada, anomia institucional e, mais social. Por um lado, o autoisolamento e a autorreferência agudi-
que tudo, achatamento salarial imposto pelo governo federal. A zavam as crises internas, impedindo a universidade de reconhecer
persistência dessa situação fomentava aposentadorias precoces, a gravidade da sua própria situação. Por outro lado, a redução do
acumulação de atividades, às vezes até clandestinas, e redução seu valor para a sociedade não atraia forças externas capazes de
da dedicação do profissional ao seu trabalho. Com as mudanças se importar com o destino da Universidade e se mobilizar para
na legislação educacional e trabalhista, a UFBA vinha perdendo resgatá-la da profunda crise em que se encontrava.
professores e pesquisadores atraídos por melhores salários de ins- As universidades são instituições hipercomplexas e, como tal,
tituições privadas e órgãos de governo. suas tensões, problemas e impasses não resultam de causas únicas
No plano social e político mais amplo, afligida pelo conjunto e processos simples. Portanto, naquele momento, nosso foco lon-
das dificuldades apontadas acima, a UFBA sofria um perigoso dis- ge estava de buscar responsabilizar uma ou outra das equipes de
tanciamento da sociedade. Por um lado, esse distanciamento teria gestão que nos antecederam, pela crise, estagnação e isolamento
ocorrido por negligência das lideranças políticas e organismos go- da instituição. Queríamos tão somente entender a estrutura da
vernamentais e não-governamentais, por motivos que não nos ca- problemática que iríamos enfrentar, a fim de apreender a comple-
bem analisar. Por outro lado, há que se cobrar responsabilidades de xidade da trama de fatores que a determinaram, visando a produ-
parte do corpo acadêmico da universidade, incapaz de acompanhar zir soluções e efeitos capazes de provocar mudanças profundas na
as transformações rápidas e profundas da conjuntura atual. Universidade Federal da Bahia.

Escola Politécnica

34 35
CAPÍTULO 2

Planejamento
da inovação
numa instituição
hipercomplexa
novo dispositivo heurístico chamado mapa de rede de impactos,
definindo metas estratégicas cruciais para um projeto de transfor-
Planejamento da inovação mação institucional de maior vulto e ambição.
numa instituição hipercomplexa
EIXOS PROGRAMÁTICOS DO PRIMEIRO MANDATO
Em 1º de Agosto de 2002, assumimos a Reitoria da Universi-
Quando assumimos a Reitoria em 2002, tínhamos clara cons- dade Federal da Bahia com uma proposta de transformação pro-
ciência de que, para concretizar um projeto político de mudança funda da instituição. Este projeto político foi referendado por ex-
profunda numa instituição hipercomplexa como a Universidade, pressiva votação da comunidade universitária. Com vistas a criar
recursos financeiros e insumos concretos são necessários mas não condições para sua viabilização, conforme teremos oportunidade
suficientes. É imprescindível o aporte de investimentos imateriais de avaliar criticamente adiante neste Memorial, nosso primeiro
sob a forma de mobilização política e aplicação de tecnologia ge- mandato foi marcado pelo esforço de saneamento financeiro e re-
rencial para a transformação institucional. Por um lado, teorias organização administrativa da Universidade, buscando recuperar
modernas de planejamento valorizam engajamento e participação sua capacidade de planejamento para nela imprimir um padrão de
de atores e agentes, tanto em relação à eficiência quanto à sus- gestão mais racional, eficiente e criativo.
tentabilidade em termos de resultados organizacionais e impacto
social das intervenções. Por outro lado, não podemos subestimar o
papel de modelos, instrumentos, tecnologias e aplicações do pen-
samento estratégico mais atualizado ao planejamento da inovação.
Neste Capítulo, em primeiro lugar, pretendemos rever estrutu-
ra, conteúdo e eixos programáticos da extensa, embora preliminar,
plataforma eleitoral que nos conduziu à Reitoria da UFBA em
2002. Em segundo lugar, vamos introduzir as metas estratégicas
que, em 2006, compuseram o plano de ação proposto para o se-
gundo mandato, indicando seu caráter de continuidade e detalha-
mento dos eixos programáticos do primeiro termo. Em terceiro
lugar, na parte analítica do texto, apresentaremos os dispositivos
instrumentais de planejamento estratégico que utilizamos para
viabilizar o projeto de transformação institucional.
Em nosso primeiro mandato, para a projeção dos processos de
mudança institucional, utilizamos técnicas de planejamento es-
tratégico. Nesse processo, desdobramos princípios norteadores e
eixos programáticos sequenciados como matrizes de problematiza-
ção, definindo situações-problema, estratégias e ações. No segun-
do mandato, considerando uma situação de transição institucional,
que demonstrava recuperação da capacidade de planejamento e
gestão, consideramos pertinente utilizar técnicas de planejamento
38 sistêmico. No marco desse referencial inovador, empregamos um 39
Todos os princípios e propostas mencionados a seguir foram EXCELÊNCIA ACADÊMICA
extraídos dos documentos da campanha eleitoral para o Reitora- Já em 2002, destacávamos a promoção da excelência acadêmica
do em 2002, demonstrando que várias propostas de reconhecida nas ciências, artes e humanidades como importante prioridade para
atualidade, já naquela época, compunham o horizonte de trans- a instituição universitária. Isto significa transformá-la num quali-
formação por nós pretendido. ficado centro de investigação e criação, inserido numa dinâmica
A consigna Abrace a UFBA, convocatória daquela campanha, simultaneamente local e global. Reafirmávamos, assim, compro-
desdobrava-se nos seguintes eixos: misso com a criação e a inventividade, respeitando singularidades
• cumprimento da missão social da Universidade; e valorizando produções artísticas e tecnológicas no mesmo pa-
tamar da pesquisa científica. Para isso, seria fundamental reforçar
• promoção da excelência acadêmica;
nossa infraestrutura de informação acadêmica por meio de uma
• respeito à diversidade, integração entre saberes; rede de bibliotecas setoriais na UFBA, com articulação de siste-
• competência de gestão acadêmica e administrativa. mas e usuários de tecnologia da informação.
Comprometemo-nos com o resgate da capacidade deliberati-
MISSÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE va dos conselhos superiores da UFBA, dinamizando a atuação do
CONSEPE como principal organismo de coordenação das ativi-
No Plano de Gestão 2002-2006, afirmamos que o cumprimento
dades-fim da universidade, tomando a criação artística e a pro-
da missão social da UFBA constitui elemento crucial para a sua reva-
dução de conhecimento e tecnologia como estruturantes das ou-
lorização enquanto instituição comprometida com a transformação
tras dimensões acadêmicas (ensino e extensão). A nossa principal
da sociedade. Para as formações sociais contemporâneas, a Universi-
meta, nesse aspecto, era superar carências do ensino de graduação,
dade significa a principal fonte de produção de conhecimentos, sabe-
com a melhoria do sistema de avaliação das atividades de ensino.
res, técnicas, culturas e artes. Porém, a missão social da Universidade
repousa sobre sua capacidade de crítica e criação, em contraponto Propusemos promover uma inserção qualificada da UFBA no
dialético com sua natureza de instância de reprodução ideológica. panorama acadêmico nacional e internacional. Isto se alcançaria
mediante ampla veiculação da produção científica, técnica e ar-
Visando a ampliar o papel da UFBA no desenvolvimento local,
tística bem como estímulo e viabilização da participação de pes-
regional e nacional, assumimos compromisso de reativar a capa-
quisadores, docentes e técnicos em grupos de trabalho, comitês ou
citação da universidade na prestação de serviços à sociedade. Isto
eventos das respectivas áreas de atuação. A priorização da produ-
implicava, por um lado, descobrir os nichos da nossa competência.
ção artística e científica de modo algum deveria resultar em de-
Por outro lado, significava identificar problemas e demandas sociais
satenção ao ensino e à extensão, evitando-se assim transformar a
e construir a competência necessária (ou importá-la quando exce-
universidade em centro de excelência formado por pesquisadores
desse nossa capacidade) para dar respostas sociais com eficiência.
ou artistas que não ministram aulas.
Para avançar no cumprimento da missão social da Universida-
de, já em 2002 propúnhamos um Programa de Inclusão Social.
DIVERSIDADE E INTEGRAÇÃO
Isso implicava ampliar acesso e viabilizar permanência de setores
carentes na universidade pública federal mediante ampliação de Componente essencial do nosso projeto político, afirmamos que
vagas na graduação, preferencialmente em horário noturno. Em o respeito à diversidade intelectual, artística, institucional e política de-
articulação com iniciativas pró-inclusão na UFBA, consideramos fine a instituição universitária enquanto organização efetivamente
pertinente, desde aquela época, uma política de reserva de vagas comprometida com a mudança, a criação e a inovação. Não obstan-
para estudantes socialmente carentes. te, como instituição, a UFBA deveria buscar integração e articula-
40 41
ção dos múltiplos elementos da sua rica diversidade através de um
planejamento estratégico, com efetivos monitoramento e avaliação.
Propusemos ampliar as opções institucionais de organização das
atividades de pesquisa, criação e extensão, multiplicando as possi-
bilidades de captação extraorçamentária e realização de atividades
extraprogramáticas. Com isto, buscávamos incentivar a criação de
centros e núcleos interdisciplinares e interunidades de pesquisa e
criação. A relação da universidade com tais opções institucionais
deveria ser objeto de regulamentação clara e negociada.
Constavam do nosso programa, já em 2002, políticas facilitado-
ras da integração física entre unidades, setores e campi da UFBA:
centros de convivência interunidades, passarelas, paisagismo, ar-
borização para sombreamento. Outras metas nesse item incluíam:
sistema de transporte coletivo intercampi não-poluente, melhoria
dos sistemas de comunicação, implantação da Reitoria Itinerante,
fomento à prática de esportes e lazer, com a instalação de equipa-
mentos esportivos nos campi universitários.

COMPETÊNCIA DE GESTÃO 
No Plano de Gestão 2003-2006, afirmamos também que, so-
mente com uma gestão competente, a universidade poderia cum-
prir sua missão social. O princípio administrativo da eficiência –
obrigação de toda instituição pública – implica potencializar os
recursos existentes, reformando estruturas, simplificando redes de
gestão e valorizando as pessoas que fazem funcionar a universida-
de. Transparência de estruturas deliberativas e de recursos finan-
ceiros, controle social, participação da comunidade acadêmica, faculdade ou instituto em centro de custos, unidade orçamentária
promoção de deliberações coletivas, efetivação das decisões cole- autônoma financeiramente equilibrada.
giadas, publicização dos atos universitários e eficiência gerencial Para isso, postulamos uma política de maior acesso à infor-
são corolários deste princípio. mação acadêmica, institucional e contábil, com transparência e
Propusemos descentralizar a gestão administrativa e financei- abertura. Esta abertura de acesso à informação (elemento aliás
ra da UFBA a partir de uma Reforma Administrativa, buscando estreitamente ligado à questão da democracia) deveria ser amplia-
ampliar a autonomia interna da UFBA, reduzindo ao máximo a da para uma política de comunicação mais democrática e ampla,
burocracia da instituição. Isto implicava enxugar a administração que garantisse não só acesso à informação interna, mas também
central, dotando cada unidade de capacidade de gestão acadêmica divulgação transparente da UFBA num processo de comunicação
e administrativa com autonomia (a maior possível naquele mo- permanente com a sociedade, construindo vias de mão dupla no
mento). Como objetivo imediato, propusemos tornar cada escola, fluxo da informação.
42 43
Ademais, postulamos aperfeiçoar os recursos de infraestrutura, humanos e financeiros próprios, junto com a reestruturação da
materiais e financeiros, implementando estratégias para utiliza- vigilância terceirizada. Para a sustentação do sistema, propusemos
ção plena da capacidade instalada da UFBA. O gerenciamento do o estabelecimento do Fundo de Segurança dos Campi da UFBA.
tempo dos docentes e técnicos poderia ser em muito melhorado. Comprometemo-nos, enfim, a implementar uma política de
Cada hora de sala vazia, laboratório sem uso, serviço ou equipa- apoio ao corpo estudantil sem clientelismos nem assistencialis-
mento ocioso, docente ou técnico sem atividade significava, para mos. A política institucional para assuntos estudantis que propu-
nós, malversação de recursos públicos. semos ultrapassaria questões exclusivamente assistenciais. Deve-
Propusemos efetivar uma reforma organizacional profunda na ria ser mais ampla e incorporar temas acadêmicos e culturais. Para
UFBA, mediante revisão do Estatuto e elaboração do novo Regi- isso, propusemos fomentar a participação do corpo discente na
mento Geral, a fim de privilegiar aspectos acadêmicos, simplificar formulação e implementação de programas de desenvolvimento
estruturas, agilizar rotinas, melhorar serviços prestados, raciona- de pessoas. Dessa maneira, esperávamos evoluir para a autogestão
lizar recursos financeiros, patrimoniais e humanos e viabilizar a dos organismos responsáveis pelas políticas de apoio aos estudan-
competência de gestão. A normalização do arcabouço jurídico da tes, gerenciando de modo participativo um Fundo de Assistência
Universidade deveria ser capaz de propiciar redução da burocra- Estudantil a ser implementado na UFBA.
cia e inércia dos processos internos da UFBA. Consequentemente,
Este conjunto de princípios orientadores, eixos programáticos
significava reforço da função acadêmica das congregações e dos
e propostas de ação do nosso Plano de Gestão 2003-2006 propi-
colegiados de cursos.
ciaram racionalidade e melhor desempenho nas iniciativas e inter-
No Plano de Gestão 2003-2006, definimos como prioridade venções realizadas por nossa equipe de gestão durante o primeiro
elaborar um Plano Diretor para os campi da UFBA, retomando as mandato. A avaliação de resultados e efeitos dessas políticas, es-
propostas da Comissão de Patrimônio do Conselho Universitário, tratégias, programas e projetos constitui objeto deste Memorial,
incluindo um plano de gerenciamento ambiental do campus, en- principalmente o Capítulo 9.
volvendo o uso de recursos (água, energia), destino do lixo, postos
de reciclagem, disciplinamento e gerenciamento de estacionamen-
METAS ESTRATÉGICAS DO SEGUNDO MANDATO
tos. Isso implicava cuidadosa avaliação da situação fundiária dos
imóveis da UFBA, convergindo para o estabelecimento de modelo Em 2 de agosto de 2006, tomamos posse na Reitoria da UFBA,
jurídico e administrativo para a reforma patrimonial. em segundo mandato para o quadriênio 2006-2010. A campanha
Apresentamos, como proposta base do eixo Política de Valori- eleitoral tinha sido marcada pelo debate em torno da autonomia
zação de Pessoal, a criação da Pró-Reitoria de Desenvolvimento de universitária e das ameaças de privatização da universidade (com
Pessoas (que foi efetivamente aprovada pelo Conselho Universi- todos os mal-entendidos pertinentes ao tema). Ganhamos com
tário em outubro de 2002), visando à capacitação continuada dos margem de votos ainda mais expressiva que na eleição de 2002.
funcionários, qualificação de docentes e pesquisadores e apoio aos Após a eleição, nossa equipe de gestão recebeu a missão de pros-
estudantes, numa perspectiva de valorização das pessoas. Isso im- seguir na tarefa de buscar transformar a desgastada e combalida
plicava uma política de desenvolvimento de pessoal valorizadora instituição universitária num organismo vivo e dinâmico, compro-
dos trabalhadores técnico-administrativos e docentes. metido socialmente tanto quanto competente academicamente.
Propusemos a adoção de medidas específicas voltadas para au- Entendemos nossa recondução à Reitoria como efeito de uma
mento da segurança nos campi, contribuindo para implementação demanda social mais ampla: o processo de transformação da UFBA
de ações intersetoriais de promoção da paz em Salvador. Den- precisava avançar e aprofundar, dando continuidade à expansão
tre tais medidas, destacamos inicialmente a utilização de recursos do ensino superior público da Bahia. Isso permitiu atualizar nosso
44 45
compromisso perante à comunidade universitária e a sociedade
baiana, apresentando uma nova pauta de trabalho para os quatro
anos seguintes. Nesse documento, foram declarados três pilares de
sustentação do nosso projeto político-acadêmico:
• Reafirmação permanente do caráter público da universida-
de, garantindo acesso amplo à educação superior. A educa-
ção é um bem comum que traz benefícios para toda a socie-
dade. A universidade deve se constituir em instrumento de
mobilidade e mudança social, além de fonte de redução das
desigualdades, imprescindível para consolidação da identi-
dade nacional.
• Ampliação da autonomia da universidade. A autonomia
deve abarcar, além dos aspectos acadêmicos, recursos finan-
ceiros, política de pessoal e escolha de dirigentes. A estabili-
dade do financiamento da universidade pública brasileira é
uma questão republicana prioritária. No entanto, o conceito
de autonomia aplicado à universidade pública inclui ainda a
necessidade de controle pela sociedade, a quem a instituição
deve prestar contas.
• Respeito à pluralidade e diversidade intelectual, artística,
cultural, institucional e política. A valorização da pluralida-
de e da liberdade de atuação deve resultar em estratégias
capazes de produzir saberes e práticas inter e transdiscipli-
nares, a fim de fundamentar as mudanças tão necessárias em
nossa sociedade.
As ações que compuseram a nova pauta foram balizadas por três
diretrizes, reafirmando as bases do Plano de Gestão 2003-2006:
• Ampliação contínua da excelência acadêmica. Essa diretriz
estruturava-se sobre um pressuposto -- o primado da inova-
ção na universidade. Para isso, pesquisa e criação devem ser
vistas como estruturantes das outras dimensões acadêmicas:
ensino e extensão.
• Aprofundamento do compromisso social por meio de po-
líticas capazes de transformar a excelência acadêmica em
efetivo instrumento para a transformação social. Isso signi-
fica identificar problemas e demandas sociais e construir as
46 competências necessárias para propor respostas eficazes, ou 47
estabelecer relações de parceria, quando essas demandas ex- Modernização Didático-Pedagógica – Considerávamos funda-
cederem nossa capacidade. Implicava, também, ampliar seu mental incentivar uma atmosfera capaz de estimular o desenvolvi-
papel no desenvolvimento local e regional, inclusive pela mento do espírito crítico dos estudantes e capacitar o profissional
expansão das fronteiras de atuação, em direção ao vasto ter- a buscar o conhecimento para solucionar problemas identificados
ritório baiano. na sua prática. Neste sentido, deveriam ser criadas condições para
• Inovação na gestão institucional e acadêmica para a melho- ampliar o uso de técnicas pedagógicas orientadas pela autonomia,
ria contínua dos serviços prestados pela UFBA. A excelência a exemplo do PBL e do ensino à distância.
acadêmica com compromisso social só é sustentável me- Reestruturação da Oferta de Cursos – Propusemos uma mo-
diante processos gerenciais capazes de privilegiar atividades dularização dos currículos de graduação, possibilitando a oferta
finalísticas. de cursos concentrados num único turno, principalmente à noite.
Essa medida facilitaria o acesso a estudantes socialmente carentes
Estes valores e diretrizes se desdobravam em projetos e ações
que necessitassem trabalhar. Visava, também, a ampliar a oferta
concretas, com que pretendíamos tornar realidade os compromis-
de vagas, por meio da melhor utilização dos recursos existentes.
sos aqui firmados. Todos os princípios e propostas mencionados a
seguir foram extraídos dos documentos da campanha eleitoral pela Pesquisa na Graduação – Estimular iniciativas de integração da
nossa recondução à Reitoria em 2006, mais uma vez demonstrando graduação com a pesquisa e extensão, a exemplo das Atividades
a atualidade do projeto de transformação institucional proposto. Curriculares em Comunidade (ACC), Programa Especial de Tu-
toria (PET), Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cien-
tífica (PIBIC), empresas juniores e serviço de assistência jurídica.
EXCELÊNCIA ACADÊMICA
Intercâmbio na Graduação – Ampliar o intercâmbio de estu-
No documento de propostas para a reeleição em 2006, assu-
dantes de graduação, tanto pela recepção de estudantes de outros
mimos compromisso em estimular a excelência acadêmica, entre estados e países, como pela participação dos nossos estudantes
outras medidas, com uma política de incentivo ao trabalho inter- em programas de universidades nacionais e estrangeiras. Estimular
disciplinar, interdepartamental e interunidades, buscando ampliar ainda a mobilidade entre unidades e áreas da UFBA.
opções institucionais de atuação, multiplicando possibilidades de
Em nossos documentos de campanha para a eleição de 2006, a
captação extraorçamentária. Isso implicava consolidar progra-
pesquisa era considerada como o principal elemento que confere
mas de renovação do ensino de graduação e incentivar reformas
à UFBA liderança no contexto regional, reconhecimento nacional
curriculares naqueles cursos que ainda não haviam apresentado
e internacional, além de ser vetor de transformação do ensino. A
propostas de atualização, com projetos acadêmico-pedagógicos
UFBA deveria ampliar suas atividades de pesquisa. Para isso, seria
criativos e consistentes, reduzindo as barreiras entre os níveis de
preciso uma política de admissão de pessoal qualificado e motiva-
ensino como, por exemplo, oferta de currículos integrados de gra-
do, bem como diversificar fontes de financiamento.
duação e pós-graduação.
Nesse sentido, reafirmamos uma política de qualificação e ex-
Os seguintes projetos visavam a dar continuidade à ampliação
pansão da pesquisa e pós-graduação na UFBA, tendo em vista seu
e qualificação dos cursos de graduação:
caráter estruturante e sua importância para a excelência da gradu-
UFBA Nova – Incentivar a abertura de programas experimentais ação e da extensão. Tal política não é de modo algum contraditória
de cursos interdisciplinares de graduação, não-profissionalizantes com financiamentos captados sob a forma de convênios com en-
ou não-temáticos, com projetos pedagógicos inovadores, em gran- tidades parceiras, destinados a viabilizar atividades de relevância
des áreas do conhecimento, como por exemplo Humanidades, Ar- social e alto interesse acadêmico, com transparência de gestão e
48 tes, Ciências Moleculares, Tecnologias, Saúde, Meio Ambiente. sob eficiente controle institucional e social. 49
Consolidação do NPI/UFBA – Núcleo de Propriedade Intelec-
tual da UFBA, organismo destinado a registrar e proteger direitos
sobre obras de criação, marcas e produtos de conhecimento gera-
dos pela UFBA.
Sistema de Bibliotecas – Consolidar o Sistema de Bibliotecas da
UFBA, racionalizando sua estrutura e uso por meio de uma rede
de bibliotecas de médio e grande porte organizadas por área do
conhecimento e localização geográfica, com a requalificação e for-
talecimento da Biblioteca Central.
Internacionalização da Pesquisa e do Ensino – Esta estratégia
pretendia expandir o processo de internacionalização já em curso,
por meio das seguintes ações:
• Projeto UFBA Verão – Universidade de Verão da Bahia: cur-
sos modulares de curta-duração, temáticos, intensivos, desti-
nados ao público nacional e internacional.
• Programa de Intercâmbio Acadêmico na Graduação – Conso-
lidação e ampliação do programa em curso, com incentivo
e foco especial nos estudantes participantes do Programa de
Ações Afirmativas.
• Programas de Pós-Graduação em Rede Internacional – Progra-
mas em cotutela e dupla titulação, inicialmente com univer-
sidades da União Europeia engajadas no Acordo de Bolonha,
Os seguintes projetos visavam à promoção da excelência aca- o qual prevê a criação de espaços universitários internacio-
dêmica na pesquisa e na pós-graduação: nais comuns.
Melhoria e Expansão da Pós-Graduação – Defendemos que a • Programas Transnacionais de Pesquisa e Formação – Progra-
UFBA deveria expandir sua pós-graduação, tendo como meta a mas em cooperação com universidades na Comunidade dos
criação de cursos em todas as unidades, além de cursos interdis-
Países de Língua Portuguesa (CPLP), com foco na África lu-
ciplinares. Os cursos existentes deveriam melhorar seu desempe-
sófona, na Região do Mercosul e em outros países da Amé-
nho e, consequentemente, seus resultados na avaliação da CAPES.
rica Latina.
Projeto TecnoUFBA – Ações visando à participação intensiva e
induzida em programas de desenvolvimento científico e tecnoló-
COMPROMISSO SOCIAL
gico do Estado da Bahia, para consolidar a liderança da UFBA no
âmbito regional e sua irradiação para o país. Em nossa plataforma de trabalho para a reeleição de 2006, o
Projeto Interdisciplinaridade – Dar continuidade à promoção de compromisso social da UFBA se refletia em todas as atividades e
programas multi, inter e transdisciplinares de pesquisa e pós-gra- ações, considerando que a universidade é mantida pela sociedade
duação, consolidando e ampliando o que já vinha sendo feito nas e a ela deve responder. Nesse sentido, propusemos as seguintes
unidades universitárias e nos antigos órgãos suplementares. estratégias e projetos:
50 51
UFBA na Sociedade – aprofundamento da política de estímulo Restauração do prédio da Faculdade de Medicina da UFBA –
à interação da Universidade com as diversas instâncias sociais, ten- Completar a restauração arquitetônica do complexo arquitetô-
do em vista a ampliação do seu papel no desenvolvimento local, nico no Terreiro de Jesus. Além disso, concluir a restauração do
regional e nacional: acervo bibliográfico e documental resgatado das ruínas do prédio
• Programa de Educação Permanente – cursos modulares de ex- da antiga biblioteca. Esse projeto teve como horizonte a celebra-
tensão, aperfeiçoamento e especialização destinados a gra- ção dos duzentos anos da Faculdade de Medicina.
duados ou estudantes de outras universidades, atendendo às Sistema Universitário de Saúde – Consolidar o processo de inte-
demandas sociais por educação continuada. gração das unidades assistenciais de saúde em termos de infraes-
• Programa de Cursos Temáticos Pré-Universitários – cursos, trutura e localização, com gestão articulada, racionalizando recur-
em modalidade de extensão, dirigidos a setores socialmente sos humanos, administrativos e financeiros.
excluídos, para estudantes que tenham concluído o ensino • Instituto de Saúde da Mulher Climério de Oliveira – Trans-
médio em escolas públicas. ferir a Maternidade Climério de Oliveira para o Campus
• Programa de Ensino à Distância – vinculado à Universidade Canela, promovendo-a como unidade docente-assistencial
Aberta do Brasil, destinado à formação profissional e peda- de alta complexidade e tornando-a referência para o SUS
gógica, articulado a um consórcio municipal para o fomento municipal e estadual.
do ensino superior público na RM de Salvador.
• Incubadora de ONGs Juniores – Programa de ação temática
social e ambiental, visando a propiciar aos egressos da UFBA
experiência de atuação no terceiro setor.
UFBA Ecológica – Consolidar e ampliar ações de proteção ao am-
biente nos campi da UFBA, a exemplo do Memorial da Mata Atlân-
tica (implantado em 2004), com a promoção de eventos capazes de
aumentar a consciência ecológica da comunidade universitária. Este
programa deveria ser completado com a instalação de organismos
permanentes de supervisão e assessoramento em questões ambientais.
UFBA Cultural – Dotar a Universidade de políticas institucio-
nais capazes de dinamizar as atividades culturais, propiciando in-
terlocução permanente entre os centros de criação, formação e
estudos em cultura da UFBA e a sociedade.
Rede de Museus – Reestruturar a rede de museus universitá-
rios, consolidando aqueles já existentes e implantando dois novos
projetos museológicos: o Museu de História Natural e a Estação
Ciência (Museu de Ciência e Tecnologia).
Difusão das Artes – Ampliação do programa de difusão da pro-
dução artística em curso na UFBA, alcançando os mais amplos
setores da comunidade, além de contribuir para a integração entre
52 as diferentes unidades. 53
• Distritos Sanitários Docente-Assistenciais – Inserção qualifi- Nesse sentido, em nosso programa de trabalho de 2006, incluí-
cada das unidades assistenciais do SUS nos programas de mos os seguintes projetos e propostas:
ensino na área de saúde, com a incorporação da gestão local Reforma do Estatuto e do Regimento Geral, bem como atualiza-
ao âmbito acadêmico, com prioridade para o Programa de ção do conjunto de normas das áreas de ensino, pesquisa e exten-
Saúde da Família. são, órgãos e unidades. Novos documentos institucionais deveriam
Dinamização do Centro de Esportes de Ondina – Reforma dos permitir uma organização interna capaz de refletir a missão da
equipamentos esportivos da UFBA concentrados em Ondina. Universidade e uma gestão orientada para a excelência.
Além de servir à prática de esportes pela comunidade universitá- Plano Diretor da UFBA, elaborado de modo amplo e participa-
ria, tais equipamentos seriam postos à disposição da comunidade tivo, garantindo o respeito às propostas das unidades acadêmicas,
em programas de inclusão social pelo esporte. subsidiando assim o processo de reforma patrimonial.
Consolidação da interiorização – Programas da pauta anterior que se • Recuperação da infraestrutura física, dotando as unidades de
encontravam em andamento: colaboração com a implantação da UFRB, condições de trabalho dignas e compatíveis com ensino, pes-
Campus Professor Anísio Teixeira e Campus Reitor Edgard Santos. quisa e extensão de qualidade.
Implantar o Programa de Apoio Social aos Estudantes, compre- • Consolidação do campus de São Lázaro, incluindo constru-
endendo as seguintes propostas: ção de novo pavilhão de aulas e reforma das instalações exis-
• Criação da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Es- tentes, com urbanização e segurança. A meta era valorizar
tudantil, destinada à gestão do Programa de Ações Afirmati- aquele espaço, no contexto do Plano Diretor, integrando-o
vas e Apoio Social aos Estudantes da UFBA. ao campus de Ondina.

• Criação do Fundo de Apoio Social ao Estudante, formado com Plano de Reestruturação da Jornada de Trabalho dos servidores
recursos do orçamento da União, emendas parlamentares e técnico-administrativos da UFBA, a ser submetido ao Conselho
convênios. Universitário dentro dos princípios da legislação vigente, com im-
plantação do turno contínuo nas unidades e órgãos que estende-
• Conclusão do Restaurante Universitário de Ondina e viabi-
rem seus horários de funcionamento, dando prioridade a cursos
lização do Restaurante Universitário do Canela/Graça, no
noturnos e atividades acadêmicas em fins de semana.
contexto do Plano Diretor.
Programa de Educação Continuada dos Servidores Técnico-Admi-
• Abertura de Novas Residências Universitárias, em Ondina (Ga-
nistrativos da UFBA – Articulado à reestruturação da jornada de
ribaldi) e Canela/Graça, com ampliação das bolsas-moradia.
trabalho, compreende atividades de qualificação, aperfeiçoamento
• Implantação de programas de Bolsa-Trabalho, Bolsa-Moni- e educação permanente, integradas aos programas de graduação e
toria e Iniciação Científica Especial (com prioridade para pós-graduação da UFBA.
estudantes do Programa de Ações Afirmativas).
Projeto UFBA Saúde – Incentivo à implantação do Plano de
Saúde UFBA, para servidores técnico-administrativos e docentes,
INOVAÇÃO NA GESTÃO reestruturando o SMURB no contexto da implantação do Sistema
Para a promoção da excelência acadêmica com compromisso Universitário de Saúde, com integração física e funcional de todas
social, de modo sustentável, será necessário realizar investimentos as unidades assistenciais no Campus Canela.
em infraestrutura, formar pessoal capacitado, implantar processos Projeto UFBA Digital – Compreendendo ações para:
gerenciais que privilegiem as atividades finalísticas e rever o arca- • equipar e manter laboratórios especializados de informática
54 bouço normativo da universidade. nas unidades; 55
• abertura de espaços de livre acesso a computadores e cone-
xão Internet;
• informatização de programas, procedimentos, processos e
consultas, incluindo matrícula on line;
• expandir o acesso on line à produção científica e artística da
UFBA;
• disponibilizar acesso à internet e endereço eletrônico aos
participantes do Programa de Ações Afirmativas.
Concluímos este eixo do nosso Plano de Gestão 2006-2010
com mais três proposições:
a) dar continuidade à implantação do Programa de Avaliação
Institucional;
b) concluir a implantação do Programa de Segurança nos cam-
pi da UFBA, seguindo as diretrizes aprovadas pelo Conselho
Universitário;
c) instalar a Ouvidoria Universitária, dotando a UFBA de me-
canismos de transparência e avaliação contínua, com acesso aber-
to a toda a comunidade.

DO PLANO DE METAS À REDE DE IMPACTOS


Em nosso primeiro mandato, utilizamos técnicas convencionais
de planejamento estratégico para a projeção dos processos de mu-
dança institucional propostos.
Nos meses finais do exercício de 2002, nossa plataforma elei-
toral foi revista a partir de uma série de reuniões técnicas, ofici-
nas e seminários que resultou num extenso programa de trabalho
para o Reitorado que se iniciava. A partir de princípios e eixos
de atuação previamente estabelecidos, buscamos a definição de
objetivos realistas e viáveis. Aquele programa foi desdobrado em
estratégias e ações que compuseram um Plano Estratégico de
Metas, visando ao desenvolvimento institucional da UFBA no
quadriênio 2003-2006.
Para viabilizar as etapas prévias necessárias ao projeto de trans-
formação institucional que postulávamos para a UFBA, os prin-
cípios norteadores e eixos programáticos foram sequenciados,
56 definindo situações-problema, estratégias e ações. Nesse processo, 57
Quadro 2.1. Plano Estratégico de Metas 2003-2006
Princípio Objetivos Metas Estratégicas
Princípio Objetivos Metas Estratégicas Respeito à Implementar políticas 21. Promoção e proteção ao meio-ambiente nos
pluralidade, de integração entre campi***
Promoção Valorizar produções 1. Promoção de meios institucionais para aumentar promoção da unidades, setores e
da excelência científica, tecnológica participação da UFBA em programas de financia- 22. Organização de um sistema de transporte cole-
integração campi da UFBA tivo intercampi*
acadêmica e artística no mesmo mento à ciência e tecnologia***
patamar 2. Fomento à produção artística na universidade e 23. Melhoria dos sistemas de comunicação***
sua difusão social como atividade privilegiada de 24. Implantação da Reitoria Itinerante**
pesquisa e extensão*** 25. Reabertura do Colégio de Aplicação, dirigido
Superar carências do 3. Melhoria do sistema de acompanhamento e ava- a filhos de servidores e setores carentes da
ensino de graduação liação das atividades de ensino** sociedade. (NC)

Fortalecer sistemas de 4. Organização de um sistema de bibliotecas seto- Gestão I: Aumentar segurança 26. Elaboração de Plano de Segurança da UFBA**
bibliotecas e centros riais na UFBA*** Valorização nos campi 27. Reestruturação da vigilância terceirizada***
de informação 5. Fortalecimento de redes e sistemas de tecnologia de pessoas
Implementar política 28. Criação da PRODEP (Pró-Reitoria de Desen-
da informação na UFBA*** de valorização dos volvimento de Pessoas)***
Promover inserção 6. Fomento ao ensino de pós-graduação na UFBA*** servidores e docentes 29. Programas de formação de pessoal com recursos
qualificada da UFBA 7. Apoio à produção científica e tecnológica na próprios da UFBA**
no panorama científico UFBA*** Elaborar política 30. Implementação de um programa de reintegra-
nacional-internacional
especial para os ção social dos aposentados**
Propiciar amplo 8. Aperfeiçoamento dos sistemas de avaliação da aposentados
acesso à informação pesquisa e criação na UFBA** Implementar política 31. Implementação de programas de apoio social
acadêmica institucional de apoio aos estudantes carentes***
ao corpo discente
Missão Conquistar efetiva 9. Apoio às iniciativas da ANDIFES para organiza-
social da autonomia para a ção jurídica das universidades*** Gestão II: Realizar a reforma 32. Elaboração do novo Regimento Geral da
Universidade Universidade 10. Articulação ANDES-FASUBRA-ANDIFES* organizacional da UFBA.****
Modernização
administrativa UFBA; normalização 33. Revisão do Estatuto da UFBA.****
Ampliar o acesso 11. Programa especial de ampliação de vagas na regimental
de setores carentes graduação****
à Universidade Descentralizar a gestão 34. Redefinição do papel dos colegiados e
12. Implantação do Programa de Ações Afirmativas acadêmica da UFBA congregações.****
da UFBA***
13. Articulação com iniciativas pró-inclusão social*** Descentralizar a 35. Reforma Administrativa da UFBA nos setores
gestão administrativa de administração e planejamento****
14. Programa de Interiorização da UFBA*** e financeira da UFBA 36. Implementação do Orçamento Participativo*
Estreitar relações da 15. Ampliação do papel da UFBA na prestação de Reduzir a burocracia e 37. Otimização de infraestrutura e gestão de
UFBA na sociedade serviços à sociedade*** inércia dos processos recursos materiais e financeiros**
16. Ampliação da representação da UFBA em orga- internos da UFBA
nismos da sociedade baiana*** Dinamizar a 38. Resgate da capacidade deliberativa do
17. Inserção da UFBA no desenvolvimento local, atuação dos conselhos CONSEPE e do CONSUNI***
regional e nacional*** superiores da UFBA

Respeito à Remover amarras à 18. Promoção de atividades de animação acadêmica*** Implantar Plano Dire- 39. Avaliação da situação fundiária dos imóveis
pluralidade, criatividade e iniciativa tor e Reforma Patrimo- da UFBA***
promoção da nial da UFBA 40. Elaboração de Plano Diretor Físico e Ambiental
integração Ampliar opções de 19. Fomento à organização de centros e núcleos para a UFBA****
promoção da pesquisa, interdisciplinares e interunidades de pesquisa
criação e extensão e criação** 41. Estabelecimento de modelo jurídico e adminis-
trativo para reforma patrimonial. (NC)
Fomentar a prática 20. Instalação de equipamentos esportivos nos cam- * Ações encaminhadas | ** Metas correlatas parcialmente cumpridas | *** Metas correlatas totalmente
de esportes e lazer pi universitários. (NC) cumpridas | **** Metas alcançadas posteriormente | (NC) Metas não cumpridas
58 59
utilizamos um dispositivo instrumental de planejamento estra- Com esse objetivo, utilizamos uma metodologia de plane-
tégico linear chamado matriz de problematização, organizando os jamento não linear recentemente desenvolvida pelo IDRC (ver
princípios e diretrizes assinalados acima em objetivos programá- anexo metodológico a este Capítulo), denominada mapeamen-
ticos sequenciados, dessa forma orientando as estratégias e ações to de efeitos ou impactos (outcome mapping). Como instrumento
componentes do Plano (ver Quadro 2.1). Esta foi a base de refe- de planejamento estratégico, empregamos um novo dispositivo
rência para validação de objetivos e verificação do cumprimento heurístico chamada mapa de rede de impactos (outcome network
de metas pactuadas, cumprindo assim a função indutora do pla- map), capaz de hierarquizar programas e projetos por seu poten-
nejamento participativo. cial de gerar transformação no sistema como um todo. Do que
Durante o ano de 2003, uma pauta detalhada de ações, proje- sabemos, trata-se da primeira tentativa de aplicação dessa nova
tos e programas foi gerada a partir do debate e ajuste dos pontos metodologia de indução da inovação pela via do planejamento no
programáticos do Plano de Metas. Para isso, contamos com a par- contexto hipercomplexo de uma instituição universitária.
ticipação efetiva das instâncias de deliberação e pelos órgãos de Superando o modelo matricial de planejamento que organiza
gestão da UFBA, alimentados por dados produzidos pelos orga- princípios e diretrizes em objetivos programáticos sequenciados e
nismos nacionais de avaliação e por setores de execução da admi- lineares, num quadro de efeitos previsíveis, as estratégias e ações
nistração central. componentes do Plano são representadas por meio de uma rede
Não obstante sua adequação para avaliação direta do desem- hierarquizada, composta por pontos e nexos (links) formalizados
penho e do impacto das ações programadas e executadas, as ma- diferencialmente de um ponto de vista gráfico, na medida do seu
trizes de planejamento têm sua eficácia como dispositivo heurís- impacto sobre a mudança do sistema.
tico limitada a um projeto de gestão conservador do cotidiano e Como podemos ver na Figura 2.1, cada projeto ou programa
das rotinas institucionais. Assim, uma matriz dessa ordem sim- tem como referencial gráfico esferas de diâmetro variável, propor-
plesmente gera um elenco de metas cujo cumprimento se pode cional ao numero de links por ele gerados e que o conectam a ou-
verificar linearmente. tros programas e projetos postulados como estrutura dinâmica do
No Quadro 2.1, por exemplo, verifica-se de pronto que ape- sistema. Programas de maior impacto, geradores de transformação
nas três metas estratégicas (de um total de 41 ítens) não foram nos outros elementos da rede, constituem nós-críticos (hubs) a
alcançadas. Uma delas, a reforma patrimonial proposta como es- serem promovidos e cultivados. Isto se justifica plenamente já que
tratégia para o levantamento de fundos suficientes para pelo me- a meta não é a conservação (o que implica um sistema fechado) e
nos iniciar as obras do Plano Diretor, foi superada com o aporte sim a introdução de mudança profunda (deep change) num siste-
de recursos de investimentos do REUNI (como veremos no Ca- ma institucional aberto.
pítulo 6, adiante). O mapa de rede de impactos demonstrado na Figura 2.1, atu-
Em 2006, na preparação para o segundo mandato na Reitoria, alizado durante todo o percurso do segundo mandato, divide-se
consideramos mais adequado o uso de técnicas de planejamento em quadrantes, equivalentes às diretrizes programáticas definidas
sistêmico não-linear. Essa decisão foi tomada a partir da avaliação em nosso Plano de Ação de 2006. Esses quadrantes são: renovação
sistemática de um processo de transição institucional em curso, e integração do ensino de graduação e pós-graduação; ênfase na
que já revelava impactos positivos de recuperação da capacida- pesquisa, criação e inovação; reafirmação do compromisso social,
de de gestão, tanto institucional quanto acadêmica. Dentro desse redefinindo o conceito de extensão; modernização administrativa
marco referencial, em si inovador, pudemos construir uma matriz com gestão participativa.
integrada de efeitos capaz de articular projetos e programas estra- Notem que os limites entre cada quadrante são representados
60 tégicos necessários à transformação institucional proposta. por linhas pontilhadas, demarcando não fronteiras rígidas, mas 61
Figura 2.1. Mapa de Impactos em Rede no processo de renovação da UFBA
sim áreas de superposição ou de transição. Programas que articu- Não obstante o seu enorme potencial de valorização social da
lam funções designadas por dois ou mais quadrantes podem aí se UFBA perante à sociedade baiana, graficamente, parece evidente
posicionar, como por exemplo, a avaliação institucional entre o no esquema da Figura 2.1 que o fato desta postulação ainda se
campo da pesquisa, criação e inovação e o campo da moderniza- encontrar pendente de concretização, pouco interfere na trajetó-
ção administrativa e os programas Nova ACC e Universidade de ria de mudança institucional radical por que tem passado nossa
Verão entre o ensino e a extensão. universidade.
A iniciativa que assumiu maior prioridade em nossa gestão – o Nessa mesma perspectiva, devemos considerar a restauração do
Plano UFBA Nova – aumenta flagrantemente o peso relativo do imóvel histórico da antiga Faculdade de Medicina da Bahia, situ-
quadrante ensino. Sua importância evidencia-se na riqueza e volu- ado no Centro Histórico de Salvador, como priorização de efeito
me de nexos indutores de transformação do sistema, repercutindo simbólico. Também fica evidente no esquema visual apresentado
diretamente em 18 projetos ou programas. Em seguida, e a ele que, tivéssemos ou não concluído o trabalho de restauro da Ala
fortemente vinculados, destacam-se quatro programas prioritários Nobre da egrégia Faculdade, pouca ou nenhuma repercussão ha-
em segunda linha, como o Plano Diretor Físico e Ambiental e veria sobre o conjunto de elementos da rede de efeitos e seus co-
os programas UFBA Nova Extensão e UFBA Nova Pesquisa. A nexos no sentido da transformação da UFBA. Não obstante, o im-
constelação de efeitos do Plano UFBA Nova na estrutura curri- pacto simbólico é imensurável, visto que se trata do sítio histórico
cular, tais como flexibilização, mobilidade estudantil, Nova ACC, de nascimento da educação superior no Brasil em dois sentidos,
processos seletivos alternativos (Novo ENEM), cursos noturnos, com o seiscentista Colégio dos Jesuítas e com a criação do Co-
internacionalização de cursos, realça a inovação prevista na im- légio Médico-Cirúrgico em 1808, raiz primeira da Universidade
plantação dos Bacharelados Interdisciplinares, vinculada à criação Federal da Bahia.
do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton
Santos. (Ver capítulo 5).
COMENTÁRIO
Além desses elementos inovadores constitutivos da rede de im-
pactos, podemos assinalar a centralidade da normalização estatutá- Diagnóstico detalhado de crises e contexto institucional, tra-
ria e regimental da UFBA. Apesar de tecnicamente não poder ser tamento cuidadoso de situações-problema, saneamento financei-
alinhada como determinante da transformação e sim como efeito ro, reorganização administrativa, crescimento na graduação e na
planejado do processo indutor, esta estratégia significa poderoso fa- pós-graduação, lançamento de alguns programas estratégicos de
tor de consolidação e sustentabilidade das mudanças institucionais mudança, tudo isso fez do nosso primeiro mandato etapa prepa-
produzidas. Assim, é pertinente assinalar que a construção paciente ratória para avanços e propostas de maior fôlego e ambição.
e cuidadosa de uma conjuntura política interna capaz de garantir O segundo mandato justificou-se essencialmente como sequên-
pactos e consensos localizados foi possível pelo sucesso na implan- cia, oportuna e necessária, de um projeto político-acadêmico que
tação do Plano UFBA Nova. De fato, isso propiciou a necessária pretende profunda e radical transformação institucional para a
credibilidade dos órgãos da administração central junto às instân- UFBA. Com esse sentido, reafirmamos princípios, diretrizes, es-
cias deliberativas nos vários níveis de governança da instituição. Esta tratégias, propostas e metas que já faziam parte de documen-
conjuntura política convergente foi o que permitiu a elaboração do tos produzidos por nossas equipes de concepção, planejamento
novo marco normativo (Estatuto e Regimento Geral) da UFBA, que e gestão. Dado o caráter de renovação organizacional e acadê-
será objeto de análise mais detalhada adiante. mica implicado no programa de trabalho que, por duas vezes,
No outro extremo, podemos ilustrar uma situação peculiar, submetemos ao escrutínio da comunidade universitária em elei-
a proposta de criação da Universidade Federal da Bahia Oeste. ções para a Reitoria, rejeitamos vetores institucionais de inércia,
65
conservação e permanência. Buscamos, enfim, aplicar métodos,
técnicas e instrumentos de planejamento-orientado-à-mudança e
de gestão da inovação consistentes com o horizonte de transfor-
mação almejado.

“Reafirmamos o desejo,
por muitos compartilhado,
de resgatar o espírito universitário.”

Não obstante, tínhamos convicção de que, por mais lógicas,


adequadas, atuais e oportunas que fossem, proposições de reestru-
turação institucional teriam possibilidade de tornar-se realidade
somente se contássemos com o apoio crítico dos órgãos delibera-
tivos da UFBA. Com esse espírito, procuramos sempre respeitar
diretrizes e resoluções definidas pelos Conselhos Superiores, onde
se encontram representados os segmentos que compõem o corpo
político da universidade.
Temos consciência de que, durante nosso Reitorado, o respei-
to às normas e instâncias democráticas foi cumprido sem des-
cuidar do compromisso com o novo, visando a soluções capazes
de promover e consolidar as mudanças profundas na instituição
que definiam nosso projeto coletivo. Ao fazê-lo, reafirmamos o
desejo, por muitos compartilhado, de resgatar o espírito univer-
sitário que, para nós, parecia perdido no longo período de es-
tagnação institucional e curricular que caracterizou o passado
recente da UFBA.

66 67
ANEXO METODOLÓGICO
gundo grupo busca a compreensão da dinâmica do sistema pela ava-
O principal pressuposto do planejamento institucional não-linear liação próxima do seu funcionamento ou operação em tempo real,
é que a instituição social constitui um “sistema adaptativo comple- estudando as respostas a estímulos de intervenção ou influência. O
xo”. Trata-se de uma analogia com os sistemas orgânicos, distancian- método chamado Experiential Learning ou “ciclo de Kolb” ilustra esse
do-a da representação de modelos estruturais estáveis resultantes de grupo de abordagens funcionais.
engenharia ou re-engenharia. O planejamento institucional sistêmico
Uma derivação do mapeamento de redes que pretende sintetizar
orienta-se pelo seguinte:
e articular os dois grupos de métodos é a developmental evaluation
• Define o sistema com base nas interações entre pessoas, grupos, de Patton, apresentado como um conjunto articulado de princípios
estruturas e ideias e as condutas, eventos e efeitos por eles produzidos; e procedimentos, concebidos para cada caso, capaz de desenvolver
• Identifica tendências internas para a auto-organização que orien- medidas e mecanismos de monitoramento dos efeitos emergentes ou
tam a emergência da ordem, direção e capacidade do sistema; impactos (outcomes) à medida em que emergem no sistema. Sua prin-
• Focaliza processos mais que estruturas ou efeitos; cipal ferramenta metodológica é o Mapa de Rede de Impactos (Ou-
tcome Network Mapping). Trata-se de uma proposta de representação
• Enfatiza a emergência como base da mudança resultante de infi- em rede não do sistema em si e seus elementos constitutivos, mas da
nitas interações entre um volume imenso de elementos. trama de iniciativas, interferências e influências visando à avaliação
Instituições sociais são sistemas complexos que compreendem evolutiva (ou “desenvolvimental”) da organização ou instituição.
redes em transformação constante, com maior ou menor velocidade O esquema visual do Mapa de Rede de Impactos pode ser em-
de mudança. A mudança sistêmica se dá através de pontos-sensíveis pregado tanto como dispositivo heurístico para exploração e com-
(sensitive influence points), muitas vezes inesperados em natureza, lo- preensão da dinâmica da organização ou instituição quanto como
calização e efeito. É igualmente importante o reconhecimento dos poderoso instrumento de planejamento estratégico da inovação
pontos-duros, determinantes de maior conservação do sistema. Trata-
institucional. Esta propriedade lhe permite hierarquizar programas,
se de elementos da rede-sistema pouco vulneráveis à indução trans-
projetos e ações por seu potencial de gerar transformação no sistema
formadora e que, portanto, exigirão excessivos gastos de energia para
como um todo. Dessa maneira, pode-se considerar, na modelagem
absorver as intenções estratégicas de mudança. Mudanças abruptas
da rede-sistema, pontos sensíveis, ou nós-críticos, pontos-duros e
em sistemas complexos podem produzir efeitos projetados de curto
trajetórias de transformação de uma instituição universitária toma-
prazo que, no longo prazo, não se traduzem em sustentabilidade ou
da como caso de mudança radical ou transformação profunda (deep
consolidação das mudanças. A transformação sustentada e de grande
change) de uma instituição hipercomplexa.
impacto no sistema denomina-se “mudança profunda” (deep change).
A identificação dos pontos sensíveis, também chamados de nós-
críticos, dos pontos-duros e das trajetórias de transformação se alcan- BIBLIOGRAFIA:
ça pelo conhecimento ou compreensão da dinâmica geral do sistema. Creech, H., Willard, T. Strategic Intentions: Managing knowledge
Diversas estratégias metodológicas têm sido propostas para represen- networks for sustainable development. Winnipeg: International Institu-
tar os sistemas de modo a permitir melhor acesso à sua lógica interna te for Sustainable Development, 2001.
e ao entendimento da sua dinâmica geral.
Earl, S., Carden, F., Smutylo, T. Outcome Mapping – Building Lear-
Um primeiro grupo de estratégias, potencialmente mais frutífe- ning and Reflection into Development Programs. Ottawa: International
ras pois alcançam maior facilidade de realização, propõe representar Development Research Centre (IDRC), 2001.
conceitualmente os sistemas institucionais como redes complexas,
Patton, M. Development Innovation: Applying Complexity Concepts
formadas por sujeitos, órgãos e instâncias institucionais, funções,
to Enhance Innovation and Use. New York, NY: Guilford Press, 2010.
ideias, programas e projetos. As redes complexas podem ser repre-
sentadas graficamente por meio de mapas conceituais, diagramas de Smutylo, T. Outcome Mapping: A method for tracking behavioural
linhas (representando conexões) e nodos (representando os elemen- changes in development programs. Rome: Institutional Learning and
tos do sistemas). Dentre os vários métodos disponíveis na literatura Change (ILAC) Initiative, ILAC Brief nº 7., 2005.
especializada, destaca-se o Strategic Clarity Mapping (SCM). O se-
68 69
CAPÍTULO 3

Marcos do
primeiro mandato

Salão Nobre da
Faculdade de Medicina

70 71
Marcos do primeiro mandato

Muitos consideram, por diversas razões, devidamente explicita-


das no Capítulo 4, que a principal marca do nosso primeiro man-
dato foi a implantação do Programa de Ações Afirmativas. Entre-
tanto, cabe assinalar outras ações dessa fase do nosso Reitorado.
Nesse sentido, destacamos neste Memorial quatro processos: a
reestruturação dos Hospitais Universitários da UFBA, o restauro
do complexo arquitetônico da Faculdade de Medicina do Terreiro,
o movimento de interiorização da UFBA e a criação da Universi-
dade Federal do Recôncavo da Bahia.

HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS: CRISE E REESTRUTURAÇÃO


Ao assumirmos a Reitoria em agosto de 2002, encontramos
uma crise profunda nos serviços de assistência à saúde da UFBA,
configurando uma situação preocupante no setor docente-assis-
tencial da universidade, que tinha como pano de fundo a falência
geral dos hospitais de ensino em todo o país.
Os tradicionais hospitais universitários da Universidade Fe-
deral da Bahia – Hospital Professor Edgard Santos (HUPES) e a
Maternidade Climério de Oliveira (MCO) – têm sido referência
social e assistencial para atendimento à saúde dos segmentos mais
carentes da população baiana desde a sua fundação no século pas-
sado. Por seu turno, o Serviço Médico Universitário Rubens Brasil
(SMURB) vinha prestando valiosa contribuição à assistência estu-
dantil e aos servidores docentes e técnico-administrativos.
Não obstante sua importância e prestígio, os serviços de saú-
de da UFBA sofriam sérios problemas estruturais e conjunturais:
situação financeira deficitária, reduzida competência de gestão,
conflitos jurídicos, contexto de política institucional turbulento.
A situação financeira do sistema, encontrada em outubro de 2002,
era gravíssima e já ameaçava a idoneidade creditícia e a viabilidade
72 institucional da FAPEX, organismo de apoio à pesquisa e exten- 73
são responsável pela execução financeira dos serviços de assistên- do por meio de serviços terceirizados. Havia problemas no setor
cia à saúde da UFBA. A gravidade da situação expressava-se nos de compras, onde foram encontrados cinco CNPJs diferentes em
seguintes tópicos: nome da FAPEX. Ao lado de uma grande fragilidade gerencial e
• o HUPES, com faturamento mensal em torno de 900 mil contábil (setor também terceirizado), os controles de qualidade e
Reais, tinha um déficit operacional de 15,6% ao mês; sistemas de cobrança de serviços eram inadequados e ineficientes.

• a MCO, com faturamento mensal em torno de 180 mil, ti- Uma rápida análise da situação permitiu descortinar o seguinte:
nha um déficit de 22% ao mês; • a crise nacional dos hospitais universitários, os defeitos es-
• o fundo de reserva para pessoal estava quase esgotado: de truturais e a política institucional constituíam fatores deter-
2,8 milhões recolhidos, restavam apenas 384 mil; minantes da crise;

• falta de pagamento da contrapartida dos projetos do RE- • verificava-se uma diminuição significativa da produção de
FORSUS, sob risco de devolução de recursos já investidos; serviços, com prejuízos para assistência, ensino e pesquisa
nas unidades de saúde;
• havia mais de 140 títulos protestados, resultantes de vultoso
débito a fornecedores. • a situação financeira dos hospitais era gravíssima e necessi-
tava solução imediata posto que a Lei de Responsabilidade
O componente administrativo da crise compreendia várias la-
Fiscal e acórdãos do TCU impunham equacionamento fi-
cunas e dificuldades, identificadas com base em análise da situação
nanceiro de contas públicas a cada exercício.
em novembro de 2002. Em primeiro lugar, inexistiam planos es-
tratégicos de gestão. Além disso, observava-se reduzida governabi- No plano político-institucional local, sérias questões jurídicas
lidade do sistema provocada pela exclusão de profissionais expe- resultavam de denúncias fartamente veiculadas na imprensa local
rientes disponíveis no quadro da instituição. A política de pessoal entre outubro de 2002 e fevereiro de 2004, pertinentes princi-
era flagrantemente inadequada, com inchaço de pessoal contrata- palmente ao HUPES. Em relação à diretoria, apareciam denún-
cias de prevaricação, corrupção, gestão temerária da coisa pública,
cobrança fraudulenta do SUS, política de pessoal persecutória,
ineficiência e insolvência. Para resolver tais situações críticas, so-
luções de emergência foram acionadas. No âmbito da gestão ins-
titucional, a partir de recomendação de comissões de inquérito e
do Conselho Deliberativo, determinamos o afastamento da Di-
retoria do HUPES, com a organização de nova equipe dirigente,
juntamente com a contratação de consultorias especializadas. O
diretor da MCO renunciou e outro diretor pro tempore, indicado
pelo Conselho Deliberativo, foi nomeado. Além disso, foi implan-
tado um grupo de trabalho para acompanhamento da gestão dos
hospitais universitários.
A sociedade civil Fundação Baiana de Cardiologia, median-
te convênio de prestação de serviços celebrado originalmente em
1990, vinha gerenciando a Unidade de Cirurgia Cardiovascular
(UCCV) do HUPES durante os quatro reitorados que nos antece-
deram. Contra ela, pesavam denúncias de dupla cobrança indevida
74 75
do SUS e de convênios, superfaturamento, discriminação no aten-
dimento a pacientes e segregação de estudantes. Essas denúncias
foram tratadas com o rigor determinado pela legislação pertinente. SOBRE A RESCISÃO DE CONVÊNIO COM A FBC
1. Em 27/01/2003, o Conselho Universitário (CONSUNI) recomen-
A Reitoria instaurou Processo Administrativo Disciplinar, Co-
dou à Reitoria rescindir o convênio UFBA-FBC e deliberou encami-
missão de Inquérito para apurar denúncias de irregularidades ad- nhar os processos pertinentes ao Ministério Público Federal (MPF) e
ministrativas e Comissão de Sindicância para investigar denún- à Controladoria Geral da União (CGU).
cias relativas à má administração. Além disso, foram feitas gestões 2. O MPF determinou a continuidade da prestação de serviços pela
FBC-UCCV/HUPES, à época única provedora de assistência cardio-
junto ao Ministério Público Federal para acompanhamento dos
lógica de alta-complexidade ao SUS no município de Salvador.
processos e à Polícia Federal para abertura de inquéritos policiais 3. Em 28/05/2003, o Reitor firmou Termo de Rescisão com a FBC,
para investigar possíveis coautores dos ilícitos apurados, externos com desativação gradual das atividades da UCCV/HUPES, atenden-
à UFBA. Esses processos foram concluídos, com identificação e do ao CONSUNI e ao MPF.
punição de todos os envolvidos; na presente data, encontra-se sub 4. No âmbito da Reitoria, foi designada em 24/09/2003 uma Comis-
são Especial para supervisionar o TR UFBA-FBC e em 15/01/2004
judice a cobrança dos débitos, decorrente de um processo de To-
foi estabelecida uma Comissão de avaliação patrimonial da UCCV.
mada de Contas Especial. No âmbito do HUPES, sob supervisão da Coordenação de Controle
No âmbito financeiro, realizou-se detalhada auditoria das con- Interno da UFBA, foi constituída Comissão Técnica para revisão do
tombamento dos bens e equipamentos localizados na UCCV/HUPES.
tas dos hospitais na FAPEX, juntamente com a retirada da auto- 5. Entre 27/10/2003 e 06/12/2003, atendendo demanda do MP Fede-
nomia de compras e o bloqueio dos CNPJs. Em segundo lugar, ral na Bahia, o DENASUS realizou auditoria na FBC, para apurar “pos-
procedeu-se à cobertura emergencial dos débitos mais prementes sível prática de delitos contra a Administração Pública e contra a ordem
e a regularização das contratações indevidas. Além disso, foram tributária, consistentes em irregularidades na contabilidade da FBC”.
6. A cessação de todas as operações da FBC no HUPES/UFBA ocor-
celebrados convênios com a Secretaria Estadual de Saúde e com o
reu em 28/11/2003, sem prorrogações.
Ministério da Saúde, viabilizando recursos emergenciais para su- 7. A UFBA foi instruída a contratar auditoria independente para os
perar o desabastecimento das instituições, o que inviabilizava a distratos patrimonial e contábil. A contratada (HLB Audilink, em-
recuperação do seu faturamento. presa de auditagem sediada em São Paulo, portadora de franquia in-
ternacional) encontrou um débito da UFBA de R$ 37.453.023,15, a
As bases para uma reconstrução institucional dotada de maior favor da FBC.
sustentabilidade foram dadas quando, no início do ano de 2003, 8. Os relatórios técnicos DENASUS e HLB Audilink foram anali-
no auge da polêmica que resultou na rescisão do convênio com a sados pela Coordenadoria de Controle Interno da UFBA que, em
22/02/2005, contestou o Relatório Contábil da HLB Audilink, por
Fundação Baiana de Cardiologia, a Reitoria solicitou ao Ministro
inobservância de regras básicas de auditoria e parcialidade nas inter-
da Saúde incluir a UFBA no plano nacional de recuperação dos pretações.
hospitais universitários. Foi então formada uma Comissão inter- 9. A partir do exame do material levantado pela própria empresa de
ministerial, com consultores e técnicos das universidades envolvi- auditoria contratada, a Coordenadoria de Controle Interno da UFBA
das e dos Ministérios da Saúde e da Educação. concluiu que a Fundação Baiana de Cardiologia devia à UFBA um
total de R$ 47.971.744,66.
No âmbito local, instituímos um Grupo de Trabalho, composto 10. Após exame detalhado do processo em causa, a Reitoria decidiu
por membros dos conselhos de gestão dos órgãos que compunham a acatar todas as recomendações da sua Coordenadoria de Controle
rede assistencial da UFBA, e uma representação da Comissão MEC- Interno no tocante ao balanço contábil, com imediata remessa do
Processo 23066.002690/05-04/PROPLAD/UFBA à Controladoria
MS, além de consultoria financiada pela Organização Panamericana Geral da União, seguindo o item 9.3 do Acórdão n. 1.860/2003/
da Saúde. O GT concluiu diagnóstico detalhado, apresentado no TCU/Plenário. O processo foi encaminhado ao MP Federal para as
Seminário Nacional do Programa de Recuperação dos Hospitais devidas providências referentes ao ressarcimento de eventuais danos
Universitários do Brasil, realizado em Salvador (em agosto de 2003). ao Erário Público.
76 77
A análise de situação permitiu identificar sérios problemas estru- • o HUPES atualmente opera com
turais no sistema de prestação de serviços de saúde da UFBA. Em 203 leitos e, neste ano, apresenta
primeiro lugar, destacava-se a multiplicidade, diversidade e redun- um faturamento mensal em tor-
dância do conjunto, totalizando 10 unidades e órgãos envolvidos no de 3,5 milhões;
em atividades docente-assistenciais e/ou simplesmente prestação • a MCO mantém hoje 103 leitos
de serviços. Além da quase inexistente coordenação administrativa e tem faturamento mensal de
e pedagógica, verificava-se marcante fragmentação das atividades 790 mil;
assistenciais: órgãos e serviços (ambulatórios e enfermarias), vincu-
• o HAN funciona com 223 leitos
lados às antigas cátedras, eram geridos em regime quase autônomo.
e atinge um faturamento mensal
Do ponto de vista da sua inserção no sistema público de saúde,
em torno de 4,1 milhões;
ressaltava a ausência de um projeto assistencial, produzindo um frágil
vínculo com a rede estadual do SUS. Por outro lado, também havia • o fundo de reserva para pessoal
ausência de um modelo pedagógico claro, com deficiente integração foi parcialmente recomposto, al-
docente-assistencial e pouca interação com outras escolas da área de cançando agora o montante de
saúde. No que se refere à estrutura de gestão, observava-se um pa- 6,7 milhões;
pel reduzido das instâncias formalmente responsáveis pela supervisão • não há mais títulos protestados,
da gestão das instituições. Daí resultava um modelo de gestão pouco resultado de contínuo monitora-
profissional, dando margem à ineficiência administrativa e financeira, mento junto a fornecedores, e as
importante fonte de desperdício de recursos humanos e financeiros. dívidas históricas foram renego-
Os elementos conjunturais da crise foram gradualmente sendo ciadas, encontrando-se em pro-
identificados e, na medida do possível, corrigidos. Estancado o dre- cesso de quitação.
no financeiro, renegociadas as dívidas com fornecedores, pactuada A análise da situação, além de iden-
a inserção do sistema no SUS, superadas as questões jurídicas, es- tificar soluções de emergência para
tabilizada a gestão administrativa do sistema, buscamos aproveitar imediata aplicação, conforme relata-
a crise como oportunidade para uma reconstrução institucional do acima, permitiu reconhecer sérios
dotada de maior sustentabilidade. problemas estruturais no sistema de
Nesse sentido, aproveitando disponibilidade manifesta pela Se- prestação de serviços universitários de
cretaria Estadual de Saúde, em 2007, iniciamos processo de in- saúde da UFBA que sobrevêm de lon-
corporação do Hospital Ana Nery ao sistema de saúde da UFBA. ga data. Tais problemas determinavam
Trata-se de uma unidade assistencial de alta complexidade, cre- distorções em três aspectos: em pri-
denciada como hospital-escola, com reconhecida excelência nas meiro lugar, modelo assistencial dis-
áreas da nefrologia e da cardiologia. O processo de federalização sociado do SUS; segundo, modelo de
do HAN encontra-se ainda em curso, porém essa iniciativa permi- gestão pouco profissional, permitindo
tiu inclusive repor a lacuna na área da assistência cardiovascular ineficiência administrativa e financei-
provocada pela suspensão do convênio UFBA-FBC. ra, fonte dos numerosos elementos
Do ponto de vista administrativo e financeiro, alguns dados de- conjunturais da crise; terceiro, modelo
monstram hoje um cenário muito distinto da situação encontrada pedagógico distanciado das unidades
em 2002: universitárias, pesquisa e extensão.
78 79
Considerando tal situação, foram propostas e implementadas
estratégias de reestruturação institucional, visando a correções de
rumo dos modelos assistencial, pedagógico e de gestão do conjun-
ÓRGÃOS DO SISTEMA DE SAÚDE DA UFBA
to de órgãos de prestação de serviços de saúde e docente-assis-
tenciais da UFBA através da criação de um sistema integrado de Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (C-
HUPES): Órgão suplementar da UFBA, certificado como hospital de
assistência à saúde. ensino pela Portaria Interministerial nº 2378/04 (26/10/2004). É uma
O projeto do Sistema Universitário de Saúde UFBA (SUS-UF- unidade hospitalar e ambulatorial, pública, geral, de grande porte, in-
tegrante do Sistema Único de Saúde – SUS, referência em Média e
BA) foi apresentado ao CONSUNI em agosto de 2007, tendo sido
Alta Complexidade, que visa a desenvolver atividades de suporte ao
aprovado no contexto da redefinição dos órgãos estruturantes da ensino, pesquisa e extensão na área de saúde, formando recursos hu-
UFBA. Com a incorporação do Hospital Ana Nery, a estrutura do manos voltados para a prática de ensino, pesquisa e assistência à saúde
sistema compreende 9 Unidades Docente-Assistenciais coordena- da população e produzir conhecimento em benefício da coletividade.
das por uma Superintendência de Saúde. Maternidade Climério de Oliveira (MCO): Órgão suplementar da
UFBA visa à pesquisa, ao ensino e à assistência à saúde da população. É
A fim de propiciar as condições necessárias à viabilização do um Hospital de média complexidade e desde 2005 é o único com cer-
Sistema, abrimos profícuo diálogo com lideranças institucionais e tificação como Hospital de Ensino no Estado da Bahia na área de Pe-
sindicais associadas aos grupos em atividade nos serviços de saúde rinatologia. É um Centro de Referência inserido no Distrito Sanitário
da UFBA. No que concerne à herança política institucional, busca- do Centro Histórico com serviços de Urgência e Emergência 24 horas.

mos uma indicação consensual de interlocutores para a abertura de Hospital Ana Nery (HAN): Hospital geral, de médio porte, de assis-
tência terciária, que realiza atendimento em regime de internação hos-
mesas de negociações conjuntas, em todas as etapas do processo. A pitalar, por demanda espontânea e referenciada, nas especialidades de
meta dessa negociação foi construir pactos mínimos para os proje- Clínica Médica, Cirurgia Geral, Cirurgia Plástica, Urologia, Cardiologia
tos assistencial e pedagógico e para um novo modelo de gestão do Clínica e Cirúrgica (adulto e pediátrica), Nefrologia (adulto) e Cuida-
Sistema de Saúde UFBA. Em paralelo e em fina sintonia com os res- dos Intensivos. Como integrante dos Hospitais Federais do Ministério
da Saúde, visa a se tornar um hospital de ensino, voltado para o aten-
pectivos Conselhos Deliberativos, formamos equipes de consultores
dimento de alta complexidade na área da Cardiologia e da Nefrologia.
a fim de rever estrutura e funcionamento dos organismos, com vistas
Centro de Promoção da Saúde Doutor Rubens Brasil Soares: ativi-
à sustentabilidade futura do Sistema Universitário de Saúde UFBA. dades individuais e coletivas de promoção e prevenção de agravos à
Dentro do princípio constitucional da eficiência do Serviço Pú- saúde, como perícias e assistências médicas essencialmente curativas,
na própria Unidade e em domicilio, está voltada essencialmente para
blico, ao lidar com a crise dos hospitais universitários da UFBA,
formação de cuidadores e acompanhamento de doentes crônicos. Pres-
procuramos sempre criar ou ajustar estruturas capazes de superar ta assistência médica e social, com base na Assistência Estudantil e no
a centralização de processos decisórios sobre atividades específicas Programa de Saúde do Trabalhador. Constitui-se em Unidade do Siste-
da rotina de prestação de serviços. Dessa maneira, avançamos no ma Integrado de Assistência à Saúde do Servidor (SIASS).
sentido de racionalizar os recursos assistenciais e otimizar equi- Sistema Laboratorial UFBA: 10 laboratórios que atendem a pacientes
do Sistema Único de Saúde (SUS), nas áreas de imunologia, biologia
pamentos e programas de ensino, evitando desperdícios e preen-
molecular, bioquímica, doenças autoimunes e alergias, doenças infeccio-
chendo lacunas, tanto no ensino como na assistência. Entretanto, sas, toxicologia, hematologia, parasitologia, microbiologia e oncologia.
face à magnitude dos problemas herdados por uma estrutura jurí- Clínica de Dietoterapia da Escola de Nutrição: São 4 consultórios que
dica e institucional defeituosa, o que afeta praticamente a todas as mantêm atendimento nas diversas especialidades à população há mais
universidades brasileiras, muito ainda há que se fazer para garantir de 26 anos.
o equilíbrio financeiro e a viabilidade administrativa da rede de Ambulatório de Odontologia Clínica da Faculdade de Odontologia.
hospitais universitários, essencial para a formação de alta qualida- Centro Docente Assistencial de Fonoaudiologia (CEDAF).
de acadêmica e científica dos profissionais de saúde no Brasil. Serviço de Psicologia João Mendonça.
80 81
RESTAURAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA DO TERREIRO cada de 1930, o complexo passou por mutilações arquitetônicas
advindas de novas finalidades – como a instalação do Instituto
O prédio da antiga Faculdade de Medicina da Bahia, localizado
Médico-Legal no térreo da Biblioteca – e do aumento do contin-
no Terreiro de Jesus, é um dos mais importantes monumentos
gente estudantil.
do conjunto arquitetônico do Centro Histórico de Salvador, tom-
bado em 1983 pela UNESCO como Patrimônio da Humanida- Em 1946, a Universidade da Bahia foi constituída pela união
de. Erguido no bairro onde teve início a povoação da cidade de das faculdades de Direito, Medicina, Filosofia e Letras e Escola Po-
Salvador, com a chegada de Thomé de Souza em 1549, o prédio litécnica da Bahia. Durante os anos 1960, as atividades de ensino
abrigou desde 1551 o Colégio da Companhia de Jesus, estabele- médico foram gradativamente transferidas para novas instalações
cimento educacional modelo dos Jesuítas nas Américas no século no Campus Canela. Na década de 1980, a Ala Nobre foi reforma-
XVII, até tornar-se a sede do Hospital Real Militar. da para abrigar o Memorial da Medicina Brasileira e Museu Afro-
Brasileiro. O Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues transferiu-se
A Carta-Régia que autorizou a instalação do Colégio Médico-
para um prédio próprio. Escavações arqueológicas descobriram
Chirurgico da Bahia, assinada pelo Príncipe Regente Dom João
catacumbas e alicerces do antigo Colégio de Jesus que passaram a
em 18 de fevereiro de 1808, foi um ousado ato político. Além de
abrigar o Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA.
inaugurar nossa instituição, marcou, a um só tempo, o início da
educação superior e do ensino médico no Brasil. Durante todo o
século XIX, a Faculdade de Medicina foi sendo ampliada com a RESTAURAÇÃO DA ALA NOBRE
incorporação do ensino de Farmácia, Odontologia e Obstetrícia. Desde a transferência das atividades de ensino do curso médi-
Em 1905, após um incêndio criminoso, o prédio foi reformado e co para o Campus Canela, a restauração e preservação do valioso
ampliado, dando lugar a um complexo de instalações de ensino complexo monumental, patrimônio da cultura baiana, têm cons-
e pesquisa avançado para a época, composto por quatro blocos: tituído enorme desafio para os gestores da Universidade Federal
Ala Nobre (setor administrativo), Ala Nordeste (salas de aula), da Bahia. Oito reitores da UFBA e nove diretores da Faculdade de
Biblioteca e pavilhões de auditórios e laboratórios. A partir da dé- Medicina enfrentaram, com variado grau de dificuldades, soluções

82 83
Estado da Faculdade
de Medicina quando do
e resultados, esta questão. As sucessivas emendas parlamentares, • aplicar o conceito de Complexo Monumental ao conjunto início da restauração
com que a bancada baiana no Congresso Nacional passou a apoiar de imóveis históricos da Faculdade de Medicina da Bahia;
a UFBA desde 1998, eram totalmente consumidas pelas priorida- • segmentar, por critérios de localização, o conjunto de imó-
des de infraestrutura do ensino de graduação e nunca puderam ser veis em blocos arquitetônicos sob demanda de restauro, re-
destinadas à tão nobre causa. conhecendo suas especificidades;
Quando assumimos a Reitoria em 2002, buscamos inicialmen- • identificar as potencialidades de uso social do Complexo Mo-
te promover a continuidade das incipientes iniciativas de restaura- numental, desenhando propostas de sustentabilidade capazes
ção da sede da antiga Faculdade de Medicina da Bahia, desenvol- de viabilizar a captação de apoio financeiro e institucional;
vidas por entidades, comissões e programas de extensão da nossa
• mobilizar apoios internos e externos à UFBA, visando à
universidade e de outras instituições. Além disso, delineamos uma
conscientização da sociedade baiana e brasileira sobre o seu
estratégia baseada em quatro princípios:
valor cultural e histórico.
84 85
Uma equipe técnica da Faculdade de Arquitetura, através do
Projeto Escola-Oficina, com patrocínio da Agência Espanhola de
Cooperação Internacional e apoio da Prefeitura Municipal de Sal-
vador, aplicou os critérios delineados e identificou quatro blocos
arquitetônicos necessitados de obras de restauro: Ala Nobre, Ala
Nordeste, Biblioteca, Setor de Pavilhões. Com a reinauguração do
formoso Salão Nobre, em 18 de fevereiro de 2008, como parte
dos festejos do Bicentenário da Faculdade de Medicina da Bahia,
constatamos os resultados positivos dessa estratégia.
A Ala Nordeste, cuja reforma encontramos em andamento,
havia sido concluída ainda em 2006. Mas a restauração da Ala
Nobre e do solene Salão de Atos merece ter sua história conta-
da. A Comissão de Antigos Alunos, junto com a Reitoria, desde
2003, havia tentado várias possibilidades de captação de apoio
financeiro. Finalmente, junto com representantes das entidades
médicas, decidimos recorrer ao Ministério da Cultura, entre-
gando ao Ministro Gilberto Gil um documento-apelo, em ple-
no palco da Recepção Calourosa de 2006. Filho de um médico
formado na Faculdade, Gil sensibilizou-se e encarregou o então
Secretário Juca Ferreira de encaminhar a questão. Com o patro-
cínio da Petrobrás, através da Lei de Incentivo à Cultura, o Mi-
nistério da Cultura finalmente conseguiu garantir a viabilização
financeira desta etapa. Nosso reconhecimento à Petrobrás S/A,
com apoio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo
à Cultura, pela restauração deste solene Salão Nobre de Atos e
da Ala Nobre da Faculdade de Medicina da Bahia. Nesse aspecto,
cabe destacar o empenho do Prof. Osvaldo Barreto, na época,
Superintendente da Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão/
FAPEX, e sua equipe, que concluíram o Projeto – complexo,
intricado e detalhado – em uma semana.
Restava resolver a questão de como restaurar os pavilhões da
Ala Oeste, arruinados e sem uso há mais de 30 anos e que nunca
sofreram qualquer restauro.
O Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Saúde
do Estado da Bahia, propôs neles instalar um complexo de edu-
cação permanente em saúde, com a Escola de Saúde Pública José
Maria de Magalhães Neto e a Escola Técnica de Saúde Aristides
Novis, criando as bases para uma Universidade Aberta do SUS em
86 87
parceria com a UFBA. Na festa do Bicentenário, o Governador
Jacques Wagner firmou um Protocolo de Intenções, destinando
recursos suficientes para completar a restauração do Complexo
Monumental da Faculdade de Medicina da Bahia. A Congrega-
ção da Faculdade, inicialmente, entusiasmou-se com a proposta,
aprovando-a por unanimidade, porém, posteriormente, preferiu
destinar o conjunto de pavilhões para outras atividades (e os re-
cursos foram devolvidos ao Fundo Nacional de Saúde).

MUTIRÃO DA BIBLIOTHECA MEMORIAL


Criada oficialmente em 1836, a Biblioteca da antiga Faculdade
de Medicina da Bahia, sofreu ao longo do tempo as consequên-
cias do descaso com a história da medicina na Bahia e no Brasil
registrada neste inestimável acervo. Durante 125 anos, a Biblio-
theca da Faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia consolidou-
se como principal biblioteca
universitária do nosso Estado. UMA GRANDE
Após a reforma de 1908, a Bi- BIBLIOTHECA
Uma das equipes do mutirão
bliotheca foi instalada em um No seu apogeu, a Bibliotheca
anexo construído em torno de possuía a maior coleção de
livros e revistas científicas da postamente adequados à nova escola. Separaram também alguns
uma torre de ferro naval, mon-
área de saúde em toda a Amé- documentos que teriam maior importância histórica, selecionados
tada num estaleiro de Berlim, rica Latina um valioso acervo para exibição no Memorial da Medicina Brasileira. Deixaram para
com cinco andares de estantes estimado em 160 mil volu-
trás o restante do acervo: milhares de volumes amontoados em
articuladas e corredores de piso mes. Abrigava livros raros, de
origem principalmente fran-
estantes enferrujadas, dividindo espaço nos velhos corredores e
de vidro. A partir da década de
cesa e alemã, desde meados salões com móveis e equipamentos descartados, na companhia de
1930, ocorreram mutilações
do século XIX até a primeira ratos, morcegos e pombos.
arquitetônicas na biblioteca, metade do século XX. Havia
já batizada como Bibliotheca coleções completas de perió-
Aqui, nesta terra que se pretende berço da cultura nacional, mi-
Gonçalo Moniz, com a instala- dicos e atas científicas, desta- lhares de livros valiosos foram abandonados, condenados a apodre-
ção da morgue municipal. cando-se as famosas Thèses cer, encerrados em uma ruína. Deixaram enterrar vivo o acervo da
da Universidade de Paris e os maravilhosa Bibliotheca da antiga Faculdade de Medicina da Bahia.
Como vimos acima, na dé- Jahrbuchen da Universidade
cada de 1980, a Ala Nobre foi de Berlim. Duas vezes ao ano, normalmente por ocasião dos festejos do
reformada para abrigar o Me- Dia do Médico, em outubro, e do aniversário da Faculdade de
morial da Medicina Brasileira. Porém, a Ala Nordeste e o Con- Medicina em fevereiro, realizava-se um estranho ritual. Dedicados
junto de Pavilhões, com seus solenes auditórios e anfiteatros, pa- profissionais de saúde, ex-alunos da velha escola, abriam as portas
vilhões de aulas e numerosos laboratórios, ficaram abandonados, do pavilhão em ruínas, convocavam a imprensa para registrar e
transformando-se em dantesca ruína. Da Bibliotheca foram reti- divulgar o escandaloso abandono. Sensíveis e bem intencionados,
rados livros e revistas que, na época, pareciam modernos e su- expunham indignados seus sentimentos de revolta e impotência.
88 89
Pretendiam chamar a atenção de autoridades e da opinião públi- menção especial ao Prof. Antonio Nery Filho, e seus alunos da
ca para aquele crime cultural. Em alguns anos, as denúncias até Academética, e à Bibliotecária Graça Ribeiro, Diretora do Sistema
alcançaram mídia nacional. Entretanto, passado o impacto, as pe- de Bibliotecas da UFBA, e sua equipe.
sadas portas da Bibliotheca fechavam-se e novamente se escondia No fim do trabalho, mais de cem mil volumes haviam sido res-
a chaga infame. gatados das ruínas. Infelizmente, para um terço do valioso acervo
Em 2003, a sociedade baiana finalmente começou a se mobi- bibliográfico, a ajuda chegou tarde. Mais de cinquenta mil volu-
lizar para salvar o que restava da Bibliotheca. No aniversário da mes já se haviam transformado em pasta de celulose, crestada,
Faculdade de Medicina daquele ano, o Reitor concluiu a cerimô- contaminada por fungos, vergonhoso monumento à incúria e ao
nia de modo inusitado: desafiou os presentes a superar a denún- descaso. Entretanto, o salvamento desse importante acervo signifi-
cia emocionada, mas paralisante, tomando a iniciativa de efetiva- cou apenas o começo de uma tarefa muito maior. Os livros salvos
mente resgatar o acervo bibliográfico sob vergonhosa degradação. da destruição precisavam passar por um difícil e dispendioso tra-
Inicialmente constrangidos e logo em seguida entusiasmados, os balho de restauração.
participantes da solenidade seguiram os membros da mesa ceri- Em 2004, o Ministério da Saúde, através da sua Secretaria de
monial até às portas da Bibliotheca, abriram-na e reverencialmen- Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, firmou convênio vi-
te recolheram alguns exemplares dos livros abandonados. sando à recuperação arquitetônica do imóvel e implantação de um
A partir daí, em regime de mutirão, mais de uma centena de laboratório de restauro de obras raras. Além disso, conseguimos o
voluntários se revezaram todos os sábados, durante um ano in- apoio da Biblioteca Regional de Medicina-BIREME, organismo da
teiro. Professores, servidores, estudantes e ex-alunos da Univer- Organização Panamericana da Saúde dedicado à sistematização e
sidade Federal da Bahia e de outras instituições, usando as pró- difusão de informação científica em saúde na América Latina. Os
prias mãos, removeram para lugar seguro o que restava do acervo. trabalhos de restauração arquitetônica foram iniciados em 2005
Éramos de fato poucos, mas contamos com a ajuda do Corpo de e, na presente data, encontram-se quase concluídos. Quanto ao
Bombeiros e da VI Região Militar. Por terem demonstrado entu- acervo bibliográfico, quase 40 mil livros e documentos raros já
siasmo e dedicação no mutirão de resgate dos livros, fazemos uma foram restaurados.
acervo bibliográfico
danificado

90 91
Em 2006, o Conselho Universitário aprovou por unanimidade
a criação do Sistema de Bibliotecas da UFBA, incorporando à sua
gestão a Bibliotheca Gonçalo Moniz Memorial da Saúde Brasilei-
ra, destinada a abrigar o acervo bibliográfico de importância his-
tórica da área de saúde. De volta às estantes, os livros resgatados
e restaurados poderão ser consultados, lidos e admirados como
parte do acervo da nova biblioteca. As gerações futuras de estu-
dantes e pesquisadores terão oportunidade de melhor conhecer e
estudar um pequeno, mas crucial, elemento de uma das mais ricas
tradições intelectuais e científicas da ciência brasileira, orgulho da
Bahia e do Brasil.

Visita dos Príncipes das Astúrias à obra da Biblioteca


da Faculdade de Medicina da Bahia

Restauração
física e do acervo
da Bibliotheca
da Faculdade
92 de Medicina da Bahia 93
CRIAÇÃO DA UFRB
Em 200 anos de história, a Universidade Federal da Bahia tem INTERIORIZAÇÃO COM ATRASO
operado mais como uma universidade de Salvador. Isto reflete O processo de interiorização do ensino superior no Estado da
o padrão litorâneo de ocupação do território baiano quando da Bahia foi muito lento e por muito tempo restringiu-se à Esco-
la de Agronomia da UFBA. Em 1960 foi implantada a Escola
criação das faculdades que a originaram, no século 19. Também,
de Agronomia de Juazeiro e, nessa mesma década, registra-se o
resulta do contexto da época de sua organização enquanto uni- surgimento de algumas escolas superiores particulares no eixo
versidade, nos anos 40 e 50, quando ainda havia em nosso Estado Ilhéus/Itabuna. A interiorização do ensino superior no Estado da
um distanciamento geopolítico e cultural entre interior e capital. Bahia ganhou maior fôlego a partir da década de 80, por meio
da criação de quatro universidades vinculadas ao governo esta-
Como vimos acima, em 2002, realizamos uma série de oficinas dual (UNEB, UEFS, UESB e UESC) e, mais recentemente, com
de trabalho que geraram uma pauta de ação a partir do debate e a criação de centros de ensino vinculados à iniciativa privada. Ao
ajuste dos pontos programáticos do Plano de Metas 2002-2006. contrário de outros estados brasileiros, verificou-se na Bahia mar-
Dentre os seus princípios, esse Plano destacava o cumprimento cante ausência das bancadas parlamentares e dos sucessivos go-
vernos estaduais e federais neste processo.
da missão social da universidade como elemento crucial para sua
revalorização enquanto instituição comprometida com a trans- Escola de Agronomia da UFBA em Cruz das Almas
formação da sociedade. Parte dessa função inclui a ampliação do
papel da UFBA no desenvolvimento local, regional e nacional,
mediante, entre outras estratégias, ações de interiorização das ati-
vidades de ensino, pesquisa e extensão.
Planejamos inicialmente atingir essas metas mediante algumas
possibilidades:
• autonomizar estruturas da UFBA já instaladas, como por
exemplo programas de pesquisa e unidades universitárias
em Cruz das Almas, Oliveira dos Campinhos e Entre-Rios;
• descentralizar o processo seletivo do Vestibular para polos
regionais do interior da Bahia;
• realizar parcerias com outras instituições de ensino superior
sediadas ou atuantes no interior do Estado;
• organizar novas estruturas de operação ou estender ao in-
terior programas em curso, como por exemplo núcleos de
extensão e pesquisa;
• implantar campi avançados ou plenos da UFBA em regiões
distantes do Estado da Bahia.
Em 7 de outubro de 2002, após as eleições gerais, apresentamos
às bancadas legislativas da Bahia o plano de trabalho 2003-2006 que,
entre outros objetivos, previa “desconcentrar a atuação da UFBA no
Estado da Bahia”, priorizando duas estratégias: por um lado, criar a
94 95
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia mediante desmembra-
mento da Escola de Agronomia e, por outro lado, implantar campi
avançados da UFBA no interior do Estado. IMPERIAL INSTITUTO
A sociedade baiana há muito ansiava pela criação de uma nova BAIANO DE AGRICULTURA
Universidade Federal a partir da Escola de Agronomia da UFBA, O Imperial Instituto Baiano de
situada em Cruz das Almas. Nas últimas décadas, diversos docu- Agricultura, criado pelo Imperador
D. Pedro II em 1859, foi instalado
mentos com essa proposta haviam sido encaminhados, sem su-
no Mosteiro São Bento das Lages
cesso, à Presidência da República, ao Ministério da Educação e à numa área hoje integrante do mu-
Câmara Federal. nicípio de São Francisco do Conde.
Permaneceu nesta localidade até
Em 14 de março de 2003, convocamos uma sessão extraordiná-
1929 quando foi transferida para
ria do nosso Conselho Universitário para Cruz das Almas, reunido Salvador. Em 1943, com o nome
fora de Salvador pela primeira vez em sua história. Constituímos de Escola Agronômica da Bahia,
então um grupo de estudos de viabilidade para elaborar a propos- foi instalada no município de Cruz
ta formal. Tais iniciativas abriram um rico processo de discussão das Almas. Incorporada à Univer-
sidade Federal da Bahia a partir
que mobilizou o cenário político baiano. de 1967, passou a denominar-se
Entre junho e outubro de 2003, foram realizadas 28 reuniões Escola de Agronomia da UFBA. Já
e audiências públicas em 12 municípios da região do Recôncavo como Centro de Ciências Agrárias
e Ambientais da UFBA, nos últi-
(Amargosa, Cachoeira, Castro Alves, Cruz das Almas, Maragogi- mos cinco anos, esta unidade de
pe, Mutuípe, Nazaré das Farinhas, Santo Amaro, Santo Antônio ensino oferecia 120 vagas de gra-
de Jesus, São Félix, Terra Nova e Valença). Comunidades inteiras duação e tinha uma média de 700
paravam para receber, pela primeira vez, uma delegação univer- estudantes matriculados.
sitária; políticos de todos os partidos participavam dos eventos, Ata Imperial assinada
registrando adesão ao projeto. por D. Pedro II

A proposta, aprovada por unanimidade em todas as instâncias


da UFBA, deu entrada no Ministério da Educação em maio de
2004. O projeto demorou na burocracia do MEC, mas, afinal, deu
A UFRB estrutura-se em Centros de Ciências, nucleados por
entrada no Congresso, onde tramitou com rapidez pelas comis-
áreas temáticas reconhecidas pela comunidade acadêmica: Centro
sões pertinentes, sendo aprovado, em julho de 2005, na Câmara e
de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas; Centro de Ciências
no Senado. A sanção presidencial da lei de criação da UFRB (Lei
Sociais Aplicadas; Centro de Humanidades, Artes e Letras; Centro
Federal nº 11.151) ocorreu no dia da posse do novo Ministro da
de Formação de Professores; Centro de Ciências Tecnológicas e
Educação, em 29 de julho de 2005.
Exatas; Centro de Ciências da Saúde. Os Centros foram criados
O desenho institucional antevia uma instituição multicampi com base numa visão administrativa integrativa, multifuncional,
voltada para o desenvolvimento regional, respeitando vocações multi e interdisciplinar, para desenvolver atividades de ensino,
locais, a ser implantado de forma modular, num período de qua- pesquisa e extensão que abordem, preferencialmente, o Recôn-
tro anos, dependendo das condições orçamentárias da União e das cavo como região de aprendizagem. Para o desenvolvimento das
contribuições dos poderes municipal e estadual ao processo. Na suas atividades-fim, os Centros estão estruturados em colegiados
primeira etapa de implantação, foram instalados os campi de Cruz e núcleos de pesquisa e extensão.
96 das Almas (sede), Santo Antônio de Jesus, Cachoeira e Amargosa. 97
Campi da UFRB em Cruz das Almas, Santo Antônio
de Jesus e Amargosa, respectivamente

A implantação inicial se deu sob tutoria da UFBA, entre de-


zembro de 2005 e julho de 2006, através de um Grupo de Traba-
lho coordenado pelo Vice-Reitor, professor Francisco José Gomes
Mesquita. Em 03 de julho de 2006, a nova universidade iniciou
suas atividades e o Professor Paulo Gabriel Soledade Nacif tor-
nou-se seu primeiro dirigente, como Reitor pro tempore.
Hoje, a UFRB oferece 35 cursos de graduação, 7 mestrados e
1 doutorado, distribuídos pelos campi das cidades de Cruz das
Almas, Cachoeira, Santo Antônio de Jesus e Amargosa. Conta
atualmente com 435 professores e 552 servidores; acolhe 4.735
estudantes na Graduação, 159 em cursos de Mestrado e 36 no
Doutorado. Com 12 novos cursos abertos em 2010, a universida-
de aumentou sua oferta para 2.365 vagas de graduação, utilizando
o ENEM como processo seletivo único. Essa expansão se deve à
adesão da UFRB ao Programa REUNI, a partir de 2008.
98 Campus da UFRB em Cachoeira-São Félix
INTERIORIZAÇÃO DA UFBA UFBA), que atualmente conta com um quadro de 59 docentes em
dedicação exclusiva, 17 professores substitutos, 44 servidores técni-
Do ponto de vista da Universidade Federal da Bahia, a imple-
cos e administrativos, além de 18 prestadores de serviço.
mentação de uma política de expansão com aumento da cober-
tura territorial poderia trazer enormes benefícios, especialmente a As atividades acadêmicas do IMS/UFBA começaram em 23 de
redução da pressão do contingente de jovens do interior sobre o outubro de 2006, com três cursos de graduação (Enfermagem,
vestibular na Capital do Estado. Além disso, contribuiria para a di- Nutrição e Farmácia), contando com 40 vagas anuais cada. Em
minuição do custo social implicado no deslocamento de estudantes 2009, foram implantados mais dois cursos de graduação (Ciên-
para realização do seu curso superior fora do domicílio original. cias Biológicas e Biotecnologia) com a oferta de 45 vagas anuais
para cada um. Em 2010, foi implantado o curso de graduação em
Acolhendo manifestações de lideranças sociais e políticas de
Psicologia, fruto da adesão da UFBA ao programa REUNI, com a
diferentes regiões do Estado e atendendo a convite de autoridades
oferta de 45 vagas anuais. Em setembro de 2008, foi instalado o
municipais, participamos de eventos realizados em diversos polos
Programa Multicêntrico de Pós-Graduação em Ciências Fisiológi-
regionais com vistas a debater formas de interiorização do ensino
cas, primeiro curso de pós-graduação do IMS/UFBA. O Programa
superior no Estado da Bahia. Nesse percurso, foram avaliadas seis
foi aprovado pela CAPES, com conceito 4, nos níveis de mestrado
propostas de campi avançados que, no decorrer do processo, al-
e doutorado. Atualmente, o IMS/UFBA oferece um total de 255
cançaram diferentes estágios de desenvolvimento: Vitória da Con-
vagas e acolhe 724 estudantes de graduação.
quista; Irecê; Paulo Afonso; Barreiras; Simões Filho; Região Sul Campus Anísio Teixeira,
em Vitória da Conquista
(Teixeira de Freitas e Porto Seguro). Em função da mobilização
das respectivas comunidades e do apoio político que lograram an-
gariar, duas dessas propostas chegaram a ser implantadas: o Cam-
pus Anísio Teixeira em Vitória da Conquista e o Campus Reitor
Edgard Santos na cidade de Barreiras.

