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A Prevenção do uso de Drogas

e a Terapia Comunitária

Brasília, 2006
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República


e Presidente do Conselho Nacional Antidrogas
Jorge Armando Felix

Secretário Nacional Antidrogas


Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa

Diretora de Políticas de Prevenção e Tratamento


Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte

Coordenadora Geral de Prevenção


Doralice Oliveira Gomes

Universidade Federal do Ceará (UFC)


Reitor
René Teixeira Barreira

Faculdade de Medicina - Departamento de Saúde Comunitária


Coordenador do Departamento
Luciano Lima Correa

Coordenador Técnico-Científico do Projeto


Adalberto de Paula Barreto

Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária do Ceará (MISMEC-CE)


Diretora
Fabiana Mariano Costa

Catalogação feita pela Biblioteca da Presidência da República

M 294 A Prevenção do Uso de Drogas e a Terapia Comunitária.


Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2006.

24 p.

1. Droga - prevenção. 2. Terapia comunitária . 3. Reinserção social


Brasil. I. Título

CDD – 361.8
Sumário
A Terapia Comunitária nas Políticas de Prevenção do Uso Indevido de Drogas ------------------- 4

Apresentação --------------------------------------------------------------------------------------------------- 5

Panorama Epidemiológico ------------------------------------------------------------------------------- 6

A Prevalência do Consumo das Drogas Lícitas ----------------------------------------------------- 6

Quanto à Prevalência de outras Drogas Psicotrópicas ----------------------------------------------- 7

As Drogas e seus Efeitos --------------------------------------------------------------------------------- 8

As Drogas e seus Efeitos no Sistema Nervoso Central -------------------------------------------- 8

As Drogas e a Legislação: Drogas Lícitas e Ilícitas ------------------------------------------------- 9

O Uso Indevido de Drogas ------------------------------------------------------------------------------ 10

Fatores de Risco e de Proteção -------------------------------------------------------------------------- 10

Como identificar os Fatores de Risco e de Proteção na Prevenção do Uso Indevido de Drogas? --- 11

Fatores de Risco e de Proteção no Domínio dos Pares --------------------------------------------- 12

Fatores de Risco e de Proteção no Domínio Familiar ---------------------------------------------- 13

Fatores de Risco e de Proteção no Domínio Comunitário -------------------------------------------- 14

Fatores de Risco e de Proteção no Domínio Escolar -------------------------------------------------- 15

Os Diferentes Tipos de Usuários ou de Envolvimento com as Drogas ---------------------------- 16

A Terapia Comunitária na Abordagem Preventiva --------------------------------------------------- 17

A Terapia Comunitária Ampliando a Prevenção em Rede ------------------------------------------- 17

A Terapia Comunitária e o Tratamento de Dependentes de Drogas -------------------------------- 18

Como o Terapeuta Comunitário pode contribuir para o Tratamento de Dependentes de Drogas?-- 19

O Tratamento Propriamente Dito ------------------------------------------------------------------------- 19

A Reinserção Social ---------------------------------------------------------------------------------------- 20

O Papel do Terapeuta Comunitário junto aos Serviços de Saúde ----------------------------------- 20

Sugestões de Dinâmicas de Mobilização e Abordagem sobre o Tema Drogas -------------- 21

Exemplos de Motes --------------------------------------------------------------------------------------- 21

Rituais -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 22

Sugestões de Ditados Populares ------------------------------------------------------------------------- 22

Recursos da Comunidade --------------------------------------------------------------------------------- 23

Filmes -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 24
A Terapia Comunitária nas Políticas de Prevenção
do Uso Indevido de Drogas
A perspectiva do trabalho comunitário apresenta relevância na efetivação
dos objetivos da atual Política Nacional Sobre Drogas (PNAD) do Governo
Federal. A PNAD propõe a conscientização da sociedade brasileira sobre os prejuízos
sociais e as implicações negativas representadas pelo uso indevido de drogas e suas
conseqüências, bem como a educação, informação, capacitação e formação de
pessoas em todos os segmentos sociais para a ação efetiva e eficaz
de redução da demanda e da oferta de drogas fundamentada em conhecimentos
científicos validados e experiências bem-sucedidas, adequadas à nossa realidade.
Neste sentido, o trabalho comunitário revela-se como uma importante estratégia
na otimização dos recursos da comunidade o que é de extrema importância
no atual cenário brasileiro em que a rede de serviços existentes nesta
área ainda é insuficiente para atender às tantas demandas, especialmente quando
se trata de comunidades ou populações com menos recursos econômicos.

