EMENTA
Código de Verificação:
APELAÇÃO CÍVEL 2006 01 1 132258-6 APC
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
VOTOS
diretamente entre autor e réu, bem como à indenização pela negativação do nome
do autor, ato esse praticado, segundo se alega, pelo réu.
14. É verdade que a aquisição do carro envolveu dois contratos
distintos, o de compra e venda e o de financiamento, mas vinculados entre si. E a
ação discute somente questões relacionadas ao contrato de financiamento, daí por
que se mostra correta a propositura da demanda somente contra o réu.
15. Em razão do exposto, rejeita-se a preliminar.
16. No mérito, o autor busca a rescisão do contrato de financiamento
alegando que não recebeu o veículo financiado.
17. O autor celebrou com o réu o contrato de fls. 12, pelo qual o
agente financeiro forneceu crédito total de R$ 21.847,50, para a aquisição de um
veículo GM/Corsa. A dívida deveria ser paga em 36 prestações de R$ 917,97.
18. Contudo, o carro não foi entregue pelo vendedor, não obstante a
disponibilização dos recursos pelo réu.
19. Tem razão o réu ao argumentar que não se responsabiliza pela
entrega do bem ou mesmo pela qualidade do produto adquirido, pois sua obrigação
se resume a fornecer o recurso necessário à realização da compra.
20. Porém, não se pode olvidar que a aquisição do veículo se trata
de operação complexa, envolvendo dois contratos casados, o de compra e venda e
o de financiamento. Se o primeiro não se completa, não há razão para se manter o
segundo, porquanto o financiamento é fornecido especificamente para a compra do
carro, sendo o bem inclusive alienado fiduciariamente ao financiador. Não quisesse
o autor adquirir o carro, não haveria o financiamento.
21. Por isso, mesmo que o financiamento se apresente formalmente
regular, não pode persistir se o devedor não recebeu o veículo para cuja compra
tomou o empréstimo.
22. Havendo o inadimplemento das obrigações assumidas pelo
vendedor, deixando de entregar o automóvel, mesmo que tal obrigação não tenha
sido assumida pelo réu, isso importa na resolução do contrato de financiamento, que
não pode subsistir em razão da ausência do contrato conseqüente.
23. Acrescente-se não haver dúvidas de que o autor não recebeu o
automóvel, o qual foi registrado em nome de terceiro, como mostram os documentos
de fls. 15-16.
24. Além disso, como o autor não recebeu o veículo financiado, não
se pode reconhecê-lo como possuidor direto do bem. Por conseguinte, não pode ser
considerado depositário do veículo, posto que tal condição pressupõe o exercício
direto sobre a coisa.
25. Como não houve a entrega do bem financiado, impõe-se a
resolução do contrato de financiamento, tendo em vista que ambos os contratos
devem necessariamente ficar vinculados entre si.
26. Nesses termos, como a resolução se deu em razão do
inadimplemento do vendedor do automóvel, é preciso que os valores pagos pelo
autor lhe sejam restituídos integralmente. O autor não deu causa ao desfazimento
do negócio, razão pela qual não pode arcar com nenhum encargo. Tudo o que
desembolsou lhe deve ser devolvido, com correção monetária pelo INPC a partir do
efetivo desembolso e juros de mora de 1% ao mês a contar da citação.
27. No que tange ao pedido indenizatório, tem por fundamento a
inclusão do nome do autor em cadastro de maus pagadores.
28. A pretensão do autor, nessa parte, não merece acolhida.
29. Em primeiro lugar, porque sequer há comprovação nos autos de
que houve a inclusão do nome do autor em órgãos de proteção ao crédito pelo réu.
30. Tal fundamento, inclusive, impede a procedência do pedido do
autor para que seu nome seja excluído de órgãos dessa natureza.
31. Em segundo lugar, mesmo que a negativação tenha sido
realizada, tal medida, em princípio, mostra-se fruto de exercício regular do direito do
credor, posto que o autor confessadamente inadimpliu o contrato de financiamento,
deixando de pagar as prestações.
32. É verdade que o pagamento não foi efetuado em decorrência da
não concretização da compra do veículo, já que o bem sequer foi entregue ao autor.
33. Contudo, é bem de ver que tal fato não foi comunicado ao réu.
Embora o autor tenha afirmado na inicial que procurou o agente financeiro para
solucionar a questão, não há nenhum documento indicativo de que o autor solicitou
a resolução do contrato ou qualquer outra medida junto à financeira.
34. Reitere-se que o réu não responde pela qualidade do produto
adquirido pelo autor, nem pela entrega do bem. Se a compra e venda não se
realizou, é certo que o financiamento deveria ser desfeito, por se tratarem de
negócios umbilicalmente ligados entre si. Todavia, é necessário dar conhecimento
ao agente financeiro sobre tal fato, porquanto a venda do carro foi efetuada por
terceira pessoa. E não há demonstração de que o réu teve ciência disso.
35. A situação do réu, portanto, foi a de conceder o financiamento
para a compra do veículo. Posteriormente, diante do não pagamento das
prestações, admite-se que inclua o nome do financiado em bancos de dados de
consumidores inadimplentes.
36. Se o inadimplemento foi justificado porque o devedor não
recebeu o veículo, tal fato, embora relevante, não foi levado ao conhecimento do
réu, razão pela qual não se poderia exigir conduta diversa do credor, amparado que
se encontra em seu direito de registrar o devedor em órgãos de proteção ao crédito.
37. Vale dizer, mesmo que se reconheça neste processo que o
contrato de financiamento não pode subsistir em razão da frustração do contrato de
compra e venda, ainda assim não se pode considerar que o réu praticou ato ilícito ao
incluir o autor em cadastros de devedores. Isso porque tal negativação, se é que
ocorreu, deu-se em período anterior ao ajuizamento da demanda, época em que o
réu não tinha ciência sobre a situação do veículo financiado. Sendo assim, a
Nas razões recursais, alega que o fato de o veículo não ter sido
entregue ao Apelado, em nada atinge o contrato de financiamento assinado entre as
partes, uma vez que as cláusulas foram livremente pactuadas. Sustenta a
impossibilidade de devolução de valores antes da extinção do grupo. Pede o
provimento do recurso para reformar a r. sentença.
constar no Contrato de fls. 12/13 o nome de Ronaldo Pinheiro dos Santos, pessoa a
quem deveria ser entregue o valor da operação, mediante a garantia fiduciária.
ao Juízo a quo, fato que impossibilita sua apreciação na esfera recursal, sob pena
de supressão de instância.
É como voto.
Com o Relator
DECISÃO