CAMPUS ANÍSIO TEIXEIRA EM VITÓRIA DA CONQUISTA


Vitória da Conquista é um importante polo regional da região
do Sudoeste Baiano, distando cerca de 600 km de Salvador, com
uma população de 280 mil habitantes. Situada num importante
entroncamento rodoviário (BR-116 e BR-415), desenvolveu-se
como um centro comercial, agropecuário e, recentemente, como
complexo industrial de médio porte. O município polariza 82
municípios da Bahia e do Norte de Minas Gerais, somando uma
população de quase dois milhões de habitantes.
Localizado em Vitória da Conquista, o Campus Anísio Teixeira
foi criado em 18 de julho de 2005, através da Resolução 02/2005
do Conselho Universitário da UFBA, sendo regulamentado ainda
pela Portaria nº 813 do Ministério de Estado da Educação, publi-
cado no DOU nº 165 de 27/08/2007. Compõe-se de uma única
100 unidade universitária, o Instituto Multiprofissional de Saúde (IMS/ 101
O IMS/UFBA foi instalado provisoriamente no Mó- acompanhar, integrar e promover a articulação, a compatibilização
dulo I da Escola de Formação em Saúde da Família, e o desenvolvimento necessário para viabilizar o funcionamento
espaço cedido provisoriamente pela Prefeitura Muni- do Instituto. O IMS/UFBA conta ainda com Biblioteca, Arquivo e
cipal de Vitória da Conquista. As atividades acadêmi- um Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI).
cas foram todas concentradas neste módulo até o mo- O IMS/UFBA tem funcionado com base no trabalho de comis-
mento em que as aulas teóricas foram transferidas para sões especiais, destacando-se: Comissão de Biblioteca, criada em
o Colégio Politécnico Boock, por conta de uma nova 2006, com atribuições de acompanhamento, supervisão e orien-
entrada de estudantes no semestre 2008.1. Assim, o tação das atividades desenvolvidas pela Biblioteca do Instituto;
IMS/UFBA teve parte de suas atividades funcionando Comissão de Avaliação Institucional (CAVI), funcionando desde
neste espaço de março a julho de 2008. 2008, responsável pela produção de dados e informações que for-
A implantação da estrutura definitiva do campus neçam subsídios para planejamento e gestão institucional; Comitê
em instalações próprias da UFBA tem acontecido de de Ética em Pesquisa (CEP), em processo de implantação desde
forma gradativa, na medida em que o Pavilhão de 2007, de caráter consultivo, normativo, deliberativo e educativo,
Laboratórios e o Pavilhão de Aulas foram postos em criado para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro
funcionamento. A partir de setembro de 2008, as ati- de padrões ético-científicos; Comissão de Biossegurança, funcio-
vidades que estavam funcionando no Colégio Politéc- nando desde 2007, tem por finalidade implementar condutas de
nico passaram para o novo Pavilhão de Laboratórios do biossegurança no IMS/UFBA, através de estudos das condições de
campus. Este pavilhão apresenta área total de 3.649,46 riscos, atividades informativas e elaboração de protocolos.
m2; é composto por 34 laboratórios, cada um com área Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Vitória
padronizada de 61,50 m2. O Pavilhão de Aulas abri- da Conquista e a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
gará provisoriamente a administração do IMS/UFBA (UESB), projetos importantes têm sido realizados na área de edu-
e a Biblioteca. Além dessas estruturas, contém salas de cação superior em saúde. Entre 2008 e 2010, foram aprovados o
aula, gabinetes de professores e um auditório para 120 projeto do Programa de Reorientação Profissional em Saúde (Pró-
pessoas. A área total desse prédio é de 4.284,60 m2. O Saúde) em parceria com a SMS e o projeto do Programa de Edu-
pavilhão administrativo já se encontra em construção, cação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde). Essas parcerias
com previsão de entrega para o final de 2010. permitem que os estudantes de Medicina da UESB e de Farmá-
A estrutura administrativa do IMS/UFBA inaugu- cia, Enfermagem e Nutrição da UFBA compartilhem campos de
rou um novo modelo de organização dentro da UFBA. prática nas Unidades de Saúde da Família (USF) do município.
Sem divisão departamental, a unidade se organizou Destaca-se também o projeto “LAÇOS – Laboratório de expe-
inicialmente com Diretoria, Congregação e Coorde- rimentação e criação de oficinas em saúde”, caracterizado como
nação Acadêmica. Subordinada à Coordenação Acadê- atividade de extensão em comunidade, realizado prioritariamente
mica, encontram-se uma Coordenação para cada curso nas escolas da rede pública de ensino de Vitória da Conquista.
e os seguintes Núcleos Acadêmicos: Núcleo Tecnolo- O Campus Anísio Teixeira, em sua fase inicial de implantação, foi
gia em Saúde (NTS), Núcleo Epidemiologia e Saúde administrado pela Professora Maria Anita Martinelli, Assessora da Pró-
Coletiva (NESC), Núcleo Complexo Produtivo de Reitoria de Graduação (PROGRAD), no período de 23 de outubro
Saúde (NCPS) e Núcleo Ciências Naturais e da Vida de 2006 a 06 de novembro do mesmo ano. A partir de 13 de fevereiro
(NCNV). O Instituto conta com uma Gerência Técni- de 2007, até o presente momento, a Professora Dioneire Amparo dos
co-Administrativa, com a competência de coordenar, Anjos ocupa o cargo de diretora pro tempore do novo instituto.
103
Em sua curta trajetória, o IMS/UFBA superou uma série de de uma unidade universitária denominada Instituto de Ciências
desafios, conflitos e impasses e já apresenta conquistas. Até o mo- Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (ICADS/UFBA),
mento, o Instituto vem construindo sua história com um grupo de tendo como missão promover o desenvolvimento de atividades
jovens profissionais que reconhecem a importância que o campus de ensino, pesquisa e extensão na região Oeste da Bahia.
possui para o desenvolvimento local e regional. Com esse espíri- O Campus Reitor Edgard Santos é o resultado de uma articula-
to, pretende consolidar-se institucionalmente enquanto estrutura ção entre diferentes níveis de governo e de parcerias institucionais
universitária autônoma, dinâmica e atenta aos desafios que o en- visando, além da própria implantação, a condições ideais para sua
sino superior público deverá enfrentar durante os próximos anos. manutenção. Tendo o meio ambiente e o desenvolvimento sus-
tentável como premissas, entre os principais objetivos destaca-se
CAMPUS REITOR EDGARD SANTOS EM BARREIRAS a busca, desde seu início, por projetos de colaboração com diver-
sas instituições vinculadas ao meio ambiente, assim como demais
Situada às margens do Rio São Francisco, um dos mais impor- Campus Reitor Edgard Santos,
tantes do Brasil e do nordeste, a Região Oeste da Bahia apresenta em Barreiras
superfície 162 mil km² e uma população de aproximadamente
700 mil habitantes. Abrange 32 municípios, tendo como cidade
polo Barreiras, com aproximadamente 140 mil habitantes. A base
econômica da região é essencialmente o agronegócio, destacando-
se a produção de soja e algodão.
Por conta da posição geográfica e da sua importância econô-
mica, a cidade de Barreiras recebe grande número de estudantes
para cursar o ensino médio ou cursos superiores oferecidos pela
Universidade Estadual da Bahia e por três faculdades privadas. A
região conta ainda com o campus do IFBA – Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (antigo CEFET), instala-
do na cidade desde 1993, oferecendo cursos tecnológicos. Apesar
disso, observa-se um déficit considerável no acesso à universida-
de. Segundo dados da Superintendência de Estudos Econômicos e
Sociais da Bahia (SEI), em 2000, o número de estudantes matri-
culados em instituições de ensino superior correspondia a 0,33%
do total de habitantes da região oeste. Não houve grande expan-
são na oferta de vagas em cursos de nível superior na região, até a
chegada da Universidade Federal da Bahia.
No dia 21 de novembro de 2005, foi aprovada a Resolução
nº 04/05, que criou o Campus Professor Edgard Santos em Bar-
reiras, pelo plenário do Conselho Universitário da Universidade
Federal da Bahia – UFBA. Esse ato foi regulamentado pelo De-
creto Presidencial nº 5.773 de 9 de maio de 2006. A implantação
do Campus Professor Edgard Santos, no município de Barreiras,
104 aconteceu oficialmente, em outubro de 2006, com a inauguração 105
órgãos das administrações públicas nos três níveis, destacando-se ze) servidores técnico-administrativos. Atualmente o Instituto
as parcerias com prefeituras da região, com o governo do estado e conta com um quadro funcional de 93 professores em dedicação
com outras instituições de ensino superior, além de organizações exclusiva; 6 professores substitutos; 30 servidores técnicos e ad-
de cunho social e iniciativa privada. ministrativos, sendo 12 de nível médio, 4 de nível técnico e 14 de
As atividades no Instituto se iniciaram em 23 de outubro de nível superior.
2006, com 6 cursos de graduação: Administração, Ciências Bio- Os investimentos aplicados no campus Edgard Santos, desde
lógicas, Engenharia Sanitária e Ambiental, Geografia, Geologia sua criação em 2006, com recursos de capital e custeio do pro-
e Química, sendo oferecidas 40 vagas anuais cada. Em julho de grama de expansão, alcançam cerca de R$ 20 milhões de Reais.
2007, a Congregação do ICADS/UFBA aprovou a criação do cur- Atualmente o instituto possui um campus de 60 hectares, com 5
so de graduação em Física. Em janeiro de 2008, foram aprovados
os cursos de Engenharia Civil, Matemática, Física (com 40 vagas
cada) e o Bacharelado Interdisciplinar em Ciências e Tecnologia, Laboratórios no
com 80 vagas. Em 2009, foram aprovados os cursos de História e Campus de Barreiras
o Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades que entrou em
funcionamento no 1º semestre de 2010. Os cursos de História e
o BI de Humanidades são os primeiros cursos oferecidos no turno
noturno do Instituto.
O ICADS/UFBA foi instalado em prédio doado pela Prefeitura
Municipal de Barreiras, onde funcionou durante muitas décadas o
Colégio Padre Vieira. Visando a permitir o funcionamento inicial
da UFBA, o colégio passou por uma reforma. Com a conclusão
das obras do Pavilhão de Laboratórios em 2008, e do Pavilhão de
Aulas em 2009, o funcionamento do Campus foi dividido entre
o Campus Padre Vieira no Centro, onde funcionam os cursos de
Administração, História e BI de Humanidades, e o Campus da
Prainha onde funcionam os demais cursos.
A implantação da estrutura definitiva do Campus implica
construção de 11 prédios, por etapas. Na primeira etapa, foram
construídos o Prédio de Laboratórios, composto de 32 laborató-
rios, e o Pavilhão de Aulas I, que abriga salas de aula, gabinetes de
professores e um auditório para 120 pessoas. Na segunda etapa,
serão entregues o Pavilhão de Aulas II, também com auditório
para 120 pessoas, e o Prédio da Biblioteca.
O ICADS/UFBA iniciou suas atividades com 40 professores,
tendo como diretora pro tempore a Professora Joana Angélica Gui-
marães da Luz, eleita pela comunidade acadêmica no ano seguin-
te, iniciando seu mandato em outubro de 2007. Em março de
106 2007, com a realização do concurso, foram contratados 15 (quin- 107
prédios que abrigam 32 laboratórios de pesquisa e ensino, além de COMENTÁRIO
dois pavilhões de aula, biblioteca e prédio administrativo em iní-
Face a estes saudáveis mo-
cio da construção. Em termos de pessoal, o ICADS/UFBA dispõe IMPACTOS DA INTERIO-
vimentos e inegáveis resulta-
de 129 docentes em regime de dedicação exclusiva e 35 servido- RIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO
dos positivos, pensamos que
res técnicos e administrativos. SUPERIOR NA BAHIA
é hora de refletir sobre o que
realmente significa interiori- Em 2002, na Bahia, apenas
uma instituição federal – a
“... criar novos campi para que zar a Universidade. Conside-
ramos que universidades não
UFBA – oferecia 3.851 vagas
no Vestibular para 54 cursos
se constituam sementes de são escolas de terceiro grau,
dedicadas exclusivamente ao
de graduação localizados na
Capital e apenas 1 no interior.

universidades públicas, engajadas ensino. Se assim fosse, seria


relativamente fácil preencher
Em 2010, a oferta de vagas
públicas no ensino superior

e competentes, essenciais para o salas de aulas com professores


alcançou 11.411 vagas, em
154 cursos de graduação, em
e estudantes. Porém, uma ver- 10 campi de três universida-
desenvolvimento social e cultural...” dadeira universidade traz um des federais: UFBA, UFRB,
UNIVASF. Mais de 2/3 dessas
compromisso ético com a pro-
vagas encontram-se em pólos
dução de conhecimento e com regionais do interior. Em oito
A estrutura de departamentos não é seguida, de modo que o
a transformação social. Por isso, anos, tanto o número de cur-
Instituto se caracteriza por um único órgão de lotação de docen- sos quanto a oferta de vagas
durante os oito anos de nosso
tes e servidores técnico-administrativos. Além da Direção e da cresceram em quase 200%,
mandato, os esforços de inte-
Congregação, cada curso tem um colegiado, composto por cinco ampliando significativamen-
riorização e de inclusão social te a cobertura territorial da
professores, dentre eles o coordenador que é também membro
não implicaram mera expansão educação superior pública em
da Congregação. O Instituto conta ainda com uma Coordenação
e redistribuição territorial de instituições federais.
Acadêmica (incluindo um Núcleo de Apoio Acadêmico) e uma
vagas no vestibular.
Gerência Técnica e Administrativa, composta por três núcleos:
de Apoio Orçamentário e Financeiro e de Apoio Administrativo. Envidamos esforços, assim, para criar uma rede de unidades
Recentemente, foram criados os Núcleos de Apoio Estudantil e descentralizadas da UFBA, no pleno âmbito da atuação universi-
de Apoio à Extensão, todos ligados à Direção do ICADS/UFBA. tária, com modelos inovadores de ensino e programas de pesquisa
e extensão integrados a atividades de formação, sempre articula-
Atualmente, em pouco mais de dois anos de funcionamento, o
dos ao desenvolvimento regional e nacional. Ao expandir a base
ICADS já conta com cerca de 1.300 estudantes matriculados em
territorial das atividades acadêmicas da UFBA e a cobertura da
doze cursos de graduação, fato que demonstra a grande demanda
educação superior para todo o território baiano, nossa pretensão
pelo ensino universitário na região e a rápida inserção da Univer-
foi criar novos campi para que constituam sementes de universi-
sidade no seu cotidiano.
dades públicas, engajadas e competentes, essenciais para o desen-
Desde sua concepção inicial, o Campus Reitor Edgard Santos volvimento social e cultural do Estado da Bahia.
se apresenta como embrião da Universidade Federal da Bahia Oes-
te. A estrutura física e humana atualmente disponível propiciará,
relativamente, um baixo impacto orçamentário para tal proposta,
pois a nucleação da futura Universidade já foi realizada no âmbito
108 do ICADS/UFBA. 109
CAPÍTULO 4

Ações afirmativas
na UFBA

110 111
A partir de 2003, essa situação começa a mudar. De forma gra-
dual e sustentada, iniciamos uma política de ampliação de vagas
e aumento da cobertura na graduação, visando a facilitar o acesso
Ações afirmativas na UFBA à universidade a segmentos antes dela excluídos. É conhecimento
geral que essa política, evoluindo rápida e decisivamente, resultou
na implantação do Programa de Ações Afirmativas que transfor-
mou radicalmente a cara da Universidade Federal da Bahia.
Numa sociedade que se torna cada vez mais complexa do ponto
Embora o sistema de cotas no Vestibular seja o aspecto que, sem
de vista científico e tecnológico, a educação superior aparece como
dúvida, tem despertado maior interesse da comunidade, o Progra-
inegável fator de empregabilidade e mobilidade social. Entretanto,
ma de Ações Afirmativas da UFBA é bem mais amplo. Envolve
como a universidade brasileira sempre foi uma instituição de for- uma diversidade de ações que devem ser efetivamente implemen-
mação das elites nacionais, os segmentos sociais ascendentes, como tadas, a fim de que a decisão de mudar os critérios de ingresso nos
regra, encontravam enormes barreiras de acesso à educação superior. cursos não afete o padrão de qualidade que nossa instituição vem
Os processos de urbanização e modernização aumentaram a de- conseguindo manter ao longo de sua história. Além das cotas, o
manda por ensino superior no Brasil, o que acirrou mais ainda a com- Programa prevê o desenvolvimento de projetos voltados para a
petição por vagas nas universidades públicas, melhores por qualquer melhoria da qualidade do Ensino Fundamental e do Ensino Médio
indicador de qualidade e, além disso, gratuitas. Assim, além da persis- e o apoio a atividades preparatórias da demanda de escolas públi-
tente e vergonhosa chaga do analfabetismo estrutural, a dívida social cas e de afrodescendentes para o processo seletivo. Prevê também
da educação brasileira se manifesta também nos níveis superiores de a adoção de várias medidas de apoio à permanência e sucesso dos
ensino, configurando uma verdadeira perversão político-pedagógica. estudantes nos diversos cursos, incluindo atividades de qualifica-
A conjuntura atual da educação superior no Brasil, efeito e ção e orientação de graduandos com vistas a favorecer acesso à
expressão particular dessa dívida social e política, caracteriza-se pós-graduação ou inserção no mundo do trabalho.
como um contexto de transição e de conflito. A universidade bra- Neste Capítulo, apresentaremos, em primeiro lugar, uma sínte-
sileira no momento enfrenta dois problemas cruciais no tocante à se descritiva do perfil sociodemográfico e étnico-racial do alunado
sua missão civilizatória e formadora: o acesso restrito e socialmen- da UFBA antes de 2005. E, em segundo lugar, faremos um resumo
te seletivo (realizado através do anacrônico vestibular) e taxas de histórico do processo de elaboração, aprovação e implantação do
sucesso extremamente reduzidas, manifestas pelo fenômeno da Programa de Ações Afirmativas na Universidade Federal da Bahia.
evasão, particularmente nas instituições públicas. Em terceiro lugar, pretendemos descrever os elementos centrais
da proposta enfim implantada e seus desdobramentos. Em segui-
Historicamente, a nossa UFBA se omitiu frente à questão da dí-
da, mostraremos resultados de alguns dos estudos de avaliação do
vida social da educação superior. Nos dez anos que antecederam
programa, focalizando ampliação do acesso, qualidade do apren-
nosso primeiro mandato, a população baiana havia ampliado em
dizado e fatores de permanência do alunado.
mais de dez vezes a demanda por educação superior, enquanto a
oferta de vagas de graduação na UFBA cresceu menos de 9%. E
mesmo assim, antes de assumirmos uma posição institucional clara RETRATO DE UMA UNIVERSIDADE QUANDO ELITISTA
a favor da inclusão social na universidade, nenhuma discussão sobre Os dados que vieram a subsidiar o Programa de Ações Afirmati-
(ou iniciativa para) ampliação de acesso a pobres, negros e índios vas da UFBA foram coletados nos processos seletivos dos sete anos
havia sido conduzida de modo consistente e operativa no sentido que antecederam sua implantação, quando pela primeira vez (em
de tornar a instituição universitária mais acolhedora aos excluídos. 1998) investigou-se origem social (estudantes de escola pública)
112 113
e auto-declaração de cor (preto, parda, branca, amarela ou indí-
gena) tanto na candidatura quanto na classificação no vestibular.
A Tabela 4.1 apresenta, de modo comparativo, a proporção do
“Os dados demonstravam, de modo alunado de acordo com cor da pele, para uma amostra selecionada
de universidades brasileiras. A USP e a UFPR eram as universidades
eloquente, que nossa universidade brasileiras com menor proporção de negros no alunado, pouco aci-
ma de 8%. Apesar do reduzido déficit (face à pequena proporção
discriminava pobres e negros nos de pretos e pardos na população de ambos os Estados), ressaltam os
maiores coeficiente de discriminação de negros (leia-se: a proporção
cursos de alta concorrência.” de negros na USP é 3,3 vezes menor que na população geral de São
Paulo; a da UFPR é 2,4 vezes). A UnB apresenta uma proporção
intermediária de negros (32%), porém aparece como a instituição
mais inclusiva, com a proporção de negros apenas 1,5 vezes maior
que na população do DF. UFMA e UFBA têm perfis muito pareci-
dos, apresentam os maiores percentuais (43% de negros na época
do estudo), mas também os maiores déficits, apesar dos coeficientes
de discriminação se mostrarem bastante equivalentes.

Tabela 4.1. Distribuição dos Estudantes Segundo a Cor da Pele:


UFRJ, UFPR, UFMA, UNB, UFBA e USP – 2001

USP UFPR UFRJ UnB UFMA UFBA


Indígena 13,0 4,1 1,6 2,9 5,9 3,0
Amarela 0,5 0,8 1,3 1,1 4,3 3,6
Branca 78,2 86,5 76,8 63,7 47,0 50,8
Negra 8,3 8,6 20,3 32,3 42,8 42,6
% de negros no Estado 27,4 20,3 44,6 48,0 73,4 75,0
Déficit 18,9 11,7 24,3 15,7 30,6 33,6
Coeficiente de
Discriminação* 3,301 2,360 2,197 1,486 1,715 1,760
Fonte: Pesquisa Direta. Programa A Cor da Bahia /UFBA, I Censo Étnico-Racial da USP e IBGE Tabula-
ções Avançadas, Censo de 2000.
*% Negros na População /% Negros na Universidade

Preliminarmente, a análise desses dados permitiu refutar o ar-


gumento de que a UFBA discriminava pobres, negros e índios nos
seus processos seletivos em geral. Entre os anos de 1998 e 2001,
de fato aumentou a porcentagem geral de pobres, pretos e pardos
114
na UFBA. Porém, os dados demonstravam, de modo eloquente, 115
que nossa universidade discriminava pobres e negros nos cursos Psicologia, Engenharia Elétrica, Engenharia Civil e Medicina – to-
de alta concorrência. Entretanto, houve acréscimo de pobres nos dos com menos de 30% de negros. Alguns cursos revelavam virtual
cursos de demanda mais baixa e redução nos de demanda mais ausência de estudantes socialmente carentes, como, por exemplo,
alta, o que significa que se ampliou a desigualdade interna. Como Medicina, Odontologia, Fonoaudiologia, Comunicação, Direito e
exemplo extremo, Medicina e Odontologia, em 2001, ambas com Teatro – todos com menos de 10% de egressos de escolas públicas.
34% de pretos e pardos e 16% de estudantes egressos das esco- A explicação para essas distorções é a diferença de competitivi-
las públicas entre os postulantes tiveram, respectivamente, 29% e dade no vestibular que, nos cursos mais concorridos, determina a
23% de pretos e pardos e 4% e 5% de egressos de escolas públicas exclusão direta ou a autoexclusão. De fato, os egressos de escolas
entre os classificados. públicas que se candidatam a tais cursos já seriam pré-seleciona-
Nos anos de 2002 a 2004, mais de 54% dos candidatos ao ves- dos de moto próprio, avaliando suas chances remotas de sucesso
tibular se autodesignavam pretos ou pardos e pouco mais de 1% entre os aprovados nesses cursos.
dos que postulavam ingressar na UFBA declararam ser descen- Os dados relativos ao período 2002 a 2004 demonstram a con-
dentes de etnias indígenas. Os candidatos que cursaram o ensino tínua e consistente distorção do sistema. O número dos que se au-
médio exclusivamente em escolas públicas eram respectivamente, toclassificaram como pretos e pardos aumentou de 42% para 57%.
42% e 50%. Dos aprovados nos vestibulares de 2003 e 2004, mais Os mais apressados poderiam argumentar que houve aumento
de 50% eram negros, aproximadamente 2% indiodescendentes e significativo no ingresso de negros. Entretanto, esse crescimento
quase 34% provenientes de escolas públicas. só se verificou em cursos como Educação Física, Biblioteconomia,
Vários cursos tinham baixa proporção de estudantes autorrefe- Ciências Contábeis, Secretariado, Ciências Sociais, Letras, Histó-
ridos como negros (pretos ou pardos), como por exemplo Comu- ria e outras licenciaturas, enquanto que a diminuição de negros e
nicação, Música (Regência), Direito, Odontologia, Arquitetura, pobres continuava em cursos como Medicina, Arquitetura, Odon-

116 117
tologia, Psicologia e Administração. O fosso entre estudantes ne-
gros oriundos do sistema público de ensino e os estudantes oriun- ANTECEDENTES
dos do sistema privado, portanto, permanecia e até aumentava em
Entre 1998 e 2000, o Centro de Estudos Afro-Orientais – CEAO, en-
cursos mais concorridos e secularmente ocupados pelos que se tão órgão suplementar da UFBA, havia encaminhado à Administra-
autoclassificavam como brancos. ção Central sucessivas propostas de abertura do debate sobre ações
afirmativas na universidade que, infelizmente, não obtiveram enca-
Tais dados indicam que, com a falência do ensino público de
minhamento. Tais propostas tinham como base as evidências sobre
segundo grau no Estado e no País, a exclusão social ocorre antes desigualdades raciais e sociais no ensino superior, acima citadas, que
do momento de ingresso na universidade. Isto faz com que a com- o programa de pesquisas A Cor da Bahia (da Faculdade de Filosofia
posição social e racial-étnica do grupo de postulantes ao ingresso e Ciências Humanas da UFBA) vinha produzindo desde 1998, tan-
to nesta quanto em outras instituições universitárias (UnB, UFRJ,
na UFBA seja bastante diferente do perfil sociodemográfico da
UFMA e UFPR). Em 2001, durante uma reunião do CONSEPE,
população baiana. Por todos esses motivos, qualquer programa de quando se avaliavam mudanças para o vestibular, o Diretório Central
inclusão social induzida que pretendesse resultados concretos não dos Estudantes (DCE) da UFBA propôs que fossem incluídas cotas
poderia, por um lado, ser pautado pela restauração de proporções de 40% para negros (mesma base das cotas então propostas para a
UNEB). Foi constituído um Grupo de Trabalho para tratar da ques-
demográficas gerais nem poderia, por outro lado, ser genérico e
tão, mas essa iniciativa não teve continuidade e o tema não voltou à
difuso. Deveria, sim, ser focalizado e efetivamente dirigido aos pauta de discussões do Conselho.
cursos onde se observava maior defasagem entre composição da
demanda e efetiva classificação de ingressantes.
mente, pelos professores Maerbal Bittencourt Marinho (Pró Reitor
HISTÓRICO E DESCRIÇÃO DO PROGRAMA do Ensino de Graduação), Odilon Rasquim (professor da Faculdade
de Odontologia), Ubiratan Castro (Diretor do CEAO) e Osvaldo
Em nosso documento-proposta para as eleições à Reitoria em
Barreto (professor da Faculdade de Administração), além de repre-
2002, incluímos um item denominado Programa de Inclusão So-
sentantes dos servidores técnico-administrativos e dos estudantes.
cial. Essa proposta compreendia “implementação de uma política
de reserva de vagas para estudantes socialmente carentes”, vincu- Em novembro de 2002, aproveitando a realização da primei-
ra Reunião Plenária da ANDIFES em Salvador, promovemos o I
lada a um “programa especial de ampliação de vagas na gradua-
Seminário sobre Políticas de Ações Afirmativas na Universidade,
ção, preferencialmente em horário noturno”. Após nossa posse, tal
evento pioneiro no âmbito daquela entidade. Como palestrantes,
proposta passou a constar do Plano de Trabalho da Pró-Reitoria de
convidamos Nilcéa Freire, então Reitora da UERJ, Ivete Sacra-
Graduação como uma das prioridades para o período de 2002 a
mento, então Reitora da UNEB (que não compareceu), Ana Lú-
2006, então ainda sem detalhamento ou formato definido.
cia Gazzola, Reitora da UFMG, e Carlos Lessa, Reitor da UFRJ.
UERJ e UNEB haviam sido as primeiras universidades brasileiras
RESGATE HISTÓRICO a aprovar sistemas similares de cotas raciais; em contraste, UFMG
Como primeiro passo, resgatamos o projeto do CEAO encami- e UFRJ tinham tomado decisões contrárias. Convidamos também
nhado aos Conselhos Superiores, citado no box adiante. Com base Ubiratan Castro, então Diretor do CEAO, para apresentar os da-
nessa proposta, tomamos a iniciativa de pautar o tema no CONSE- dos demonstrativos da exclusão social pela educação superior na
PE que, em 21 de outubro de 2002, aprovou a constituição de um UFBA e a proposta do CEAO de implantar um sistema de cotas
Grupo de Trabalho sobre Políticas de Inclusão Social, com a atribui- sociais e étnico-raciais para cada curso.
ção de propor “estratégias de inclusão social”. Esse GT, designado Entre fevereiro e abril de 2003, por iniciativa do GT, uma equi-
118 pelo Reitor mediante a Portaria 154/2002, foi constituído, inicial- pe técnica da Pró-Reitoria de Graduação e do Serviço de Seleção 119
atualizou o perfil social e racial do alunado da UFBA, e realizou
avaliações que vieram a permitir a elaboração de um proposta
institucional de maior consistência.
Além de reuniões regulares de trabalho, o GT promoveu opor-
tunidades diversas de discussão sistemática do problema, com vis-
tas à formulação de propostas concretas para a ampliação do aces-
so de grupos sociais excluídos aos cursos de graduação da UFBA.
Atendendo à pauta de reivindicações do Comitê Pró Cotas, o GT
organizou quatro debates sobre a tema, no período de 16 de ou-
tubro a 06 de novembro de 2003, em diferentes locais. A despeito
de ampla divulgação, os debates não se realizaram, como progra-
mado, por falta de quorum mínimo de participantes. Apenas no
terceiro, em 30 de outubro, foi possível uma pequena discussão,
com sete pessoas além do GT, entre elas quatro estudantes que
compareceram para a elabora-
ção de trabalhos acadêmicos
COMITÊ PRÓ-COTAS sobre o tema.
Durante o ano de 2003, a Não obstante, merece des-
composição do GT foi modi-
taque o amplo debate que,
ficada, em parte para atender mento do conhecimento sobre o assunto em geral e, particu-
reivindicação do Comitê Pró espontaneamente, movimen-
larmente, sobre a proposta do GT, antes pouco conhecida pela
Cotas, representativo do mo- tou a lista eletrônica da UFBA
maioria da comunidade acadêmica.
vimento negro de Salvador, no verão de 2003. A discussão
que havia realizado uma ocu-
envolveu professores de diver- A proposta elaborada pelo Grupo de Trabalho foi enfim con-
pação da Reitoria em dezem- cluída e encaminhada ao CONSEPE, sob a denominação oficial
bro de 2002. A composição sas áreas e unidades universi-
final do Grupo de Trabalho tárias, quando foram expressas de Programa de Ações Afirmativas na Universidade Federal da
do CONSEPE incluía: Ma- livremente as mais diversas Bahia. Foi aprovada, em seus aspectos acadêmicos, em 13 de abril
erbal Marinho, Pro-Reitor de
posições sobre o tema. Ainda de 2004. A partir dessa data, o Reitor, o Pró-Reitor de Gradua-
Graduação, Jocélio Teles dos ção e outros membros do GT participaram de vários debates nas
Santos (CEAO), Maria Hilda que se tenham identificado
Baqueiro Paraíso (FFCH), Os- opiniões diferentes quanto à unidades universitárias, para esclarecimentos sobre a proposta e
valdo Barreto Filho (ADM), adoção de medidas de redu- subsídios à posição a ser levada pelos seus diretores para a decisão
Edilene Costa (representante
ção das desigualdades no aces- final do Conselho Universitário.
dos servidores), Marcos Melo
de Almeida (representante so aos cursos da UFBA, com a Em 17 de maio de 2004, o Programa de Ações Afirmativas
estudantil), Silvio Humber- intensificação do debate pela da UFBA foi, por ampla maioria (41 votos a favor, 6 votos con-
to dos Passos e Ceres Santos rede, algumas dessas opini- trários e 2 abstenções), finalmente, aprovado pelo CONSUNI,
Cunha (representantes do
ões evoluíram em função de em reunião extraordinária aberta, realizada no Salão Nobre da
Comitê Pró Cotas), além de
Olímpio Serra (representan- respostas e argumentações de Reitoria. Seguindo indicação do GT, previamente aprovada pelo
te da União Nacional dos In- outros. A importância desse CONSEPE, sua implementação foi programada já para o exame
diodescendentes). debate se deve ao aprofunda- vestibular do ano seguinte.
120 121
DESCRIÇÃO DO PROGRAMA com a FUNAI, para a formação de docentes para o ensino
O Programa de Ações Afirmativas da UFBA tem como alvo indígena e para as licenciaturas no campo.
grupos da população socialmente carentes e segmentos excluí- » Formação continuada de professores – oferta de cursos
dos da educação superior. Seu objetivo geral é possibilitar que, no de especialização, de extensão e sequenciais, produção de
prazo previsto, seja alcançada, em todos os cursos de graduação, material didático, organização de sites informativos de ca-
participação representativa de egressos das escolas públicas, pre- ráter interdisciplinar em cada área de conhecimento.
tos e pardos, descendentes de índios, índios aldeados e membros » Ampliação do Programa de Avaliação do Ensino Médio,
de comunidades remanescentes dos quilombos. visando acompanhar o resultado das ações implementa-
Os estudos disponíveis e consultados na elaboração do progra- das e a melhoria desse nível de ensino.
ma mostraram que o principal fator de desigualdade no acesso à • Ações voltadas para elevação do nível de informação dos
universidade é a origem escolar dos candidatos: se cursaram ensino candidatos sobre o próprio concurso vestibular a serem pro-
fundamental e médio na rede pública ou em escolas particulares. movidas pelo Serviço de Seleção, incluindo palestras, deba-
O reconhecimento dessa diferença de base, somada à concorrên- tes, exposições, oficinas, demonstrações, distribuição de im-
cia aos cursos da UFBA, resultava numa imagem de inacessibilida- pressos, site informativo, consultas virtuais.
de que levava a que muitos jovens pobres sequer se inscrevessem
• Preparação específica dos candidatos nos conteúdos exigidos
para o nosso vestibular.
nos processos seletivos.
Em sua forma final, o Programa de Ações Afirmativas da UFBA
» Apoio a cursos pré-vestibulares gratuitos ou subsidia-
estrutura-se em quatro eixos: preparação, acesso, permanência,
dos – através de convênios com entidades que os ofere-
pós-permanência.
cem (como Instituto Steve Biko, ASSUFBA, Oficina da
Preparação – A Universidade deve contribuir para melhoria da Cidadania, Pré-Vestibular Salvador, União Nacional dos
formação dos estudantes das redes públicas através de programas Indiodescendentes etc.), disponibilizando espaço físico e
e ações em parceria com os governos estadual e municipais. Tam- equipamentos de ensino da Universidade, além de pro-
bém é importante um movimento de maior aproximação e de mover o recrutamento de voluntários dentro dos quadros
informação sobre a UFBA em relação aos estudantes, que ajude a da universidade.
mudar a perspectiva atual.
» Publicação de material didático (livros, fascículos, textos
Com esse espírito, introduzimos, no Programa de Ações Afir- etc.) sobre conteúdos avaliados no vestibular, a exemplo de
mativas da UFBA, várias medidas que buscaram influenciar posi- Cinema no Vestibular (livro publicado no final de 2003).
tivamente na qualidade das escolas públicas na Bahia, melhorando
A perspectiva de maior acesso à universidade certamente impli-
a qualificação dos seus egressos como candidatos ao vestibular.
caria maior pressão por qualidade nas escolas públicas de ensino fun-
• Ações voltadas para a melhoria da qualidade do ensino mi- damental e médio, uma vez que continuávamos cobrando o desem-
nistrado nas escolas públicas de Ensino Fundamental e Mé- penho nos processos seletivos. A incorporação de mais estudantes de
dio a serem desenvolvidas mediante convênios com o Go- estratos sociais variados permitiu pressionar o Governo Federal a tra-
verno do Estado e com prefeituras: duzir em ações efetivas o que tem defendido e cobrado das univer-
» Formação inicial de professores – oferta de cursos espe- sidades. Certamente havia riscos de que as demais ações não seriam
ciais de licenciaturas para professores das redes públicas implementadas, pelo menos na medida necessária. Mas, como estive-
– presenciais e à distância, com alguns convênios já vigen- mos firmes na decisão de iniciar o processo, terminamos provocando
tes; programa especial a ser desenvolvido, em conjunto outros atores a pressionar por sua efetivação e consolidação.
122 123
Acesso (sistema de cotas) – A possibili- va aprovar a abertura de novas vagas para concurso de docentes e
dade de acesso à Universidade era desigual, técnicos, além de aumentar os recursos de custeio da universida-
principalmente para os cursos mais con- de. Como veremos adiante neste volume, isto se realizou com o
corridos, ante as diferentes possibilidades e Programa REUNI.
condições de formação, decorrentes da de- Terceiro, reserva de vagas para estudantes provenientes das es-
sigualdade social e econômica. As ações de colas públicas, negros (pretos e pardos), índios e indiodescenden-
melhoria do ensino fundamental e do en- tes e membros de comunidades remanescentes dos quilombos,
sino médio, por mais amplas e efetivas que com base nas seguintes ações:
venham a ser, demandam tempo para que
• Reserva de 43% das vagas no vestibular para egressos das
produzam resultados expressivos. Aguar-
escolas públicas e negros, a serem preenchidas na seguinte
dar tais resultados, mesmo admitindo que
ordem de prioridade:
investimentos com esse objetivo pudessem
começar de imediato, significaria adiar por » estudantes que tenham cursado todo o ensino médio e
cerca de uma década a vigência de mudan- pelo menos uma série entre a quinta e a oitava do ensino
ças significativas no quadro de iniquidades fundamental na escola pública, sendo que, desses, pelo
na educação superior pública. Enquanto menos 85% de negros;
isso, muitos estudantes, mesmo atingindo » no caso de não preenchimento dos 43% de vagas reser-
a média necessária para ingresso na univer- vados por aqueles, preenchimento das vagas remanescen-
sidade, não conseguiriam nela entrar pela tes da cota por estudantes negros, independentemente da
desigualdade na competição. procedência;
Visando à criação de condições objetivas » continuando sem ser atingido o percentual de vagas re-
para ampliação e diversificação do acesso servado, as vagas remanescentes seriam preenchidas pelos
à Universidade, concebemos, aprovamos e demais candidatos.
implementamos três medidas: • Reserva de 2% das vagas para índiosdescendentes que te-
Primeiro, definição e implementação de nham cursado desde a quinta série do ensino fundamental
critérios estáveis de isenção da taxa de ins- até a conclusão do ensino médio na escola pública.
crição no vestibular, ampliando ao máximo • Admissão de todos os índios aldeados, estudantes de comuni-
o número de beneficiados. A UFBA, sozi- dades remanescentes dos quilombos, até o limite de dois por
nha, não tinha possibilidade de aumentos curso, que tenham cursado da quinta série do ensino funda-
substanciais em subsídios e isenções além mental até a conclusão do ensino médio integralmente em es-
do que ofereceu nos últimos concursos, colas públicas que obtenham média acima do ponto de corte.
uma vez que o vestibular é autossustenta-
Nesse formato, não é necessário, na inscrição, que os candidatos
do.
optem por concorrer ou não às cotas. Apenas, dentro do limite
Segundo, maciça ampliação de vagas estabelecido, há uma prioridade definida para preenchimento das
para cursos de graduação na UFBA, abrin- vagas reservadas. No processo de inscrição, são registradas as infor-
do vagas residuais, novas vagas em cursos mações que possibilitam a classificação nas cotas. A identificação
pré-existentes e novos cursos, principal- étnica é sempre autodeclaratória. Não havendo candidatos sufi-
mente noturnos. Para isso, o MEC precisa- cientes dos grupos contemplados que atinjam a nota necessária
124 125
para aprovação, as vagas são preenchidas pelos demais candidatos. ocorrido no vestibular. Uma política de reserva de vagas com tais
O formato da proposta procurava evitar a possibilidade de di- elementos, de extremo poder indutor, visa a acelerar a inclusão
ferenciação e eventual desqualificação de qualquer dos classifica- dos grupos sociais, econômicos e étnicos em desvantagem até que
dos. Não se aceitou qualquer redução das exigências cognitivas e as demais ações a tornem desnecessária.
pedagógicas vigentes para o ingresso. Todos concorrem ao mesmo A natureza pública da instituição universitária federal, topo
vestibular ou processo seletivo, tendo que obter pontuação acima do sistema de educação pública, deve priorizar (e não privilegiar)
do mesmo ponto de corte. Assim, apenas se propunha uma con- estudantes de escola pública que conseguem atingir níveis de for-
corrência em faixas mais equilibradas. mação que os capacita a ingressar no ensino superior. Para isso, não
O sistema toma como base a proporção de candidatos que decla- bastava redistribuir os poucos lugares no ensino superior público,
rarem origem racial/étnica negra (pretos e pardos) ou índia e forem retirando vagas de segmentos já contemplados para concedê-las a
comprovadamente carentes sociais; focalizado nos cursos que apre- outros grupos socialmente necessitados; por esse motivo, foi ne-
sentam parcelas de estudantes egressos de escolas públicas, afro- cessário ampliar a oferta de vagas.
brasileiros e índios, defasados em relação à proporção da demanda. Permanência – Além das dificuldades de acesso, o principal
Com o formato adotado, as cotas não interferiram nos resultados problema para a inclusão social de estudantes egressos de escolas
dos cursos que já tinham, independentemente das mesmas, uma públicas, negros e índios pela via da formação superior encontra-
porcentagem de aprovados dos grupos contemplados maior do que se nas dificuldades e falta de apoio à permanência na univer-
o mínimo estabelecido. Por outro lado, poderia haver um número sidade. Entre 1998 e 2002, cerca de 43% dos estudantes que
de classificados desses grupos superior a esse mínimo desde que conseguiram ingressar na UFBA não completaram seu curso no
houvesse candidatos com média suficiente para se incluírem na fai- prazo máximo regulamentar. Isto afetava especialmente os estu-
xa além das cotas. dantes pobres e negros: no Vestibular 2003, 50% dos aprovados
Ainda que os dados mostrem como principal fator de desvan- eram negros e 33% eram egressos de escola pública; entre os
tagem no vestibular a condição econômica detectada pela prove- graduados naquele ano, apenas 43% eram negros e 19% vieram
niência da escola pública, a cor é, historicamente, um elemento de escola pública.
de preterição dos não brancos. Adotando-se cotas para a escola Para dar conta do eixo Permanência, o Programa de Ações Afir-
pública, isso certamente contemplaria uma parcela significativa mativas da UFBA incorpora três medidas:
de negros, entretanto, como consequência, sem uma manifesta- Primeiro, uma profunda revisão da grade de horários da UFBA,
ção clara quanto à questão. Valorizando também a questão da cor, propiciando aos estudantes regimes de estudos que permitam o
como demandavam os movimentos negros, a Universidade reafir- atendimento àqueles que necessitam trabalhar para sobreviver na
mou a necessidade de interferir também no resultado decorrente universidade. Isso incluía também a abertura de cursos em horários
de todos esses anos de exclusão racial. noturnos e aulas concentradas em fins de semana, atendendo com
O regime de cotas proposto foi implementado por tempo li- prioridade aos participantes no Programa de Ações Afirmativas.
mitado (10 anos). Como veremos adiante neste Capítulo, durante Segundo, um programa amplo de sucesso escolar, com tutoria,
o prazo de vigência, o sistema de cotas vem sendo acompanhado reforço e acompanhamento acadêmico para todos os que necessi-
e avaliado sistematicamente. Em relação aos estudantes negros tem de assistência pedagógica, independentemente de terem in-
(pretos e pardos) e provenientes de escolas públicas, o objetivo gressado pelo regime de cotas.
era alcançar, no prazo de cinco anos, uma participação mínima de
Terceiro, um programa de apoio social ao estudante de baixa
40% em todos os cursos. Para indiodescendentes, provenientes da
renda, reforçando e ampliando a política de assistência estudantil
126 escola pública, a proposta é uma cota igual à demanda que tem 127
com assessoria e assistência na obtenção de estágios e empregos, e
um programa de educação permanente para aqueles que se torna-
rem pequenos empresários.
Tão importante quanto promover preparação, ampliar acesso e
garantir permanência é, certamente, o fomento da conclusão dos
cursos e a preparação para estudantes socialmente carentes, negros
e índios galgarem melhores posições na escala social. Ações de
apoio à continuidade pós-formatura, seja para ingresso no merca-
do de trabalho seja para continuidade de estudos, também devem
ser dirigidas a todos os que tenham menor capacidade econômica
considerando, igualmente, também a questão racial.

AVALIAÇÕES DO MODELO
Contra a proposta descrita acima, emergiram críticas, de dentro
e de fora da Universidade, que insistiam na inviabilidade ou ino-
cuidade das ações afirmativas, declaradas meritórias em intenção,
porém questionáveis em seus critérios operacionais. Alegavam
razões de custo-benefício (elevados investimentos que poderiam
ser destinados a ações de retorno imediato). Também referiam a
Simpósio do Programa problemas na operação da proposta (impossível definir raça cien-
Permanecer da PROAE, tificamente; somos todos afrodescendentes; a classe média certa-
Pró-Reitoria de
– residência, alimentação, transporte etc., com concessão de bolsas
Assistência Estudantil e demais ações de apoio à permanência na Universidade. mente vai fraudar o sistema...).
Apesar da falta de estudos específicos, com boa base metodo- Os defensores dessa modalidade de reação tipicamente produ-
lógica, há consenso de que muitos fatores levam à evasão escolar ziam uma retórica de base técnica que só poderia ser vencida pelo
no ensino superior, entre eles, as dificuldades econômicas. Com a efeito-demonstração das propostas implementadas, aproveitan-
adoção das cotas, passamos a ter mais estudantes com essas difi- do a crítica para melhoria das propostas e avanço nas estratégias.
culdades. Mecanismos que possibilitem aos estudantes conciliar Com esse objetivo, buscamos desenvolver um eficiente e confiável
estudo e trabalho ou, simplesmente, se dedicar integralmente ao modelo de acompanhamento, avaliação e análise de dados, numa
curso escolhido, são importantes para contornar essas dificuldades. parceria entre UFBA (CEAO), USP (CEBRAP), Unicamp e Prin-
Dispor de tais soluções é pré-condição para o sucesso do projeto ceton University, cujos resultados preliminares são apresentados
de inclusão. Entretanto, sempre defendemos que isto não deveria nesta seção.1
ser condição sine qua non para adoção do sistema de cotas; até
porque a Universidade sempre teve estudantes carentes concluin-
1
Síntese de análises disponíveis nas seguintes publicações:
• ALMEIDA FILHO, Naomar; MARINHO, Maerbal Bittencourt; CARVALHO,
do os cursos, apesar das dificuldades. Manoel José; SANTOS, Jocélio Teles. Ações Afirmativas na universidade pública:
o caso da Ufba. Salvador: Centro de Estudos Orientais/UFBA, 2005.
Pós-permanência – Os estudantes que ingressarem na univer-
• GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo; COSTA, Lilia Carolina da; ALMEIDA
sidade através do Programa de Ações Afirmativas serão elegíveis a FILHO, Naomar; NEWMAN, Katherine. Social Inclusion in Brazilian Univer-
um programa especial de preparação para a vida pós-universidade, sities: the case of UFBA. São Paulo: Centro de Estudos da Metrópole, TEXTO
128 PARA DISCUSSÃO Nº 008/2010 (http://www.fflch.usp.br/sociologia/asag). 129
Após cinco anos de implantação do Programa, dispomos agora
de dados suficientes para, em primeira instância e com material
empírico, avaliar se as críticas antecipadas tinham fundamento.
Isto implica responder a três questões: primeiro, será que o sis-
tema de seleção implantado foi efetivamente capaz de mudar
o perfil do alunado, aumentando o grau de inclusividade social
da instituição? Segundo, houve realmente queda em qualidade
e desempenho dos estudantes selecionados pelo sistema de re-
serva de vagas? Que tipos de
resposta e que níveis de efici-
ência tal sistema alcançou no ARGUMENTO DE MÉRITO
que concerne a discriminação Um argumento contrário às
positiva com manutenção da cotas tem sido recorrente: a
ameaça potencial ao mérito
qualidade acadêmica? acadêmico. Nessa hipótese, ao
No que concerne a indica- se permitir acesso a candidatos
supostamente sem base cogni-
dores, tais questões podem ser
tiva e preparação intelectual,
respondidas com verificação haveria impacto negativo das
do nível de preparação dos in- cotas na Universidade, com
queda na qualidade do ensi-
gressantes, desempenho dos
no, evasão elevada, formação
estudantes durante o curso, deficiente de profissionais, re-
níveis de evasão e taxas de su- dução da taxa de sucesso etc.
cesso. Isso significa contrastar
os resultados em cada um dos
indicadores do contingente de estudantes que fizeram a seleção
geral e aqueles que se beneficiaram do sistema de cotas e do pro-
grama como um todo. Nesta seção, faremos isso de modo conciso
e objetivo, a partir de quatro análises distintas:
• avaliação de desempenho no processo seletivo de ingressan-
tes na UFBA em 2005, primeiro ano de funcionamento do
Programa;
• análise da oferta de vagas entre 2003-2008;
• simulação de efeitos de diferentes modelos de seleção numa
determinada coorte do curso de maior concorrência da UFBA;
• estudo de rendimento relativo, evasão e sucesso de todos os
estudantes da UFBA que ingressaram na instituição entre
2003 e 2008.

130
AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO NO PROCESSO SELETIVO DE 2005 dos 30% com classificação mais baixa, em cada curso. Ou seja, a
No Vestibular 2005, dos 3.986 candidatos selecionados para in- influência do sistema de cotas só se fez sentir no terço inferior da
gresso na UFBA, 2.104 (52,8%) declararam-se oriundos de escola classificação de cada curso.
particular (não-cotistas). Dos outros 1.882 cotistas, 1.098 (27,5% Os escores globais do Vestibular da UFBA são atribuídos numa
dos selecionados) tiveram ordem de classificação igual ou inferior escala de 0 (zero) a 24.000 pontos (12.000 em cada fase), sendo
ao número de vagas oferecidas e, portanto, ainda que cotistas, não que, na área de Artes, o escore global máximo é 30.000 pontos.
se beneficiaram com o sistema, já que seriam selecionados mesmo Para facilitar o entendimento, os escores mencionados a seguir fo-
sem esse sistema. Nesse ano, 784 estudantes beneficiaram-se efeti- ram convertidos à escala tradicional de 0 (zero) a 10 (dez), adota-
vamente do sistema de cotas, ocupando outras tantas vagas extras da nos cursos da UFBA, indicando-se entre parênteses os respec-
ou de candidatos com escores globais mais altos, que seriam sele- tivos escores na escala original, conforme constam nas listagens e
cionados, caso o sistema de cotas não tivesse sido implantado. Isso relatórios técnicos, inclusive no Boletim de Desempenho posto à
quer dizer que 80% dos candidatos foram selecionados exclusiva- disposição de cada candidato.
mente pelo seu desempenho acadêmico nas provas do Vestibular, A análise geral de desempenho do Vestibular 2005, com base
independentemente de qualquer característica relativa à origem nas médias históricas de pontos de corte, apresentada na Tabela
escolar e à etnia ou cor, e que só 20% dos candidatos foram sele- 4.2, demonstra que a implantação do sistema de reserva de vagas
cionados graças ao sistema de cotas. na UFBA não interrompeu a tendência de elevação desse indica-
Em 2005, das 61 opções de curso oferecidas no Vestibular da dor em curso nos últimos anos.
UFBA, em 10 delas a influência do sistema de cotas foi igual ou
menor que 5%. O curso mais afetado pelo sistema de cotas foi Tabela 4.2. Variação Temporal do Ponto de Corte Geral
Fonoaudiologia, com 43% de candidatos selecionados graças ao no Vestibular, UFBA-2005
sistema de cotas. Por outro lado, 13 cursos não foram afetados, isto
é, a relação de selecionados é exatamente a mesma, com ou sem Vestibular 2003 2004 2005

o sistema de cotas. Etapa 1 5.018,69 5.099,80 5.117,40


Etapa 2 5.009,29 5.056,44 5.089,05
Considerando que a UFBA já tinha 19 cursos com um percen-
Escore Global 10.027,98 10.156,24 10.206,45
tual de estudantes oriundos da escola pública acima de 38%, em
23 cursos o sistema de cotas pouco ou nada influenciou. A relação
A média geral dos candidatos selecionados no Vestibular 2005
de selecionados foi mais ou menos a mesma, com ou sem siste-
da UFBA foi 5,8 (13.890), sendo mais alta a média do curso de
ma de cotas. Tais cursos apresentam menor concorrência e mui-
Medicina, 7,2 (17.237), e mais baixa a média do curso de Enge-
tos são considerados pela sociedade como de baixo prestígio. O
nharia de Pesca, 4,7 (11.166). O escore global mais alto foi 8,3
desempenho no Vestibular de 2005 revela que a média geral dos
(19.836), obtido pelo 1º classificado para o curso de Medicina, e o
candidatos selecionados foi de 5,8. Os que se inscreveram como
escore mais baixo foi 4,0 (9.699), obtido pelo último classificado
não-cotistas obtiveram 6,1 e os cotistas 5,5.
para o curso de Educação Física.
Os candidatos situados entre os 60% mais bem classificados
A média geral dos candidatos inscritos como não-cotistas foi 6,1
de cada curso não foram afetados pelo sistema de cotas. Até esse
(14.532), e a dos candidatos inscritos como cotistas foi 5,5 (13.174).
limite, a relação de classificados é exatamente a mesma, com ou
A maior diferença entre a média de inscritos não-cotistas e a de ins-
sem o sistema de cotas. Os cotistas ocuparam as vagas sobretudo
critos cotistas foi encontrada no curso de Arquitetura e Urbanismo,
132 133
respectivamente 6,1 (14.589) e 4,9 (11.860); a menor diferença foi Tabela 4.3. Desempenho de Cotistas e Não-Cotistas
encontrada no curso de Secretariado Executivo, respectivamente 4,9 no Vestibular, UFBA-2005
(11.654) e 4,8 (11.499). Em três cursos, todos da área de Artes (Li-
Cursos/indicadores Cotistas Não-cotistas
cenciatura em Teatro; Composição e Regência; e Licenciatura em De-
senho e Plástica), a média dos cotistas foi maior que a dos não-cotistas. Medicina
Número de Selecionados 72 88
Vejamos o que ocorreu com dois cursos normalmente muito
Escore: média 6,7 (16.195,1) 7,5 (18.090,5)
procurados: Direito e Medicina. Conforme a Tabela 4.3, a nota
mais alto 7,8 (18.711,4) 8,3 (19.836,2)
global do curso de Medicina foi 7,2 (17.238 pontos), e as notas
mais baixo 6,3 (15.045,8) 7,3 (17.504,2)
médias por subgrupos foram 6,7 cotistas e 7,5 não-cotistas. Con- Direito
vém observar que o último cotista classificado ocupou uma das Número de Selecionados 91 110
três vagas destinadas especialmente para candidatos indio-descen- Escore: média 6,2 (14.853,1) 7,0 (16.698,9)
dentes de escola pública. Excluída essa categoria de inscrição, o mais alto 8,1 (19.408,5) 7,8 (18.764,6)
candidato de escola pública (cotista) com a última classificação mais baixo 5,8 (14.034,8) 6,7 (15.990,4)
obteve escore global equivalente a 6,3 (15.046 pontos).
A média geral do curso de Direito foi 6,6 (15.863,2), com as se-
guintes notas: 6,2 cotistas e 7,0 não-cotistas. Também o último co-
tista classificado no curso de Direito ocupou uma das quatro vagas
destinadas especialmente para candidatos indiodescendentes de es-
cola pública. Excluída essa inscrição bem como um candidato que
ocupou uma vaga extra, o candidato de escola pública com a última
classificação obteve escore global equivalente a 5,8 (14.035).
A instituição do sistema de ações afirmativas em 2005 nos
permite demonstrar que a reserva de vagas significou aumento
substancial dos estudantes oriundos da escola pública e que se
auto-classificaram como pretos e pardos. O total de pretos e par-
dos selecionados (73%) na Universidade em 2005 aproxima-se
do percentual da população do Estado da Bahia e foi alcançado
o percentual geral de 53% para estudantes oriundos da escola pú-
blica (brancos, pretos e pardos) em todos os cursos. No ano de
2001, os percentuais dos oriundos da escola pública nos cursos de
Medicina, Odontologia, Comunicação-Jornalismo e Direito eram
respectivamente 4,4% , 5,0% , 6,7% e 8,0%. Com o início do nosso
Programa de Ações Afirmativas, nenhum desses cursos registrou
menos de 43% de estudantes de escola pública.
Se a democratização no acesso foi alcançada, a manutenção do
mérito se manteve. Como vimos acima, o ponto de corte do Ves-
tibular 2005 (43% do valor máximo) foi ligeiramente maior que o
134 dos vestibulares anteriores em 2004 e 2003 (42%). 135
Em relação aos cursos considerados de prestígio, as diferen- Tabela 4.4. Demanda e Oferta de Vagas, UFBA, 2003 a 2008
ças entre o desempenho médio nos vestibulares antes e depois Total de inscritos Oferta de vagas Razão de
das cotas foram pequenas, como observado em Odontologia no Vestibular na primeira lista Aprovação
(6,2 em 2004; 5,8 em 2005); Comunicação-Jornalismo (6,7 em Anos Abs Δ% Abs Δ% %
2004; 6,2 em 2005); Arquitetura (6,3 em 2004; 6,2 em 2005).
2003 38.995 – 3.845 – 9,9
Os cursos onde ocorreram maiores diferenças no desempenho
2004 37.839 -2,96 3.892 1,22 10,3
foram Medicina (7,6 em 2004; 6,5 em 2005), Engenharia Elé-
2005 33.060 -12,63 3.986 2,42 12,0
trica (7,6 em 2004; 6,5 em 2005) e Direito (7,4 em 2004; 6,3 2006 40.319 21,96 3.993 0,18 9,9
em 2005). 2007 40.832 1,27 4.296 7,59 10,3
O que ocorreu na UFBA foi uma revolução no ingresso em 2008 34.957 -14,39 4.229 -1,56 12,0
cursos considerados como de maior prestígio na sociedade bra-
sileira, onde o número de estudantes oriundos da escola pública
era ínfimo. Um outro dado significativo foi que, pela primeira No ano de 2006, a demanda pela UFBA foi revigorada, certa-
vez na história da instituição, tivemos o ingresso de índios alde- mente devido ao incentivo que as cotas representavam (quase 8 mil
ados (hoje são 14 estudantes, pouco em quantidade porém de estudantes voltaram a procurar a instituição), para cair bastante em
grande significado simbólico). seguida, em 2008. Esta segunda queda pode ter sido motivada por
dois fatores: o crescimento da oferta de vagas na UFRB e nas facul-
ANÁLISE DE DEMANDA E OFERTA DE VAGAS (2003-2008) dades privadas, em função do grande aumento de vagas no PROU-
NI. Ou seja, a procura pelos cursos que a UFBA oferece em Salva-
No período de 2003 a 2008, o número de vagas da UFBA se
dor caiu bruscamente por conta da concorrência com outras IES,
manteve praticamente constante na Capital, variando em torno
diretamente ou através do PROUNI. De fato, entre 2005 e 2008,
de 3.600, enquanto o grosso da expansão, cerca de 300 vagas, con-
o número de bolsas do PROUNI ofertadas no município de Salva-
centrou-se no interior do Estado, nos campi de Barreiras e Vitória
dor quase que triplicou, passando de 3.831 para 10.739 (180% de
da Conquista.
incremento). O grande aumento da oferta aconteceu entre 2006 e
A demanda para os cursos em Salvador diminuiu entre 2007 (duplicando de 3.920 para 7.780); enquanto a Universidade
2003 e 2008, apresentando oscilações importantes no perío- Federal do Recôncavo, que começou a funcionar em julho de 2006,
do. Caiu acentuadamente entre 2003 e 2005, em quase 5 mil já ofertava 3.580 vagas em seus quatro campi (Cruz das Almas,
candidatos. A introdução das cotas, em 2005, aparentemente Amargosa, Cachoeira e Santo Antonio de Jesus) no ano de 2009.
não significou um atrativo para o aumento da demanda. Na-
A Tabela 4.4 também permite analisar as tendências relativas à
quele ano, a procura pela UFBA ainda caiu, no que pese a
aprovação no Vestibular. Verificamos que os percentuais de suces-
pequena ampliação com novos cursos e vagas. Os cursos mais
so situam-se em torno de 10% na maior parte do tempo, aumen-
demandados, como Medicina, Direito, Administração, Psico-
tando para 12% nos dois anos em que houve redução acentuada
logia, Enfermagem, Odontologia e Farmácia, perderam 3.312
da demanda (2005 e 2008).
candidatos, ou seja, 21% a menos que em 2004. Outros cursos,
como Veterinária, Ciências da Computação, Educação Física
e Engenharia Civil também receberam um número expressi- MUDANÇA NO PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DOS APROVADOS
vamente menor de candidatos, provavelmente desviados para Uma primeira abordagem no sentido de avaliar o sistema de cotas
faculdades privadas. introduzido pela UFBA em 2005 é conhecer a mudança no perfil so-
136 137
cioeconômico dos aprovados no vestibular da instituição. Como o pro- Tabela 4.6. Percentual de aprovados por procedência escolar. UFBA, 2003-2008
grama é voltado para beneficiar principalmente os estudantes pretos e Escola Escola
pardos de escolas públicas, através da reserva de vagas, era de se esperar Anos Particular Pública Estadual Federal Municipal

que a composição demográfica dos aprovados se modificasse radical- 2003 61,5 38,5 23,2 9,0 1,7
mente nesta direção, já em 2005. Para controlar o efeito de uma outra 2004 66,2 33,8 20,4 7,8 2,1
política de ação afirmativa, introduzida em paralelo – a interiorização, 2005 49,0 51,0 36,5 11,1 2,9
vamos analisar apenas os dados referentes aos cursos de Salvador. 2006 48,9 51,1 37,1 9,8 3,6
2007 49,1 50,9 36,5 11,2 2,7
A tabela 4.5, abaixo, demonstra que realmente aconteceu o espe- 2008 53,4 46,6 32,9 10,5 2,9
rado: já no primeiro ano, a UFBA passou a recrutar um número de
negros praticamente equivalente à proporção de negros na popula-
Tabela 4.7. Percentual de aprovados por renda familiar. UFBA, 2003-2008
ção do Estado da Bahia. Melhor ainda: passou a recrutar estudantes
negros quase na mesma proporção de negros inscritos no seu ves-
Anos
tibular. Com a consolidação do Programa, essa proporção torna-se Renda
um pouco maior ano a ano, como mostram as taxas crescentes de familiar 2003 2004 2005 2006 2007 2008
aprovação de negros. Mesmo com a diminuição da demanda a partir Até 3 SM 11,6 14,7 23,3 27,2 27,9 27,8
de 2007, quando boa parte da população de candidatos negros do +3 A 5 SM 20,7 18,7 25,6 23,9 23,0 23,7
ensino público passa a buscar faculdades privadas através do PROU- +5 A 10 SM 31,6 29,5 24,5 23,9 23,9 22,6
NI, a taxa de aprovação de estudantes negros continua crescendo. +10 SM 36,1 37,1 26,6 25,2 25,2 25,9