4 SENAD
A Prevenção do uso de Drogas
e a Terapia Comunitária

Apresentação 4. Favorecer a criação ou o resgate da


rede social do usuário.
Esta publicação constitui material
São beneficiários diretos deste projeto
de apoio pedagógico da Secretaria Nacional
os profissionais das áreas de saúde, de educação
Antidrogas - SENAD para o “Curso de
e da área social, do setor governamental e não
Formação em Terapia Comunitária - com
governamental, e as lideranças comunitárias,
ênfase nas questões relativas ao uso do
que receberão a capacitação. E os beneficiários
álcool e outras drogas”, realizado em parceira
indiretos as instituições as quais os cursistas
com o Movimento Integrado de Saúde Mental
estão vinculados e, em última instância, a
Comunitária do Ceará – MISMEC-CE.
própria comunidade atendida.
Tem como objetivo preparar os terapeutas
Isto amplia as possibilidades de atuação
comunitários para responder às questões
da rede de atenção à comunidade que será
apresentadas pelos participantes das terapias
fortalecida com mais um serviço disponi-
sobre esta temática.
bilizado.
A SENAD, ao reconhecer esta
A publicação “A Prevenção do uso de
metodologia, está oportunizando a efetivação
Drogas e a Terapia Comunitária” estabelece
de ações de âmbito comunitário nas
uma relação estreita entre a proposta da TC
políticas públicas destinadas à redução da
e as orientações da Política Nacional
demanda do uso de drogas. Neste sentido,
sobre Drogas quanto à prevenção, o
a Terapia Comunitária (TC) coloca-se como
tratamento e a reinserção social do
um serviço à comunidade que possibilita
dependente químico.
intervir em vários níveis:
Desejamos que esta iniciativa, somada
1. Antecipar-se ao uso indevido de
às demais que o governo brasileiro vem
drogas, trabalhando possíveis motivadores
adotando, contribua de fato com o
para o consumo, analisando riscos e
fortalecimento de uma rede de atenção às
fortalecendo fatores de proteção;
questões relativas ao uso de álcool e outras
2. Oferecer, para aqueles que já
drogas numa perspectiva inclusiva, de respeito
são usuários e suas famílias, um espaço de
à diversidade, humanista, de acolhimento e
acolhimento, amparo e auxílio na mudança
não estigmatização do usuário e familiares.
da compreensão quanto ao uso ou abuso de
drogas e contribuir para a redução dos riscos
e danos associadas ao uso;
3. Facilitar a identificação da
necessidade e dos meios para o tratamento
de dependentes ou usuários e suas famílias
e contribuir para a adesão e permanência
no atendimento;