Tabela 4.5. Percentual de negros aprovados, UFBA, 2003-2008

Percentual de negros Razão de aprovação

Anos inscritos aprovados negros brancos


2003 58,84 55,4 8,6 10,2
2004 66,75 61,1 9,3 12,3
2005 75,27 74,5 11,9 12,6
2006 74,43 73,0 9,6 10,5
2007 72,69 71,9 10,4 11,2
2008 71,37 72,3 12,6 12,4

O mesmo acontece com o percentual de estudantes aprovados


oriundos das escolas públicas (Tabela 4.6). Em 2004, 66% dos apro-
vados pela UFBA provinham de escolas privadas; em 2005, este nú-
mero cai para 49%. Aqui, entretanto, o efeito da maior oferta e da
atratividade do PROUNI se fez sentir mais fortemente. A partir de
2007, por exemplo, o percentual de aprovados das escolas privadas
volta a crescer a taxas menores, até atingir, em 2008, 53%.
138 139
Isso não significa que a política de democratização, ou seja, de atra-
ção de jovens oriundos das classes populares, que o sistema de cotas
atraiu num primeiro momento, teria sido necessariamente anulada
pelo PROUNI. Ao contrário, há indícios de que o processo de de-
mocratização do acesso à UFBA continuou seu curso. Tomemos, por
exemplo, a renda familiar declarada pelos estudantes (Tabela 4.7). Ve-
rificamos que, no início do período, a proporção de estudantes apro-
vados com renda familiar acima de 10 salários mínimos era 3,1 vezes
maior do que aqueles com renda abaixo de três salários. O percentual
de aprovados oriundos de famílias com renda acima de 10 salários
mínimos continua a cair durante todo o período (de 36% a 26%),
ainda que em menor velocidade, como seria de se esperar. Simetrica-
mente, o percentual de aprovados pobres, oriundos de famílias com
renda abaixo de três salários mínimos, aumentou significativamente,
de 12% em 2003 a 28% em 2008. Em 2008, a distribuição por faixa
de renda tornou-se impressionantemente homogênea, variando entre
23% e 28% do total de aprovados. Em suma, apesar do seu impacto
em geral, o PROUNI não parece ter sido capaz de re-elitizar o acesso
à UFBA, graças ao efeito inclusivo do Programa de Ações Afirmativas.
A tabela 4.8 revela significativo aumento da proporção de ne-
gros oriundos de escola pública entre os aprovados na UFBA, com
o advento das cotas a partir de 2005; passam de um patamar de
25% para pouco mais de 44%. Simetricamente, observa-se uma
variação em sentido oposto entre os brancos de escola particular:
de 33% em 2003 para 19% em 2007-2008. Há, entretanto, uma
discreta diferença em pontos percentuais entre 2008 e 2007 para
cada combinação de aprovados por procedência escolar e cor. Ve-
rifica-se que o aumento dos aprovados oriundos das escolas parti-

Tabela 4.8. Aprovados por procedência escolar e cor, UFBA, 2003-2008

Anos 2008-
Categorias 2007
cor/tipo de escola 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Δ%
Branco-Particular 32,7 29,9 16,6 17,6 19,0 19,1 0,18
Branco-Pública 10,1 6,4 6,0 6,0 5,7 4,9 -0,79
Negro-Particular 31,7 38,8 32,8 31,9 30,9 34,7 3,74
140 Negro-Pública 25,5 24,8 44,5 44,4 44,4 41,3 -3,14 141
Tabela 4.9. Razões de Chances de Aprovação no Vestibular de acordo culares de nível médio ocorre igualmente em benefício de bran-
com variáveis selecionadas, UFBA, 2003-2008 cos e negros. No entanto, olhada com mais cuidado, a mesma
tabela indica também que os maiores beneficiados pela fuga dos
Sem cotas Com cotas
estudantes pobres de escola pública em direção às faculdades
Todos os cursos 2003 2004 2005 2006 2007 2008 privadas e à UFRB (assim como em direção aos campi do interior
Renda Familiar da própria UFBA) foram os negros de escola particular (4 pontos
Até 3 SM 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 percentuais em 31).
De 3 a 5 SM 1,34*** 1,37*** 1,41*** 1,28*** 1,33*** 1,25*** Uma outra maneira de analisar os dados, mais refinada, que
De 5 a 10 SM 1,46*** 1,82*** 1,68*** 1,6*** 1,83*** 1,54*** altera de certo modo estes resultados, pois introduz nuanças im-
De 10 a 30 SM 1,8*** 2,3*** 1,9*** 1,67*** 2,11*** 1,98*** portantes, ao fixar os parâmetros de comparação, é observar, na
Mais que 20 SM 2,14*** 2,35*** 2,07*** 1,79*** 2,45*** 2,01***
tabela 4.9 as probabilidades de aprovação de candidatos segundo
Escolaridade da Mãe características socioeconômicas e demográficas diferentes. Deste
Até 5ª completo 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 modo, isolamos, em grande parte, alguns ruídos que empanam
Ens. Fundamental completo 1,09 1,06 1,05 1,24** 1,07 1,07 nossa compreensão do que devemos realmente observar.
Ens. Médio completo 1,24** 1,33*** 1,33*** 1,33*** 1,31*** 1,3***
As probabilidades nos mostram, por exemplo, que, em 2006, a
Ens. Superior completo 1,43*** 1,93*** 1,55*** 1,84*** 1,62*** 1,56***
chance de um candidato oriundo de família com mãe de escola-
Raça e Ensino Médio ridade superior ser aprovado no vestibular era de 1,86 para cada
Branco e Rede privada 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 candidato oriundo de família com mãe de primário completo.
Branco e Rede pública 0,66*** 0,61*** 1,4*** 1,28** 1,34** 1,34** Essa probabilidade caiu para 1,56 em 2008. Um estudante negro
Negro e Rede privada 0,88** 0,9** 1,01 0,88** 0,85** 0,94 de escola pública, em 2005, tinha menos 60% de chances de pas-
Negro e Rede pública 0,59*** 0,6*** 1,35*** 1,39*** 1,61*** 1,74***
sar no vestibular que um estudante branco de escola privada; com
Escola no Ensino Médio as cotas, em 2005, suas chances passam a ser 35% maiores que a
Escola comum 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 do branco de escola particular, para em 2008, atingir 74% mais de
Escola técnica 0,16** 1,34*** 1,06 1 1,04 1,07 chances (1,74 negros de escola pública aprovado para cada branco
Outras 0,56*** 0,57*** 0,72*** 0,63*** 0,64*** 0,7*** de escola privada). As mulheres, que de um modo universal, têm
Frequentou cursinho? menos chances de aprovação nestes concursos que os homens,
Não 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 vêem suas taxas de aprovação crescerem apenas depois da grande
Sim 1,17*** 1,2*** 1,26*** 1,37*** 1,4*** 1,42*** fuga para as universidades particulares e do interior; mas, ainda
Sexo
assim, em 2008, tinham 86% a menos de chance que os homens
Masculino 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 de serem aprovadas na UFBA, campus de Salvador.
Feminino 0,83*** 0,79*** 0,78*** 0,8*** 0,71*** 0,86***

Candidato trabalha? SIMULAÇÃO DE MODELOS DE SELEÇÃO


Não 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 NO CURSO DE MEDICINA DA UFBA (2008)2

Sim 0,81*** 0,78*** 0,72*** 0,78*** 0,8*** 0,74*** A partir de 2001, algumas universidades públicas começaram
Demanda a reconhecer a distorção de avaliação do mérito individual e do
Média 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 potencial intelectual dos seus candidatos e passaram a tentar cor-
Alta 0,26*** 0,26*** 0,39*** 0,32*** 0,33*** 0,36***
142 Baixa 1,88*** 1,72*** 1,49*** 1,68*** 1,54*** 1,59*** 2
Devemos esta análise, inédita, ao Prof. Antonio Sérgio Guimarães (CEBRAP/USP). 143
rigir seus processos de seleção através de diferentes programas • O modelo em vigor, implantado em 2005, que reserva, para
compensatórios. Dois tipos de programas se sobressaem: aqueles cada curso, 45% das vagas: 36,5% para negros da escola públi-
que atribuem pontos adicionais aos candidatos com características ca, 2,5% para indígenas de escolas públicas e o restante 6,5%
relacionadas a desvantagens sociais por carência econômica e/ou para estudantes de escola pública independentemente da cor.
origem étnico-racial e aqueles que reservam um percentual ou Analisemos a Tabela 4.10. Vemos, de início, que um sistema
uma quantidade fixa de vagas a estes mesmos estudantes. que reservasse vagas apenas para negros, na Região Metropolitana
Duas características mostraram-se fortemente associadas à carên- de Salvador, equivaleria, em cursos tão concorridos como Medici-
cia e à consequente falta de oportunidade de mobilidade social pela na, a um sistema sem qualquer ação afirmativa ou inclusão social:
educação superior: a origem escolar, ou seja, se o candidato fez o estas seriam preenchidas em sua maioria por autodeclarados pre-
ensino médio em escolas públicas ou privadas; e a autodeclaração tos, pardos e indígenas, mas apenas 14 vagas seriam ocupadas por
de cor do candidato. A justificativa para adoção deste último critério estudantes de escola pública.
é tríplice: i) estudos sociológicos e econométricos demonstram que
a autodeclaração de cor explica parte importante das desigualdades
sociais no Brasil; ii) a cor é usualmente percebida no Brasil, segundo Tabela 4.10. Distribuição comparativa de aprovados para o curso de Medicina
estudos sociológicos e antropológicos que datam pelo menos dos (n=162 vagas) sob diferentes modelos de seleção. UFBA, 2008
anos 1930, como o melhor marcador de posição social (no senso co-
mum, ser preto ou pardo significa ser pobre); iii) a mobilização polí- Cor da pele e origem escolar Nenhuma AA Somente PPI Somente EP EP + PPI
tica que demandava maior justiça social na seleção dos candidatos às PPI de escola pública 12 12 64 61
universidades era organizada pelos movimentos negros brasileiros. PPI de escola particular 88 88 51 50
Outros de escola pública 2 2 9 13
É interessante avaliar se a associação destes critérios (origem es-
Outros de escola particular 60 60 38 38
colar e cor) concede às políticas compensatórias conhecidas como
Total de PPI 100 100 115 111
ações afirmativas maior poder de correção das desigualdades de
Total de escola pública 14 14 73 74
oportunidades que a adoção de apenas um deles. Para tanto, os
AA: Ação Afirmativa; PPI: Pretos, Pardos e Índios; EP: Escola Pública
diferentes modelos de seleção adotados por universidades brasi-
Fonte: SUPAC/UFBA, 2008
leiras foram avaliados em sua eficácia no sentido do potencial de
inclusão, utilizando uma simulação de resultados com os dados da
UFBA, no seu curso mais concorrido (mais de 30 candidatos por
vaga), o de Medicina. Este curso funciona no campus de Salvador,
a região metropolitana com maior população preta e parda do
Brasil. Utilizamos a base de inscritos e aprovados em 2008, quan-
do o regime de cotas implantado em 2005 já havia se consolidado.
Os diferentes modelos de seleção são os seguintes:
• O modelo vigente até 2004, vestibular unificado sem reser-
va de vagas;
• Um modelo hipotético que reservasse 45% das vagas apenas
para os autodeclarados pretos, pardos e indígenas (PPI);
• Outro modelo hipotético que reservasse 45% das vagas ape-
144 nas para estudantes da escola pública; 145
Do mesmo modo, um modelo hipotético que reservasse 45% Tabela 4.11. Desempenho relativo ao escore de entrada
das vagas apenas para estudantes da escola pública teria resulta- de cotistas e não-cotistas na UFBA, 2003-2008
dos muito parecidos com os do sistema atualmente adotado pela COORTES COORTES
UFBA. No entanto, o sistema em vigor, combinando EP + PPI, Quintil do Desempenho 2003-2004 2005-2008
preserva melhor a diversidade racial (de cor) posto que permite a escore de relativo à Não-
entrada entrada N Todos N Cotistas N Cotistas
aprovação de um número de brancos mais próximo da distribui-
ção populacional, numa cidade em que candidatos facilmente po- 1 Menor 0 – 0 – 0 –
dem se declarar pardos, dada a grande miscigenação e reconhecida Igual 371 .244 766 .281 212 .488
Maior 1149 .656 1956 .719 222 .512
flexibilidade das fronteiras de cor.
2 Menor 334 .217 518 .206 156 .216
O critério de cor corrige a tendência da população mestiça (não Igual 339 .220 639 .254 192 .266
branca) de declarar-se branca; o critério de origem escolar corrige Maior 868 .563 1361 .540 374 .518
a falta de oportunidades desta população. Assim, se a reserva de 3 Menor 607 .396 329 .332 824 .367
vagas da UFBA fosse apenas dirigida à população de cor, a indu- Igual 331 .216 231 .233 505 .225
ção de mudança de autodeclaração da cor levaria a um retorno à Maior 596 .388 431 .435 914 .408
situação ex ante de privilegiamento de grupos econômicos; ou, se 4 Menor 877 .569 330 .520 1302 .500
a política de reserva de vagas fosse apenas dirigida a estudantes de Igual 324 .210 138 .218 662 .254
escolas públicas, isso acabaria por prejudicar a população branca. Maior 340 .221 166 .262 642 .246
5 Menor 994 .641 307 .640 1770 .623
Enfim, esta demonstração reforça o argumento a favor do mo-
Igual 558 .359 173 .360 1072 .377
delo adotado pela UFBA no sentido de ser mais capaz de atender
Maior 0 – 0 – 0 –
aos objetivos de inclusividade social e não-discriminação, além de
reduzir os efeitos do viés de autodeclaração. Esta análise reafirma Total – 7688 1.000 7345 1.000 8847 1.000
também a necessidade de uma certa autonomia das universidades
para ajustar tais critérios de acordo com a demografia regional, de
Tabela 4.12. Análise comparativa de indicadores de evasão
modo a produzir o mesmo efeito: a correção das desigualdades de
e sucesso de cotistas e não-cotistas na UFBA, 2003-2008
oportunidades para candidatos de cor e de escola públicas.
Situação do estudante no curso
PERFORMANCE RELATIVA DOS COTISTAS NA UFBA (2003 A 2008) Jubilado/ Mudou
Ano Estudantes Continua Desistiu de curso Formado Total% Total N
Esta análise refere-se a todos os ingressantes entre 2003 e 2008
2003 Todos 29,5 23,8 4,1 42,6 100,00 3847
na UFBA, totalizando 23.880 estudantes. As coortes de 2003 e
2004 Todos 56,4 21,5 3,2 18,8 100,00 3841
2004 (7.688 estudantes) foram tomadas como grupo-controle,
2005 Cotistas 73,34 16,07 4,02 5,92 100,00 1842
permitindo a avaliação de efeitos tendenciais que potencialmente Não-cotistas 74,00 15,68 4,39 5,89 100,00 2073
poderiam interferir nos resultados. Os principais achados encon- 2006 Cotistas 79,83 10,06 9,77 0,34 100,00 2345
tram-se resumidos nas Tabelas 4.11 e 4.12. Não-cotistas 80,56 10,26 8,54 0,59 100,00 1862
Na Tabela 4.11, pode-se constatar dois efeitos esperados. Pri- 2007 Cotistas 96,96 2,81 0,23 – 100,00 2205
meiro, os estudantes que se posicionam nos quintis inferiores dos Não-cotistas 96,80 2,82 0,11 – 100,00 1843
escores no processo seletivo de entrada na Universidade tendem a 2008 Cotistas 99,37 0,54 – – 100,00 2224
melhorar seu desempenho, independentemente da coorte de en- Não-cotistas 99,39 0,50 – – 100,00 1798
146 trada. Segundo, os estudantes cotistas tendencialmente apresen- 147
tam menores escores nos exames de ingresso, com 71% (5.240 Evidências cada vez mais robustas dão conta de que, em conso-
estudantes) posicionados nos quintis um e dois da escala; de modo nância com os dados analisados, o desempenho relativo dos estu-
correspondente, 62% dos não cotistas (5.448 estudantes) concen- dantes que se beneficiaram da reserva de vagas nada deixa a desejar
tram-se nos quintis superiores (quatro a cinco) da escala. em comparação com os ingressantes pela seleção geral. Em outras
Porém a mesma tabela revela resultados surpreendentes, do ponto palavras, os dados reconfirmam de modo eloquente o potencial dos
de vista de desempenho relativo dos estudantes que ingressaram na jovens oriundos de classes populares que sistematicamente eram
UFBA através do Programa de Ações Afirmativas. A maioria (72%) excluídos do acesso a ensino universitário de qualidade. Mais que
dos cotistas posicionados no quintil inferior da tabela demonstram isso, a motivação frente à oportunidade de receber educação supe-
progresso em seu desempenho escolar, proporção significativamen- rior, numa instituição pública de reconhecida qualidade, resulta em
te maior em comparação com os não-cotistas (51%). Mais ainda, mais assiduidade, dedicação e aderência dos estudantes cotistas à
em todos os quintis, cotistas obtiveram consistentemente melhor formação universitária em comparação com seus colegas em me-
desempenho relativo ao escore de ingresso do que não cotistas, ten- lhor situação socioeconômica, protegidos por garantias de carreira e
dendo ao equilíbrio nos quintis superiores da escala. futuro profissional postas por sua origem familiar privilegiada.

Na Tabela 4.12, pode-se observar que os índices de conclusão


são reduzidos nas coortes recentes porque os estudantes neces- COMENTÁRIO
sitam de maior intervalo de tempo para cumprir a duração dos No Brasil, a educação superior infelizmente tem contribuído
respectivos cursos. Para todas as coortes, não existem diferenças para manter a exclusão social que ainda nos define como uma das
entre cotistas e não-cotistas nos indicadores de continuidade dos nações mais desiguais do mundo. A modernização do país fomen-
cursos, taxas de conclusão e transferência e de jubilamentos e de- tou maior demanda por ensino superior, sem o correspondente
sistências. Evidentemente que tais indicadores são subestimados aumento da oferta. Acirrou-se a competição por vagas nas univer-
devido ao fenômeno da subnotificação e ao registro atrasado na sidades públicas brasileiras, por dois motivos. Primeiro, qualidade:
burocracia acadêmica. Não obstante, ressalte-se que a variação todos os indicadores de avaliação disponíveis demonstram que o
nos indicadores ocorre consistentemente em igual medida para melhor ensino se encontra em universidades mantidas pelo Esta-
ambos os grupos de comparação, cotistas e não-cotistas. do. Segundo, gratuidade: por preceito constitucional, a instituição
A explicação para resultados tão positivos pode se encontrar pública não cobra mensalidades ou taxas.
justamente na refutação dos dois fatores acima destacados como Eis o argumento. No nível básico de ensino, os pobres, por seu
eixo da crítica contraposta ao regime de cotas na UFBA. reduzido poder econômico, têm sido alienados do direito à edu-
O primeiro elemento assinalado pelos críticos, por um lado, cação de qualidade; a eles resta a rede pública, com precária in-
implica uma suposição razoável, haja vista a real situação do con- fraestrutura e docentes desmotivados por baixos salários. Com a
tingente de ingressantes pelas cotas, em mais de 60% oriundos de falência do ensino público de segundo grau no estado e no País,
famílias com renda média abaixo de três salários mínimos. Nesse a exclusão social ocorre muito anteriormente ao momento de in-
caso, os achados da presente análise podem simplesmente atestar o gresso na universidade, fazendo com que a composição social e ra-
impacto positivo das estratégias de prevenção da evasão escolar nos cial/étnica do grupo de postulantes ao ingresso na UFBA seja bas-
grupos de alunos beneficiados pelas políticas de Ações Afirmativas tante diferente do perfil sociodemográfico da população baiana.
(ampliação de bolsas, expansão de moradia estudantil, abertura de Ao contrário, as camadas médias e altas da sociedade, por capa-
restaurante universitário, Programa Permanecer) que aplicamos na cidade financeira própria, financiam a educação pré-universitária
UFBA, no contexto do REUNI, eficientes mesmo considerando de seus jovens em escolas privadas, com melhores condições de
148 seus limites e carências. (Ver capítulo 7 adiante). funcionamento e acesso a processos preparatórios eficientes para 149
vencer o filtro competitivo de seleção das universidades. Na educa- social detentora de recursos financeiros, poder político e capital
ção superior, nada pagam por formação de qualidade em institui- social se dá, nas universidades públicas, em carreiras profissionais
ções públicas, enquanto os pobres são obrigados a pagar caro em de maior retorno econômico, poder político e prestígio social.
instituições privadas. Para melhor apreciar nossos esforços no sentido de implantar um
Nas discussões preparatórias para a implantação do Programa Programa de Ações Afirmativas na UFBA, efetivo e sustentável, é pre-
de Ações Afirmativas, descobrimos que esta análise, aparentemen- ciso compreender a questão do acesso à universidade enquanto me-
te clara e eloquente, oculta dois equívocos e uma falácia. canismo promotor de igualdade de oportunidades, visando à inclusão
O primeiro equívoco refere-se ao conceito de gratuidade, como social pela via da educação superior. Para tanto, devemos com prio-
se pudesse existir alguma atividade, realizada com qualidade e efi- ridade considerar elementos estruturantes e determinantes da dívida
ciência, sem custos estruturais e operacionais. A universidade pú- social e política da história brasileira. Entre os fatores determinantes,
blica, dada sua missão social, é cara. E longe está de ser gratuita. É como vimos acima, a profunda perversão social e política do sistema
de fato pré-paga pelo orçamento público, constituído por impos- educacional brasileiro merece maior reflexão. Entre as questões es-
tos, taxas e contribuições sociais. truturais, em primeiro lugar, o genocídio e etnocídio dos povos ame-
ríndios e a vergonhosa escravatura de africanos, parte trágica da nossa
O segundo equívoco encontra-se na premissa de que, “por ca-
herança colonial. Em segundo lugar, a profunda desigualdade econô-
pacidade financeira própria”, as classes abonadas preparam seus
mica, considerada até há pouco uma das piores do mundo, base da
jovens para ganhar acesso à universidade pública. Isto não é ver-
exclusão social que infelizmente ainda define a nação brasileira.
dade. No Brasil, importante parcela das despesas com educação
retorna às famílias com maior nível de renda sob a forma de des- A missão social da Universidade inclui sua própria mudança
contos e restituição de impostos. Dessa forma, gigantesca renún- como instituição acadêmica para assim poder contribuir, com o
cia fiscal subsidia a educação básica privada das classes média e que tem de melhor, para a transformação da sociedade, na direção
alta, o que lhes facilita predominar na educação superior pública. de um mundo mais justo e solidário.

A falácia encontra-se na conclusão de que o Estado é sustenta-


do por toda a sociedade, igualmente. A estrutura tributária brasi-
leira – regressiva no imposto de renda, omissa e inoperante no que
concerne à taxação da riqueza e pouco transparente e irracional
no caso das taxas sobre produção e consumo – é em si impor-
tante fator de desigualdade social. Dados do IPEA revelam que
os mais pobres pagam 49% de sua renda em impostos, enquanto
os que ganham mais de 10 salários mínimos mensais contribuem
com apenas 26% da sua receita. Proporcionalmente à renda, os
pobres contribuem mais para custear a máquina estatal, em todos
os níveis e setores de governo, do que os contribuintes de melhor
situação econômica.
A maioria de pobres não só financia a educação superior pú-
blica, mas também subsidia a educação básica privada daqueles
membros da minoria social que, na falta de políticas de ações afir-
mativas, ocupariam a maior parte das vagas públicas. Do ponto de
150 vista da reprodução social, a formação daqueles oriundos de classe 151
CAPÍTULO 5

UFBA
Universidade Nova

152 153
usp.br), bem como o Bacharelado em Ciências da recém-criada
Universidade Federal do ABC (www.ufabc.edu.br).

UFBA Universidade Nova


DA UFBA NOVA AO REUNI UFBA
O movimento em defesa de uma nova arquitetura acadêmica
para os cursos de graduação no Brasil, que resultou no REUNI, foi
Em 2006, depois de nossa reeleição, a Universidade Federal da sem dúvida iniciado no âmbito da UFBA.
Bahia encontrava-se num momento privilegiado, em termos de
Como vimos no Capítulo 2, quando postulamos a reeleição
conjuntura externa tanto quanto interna, para avançar nos pro-
para a Reitoria da UFBA, no início de 2006, construímos um novo
cessos de transformação que pusemos em marcha no primeiro
programa de trabalho realçando o tema da reestruturação curricu-
mandato. No início daquele ano, os Conselhos Superiores tinham
lar. Com toda clareza, declaramos a intenção de buscar fomentar
decidido retomar as discussões sobre o Plano de Desenvolvimento
em nossa instituição uma reforma universitária verdadeira, aquela
Institucional (PDI) que havia sido aprovado em 2004.
que deve ocorrer no plano da educação, e não tímidas e hesitan-
O projeto de lei da Reforma Universitária, em tramitação no tes proposições de viabilização financeira e rearranjo institucional,
Congresso Nacional desde 2005, focalizara aspectos macroestrutu- nos planos normativo e administrativo. Em nosso programa, inclu-
rais de financiamento e controle social e microestruturais de orga- ímos um item que chamamos de UFBA Nova, referência declara-
nização e gestão institucional. Lamentavelmente, o PL não definia da ao movimento da Escola Nova que, na década de 1920, sob a
mudanças significativas no modelo vigente de formação acadêmica, liderança de Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira, preconizava
seja na graduação, na pós-graduação ou em quaisquer modalidades uma renovação radical em todos os níveis de ensino no Brasil. O
de educação superior previstas na legislação em vigor. O seu foco projeto UFBA Nova compreendia os seguintes tópicos:
se restringia a mecanismos regulatórios, administrativos e de finan-
• abertura de programas de cursos experimentais e interdis-
ciamento para as instituições de ensino superior, com a dimensão
ciplinares de graduação, que poderiam ser não-profissiona-
acadêmica reduzida à mera possibilidade de inclusão de um “ciclo
lizantes ou não-temáticos, com projetos pedagógicos inova-
de estudos gerais” no início dos cursos de graduação.
dores, em grandes áreas do conhecimento.
O esgotamento do modelo profissional de graduação vigente no
• programas de renovação do ensino de graduação, por meio de
Brasil era uma constatação já quase consensual. Estreitos campos de
projetos acadêmico-pedagógicos criativos e consistentes, redu-
saber contemplados nos projetos pedagógicos, precocidade na escolha
zindo as barreiras entre os níveis de ensino como, por exemplo,
das carreiras, altos índices de evasão de estudantes por desencanto
oferta de currículos integrados de graduação e pós-graduação.
com os estudos, descompasso entre a rigidez da formação profissional
e as amplas e diversificadas competências requeridas pelo mundo do • reformas curriculares nos cursos que ainda não haviam apre-
trabalho e, sobretudo, os desafios educativos da Sociedade do Conhe- sentado propostas de atualização do ensino de graduação.
cimento demandavam um modelo de formação superior mais abran- Após nossa posse em agosto de 2006, já nas primeiras reuniões
gente, mais flexível, mais integrador e de melhor qualidade. dos Conselhos Superiores propusemos avançar as discussões sobre
No plano prático, já se registravam no País iniciativas incipien- a revisão do Plano de Desenvolvimento Institucional. Ambos os
tes, porém potencialmente capazes de promover mudanças de pa- conselhos aprovaram, por unanimidade, nossa moção. Com esse
radigma no ensino superior no país. Dentre essas, destacavam-se intento, uma comissão bicameral, com a participação de dirigen-
os cursos da USP-Leste (www.each.usp.br) e o Bacharelado em tes, servidores docentes, técnico-administrativos e representantes
Ciências Moleculares da Universidade de São Paulo (www.cecm. discentes foi designada para planejar e organizar o processo de
154
discussão. Em seus trabalhos preliminares, a Comissão propôs lítica institucional. Em setembro de 2006, foi apresentado formal-
pauta e estratégia de organização, incluindo cronograma que con- mente ao Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão e ao
templava a promoção de seminários conceituais e temáticos, con- Conselho Universitário, órgãos máximos de deliberação da UFBA,
gressos internos nas unidades e uma instância geral de debates. Na que determinaram à nossa equipe levar a proposta às unidades, in-
pauta proposta, aprovada pelos Conselhos Superiores, destacava- cluindo-a como parte do processo de discussão do PDI. Antes de
se o item Arquitetura Acadêmica como uma das prioridades no descrevê-lo com algum grau de detalhamento, precisamos narrar
processo de repensar a Universidade. como o projeto UFBA Nova tornou-se Universidade Nova.
A Reitoria, então, convidou docentes e pesquisadores conhe-
cidos por seu interesse por temas de vanguarda acadêmica, em
UNIVERSIDADE NOVA
especial sobre questões filosóficas e metodológicas relacionadas
à interdisciplinaridade, para uma série de diálogos. Inicialmente, Nos informes de uma Reunião da ANDIFES, realizada em Recife,
reuniram-se representantes de áreas de conhecimento afins, po- em setembro de 2006, como parte das comemorações dos sessenta
rém logo se mesclaram origens institucionais, epistemológicas e anos da Universidade Federal de Pernambuco, o Reitor comunicou
paradigmáticas, em grupos gerais de discussão. Em paralelo, uma ao Conselho Pleno o andamento do projeto. A acolhida foi calorosa,
equipe técnica da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação, com a com vários dirigentes se posicionando como parceiros em potencial.
colaboração de um grupo de trabalho ad hoc designado pela Rei- Logo após o início das discussões, em outubro de 2006, apresen-
toria, dedicou-se a avaliar aspectos pedagógicos e operacionais da tamos duas propostas ao Ministro Fernando Haddad: um plano de
proposta, bem como seu marco legal. implantação de uma rede de faculdades comunitárias municipais
O projeto UFBA Nova rapidamente começou a tomar forma, e o projeto UFBA Nova. O Ministro interessou-se sobremaneira
Exposição UFBA deixando de ser uma boa intenção num documento retórico de po- pela segunda proposição, que visava superar problemas herdados
A Universidade Nova,
no Shopping Iguatemi (2008)

156 157
da reforma universitária de 1968. Por sua indicação, apresentamos ção de um projeto em escala nacional. Em dezembro de 2006
esboços da proposta à Secretaria de Ensino Superior do MEC que, aconteceu em Salvador o I Seminário Nacional da Universidade
de imediato, convidou-nos a uma oficina de trabalho para colabo- Nova, realizado pela UFBA e promovido pela ANDIFES, sob o
rar na discussão do projeto da Universidade do Mercosul. patrocínio do MEC, seguido do II Seminário, na Universidade de
Na Pauta da reunião ordinária regular da ANDIFES, no mesmo Brasília, em março de 2007. Tudo isso significou decisiva amplia-
mês, o Reitor apresentou em maior detalhe a proposta, já com a ção do escopo original da proposta, influenciando o projeto de go-
nova denominação de Universidade Nova. Vários reitores de uni- verno para a educação superior incluído no Plano de Desenvolvi-
versidades federais decidiram se engajar numa rede de discussão mento da Educação (PDE). A divulgação e debate dessas idéias no
e acompanhamento do projeto, com grupos de trabalho e semi- meio universitário nacional e na equipe técnica do MEC se deu,
nários locais e nacionais. A partir daí, a proposta rapidamente ga- nesse primeiro momento, de forma tão vigorosa que as minutas
nhou visibilidade na mídia, angariando adeptos fervorosos (e crí- iniciais dos documentos preparatórios do que viria a ser o REUNI
ticos ferrenhos) não somente na comunidade acadêmica local mas o designavam como Programa Universidade Nova.
também em outras instituições federais de ensino superior.
O apoio do Ministério da Educação, representado por sua Se-
cretaria de Ensino Superior (SESu/MEC), veio dar ao movimen-
to da Universidade Nova o indispensável respaldo institucional.
Isso foi concretizado através da
criação, pela SESu, de um Grupo
Técnico de Trabalho para elabora-
Exposição UFBA
A Universidade Nova,
no Shopping Iguatemi (2008)

158 159
REUNI Do ponto de vista da reestruturação, o REUNI, por um lado,
O REUNI (Programa de Apoio a Planos de Expansão e Rees- abria espaço para elementos de inovação, como a oferta de cur-
truturação das Universidades Federais: reuni.mec.gov.br) foi es- sos tecnológicos, a retomada e ampliação do Programa de Licen-
tabelecido pelo Decreto Presidencial nº 6.096/07, assinado pelo ciaturas Especiais e a criação de novas modalidades de cursos de
Presidente Lula em abril de 2007. graduação. Por outro lado, em paralelo ou em transição, permitia
a manutenção dos cursos atuais, com a devida articulação de
Compreende, em termos práticos, um programa de ampliação
suas estruturas curriculares a modelos reestruturados de arqui-
física e reestruturação pedagógica do sistema federal de educação
tetura acadêmica.
superior concebido para duplicar a oferta de vagas públicas no
ensino superior. O REUNI veio ao encontro das expectativas das Por razões que certamente merecerão estudos mais aprofun-
universidades federais que, a exemplo da UFBA, necessitavam de dados e uma análise política cuidadosa, o REUNI sofreu intensa
respaldo financeiro para se renovarem, tanto no plano estrutu- oposição de parte do movimento estudantil. Em 25 universidades,
ral quanto no organizacional e acadêmico. Essa ampla renovação houve tumulto e violência em reuniões de Conselhos Universi-
buscava induzir eficiência na rede federal de educação superior, tários; 14 Reitorias foram invadidas; 9 dessas ocupações somente
que se expressaria por meio de duas metas claras: ampliação do terminaram mediante emissão de mandados judiciais de reinte-
acesso, com elevação da relação professor/aluno e aumento da gração de posse. Apesar da reação, no prazo, todas as 54 universi-
taxa de diplomação dos cursos de graduação. Com um orçamento dades federais brasileiras aderiram ao Programa REUNI.
de 7 bilhões de Reais a serem aplicados em cinco anos, tornou-se
seguramente o mais ambicioso programa dessa natureza já tenta-
O REUNI NA UFBA
do no Brasil.
A condução do processo de discussão do Programa REUNI na
As exigências do Decreto, assim como o prazo para adesão ini-
UFBA buscou, desde o princípio, ampla divulgação, com esclareci-
cial ao Programa REUNI, realmente limitado pelo tempo polí-
mentos e debates sobre princípios, propósitos e operacionalização
tico do MEC, possibilitaram, no entanto, trazer à apreciação das
do Programa. Foram realizadas sucessivas reuniões dos Conselhos
instâncias deliberativas das universidades participantes uma pro-
Superiores – juntos e separadamente; o Reitor, o Pró-Reitor de
posta concreta de expansão e reestruturação, respeitando a au-
Graduação e sua equipe técnica, atendendo a todos os convites
tonomia de cada instituição. As diretrizes do REUNI compreen-
formulados, compareceram para discutir o assunto nas Unidades
diam os seguintes pontos: expansão de matrículas, em especial no
Universitárias. Além disso, foi enviada correspondência às Unida-
turno noturno; diversificação da graduação; mobilidade estudantil
des com orientações sobre participação no Programa, com a previ-
ampla; articulação da educação superior com a educação básica,
são de modalidades e critérios para a adesão, todas elas vinculando
profissional e tecnológica; programas de inclusão social e assistên-
a ampliação de vagas à atribuição dos recursos disponibilizados
cia estudantil. As universidades participantes deveriam apresentar
para a UFBA.
propostas, comprometendo-se com metas de eficiência: alcançar,
ao final do programa, taxa de conclusão de 90% e razão aluno/ Textos preliminares de referência, documentos correlatos, ar-
professor (RAP) de 18:1. Convém registrar que o indicador da quivos de apresentação e minutas do anteprojeto, a partir do mo-
taxa de conclusão, aparentemente inalcançável como média ge- mento das respectivas elaborações, foram submetidos a ampla di-
ral, na verdade incentiva o aproveitamento de vagas residuais por vulgação pública no sítio da UFBA (www.ufba.br) e numa página
mobilidade interna ou externa. Por outro lado, a relação aluno/ especial do movimento da Universidade Nova (www.universida-
professor poderia incorporar estudantes de pós-graduação, obede- denova.ufba.br). Um profuso e complexo calendário de palestras,
cendo aos critérios de qualidade da CAPES. reuniões e debates foi de fato cumprido pela equipe técnica do
160 161
Programa, com a participação voluntária de mais de 300 cola- parente e aberto à discussão crítica. Não participou dos debates
boradores, entre professores, servidores, estudantes e membros apenas quem boicotou o processo ou deliberadamente recusou as
de organizações da sociedade civil. Foram exatas 212 (duzentas sucessivas oportunidades.
e doze!) atividades de elaboração, apresentação, esclarecimentos, Não obstante, ao ser aprovado, o Plano estava longe de pronto
debates e deliberações, dentro e fora da UFBA, durante mais de 15 e acabado; continuava em construção, com paciência e cuidado.
meses, para a elaboração do Plano REUNI/UFBA. Envolveu estudos técnicos detalhados, não só da área de educação
Coube às Unidades Universitárias, inicialmente, se pronun- superior, mas também de cada uma das áreas de conhecimento
ciarem sobre a adesão da Universidade ao REUNI e a adequa- envolvidas. Os projetos político-pedagógicos que compuseram a
ção ou não de seus cursos ao modelo de ciclos, além de contri- Proposta de Reestruturação da Arquitetura Curricular foram de-
buir para uma proposta unificada a ser submetida à apreciação talhados e submetidos às instâncias acadêmicas pertinentes. De-
dos Conselhos Superiores. Das 30 Unidades Acadêmicas, 26 se vidamente consolidadas, todas as propostas de alterações em es-
manifestaram favoráveis à participação no REUNI e contribu- trutura acadêmica, programas e grades curriculares da graduação
íram para a elaboração do documento-base do REUNI/UFBA. e da pós-graduação foram avaliadas pelos colegiados de cursos e
Apenas as escolas de Teatro e de Belas Artes e as Faculdades congregações das unidades proponentes.
de Medicina e de Educação rejeitaram a proposta de adesão da Durante todo o ano de 2008, tais propostas foram apreciadas
UFBA ao REUNI. pelos Conselhos Superiores da UFBA. Inicialmente, foram ouvi-
A proposta de adesão ao REUNI foi aprovada pelo Conselho das as câmaras respectivas do CONSEPE, sobretudo porque o
Universitário da UFBA, em reunião extraordinária de 19 de ou- REUNI teria impactos não só na graduação, mas na pós-gradu-
tubro de 2007, por 28 votos a favor num quorum de 33 mem- ação, na pesquisa e na extensão. Em seguida, conforme veremos
bros que registraram presença numa sessão extremamente con- adiante, o CONSUNI implementou mudanças institucionais e
turbada e polêmica. Seguindo o padrão geral de mobilização, administrativas que foram necessárias para viabilizar as transfor-
repetido em quase todas as universidades federais, manifestan- mações acadêmicas propostas. Nesse processo, duas das unidades
tes tentaram, sem sucesso, protelar e depois impedir reuniões que se posicionaram contrárias decidiram, de modo variado, par-
do Conselho Universitário agendadas para deliberar sobre a im- ticipar do Plano REUNI/UFBA. Somente a Faculdade de Medi-
plantação do Programa em nossa universidade. Inconformados cina, cuja Congregação – mesmo convidada, por duas vezes, a
com a decisão majoritária do Conselho e das Congregações de rever sua posição – e a Escola de Belas Artes não apresentaram
26 unidades universitárias, ocuparam a Reitoria da UFBA por qualquer proposta ao Plano REUNI/UFBA e mantém, até o mo-
42 dias. mento, o veto à entrada no Programa.
A aprovação do Plano REUNI/UFBA apenas deu início a um Além da UFBA, todas as universidades federais do Brasil, através
complexo e intrincado processo de reestruturação acadêmica da da ANDIFES (Associação Nacional de Dirigentes de Instituições
Universidade Federal da Bahia. Tal como tem ocorrido em todas Federais de Educação Superior: www.andifes.org.br) continuam
as universidades federais que se engajaram no processo, a constru- até hoje engajadas nesse processo. Debates em cada uma delas
ção da proposta do REUNI foi realizada de modo participativo, têm sido úteis para nossa própria discussão, e vice-versa. O pró-
atendendo às diretrizes político-pedagógicas pertinentes. Como prio MEC tem contribuído promovendo vários seminários sobre
se pode verificar, apesar das insistentes, porém equivocadas, de- aspectos específicos do REUNI. O Conselho Nacional de Educa-
núncias de falta de discussão, por parte de alguns setores sindicais ção, por meio de sua Câmara de Ensino Superior, tem emitido
docentes e do movimento estudantil, o processo de concepção, pareceres e resoluções que claramente apoiam a nova estrutura de
elaboração, apreciação e aprovação do Plano foi, sem dúvida, trans- formação proposta pelo REUNI.
162 163
EXPANSÃO DE VAGAS E CURSOS NOTURNOS ampliava oferta de vagas em cursos existentes sem contar com do-
centes, instalações, recursos financeiros; só depois se buscava criar
Trinta anos depois da expansão resultante da reforma universi-
as condições mínimas para tanto. Esse tipo de crescimento pode
tária de 1968, o crescimento da rede federal de ensino superior, no
ser chamado de autonomia-sem-apoio. Nessa fase, as instituições
final dos anos 1990, tinha se dado por iniciativa das universidades
federais de ensino superior (IFES) realizaram vigoroso ajuste que,
públicas e caracterizou-se por uma estratégia institucional de cria-
otimizando recursos humanos e materiais, permitiu ampliar a re-
ção de fatos consumados. A universidade abria cursos novos ou

Em 8/11/2007, foi realizada uma segunda reunião entre representan-


A REAÇÃO ESTUDANTIL CONTRA O REUNI NA UFBA tes do DCE e da Administração Central. A fim de promover solução
pacífica ao impasse instalado, aceitamos a proposta de convocação de
A ocupação da Reitoria durou 42 dias. De fato, foi uma sequência
uma Reunião Extraordinária do CONSUNI tendo como ponto único
de três manifestações: a primeira, iniciada em 1/10/2007, conduzida
de pauta Assistência Estudantil e Ações Afirmativas na UFBA e soli-
pelos usuários das residências universitárias, durou dois dias e foi paci-
citamos desocupação imediata da Reitoria, com responsabilização do
ficamente resolvida pela negociação da pauta de reivindicações.
DCE pelos danos materiais e institucionais porventura causados ao
A segunda, iniciada em 3/10/2007 por um grupo de manifestantes patrimônio público. A representação do DCE rejeitou a proposta da
que rejeitava o DCE como representativo do movimento. Autode- Reitoria, reiterou sua posição contrária ao REUNI e insistiu em conti-
nominada de MORU – Movimento de Ocupação da Reitoria da nuar desrespeitando a decisão do Conselho Universitário.
Universidade, essa mobilização tinha como pauta única a rejeição ao
Nova reunião foi agendada para o dia 9/11/2007, para apresentação de
Programa REUNI. Seus participantes utilizavam-se com frequência
pauta complementar de assistência estudantil definida pelo Conselho
da internet para divulgar vídeos do cotidiano da ocupação, onde, apa-
de Entidades de Base. A representação do DCE, apesar de ter solicitado
rentemente, reiteravam que sua motivação principal era... ocupar a
o encontro, a ele não compareceu e sequer justificou ausência. Confir-
Reitoria da UFBA.
mado o rompimento das negociações e constatada a ampliação da ocu-
A terceira, a partir de 18 de outubro, foi assumida pela Direção do pação estudantil, com piquetes que obstruíam o acesso dos servidores
DCE que, em seguida, participou da ocupação da Reitoria e da ten- aos órgãos administrativos, solicitamos à Procuradoria Geral Federal
tativa de impedimento da Reunião Extraordinária do CONSUNI requerer reintegração de posse da sede da Reitoria. A Justiça Federal
que aprovou o Programa REUNI/UFBA em 19/10/2007. A partir de de imediato atendeu ao requerimento e notificou os ocupantes, que
22/10/2007, os ocupantes da Reitoria passaram a impedir o acesso se negaram a receber os oficiais de justiça. Na manhã de 15/11/2007,
de todos os funcionários do prédio da Reitoria, culminando com a por solicitação da Juíza Federal encarregada do processo, a Polícia Fe-
ocupação da FAPEX. Durante todo o período de ocupação, a Reitoria deral executou o mandado de reintegração de posse. Encontraram 18
manifestou de modo reiterado respeito às instâncias representativas ocupantes, sendo que quatro resistiram à ordem de remoção e foram
institucionais, confirmando sua disponibilidade de negociação exclu- detidos pela PF (apenas um destes era estudante da UFBA).
sivamente através do DCE da UFBA. Apesar disso, a Reitoria nunca
Em nota oficial, assinalamos que em nenhum dos documentos ou con-
recebeu qualquer manifestação institucional do movimento estudan-
tatos, o movimento estudantil “trouxe qualquer explicação racional
til, solicitando negociações, justificando posicionamentos ou apresen-
para manifestação contrária à adesão da UFBA ao REUNI, amplian-
tando reivindicações.
do o alunado em mais de 17.000 matrículas novas, principalmente
Somente no dia 2/11/2007, o DCE divulgou na internet um docu- em cursos noturnos. Nenhuma justificativa foi dada para a estranha
mento em que se posicionava contra o REUNI e exigia revogação da proposta de que a UFBA deve renunciar a mais de 200 milhões do
decisão do CONSUNI de 19/10/2007. Em 6/11/2007, foi realizada orçamento público federal, rejeitando a contratação de mais de 1.000
uma reunião entre o DCE e representantes da Administração Central, docentes e técnicos. Nenhum argumento foi trazido pelo DCE para
quando a representação estudantil ratificou todos os pontos da pauta justificar a dispensa de 18 milhões de Reais incluídos no REUNI/
divulgada. Após avaliação cuidadosa, a Reitoria considerou inaceitáveis UFBA para assistência estudantil, nos próximos 5 anos.” Concluímos a
os ítens da pauta estudantil contrários às deliberações de 26 Congrega- nota “reiterando nossa profunda tristeza e indignação pelas agressões
ções das 30 Unidades de Ensino que compunham a UFBA, cujos pre- à mais antiga instituição de educação superior do Estado da Bahia, às
sidentes são membros natos do Conselho Universitário, representando suas instâncias democráticas de gestão e aos valores acadêmicos da
assim desqualificação do órgão máximo deliberativo da instituição. Universidade Federal da Bahia.” (NAF)
164 165
lação aluno/professor do pata- do programa. Por outro lado, pela primeira vez, os investimentos em
UMA QUESTÃO mar de 9:1 para quase 12:1. obras e instalações, a aplicação de recursos de custeio, a modelagem
EMERGENCIAL A segunda onda de expan- pedagógica, a contratação dos quadros de servidores docentes e téc-
são ocorreu no final do primei- nico-administrativos, se faziam antes da expansão de atividades e de
Uma nação como o Brasil,
que chegou ao ano de 2007 ro Governo Lula, na gestão do vagas. Construída em parceria com a ANDIFES, essa modalidade de
com um índice de apenas Ministro Fernando Haddad. A crescimento pode ser caracterizada como apoio-com-autonomia.
10% dos seus jovens de 18 a
principal característica dessa Não obstante, algumas questões precisam ser consideradas. Pri-
24 anos matriculados no en-
sino superior, precisava fazer fase foi a interiorização da uni- meiro, o REUNI introduziu no sistema federal de educação supe-
um grande esforço no sentido versidade brasileira como aten- rior um modelo de gestão semelhante aos que regulam o repasse de
da expansão desse nível de dimento emergencial a deman- recursos públicos do Sistema Único de Saúde. Portanto, impunha
ensino. A meta definida pelo
das históricas de populações planejamento estratégico de recursos, insumos e atividades das uni-
Plano Nacional de Educação
projetava um índice de co- e regiões representadas por versidades, obrigando-as a pensar o futuro de curto e médio prazo,
bertura da educação superior lideranças político-partidárias. prática ainda pouco frequente nas instituições universitárias bra-
de 30% (em 2010), o que nos Nesse caso, as iniciativas eram sileiras. Em segundo lugar, os incentivos e apoios estavam condi-
colocaria em condições pelo
tomadas pelo Governo Fede- cionados ao atendimento de metas pertinentes, supervisionado por
menos comparáveis às das na-
ções desenvolvidas. ral, pouco respeitando a auto- sistemas de avaliação existentes como SINAES e CAPES ou a se-
Entretanto, a estratégia adota- nomia das IFES. rem criados. Enfim, o REUNI representou poderoso indutor de efi-
da pelo MEC nas décadas an- ciência institucional e de qualificação pedagógica. Desse modo, ao
Por todos esses motivos,
teriores, baseada no aumento
pode-se dizer que se tratava contribuir para reduzir a dívida social do ensino superior, implicava
de vagas em instituições pri-
vadas – a maior parte delas de crescimento tipo apoio- grande potencial de revalorização do campo público da educação.
com fins lucrativos – mostra- sem-autonomia. A estratégia Revisemos a situação da UFBA nesse aspecto. Considerando o
va-se academicamente ques-
predominante baseava-se na período de 1970 a 2002, portanto mais de três décadas, o número
tionável e incapaz de possibi-
litar o atendimento das metas implantação de cursos simulta- de ingressos em nossos cursos de graduação teve um crescimento
do PNE. Por isso, construiu-se neamente à contratação de do- muito baixo, de apenas 28%, enquanto o número de candidatos
amplo consenso de que reto- centes e realização dos investi- ao vestibular aumentou dez vezes mais. Para mudar esse quadro
mar o crescimento do ensino
mentos necessários. Nessa fase, de estagnação, nossa Pró-Reitoria de Graduação havia incluído,
superior público é questão
emergencial e essencial para o o financiamento era realizado no seu Plano de Trabalho 2003-2006, diversas metas referentes
desenvolvimento do país. durante a expansão de ativi- à abertura de novas vagas a partir de ações bastante diversifica-
dades da universidade. Assim, das, tais como: interiorização da Universidade; criação de novos
a partir de 2004, foram criadas dez universidades federais (duas cursos; aumento de vagas em cursos já existentes; implantação de
novas, duas pelo desmembramento de universidades existentes e cursos noturnos; preenchimento regulado de vagas ociosas. Todas
seis a partir de escolas e faculdades especializadas) e 48 campi essas ações foram implementadas com sucesso e, entre 2002 e
universitários em diversas regiões do país. 2006, o aumento de ingressos por vias alternativas chegou a 1.700
O REUNI inaugurou a terceira fase de expansão do sistema uni- novos estudantes. A UFBA atingiu, em 2006, em relação a 2002, o
versitário federal. Finalmente tínhamos um modelo induzido de percentual de 22% de crescimento. Note-se que não estão inclu-
crescimento das instituições públicas de educação superior que, por ídos nesses dados os cursos novos criados em 2004 na Escola de
um lado, respeitava a autonomia universitária, acolhendo propostas Agronomia de Cruz das Almas, que em 2006 passaram a perten-
166 específicas elaboradas por cada uma das instituições participantes cer à Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. 167
O incremento resultante, apesar de expressivo, não chega- cançando o total de 37,8 mil estudantes. Isso permitiria elevar
va, entretanto, a esgotar o potencial de expansão possível para a progressivamente a relação aluno/professor até 18:1, consideran-
UFBA. Muitos espaços e equipamentos destinados ao ensino per- do a dedução possibilitada pelo aumento paralelo da pós-gradua-
maneciam ociosos nos turnos vespertino e noturno e ainda per- ção. Para atingir tais metas, prevíamos oferecer 2.530 vagas novas
sistia grande número de turmas teóricas com reduzido número em cursos noturnos e 1.980 em cursos diurnos de graduação, nas
de estudantes. A RAP em 2006 era de apenas 11,7 alunos por diversas modalidades, até o final do Programa.
professor (praticamente a mesma de 2002). Além de aulas notur- A expansão da oferta (prioritariamente no turno noturno) es-
nas para alguns cursos diurnos, só havia nessa época dois cursos taria condicionada ao aumento de servidores docentes, técnicos e
efetivamente noturnos na UFBA: Física e Geografia. Essa situa- administrativos da Universidade, além da conclusão de obras de
ção demandava uma regulamentação interna para otimização da ampliação e recuperação da infraestrutura física e instalação, equi-
oferta de disciplinas, utilização do período noturno e atribuição pamento ou reequipamento de espaços destinados a aulas práticas
de encargos docentes por regime de trabalho. Tais instrumentos, e outras atividades pedagógicas. A ampliação de vagas na gradu-
somados aos recursos adicionais previstos no Programa REUNI, ação dependeria também da revisão dos critérios de distribuição
permitiriam à instituição cumprir suas metas de expansão. de encargos docentes então vigentes. Medidas como concentração
O Plano REUNI/UFBA previa, dentre as metas a serem alcan- da oferta dos cursos em um único turno, priorizando o turno no-
168 çadas, ampliar matrículas em cursos presenciais de graduação, al- turno, em paralelo a melhor aproveitamento do espaço físico nos 169
três turnos, permitiriam a ra- base nesse parâmetro, foram propostas as seguintes modalidades de
cionalização das atividades di- participação das Unidades Universitárias no Plano REUNI/UFBA:
CONDIÇÕES dáticas em tempos e espaços • Adaptação de curso existente ao Modelo REUNI;
PARA O REUNI próximos. Além disso, propú-
• Transferência de turma existente para o turno noturno;
As condições e o desenvolvimen- nhamos a adoção de práticas
to das ações para cumprimento pedagógicas mais dinâmicas, • Curso novo noturno no Modelo REUNI;
das metas previstas para o REU-
atingindo maior número de • Curso matutino ou vespertino no Modelo REUNI;
NI UFBA eram as seguintes:
• Contratação de 533 novos estudantes, viabilizadas pelo • Oferta de componentes curriculares proporcional à partici-
professores com equivalên- uso recorrente de tecnologias pação da Unidade nos Bacharelados Interdisciplinares (BI).
cia em dedicação exclusiva de informação e comunicação
(DDE) e de 426 servidores Como resultado dessa consulta às Unidades, delineou-se uma
no ensino.
técnico-administrativos. proposta em que os cursos manteriam o ingresso direto, podendo
• Obras de construção, recupe- A estimativa global de au- prever gradativa transição, ao menos em parte, de suas vagas para
ração, reformas, ampliações e mento de vagas nos cursos
adequação de equipamentos e
ingresso através dos BIs. O detalhamento dessa transição depende-
instalações de ensino (confor-
de graduação da UFBA no ria do cronograma de implantação das reformulações curriculares.
me propostas das Unidades). contexto do Programa REU- De todo modo, todos os cursos, incorporando ou não estudantes
• Conclusão dos Pavilhões de Au- NI foi de 17 mil matrículas, dos BIs, deveriam atender às demais dimensões do documento
las de Ondina (PAF 3) e de São correspondendo a um cresci- Diretrizes do REUNI.
Lázaro, construção de novos
mento de 83% em relação ao
Pavilhões de Aulas e implanta- As propostas de abertura de cursos novos, novas turmas ou am-
ção do Centro de Idiomas. ano-base 2007. Dependendo
pliação de vagas dos cursos existentes submetidas pelas Unidades,
• Implantação de infraestrutu- das propostas encaminhadas somadas à oferta atual da Universidade, resultaram numa matrí-
ra tecnológica nos campi da pelas Unidades Universitárias,
Universidade, inclusive rede cula projetada para 2012 de 32.246 estudantes de graduação, sen-
de vídeo-conferência e insta-
estimamos a seguinte eleva- do 10.656 em cursos noturnos. No primeiro ano, priorizamos a
lação de ambientes virtuais de ção gradativa de ingressos oferta de vagas noturnas uma vez que essas puderam utilizar a ca-
aprendizagem (AVA). na graduação em relação às pacidade física instalada, não dependendo da conclusão das obras
• Reestruturação da arquitetu- 4.246 vagas anuais de 2008:
ra curricular da UFBA com a de ampliação previstas. As demais vagas deveriam ser abertas de
da ordem de 20% para o ano forma compatível com a organização dos cursos e na medida da
implantação de novas modali-
dades de cursos de graduação de 2009, de 30% para 2010, liberação de recursos.
baseados nas Diretrizes e Di- de 40% para 2011 e de 50%
mensões do Programa REUNI. Com a dedução da pós-graduação prevista nas Diretrizes do
para 2012. Previmos oferta de
REUNI mais as novas modalidades de formação, esse conjunto
vagas em novos cursos diur-
nos e noturnos, mais vagas nos cursos existentes e turmas notur-
nas em cursos já existentes. Estimamos ainda crescimento da pós-
graduação da ordem de 38%, sendo 15% como consequência dos METAS DO REUNI UFBA
cursos novos já previstos e/ou aprovados e do aumento do nível • Implantação de 28 novos cursos de graduação;
das avaliações CAPES e mais 20% sobre essa base ampliada. • Abertura de 21 novas turmas de cursos existentes;
• Ajuste de 22 cursos existentes ao REUNI;
Obedecendo às diretrizes gerais do Programa REUNI, o módu- • Abertura de 16 turmas de Licenciaturas Especiais;
lo padrão médio estabelecido para cada curso/turma de graduação • Implantação de 7 Cursos de Educação Superior Tecnológica;
170
no novo modelo pedagógico deveria totalizar 45 estudantes. Com • Implantação de 4 Bacharelados Interdisciplinares.
171
de propostas levaria a uma matrícula superior a 40 mil estudan- rios formativos que possibilitem aos estudantes se deslocarem entre
tes em 2012, o que significa que se poderia, com folga, alcançar cursos e instituições com pleno aproveitamento de estudos.
a dimensão prevista para a UFBA dentro das condições de pes- Com o REUNI, abriu-se a possibilidade de reestruturar o mo-
soal e custeio estabelecidas. Defendemos, no entanto, que fosse delo acadêmico então vigente na UFBA, em rede ou em articula-
observado o limite definido pela SESu/MEC (MAT = 37.840) ção com outras universidades públicas brasileiras, implementando
uma vez que dele decorre a magnitude dos recursos disponíveis uma nova arquitetura curricular para os cursos de graduação. Isso
para investimento. implicou ajuste da atual estrutura dos cursos de formação profis-
Com a manutenção da oferta de vagas nos cursos diurnos (que sional e de pós-graduação no sentido de adequar os respectivos
eram 4.246 em 2008), propusemos a abertura de 1.215 vagas projetos pedagógicos.
novas em cursos noturnos. Além disso, postulamos a inclusão, no As exigências do Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007, no
projeto, da oferta de 800 vagas novas através do Programa de Li- sentido de priorizar reestruturação curricular, permitiam a incor-
cenciaturas Especiais, para formação de professores das redes pú- poração no Programa REUNI de elementos da proposta inicial da
blicas de ensino, ante a reconhecida necessidade de melhoria da UFBA Nova, convivendo com a manutenção dos cursos atuais,
educação básica. Essa medida atenderia a um dos elementos de permitindo entrada direta para os mesmos. As principais altera-
integração com outros níveis de ensino, cumprindo uma das mais ções na estrutura curricular postuladas no Plano REUNI/UFBA
importantes dimensões do REUNI. Com a disponibilização de compreendem a implantação de um regime de três ciclos de edu-
servidores docentes e técnico-administrativos através do REUNI, cação universitária.
o custo para o Estado e as prefeituras seria reduzido, possibilitan-
O Primeiro Ciclo compreende uma nova modalidade de cur-
do maior participação nos programas de formação. Finalmente,
sos chamada de Bacharelado Interdisciplinar (BI), oferecidos nos
previmos a oferta, até 2012, de até 2.315 vagas novas em modali-
seguintes campos: a) Artes, b) Ciência & Tecnologia, c) Humani-
dades alternativas de formação (Cursos Superiores Tecnológicos
dades, d) Saúde. Tal modalidade serve como pré-requisito para
e Bacharelados Interdisciplinares).
progressão aos ciclos de formação profissional naqueles cursos
Palestras para divulgação dos
Bacharelados Interdisciplinares
BACHARELADOS INTERDISCIPLINARES
Como vimos acima, a proposta de arquitetura acadêmica cha-
mada UFBA Nova havia sido apresentada pelo Reitor ao Ministro
da Educação, em agosto de 2006. A reestruturação curricular pre-
tendida visava a retificar distorções que marcaram a última refor-
ma da educação superior, a de 1968, que importara modelos orga-
nizacionais estrangeiros, deixando intocado um regime acadêmico
àquela altura já obsoleto.
Num tempo marcado pelo dinamismo e pelo intenso desloca-
mento de pessoas no espaço real e virtual, em consequência de uma
vasta rede de relações institucionais e pessoais que se estende por
todo o planeta, é inaceitável que instituições superiores de educa-
ção preservem currículos que dificultam a mobilidade de estudan-
tes entre cursos e instituições. As tradicionais grades curriculares
172 devem ceder espaço a estruturas flexíveis, abertas a diversos itinerá- 173
que evoluírem para o regime de ciclos. Os BI são guirão, na condição de segundo ciclo da graduação, com duração
estruturados de forma similar, em cinco Eixos Cur- de 1 a 3 anos. O Segundo Ciclo contempla a formação profissional
riculares: Eixo das Linguagens, Eixo Interdisciplinar, específica, encurtando a duração dos atuais cursos e focalizando as
Eixo da Orientação Profissional, Eixo de Formação etapas curriculares de práticas profissionais. O Terceiro Ciclo confir-
Específica, Eixo Integrador. Os Eixos podem ser ma e integra a formação acadêmica em nível de pós-graduação, com
cursados em paralelo, distribuídos numa duração cursos de mestrado e doutorado.
mínima de 6 semestres. A estrutura curricular do BI Trata-se, no geral, de uma estrutura modular, interdisciplinar,
prevê um total mínimo de 2.400 horas, distribuídas flexível e progressiva, com garantia de mobilidade intra e inter-
em duas etapas: a Etapa da Formação Geral e a Eta- institucional. Dessa forma, os cursos de primeiro ciclo podem ser
pa da Formação Específica. A Formação Específica apreciados como uma nova modalidade de cursos plenos de gradu-
pode corresponder a uma Área de Concentração, ação não profissionais, flexíveis e multifuncionais: terminais para
de livre escolha do estudante, constituída de com- estudantes que em princípio não almejam um diploma profissio-
ponentes curriculares previamente definidos, jun- nal, possibilitarão, aos que queiram, a continuidade da formação
tamente com componentes optativos que se refe- em cursos de carreira profissional da Universidade. Posto que o BI
rem a campos específicos do conhecimento e ainda preenche todos os requisitos de uma formação superior plena, seu
componentes inteiramente livres. O estudante pode diploma permite acesso direto ao nível mestrado, evidentemente
ainda preferir manter-se numa estrutura curricular condicionado à aprovação em processo seletivo próprio.
mais flexível e aberta, denominada de Grande Área, O conceito de Bacharelado Interdisciplinar pretende equilibrar
que lhe proporciona uma formação mais generalis- o tempo destinado à formação geral e à específica e tem sua justi-
ta. Ainda assim, qualquer dos trajetos da Etapa de ficativa baseada na defesa de uma formação integral que possibili-
Formação Especifica possibilita a escolha de itine- tará uma leitura pertinente, sensível e crítica da realidade. Tal mo-
rários diversificados, dentro de um leque de opções
previamente definidas.
A estrutura aberta do BI articula uma formação Figura 5.1. Regime de Ciclos do modelo UFBA Universidade Nova.
universitária geral com uma formação específica, o
que propicia tanto terminalidade própria quanto,
também, pode constituir etapa prévia aos cursos
profissionais que assim o prevejam. De fato, as Gran-
des Áreas estruturam-se de forma a abarcar e incluir
Bacharelado Licenciaturas
todos os componentes curriculares das Áreas de (formação docente) Licenciaturas Doutorados
Concentração aprovadas pelos Colegiados de cada
Interdisciplinar
BI, assim como os componentes curriculares ofereci-
dos pelas unidades universitárias da UFBA, no cam- Artes Bacharelados
(formação Profissional I)
po de cada BI, respeitados os requisitos. Humanidades
Ciência & Tecnologia
Conforme a figura 5.1, a continuidade dos estudos Saúde
de graduação, após a conclusão do Bacharelado Inter- Outros Diplomas
(formação Profissional II)
disciplinar, depende de adequação dos currículos dos
174
cursos de natureza profissional que os estudantes se- 175
delo deverá formar indivíduos críticos e sintonizados com o seu voltados para uma área principal de concentração (básica ou profis-
tempo. Essa sintonia não poderia excluir a inserção no mundo do sional) e uma área afim (majeure/mineure). Outras regiões do mundo,
trabalho. Uma das principais diferenças do Bacharelado Interdis- como Sudeste Asiático e Oceania também adotam modelos conver-
ciplinar em relação ao modelo de formação superior tradicional gentes. Países latino-americanos que realizaram reformas universitá-
praticado até hoje no Brasil diz respeito ao modo de preparação rias recentes, como México e Cuba, começam a implantar cursos de
para o trabalho. Enquanto o modelo tradicional se volta de forma pre-grado como primeiro ciclo prévio às carreiras profissionais.
direta e imediata para certos campos do saber ou uma profissio- Mais detalhes sobre a arquitetura curricular de ciclos e sobre os Ba-
nalização que se expressa no desenvolvimento de competências charelados Interdisciplinares podem ser encontrados no site da Uni-
específicas, o Bacharelado Interdisciplinar visa à preparação para versidade Nova (www.universidadenova.ufba.br) e em publicações
o desempenho de ocupações diversas que mobilizem, de modo especializadas. Nesta oportunidade, pretendemos ainda relatar alguns
flexível, competências cognitivas e habilidades técnicas. aspectos do seu processo de implantação, agregando comentários ana-
No contexto internacional, o regime de ciclos predomina em líticos sobre o seu impacto na estrutura curricular da UFBA.
praticamente todos os países com avançado grau de desenvolvi-
mento econômico, social, cultural e científico-tecnológico. O siste- IMPLANTAÇÃO DOS BACHARELADOS INTERDISCIPLINARES
ma de ciclos é adotado nas universidades norte-americanas desde
Durante o segundo semestre de 2007, em respeito à autonomia
1910 e também na Europa, no processo de reforma universitária
relativa das Unidades Universitárias, quanto à adesão ao modelo
em curso conhecido como Pro-
de ciclos de graduação, foi garantida a possibilidade de manuten-
cesso de Bolonha (iniciado em
REGIME DE CICLOS ção de cursos nos moldes antigos, de um só ciclo e com ingresso
1999), cujo regime de ciclos
A arquitetura curricular por ci- específico. Entretanto, todos os cursos deveriam adequar os seus
prioriza estudos gerais no pri-
clos na formação universitária projetos pedagógicos de forma a contemplar os princípios estabe-
meiro ciclo. Nas universida- não é inédita no Brasil ou no lecidos no REUNI, nos sentidos seguintes:
des norte-americanas, apenas mundo. No Brasil, a proposta
1/4 da carga horária do college da UFBA converge, sobretudo, • manter regime de progressão linear, com ingresso específico
destina-se a um campo especia-
com os princípios filosóficos para cada curso;
e pedagógicos que nortearam
lizado do conhecimento, geral- a fundação da Universidade • introduzir regime de dois ciclos de graduação (BI + 1/2/3 anos);
mente não-profissional, sendo de Brasília em 1961, sob a li- • desenvolver formatos híbridos ou convergentes, acolhendo
o tempo restante investido no derança de Anísio Teixeira e
egressos dos Bacharelados Interdisciplinares.
Darcy Ribeiro. Atualmente, a
desenvolvimento de competên-
Universidade Federal do ABC Com a oportunidade de ampliação de vagas representada pelo
cias gerais. No Processo de Bo- já adota o Bacharelado Inter- REUNI, várias Unidades Universitárias apresentaram propostas
lonha, embora haja diferenças disciplinar como requisito para
de integração curricular ao regime de ciclos. Outras, mais volta-
entre os países, uma caracterís- licenciaturas e engenharias;
outras nove universidades fe- das para formação profissional preferiram a modalidade Curso
tica do 1º ciclo é a presença de Superior Tecnológico (CST), considerando o aproveitamento de
derais apresentaram propostas
estudos gerais. ao REUNI contemplando, de recursos humanos, instalações e experiência já existentes dentro
Tomando-se o exemplo da modo ainda que restrito, pro- das respectivas áreas, bem como a identificação de demandas do
postas similares ou conver-
França, a licence tem a sua carga mundo do trabalho por esse tipo de profissional.
gentes como Bacharelados em
horária dividida em três terços, Grandes Áreas; 19 cursos dessa De acordo com o Plano REUNI/UFBA aprovado em outubro de
sendo um deles destinado aos modalidade foram oferecidos 2007, previa-se um período de transição entre 2008 e 2012, com
estudos gerais e os outros dois para o ano letivo de 2010.
176 ações e metas programadas para adoção da nova arquitetura curricular. 177
Durante todo o ano de 2008, após um meritório esforço des novas de formação seriam aumentadas na proporção de 10%
concentrado, em nove reuniões extraordinárias consecutivas, o a cada ano, sobre o número-base de 2009, até atingir 50%, em
CONSEPE aprovou todas as normas e regras necessárias à im- 2012. No mesmo período, haveria um ajuste gradual do número
plantação dos novos formatos curriculares. Além disso, apreciou de vagas de ingresso nos cursos profissionais que adotassem o BI
as propostas de distribuição de vagas docentes e realização dos como forma de entrada.
respectivos concursos. Em seguimento, foi concluída a elaboração Houve inesperada aceitação da sociedade em relação às novas
e apreciação, pela Câmara de Ensino de Graduação, dos projetos modalidades de formação incluídas no Plano REUNI/UFBA. Em
pedagógicos dos novos cursos de graduação, bem como a aprova- 2009, foram ofertadas 1.025 vagas para os BIs e CSTs, que re-
ção das ampliações de vagas nos processos seletivos referentes ao ceberam uma média superior a 5 candidatos por vaga. Detalhe
ano de 2009. importante, apenas no BI, das 980 vagas, 700 foram ofertadas no
Com a chegada da primeira parcela dos recursos financeiros do período noturno. O BI de Saúde recebeu 12 candidatos por vaga
REUNI em meados de 2008, o CONSUNI apressou-se a delibe- e a procura pelo BI de Ciência & Tecnologia superou quase todas
rar sobre aplicação dos recursos nas ações de ampliação e recu- as engenharias (acima de 10 candidatos por vaga). Isso nos incen-
peração da infraestrutura física e implantação de parque tecno- tivou, em 2010, a oferecer 90 vagas em dois CSTs e 1.380 vagas
lógico necessário para dar suporte às novas atividades de ensino. para os BIs em quatro grandes áreas e duas opções de turno (900
Isso permitiu a retomada e conclusão dos debates sobre o Plano vagas noturnas), ultrapassando largamente as estimativas iniciais.
Diretor Físico e Ambiental (ver Capítulo seguinte). Além disso, No Quadro 5.1, apresentamos o perfil resultante de oferta de va-
o CONSUNI dedicou-se à aprovação de resoluções regulamenta- gas nos Bacharelados Interdisciplinares.
doras das mudanças institucionais essenciais para a implantação
do Plano REUNI/UFBA, nesse caso, alterações normativas que
anteciparam a atualização do marco normativo da UFBA (confor- Quadro 5.1. Oferta de vagas nos Bacharelados Interdisciplinares para 2010
me o Capítulo 7, adiante).
Ano-base 2010 Ano-base 2013
A partir de 2009, a UFBA passou a oferecer Bacharelados In- Bacharelado Opção de Formação Profissional com preferência para
terdisciplinares em quatro grande áreas: Artes, Humanidades, Ci- Interdisciplinar em: egressos do BI; previsão de 1.500 vagas (20%) em 2012,
nos seguintes cursos:
ência & Tecnologia, Saúde. Os novos estudantes puderam ingres-
sar na UFBA tanto nos cursos convencionais (já denominados de ARTES... Licenciaturas e Bacharelados em Letras, Licenciaturas em
Cursos de Progressão Linear, seguindo normatização pertinente Dança, Teatro, Belas Artes, Música Popular, Licenciatura
300 vagas
em Música, Cinema e Vídeo
do CONSEPE), quanto nas novas modalidades de formação. Nes-
se último caso, o ingresso em 2009 se deu através da primeira HUMANIDADES... Direito, Administração, Ciências Contábeis, Economia,
Psicologia, Serviço Social, Secretariado, Arquivologia,
fase do vestibular. De 2010 em diante, definiu-se a utilização do 480 vagas
Ciências Sociais, Filosofia, História, Museologia, Jorna-
novo ENEM como fase única do processo seletivo. Para os cursos lismo, Produção Cultural, Biblioteconomia, Pedagogia,
Educação Física, Licenciaturas e Bacharelados em Letras
que optaram por manter suas grades curriculares, os ingressos têm
ocorrido através do processo seletivo tradicional, com o exame CIÊNCIA E TECNOLOGIA... Engenharias, Ciências da Computação, Licenciatura em
Matemática, Estatística, Geologia, Geofísica, Oceanogra-
vestibular em duas etapas. 380 vagas
fia, Licenciaturas em Química e Física, Licenciaturas em
De acordo com o Plano REUNI/UFBA, previa-se para 2009 Ciências Biológicas, Biologia
uma oferta nas modalidades novas de formação correspondente a CIÊNCIAS DA SAÚDE... Gastronomia, Nutrição, Saúde Coletiva, Enfermagem,
20% sobre o total de vagas oferecidas em 2007, o que implicaria Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Bio-
300 vagas
tecnologia, Farmácia, Odontologia, Medicina, Veterinária,
em 850 vagas. De 2010 a 2012, as vagas oferecidas nas modalida- Zootecnia
178 179
rá percentuais de vagas reservados aos egressos dos BIs e CSTs e à
demanda externa. Para os cursos profissionais que optaram por ade-
quar suas grades curriculares às diretrizes do REUNI, será programa-
da a transição das formas de ingresso, adequando-se os respectivos
processos seletivos. Serão estabelecidas regras de equivalência e de
transição entre os currículos atuais e os reformulados para o REUNI.
Alguns dos cursos profissionais já contemplavam, durante as dis-
cussões do Plano REUNI/UFBA, a perspectiva de reservar parte de
suas vagas para estudantes egressos desses cursos que desejassem
acesso a outros ciclos de formação universitária. Essa reserva prefe-
rencial foi regulamentada pelo CONSEPE, que fixou esse percen-
tual em pelo menos 20% das vagas oferecidas. O acesso dos egres-
sos do Bacharelado Interdisciplinar aos cursos profissionais dar-se-á
sem processo seletivo quando a demanda for inferior ou igual à
oferta de vagas e a área de concentração cursada no Bacharelado es-
Neste ano, a receptividade frente às inovações foi excepcional: tiver relacionada com a área de conhecimento dos cursos. Quando
em processo seletivo recorde em toda a história de nossa institui- a demanda for superior à oferta de vagas haverá processo seletivo
ção, cerca de 14 mil postulantes optaram por 1,4 mil vagas nas direcionado especificamente para cada curso e administrado pelo
novas modalidades de ensino. Entre os 10 cursos mais concorridos, Núcleo de Seleção, Orientação e Avaliação da UFBA.
cinco foram BIs ou cursos tecnológicos. O BI de Humanidades A possibilidade de incorporar egressos das novas modalidades
teve maior concorrência que Direito, Administração e Comunica- de graduação, além de uma formação mais ampla dos profissionais,
ção. O CST de Gestão Social foi tão procurado quanto Medicina, permitiria o aumento da taxa de sucesso desses cursos e em menos
com mais de 34 candidatos/vaga, enquanto o BI de Saúde, mes- tempo. Os estudantes egressos dos BIs já terão cursado, ao menos,
mo duplicando a oferta de vagas, representou uma das opções de parte dos componentes iniciais dos cursos profissionais e ingressarão
maior procura, com 21 candidatos/vaga. em semestres mais avançados. Para os cursos com vagas residuais
Parte desse aumento de demanda pode ser explicada pelo fato (decorrentes de evasão ou atrasos), a transferência interna de estu-
de que, para os BIs e CSTs, a partir de 2009, adotamos o ENEM dantes dos BIs ou de CSTs seria outro fator de otimização das vagas.
como processo seletivo e, para os cursos de progressão linear, man- Neste momento, concluída a elaboração dos projetos pedagógi-
tivemos o tradicional vestibular de duas etapas. Portanto, sendo o cos dos Bacharelados Interdisciplinares, avançamos na realização
ENEM um exame de aplicação nacional, o BI e o CST com mais de estudos sobre campos do saber e agrupamentos de componen-
facilidade podem captar candidatos de todo o país, ampliando de tes curriculares da Formação Específica. Matrizes curriculares fle-
modo significativo, o alcance territorial da oferta de vagas. xíveis e modulares resultantes, tal como previsto, poderão compor
Em 2011, ocorrerá a diplomação do primeiro contingente de as áreas de concentração dos Bacharelados Interdisciplinares.
egressos dos novos cursos de Tecnólogo, Bacharelados Interdisci- Prevista no Plano REUNI/UFBA, a proposta de acolher os estu-
plinares e Licenciaturas Especiais. Até 2012, serão implantados os dantes dos Bacharelados Interdisciplinares numa Unidade Univer-
currículos dos novos cursos profissionais, que se caracterizarão por sitária própria foi concretizada pela aprovação, por unanimidade
estrutura mais enxuta, e cujo número de vagas será definido em do CONSUNI, em 22 de outubro de 2008, do Instituto de Huma-
180 função da análise de demanda. Para o ingresso nesses cursos, have- nidades, Artes e Ciências (IHAC) Professor Milton Santos. 181
CRIAÇÃO DO INSTITUTO MILTON SANTOS os estudantes têm a oportunidade de ampliar sua responsabilidade
O IHAC Milton Santos é a mais nova unidade acadêmica da Uni- social e competências relacionais. Nesse componente, de caráter
versidade Federal da Bahia. Como vimos acima, criado num mo- optativo, os estudantes deverão cumprir um mínimo de 360 horas
mento de profunda transformação, quantitativa e qualitativa, tanto em seis semestres de atividades de extensão ou pesquisa. Este Eixo
na UFBA como nas outras Universidades Federais do Brasil, o IHAC poderá estruturar-se como um conjunto de atividades curriculares
(www.ihac.ufba.br) foi concebido para desenvolver atividades acadê- e extra-curriculares de natureza bastante diversificada.
micas inovadoras. Tem como objetivo fomentar uma configuração mit Para desenvolver, de modo sistemático e planejado, atividades per-
(multi, inter, trans) disciplinar do conhecimento, mediante a oferta manentes de pesquisa e extensão, efetivamente integradas ao ensino
de programas interdisciplinares de graduação e pós-graduação, além de graduação e pós-graduação, planejamos a organização de Centros
da pesquisa, criação e inovação produzidas em centros de pesquisa e Interdisciplinares de Pesquisa e Extensão, na modalidade de órgãos
extensão. A estrutura conceitual da articulação dos Bacharelados In- complementares. Dessa forma, articula-se de modo privilegiado, a ex-
terdisciplinares, com áreas de concentração e programas de pesquisa e tensão, nas suas diversas modalidades (educação continuada, coope-
pós-graduação, encontra-se esquematizada na Figura 5.2. ração técnica, inovação e criação etc.) aos programas mit-disciplinares
As atividades de extensão no IHAC encontram-se estreitamente de pós-graduação, particularmente aqueles de caráter profissional.
vinculadas ao ensino de graduação, preferencialmente através do A estrutura organizacional do IHAC foi concebida para har-
Eixo Integrador dos Bacharelados Interdisciplinares. Esse eixo é monizar este duplo recorte permitindo, sobretudo, o rompimento
constituído por Atividades Complementares que têm como função de fronteiras até então bem delimitadas entre as áreas de conhe-
a articulação das duas etapas de formação, incluindo as seguintes cimento e de formação. Para tanto, foi necessário implantar nesta
modalidades de atividade acadêmica: pesquisa, extensão, estágio, nova Unidade uma proposta estrutural igualmente avançada, pro-
programas especiais, cursos livres, disciplinas de graduação e de ativa, flexível, integral e integradora.
pós-graduação, Atividade Curricular em Comunidade, Atividade A estrutura organizacional adotada implica um organograma en-
Curricular em Instituição, Estágios e quaisquer eventos de natu- xuto, pouco verticalizado e que prioriza a interligação entre cargos
reza acadêmica. Através delas e, ao longo do percurso acadêmico, de chefia, permitindo o entrecruzamento dos processos geridos por
cada um deles. A estrutura caracteriza-se por sua qualidade mista:
Figura 5.2. Integração mit-disciplinar no IHAC Milton Santos adequada para organizações em que coexistem um sistema colegia-
do de gestão e a estrutura matricial de projetos. A adoção de um
modelo desse tipo permite a flexibilidade e funcionalidade adequa-
das ao clima de mudanças ambientais e à dinâmica interna.
Com base nesses pressupostos, conforme a Figura 5.3, implan-
tamos a seguinte estrutura de instâncias de governança acadêmica
e administrativa:
• Congregação;
• Diretoria, com Gerência Administrativa e Financeira e Co-
ordenação Acadêmica;
• Colegiados dos Cursos de Graduação e dos Programas de
Pós-Graduação;

182 • Centros Interdisciplinares de Pesquisa e Extensão. 183


Figura 5.3. Estrutura de Gestão Integrada (Administrativa-Acadêmica) no IHAC Milton Santos se propor à Coordenação Acadêmica credenciamento de docentes
de outras Unidades Universitárias (e, ressalvados os impedimentos
legais, de outras instituições e organizações) para colaborar com
atividades de ensino.
O corpo docente permanente do IHAC no momento compõe-
se de 34 professores, todos com título de doutorado. Além desses,
deve incorporar outros docentes, pesquisadores e profissionais de-
vidamente qualificados e credenciados, observando-se as normas
legais, nos seguintes níveis de participação:
• lotados no IHAC;
• lotados em outras unidades da UFBA, porém credenciados
nos programas de ensino, pesquisa e extensão do IHAC;
• em situação de lotação simultânea, no IHAC e em outra
Unidade Universitária da UFBA;
• profissionais de outras instituições ou organizações creden-
ciados no IHAC.

A gestão acadêmica dos Bacharelados Interdisciplinares e dos O estatuto do credenciamento para o nível de ensino de gra-
Programas de Pós-Graduação do IHAC é conduzida por Colegia- duação e o reconhecimento formal das duas últimas categorias de
dos de cursos, compostos, cada um deles, por cinco professores participação em atividades docentes necessitarão de uma norma-
do corpo permanente dos respectivos cursos e um representante tização especial, a ser proposta, sob forma de resolução, aos Con-
estudantil. A escolha dos membros docentes do Colegiado é feita selhos Superiores da universidade. De igual modo, os processos de
pelo conjunto de professores credenciados do corpo permanente recrutamento, seleção e gerenciamento de pessoal docente e de
do curso. Cabe a este colegiado articular-se com os Centros Inter- servidores técnicos deverão seguir regras mais contemporâneas, a
disciplinares de Pesquisa e Extensão, visando à implementação de serem estabelecidas com certo grau de urgência.
ações integradas nos campos da pesquisa, do ensino e da extensão. Projeta-se, no horizonte de implantação plena do Plano REU-
O conjunto de colegiados do IHAC conta com um setor de apoio NI/UFBA, para além de 2012, um alunado de aproximadamente
administrativo e uma Secretaria de Cursos, unificados e articulados. 10 mil estudantes nos Bacharelados Interdisciplinares, com entra-
O Colegiado tem como competência principal fixar diretri- da anual de 3 a 4 mil vagas. O IHAC ministrará a maior parte dos
zes e orientações didáticas para os componentes curriculares do componentes curriculares da etapa de Formação Geral, na primei-
respectivo Curso, além de supervisionar e avaliar as atividades de ra metade do programa, e coordenará as atividades e componen-
ensino. Para isso, o Colegiado propõe à Coordenação Acadêmica tes curriculares da Formação Específica, sendo que as respectivas
planejamento semestral, definindo oferta de componentes curricu- áreas de concentração serão ministradas por outras Unidades Uni-
lares; coordena e fiscaliza as atividades do Curso; delibera sobre versitárias. Assim, espera-se, a cada semestre, um contingente de 2
solicitações, recursos ou representações de estudantes referentes à mil estudantes sob responsabilidade direta do IHAC.
vida acadêmica dos mesmos; além de aprovar as ementas dos com- Tais parâmetros permitem estimar o tamanho do corpo docen-
ponentes curriculares oferecidos pelo IHAC. Dentre suas funções te permanente dos BIs, lotado exclusivamente no IHAC Milton
184 de maior relevância do ponto de vista da gestão acadêmica, destaca- Santos, em cerca de 60 professores. Considerando a necessidade 185
de ter quadros docentes no desempenho de funções de gestão aca- exemplo dos Bacharelados Interdisciplinares, que têm previstas tur-
dêmica ou em afastamento para sabáticos e intercâmbios interna- mas amplas de estudantes, com composição heterogênea, o Instituto
cionais, além de viabilizar a própria vocação transversal do proje- necessita que seu quadro de pessoal contemple a possibilidade de
to dos BIs, um contingente adicional de docentes, em dimensão estudantes (de pós e de graduação) atuarem como monitores para
proporcional ao alcance e diversidade das áreas de concentração, desenvolver atividades acadêmicas supervisionadas por docentes.
poderá ser credenciado, oriundos de outras unidades universitárias Finalmente, face à potencial compatibilidade entre o regime
da UFBA, de outras instituições de conhecimento e mesmo sem curricular em vias de ser implantado na UFBA e modelos acadê-
vínculos institucionais formais (artistas, mestres de cultura popu- micos predominantes em outras realidades universitárias, o corpo
lar, intelectuais independentes). Assim, no bojo da recente rees- docente do IHAC já se constitui com especial abertura ao inter-
truturação normativa da UFBA (ver Capítulo 7, adiante), introdu-
câmbio acadêmico e à internacionalização. Nesse sentido, encon-
zimos a figura da lotação simultânea para os docentes do quadro,
tra-se em curso uma estratégia composta por dois elementos:
além das categorias de professor visitante e professor credenciado.
Em primeiro lugar, convênios de intercâmbio de estudantes e
Cabe ressaltar a imprescindível presença no corpo funcional
docentes com universidades que desenvolvem arquiteturas cur-
de servidores técnico-administrativos capazes de assumir tarefas
riculares com características inovadoras, semelhantes ao modelo
administrativas (gerenciamento de instalações e processos aca-
Universidade Nova, como por exemplo, a New York University
dêmicos); técnicas (em áreas de informática, redes, dispositivos
(www.nyu.edu, fundada em 1831) e a Michigan State University
audiovisuais e sonoros) e pedagógicas (experimentação e imple-
(www.msu.edu, fundada em 1855), nos EUA, além da Universi-
mentação de modalidades inovadoras de transmissão de conhe-
cimento, de acompanhamento e avaliação de estudantes). Com a
proporcionalidade docentes/técnicos e considerando nível e fina-
lidade, estima-se um total de 50 servidores técnicos especializa-
dos em atividades de apoio acadêmico.
Além do corpo de professores e funcionários, devido às caracterís-
Maquete digital
ticas peculiares de algumas das atividades previstas para o IHAC, a
da futura sede
do IHAC

186 187
Do ponto de vista de estrutura institucional, encontra-se em
fase final de construção o Centro de Idiomas (no Campus de On-
dina), destinado à oferta de componentes curriculares do Eixo
Língua Estrangeira da Formação Geral do BI. A instalação do
Centro de Idiomas e a ampliação do Instituto de Letras foram
dade de Coimbra (www.uc.pt, fundada em 1290), em Portugal, a priorizadas visto que o contingente principal de estudantes nos
Universität Graz (www.uni-graz.at, fundada em 1585), Áustria, e primeiros semestres do BI se concentrará no Eixo Linguagens e
a Universidade Federal do ABC, no Brasil. no Eixo Interdisciplinar. Nos primeiros anos de funcionamento, a
Em segundo lugar, a criação de um conselho consultivo, ad oferta de cursos tem sido predominantemente noturna. Para isso,
hoc, não estatutário, composto por intelectuais e personalidades foram utilizados prédios de Unidades Universitárias que, total ou
de preeminência científica, artística e cultural, de âmbito pre- parcialmente, não funcionam à noite. Além disso, já nesta primeira
dominantemente internacional, nas respectivas grandes áreas do fase do Plano REUNI/UFBA, estão sendo reformados outros audi-
conhecimento. Este conselho terá como objetivo colaborar com tórios do Campus Ondina (Biologia, Veterinária, Química).
a avaliação, no plano teórico-conceitual, das linhas e propostas A construção de sua sede própria inicia-se neste ano, com recur-
implementadas, além de prospectar cenários e oportunidades de sos orçamentários garantidos. Com a chegada de novos recursos
intercâmbio artístico, científico e tecnológico para o IHAC. Os financeiros será construído um prédio no campus de Ondina com
membros desse conselho atuarão também como consultores nas características e programação pertinentes
áreas de concentração pertinentes ao seu campo de atuação e ao acolhimento de estudantes do BI e à
como professores visitantes, em programas de curta e média dura- atuação de docentes e programas compo-
ção e ocupando cátedras nominadas. As cátedras nominadas com- nentes do IHAC. Enquanto não se conclui
preendem programas de bolsas de alta qualificação, com regras e a construção da sede própria, as ativida-
condições a serem estabelecidas regimentalmente. des do IHAC serão realizadas no prédio
Os Bacharelados Interdisciplinares foram implantados no pri- do Centro de Idiomas, recém inaugurado.
meiro semestre de 2009, ainda sem dispor de instalações físicas
próprias. A sede administrativa provisória do IHAC concentrou-se
no andar térreo do Pavilhão de Aulas Glauber Rocha (antigo PAF-
III). Nesse período, o IHAC teve sua existência formalizada do
188 ponto de vista legal, administrativo e acadêmico. 189
CAPÍTULO 6

Plano Diretor Físico


e Ambiental

190 191
Plano Diretor Físico e Ambiental

Logo que assumimos a Reitoria da UFBA, no segundo semes-


tre de 2002, tomamos a iniciativa de organizar uma Assessoria de
Patrimônio Físico no quadro da Pró-Reitoria de Planejamento e
Administração, transferindo o antigo setor de projetos da Prefei-
tura do Campus. Uma vez instalado, o novo órgão iniciou estudos
visando ao ordenamento do espaço físico, à qualificação das edifi-
cações, instalações e infraestrutura e ao manejo ambiental do cam-
pus universitário. Descobrimos que a UFBA, ao longo da sua exis-
tência, havia elaborado diversos planos de arquitetura e urbanismo
para os seus campi, que infelizmente sofreram descontinuidade.