SENAD 5
Panorama Epidemiológico
• 41,1% dos entrevistados informa-
No cenário brasileiro, há um destaque com ram que já fizeram uso de tabaco pelo menos
relação ao consumo de drogas lícitas, em especial uma vez na vida;
o álcool. Mas as drogas ilícitas também merecem • A estimativa de dependência de
atenção, uma vez que as substâncias citadas tabaco foi de 9,0%.
(lícitas e ilícitas) podem estar associadas ao
contexto de violência. No ano de 2004, foi realizado o
Esta publicação tem como um dos obje- “V Levantamento Nacional sobre o uso de
tivos capacitar os terapeutas comunitários para Drogas Psicotrópicas entre estudantes do Ensino
lidarem com a temática das drogas nas suas Fundamental e Médio”, nas 27 capitais brasileiras,
reuniões, com especial ênfase para o seu caráter atingindo 48.155 estudantes que, em sua maioria,
preventivo e também pelas possibilidades de tinham entre 13 e 15 anos de idade. Este
complementar ações de tratamento e favorecer a levantamento apresentou dois resultados que
reinserção social. merecem destaque:
Dentre as drogas que serão estudadas,
o álcool terá destaque pela sua dimensão • Cerca de 65% dos estudantes
epidemiológica e de custos econômicos e afirmaram ter consumido bebidas alcoólicas
sociais. Sendo considerado uma importante pelo menos uma vez na vida, o que significa
questão de saúde pública e, necessitando, dizer que mais da metade dos estudantes
portanto, de medidas efetivas no contexto ouvidos já haviam experimentado algum
político e social. tipo de bebida;
• Cerca de 12% dos estudantes faziam
A Prevalência do Consumo uso freqüente de bebidas, ou seja, haviam
das Drogas Lícitas consumido álcool seis ou mais vezes no mês
que antecedeu a pesquisa, o que significa
A seguir serão apresentados alguns dados dizer que dez em cada cem estudantes podiam
obtidos de levantamentos epidemiológicos ser incluídos na categoria de usuário abusivo.
realizados no Brasil quanto ao consumo de
drogas. O álcool e o tabaco aparecem com
destaque, sendo as drogas mais consumidas no
Brasil e as responsáveis pelos maiores
índices de problemas decorrentes de seu
uso indevido.
No “I Levantamento Domiciliar sobre
o uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil”,
realizado no ano de 2001, foram entrevistados
moradores das 107 maiores cidades do país
(aquelas com mais de 200 mil habitantes),
representando 47% da população total do país.
Os principais resultados obtidos foram:

• 68,7% dos entrevistados informa-


ram que já fizeram uso de álcool pelo menos
uma vez na vida;
• A estimativa de dependentes de
álcool foi de 11,2%, com predominância para
o sexo masculino, numa proporção de três
homens usuários para uma mulher usuária;
6 SENAD
A Prevenção do uso de Drogas
e a Terapia Comunitária

Quanto à Prevalência de O uso de pelo menos uma vez na vida


de medicamentos, sem prescrição médica,
outras Drogas Psicotrópicas apresentou um fato em comum: o número de
mulheres que usou foi maior que o número de
O “I Levantamento Domiciliar sobre homens, em todas as faixas etárias estudadas.
o uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil” (2001), Os estimulantes aparecem em 1,5%
apresentou resultados importantes sobre o de entrevistados que fizeram uso na vida. Os
consumo de outras drogas psicotrópicas pela benzodiazepínicos (medicamento para reduzir
população geral, dos quais merecem destaque: a ansiedade) em 3,3%, bastante próxima ao
observado nos Estados Unidos, cujo índice
6,9% dos entrevistados já fizeram uso de chega a 5,8%. A dependência de benzodia-
maconha pelo menos uma vez na vida; zepínicos foi estimada em 1,0% no Brasil.
2,3% dos entrevistados já fizeram uso de Em relação aos orexígenos (medicamentos
cocaína pelo menos uma vez na vida; utilizados para estimular o apetite), 4,3% dos
0,7% dos entrevistados já fizeram uso de crack entrevistados já fizeram uso pelo menos
pelo menos uma vez na vida; uma vez na vida.
O uso da merla (um derivado de cocaína) Um alerta deve ser feito:
apareceu, na região Norte, em 1,0% dos en- Cada vez mais, a idade de experimentação
trevistados, sendo o maior índice do Brasil; tem caído, revelando que o consumo de drogas
5,8% dos entrevistados já fizeram uso de entre crianças e adolescentes é uma realidade
solventes pelo menos uma vez na vida. que exige medidas preventivas urgentes.
Um dado que constata esta questão é a
média de experimentação do álcool pela primeira
vez. No Brasil, esta média é de 12,5 anos, o que é
preocupante, visto que o fornecimento de bebidas
alcoólicas a menores é proibido por lei

Média de Idade do Primeiro Uso de Drogas


no Brasil (Média)
Álcool 12,5
Tabaco 12,8
Solvente 13,1
Maconha 13,9
Anfetamínicos 13,4
Ansiolíticos 13,5
Cocaína 14,4

Os dados epidemiológicos acima apre-


sentados retratam uma realidade desafiadora para
os terapeutas comunitários e para a sociedade
brasileira como um todo.