PLANOS DIRETORES ANTECEDENTES ANTECEDENTES


1950 – Primeiro Plano de ocupação física, no Vale do Canela, cen- Em setembro de 2003, em conjunto com a Faculdade de Ar-
trado nas áreas do Campus Canela. quitetura, promovemos uma oficina de trabalho com membros
1967 – Proposta de ocupação física de gleba situada entre os bair- do CONSUNI e do CONSEPE. Como palestrantes, convidamos
ros Federação e Ondina, para implantação dos Institutos Básicos
dirigentes responsáveis por iniciativas de elaboração de planos di-
previstos na Reforma Universitária, com recursos do Programa
MEC – BID I. retores urbanísticos e ambientais em outras universidades públi-
1976 – Plano Diretor do Campus Federação / Ondina, ao qual fo- cas (UFMG, USP, UFSC). Com base no material produzido nesse
ram anexadas novas áreas desapropriadas ou doadas, entre 1970 evento, dentro das limitadas perspectivas de financiamento então
e 1975, ampliando-se as necessidades crescentes da UFBA, con-
disponíveis, ainda em 2003, apresentamos uma proposta de in-
templadas no programa MEC – BID II. Este foi o mais abrangente
deles, realizado pelo ETA – Escritório Técnico Administrativo, Pro- tervenções pontuais no patrimônio físico da UFBA, antecipando
grama PREMESU IV, acordo MEC – BID II. A implantação desse critérios e parâmetros para a elaboração de um Plano Diretor pa-
plano, entre 1979 a 1984, foi parcial. trimonial e ambiental.
1990 – revisão parcial do plano original de ocupação física da UFBA,
resultando na implantação do segundo Pavilhão de Aulas (PAF-II) e Para viabilizar a melhor ocupação do espaço físico institucional
na transferência da Escola de Dança e do Instituto de Letras para o da UFBA, os seguintes ítens dessa proposta foram aprovados pelo
Campus Ondina, com a construção dos respectivos imóveis. CONSUNI, em diferentes momentos deliberativos, ainda no nos-
A partir desse ponto, nenhuma iniciativa ocorreu para retomada
so primeiro mandato:
do planejamento urbanístico dos campi, exceto a aprovação, em
novembro de 1996, do documento Princípios Básicos para a Refor- • Desmembramento da Escola de Agronomia, em Cruz das
ma Patrimonial da UFBA, elaborado pela Comissão de Orçamento, Almas, para implantação da Universidade Federal do Recôn-
Patrimônio e Finanças do Conselho Universitário.
192 cavo da Bahia. 193
• Incorporação ao patrimônio da UFBA de propriedade rural • Construção de Residência Universitária no Campus Federa-
situada em Humildes, como Núcleo Agrotécnico da Escola ção-Ondina.
de Medicina Veterinária. No plano ambiental, nessa primeira fase, merece registro o
• Refuncionalização do prédio do Centro de Convivência para mutirão, promovido pela Reitoria e realizado por dirigentes, ser-
abrigar o Restaurante Universitário de Ondina. vidores docentes, técnico-administrativos e alunos, para limpeza
dos cursos d’água e manejo ecológico das áreas verdes do campus
• Construção da Biblioteca Setorial de Saúde no Campus
Ondina, durante todo o primeiro semestre de 2004. Desse mo-
Canela.
vimento, resultou a implantação do Programa UFBA Ecológica,
• Conclusão da reforma do Teatro Martim Gonçalves. aprovado pelo Conselho Universitário em 2005. Esse programa
• Conclusão do PAF III, em convênio com a Petrobras. compreende diversas iniciativas, incluindo criação de uma reser-
• Construção do Pavilhão de Aulas de São Lázaro. va protegida de vegetação (Parque Memorial da Mata Atlântica),
plantio de mudas de espécies nativas nos campi Canela e Ondina,
construção de trilhas e sinalização ecológica dos campi (median-
te apoio da Petrobras), além de programas integrados de ecoefi-
ciência (Poupe Luz e Água Pura). Infelizmente, face à reduzida
PROPOSTAS ANTIGAS adesão da comunidade universitária, sucessivas campanhas para
Outras intervenções e obras foram delineadas naquela proposta, po- implantação de programas de coleta seletiva e reciclagem do lixo
rém não chegaram a ser apreciadas pelo CONSUNI, que decidiu universitário nos campi da UFBA não lograram êxito.
constituir um Grupo de Trabalho, coordenado pela Faculdade de Ar-
quitetura, para realizar estudos preliminares visando à elaboração do Durante todo o ano de 2004, com apoio institucional e finan-
Plano Diretor. Não obstante, face à sua atualidade e pertinência, tais ceiro da SESu/MEC, uma Comissão Técnica da Faculdade de
proposições merecem menção, até porque várias delas foram recupe- Arquitetura e da Assessoria de Patrimônio Físico da Pró-Reitoria
radas posteriormente na versão final do Plano:
• Construção do Centro Administrativo da UFBA em Ondina.
de Planejamento, coordenada pelo Professor Antonio Heliodório
• Construção de Centro de Eventos Artísticos (auditório de grande Sampaio, desenvolveu estudos preliminares para o Anteprojeto do
porte, uso múltiplo; salas de ensaio; salas de concerto; café-teatro) Plano Diretor Físico e Ambiental dos Campi da UFBA. A apresen-
na entrada do campus Ondina. tação digital dos estudos foi realizada por uma equipe de estudan-
• Reforma e requalificação do Palácio da Reitoria para torná-lo Cen-
tes de Arquitetura como trabalho de conclusão da Graduação.
tro Cerimonial e Cultural da UFBA.
• Implantação do CUCCA (Centro Universitário de Ciência, Cultu- As soluções e propostas geradas pela Comissão Técnica foram
ra e Arte) no local da Residência Universitária do Canela. apresentadas aos Conselhos Superiores em maio de 2005 e, em
• Implantação do Instituto de Saúde da Mulher e da Criança Climé-
seguida, discutidas intensamente nas unidades universitárias. Ba-
rio de Oliveira (ISAMCO).
• Construção de vias de acesso interno interligando a Escola Politéc-
sicamente, foram três opções consideradas:
nica e a Faculdade de Arquitetura. • mínima: reorganização das instalações existentes, reformas e
• Refuncionalização do prédio do Serviço Médico Universitário pequenas obras, investimento financeiro limitado (figura 6.1);
(SMURB) para torná-lo em PAF IV.
• Transferência do SMURB para o Complexo de Saúde do Canela, • intermediária: construções e reformas essenciais, interven-
criando a Policlínica Universitária Rubens Brasil Soares. ções físicas de maior monta, com pequenas modificações do
• Implantação do Hotel Universitário (requalificando imóveis da perfil atual de ocupação física dos campi (figura 6.2);
Vitória).
• Construção do Museu de História Natural no Campus Ondina. • máxima: redesenho radical dos campi, obras, construções e
• Construção da Residência Universitária de São Lázaro. reformas de grande porte, intervenções em infraestrutura,
• Construção da Residência Universitária do Canela. investimento financeiro amplo (figura 6.3).
194 195
REAÇÕES INEXPLICÁVEIS
A comunidade e dirigentes das escolas de Teatro e de Belas Artes,
além de outros dirigentes de unidades e parte da representação
estudantil, realizaram protestos e manifestações contra o Plano
Diretor, provocando a suspensão dos debates. Em paralelo, denún-
cias e intrigas inundaram listas de discussão na internet e repor-
tagens em diversos jornais da cidade – contendo absurdos como,
por exemplo, acusar o Reitor de venda ilegal de propriedades da
UFBA. Um professor da área de artes, insinuando cumplicidade
com escusos interesses imobiliários para demolição ilegal de imó-
Figura 6.1
veis tombados como patrimônio histórico, afirmou que o Plano
Diretor “visa a um lucro milionário [...] querem fazer caixa [...]
uma coisa sem escrúpulos”.
Além disso, veicularam interpretações distorcidas de processos ins-
titucionais, como apresentar o conjunto de estudos preliminares
e alternativas espaciais para o Plano Diretor como produto final
de um suposto processo sub-reptício imposto pela Reitoria. Um
diretor de unidade chegou a declarar à imprensa que já estava em
construção “uma frente contrária à proposta do reitor”.
Na verdade, nunca existira uma “proposta do reitor”. Para ter al-
gum grau de viabilidade, qualquer projeto com essa finalidade não
viria da Reitoria, do Reitor ou de algum grupo acadêmico – e
sim teria que compor um Plano Diretor da Universidade Fede-
ral da Bahia. E, em nenhuma hipótese, tal Plano Diretor poderia
ser imposto. Por esse motivo, o estudo preliminar apresentava três
opções (uma delas mantendo as localizações originais das escolas
de Teatro e de Belas Artes) claramente expostas em um CD, de
concepção precisa e cuidadosa, distribuído a todos os interessados
Figura 6.2
justamente para iniciar uma discussão ampla, aberta e transparen-
te na comunidade universitária. Com esse espírito, os conselhos
superiores deveriam tomar decisões democráticas e serenas, com
certeza respeitando consensos construídos em cada uma das uni-
dades da UFBA, inclusive aquelas que naquele momento rechaça-
ram qualquer tipo de mudança.
Por outro lado, nunca se cogitou vender os formosos prédios da Es-
cola de Belas Artes ou do Teatro Martim Gonçalves ou ainda, como
tinham denunciado, o Palácio da Reitoria. Nem se poderia fazê-
lo, pois qualquer alienação de patrimônio público federal, novo
ou antigo, imóvel ou semovente, livre ou tombado, por lei, teria
que passar por uma cadeia complexa de deliberações coletivas, das
unidades universitárias aos conselhos superiores, daí ao MEC, ao
DNPU e ao Congresso Nacional. (NAF)
197

Figura 6.3
Houve forte reação das escolas de Teatro e de Belas Artes, com • fomentar a construção e ampliação de equipamentos de
apoio das Faculdades de Medicina e de Educação, na medida em ensino de utilização compartilhada e gestão coordenada
que duas das opções submetidas ao CONSUNI recomendavam a centralmente;
nucleação das áreas de formação, posicionando os cursos da área • concentrar as atividades de ensino, pesquisa e extensão das
de Artes no Campus Ondina. Em lugar de simplesmente postular, unidades e órgãos da UFBA nos limites territoriais dos campi
como consenso de cada escola, a sua manutenção nos imóveis ori- universitários.
ginais, organizaram manifestações e convocaram a imprensa para
Além disso, ainda por unanimidade, o CONSUNI deliberou
denunciar a suposta venda dos imóveis por elas ocupados, provo-
acrescentar o seguinte:
cando a suspensão dos debates do Plano Diretor por total falta de
condições políticas para sua realização. Quiçá, por coincidência, • estabelecer perfil-padrão de uso das edificações destinadas a
estas foram justamente as unidades universitárias que, num pri- abrigar as unidades universitárias;
meiro momento (ver Capítulo 5), rejeitaram a proposta de adesão • tornar a Universidade social e ambientalmente mais aco-
da UFBA ao REUNI. lhedora, dotando-a de mais segurança e acessibilidade, inte-
grando serviços de apoio, atividades de ação comunitária e
DIRETRIZES E ESTRATÉGIAS assistência estudantil nos campi da UFBA;

Com a aprovação da entrada da UFBA no programa REUNI, • preservar, no justo equilíbrio entre tradição institucional e
em outubro de 2007, juntamente com emendas parlamentares demandas contemporâneas, o patrimônio histórico e cultu-
destinadas ao financiamento de obras e equipamentos, foi neces- ral da UFBA, protegendo, visibilizando e valorizando as edi-
sário recolocar a questão do Plano Diretor na pauta dos Conselhos ficações de reconhecida relevância social e cultural;
Superiores. Como preliminar para a reabertura da discussão sobre • preservar, ponderando disponibilidades e necessidades de
o tema, o Conselho Universitário ratificou, por unanimidade, em espaço, o patrimônio ambiental da UFBA, ampliando, aden-
Reunião Extraordinária de 19 de março de 2008, o documento sando e protegendo fauna e áreas verdes dos campi;
Princípios Básicos para a Reforma Patrimonial da UFBA, que havia • articular o Plano Diretor da UFBA ao Plano de Desenvol-
sido aprovado pelo Conselho Universitário em outubro de 1996. vimento Institucional e ao Projeto Político-Pedagógico da
Reconhecendo sua atualidade, o Conselho Universitário da UFBA universidade e das unidades e órgãos que a compõem.
confirmou todas as diretrizes para ocupação do espaço físico insti-
Em seguida, o CONSUNI decidiu elaborar um documento
tucional constantes do documento anterior, ajustadas à conjuntu-
de referência sobre estratégias de implantação do Plano Diretor
ra atual, conforme segue:
da UFBA e encaminhá-lo, em minuta, à discussão das Unidades
• racionalizar ao máximo possível o uso do espaço físico e das Universitárias, dos órgãos suplementares e junto à comunidade
instalações da UFBA; universitária, dando prazo para retorno de sugestões, revisões e
• tornar mais eficiente o uso de imóveis e equipamentos da recomendações. Consolidando as contribuições que retornaram
UFBA, com projetos arquitetônicos, estruturas organizacio- da comunidade universitária e visando a concretizar as diretrizes
nais e de rotinas capazes de reduzir os custos de manutenção; aprovadas, o CONSUNI estabeleceu as seguintes estratégias como
• promover, dentro dos limites de financiamento e respeitan- eixos do Plano Diretor de Desenvolvimento Físico e Ambiental dos
do as especificidades, maior racionalidade na localização es- Campi da Universidade Federal da Bahia:
pacial das unidades universitárias e instalações, agregando as • Articular as intervenções patrimoniais físicas ao Plano REU-
edificações por área de conhecimento, proximidade geográ- NI/UFBA, a fim de viabilizar financeiramente o essencial do
198 fica e pertinência a grupos de formação afins; Plano Diretor. 199
• Introduzir um zoneamento dos campi da UFBA, reagrupan- • Implantar um sistema de transporte intracampus e inter-
do unidades e órgãos da UFBA por proximidade e pertinên- campi acessível, eficiente e ecologicamente sustentado
cia a grupos de formação afins. Para as unidades universitá- (passarelas, planos inclinados, biobus, bicicletas com em-
rias, garantida sua relativa autonomia interna, essa proposta préstimo rotativo).
de zoneamento tinha caráter essencialmente indicativo; des- Esses pontos compuseram um documento que foi aprovado
sa maneira, cada escola, faculdade ou instituto pode decidir por unanimidade no CONSUNI, também em 19 de março de
manter sua localização ou postular pertinência a outros se- 2008, com destaque para o item 1 que, face ao posicionamento
tores que não os aqui indicados. do Diretório Central dos Estudantes na época contrário ao Pla-
• Classificar como equipamentos de utilização compartilha- no REUNI/UFBA, foi mantido ad referendum do Conselho pelo
da, com gestão coordenada pela administração central, os seu Presidente.
seguintes tipos de instalações de apoio ao ensino: biblio- Não obstante a oposição da representação estudantil, os princí-
tecas, museus, centros de idiomas, centros de educação à pios, diretrizes e estratégias do Plano Diretor Físico e Ambiental dos
distância, pavilhões de ensino presencial, pavilhões de en- Campi da Universidade Federal da Bahia (PDFA/UFBA), atuali-
sino com recursos computacionais, laboratórios multi-uso
zados frente à nova conjuntura e objetivos, foram introduzidos no
para ensino (tipo I), auditórios (fora das unidades universi-
Plano REUNI/UFBA, como balizamento ao item “investimentos
tárias), salas de espetáculos (fora das unidades universitá-
em infraestrutura”. Por esse motivo, foram indicadas à SESu/MEC
rias), espaços de eventos (centro cerimonial e de conven-
apenas propostas de intervenção física condizentes com demandas
ções), central de segurança ambiental.
das unidades universitárias que optaram pela adesão ao REUNI.
• Estabelecer o seguinte perfil-padrão de utilização dos imó-
veis que abrigam as unidades universitárias: instalações ad-
IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DIRETOR
ministrativas (promovendo a implantação de secretarias
integradas), salas de professores (tendo como meta: gabi- Respeitando as diretrizes e em consonância com as estratégias
netes para todos os docentes), dependências para núcleos/ aprovadas pelo CONSUNI, as indicações de obras no PDFA/
programas/projetos de pesquisa e extensão, salas de reuni- UFBA foram classificadas em três tipos:
ões conversíveis para salas de aulas, salas e mini-auditórios I. Projetos de intervenções estruturantes dos campi.
específicos, laboratórios temáticos especializados (tipo II), II. Projetos de instalações e equipamentos de uso coletivo.
laboratórios de pesquisa.
III. Projetos de investimentos em unidades participantes.
• Instalar, em cada campus da UFBA, pelo menos uma uni-
Tipo I. Trata-se de projetos de intervenções estruturantes dos
dade de restaurante universitário e uma unidade de resi-
campi, incluindo:
dência universitária, dimensionadas para atender à deman-
da localizada. • Sistema viário, com plano de vias terrestres e deslocamento
de pedestres, com especial atenção à integração entre o par-
• Implantar, em locais de amplo acesso, centros de serviços
tido do Campus Federação/São Lázaro, mais elevado, com
gerais, de integração comunitária e de atendimento aos estu-
o Campus Ondina, mediante planos inclinados, escadarias e
dantes e servidores da UFBA. trilhas nas encostas.
• Construir uma malha de trilhas pedestres para acesso in- • Revisão e expansão da rede elétrica, tanto nos espaços comuns
terunidades e intersetores com segurança, acessibilidade e quanto nas instalações e equipamentos de uso coletivo, bem
proteção ambiental (sombreada de dia e iluminada à noite). como nas unidades universitárias e órgãos complementares.
200 201
• Implantação de um eficiente sistema de segurança patrimo-
nial e pessoal, com identificação e controle de acesso aos
campi e às instalações das unidades e órgãos, além de vigilân-
OUTROS CAMPI
cia eletrônica por meio de sensores, alarmes e câmeras.
A instalação do Campus Reitor Edgard Santos em Barreiras e do
• Ampliação e atualização da rede de comunicação interna,
Campus Professor Anísio Teixeira em Vitória da Conquista resultou
implantando sistemas mais eficientes e de menor custo para do último Plano de Expansão da Educação Superior, incluindo as
a intercomunicação corporativa quanto para a difusão de in- obras físicas necessárias à abertura e desenvolvimento de atividades
formações intra e intercampi. acadêmicas que, portanto, já possuem orçamento reservado para
tal. No momento oportuno, cada um dos campi do interior serão
• Ampliação e atualização da rede lógica, reforçando o Centro objeto de estudos específicos com vistas à elaboração dos respec-
de Processamento de Dados em equipamentos e recursos, tivos planos diretores de patrimônio físico e ambiental. Assim, as
implantando sistemas de rede sem fio, com acesso regulado propostas de intervenções indicadas para inclusão no PDFA/UFBA
restringem-se a construção, reformas, instalações e equipamentos
e controlado.
aprovados para os campi da sede em Salvador.
Tipo II. Os projetos de construção e requalificação de equipa- Não obstante, a localização dos imóveis novos construídos nos
mentos de acesso comum e de uso coletivo compreendem: pavi- campi do interior obedeceram a planejamento urbanístico e
lhões de aulas, pavilhões de laboratórios, restaurantes universitá- ambiental consistente com as diretrizes e estratégias do PDFA/
UFBA, conforme se pode verificar nas plantas do Campus Reitor
rios, residências, bibliotecas.
Edgard Santos de Barreiras e Campus Professor Anísio Teixeira
As propostas de intervenção nessa modalidade, ajustadas du- em Vitória da Conquista, abaixo.
rante o desenvolvimento do Plano REUNI/UFBA, incluíram, no
Campus Canela e no Campus Ondina/Federação/São Lázaro, o
seguinte:
• conclusão da Biblioteca Unificada de Saúde;
• construção de uma nova Residência Universitária;
• instalação do Restaurante Universitário do campus Graça/
Canela;
• construção da Biblioteca Unificada Direito-Administração-
Contábeis; 1. Sede Administrativa IMS. 2. Pavilhão de Aulas. 3. Pavilhão de laboratórios.
4. Área de Ampliação. 5. Estacionamento e vias internas
• reforma do atual prédio da Escola de Música para transfor-
má-lo no Pavilhão de Aulas do Canela II; Campus IMS

• reformar e equipar o Auditório da Faculdade de Direito;


• construção do Centro de Idiomas;
• reformar e equipar Pavilhão de Aulas Poli-Arq;
• reformar e equipar Auditório da Escola de Medicina Vete- • ampliação do prédio da Biblioteca Central;
rinária; • construção da Biblioteca Isaías Alves em São Lázaro;
• reformar e equipar Auditório do Instituto de Biologia; • construção da Biblioteca Unificada Poli-Arq (integrada às
• reformar e equipar Auditório do Instituto de Química; respectivas escolas por passarela/trilha);
202 203
• construção da Biblioteca Unificada Física-Química-IGEO-
Matemática;
• construção de módulos administrativos e de atendimento a
estudantes e servidores em Ondina;
• construção de um complexo de auditórios no Campus
Federação;
• construção de um complexo de salas de arte e de espetácu-
los na entrada principal do campus Ondina.
As instalações de ensino de acesso comum e de uso coletivo Quadro 6.1. Obras do Plano Diretor da UFBA
(pavilhões de aulas, laboratórios e auditórios), requalificadas por
meio de recursos do Programa REUNI, mesmo aquelas situadas Especificações Área (m2)
atualmente em unidades universitárias, serão objeto de um mode- Construções no período 2002 – 2010 47.191,72
lo de gestão articulado pela Administração Central. As Bibliotecas 1. Pavilhão de Laboratório I – Campus Edgar Santos – CES 3.649,46
Universitárias fazem parte do Sistema de Bibliotecas da UFBA, 2. Pavilhão de Laboratório II – Campus Edgar Santos – CES 4.284,60
sob gestão da Superintendência própria. 3. Pavilhão de Laboratório I – Campus Anísio Teixeira – CAT 3.649,46
Tipo III. Investimentos em obras de construção, ampliação, 4. Pavilhão de Aulas I – Campus Anísio Teixeira – CAT 4.284,60
reforma e requalificação em unidades participantes do Plano 5. Anexo Instituto de Geociências 2.600,00
REUNI/UFBA. As propostas de intervenção Tipo III foram des- 6. Pavilhão de Aulas Glauber Rocha 4.783,00
dobradas e detalhadas a partir das solicitações encaminhadas 7. Pavilhão de Aulas V – PAF V 6.452,00
8. Centro de Idiomas 2.320,00
pelas respectivas unidades universitárias e antigos órgãos su-
9. Anexo Instituto de Letras 2.280,00
plementares, seguindo a indicação de prioridade definida pelo
10. Biblioteca Universitária de Saúde Prof. Álvaro Rubim de Pinho 3.357,80
CONSUNI.
11. Centro de Promoção da Saúde Doutor Rubens Brasil Soares 1.609,00
Para definir as localizações de espaço físico das unidades, ór- 12. Pavilhão de Aulas Prof. Thales de Azevedo 3.941,80
gãos e instalações de uso compartilhado, em um novo patamar 13. Centro Interdisciplinar de Estudos e Desenvolvimento Social – CIEDS 1.480,00
de discussão e deliberação, foi recuperada a Opção II do Ante- 14. Núcleo de Laboratório de Energia e Ambiente 2.500,00
projeto elaborado pela Comissão Técnica (figura 6.2), ajustada
face ao crescimento de vagas na graduação prevista no Plano Construções realizadas em 2010 39.038,66
REUNI/UFBA. 1. Pavilhão de Aulas – Campus Edgar Santos – CES 4.284,60
2. Prédio Administrativo – Campus Anísio Teixeira – CAT 6.230,00
No Quadro 6.1, encontra-se a lista de edificações novas, cuja
3. Biblioteca FIS 4.765,14
construção foi planejada no bojo do PDFA/UFBA, com recursos
4. Instituto da Ciência da Informação – ICI 3.404,00
do REUNI e do conjunto de emendas parlamentares individuais
5. Escola de Dança 3.268,00
e de bancada. O Plano de Investimentos respectivo encontra-se
6. Escola de Nutrição 3.308,00
no Quadro 6.2. Os mapas de localização dos imóveis antigos e
7. Escola de Música 5.924,00
novos nos campi Federação/Ondina/São Lázaro e Graça/Canela, 8. Escola de Medicina Veterinária 2.667,00
conforme o PDFA/UFBA encontram-se no Capítulo 9. No anexo 9. Instituto de Matemática 661,61
deste Capítulo, são expostas fotos e maquetes digitais das princi- 10. Residência Universitária Garibaldi – RUG 4.226,31
204 pais obras do Plano Diretor Físico e Ambiental. 11. Hospital de Medicina Veterinária – HOSPMEV 300,00 205
UFBA ECOLÓGICA
Especificações Área (m2)

Construções licitadas ou a licitar em 2010 48.040,83 Um Estudo Preliminar de Avaliação Ambiental Estratégica
1. Biblioteca Campus Edgar Santos – CES 3.084,30 do Plano Diretor do Campus Ondina/Federação foi conduzido
2. Faculdade de Ciências Contábeis 3.418,00 pelo Prof. Ronan Caires e uma equipe de estudantes do Instituto
3. Faculdade de Farmácia 1.400,50 de Biologia, em Dezembro de 2008. Esse estudo concluiu que o
4. Anexo Física / Química 5.241,00 Campus Ondina/Federação e o Zoológico de Salvador represen-
5. Escola de Teatro 4.056,00 tam um dos poucos lugares da cidade onde ainda se observam
6. Instituto de Biologia 1.501,00 fragmentos de floresta no ambiente urbano, conforme a foto de
7. Instituto de Ciências da Saude – ICS 6.500,00 satélite da Cidade do Salvador (Figura 6.4).
8. Instituto de Saude Coletiva – ISC 6.908,50
Entretanto, as áreas do campus Ondina eram ocupadas, até a
9. Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Milton Santos 9.093,84
década de 1970, por pequenas propriedades rurais e por dois esta-
10. Faculdade de Comunicação – FACOM 2.000,00
belecimentos de grande porte. Próximo à entrada principal atual,
11. Faculdade de Arquitetura 1.595,24
12. Residência FFCH 3.242,45
situava-se o Parque de Exposições Agropecuárias Garcia D’Ávila;

ÁREA TOTAL PREVISTA NO PLANO DIRETOR 134.271,21


Área construída antes de 2002 251.455,71
Figura 6.4. Campus Federação/Ondina
Total Geral 385.726,92

Fonte: PROPLAD/APAF – Julho 2010

Quadro 6.2. Plano de Financiamento das Obras do Plano Diretor


da UFBA (2008-2010)

Fonte Financeira 2008 2009 2010 Total


Programa Reuni / UFBA 7.026.618 27.802.631 37.802.631 72.631.880
Emendas Parlamentares Individuais 4.780.000 4.000.000 *6.000.000 14.780.000
Emendas Parlamentares de Bancada 18.920.000 10.000.000 *25.000.000 53.920.000
Outras Fontes ... 22.000.000 **24.000.000 46.000.000

206 Total 30.726.618 63.802.631 92.802.631 187.331.880 207


onde hoje se encontra o Memorial da Mata Atlântica, estenden- Não obstante tais iniciativas, é necessário acelerar o processo
do-se até o Restaurante Universitário Manoel José de Carvalho, para, principalmente, promover o aumento da biodiversidade
localizava-se garagem e pátio de manobras de uma empresa de através do enriquecimento florístico das áreas. Assim, foi solici-
ônibus. As atividades agrícolas de pequena escala, a área de es- tado ao Instituto de Biologia um Plano de Manejo Ambiental,
tacionamento de veículos pesados e as exposições agropecuárias abrangendo todos os aspectos técnicos e científicos para uma
promoveram intenso desmatamento e compactação dos solos. Esse competente recomposição da vegetação do campus. As espé-
era o quadro anterior ao documentário fotográfico apresentado a cies do enriquecimento florístico devem ser do Bioma Mata
seguir, e, portanto, antes das instalações do novo campus universi- Atlântica, de acordo com as características regionais, plantadas
tário da UFBA. em conformidade com as sucessões ecológicas e modelagem de
Um processo de revegetação ocorreu, desde que a UFBA pas- plantio estabelecidas pelas condições locais. Os focos do enri-
sou a ocupar aquela área, por recomposição natural. A recompo- quecimento ambiental convergem à área do Memorial da Mata
sição ocorreu, por um lado, pela contribuição dos remanescentes Atlântica, visando a clareiras e áreas onde predominam espécies
da Mata Atlântica do entorno, preservados, inclusive, pela forte gramináceas (capim braquiária e colonião) e ervas grimpantes
influência do vizinho Parque Zoobotânico. Por outro lado, ações (melão-de-são-caetano e outras trepadeiras) ou situações forte-
administrativas ao longo da implantação do campus permitiram mente dominadas por uma só espécie, como os enormes bam-
manter as áreas das encostas e grande parte da pequena floresta na buzais nas encostas.
entrada do campus – declarada como Memorial da Mata Atlântica Por tudo isso, no texto do Plano Diretor Físico e Ambiental
– como áreas naturais de preservação ambiental. da UFBA, o Conselho Universitário incluiu também as seguintes

208 209
estratégias específicas ao planejamento ambiental, propostas pela • Proteger mananciais e cursos d’água nos campi da UFBA.
Reitoria a partir do Programa UFBA Ecológica (vide Capítulo 2): • Iniciar processo de integração das áreas ocupadas por enti-
• Na ocupação do Campus Ondina prevista no Plano Diretor, dades do governo estadual contíguas ao terreno da univer-
preservar o núcleo de vegetação denominado Memorial da sidade, ampliando a demanda para incorporação do Parque
Mata Atlântica, adensando-o com o plantio de espécies ve- Zoobotânico de Ondina ao acervo patrimonial da UFBA,
getais típicas desse bioma. consolidando o Campus Ondina.
• Definir um gabarito construtivo para ampliações e novas ins- Tais ações articulam-se a intervenções visando a superar a cul-
talações, com verticalização e ocupação de encostas sem co- tura do desperdício ainda predominante na comunidade univer-
bertura vegetal mais densa, a fim de garantir o máximo possí- sitária, como por exemplo redução de automóveis no campus e
vel de áreas livres de edificações nos setores de fácil acesso. coleta seletiva de lixo. Ademais, os projetos arquitetônicos dos no-
• Implantar paisagismo, urbanização e malha viária com pa- vos laboratórios e instalações de ensino já são mais verticalizados
drões e critérios de construção que mantenham e ampliem e buscam a ecoeficiência energética e funcional. Esse conjunto de
a cobertura vegetal dos campi, respeitando os requisitos de medidas deverá compensar a inevitável utilização de áreas edificá-
iluminação, acessibilidade, circulação e segurança. veis para os prédios necessários à expansão do alunado.

210 211
Biblioteca Universitária de Saúde Professor Álvaro Rubim de Pinho Pavilhão de Aulas de Ondina V

Reforma e Ampliação do Instituto de Letras Escola de Nutrição

212 213

Centro de Idiomas Ampliação do Instituto de Geociências


Pavilhão de Aulas de Barreiras II Instituto de Saúde Coletiva

Pavilhão de Laboratórios de Conquista Escola de Dança

214 215

Nucleo de Laboratorios de Energia e Meio Ambiente Escola de Música


CAPÍTULO 7

Segundo mandato:
outras ações
Segundo mandato: outras ações

Inegavelmente, a principal marca do nosso segundo mandato


foi a adesão da UFBA ao Programa de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais Brasileiras e a implantação de novos
modelos curriculares, narradas no Capítulo 5. Além disso, consi-
deramos de grande importância a elaboração, aprovação e implan-
tação do Plano Diretor Físico e Ambiental que, como demons-
tramos no Capítulo anterior, constitui efeito direto da entrada da
UFBA no REUNI.
Não obstante, cabe registrar, neste Memorial, outras ações rea-
lizadas na segunda fase do nosso Reitorado: recuperação dos pro-
gramas de apoio social aos estudantes de baixa renda; programa
de internacionalização; renovação dos marcos normativos da Uni-
versidade Federal da Bahia.

ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL
Programas de Assistência Estudantil foram instituídos desde a dicial patrocinada pelo Diretório Central
época da criação da UFBA na década de 1940. Nesse período, o De- dos Estudantes em 1997, nenhum auxílio
partamento de Assistência Estudantil (DAE) oferecia, aos poucos à permanência na universidade era pre-
estudantes oriundos das camadas populares da comunidade baiana visto para o contingente de estudantes
que não tinham família em Salvador, programas de moradia, auxílio necessitados de apoio social.
alimentação, acompanhamento acadêmico e auxílio saúde. Com a ampliação de vagas de gradu-
Até o ano de 2002, a política de assistência estudantil da UFBA ação, a partir de 2003, e a implantação Restaurante Universitário
seguia, em linhas gerais, as diretrizes iniciais do antigo DAE, do Programa de Ações Afirmativas, em 2005, houve expressivo Manoel José de Carvalho
priorizando o atendimento à minoria de estudantes com perfil aumento da demanda por apoio material, social e acadêmico, a
socioeconômico de baixa renda oriundos do interior do Estado. fim de viabilizar permanência na Universidade e promover su-
Como vimos, nessa época, o perfil socioeconômico do alunado cesso dos estudantes pobres em seus itinerários formativos. Parte
revelava uma universidade elitista, com pouco mais de 11% do da missão social da Universidade, políticas consistentes de assis-
corpo discente de graduação composto por estudantes pobres. tência estudantil justificam-se pela constatação de que, devido a
A assistência estudantil restringia-se a pouco mais de 200 vagas condições socioeconômicas desfavoráveis, este segmento do corpo
em residências universitárias. Desde que as bolsas de monitoria, discente tem maior risco de atrasar ou mesmo interromper sua
mantidas por taxas de matrícula, foram suspensas por ação ju- trajetória acadêmica.
218 219
PRÓ-REITORIA DE AÇÕES AFIRMATIVAS E ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL das principais pautas de reivindicação do movimento estudantil
Como se pode verificar no Capítulo 2, o documento-programa na Universidade.
para nossa reeleição à Reitoria, em maio de 2006, propunha a A consolidação institucional da PROAE foi realizada em pa-
criação de uma Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Política Estu- ralelo à discussão e elaboração do Plano REUNI/UFBA, durante
dantil destinada à gestão do Programa de Apoio Social aos estu- todo o ano de 2007. O principal motivo dessa vinculação en-
dantes da UFBA, que havíamos submetido ao Conselho Social de contrava-se na disponibilidade de recursos de capital e custeio
Vida Universitária. O CONSUNI aprovou essa proposta em 20 previstos pelo Decreto do REUNI que, em suas diretrizes, des-
de dezembro de 2006, instituindo a Pró-Reitoria de Assistência tacava a assistência estudantil como prioridade. Como resultado,
Estudantil – PROAE; porém, foi retirada do seu título a expres- na proposta de adesão da UFBA ao Programa REUNI, aprovada
são Ações Afirmativas por ter sido aprovada, por estreita maioria, em 19 de outubro de 2007 (vide Capítulo 5) foram incluídas as
uma moção da representação estudantil contrária ao que havíamos seguintes metas:
encaminhado. Com o novo Regimento Geral (ver adiante, neste • Ampliar, gradualmente até 2012, em pelo menos 200%, os
Capítulo), no entanto, pudemos recuperar parte da denominação atendimentos a estudantes em situação de vulnerabilidade
original anteriormente derrotada no CONSUNI, mantendo a sigla
social e econômica contemplados nas diversas modalidades
PROAE para designar, enfim, a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas
de apoio social e acadêmico (conforme Tabela 7.1).
e Assistência Estudantil.
• Reservar, em todos os programas de assistência estudantil,
À época, a UFBA contabilizava cerca de 5.400 estudantes
50% das vagas para cotistas e 50% das vagas para não-co-
oriundos de escolas públicas, com renda familiar per capita de, no
tistas em situação de vulnerabilidade social e econômica.
máximo, dois salários mínimos. Destes, somente 1.087 eram aten-
didos pelos programas de assistência estudantil da Universidade, • Ampliar, reequipar e reestruturar o Serviço Médico Ru-
número muito aquém da demanda real. Os programas de moradia bens Brasil Soares, tornando-o Centro de Promoção da
atendiam a 350 estudantes, com 250 vagas em residências estu- Saúde da UFBA.
dantis e 100 bolsas-moradia no valor de 250 reais. No que concer- • Concluir a construção do Complexo Residencial Estudan-
ne à alimentação, em Salvador, a capacidade de atendimento era til, na Avenida Garibaldi;
de apenas quatrocentas refeições/dia num restaurante instalado • Ampliação do Programa Bolsa-Moradia com expansão pro-
em condições precárias na Residência Estudantil da Vitória. Exis- gressiva do financiamento e oferta de bolsas por ano;
tiam oito programas restritos de apoio à permanência, financiados
• Implantar o Programa Bolsa-Alimentação para os campi de
pelo MEC, instituições públicas e privadas do Estado da Bahia
Barreiras e Vitória da Conquista;
que asseguravam cerca de 250 bolsas de permanência no valor
de 300 reais/mês. Nos campi de Vitória da Conquista e Barreiras • Aumentar o número de bolsas de permanência, na medi-
(ambos oriundos do processo de interiorização da UFBA, confor- da da captação de recursos, diversificando os programas
me Capítulo 5), não havia qualquer possibilidade de atendimento pertinentes.
às demandas por assistência estudantil. Graças ao Programa de Ações Afirmativas (ver Capítulo 5), en-
Apesar dos esforços empreendidos pelas equipes de sucessi- tre 2005 e 2009, a UFBA incorporou mais de 11,5 mil estudantes
vos reitorados e dos avanços obtidos nos últimos anos, estes nú- de famílias de baixa renda que, hoje, representam mais de 40% do
meros revelam a impossibilidade, dadas as condições vigentes, de alunado de graduação. Isso ocorre em todos os cursos, incluindo os
responder às reais necessidades da comunidade estudantil, em- de mais alta concorrência que, em 2002, acolhiam menos de 10%
bora elas já constassem, de modo quase permanente, como uma de estudantes provenientes de escolas públicas (e, menos ainda,
220 221
Tabela 7.1. Metas de Assistência Estudantil do REUNI UFBA, 2007-2010
Base
Estratégias / etapas 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Var%
Oferta de unidades 228 228 348 408 468 528 131,6
residenciais (em vagas)
Programa Bolsa-Moradia 178 178 228 278 328 378 112,4
(em bolsas)
Atendimento em 560 800 1.200 1.600 2.000 2.400 328,6
Restaurantes Universitários
(em atendimentos /dia)
Bolsa Alimentação para 0 60 80 100 120 150 ***
os campi de Barreiras e
Conquista (em bolsas)

Totais 966 1.266 1.856 2.386 2.916 3.456 257,8

pobres, negros e índios). Além disso, além das cotas, o acesso à


Universidade tem sido viabilizado pela isenção de taxas de ins-
crição que, atualmente, beneficia 8.000 candidatos ao Vestibular
(eram 1.800 em 2002, conforme www.vestibular.ufba.br); sem
contar que os postulantes aos Bacharelados Interdisciplinares têm
como via de acesso o ENEM, gratuito para estudantes de escolas
públicas. Não custa reiterar que ações articuladas dessa natureza
inexistiam em 2002.
Atualmente, a PROAE atende, somente com residência e bolsa-
moradia, a 719 jovens de baixa renda oriundos do interior do Es-
tado. Além disso, no contexto do Programa de Ações Afirmativas,
propicia 1.147 ítens diversos de auxílio-permanência a estudantes
pobres. Mas, de fato, o principal instrumento de apoio institucio-
nal à permanência e sucesso na graduação universitária de estu-
dantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica chama-se
Programa Permanecer.

PROGRAMA PERMANECER
O Programa Permanecer foi criado em 2007, com recursos
oriundos da política de descentralização orçamentária da SESu/
MEC, permitindo a oferta de bolsas de permanência, conforme
previsto no Plano REUNI/UFBA. As primeiras bolsas do Progra-
222 ma foram implantadas no ano de 2008, atendendo aos campi de 223
Obras da Residência Universitária, na Garibaldi
Açôes do Programa
Permanecer junto
Salvador (500 bolsas), Barreiras (65 bolsas) e Vitória da Conquista terizado pelas atividades de monitoria (ensino de componentes à comunidade
(35 bolsas). Desde sua criação, o Programa estrutura-se como rede curriculares da graduação).
de ações no campo da extensão, atividades docentes e atividades Extensão – Os projetos Permanecer na modalidade extensão
institucionais, voltadas, principalmente, à formação e apoio social caracterizam-se pelo desenvolvimento de ações educativas, cul-
aos estudantes. Além disso, visa à consolidação de novas propostas turais e/ou científicas na interface Universidade e Sociedade, a
e estratégias capazes de possibilitar a sustentabilidade da política exemplo do Programa Atividades Curriculares em Comunidade
de acesso e permanência no ensino de graduação da UBFA. da UFBA (ACC), que realiza diferentes tipos de ações voltadas
Anualmente, são selecionados projetos no âmbito dos eixos para comunidades.
originais de organização das ações do Permanecer, além do eixo da Pesquisa – Compreende bolsas de iniciação e formação científica
pesquisa, recentemente agregado ao Programa. Trata-se, portanto, e estágios em grupos credenciados de pesquisa científica para os
de quatro modalidades de bolsas: estudantes que participam dos Programas de Ações Afirmativas da
Docência – Os projetos Permanecer na modalidade docência UFBA. A principal ação deste setor é o Programa Permanecer/PI-
224 têm relação direta com a função ensino na Universidade, carac- BIC, em parceria com a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. 225
Institucional – Os projetos institucionais são destinados ao tancialmente o número de bolsas, em acréscimo às existentes.
apoio às atividades-meio de unidades administrativas ou sistemas Com a extinção dos Programas anteriores, o Permanecer passou
estruturantes e atividades acadêmicas de unidades universitárias a ampliar os seus benefícios, garantindo, a um número cada vez
ou órgãos complementares da universidade. Neles se enquadram: maior de estudantes, acesso e condições de permanência na uni-
• projetos artístico-culturais permanentes, como orquestras versidade, com investimentos paralelos às suas formações dentro
e grupos musicais, corais, grupos de dança, teatro, etc. do âmbito acadêmico.
• atividades de natureza técnico-administrativa, como, por Na Tabela 7.2, apresentamos os números do Permanecer nos
exemplo, apoio a laboratórios de informática e bibliotecas, últimos quatro anos, destacando a quantidade de bolsistas atendi-
desenvolvimento de softwares para os sistemas da UFBA, dos, a quantidade de ações implementadas e o número de unida-
estágios docentes na creche, otimização do espaço da Uni- des acadêmicas contempladas no Programa.
versidade, organização e arquivamento de documentos no
patrimônio cultural da UFBA, assistência ao setor de co-
municação das unidades, atendimentos em hospitais ou Tabela 7.2. Panorama geral de ações de promoção
no SMURB. da permanência na UFBA, 2002-2010
A submissão de projetos faz-se on line, através do Sistema Per- Estudantes Atendidos Número de Ações
manecer (SISPER/UFBA) desenvolvido e implantado pelo CPD/ Ano de Referência com Bolsas Desenvolvidas Unidades Atendidas
2002 – – –
UFBA. Além de garantir maior confiabilidade no processo de se-
2003 – – –
leção e avaliação das ações, este sistema gera anualmente infor-
2004 – – –
mações que servem de base para avaliação e acompanhamento da
2005 30 28 5
permanência dos estudantes bolsistas. A seleção de projetos tem
2006 50 83 15
sido realizada por comitês assessores, formados por especialistas
2007 250 283 50
nas áreas de promoção das atividades do Programa. 2008 600 292 47
Já no seu primeiro processo de seleção, o Programa Permane- 2009 635 292 47
cer provocou debates e produziu cenários e condições de diálo- 2010 645 335 44
go para a reflexão sobre situação de vulnerabilidade socioeconô- Fonte: Coordenadoria de Ações Afirmativas, Educação e Diversidade/PROAE
mica e permanência estudantil. Além disso, descentralizou ações
ao agregar, em todas as instâncias administrativas e acadêmicas
da universidade, interlocutores comprometidos com a escolha No ano de 2009, os resultados positivos do Programa Perma-
responsável e cuidadosa dos estudantes que, ao longo de um necer produziram, no âmbito da UFBA, uma bem sucedida coo-
ano, participaram dos projetos selecionados na primeira edição peração intrainstitucional da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas
do Programa. e Assistência Estudantil com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação
Como vimos acima, no biênio 2005/2006, antes da implanta- e Pesquisa que resultou na criação do Permanecer/PIBIC. Este
ção do Permanecer, o Programa de Ações Afirmativas da UFBA programa agrega o princípio da inclusão social na pesquisa e
contava com cerca de 250 bolsas-permanência, em diversos pro- formação científica dos estudantes que participam dos Progra-
gramas isolados: Conexões de Saberes, Afroatitude, Ações Afirma- mas de Ações Afirmativas da UFBA. Entre 2009-2010, foram
tivas/Fundação Clemente Mariani, Ações Afirmativas/SEMUR, concedidas 75 bolsas dessa modalidade, atendendo a estudantes
Ações Afirmativas/BAHIAGÁS, Uniafro. A partir da criação do engajados em grupos e programas de pesquisa de 19 unidades
226 Permanecer no bojo do Plano REUNI/UFBA, aumentamos subs- universitárias da UFBA. 227
Visando a consolidar um modelo participativo de gestão, des- duzir estratégias inovadoras de formação dos estudantes na relação
de sua criação, o Programa Permanecer tem envolvido ativamente com outros atores sociais que constituem a comunidade acadêmica:
dirigentes, docentes, discentes e técnicos administrativos. Para sua dirigentes, servidores docentes e técnico-administrativos.
implementação, os procedimentos administrativos e pedagógicos Permanecer na universidade implica o desafio de conviver com
do Permanecer têm sido amplamente discutidos com as comuni- as diversidades que compõem os seus contextos. Além dos dife-
dades participantes. O Conselho Universitário da UFBA constituiu rentes cenários de ensino, tanto em nível de graduação quanto
um fórum de decisões para elaboração das diretrizes do Programa, de pós-graduação, a UFBA deve ampliar suas estruturas de convi-
e garantiu sua plena consolidação institucional. Com sua recompo- vência em diversas e diferentes unidades administrativas que di-
sição, conforme o novo Regimento Geral, agrega-se às competên- reta ou indiretamente completam e enriquecem o investimento
cias do Conselho Social de Vida Universitária, o acompanhamento na presença dos seus discentes. O cotidiano acadêmico constitui
administrativo e pedagógico do Programa Permanecer. rica e densa teia de relações na qual, dentro e fora da sala de aula,
Ao longo destes anos, constata-se a eficiência do Programa na extrapolam-se os limites das formalidades curriculares e a rigidez
sua capacidade de gerar condições de permanência e produzir situ- dos rituais de ensino-aprendizagem.
ações de convivência entre os estudantes, principalmente aqueles No longo prazo, o compromisso mais radical do investimento
que ingressaram na UFBA através do Programa de Ações Afirma- em apoio social e formação integrada é a mudança das culturas
tivas, e as diversas comunidades acadêmicas da UFBA. Sua eficácia institucionais que transformaram os espaços acadêmicos em ilhas
no fomento da permanência tem sido demonstrada pelo grau zero de excelência. Ao articular ações institucionais, ações de extensão,
de evasão dos estudantes bolsistas nos seus cursos de origem. Sua ações docentes e ações de criação e produção de conhecimen-
efetividade social tem sido demonstrada pela ampliação do acesso to, emerge uma importante exigência pedagógica: a compreensão
dos estudantes participantes a bens culturais e formas de circula- de processos formativos como exercício de cuidado com o outro.
ção social, dentro e fora da UFBA, propiciada pela aplicação dos Buscamos pôr em prática uma política de investimento em bolsas
estipêndios da bolsa. Finalmente, para a Universidade, os ganhos de permanência capaz de transformar as relações de convivência
de produtividade e economicidade propiciados pelo Programa são entre estudantes e demais membros da comunidade acadêmica,
excepcionais, destacando-se como emblemática a renovação do superando lógicas de competitividade para praticar experiências
tradicional Madrigal da UFBA (que corria risco de ser desativado de solidariedade. Nesse processo, é preciso escutar, ver, tocar e ser-
pela carência de cantores) e o funcionamento do Programa Água com-o-outro para vivenciar trajetórias de formação que integrem
Pura (ver adiante, Capítulo 8), possibilitados pelo engajamento mais cada um e todos os indivíduos que convivem e aprendem
supervisionado de bolsistas Permanecer. dentro e fora dos espaços formais de ensino e aprendizagem na
universidade, valorizando o privilégio do fazer-juntos a fim de eli-
minar as formas individualistas de fazer-privilégios. Desse modo,
COMENTÁRIO
podemos superar desigualdades sociais e preconceitos étnico-ra-
As políticas de Assistência Estudantil que buscamos implementar ciais para agregar novos saberes e posturas à construção curricular
na Universidade Federal da Bahia foram fundadas na intenção ética do contexto acadêmico da UFBA.
e política de lançar bases para ações públicas capazes de consolidar A história deste momento presente da Universidade Federal da
estruturas e sustentar processos pedagógicos competentes no campo Bahia encontra-se marcada pelo compromisso incontornável da
das ações afirmativas. Além do investimento financeiro necessário implicação fecunda entre a cultura do mundo acadêmico e as cul-
para garantir, a estudantes em situação de vulnerabilidade social e turas dos mundos não-acadêmicos. Este foi o caminho escolhido
econômica, acesso a bens materiais essenciais à sua permanência na por nossa equipe de gestão para o projeto político de transforma-
228 universidade, buscava-se um investimento conceitual capaz de pro- ção das relações entre a Universidade e os contextos sociais que a 229
cercam. Desejamos que este caminho, que se faz essencialmente
por dentro da universidade, seja marcado pelo reconhecimento
de que permanência, convivência e exercício do cuidado com o
outro constituem estado-da-arte na construção de novos paradig-
mas de vida comum na UFBA, enriquecida por uma comunidade
acadêmica mais solidária e mais consolidada no diálogo interno
com as suas diversidades.

INTERNACIONALIZAÇÃO DA UFBA
A Assessoria para Assuntos Internacionais (AAI) da UFBA foi
criada em 1996. Em agosto de 2002, quando nossa equipe assu-
miu a Reitoria da Universidade, o cargo de Assessor para Assuntos
Internacionais estava vacante. A equipe encontrada restringia-se
a uma funcionária do quadro permanente, um estudante bolsista
e um funcionário terceirizado como prestador de serviços gerais.
Apesar da vontade potencial de acertar os próprios passos e en-
contrar um rumo para o setor, a reduzida equipe não dispunha da
orientação necessária para desenvolver uma política de relações
internacionais compatível com a instituição. Nenhum dos funcio-
nários falava inglês (deficiência crucial e paralisante num escritório
de relações internacionais). As instalações e equipamentos da AAI
podiam ser classificados como precários, sua inserção e visibilidade
Reunião sobre os Bacharelados
na instituição como um todo eram bastante discretos. Os resulta- Internacionais com o Reitor
dos, tal como vimos no Capítulo 1, eram praticamente nulos. Fernando Seabra Santos da
Universidade de Coimbra
A análise da situação condensada no parágrafo anterior revela • fomento às atividades internacionais dos programas de pós-
claramente o que, de imediato, deveria se fazer a fim de tornar graduação melhor qualificados da UFBA.
a AAI compatível com a importância da UFBA: repensar suas
Em articulação com as equipes dos diversos setores da adminis-
funções, fazê-la realizar eficientemente as tarefas inerentes a este
tração central, foi possível elencar rapidamente os passos necessá-
novo papel e capacitá-la institucionalmente para tal. Dentro do
rios a tais modificações:
modelo de planejamento estratégico adotado, definimos um con-
junto de metas acadêmicas a serem alcançadas: • expandir e qualificar a equipe de apoio da AAI;
• incremento da mobilidade estudantil de graduação; • modernizar recursos físicos (equipamento e espaços);
• ampliação do número de convênios com instituições es- • encaminhar aos órgãos superiores propostas de moderniza-
trangeiras; ção normativa da UFBA, adequando-a ao processo de inter-
nacionalização;
• realização de missões da AAI ao exterior visando à expansão
da cooperação acadêmica com a África, a América Latina, a • criar, no âmbito da rede UFBA, homepage específica da AAI
230 América do Norte e a Europa; em idiomas de alcance internacional; 231
ção para as Assessorias Internacionais no plano nacional, em es-
pecial os diversos cursos promovidos pela ANDIFES em Brasília.
Além disso, foram realizados esforços de capacitação dos recursos
humanos disponíveis, enviando dois funcionários, em oportuni-
dades distintas, para cursos de língua inglesa e técnicas de admi-
nistração ligadas a Assessorias Internacionais na Universidade de
York, em Toronto, no Canadá.
Em 2002, a sede da AAI dispunha apenas de duas salas: uma
para atendimento geral ao público, ocupada pelos funcionários,
e outra para escritório do Assessor. Criamos uma terceira sala
destinada ao escritório do Assessor Adjunto a partir da refor-
ma de espaços antes alocados a outros usos. O parque de infor-
mática utilizado pela AAI era bastante obsoleto, demandando a
substituição de vários equipamentos. No período 2002-2009, a
atualização e reposição destes equipamentos tem sido constante
e, no momento, o conjunto de computadores, impressoras, scan-
ners e faxes utilizados na AAI é compatível com a tecnologia
Desenvolvimento
mais atual disponível.
do Programa de
Licenciaturas Sem recursos financeiros não há planificação, gestão ou ação.
Internacionais
No período sob nossa responsabilidade, a AAI captou recursos
diretos e indiretos de várias fontes externas, nacionais e interna-
• produzir material gráfico de divulgação de qualidade gráfica cionais, maximizando o uso de recursos da própria UFBA. Re-
e conteúdo pertinente; cursos oriundos de fontes nacionais provieram da Secretaria de
• captar recursos financeiros externos e internos suficientes Indústria e Comércio do governo estadual, através da PROMO,
para permitir a realização de atividades indispensáveis à exe- assim como da FAPESB e, indiretamente, do CNPq por meio da
cução das metas. concessão de bolsas de pós-graduação para estudantes africanos
na UFBA, em cota específica. A própria UFBA contribuiu, di-
retamente de seu orçamento e de recursos próprios, com apoio
REESTRUTURAÇÃO DA ASSESSORIA INTERNACIONAL
limitado para passagens e diárias que possibilitaram missões no
Desde sua criação, a AAI vinha sendo exercida por um úni- Brasil e no exterior necessárias às realizações da AAI.
co Assessor Internacional, sempre um professor dos quadros da Os fundos internacionais provieram principalmente da União
UFBA. Criamos a figura do Assessor Adjunto, o que permitiu ime- Europeia, através da participação da UFBA nos consórcios for-
diata duplicação da capacidade gerencial da AAI, com aumento mados por diversas universidades brasileiras, latino-americanas
de sua eficácia e agilidade. e europeias, no âmbito do Programa Erasmus Mundus External
No período 2002-2009, a equipe da AAI foi expandida, com a Windows. Os principais consórcios integrados pela UFBA foram
incorporação de mais dois servidores do quadro, mantendo-se um liderados pela Universidade Técnica de Munique, pela Universida-
número variável de bolsistas e um prestador de serviços contrata- de do Porto e pela Universidade de Santiago de Compostela. Ou-
do. Funcionários da AAI participaram de programas de capacita- tras fontes de recursos internacionais foram programas específicos
232 233
desenvolvidos entre a UFBA e o St. Mary’s College of Maryland
(USA) com apoio da Mellon Foundation, com o Washington Cen-
ter (com apoio da FORD Foundation) e de Universidade de Pas-
sau (com apoio da fundação alemã Wilhelm Finck).
A Assessoria atuou ativamente no sentido de promover, princi-
palmente no âmbito do CONSEPE, atualizações normativas que
se mostraram fundamentais no processo de internacionalização da Missão acadêmica na Harvard University, 2009 Estudantes da UFBA na Universidade do País Basco, Espanha, 2008
UFBA. As matérias versaram sobre a abertura de vagas nos cursos
de pós-graduação da UFBA para estudantes estrangeiros e sobre o
estabelecimento do regime de cotutela de teses de doutorado com
universidades estrangeiras. Atualmente, mais de trinta estudantes
da UFBA realizam teses de doutoramento neste regime.
Inexistia divulgação, via internet ou rede web, dos programas e
atividades da AAI antes de 2003. Uma homepage foi rapidamen-
te desenvolvida, em versão quadrilíngue (português, inglês, fran-
cês e espanhol), agregando informações gerais sobre o órgão, de
importância fundamental como interface entre a AAI e quem,
nos níveis institucional ou individual, com ela interage. Inaugu-
Estudantes da UFBA na York University, Canadá, 2008 Missão oficial na Michigan State University, EUA, 2009
rado em 2004, este importante instrumento vem sendo cons-
tantemente atualizado. Também, praticamente inexistia mate-
rial gráfico de divulgação internacional da UFBA ou da AAI. Isto
foi providenciado em pelo menos três línguas e em quantidade
suficiente. Contudo, a recente e rápida expansão da UFBA pelo
REUNI criou tantas situações novas que será necessário atuali-
zar tal material.

ATIVIDADES ACADÊMICAS COM PARCEIROS ESTRANGEIROS


Uma estratégia fundamental para o incremento da atividade
internacional da UFBA compreendeu agressiva política de am-
pliação da rede de universidades estrangeiras conveniadas, me- Missão acadêmica à Universidade de Roma Tor Vergata, Itália, 2005 Assinatura de convênios na Universidade de Coimbra, Portugal, 2008
diante missões oficiais e criação de rotinas de recepção a dirigen-
tes acadêmicos estrangeiros. Foram realizadas mais de 30 missões
oficiais ao exterior, sempre com o propósito de expandir as ativi-
dades acadêmicas internacionais da UFBA. Tais missões visitaram
países da África, América Latina, América do Norte e Europa.
Um breve sumário das principais missões efetuadas encontra-se
no Quadro 7.1.
234 235

Missão oficial em Cabo Verde, 2007 Missão acadêmica à New York University, EUA, 2009
Quadro 7.1. Sumário das principais missões internacionais, AAI/UFBA, 2002-2008
Europa
África Alemanha 2005, 2006, 2009 Universidade de Bonn
Universidade de Bochum
África do Sul 2003 University of South Africa (UNISA)
University Witwatersrand Universidade de Bielefeld
Angola 2003, 2004 Universidade Agostinho Neto Universidade Técnica de Bremen
Universidade Católica de Luanda Lunenburg Universitat
Instituto de Superior Privado de Angola Universidade de Berlim
Moçambique 2003, 2006 Universidade Eduardo Mondlane
Hamburg Universitat
Cabo Verde 2007 Universidade de Cabo Verde
Karlsruhe Universitat
Universidade de Heidelberg
América Latina
Universidade Técnica de Munique
Argentina 2005 Ministério da Educação
Áustria 2010 Universidade de Viena
Secretaria da Cultura
Universidade de Graz
Universidade de Lujan
Espanha 2008 Universidad Europeia de Madrid
Universidade de Buenos Aires
Universidade Politécnica de Madrid
Universidade de Córdoba
Universidade Alfonso X
Universidade de La Plata
Universidade Complutense de Madrid
Universidade del Aconcagua
Universidade Autônoma de Madrid
Universidade Nacional de Cuyo
Universidade do País Basco
Universidade de Quilmes
Universidade Autônoma de Barcelona
Chile 2005 Universidade do Chile Universidade Politécnica da Catalunha
Universidade Central do Chile Universidade Pompeu Fabra
Universidade de Santiago do Chile Universidade de Huelva
Pontificia Universidade Católica do Chile Universidade de Sevilha
Paraguai 2005 Universidade Nacional de Assunção Universidade de Granada
Uruguai 2005 Universidade da República do Uruguai Universidade de Córdoba
Universidade Católica do Uruguai Itália 2005, 2007 Universidade Tor Vergata
Colombia 2006 Universidade Nacional de Colombia Universidade Oriental de Nápoles
Universidad de Cartagena Universidade de Roma La Sapienza
Portugal 2003, 2005, 2006, Universidade do Porto
América do Norte 2007, 2009 Universidade de Aveiro
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE)
Canadá 2004, 2008 McGill University Universidade de Coimbra
Universitè de Montreal República Tcheca 2010 Univeridade de Praga
Universitè du Quebec a Montreal Universidade Masarykova (Brno)
York University Universidade de Olomouc
Estados Unidos 2003, 2009, St. Mary’s College of Maryland Suiça 2010 Scuola Universitaria Professionale della
2010 University of Califórnia at Berkeley Svizzera Italiana (SUPSI)
Michigan State University Università della Svizzera Italiana
New York University Universidade de Berna
Harvard University Universidade de Lausanne
City University of New York Universidade de Genebra
236 Universidade de Zurique 237
Procurou-se uma expansão multicêntrica seletiva, envolvendo Gráfico 7.1. Alunos estrangeiros na UFBA, 2002-2009
universidades prestigiosas na Europa, América do Norte, Améri-
180
ca Latina e África, incluindo também instituições com potencial 160
e conhecida credibilidade. Isto permitiu uma dinamização con- 140
siderável da internacionalização da UFBA, com repercussões so- 120
bre o intercâmbio discente e sobre realização de pesquisas con- 100
juntas. Decidimos não incluir nesta expansão a Ásia e a Oceania. 80
Estão longe e custam caro. Contudo, sabemos da importância es- 60
tratégica de interagir com estes continentes no futuro próximo. 40
Outras universidades públicas brasileiras já se movem na direção 20
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
desses continentes. 0
O intercâmbio estudantil internacional de graduação é um
dos pilares das atividades acadêmicas de qualquer universidade. Gráfico 7.2. Alunos da UFBA em instituições estrangeiras, 2002-2009
Mas, o conjunto de atividades desenvolvidas pela AAI ao lon-
250
go dos últimos oito anos não poderia deixar de repercutir po-
sitivamente na sua pós-graduação. Diversos contatos efetuados
200
com universidades estrangeiras geraram atividades de pesquisa
conjunta com parceiros fora do Brasil. Isto foi ampliado consi-
150
deravelmente com o início e rápida expansão das parcerias de
cotutela de tese em nível de doutorado, sobretudo com a França. 100
O uso de uma cota expressiva e exclusiva de bolsas de estudo do
CNPq potenciou o aumento do número de estudantes africanos 50
em cursos de pós-graduação da UFBA, em especial no Centro de
Estudos Afro-Orientais. 0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Ao longo dos últimos anos, a UFBA desenvolveu uma série de


cursos de pequena duração (duas a quatro semanas em média)
para estudantes de graduação em turmas conjuntas de estudan- ano-base 2002, apenas 53 convênios haviam sido assinados com
tes da UFBA e estudantes estrangeiros, com aulas em inglês. Isto instituições estrangeiras. Em nosso mandato, foram firmados 176
proporcionou uma interação positiva entre os nossos estudantes e acordos desse tipo. Ou seja, em 8 anos, estabelecemos 3,3 ve-
os estudantes estrangeiros que em muito colabora para a forma- zes mais laços formais com universidades estrangeiras do que em
ção de todos. Interações deste tipo com a Universidade Bocconi toda a história anterior da UFBA.
de Milão, a Universidade do Texas em Austin, a Michigan State
Em 2002, o número de estudantes de graduação da UFBA
University e a City University of New York vêm sendo realizadas
enviados para o exterior e de estudantes estrangeiros recebi-
com amplo sucesso.
dos em nossa universidade era bastante reduzido. O Gráfico 7.1
mostra a extraordinária evolução quantitativa desses números
RESULTADOS E IMPACTO no curso desta gestão. Os dados falam por si. O crescimento
Em comparação com a situação anterior a 2003, o nível de in- nesses indicadores, tomando 2002 como ano-base das fases an-
ternacionalização da UFBA hoje alcança novos patamares. Até o teriores, foi de quase 320% para a recepção de estudantes in-
238 239
ternacionais na UFBA e de mais de 600% para intercâmbios de
nossos estudantes em universidades estrangeiras. Ressaltamos
apenas que o recuo referente ao exercício 2009 corresponde à
grave crise financeira internacional que determinou redução dos
apoios financeiros.
Durante o quadriênio 2002-2005, 333 estudantes de gradua-
ção da UFBA haviam se beneficiado de programas de intercâm-
bio acadêmico em universidades estrangeiras, em diversas áreas
específicas de conhecimento. No quadriênio seguinte (2006-
2009), foram 751 intercambistas, configurando um crescimento
de 125% em relação ao período anterior. Neste ano, convênios
firmados com importantes universidades estrangeiras (Universi-
dade de Coimbra, New York University, Michigan State Univer-
sity, Universität Graz) prevêem a oferta de bolsas tipo sanduí-
che na graduação para estudantes participantes no Programa de
Ações Afirmativas.
Na pós-graduação, foi ampliada a formalização do intercâmbio
internacional que já se fazia de modo espontâneo. Reforçando um
programa já existente, em 2010, matriculamos 21 estudantes es-
trangeiros nos cursos de pós-graduação da UFBA, com bolsas do
Registro da passagem
Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG). do Reitor Edgard Santos
Abrindo uma linha original de parceria neste nível de formação, Exmo. Sr. Prof. Doutor Maximiano Correia na Universidade de Coimbra
celebramos a realização de 31 doutorados em cotutela e dupla Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra
titulação, com importantes universidades europeias.
A Assessoria para Assuntos Internacionais tornou-se, no perí-
odo da atual gestão, amplamente conhecida na UFBA. De março Ao comemorar o primeiro decênio da sua organização defini-
de 2004 até o momento, foram geradas 223 diferentes matérias tiva, a Universidade da Bahia, que inclui entre as suas uni-
jornalísticas relativas às atividades da AAI no UFBA em Pauta, o dades a mais velha Escola Superior do Brasil, a Faculdade
que significa média de três fatos relevantes a cada mês. Trata-se de Medicina, fundada ainda por um Rei Português, D. João
VI, e cujos primeiros Mestres foram escolares de Coimbra,
de um indicador interessante da importância do trabalho (e seus
vem por meu intermédio e na pessoa de Vossa Magnificência,
resultados) aqui relatado. trazer à Alma Mater Coimbrieense as suas saudações reve-
A convivência sempre harmoniosa entre seus membros e o rentes e fraternas.
alto nível de interesse deles no trabalho e nos destinos da AAI
transformaram o labor em lazer. Nossa equipe confia ter desem-
penhado sua missão da melhor maneira possível, sem excluir Bahia, Cidade do Salvador, maio de 1956
que outros pudessem tê-lo feito (ou poderão fazê-lo no futuro)
ainda melhor. Reitor Edgard Santos
240 241
REESTRUTURAÇÃO NORMATIVA DA UFBA NOVO MARCO REGULATÓRIO PARA A AUTONOMIA

O Brasil ainda está construindo seu arcabouço democrático. A gestão pública em geral rege-se pelos princípios constitucio-
Lentamente, a Constituição de 1988 vem sendo regulamentada. nais de probidade, legalidade, economicidade, impessoalidade e
Um dispositivo constitucional, o artigo 207, assegura que as uni- eficiência. Em todo o mundo, o princípio da probidade assume na
versidades gozam de autonomia didático-científica, administrati- instituição universitária um valor ainda mais profundo. Às exigên-
va e de gestão financeira e patrimonial. O problema é que raros cias de honestidade no trato da coisa pública, particularmente nos
são os artigos constitucionais que têm aplicação direta. A Emenda aspectos financeiros e de gestão, a universidade agrega demandas
Constitucional nº 11/1995 e a Lei de Diretrizes e Bases da Edu- muito firmes por integridade científica, estética, pedagógica e éti-
cação (Lei 9.394/1996) são também muito claras na questão da ca. De variados modos, as comunidades acadêmicas desenvolvem
autonomia da universidade, mas não avançam no necessário deta- e operam mecanismos extremamente eficazes e rigorosos de au-
lhamento normativo. torregulação, vinculados a redes de pesquisadores e criadores que
convalidam processos, métodos, resultados, objetos e produtos pe-
A universidade federal brasileira foi constitucionalmente defi-
dagógicos, científicos e artísticos.
nida como autarquia com autonomia, portanto tem uma natureza
jurídica muito mais independente do que a burocracia estatal tem Os outros princípios constitucionais da gestão pública são
permitido. De direito, a autonomia constitucionalmente outor- pertinentes, em geral, mas insuficientes (e, em certos casos, até
gada concede às universidades a capacidade de criar seu próprio inadequados) para dar conta das especificidades da universidade.
marco regulatório, possibilitando de fato um autogoverno, o que Excelência, cientificidade, esteticidade, criatividade e pluralidade
compreende autogestão dos meios com compartilhamento da go- devem ser tomados como princípios estruturantes dessa peculiar
vernança, orientada à consecução de objetivos cuja determinação instituição que tem a missão histórica da educação superior, da
será pactuada com a sociedade. produção de conhecimento/criação, do respeito à diversidade e
da transformação crítica da sociedade. Em certos momentos, ha-
Com a oportunidade aberta pelo Plano REUNI/UFBA, apro-
verá mesmo contradição entre o espírito burocrático do serviço
veitamos essa brecha legislativa para construir o marco regulató-
rio de uma instituição autogovernada, com autogestão e autor-
regulação. E buscamos fazê-lo diretamente a partir dos nossos
Conselhos, elaborando e aprovando Estatutos e Regimentos,
pois ‘autonomia’ juridicamente quer dizer capacidade de auto-
normatização.
Antes de narrar o processo de reestruturação normativa da
UFBA, precisamos ainda estabelecer as seguintes definições. Es-
tatuto é o marco normativo principal de uma instituição ou or-
ganização, equivalente, no plano interno, à constituição de um
país. Tipicamente, um estatuto estabelece princípios, normas ge-
rais, macroestrutura e funcionalidade da entidade. Regimentos,
aí incluindo o Regimento Geral, são dispositivos normativos in-
fraestatutários que regulamentam normas específicas, arcabouço
estrutural interno, competências e, principalmente, operação da
instituição e dos seus organismos constituintes.
242 243
público e o ethos universitário: a eficiência pode prejudicar a ex- sidade, aproveitando sua parca independência institucional atual-
celência; a impessoalidade pode rejeitar o talento e a pluralidade; mente vigente, poderia (e deveria) implantar as seguintes medidas:
a legalidade pode reprimir a criatividade; a economicidade pode • elaboração de planos de desenvolvimento institucionais
comprometer a estética e a cientificidade. “verdadeiros”, e não termos de vagas intenções;
Num plano teórico, a riqueza de uma universidade deve ser • negociação de Pactos de Metas, a tempo determinado, com o
avaliada pelo talento e competência de seus docentes e pesqui- nosso principal mantenedor, o Governo Federal (nesse sen-
sadores. Porém, a situação atual é bem distinta e distante desse tido, podemos conferir o exemplo do Canadá – onde planos
ideal. As interdições burocráticas do serviço público brasileiro não quinquenais de metas garantem recursos estatais condicio-
constituem pesadelos kafkianos ficcionais; de fato, são a crua rea- nados a operação eficiente das universidades públicas);
lidade atual.
• atualização de mecanismos e instâncias de controle interno
Atualmente, a instituição universitária federal é obrigada a se-
nas unidades do sistema, capacitadas a exercer com eficiência
guir a Lei de Licitações (Lei 8666/1993), devendo contratar servi-
funções de avaliação, controle, acompanhamento, monitora-
ços e adquirir produtos pelo menor preço ofertado, sem considerar
mento, fiscalização e supervisão, sempre com conhecimento
estética, cientificidade e avanço tecnológico, critérios considerados
estreito e próximo das especificidades da Universidade;
subjetivos no regime licitatório vigente no serviço público. Nossos
professores, pesquisadores e funcionários pertencem ao quadro de • instalação de Conselhos Sociais Estratégicos nas uni-
servidores federais e, portanto, a gestão de pessoas das instituições dades do sistema, com a participação de representantes
federais de educação superior é regida pelo Regime Jurídico Úni- dos mantenedores (governos federal, estadual e munici-
co (Lei 8.112/1990). Submetemo-nos ao mesmo regime de todo pais, bancadas parlamentares federais), dos financiadores
servidor público federal, do ascensorista do Senado à secretária do (agências de fomento, empresas parceiras), da sociedade
Planalto ao analista do Supremo. civil (sindicatos, movimentos sociais) e da comunidade de
egressos (ex-reitores, servidores aposentados, professores
Um edital de concurso para docência universitária é cheio de
aposentados, ex-alunos).
ítens destinados a garantir a impessoalidade do processo, preser-
vando direitos de técnicos e professores meramente eficientes, Para contínua negociação e renovação desses pactos internos
mas que dificultam reconhecimento e seleção dos excelentes, ou e externos, entretanto, não bastam alguns representantes de seg-
seja, os mais criativos e competentes. O modo de seleção tipo mentos sociais num conselho superior deliberativo. Os governos
concurso é por vários motivos menos acadêmico e mais carto- municipal, estadual e federal, as entidades da sociedade civil, sin-
rial, facilitando intermináveis recursos e processos judiciais. Além dicatos, os financiadores, os professores eméritos, os ex-alunos,
disso tudo, para realizar concursos públicos de pessoal técnico e todos deveriam participar. Por exemplo, o maior financiador atual
administrativo, temos que seguir a lista de funções do Ministério de projetos de pesquisa na UFBA é a Petrobras; será plenamente
do Planejamento, Orçamento e Gestão. Essa submissão da univer- justificado que ela tenha assento no conselho estratégico da uni-
sidade ao padrão do serviço público dificulta, inclusive, a gestão versidade. A universidade poderá assim escolher em que investir,
orientada por uma noção peculiar de produtividade, a produtivi- com decisões compartilhadas com a sociedade que a sustenta e a
dade acadêmica, que implicaria maior flexibilidade para admitir, financia com recursos públicos.
avaliar e, quando for o caso, demitir. O financiamento da universidade deve ser feito através de or-
Para viabilização da autogestão universitária (ou autonomia çamentos globais, que será plenamente autogerido e autocontro-
plena dos meios), visando a garantir uma governança socialmente lado, porém acompanhado e fiscalizado por instâncias internas
244 compartilhada, ou seja, autonomia relativa dos fins, cada univer- e igualmente autônomas. Nesse cenário, o TCU (como órgão 245
Primeiro, no texto normativo se verificava grave lacuna no que
se refere à ausência de definição do Colegiado de Cursos, instância
típica de gestão do cotidiano acadêmico, consagrada na estrutura
da universidade brasileira. Essa omissão foi notada de imediato
após sua aprovação, porém sucessivas legislaturas no Conselho
Universitário pretenderam remeter esta correção ao momento de
revisão do Regimento Geral, o que de fato não ocorreu. Como as
características da instituição universitária permitem larga tolerân-
cia nos processos e dado o exaustivo trabalho de congregações,
câmaras e conselhos, foi possível conservar padrões de gestão aca-
dêmica com base no velho Regimento de 1981 (no que não con-
flitava com o Estatuto) e nas boas práticas informais.
Segundo, a revisão da estrutura de governança visando a inte-
grar gestão acadêmica e gestão institucional, necessária para maior
eficiência e competência da universidade, restringiu-se ao âmbito
localizado das Unidades Universitárias. A extinção dos Conselhos
Departamentais, ao condensar funções acadêmicas e administra-
do Estado), o MEC e a CGU (como órgãos do Governo), e um tivas nas Congregações, constituiu importante passo no sentido
Conselho Social Estratégico (como interface da sociedade na da gestão baseada na unicameralidade. A avaliação da funcionali-
universidade) em cada instituição serão todos necessários para dade dessa estrutura, no decênio que se encerra, não identificou
nos avaliar não como burocracia meramente eficiente, mas como maiores problemas e, pelo contrário, a ela se podia atribuir uma
universidade excelente. retomada, ainda que tímida, das responsabilidades de liderança
Tudo isso é muito pertinente e interessante, diriam as almas acadêmica pelos Diretores de Unidade.
de bem (do ponto de vista acadêmico), mas demasiado distante. Por outro lado, na esfera central de deliberação, implantou-se
De fato, a construção da autonomia deve começar dentro de casa.
a mais rígida dicotomia deliberativa, com um Conselho Univer-
Nesse sentido, nada mais justo que rever o marco normativo de
sitário exclusivamente responsável pelos aspectos administrativos
cada instituição de conhecimento que se pretende Universidade,
e institucionais da gestão, sem qualquer competência acadêmica,
a começar pela nossa UFBA.
quase antagonizando um Conselho de Ensino, Pesquisa e Exten-
são, com todos os encargos deliberativos da gestão acadêmica es-
INCONSISTÊNCIAS DO ANTIGO ESTATUTO DA UFBA trito senso. Não obstante, este último conselho, subdividido em
O Estatuto anterior da UFBA, diploma legal máximo da insti- câmaras, rapidamente encontrou-se sobrecarregado de processos
tuição, havia sido elaborado e aprovado pelos Conselhos Superio- e recursos do cotidiano da gestão universitária, impossibilitado de
res no ano 2000, incorporando um viés claramente simplificador. refletir sobre as questões estratégicas maiores da instituição.
Nesse sentido, decidiu-se remeter detalhamento normativo e re- Terceiro, a despeito do avanço na constituição do Conselho de
gramento operacional para um novo Regimento Geral que, face a Curadores no Estatuto, dotando-o de maior autonomia perante os
sucessivas conjunturas adversas, nunca foi completado. organismos de execução e deliberação da Universidade, tornando-
Naquele Estatuto, ressaltavam três inconsistências fundamentais o órgão consultivo do Conselho Universitário, fazia-se necessário
246 no tocante aos temas da autonomia universitária acima assinalados. ampliar as relações entre a instituição universitária e a sociedade 247
que a sustenta no sentido institucional e o governo que a mantém uma série de resoluções que, de modo pioneiro, regulamentaram
tanto em termos administrativos como financeiros. A estrutura, aspectos acadêmicos do REUNI, imprescindíveis para a imple-
composição e competências dos conselhos superiores aprovadas mentação dos novos modelos curriculares e da logística comple-
no antigo Estatuto de fato não inovou no que se refere à parti- xa determinada pela massiva expansão de vagas na graduação e
cipação da sociedade e do governo, conservando uma referência na pós-graduação.
limitada de representações internamente constituídas. Dado o grau de amadurecimento dos debates sobre reestrutu-
Uma proposta de atualização do Estatuto da UFBA, visan- ração institucional e curricular na UFBA provocados pelo Plano
do ao aprimoramento tanto quanto à correção de tais lacunas e REUNI/UFBA e considerando a urgência em atualizarmos es-
inconsistências, já constava do Plano de Metas apresentado em trutura de governança e arcabouço normativo de nossa institui-
nossa posse na Reitoria em agosto de 2002. Como não alcança- ção, incluímos a matéria na pauta nos conselhos pertinentes para
mos, no primeiro mandato, o consenso político imprescindível a devida apreciação e deliberação. Assim, em outubro de 2008, o
para uma reestruturação normativa mais ampla, sustentável e CONSUNI, acolhendo indicação consensual do CONSEPE, re-
representativa, consideramos então esta demanda como meta comendou à Reitoria tomar providências para abertura dos de-
não-realizada e a mantivemos como prioridade em nossa plata- bates sobre reforma estatutária e subsequente elaboração de um
forma de trabalho para o segundo mandato – referendada pela novo Regimento Geral. Uma Comissão ad-hoc, composta pelos
comunidade universitária ao reeleger nossa equipe, por ampla professores Aurélio Lacerda, Ricardo Miranda e Roberto Pau-
margem, em 2006. lo Araújo, foi designada para proceder aos estudos necessários
Os principais pontos da nossa proposta de ação no segundo à elaboração de propostas de anteprojetos de Estatuto e Regi-
mandato foram explicitados como princípios estruturantes de mento Geral, a serem apreciadas conforme as disposições gerais
uma reforma acadêmica e administrativa da UFBA, no contexto da norma vigente. Ao apresentar seus resultados preliminares
da luta por autonomia universitária com responsabilidade institu- em fevereiro de 2009, essa comissão foi referendada por unani-
cional. Com esse espírito, durante todo o ano de 2007, avançamos midade pelo CONSUNI como Comissão Especial, acrescida de
na construção de um programa de reestruturação curricular (de- representantes dos servidores docentes, técnico-administrativos
nominado inicialmente de UFBA Nova) que, influenciando a ela- e estudantes.
boração da nova política de educação superior do governo federal O Conselho Conjunto Estatuinte, formado pela união dos con-
(então designado como Universidade Nova), encontrou condições selhos superiores da UFBA, foi instalado em 14 de agosto de 2009,
de viabilidade com a adesão da UFBA ao Programa REUNI, como tendo sido então autorizada a divulgação ampla da minuta elabo-
vimos no Capítulo 6. rada pela Comissão. Na primeira minuta, as alterações propostas
no Estatuto compreendiam o seguinte:
REFORMA ESTATUTÁRIA DE 2009 • Nova estrutura, composição e competências para os Órgãos
de Administração Superior, ampliando a responsabilidade
O ano de 2008 foi extremamente profícuo no sentido de criar
acadêmica do Conselho Universitário e regulamentando pa-
as matrizes normativas da substancial transformação ainda em
pel e composição da Assembléia Universitária.
curso na UFBA. Por um lado, o Conselho Universitário, com agili-
dade e firmeza, aprovou diretrizes, estratégias, metas e definições • Introdução, no Título III – Da Estrutura, do conceito de
urbanísticas componentes de um Plano Diretor Físico e Ambien- Conselhos Acadêmicos Superiores como órgãos de delibera-
tal, necessário para aplicar com eficiência os recursos para investi- ção colegiada em matéria acadêmica e da categoria Órgãos
mento em obras e instalações. Por outro lado, o CONSEPE e suas Consultivos como instância auxiliar à Reitoria e aos Conse-
câmaras, igualmente com objetividade e perseverança, aprovou lhos Superiores.
248 249
nidade universitária, tendo em vista a elaboração de uma versão
atualizada da proposta do novo Estatuto da UFBA, a ser submeti-
CONTRIBUIÇÕES da à apreciação definitiva dos seus Conselhos Superiores”, tendo
Em diferentes momentos do processo de elaboração do Estatuto e do sido instalada em 16 de setembro de 2009. Foram realizadas cinco
Regimento Geral, recebemos contribuições de 22 unidades e órgãos, reuniões do Conselho Conjunto Estatuinte, com amplo quorum
a saber:
deliberativo, apreciando as propostas que, incorporadas ao texto-
1. Faculdade de Arquitetura
base, serviram para novas rodadas de discussão. No total, 7 versões
2. Instituto de Geociências
3. Instituto de Física da minuta foram elaboradas pela Comissão Técnica, incorporan-
4. Instituto de Politécnica do subsídios e sugestões resultantes de três rodadas de discussão
5. Instituto de Química nas unidades universitárias. Adicionalmente, a Comissão recebeu
6. Instituto de Biologia
e considerou subsídios das representações dos docentes, dos téc-
7. Escola de Enfermagem
8. Faculdade de Farmácia nico-administrativos e dos estudantes nos Conselhos Superiores,
9. Instituto de Ciências da Saúde além de contribuições espontâneas independentes da Câmara de
10. Instituto de Saúde Coletiva Ensino de Graduação do CONSEPE, do Departamento de Ci-
11. Faculdade de Medicina ência Política da FFCH, do Coletivo Tribo (grupo de servidores
12. Faculdade de Odontologia
13. Escola de Nutrição
técnico-administrativos) e de Marcelo Embiruçu, Professor Asso-
14. Escola de Administração ciado da Escola Politécnica.
15. Faculdade de Ciências Contábeis Além daquelas constantes da minuta inicial, referidas acima,
16. Faculdade de Ciências Econômicas
17. Faculdade de Educação
destacam-se as seguintes alterações enfim incorporadas ao Estatuto:
18. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas 1. Instituição de dois Conselhos Acadêmicos Superiores – Con-
19. Instituto de Psicologia
selho Acadêmico de Ensino; Conselho Acadêmico de Pesquisa e
20. Instituto de Letras
21. Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos Extensão –, com maior autonomia deliberativa, mantendo o pa-
22. Centro de Pesquisa em Geofísica e Geologia pel do CONSEPE no que se refere à integração e articulação das
atividades-fim da Universidade.
2. Criação de Órgãos Estruturantes, compostos por sistemas
• Concessão ao Conselho de Curadores do estatuto de Órgão
institucionais vinculados à Reitoria, destinados à gestão e execu-
de Controle, Fiscalização e Supervisão.
ção de ações específicas da administração acadêmica, operando
• Estabelecer estatutariamente o papel dos Colegiados de como redes integradas (Sistema Universitário de Tecnologia da
Cursos, como instância responsável pela gestão acadêmica Informação; Sistema Universitário de Bibliotecas; Sistema Univer-
de cursos e programas de graduação e de pós-graduação. sitário de Saúde; Sistema Universitário de Museus; Sistema Uni-
Nesse momento inicial, foi solicitado aos dirigentes e repre- versitário Editorial).
sentantes encaminhar nas respectivas unidades, órgãos, entidades 3. Simplificação dos processos de recursos frente a decisões
e segmentos, no prazo máximo de 40 dias, discussões e coleta de acadêmicas, descentralizando o poder decisório aos Colegiados e
subsídios para aprimoramento e complementação da proposta. Congregações, assim desobstruindo a pauta dos conselhos delibe-
Atendendo indicação consensual do Conselho Conjunto Esta- rativos superiores.
tuinte, a Comissão Especial foi reconstituída pela Portaria da Rei- 4. Ampliação das competências das Congregações, aumentan-
toria nº 726/09 para “proceder, no período de 21 a 30.09.2009, do o grau de autonomia e respectivas responsabilidades das Uni-
250 à compilação e consolidação das propostas emanadas da comu- dades Universitárias. 251
A minuta finalizada constituiu um texto-base, aprovado por • Cria quatro órgãos consultivos: Conselho Consultivo Social;
unanimidade pelo Conselho Estatuinte, em reunião realizada no Conselho Consultivo de Aposentados, Eméritos e Ex-Alunos;
Instituto de Ciências da Saúde, em 23 de novembro de 2009. O Conselho Social de Vida Universitária; Consultoria Jurídica.
texto final foi ainda apreciado e revisado pela Comissão de Nor- • Regulamenta as modalidades de cursos de graduação exis-
mas e Recursos do Conselho Universitário, em seus aspectos téc- tentes (Licenciatura; Bacharelado; Formação Profissional) e
nicos formais de redação legislativa. O texto completo do novo introduz duas modalidades novas (Curso Superior de Tec-
Estatuto encontra-se no portal da UFBA. nologia; Bacharelado Interdisciplinar).
• Define programas de educação permanente e cursos de es-
NOVO REGIMENTO GERAL pecialização como atividades de extensão universitária, a
À medida em que se estabelecia o patamar normativo atuali- critério da unidade proponente.
zado do Estatuto, a Comissão Especial organizou o processo de • Implanta o sistema de acompanhamento e avaliação das ati-
elaboração do Regimento Geral da UFBA a partir da compila- vidades acadêmicas dos docentes, com base em instrumen-
ção de expressivo conjunto de resoluções e normas editadas pelos
Conselhos Superiores entre 1995 e 2008 que, em muitos casos, já
antecipavam temas e questões naquele momento sistematizadas.
Dessa forma, foi possível incorporar o essencial das matrizes nor-
mativas vigentes com a finalidade de ajustá-las às transformações
estruturais e à adoção dos novos modelos curriculares, introduzi-
das pela adesão de nossa instituição ao REUNI.
A minuta consolidada do Regimento Geral foi apresentada e
discutida numa reunião não deliberativa do Conselho Conjunto Es-
tatuinte, em 9 de dezembro de 2009. Após divulgadas e debatidas
nas Congregações das Unidades Universitárias que se engajaram na
discussão da matéria, diferentes versões intermediárias foram apre-
ciadas em três reuniões extraordinárias do Conselho Universitário,
durante os meses de novembro de 2009 e março de 2010.
Além de regulamentar processos típicos da governança insti-
tucional e da gestão acadêmica da universidade, várias importan-
tes inovações foram incorporadas ao novo Regimento Geral, mais
alto dispositivo normativo operacional da UFBA, a saber:
• Altera a estrutura da Administração Central, criando duas
novas Pró-Reitorias (PROAD – Administração e PRPCI –
Pesquisa, Criação e Inovação), além da Unidade Seccional
de Correição e da Ouvidoria Geral.
• Formaliza três Comissões Centrais, previstas na legislação:
Comissão Própria de Avaliação; Comissão Central de Ética;
Comissão Permanente de Arquivo.
252 253
tos individuais e institucionais de planejamento e prestação AVALIAÇÃO DO NOVO MARCO NORMATIVO
de contas (PAT/RAT, PIT/RIT). O novo marco normativo da UFBA converge para uma re-
• Regulamenta os regimes de trabalho do corpo docente, visão crítica, do ponto de vista epistemológico e conceitual, do
com dimensionamento correspondente à unidade Pro- papel da Universidade enquanto instituição cultural e histórica.
fessor-Equivalente, instituída pela Portaria MEC/MPOG O papel institucional da Universidade pode ser compreendido
22/2007, incluindo regras para integralização da carga ho- como conjunto articulado de funções sociais. O binômio ensino-
rária docente. pesquisa da universidade humboldtiana clássica subordinava a
• Autoriza percepção de remuneração adicional pelo docen- função Conhecimento à função Formação. Em meados do Século
te em Regime DE, desde que não caracterize vínculo de XX, incluiu-se o Compromisso Social como função essencial da
emprego ou acumulação de cargos e tenha sido aprovada Universidade, traduzida concretamente pelo conceito de exten-
pela instância de lotação do docente. são, convencionalmente completando o trinômio ensino-pesqui-
• Oferece opção, exclusiva para o docente em Regime DE, sa-extensão que, seguindo a retórica do texto constitucional bra-
de lotação simultânea em duas Unidades Universitárias por- sileiro, seria indissociável.
tadoras de afinidade interdisciplinar ou com demonstrada Em termos contemporâneos, impõe-se redefinir e atualizar o
proximidade de campos de formação. escopo de cada um dos termos dessa fórmula triangular “ensino-
• Limita o tamanho mínimo, fixado em vinte Professores- pesquisa-extensão”. O ensino pode e deve ser entendido como pra-
Equivalentes, para manutenção de estruturas departamen- xis de formação de sujeitos epistêmicos; a pesquisa pode e deve
tais numa Unidade Universitária. ser tomada como produção intelectual e cultural aberta à episte-
modiversidade a cena intelectual contemporânea; a extensão pode
• Estabelece o regime disciplinar para os corpos docente,
e deve ser compreendida como práxis educacional num mundo
técnico-administrativo e discente, com base em Códigos
cada vez mais multirreferenciado e intercultural. Nesse sentido,
de Ética Universitária para cada segmento da comunidade
podemos reconhecer a tripla missão de produção formativa, pro-
acadêmica.
• Institui, pelo prazo de cinco anos, o Doutoramento Espe-
cial, destinado à titulação de docentes do quadro perma-
nente da UFBA admitidos antes do ano 1990. “O novo marco normativo da UFBA
Os destaques foram objeto de nova rodada de debates, tendo
sido votados em 21 de dezembro de 2009, em reunião conclusi-
converge para uma revisão crítica,
va realizada no Museu de Arte Sacra. A minuta finalizada cons- do papel da Universidade enquanto
tituiu um texto-base, aprovado por unanimidade pelo Conselho
Universitário, em reunião realizada na Sala dos Conselhos em instituição cultural e histórica.”
26 de fevereiro de 2010. Seguindo o padrão utilizado no Es-
tatuto, o texto regimental foi ainda apreciado e revisado pela
Comissão de Normas e Recursos do Conselho Universitário, em dução intelectual e produção política como efeitos do papel his-
seus aspectos técnicos formais de redação legislativa, tendo sido tórico da instituição de ensino superior chamada de Universidade.
aprovado de forma conclusiva em 11 de março de 2010. O tex- A compreensão ampliada do trinômio permitirá, sempre que tor-
to completo do novo Regimento Geral pode ser encontrado no nada possível pela construção institucional consciente e planejada,
Portal da UFBA. integrar ciências, artes e humanidades em práticas não somente
254 255
interdisciplinares, mas também entre paradigmas, racionalidades e programas de ensino. Os modos de formação da Universidade
e saberes, capazes de contribuir para transformar a sociedade e contemporânea compreendem três modalidades:
construir a história, numa perspectiva de solidariedade, sustentabi- • Profissionalizante;
lidade e consciência ambiental.
• Acadêmico;
Em primeiro lugar, dentro desse referencial, uma das inova-
• Integrador.
ções mais significativas do novo marco normativo da UFBA é a
ampliação dos conceitos de produção acadêmica. Por um lado, foi Na modalidade Profissionalizante, a formação equivale a treina-
consensual a aprovação de nossa proposta, desde a primeira mi- mento e o diploma prevê habilitação ou qualificação em carreira
nuta, no sentido de superar a velha concepção de conhecimento profissional. Na modalidade Acadêmica, a formação equivale a ensi-
exclusivamente como produto intelectual resultante de processo no e o diploma significa título, expressando um símbolo institucio-
sistemático e metódico, classicamente designado como pesquisa nal. Na modalidade Integradora, a formação equivale ao conceito
científica. A função Conhecimento torna-se, dessa maneira, res- amplo de educação e o diploma indica grau ou nível de formação.
significada como Ciência-Arte-Cultura. Por outro lado, a expres- Evidentemente, temos buscado reconstruir nossa UFBA como
são Pesquisa-Criação-Inovação merece um comentário adicional: uma instituição convicta do seu papel integrador nesta função es-
aqui, é proposital a escolha dos significantes ‘criação’ e ‘inovação’ sencial das universidades: a Formação. Nesse espírito, o novo mar-
justamente pelo sentido duplo, diferenciado na literatura econo- co normativo foi concebido para reduzir ao máximo a diferen-
micista de Ciência & Tecnologia de herança schumpeteriana e por ciação (que chegava às raias da segregação na velha universidade,
seu uso nos estudos culturais e em análises de produção artística. produzindo um indesejável e estéril antagonismo) entre os níveis
Ao incorporar na missão da UFBA a fórmula mais ampla ‘conhe- de ensino graduação e pós-graduação.
cimentos e saberes’, valorizando-as, pudemos agregar as categorias No plano da prática de planejamento e gestão acadêmica, o
de produção artística e cultural e de desenvolvimento tecnológico novo Regimento Geral define regras claras para integralização da
às competências, objetivos institucionais e designativos das ins- carga horária docente, estabelecendo o mínimo de 10 horas se-
tâncias e órgãos deliberativos. manais em atividades de ensino presencial, de graduação ou de
Em segundo lugar, note-se que a função Formação mereceu pós-graduação, em sala de aula ou equivalente, para docentes em
destaque especial em nosso novo marco normativo. Na matriz Dedicação Exclusiva ou em regime de Tempo Parcial. Os docen-
conceitual que o subsidia, principalmente no Regimento Geral, a tes submetidos ao regime excepcional de 40 horas ou aqueles em
função Formação na instituição chamada Universidade encontra- Regime DE que não exerçam atividades de pesquisa e/ou exten-
se desdobrada em formação de profissionais – gestores e aplica- são aprovadas pelas instâncias competentes, terão carga horária
dores de conhecimento e tecnologia; em formação de criadores mínima de atividades de ensino de 20 horas semanais (sendo 16
– pesquisadores, inovadores, artistas, produtores de conhecimento, horas de aula). Notem a conceituação ampla de ensino, mais além
artes e tecnologia; e em formação de formadores – docentes, tu- dos formatos convencionais de classes recitativas em salas de aula.
tores, educadores. Em terceiro lugar, compreender a extensão como praxis educa-
A aplicação desse marco referencial implica ainda diferenciar cional multirreferenciada significa levar em consideração a interfa-
os conceitos de ‘Modo de Formação’ e ‘Modelo Curricular’. Modo ce universidade-sociedade, definida do modo mais amplo possível,
de Formação compreende articulação de meios e fins da função Estado e sociedade civil, governos e mercados, movimentos sociais
Formação na educação superior, enquanto Modelos Curriculares e organizações do terceiro setor. Assim é que, no texto regimen-
referem-se à arquitetura curricular ou macroestrutura de cursos tal em pauta, define-se como atividades de extensão aquelas que
256 257
“integram projetos e programas de formação continuada e de in- seminários, congressos, conferências e aulas eventuais, cachês por
tegração da universidade com instituições públicas e privadas, or- atividades artísticas, bolsas de ensino, pesquisa e extensão, gratifi-
ganizações não-governamentais, empresas e movimentos sociais”. cação por cursos e concursos, coordenação de projetos institucio-
As modalidades aprovadas incluem elenco diversificado e rico de nais, desde que o beneficiário demonstre “desempenho satisfatório
possibilidades – cursos de extensão, aperfeiçoamento, especializa- em atividades regulares de ensino avaliadas periodicamente, além
ção, capacitação e similares; cooperação técnica, inovação tecno- do cumprimento dos demais encargos atinentes à função docente
lógica e similares; direção artística, produção cultural e similares; na universidade” sem prejudicar, “em hipótese alguma, [...] as ati-
consultorias e assessorias; prestação de serviços; com realce para a vidades acadêmicas exercidas na UFBA”.
articulação com saberes não-universitários. Em conclusão, cabe assinalar que, aproveitando de modo pleno
Neste item, dois aspectos inicialmente controversos, mas que e preciso o dispositivo constitucional da autonomia como auto-
alcançaram consenso do ponto de vista jurídico a partir de acór- normatividade e autorregulação, buscamos construir um consenso
dãos do Tribunal de Contas da União e decisões do Supremo político institucional no sentido de concluir o trabalho de atu-
Tribunal Federal, merecem atenção, dado que dizem respeito à alização estatutária e regimental da UFBA. Sabemos todos que,
contraprestação pecuniária extraorçamentária de atividades reali- em instituições efetivamente democráticas, não existe forma mais
zadas por uma instituição pública federal. Primeiro, a inclusão de eficiente de controle social do que o autocontrole institucional.
cursos de especialização como atividades de extensão, juntamente O novo marco normativo da UFBA resulta portanto de um pac-
com outras modalidades de educação permanente ou continua- to interno em torno da articulação e integração entre excelência
da extraordinárias à missão constitucional de ensino público da acadêmica e compromisso social e do compartilhamento da con-
instituição federal. Segundo, a autorização para recebimento de vicção de que uma instituição universitária como a Universidade
remuneração adicional pelo docente em Regime DE, sob a forma Federal da Bahia, ao se demonstrar competente como instituição
de colaboração em atividade esporádica, prêmios científicos, di- do conhecimento, das artes e da cultura, constitui fator decisivo e
reitos autorais, direitos de patente ou correlatos, participação em determinante da transformação sustentada da sociedade.

258 259
CAPÍTULO 8

Balanço
Financeiro

260 261
Balanço Financeiro

Apresentamos o balanço financeiro da nossa gestão, numa


perspectiva contábil clássica, por um lado, a partir da evolução da
receita e, por outro lado, das despesas e controle de custos.

EVOLUÇÃO DA RECEITA
No Gráfico 8.1, apresentamos a evolução do orçamento efeti-
vamente executado pela UFBA, entre 1995 e 2009. No início da
série histórica, tínhamos um orçamento de pouco menos de 200
milhões de Reais, com aumento nominal constante de 25% ao
ano, até atingir 988 milhões de Reais no fim do período. Excluindo
inativos, o orçamento operacional realizado pela UFBA alcançou
677 milhões em 2009.

Gráfico 8.1. Evolução Histórica da Receita. UFBA, 1995-2009


Entretanto, no mesmo gráfico, podemos analisar o perfil his-
tórico do financiamento da UFBA com maior grau de precisão,
mediante correção monetária a valores do Real de dezembro de
2009. Observamos, no período inicial da série, um patamar com
pequenas flutuações, situando-o entre 650 e 700 milhões de Re-
ais. Segue-se uma tendência decrescente constante no período
1998-2003, com uma queda de 21,9%, até o piso de 540 milhões
de Reais. A partir daí, o orçamento passa a crescer de modo con-
sistente, recuperando as perdas anteriores já em 2006. A partir de
2007, alcança sucessivos recordes históricos. No final da série, com
mais de 973 milhões de Reais em 2009, estimamos um incremen-
to real de quase 80% em relação ao ano de 2003, com 13,2% de
crescimento anual médio.
No Gráfico 8.2, podemos observar a evolução histórica da re-
ceita da UFBA, segundo fonte financeira, no período considera-
do. Observamos uma clara mudança no perfil da receita financei-
ra da instituição, com redução da importância relativa da fonte
orçamentária do Tesouro Nacional e um concomitante aumen-
262 to de receita própria e de convênios. Assim, de um montante 263
Gráfico 8.2. Evolução Histórica da Receita, segundo fonte financeira. privado, em contraste com 22% com o setor governamental, além
UFBA, 1995-2009 de 64% com fundações e entidades da sociedade civil. Portanto,
em nosso mandato na Reitoria, a “razão de privatização” da UFBA
foi radicalmente revertida, situando-se hoje em 0,4 (ou 2,6 vezes
a favor do setor público).
Em complemento, podemos analisar a evolução da Receita
Própria da UFBA, no período considerado. Até 2002, a Universi-
dade recolhia anualmente aproximadamente 8 milhões de Reais
com a prestação de serviços, expedição de documentos, aluguel de
imóveis, contratos de cessão de uso, cursos e concursos, estudos e
pesquisas. Em 2009, esse montante alcançou 19 milhões de Reais,
representando um aumento de 140% na captação financeira. O
Gráfico 8.4 mostra a evolução dos principais ítens de Receita Pró-
pria nos dois quadriênios. Podemos notar uma elevação substan-
cial na captação, mediante cursos, prestação de serviços (incluindo
consultorias, a partir de 2008) e receitas patrimoniais, resultante,
por um lado, da regulação mais eficiente da gestão financeira dos

Gráfico 8.3. Evolução Histórica dos contratos e convênios, segundo fonte


financeira. UFBA, 2002-2009
(corrigido a Reais de 2009) de 18,7 milhões oriundos de fontes
extraorçamentárias em 1995, crescemos para 54,4 milhões de
Reais em 2002 (alcançando 10% do orçamento total e 50% do
orçamento de custeio).
Em 2009, registramos 158,3 milhões de Reais em receita de
convênios e contratos, incremento de 191% em relação a 2002,
equivalente a 16% da receita total corrigida. O Gráfico 8.3 apre-
senta o número de convênios e contratos celebrados, discrimi-
nando a entidade parceira em termos de natureza jurídica, como
órgão público, empresas do setor privado e entidades do terceiro
setor. Além do enorme incremento no total de termos celebrados
(de 311 em 2002 para 1.560 em 2009, aumento de 402%), veri-
ficamos uma radical mudança no perfil das relações institucionais
da UFBA. Em 2002, 42% dos convênios e contratos da UFBA
provinham do setor privado e 30% foram firmados com órgãos
de governo (estimando-se uma “razão de privatização” de 1,4).
264 Em 2009, apenas 8% do total de ajustes foi firmado com o setor 265
Gráfico 8.4. Evolução histórica dos principais ítens de Receita Própria. Gráfico 8.5. Evolução dos Investimentos segundo Fonte Financeira.UFBA, 2002-2009
UFBA, 2002-2009 (em R$ 1,00)

recursos captados e, por outro lado, da renegociação de contratos do nosso mandato. Notemos, ainda, a relativamente modesta (po-
com cantinas e outras empresas prestadoras de serviços no cam- rém consistente e crescente) contribuição dos recursos próprios
pus, principalmente agências bancárias. A receita de concursos e da UFBA ao montante aplicado em obras e construções, passando
expedição de documentos aumenta discretamente no período, em de menos de 400 mil Reais em 2003 para 2,7 milhões em 2009.
paralelo a uma redução relativa ao item Estudos e Pesquisas (que
embutia serviços de consultoria, posteriormente regulamentados
DESPESAS E CONTROLE DE CUSTOS
como prestação de serviços).
O Gráfico 8.6 mostra a evolução do perfil de despesas, des-
Finalmente, o Gráfico 8.5 expõe a trajetória dos investimentos
tacando as parcelas referentes aos inativos e à manutenção dos
na UFBA no período analisado. De um montante de 1,1 milhão
hospitais universitários. Até o ano de 2004, a folha de pessoal
de Reais, sendo 80% de recursos próprios, em 2002, alcançamos
representava aproximadamente 85% do total de despesas; a partir
quase 40 milhões em 2009. Notemos o aporte de emendas par-
desse ano, começa a reduzir-se gradativamente, situando-se abai-
lamentares predominante em 2005-2006, totalizando mais de 16
xo de 80% nos anos de 2008-2009. Entretanto, esta redução não é
milhões de Reais. O Programa de Expansão da SESu, que fun-
observada na folha de pessoal ativo, estabilizada em torno de 50%
damentalmente compreende investimentos nos novos campi do
do total de despesas. Tal padrão podemos notar também para a
interior, aportou 3,5 milhões a cada ano em 2005-2006 e mais de
parcela destinada à manutenção das atividades-fim da UFBA, que
6 milhões em 2007. A partir daí, o fundo orçamentário do MEC
oscila entre 9% e 10%, durante todo o período considerado.
destinado ao Plano REUNI/UFBA passa a dominar o cenário
de investimentos, inicialmente em torno de 10 milhões/ano em Analisando especificamente a evolução dos gastos com ma-
266 2007-2008, atingindo a mais de 25 milhões no último exercício nutenção da UFBA, o Gráfico 8.7 mostra o perfil das principais 267
Gráfico 8.6. Evolução do Perfil de Execução Orçamentária com Pessoal Gráfico 8.8. Evolução do Consumo de Água e da População Acadêmica.
Ativo,Inativos e Manutenção. UFBA, 2002-2009 (em%) UFBA, 1999-2010

Gráfico 8.7. Evolução do Perfil de Despesas Correntes. UFBA, 2002-2009


despesas correntes no período 2002-2009. Notamos, de imedia-
to, a ascensão constante das despesas com Vigilância/Portaria e
Limpeza, decorrentes da ampliação dos serviços contratados até
2007, alcançando o patamar de 9 e 7 milhões de Reais/ano, res-
pectivamente. A partir daí, com os investimentos em infraestru-
tura do REUNI, observamos uma evidente contenção dos custos
nessas rubricas. O mesmo se registra no que se refere à Energia
Elétrica, cujo incremento (de 3 milhões/ano em 2002 para 8,2
milhões/ano em 2008) se deve, por um lado, ao reajuste de tari-
fas e, por outro lado, ao pagamento parcelado de uma dívida de
1,2 milhão desde 1995. O controle de custos observado a partir
de 2008 se deve à implantação do Programa Poupe Luz e à re-
negociação dos contratos com a concessionária fornecedora. As
despesas com Telecomunicações crescem em menor proporção,
estabilizando-se em 2,8 milhões anuais a partir de 2007.
A conta de Água merece um destaque especial. Apesar da
renegociação e quitação de uma dívida de 5 milhões, herdada
268 como contencioso de reitorados anteriores, juntamente com re- 269
ajuste de tarifas acima da inflação, notamos, a partir de 2005, • As dívidas históricas foram reconhecidas, renegociadas e in-
uma estabilidade nos dispêndios dessa rubrica em torno de 2,5 tegralmente quitadas.
milhões/ano, seguida de um incremento significativo nos anos • Programas de expansão, emendas parlamentares e a adesão
de 2008 e 2009. O Gráfico 8.8 ajuda a elucidar este ponto, além ao REUNI permitiram a captação de recursos substanciais
de demonstrar a eficácia dos sistemas de controle de custos im- para investimentos em obras e construções.
plantados através do Programa Água Pura. O contingente de ser-
• As mesmas fontes propiciaram a recuperação da estrutura
vidores docentes, técnico-administrativos e estudantes da UFBA
física e a renovação de equipamentos.
cresce expressivamente no período, a partir de uma faixa de 25
mil sujeitos em 2000-2004, para 37 mil em 2010. Não obstante, • O saneamento financeiro, a recuperação orçamentária e o
o consumo global se reduz de 25.000 m3/mês e o consumo per apoio institucional do Governo Federal permitiram a am-
capita de 50 litros/pessoa dia para menos de 20 l/p.d. Em 2009- pliação massiva das atividades essenciais.
2010, há um repique do consumo global médio (mas não do No próximo Capítulo, apresentaremos uma análise do conjun-
consumo per capita) explicado pelo volume de obras decorrentes to de resultados e metas alcançadas durante os períodos de gestão
do Plano Diretor (ver Capítulo anterior). analisados, bem como o perfil de estrutura e funcionamento da
UFBA na presente data, meados do ano de 2010.

ANÁLISE
No ano-base 2002, num contexto de crise estrutural de financia-
mento, o cenário administrativo-financeiro da UFBA era o seguinte:
• Orçamento quase exclusivamente oriundo do Tesouro Na-
cional e destinado a pagamento da folha de pessoal.
• Recursos para custeio menores que o total de gastos, provo-
cando um déficit financeiro de mais de 7 milhões de Reais,
incluindo 2,1 milhões de dívida a fornecedores.
• Quase nenhuma disponibilidade para investimentos em
construção e manutenção predial.
• Falta de investimentos de capital, resultando em sucatea-
mento da estrutura física e de equipamentos.
• A contenção do orçamento de custeio inevitavelmente de-
terminava uma redução de atividades essenciais.
Em 2010, temos uma situação bastante diferente:
• O orçamento da UFBA ampliou-se e diversificou-se em ter-
mos de fontes financeiras.
• Os recursos para custeio cresceram o suficiente para cobrir
o total de gastos, juntamente com um esforço bem-sucedido
de controle de custos, possibilitando zerar o déficit financei-
270 ro crônico já a partir de 2005. 271
CAPÍTULO 9

UFBA Nova
em 2010

272 273
so, onde couber, analisaremos o grau de cumprimento das metas
previstas para o REUNI, aprazadas para o ano 2012, encerramen-
to do Programa. Ao fim do Capítulo, apresentaremos uma avalia-
UFBA Nova em 2010 ção geral do percurso e dos resultados alcançados, enfatizando os
aspectos qualitativos institucionais.

Neste Capítulo, oferecemos uma descrição sumária da situação ENSINO


da UFBA em meados do ano de 2010, no momento em que con- Em termos quantitativos, quando começamos em 2002, éra-
cluímos nosso trabalho como equipe responsável pela gestão nos mos uma universidade de porte intermediário no cenário na-
oito anos de mandato. cional. Na presente data, meados do ano 2010, estamos classi-
Tomamos, como fonte principal, os Relatórios de Gestão dos ficados entre as sete maiores instituições federais de educação
exercícios cumpridos nos dois quadriênios, além de outras bases superior no Brasil.
de dados disponíveis na Pró-Reitoria de Planejamento e Adminis- A UFBA matricula hoje um total de 32.412 estudantes, sendo
tração (www.proplad.ufba.br/relatorios-f.html). Apresentaremos, 28.477 em cursos de graduação e 3.935 em cursos de pós-gradu-
inicialmente, sem comentários, análises ou interpretações ime- ação. Isso significa um crescimento bruto de 65% em comparação
diatas, informações referentes aos principais eixos de impacto do com o ano-base 2002; o que equivale a um aumento médio anual
processo de transformação que demos curso na instituição: cres- de 4%, no quadriênio 2002-2005, e de 11%, no quadriênio 2006-
cimento no ensino de graduação e de pós-graduação, pesquisa e 2009. É importante assinalar que o crescimento bruto de matrí-
extensão, abertura e integração social, melhoria da situação insti- culas foi maior na pós-graduação estrito senso (135% no período),
tucional em termos de pessoal e instalações físicas. atingindo marcas excepcionais (153%) para o nível doutorado.
Como subsídio para avaliação dos efeitos das políticas de reno- Neste ano de 2010, oferecemos quase 8,5 mil vagas em 112
vação da instituição universitária, esses resultados serão compara- cursos de graduação. Em comparação com 2002, trata-se de um
dos com a situação vigente no início do nosso mandato. Além dis- crescimento bruto de quase 120% na oferta de vagas. Mais de
Aula Magna 2010

274 275
1/3 dessas vagas destinam-se a 40 cursos de graduação noturnos especial, por constituir marco histórico: no dia 25 de setembro de
(em 2002, era apenas 1), fato que reflete a mudança do perfil so- 2009, no programa de Pós-graduação em Engenharia Industrial
cial de nossa universidade. A oferta de cursos desse nível de for- (www.pei.ufba.br), na Escola Politécnica da UFBA (www.eng.
mação encontra-se hoje muito mais diversificada do que há oito ufba.br), ocorreu a primeira defesa de doutoramento em enge-
anos. Além de mais vagas nas licenciaturas, incluindo 450 lugares nharia no Estado da Bahia.
no Programa Especial de Formação Docente, abrimos quase 1,6 Na avaliação trienal da CAPES de 2009 (http://trienal.capes.
mil vagas em Bacharelados Interdisciplinares e cursos superiores gov.br), mais de 80% dos cursos da UFBA haviam alcançado con-
de tecnologia. ceito 4 ou 5, resultando numa média geral de 4,2 (4,5 para os
Na pós-graduação (PG), consolidamos e ampliamos a tendên- doutorados). Hoje, apenas 18% dos cursos de PG têm nível 3. No
cia anterior de maior dinamismo. Em modalidades designadas outro extremo da escala, uma dezena de cursos foram classifica-
como PG estrito senso, contamos hoje com 103 cursos – 61 mes- dos com conceito 6, ou seja, em níveis de excepcionalidade, o que
trados e 42 doutorados –, ofertando quase 2 mil vagas anuais. No coloca estes cursos no seleto grupo dos considerados pela CAPES
nível doutorado, são 643 vagas anuais, o que equivale a um au- como de nível internacional. É interessante observar que em 2002,
mento de 300% em relação a 2002. Em 2009, foram concluídas 30% dos cursos de PG senso estrito da UFBA tinham conceito 3 e
218 teses de doutorado e 682 dissertações de mestrado, totalizan- nenhum dos nossos programas de PG tinha nota acima de 5.
VI Enecult, Encontro de
do 900 egressos da Pós-Graduação. Uma dessas merece registro No geral, o crescimento da oferta de cursos e de matrículas
Estudos Multidisciplinares em todos os níveis e modalidades de formação constitui um indi-
em Cultura
cador indireto da recuperação da expressão acadêmica de nossa
universidade. Os gráficos 9.1 a 9.5 apresentam as séries históricas
correspondentes à abertura de cursos, oferta de vagas e dimensão
do alunado na graduação e na pós-graduação.

276 277
PESQUISA E EXTENSÃO
A UFBA conta hoje com 530 grupos de pesquisa registrados
no CNPq, resultado de um incremento de 137% em comparação
com 2002. Do contingente de 2.203 pesquisadores ativos, 219
são Bolsistas de Produtividade do CNPq (20 classificados no nível
máximo 1-A); em 2002, havia apenas 106 pesquisadores bolsistas
278 do CNPq. No que se refere ao Programa Institucional de Iniciação 279
Científica (PIBIC: www.pibic.ufba.br), a UFBA vive um excelente Um dos indicadores mais robustos da qualidade de artigos
momento, não apenas no que se refere a crescimento numérico de publicados é o número de vezes que um paper é citado em ou-
bolsistas e voluntários, mas também no escopo do programa. Em tros trabalhos científicos. De fato, observamos um crescimento
2009, obtivemos um aumento substancial de bolsas de fomento marcante do volume de citações de artigos de pesquisadores da
à iniciação científica (IC). Os docentes da UFBA orientam pouco UFBA ao longo dos anos. Em 2002, artigos científicos produzidos
mais de 3.573 estudantes de graduação, sendo que 825 recebem na UFBA haviam sido citados em 1.474 trabalhos indexados no
bolsas de iniciação científica. Em particular, a UFBA posiciona-se ISI; em 2009, este número foi de 5.550, representando um incre-
entre as instituições com maior número de bolsas de iniciação mento de 276%.
científica do Programa PIBIC-Ações Afirmativas, instituído pelo Indicadores de desempenho em ciência e tecnologia situam
CNPq, sendo pioneira neste tipo de ação uma vez que, desde hoje a UFBA em destaque, entre as universidades brasileiras.
2008, desenvolve o Programa Permanecer-PIBIC. Ambos os in-
No Ranking Web Mundial de Universidades (www.webome-
dicadores de bolsas de pesquisa mais que dobraram desde 2002.
trics.info), divulgado em janeiro de 2010, a UFBA classificou-se
Os dados indicam que, nos últimos anos, a produção científi- entre as Top 600, no 555º lugar. Com esse resultado, avançou 196
ca da UFBA cresceu em maior escala do que a produção brasi- posições no Ranking Mundial, pois em 2008 a UFBA havia se
leira. No período 2000 a 2003, a produção de artigos científicos classificado entre as Top 1000, conquistando o 751º lugar. Ganhou
da UFBA indexados no ISI (Institute for Scientific Information: assim duas posições no ranking da América Latina, agora como a
isiknowledge.com) era de aproximadamente 1,2% em relação à 16ª, consolidando-se em sétimo lugar entre as universidades fe-
produção brasileira; esse percentual cresceu para quase 2% após derais brasileiras. Decisivo para o bom posicionamento da UFBA
2008. Em 2009, nossos pesquisadores publicaram um total de foi o volume de citações de seus pesquisadores no Google Scholar
536 artigos indexados na Web of Science, o que representa 0,19 (scholar.google.com.br) no ano de 2009, situando-a na excelente
artigos/docente. Em termos comparativos, a produção acadêmica 133ª posição nesse quesito. Entre as universidades brasileiras, a
da UFBA quase duplica em relação ao ano-base 2002. A série his- UFBA foi a instituição que mais ganhou posições nas últimas edi-
tórica respectiva é demonstrada pelo Gráfico 9.6, onde notamos ções do Ranking Web. No mesmo bloco de classificação, posiciona-
um padrão geométrico de crescimento nos últimos anos. se junto a importantes instituições de conhecimento, de diferen-
tes países, tais como Universidade de Antuérpia, Universität Jena,
Erasmus University de Rotterdam e a tradicional Universitá degli
Studi di Roma Tre, na Europa, e as Universidades de Missouri e de
Denver, nos EUA, e a Sherbrooke University, no Canadá.
Na área de extensão, o programa Atividades Curriculares em
Comunidade (ACC: www.acc.ufba.br) passou por profunda re-
formulação, ganhou estabilidade e experimentou uma pequena
expansão. Dos 444 estudantes engajados em 42 grupos de ACC
em 2002, registramos 48 grupos e 612 estudantes em 2009. Ou-
tros Programas e Projetos Permanentes, que envolvem comuni-
dades específicas e a sociedade de modo geral, vieram a reforçar
e diversificar as atividades de extensão na UFBA: Ecosmar, Inclu-
são Digital, Fórum Comunitário de Combate à Violência, REDE/
280 EDH, Conexões de Saberes. 281
No total, em 2009, foram computadas 647 ações extensio-
nistas, como programas, projetos, ações, prestação de serviços ou
eventos, mobilizando quase 26 mil participantes (www.extensao.
ufba.br). Na comparação com 2002, verificamos que houve uma
concentração de esforços, com redução do número de projetos,
simultânea à ampliação, em mais de 30%, do universo de parti-
cipantes. Na interface extensão-pesquisa, hoje, o Núcleo de Ino-
vação Tecnológica da UFBA (NIT/UFBA: www.portaldainovacao.
ufba.br) já computa mais de 30 requerimentos de patentes ou
registro de marcas; em 2002, nenhum registro havia a declarar.
Merece destaque, ainda, a Editora da Universidade Federal da
Bahia (EDUFBA: www.edufba.ufba.br), que, no ano de 2009, re-
alizou 110 lançamentos de livros, incluindo reedições. A produção
editorial da UFBA, portanto, mais que triplicou em relação a 2002,
quando publicou 30 títulos. No exercício, vendeu mais de 22 mil
livros, incluindo a produção de outras editoras universitárias, em
três postos de vendas e na Bienal do Livro da Bahia. O Gráfico 9.7
mostra a evolução histórica da produção editorial da UFBA.
Participação da EDUFBA
Livraria EDUFBA na Bienal do Livro

282 283
CONDIÇÕES INSTITUCIONAIS criação da UFRB (www.ufrb.edu.br, Capítulo 4), a universidade
Para avaliar as condições institucionais que resultaram do pro- dispõe de quatro campi, dois em Salvador – Campus Universi-
cesso de renovação da UFBA, consideremos dois aspectos: estru- tário do Canela e Campus Federação/Ondina/São Lázaro – e
tura física, incluindo infraestrutura dos campi, edificações e ins- dois situados no interior: o Campus Reitor Edgard Santos, em
talações de uso administrativo e acadêmico, e quadro de pessoal, Barreiras, e o Campus Professor Anísio Teixeira, em Vitória da
em termos quantitativos e qualitativos. Conquista.

A estrutura institucional atual da Universidade Federal da Os mapas dos campi da UFBA, em Salvador e no interior do
Bahia compreende 32 unidades universitárias, 10 organismos da Estado, com a atual localização dos imóveis e respectivos marcos
administração central e cinco sistemas estruturantes. Os órgãos ambientais, podem ser vistos nas Figuras 9.1, 9.2, 9.3 e 9.4. Cer- Unidades Existentes

Unidades Existentes suplementares que, anteriormente, eram em número de 17, fo- tamente será instrutivo comparar com os mesmos mapas de oito Unidades em Obras

ram extintos com o novo marco normativo. Atualmente, após a anos atrás, mostrados no Capítulo 2, Figuras 2.1 e 2.2.
Unidades Propostas Unidades Propostas

Campus Canela 2010 Campus Federação-Ondina 2010


Ao longo do ano 2010, concluímos a construção da Bibliote-
ca Universitária de Saúde Professor Álvaro Rubim de Pinho, do
Centro de Promoção da Saúde Doutor Rubem Brasil Soares, do
Anexo do Instituto de Letras, do Pavilhão de Aulas Ondina, do
Centro de Idiomas e da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assis-
tência Estudantil. O recém-inaugurado Pavilhão de Aulas Glauber
Rocha conta inclusive com rede sem fio (wireless) disponível aos
estudantes e visitantes. Foram iniciadas as obras da Biblioteca de
Ciência e Tecnologia Professor Omar Catunda e dos novos prédios
do Instituto de Ciências da Informação e das Escolas de Nutrição Ampliações, reformas e novos prédios
e de Música. Ao lado desses investimentos, foram iniciados os ser-
viços de reforma e ampliação das Escolas de Dança e de Medicina
Veterinária, em paralelo à elaboração de projetos para novas cons-
truções e reformas a serem licitadas ainda em 2010. Além dessas
ações planejadas para o exercício, deu-se continuidade às obras de
construção da nova Residência Universitária, e conclusão das ins-
talações do novo Restaurante Universitário Professor Manoel José
de Carvalho, que foi inaugurado em abril de 2010.
No Plano Diretor aprovado pelo CONSUNI, reafirmamos nos-
sa preocupação com questões de segurança pessoal e patrimonial
da comunidade interna e externa e com o manejo ambiental dos
campi, particularmente aqueles situados em área urbana. Nesse
sentido, foram realizados serviços de gradeamento e urbanização
do Campus Canela e do Campus Ondina, que se encontram em
fase de conclusão. No Campus Canela, destacamos o plantio de 50
espécimes de Pau-Brasil; no Campus Ondina, a construção, ainda Iluminação e urbanização pública
em curso, de uma praça integradora entre as edificações, recon-
quistando espaços verdes, restringindo acesso de automóveis ao
centro do campus. Em prosseguimento à política institucional de
inclusão de pessoas com deficiência, equipamentos – elevadores
e plataformas, foram adquiridos e encontram-se em processo de
instalação nos projetos de intervenção no espaço físico, ampliando
as condições de acessibilidade da instituição.
Em números consolidados, em 2010, a UFBA apresenta os se-
guintes dados físicos: Área total de 532,42 hectares; sendo 77,02
ha em Salvador, 54,19 ha em Barreiras, 8,14 ha em Vitória da
Conquista e 393,07 ha em 3 Fazendas Experimentais (Humildes,
Oliveira de Campinhos e Esplanada). Nessa área própria, as ben-
feitorias totalizam 386 mil m² de área construída em 139 edifica-
286 ções, com um total de 594 instalações de ensino, incluindo salas e

Gradeamento de segurança
auditórios, concentrados em 9 Pavilhões de Aulas, localizados em as unidades de Salvador, acadêmicas e administrativas, conectadas
todos os campi. Como verificamos no Capítulo 1, em 2002, eram numa rede de alta velocidade.
menos de 300 salas, distribuídas em 122 imóveis das unidades e A operação dessa complexa estrutura institucional, visando às
órgãos e em apenas dois pavilhões de aulas no campus Ondina, atividades-fim da Universidade, demanda quadros docentes, técni-
com pouco mais de 250 mil m2 de área construída (excluindo a cos e administrativos em número suficiente, com alta qualificação
Escola de Agronomia de Cruz das Almas, hoje UFRB). Entre 2002 e competência. Para cumprir com as imprescindíveis atividades-
e 2010, foram incorporados ao patrimônio da UFBA quase 140 meio de apoio à sua missão político-acadêmica, a UFBA conta
mil m2 de área construída, ou 54% de acréscimo. com servidores técnicos e administrativos especializados, além de
Em 2007, o Conselho Universitário aprovou a criação do Sis- mão de obra terceirizada para os setores de apoio à gestão.
tema de Bibliotecas da UFBA. Agora, em vez de 35 bibliotecas de Atualmente, o quadro docente da UFBA compõe-se de 2.699
tamanhos diversos e pequenas coleções localizadas e gerenciadas professores, sendo 1.992 professores do quadro permanente (in-
de modo autônomo por unidades universitárias e órgãos suple- cluindo 114 afastados – 47 para capacitação) e 689 substitutos,
mentares, como há oito anos, a UFBA conta com uma rede articu- correspondendo a 3.055 unidades de Professor Equivalente. Em
lada de 11 Bibliotecas Universitárias, de porte médio, coordenada relação a 2002, trata-se de uma ampliação de 17% do total geral
por uma Superintendência específica. O efeito imediato foi maior de professores. Somente no ano de 2009, no contexto do REUNI,
racionalidade na gestão, manutenção e operação do acervo, além foram contratados 244 docentes.
de ampliação dos horários de funcionamento, alternativos às aulas.
Hoje, 77% dos docentes da UFBA cumprem regime de Dedi-
Atualmente, o acervo conjunto compreende 673.599 títulos de
cação Exclusiva; em 2002, eram 68%. Agora com 68% de dou-
livros (eram 247.547 em 2002), além de 17.428 periódicos nacio-
tores e 23% de mestres, o perfil de titulação do quadro docente
nais e estrangeiros; a taxa correspondente de aumento do acervo
permanente alcança níveis compatíveis com as melhores univer-
total da UFBA corresponde a quase 180% no período.
sidades brasileiras. Em 2002, tínhamos somente 38% doutores e
A UFBA dispõe hoje de uma rede de fibra ótica de alta velo- 40% mestres. A evolução histórica da titulação do corpo docente
cidade (1.000 Mbps), com mais de 6 mil pontos de acesso. Para encontra-se no Gráfico 9.8, onde podemos observar um predomí-
a coordenação dessa rede e provimento para toda a comunidade nio de doutores justamente a partir de 2004, quando se inverte o
universitária de serviços de TI, tais como e-mail (8.951 mil con- perfil de titulação da UFBA.
tas), gerenciamento de bancos de dados, armazenamento de ar-
quivos, hospedagem de blogs, videoconferência, rádio on line, am-
biente para educação a distância (Moodle: www.moodle.ufba.br,
com mais de mil cursos de graduação e pós disponíveis), sistemas
aplicativos corporativos, entre outros, o Centro de Processamento
de Dados (CPD) dispõe de 100 servidores (em 2002 eram 35)
– entre máquinas físicas e virtuais e um subsistema de armaze-
namento em massa (totalizando 60 TB). Em 2009, com recursos
orçamentários e de convênios, foram comprados através de pre-
gões UFBA, 1.286 computadores e 85 impressoras. O parque de
equipamentos de informática da UFBA totaliza agora cerca de
7.000 microcomputadores conectados à rede e mais de 1.000 im-
pressoras. A UFBA liderou na Bahia a implantação da REMESSA
(Rede Metropolitana de Salvador), infraestrutura de cerca de 100
km de fibra ótica que lhe permitiu, a partir de 2009, ter todas 289
O corpo técnico-administrativo hoje totaliza 3.262 servidores, de 2002. Não obstante, a recomposição e ampliação do quadro
com 27% de nível superior. A maioria dos servidores estava lo- técnico-administrativo da UFBA prossegue, graças ao REUNI: en-
tada em órgãos suplementares (1.375 ou 43%), principalmente tre 2008 e 2010, foram nomeados 352 servidores técnicos e ad-
nas unidades assistenciais de saúde (1.224 ou 38%); 1.065 (33%) ministrativos. Visando a atender principalmente as diretrizes da
atuavam no apoio às atividades-fim nas unidades universitárias; o política nacional de capacitação dos servidores, em nosso mandato
restante (771 servidores ou 24% do total) trabalhava nos órgãos foi desenvolvido e implantado o Plano de Capacitação dos servi-
da administração central. Além desses, 971 funcionários tercei- dores, alcançando 78% da força de trabalho técnico administrativa
rizados atuam na prestação de serviços para os quais não mais e, consequentemente, dando condições de crescimento funcional
existe contratação no serviço público federal (limpeza, vigilância, e promoção na carreira aos servidores desta Universidade.
portaria). Isso equivale a um aumento de 44% em relação ao ano

Quadro 9.1. Indicadores Acadêmicos e Institucionais, UFBA 2002-2010 Ítens de Avaliação 2002 2010 Var%
Grupos de Pesquisa cadastrados no CNPq 225 530 136,6
Ítens de Avaliação 2002 2010 Var% Bolsas de Iniciação Científica 390 825 111,5
Candidatos em Processos Seletivos de Graduação 38.995 54.409 39,5 Média do Conceito CAPES dos Cursos de PG 4,0 4,1 3,6
Cursos de Graduação 55 113 103,6 Número de cursos PG com conceito CAPES 6 + 0 10 ∞
Cursos de Graduação Noturnos 1 33 3.200 Bolsistas de Produtividade CNPq 106 219 106,6
Vagas na Graduação 3.851 8.446 119,3 Artigos publicados (Web of Science) 198 536 170,7
em Cursos Noturnos 40 2.610 6.425 Razão artigo/docente (Prof-Eq) 0,07 0,19 171,4
em Licenciaturas 476 1.381 190,1 Patentes requeridas/ marcas registradas 0 31 ∞
em Cursos Superiores de Tecnologia 0 95 ∞ Ações Extensionistas 934 647 -31,7
em Bacharelados Interdisciplinares 0 1.460 ∞ Total de participantes 19.509 25.758 32,0
Matrículas na Graduação 17.941 28.477 58,8 Projetos Atividade Curricular em Comunidade 42 48 14,3
Cursos de Pós-Graduação 61 103 68,8 Estudantes engajados em ACC 444 612 37,8
Mestrados 44 61 38,6 Área Total construída 285.413 373.651 30,9
Doutorados 17 42 147,1 Número de Pavilhões de Aulas 2 9 125,0
Vagas na Pós-Graduação 749 1.896 153,1 Total de salas de aula 286 594 107,7
em Mestrados 590 1.253 112,4 Número de Bibliotecas 35 11 -31,4
em Doutorados 159 643 304,4 Acervo bibliográfico (livros + periódicos) 259.342 716.936 176,4
Matrículas na Pós-Graduação 1.672 3.935 135,3 Lançamentos de Livros EDUFBA 30 110 266,6
em Mestrados 1.057 2.380 125,2 Servidores Técnicos e Administrativos 3.211 3.262 0,2
em Doutorados 615 1.555 152,9 Servidores terceirizados 676 971 43,6
Estudantes de escola pública (critério cotas) 2.022 11.485 468,0 Número de docentes (Quadro Permanente) 1.901 2.699 42,0
Vagas em residência universitária 230 290 26,1 Número de docentes (Substitutos) 504 562 11,5
Número de bolsas-moradia 230 429 86,5 Total de docentes (Professor-Equivalente) 2.697,5 3.055 13,3
Bolsas em programas de Permanência 0 645 ∞ Proporção de Doutores no Quadro Docente 33,4% 64,2% 92,2
Convênios com universidades estrangeiras 53 229 332,0 Razão Aluno/Professor (RAP)* 11,3:1 16,4:1 45,1
Estudantes da UFBA em intercâmbio no exterior 21 151 619,0 ∞ estimativa não-mensurável
* RAP = Total Alunos (Graduação + PG) / (Total Professores Equivalentes em DE / 1,55)
Estudantes estrangeiros na UFBA 38 167 339,5 RAP2002 = (17.941 + 1.672) / (2.697,5 / 1,55) = 19.929 / 1.740,3 = 11,270
Estudantes estrangeiros de pós-graduação (PEC-PG) 6 21 250,0 RAP2010 = (28.477 + 3.935) / 3.008 / 1,55) = 32.412 / 1.940,645 = 16,702
290 291
AVALIAÇÃO GERAL Verificamos grande melhoria no âmbito das relações interna-
cionais, testemunha da rápida transformação de uma instituição
Como ilustração, o Quadro 9.1 sintetiza os indicadores per-
provinciana, predominantemente receptora de influências exter-
tinentes no começo e no fim do nosso mandato, indicando a va-
nas, para uma universidade cada vez mais conectada com a rede
riação percentual equivalente. Este esquema permite articular as
mundial de instituições de conhecimento. Aumentos excepcionais
informações apresentadas neste capítulo, possibilitando melhor
em todos os indicadores de internacionalização (em comparação
entendimento da situação institucional da Universidade hoje.
com 2002: 330% em número de convênios, 600% mais presença
Superando décadas de estagnação que, em 2002, resultaram de estudantes UFBA em universidades estrangeiras e 340% mais
num contingente de estudantes quantitativamente despropor- estudantes internacionais na UFBA) atestam esta faceta da mu-
cional à expressão da instituição e à demanda da sociedade, a dança radical de nossa universidade.
UFBA hoje experimenta vigoroso crescimento. Em oito anos, o
Entretanto, sem diminuir a importância da expansão e da in-
aumento de cursos e vagas de graduação foi quase 120%, ultra-
ternacionalização, avanços nos indicadores de compromisso social
passando a marca de 30 mil matrículas em 113 cursos já neste
observados em nossos mandatos situam-se numa escala ainda mais
ano de 2010. Em relação à pós-graduação e à pesquisa, os pa-
ampla. Vinculado à implantação do Programa de Ações Afirmati-
tamares de ampliação efetivamente alcançados são ainda mais
vas, aumentar mais de 60 vezes a oferta de vagas noturnas e passar
expressivos, variando de até 150% para vagas e matrículas a mais
de nenhuma para mais de mil bolsas de auxílio-permanência cer-
de 170% nos indicadores de produtividade em pesquisa. Nesse
tamente contribuíram para o extraordinário aumento, da ordem
aspecto, maior destaque para o aumento de 300% na oferta de
de 470%, da presença de estudantes pobres na UFBA.
vagas em doutoramento.
O Quadro 9.2 apresenta indicadores compostos, padronizados
O Plano REUNI/UFBA previa, para 2012, a abertura de 8.310 pelo Tribunal de Contas da União (TCU: www.tcu.gov.br), visando
vagas anuais em 120 cursos presenciais de graduação, resultando à avaliação comparativa entre exercícios orçamentários. Em 2002,
em 17.501 novas matrículas, alcançando o total de 37.807 estu- o custo médio anual por estudante da UFBA situava-se em torno
dantes. Isso implicaria um crescimento de 83% sobre o ano-base de 7,8 mil Reais (R$ 641,66/mês); em 2009, houve um aumento
2007. Como vimos acima, com dois anos de antecipação, já su- de 32% nesse indicador financeiro, elevando o custo/aluno para
peramos a meta REUNI geral de oferta de vagas de graduação. mais de 10 mil Reais (R$ 857,31/mês). Trata-se de aumento real
No que se refere ao tamanho do alunado, com as matrículas do que resulta principalmente da recuperação do orçamento público
semestre 2010.2, atingiremos ainda este ano a meta prevista para para educação superior, incluindo investimentos em infraestrutura
2011. Mantendo-se o desempenho institucional revelado até o e melhoria salarial, e não apenas da elevação de preços em geral.
momento, já no próximo ano letivo, anteciparemos a meta REU-
NI de oferta de 120 cursos presenciais de graduação.
Quadro 9.2. Resumo de Indicadores da UFBA 2002-2009 – Modelo TCU
O crescimento da pós-graduação previsto no Plano REUNI/
UFBA era da ordem de 38% até 2012, com uma projeção de 4,5 Indicador 2002 2009 Var%
mil matrículas. Considerando 2007 como ano-zero do REUNI, Custo Corrente/Aluno Equivalente 7.765,25 10.287,72 32,5
quando tínhamos 3.246 estudantes matriculados, nosso alunado Aluno Tempo Integral/ Professor Eqv. 40h 10,8 12,3 13,9
de PG cresceu 21%, pouco acima da meta REUNI nesse nível de Aluno Tempo Integral/ Funcionário Eqv. 40h 4,9 8,8 79,6
formação. O Plano prevê aumento de 40% da taxa de conclusão Funcionário Eqv. 40h/ Professor Eqv. 40h 2,2 1,4 -57,1
na PG em cinco anos, visando a atingir a marca de 1.000 titula- Grau de Envolvimento com Pós-Graduação – GEPG 0,08 0,11 37,5
dos/ano até 2012. Com dois anos de antecipação, essa meta será Índice de Qualificação do Corpo Docente – IQCD 2,9 3,4 17,2
292 cumprida já em 2010. Taxa de Sucesso na Graduação – TSG 0,63 0,68 7,9 293
No período em análise, houve evidente aumento da eficiên- rede entre instituições de conhecimento europeias e brasileiras,
cia global da instituição. Entre 2002 e 2009, aumentamos 14% com animado e profícuo trânsito de docentes, pesquisadores, estu-
na razão bruta aluno-docente e aproximadamente 80% na razão dantes e gestores universitários, já começam a dinamizar os nossos
aluno-servidor. Com a retomada dos concursos públicos para re- processos de formação e produção de conhecimento. Dessa forma,
posição de quadros, houve recrutamento e permanência de novos intensificam-se as trocas acadêmicas e o intercâmbio científico,
docentes bem maior do que de servidores técnicos e administrati- tecnológico, artístico e cultural. Um novo modelo de universidade
vos. Como resultado, a razão servidor-docente caiu de 2,2 para 1,4 deve emergir da integração entre a rede universitária brasileira
(redução significativa de 57%). Por outro lado, o Índice de Quali- (e latino-americana) e matrizes intelectuais e culturais de outros
ficação do Corpo Docente (IQCD) alcançou 3,4, numa escala de contextos universitários.
0-5, o que equivale a um aumento de 17% no período. Em 2013, ao encerrar-se o Plano REUNI/UFBA, estamos con-
O crescimento da importância relativa da pós-graduação apa- victos de que a Universidade Federal da Bahia encontrar-se-á efe-
rece com clareza no indicador GEPG (Grau de Envolvimento tivamente renovada como organismo vivo de criação e produção
com Pós-Graduação), estimado em 0,11 para 2009, aumento de crítica do conhecimento humano, em vez de instituição a serviço
37,5% em relação a 2002. A TSG (Taxa de Sucesso na Gradu- das elites e instrumento de exclusão social como tinha sido duran-
ação) da UFBA indicou uma discreta melhora (8%) no período te quase duzentos anos. Dessa forma, poderemos resgatar o ensino
analisado. Tal indicador reflete essencialmente a evasão estudantil superior e a produção criativa de tecnociência, da arte, da cultura
e a duração dos cursos de graduação que ainda não poderiam, tão como potencial articulador tecnológico e estético (e também eco-
precocemente, revelar os efeitos positivos das inovações curricu- nômico) da criação de redes de solidariedade intercultural. Este
lares implementadas pelo Programa REUNI UFBA. cenário decerto representa a aspiração de todos os que acreditam
que a educação tem papel decisivo e fundamental na transforma-
Como vimos no Capítulo 2, quando começamos no ano-base
ção dos indivíduos e da sociedade.
de 2002, a UFBA estava ainda marcada por um contexto de crise,
interna e externa, que de fato impossibilitava sua renovação como
instituição universitária. A adesão da UFBA ao REUNI representa,
a médio e longo prazo, o acúmulo de condições concretas para um
grande salto qualitativo. Em 2012, ou mesmo antes disso, como
vimos, teremos atingido todas as metas previstas no Plano REU-
NI/UFBA: crescimento quantitativo de 83% nas matrículas da
graduação e de 38% na pós-graduação, maior produtividade do
processo pedagógico, com Razão Aluno-Professor e taxa de con-
clusão aproximando-se cada vez mais da meta estabelecida. Tudo
isso, associado à melhor qualidade científica e estética do trabalho
docente e ao indispensável suporte tecnológico de toda uma nova
geração de servidores qualificados e capacitados.
Para isso, como vimos no Capítulo 5, a Universidade já conta
com opções curriculares flexíveis, interdisciplinares, atualizadas,
abertas à universalidade do conhecimento, formando não ape-
nas profissionais/trabalhadores, mas sobretudo indivíduos críticos
294 e cidadãos intelectual e socialmente qualificados. Conexões em 295
CAPÍTULO 10

Começo

296 297
PROJETO POLÍTICO DE TRANSFORMAÇÃO
A partir dessa perspectiva conceitual, assumimos a Reitoria em
2002 com um projeto político de transformação (radical, foi nos-
Começo sa pretensão) desta universidade. Este projeto compreende três
etapas: expansão com inclusão social; reestruturação curricular;
internacionalização.
Instituições de conhecimento, como a Universidade, cum- Tão logo criamos condições mínimas, sem hesitar, começamos.
prem a função de reprodução de relações sociais, estruturas po- Já em 2003, quebramos o monopólio da capital, interiorizando
líticas, marcos pedagógicos e matrizes simbólicas. É claro que as o vestibular, criando uma nova universidade baiana, a UFRB. Em
universidades o fazem com algum grau de liberdade, celebrado 2004, reciclando vagas ociosas, abrindo extensões e campi no inte-
por alguns como autonomia universitária. Mas isso não as deixa rior, aumentamos em 12% as matrículas de graduação. Na época,
pairando por cima e por fora da realidade social e cultural, na tal expansão parecia grande escala, e provocou reações – data des-
medida em que estruturas institucionais refletem e reproduzem se ano a última greve de estudantes e docentes que parcialmente
ordens sociais. fez interromper atividades acadêmicas.
A função universitária, manifesta desde a invenção da Univer- Em 2005, implantamos um Programa de Ações Afirmativas
sidade ocidental há quase um milênio, compreende produzir os que, entre outras medidas, reservou vagas na universidade para
discursos do saber dominante, formar os donos do poder, reformar estudantes pobres, negros e índios. Novamente, sofremos críticas,
os produtores dos discursos, conformar os formadores, os que pro- criamos polêmicas, provocamos resistência e reações.
duzem discursos que instituem os donos do saber, e que estabele- Em 2006, com a reeleição, reconfirmamos a compreensão e
cem instituições, reprodutoras das relações sociais e reprodutoras concordância da comunidade universitária ao projeto político que
do saber universitário que passa a ser o saber dominante, isso sem havíamos lançado em 2002. Novamente sem hesitação e sem es-
fim. Essa aristocracia intelectual, coletivo de sujeitos identificados perar condições ideais, iniciamos um movimento de reestrutura-
por uma afiliação institucional peculiar, intelectuais orgânicos das ção curricular, com base no regime de ciclos, que ganhou o nome
classes educadas referidas na epígrafe de Anísio Teixeira, constitui de Universidade Nova (em homenagem a Anísio Teixeira e os pio-
efeito imediato da formação universitária. neiros da Escola Nova) e que inspirou o REUNI, programa do
Mas há uma potência histórica na universidade ocidental que, governo federal concebido para financiar expansão e inovação em
desde suas reinvenções por Kant-Humboldt, por Flexner-Anísio instituições da rede federal de ensino superior.
e pelos anônimos de 1968, pode ser ativada por movimentos e Em 2007, sob tumulto e protestos do movimento estudantil,
processos macro e micropolíticos. Esta função latente gera efei- construímos consensos parciais (porém efetivos politicamente)
tos somente quando a instituição se torna capaz de produzir os e aderimos ao REUNI. Em 2008, iniciando a implementação do
contradiscursos do saber crítico, em formar os enunciadores de Plano REUNI/UFBA, por um lado, mais expansão: dobramos a
outros saberes, em inconformar os formadores, os que produzem oferta de vagas na graduação e abrimos quase três mil vagas notur-
discursos que destituem donos de poderes e que desafiam insti- nas numa universidade que, por tradição, funcionava quase exclu-
tuições reprodutoras das relações sociais e do saber das classes sivamente durante o dia. Por outro lado, mais inovação: implanta-
educadas, isso tudo à mercê de começos. Quando essa potência mos Bacharelados Interdisciplinares, modalidade de curso onde a
se realiza, intelectuais orgânicos das classes pouco ou não for- formação na cultura sobrepõe-se ao ensino da profissão.
malmente educadas e das culturas ditas dominadas podem ser Em 2009, avançamos na consolidação das mudanças, a partir da
298 nela formados. recriação de rotinas acadêmico-administrativas e principalmente 299
com o novo marco normativo da Universidade. Recém-aprovados,
Estatuto e Regimento Geral estabelecem instâncias legais e legíti-
mas de apreciação e deliberação pertinentes aos princípios, méto-
dos e instrumentos de planejamento e de gestão integrada.
Em 2010, iniciando a era pós-REUNI, começamos a terceira
etapa do projeto político que lançamos em 2002, abrindo espaços
de inclusão social na rede acadêmica mundial ao firmar convênios
especiais com universidades de vocação internacional (Coimbra,
NYU, MSU, Gratz – ver Capítulo 7). Por termos introduzido o
regime de ciclos com os Bacharelados Interdisciplinares (BIs),
criamos condições para mobilidade ampla na graduação, interna-
cionalizando o Programa de Ações Afirmativas.

ABRIMOS A CASA DE EDGARD


Na velha Bahia dos tempos anísios, a classe de letrados era di-
minuta. Por 140 anos, faculdades cumpriam a função universitá-
ria, com uma ajuda, não tão pequena, dos laços conimbricenses,
gauleses e prussianos. Em 1946, uma universidade foi criada na
costa baiana para produzir efeitos “directamente copiados das presentantes de outras matrizes estéticas, outros mundos simbó-
mais amadurecidas classes educadas da Europa”. Essa instituição licos, outras redes políticas e outras referências culturais, em vez
foi, em princípio, audaciosa, orgulhosa por sua condição de elite. de empobrecê-la e empalidecê-la, enriquecemos, negritamos e
Representava o domínio cultural da matriz europeia sobre a capi- aculturamos a universidade. E fizemos isso de caso pensado, em
tal provinciana e desta sobre a província interiorana, reproduzin- pouco tempo, com movimentos rápidos, criando e enfrentando
do a hegemonia da elite intelectual sobre o “ilota sertanejo”. situações de grande ansiedade e conflito.
Na velha universidade dos tempos edgardianos, predominava As mudanças na sociodemografia da comunidade estudantil,
“uma classe fina da sociedade”. Até fins do século passado, exis- apesar de concretas e visíveis, certamente são de pequena monta
tiam menos de 2 mil alunos em situação de vulnerabilidade social se comparadas com as transformações nos planos simbólicos da
cadastrados nos serviços de assistência estudantil da UFBA; hoje micropolítica institucional. Nessa perspectiva, podemos compar-
temos quase 12 mil estudantes nessa situação. Em outras palavras, tilhar algumas reflexões, ainda pouco sistemáticas, talvez preco-
os pobres eram 1/10 do alunado, agora são 1/3. Isso representa ces, sobre a experiência que ganhamos ao induzir transformações
aumento de 500% em dez anos. E estão em todos os cursos, em do saber universitário num contexto de reestruturação institu-
todas as salas de aula, em todos os programas de extensão, em pra- cional radical. Nossa hipótese é que, nesse processo, o velho saber
ticamente todos os grupos de pesquisa. Em suma, os ex-estranhos universitário necessariamente se redefine e se renova.
não são mais raros intrusos. São muitos e superlotam espaços an- O saber universitário estabelecido tem a pretensão de ser
tes comodamente vazios e desperdiçados. cosmopolita. Universal e internacionalizado. Consegue ser eu-
Usando uma respeitosa irreverência, podemos dizer que, ao rocêntrico. Elegante e cortês, o saber universitário tem a pre-
trazer para a Casa de Edgard Santos, pobres, negros e índios, re- tensão de ser urbano. Se pensarmos historicamente, não passa
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de um habitus neoburguês. O saber universitário herdado tem VETORES DE TRANSFORMAÇÃO
a pretensão de ser racional. Termina calculista e orientado para
Como vimos em todo o curso deste Memorial, nos últimos
o lucro. O saber universitário tem a pretensão de ser discipli-
anos, a Universidade Federal da Bahia tem experimentado profun-
nar, disciplinado e disciplinador. Nisso, ao mostrar-se eficiente e
da e rápida mudança. De fato, do ponto de vista da política insti-
confiável por ser fragmentado, justifica-se como fragmentador
tucional, introduzimos dois focos de tensão que, em pouco tempo,
dos modelos do mundo e da história. O saber universitário que
tornaram-se elementos de indução da transformação institucional.
ainda predomina entre nós tem a pretensão de ser culto. Termi-
na pedagógico. Em primeiro lugar, um vetor externo. Ao criar o Programa de
Ações Afirmativas, realizamos uma inclusão de excluídos (pobres,
Um sujeito, antes excluído, agora marca presença no contex-
negros e índios) na torre de marfim (construção pálida, metáfora
to da reprodução social pela educação superior. A presença des-
cromática e histórica pertinente), posta no maior enclave africa-
se sujeito, ainda que silenciosa e desconfiada, apesar de atenta e
no nas Américas, situado na mais pobre região do Brasil, nação
comprometida, parecia incomodar pelo lugar que, num marco
pentacampeã das desigualdades sociais. Tudo isso, no bojo de um
de legitimidade recentemente conquistada, ocupava. E este incô-
processo de ampliação massiva e rápida do contingente de sujeitos
modo, provocado pela nova presença, teria resultado em frestas
afiliados à instituição.
e brechas no monólito chamado Universidade, abrindo espaço e
tempo para a ação de vetores de transformação institucional. Em segundo lugar, um vetor interno. A reestruturação radi-
cal da arquitetura curricular oitocentista, efeito almejado pelo
movimento da Universidade Nova, recuperando ideias flexnera-
nisianas para a Universidade, permitiu-nos confrontar suas ba-
ses epistemológicas, políticas, antropológicas, e até pedagógicas.
Com a criação dos Bacharelados Interdisciplinares, por muitos
considerados como uma fusão virtuosa do college norte-ameri-
cano com o bachelor do Processo de Bolonha, desafiamos a um
só tempo a epistemologia linear reducionista da tecnociência e
o viés profissionalizante, pragmático e imediatista da escola de
terceiro grau, infelizmente incorporado por alguns segmentos do
movimento estudantil.
Além disso, a conjuntura política agregou um terceiro vetor de
transformação institucional, novamente no plano externo ao es-
paço universitário. Na guinada das políticas de educação superior
do governo federal configurada pelo Programa REUNI, os pro-
gramas de expansão, inclusão social e reestruturação curricular
concebidos e postos em prática na UFBA encontraram condições
avançadas de viabilidade e realização.
Desde então, a UFBA vem construindo sua participação nesse
contexto de mudança com alto grau de convergência, impres-
cindível para implementar o ambicioso projeto institucional
configurado no Plano REUNI/UFBA. Aprovado pela quase tota-
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lidade das suas unidades universitárias, esse programa objetiva o A implantação do Programa de Ações Afirmativas e do Pro-
desenvolvimento integrado da UFBA como instituição univer- jeto UFBA Nova, no contexto do REUNI, de fato constituem
sitária plena. marcos institucionais de crescimento com inclusão social e aber-
O positivo clima político interno permitiu-nos, a cada mo- tura interdisciplinar no período avaliado, transformando radi-
mento, alcançar metas do REUNI mais precocemente e com calmente o perfil socioeconômico e étnico-racial da instituição.
amplitude maior do que o compromisso inicialmente assumido. Este padrão de desenvolvimento institucional, balizado por cri-
Dessa forma, os Conselhos Superiores, quase sempre por una- térios de competência acadêmica, foi viabilizado pelo progressi-
nimidade, consenso ou aclamação, por um lado elaboraram um vo saneamento financeiro, com pagamento de débitos históricos,
arcabouço normativo adequado ao atual ciclo de transformação otimização de custos e incremento orçamentário, alcançado no
e, por outro lado, aprovaram mudanças estruturais dele decor- primeiro mandato.
rentes. No primeiro caso, destacamos respectivamente Plano Com a recente ampliação de cursos e vagas, contratação de
Diretor, resoluções ordenadoras do ensino de graduação e Esta- servidores docentes e técnicos e administrativos, investimentos
tuto/Regimento; no segundo, redefinição dos órgãos suplemen- estruturais, novas modalidades curriculares e reconfiguração
tares como sistemas estruturantes e criação de novas unidades normativa, nossa Universidade prepara-se para concluir um ci-
universitárias. Neste aspecto, iniciando em 2006, registramos o clo de crescimento, reestruturação e desenvolvimento institu-
Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Susten- cional. O impacto dessas iniciativas, recentes e desconhecidas,
tável (ICADS) no Campus Reitor Edgard Santos na cidade de ainda não podemos calcular. Não obstante, em que pese o enor-
Barreiras e o Instituto Multiprofissional em Saúde (IMS) no me esforço de gestão da inovação e operação da expansão em
Campus Professor Anísio Teixeira na cidade de Vitória da Con- que estamos engajados, é chegado o momento de construir uma
quista, culminando com o Instituto de Humanidades, Artes e Agenda Pós-Reuni. Para a UFBA, isto significa pensar o seu fu-
Ciências Professor Milton Santos (IHAC), unidade universitária turo como instituição.
criada em 2008 especialmente para acolher os estudantes dos
Com o fim do mandato, podemos finalmente falar dos en-
Bacharelados Interdisciplinares.
frentamentos que fomos obrigados a empreender para avançar
nesse contexto de transformação institucional. Isso implica fa-
UMA AGENDA PÓS-REUNI zer uma avaliação das muitas reações conservadoras justificadas
Ao concluir nosso período de gestão, continuamos a defender pelo saber universitário em questão, e que têm produzido obs-
o mesmo projeto político-acadêmico de expansão com inclusão táculos, barreiras, dificuldades e armadilhas frente às propostas
social, fomentando em paralelo qualidade e produtividade cien- de ação. Para melhor superá-las ou preveni-las, precisamos iden-
tífica, cultural, estética, tecnológica e pedagógica. Para sua con- tificar e reconhecer a natureza dessas modalidades de reação e
cretização, todos os cenários possíveis devem ser projetados le- suas derivações.
vando-se em conta condicionantes externos à Universidade. Não Por um lado, muitos dos sujeitos resistentes a mudanças têm
obstante os efeitos da conjuntura, o futuro da UFBA hoje depen- coragem de assumir publicamente, de modo aberto e claro, suas
de sobretudo da consolidação do pacto interno que construímos posições mesmo quando essas parecem “politicamente incorre-
visando à integração entre excelência acadêmica e compromisso tas”. Esse tipo de reação por princípio pode ser de direita ou de
social. Mais ainda, depende do consenso de que a instituição uni- esquerda, tanto faz. Alguns acham que o mundo sempre foi e é
versitária constitui importante fator de transformação sustentada desigual e injusto e que não há qualquer problema em continuar
da sociedade, justamente ao mostrar-se radicalmente competente assim, mantendo-se os privilégios de alguns poucos sustentados
como instituição do conhecimento e da cultura. justamente pela carência de muitos. Outros defendem que qual-
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quer política pública orientada para a equidade poderá atenuar
a luta de classes e isso atrasaria o processo revolucionário. Qual-
quer que seja a perspectiva, podemos enfrentar essa modalidade
de reação aprofundando a disputa e derrotando-a nos planos po-
lítico e institucional.
Por outro lado, o criticismo programático alega suposta inviabi-
lidade das propostas de transformação, declaradas meritórias em
intenção, porém questionáveis em termos operacionais ou de apli-
cabilidade prática. Os arautos dessa crítica instrumental apontam
problemas na operação das propostas de mudança (a sociedade
não vai aceitar...; não haverá docentes com mentalidade inter-
disciplinar...) ou no seu impacto (haverá queda na qualidade do
ensino, evasão elevada, formação deficiente de profissionais...).
Os defensores dessa modalidade de reação, perdoem a ironia,
são aprendizes de céticos. Mas produzem uma retórica técnica,
objetiva e aparentemente racional, que só pode ser vencida pela
demonstração de uma praxis perseverante e competente, sempre
avançando nas estratégias de mudança institucional.
Com este Memorial, nossa intenção foi mostrar resultados. Re-
sultados de um projeto prático de transformação. Mudar, é isso o
que temos buscado fazer. Simplesmente, ou não tão simplesmente
assim, fazer. Fazer implica conceber, propor e realizar movimen-
tos de transformação. Sem hesitar, sem esperar a conjunção astral
perfeita: começar. Começar a mudar.
Inspirados por Anísio Teixeira, “o que de logo desejamos regis-
trado [foi] a mudança de orientação”.
Este Memorial teve, enfim, a pretensão de ser o registro de um
bom começo.

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FICHA TÉCNICA

REVISÃO TÉCNICA:
Aurélio Gonçalves de Lacerda

COORDENAÇÃO EDITORIAL:
Marco Antonio Queiroz

FOTOS:
Célia Aguiar, exceto Carlos Casaes (p. 00), Karla Brunet (p. 00)

ILUSTRAÇÕES DA CAPA:
Detalhes do painel da Biblioteca Central da UFBA

PROJETO GRÁFICO, EDIÇÃO E CAPA


P55 Edições / André Portugal e Marcelo Portugal

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Carla Piaggio

IMPRESSÃO E ACABAMENTO
COMPLETAR

Direitos desta edição reservados à Universidade Federal da Bahia.


Nenhuma parte pode ser duplicada ou reproduzida
sem a expressa autorização.

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