Estes dados estão disponibilizados no site do


Observatório Brasileiro de Informações
Sobre Drogas - OBID
www.obid.senad.gov.br

SENAD 7
As Drogas e seus Efeitos
Para uma compreensão ampla dos efeitos
das drogas é necessário considerar a inter-relação
existente entre as características da droga, as do
usuário e as características do contexto.
Além dos efeitos psicotrópicos causados
pelas diferentes drogas, ou seja, dos efeitos quími-
cos específicos do produto na atividade do Siste-
ma Nervoso Central, destacamos os outros fatores
que interferem nas sensações e no comportamento
do usuário. Estes outros fatores dizem respeito ao
usuário e o lugar que este se encontra.
É primordial considerar o que cada pessoa As Drogas e seus Efeitos no
sente e busca quando faz uso de drogas, pois neste
consumo está presente as crenças das pessoas Sistema Nervoso Central
sobre o que vão obter a partir disto.
A Organização Mundial de Saúde –
Outro fator de destaque é o lugar onde este
OMS – possui uma classificação de substâncias
consumo se realiza. Diz respeito às condições do
consideradas drogas, capazes de produzir
ambiente, que também vão interferir no resultado
alterações no funcionamento do cérebro.
final, ou seja, no efeito que a pessoa irá sentir.
Esta classificação faz parte da Classificação
A pessoa fez seu consumo num ambiente coletivo?
Internacional de Doenças da OMS e está na
Qual? Estava só? Onde? Num local onde o
sua 10ª revisão, sendo designada por CID-10.
consumo é aceito ou repudiado? Todas estas
questões interferem na relação do usuário com a Drogas capazes de produzir alterações no
droga. funcionamento do cérebro
Compreender estes aspectos presentes na • Álcool • Canabinóides •Tabaco
pessoa do usuário, no lugar onde o consumo se dá, (maconha)
nas crenças e valores presentes, possibilita uma • Opióides • Solventes
(morfina, • Sedativos ou
intervenção mais adequada tanto na prevenção do heroína, hipnóticos • Inalantes
uso indevido de drogas como no tratamento e na codeína e
• Cocaína • Estimulantes
reinserção social. substâncias (cafeína)
Se por um lado não se pode reduzir a sintéticas) • Alucinógenos Etc.
avaliação dos usuários de drogas, considerando
apenas os efeitos da substância psicoativa con- Apresentamos, a seguir, uma classificação
sumida, por outro, deve-se conhecer esses efeitos, baseada nos efeitos das substâncias psicoativas
ou seja, a dimensão toxicológica de cada droga. no Sistema Nervoso Central, considerada a mais
abrangente e também a mais utilizada.
Essa classificação é de interesse didático
e se baseia nas ações aparentes das drogas sobre
o Sistema Nervoso Central (SNC), conforme as
modificações observáveis na atividade mental:

Drogas depressoras da atividade mental


• Álcool • Solventes ou
• Benzodia- inalantes
• Barbitúricos zepínicos
(calmantes e (medica- (ex.: cola de
sedativos) mentos para sapateiro,
reduzir a esmalte, lança
• Opióides perfume).
ansiedade)
(ex.: morfina)

8 SENAD
A Prevenção do uso de Drogas
e a Terapia Comunitária

Drogas estimuladoras da atividade mental As Drogas e a Legislação:


• Anfetaminas • Cocaína Drogas Lícitas e Ilícitas
(ex:medicamentos para (Crack, merla)
diminuir o apetite)
Uma outra forma de estabelecer distinções
• Cafeína,
entre as drogas é classificá-las quanto à maneira
• Tabaco dentre outras
como são tratadas pela legislação de um país.
Podem ser lícitas, ou seja, não há nenhuma
Drogas perturbadoras da atividade mental proibição na legislação quanto à sua produção, ao
• Maconha • LSD seu uso e a sua comercialização. São drogas legais,
• Alucinógenos • Anticolinérgicos em geral social e culturalmente aceitas, e seu uso é
(ex.: lírio, trombeta, até mesmo estimulado em algumas comunidades.
• Ecstasy
saia branca, Existem algumas drogas legais cujo
(anfetamina
zabumba) consumo vem sofrendo restrições sem, no
potencializada)
entanto, ocorrer a criminalização da sua produção,
comercialização e tampouco do consumidor.
Exemplo desta restrição é a proibição de fumar
em determinados locais públicos e o controle de
determinados medicamentos psicotrópicos.
O álcool, o tabaco e a cafeína são as
drogas lícitas mais conhecidas e sua
utilização é praticamente universal, constituindo
matéria-prima essencial para a fabricação de
produtos importantes para a economia de muitos
países. É o caso do vinho na França, do charuto
em Cuba e do café no Brasil. Estas drogas estão
de tal maneira integradas em nosso cotidiano que
não percebemos que, ao tomarmos um copo de
vinho, uma xícara de café ou uma lata de cerveja,
estamos consumindo uma droga psicotrópica.
Os medicamentos psicotrópicos, como os
tranqüilizantes ou ansiolíticos e os moderadores
de apetite ou anfetaminas, também são drogas
lícitas, embora tenham sua comercialização
controlada por lei e só possam ser vendidos em
farmácias, mediante receita médica.
Esta restrição é uma medida de controle
de saúde pública com o objetivo de evitar que a
utilização desses medicamentos se faça de
maneira indevida, para garantir que seu uso se
limite às necessidades da prescrição médica.
O detalhamento dos efeitos de cada tipo Também os solventes e os inalantes,
de droga é encontrado no “Livreto Informativo como a cola de sapateiro e o tinner, são produtos
sobre Drogas Psicotrópicas” produzido pelo Centro legais ou lícitos, muito utilizados na fabricação
Brasileiro de Informações sobre Drogas de couro e na construção civil. No entanto, sua
Psicotrópicas - CEBRID em parceria com a Senad. comercialização é controlada para evitar seu uso
abusivo.
Estes dados estão disponibilizados no site do As drogas ilícitas ou ilegais são aquelas
Observatório Brasileiro de Informações cuja produção, comercialização ou consumo são
Sobre Drogas - OBID
considerados crime, sendo proibidas por legislação
www.obid.senad.gov.br específica.

SENAD 9
As drogas ilícitas mais consumidas na
sociedade brasileira são a maconha e a cocaína.
As relações entre drogas e legislação são
permeadas de muitas contradições, polêmicas e
mitos, tais como:
• Mesmo se a palavra droga refere-se
a todas as substâncias psicoativas, sejam elas
lícitas ou ilícitas, é muito comum, no entanto,
associarmos esse termo apenas às drogas ilícitas;
• As drogas lícitas, ao contrário do que
se pensa e se fala, são as que causam maior impacto
na saúde pública, pois são as mais consumidas,
respondendo pelo maior número de dependentes e
também de danos psicossociais decorrentes de seu
uso abusivo.

O Uso Indevido de Drogas


Mas, afinal, o que levaria alguém a
fazer uso indevido de drogas? Quais os fatores
que aumentam ou diminuem a probabilidade do
consumo indevido? Ter clareza quanto a este
questionamento possibilita que a atuação do
terapeuta comunitário, enquanto agente de
prevenção, possa ser potencializada.
O terapeuta comunitário pode se
apropriar deste papel com maior consciência de
suas possibilidades de atuação e também de
importância. Neste contexto, a terapia comunitária
caracteriza-se, também, como um espaço de
prevenção, de auxílio no tratamento e reinserção
social de usuários e dependentes químicos e
apoio às famílias.

Fatores de Risco
e de Proteção
Fatores de risco para o uso indevido de
drogas são características ou atributos de um
indivíduo, grupo ou ambiente de convívio social que
contribuem, em maior ou menor grau, para
aumentar a probabilidade deste uso. Não existe
um fator único determinante para o uso. Assim,
para cada domínio da vida (individual, familiar,
escolar, pares, comunitário) pode haver fatores de
risco, além de fatores de proteção.
Os fatores de proteção são característi-
cas ou atributos presentes nos diversos domínios
da vida que minimizam a probabilidade de um
indivíduo fazer uso indevido de drogas.

10 SENAD
A Prevenção do uso de Drogas
e a Terapia Comunitária

O trabalho comunitário, em especial a


terapia comunitária, enfatiza a importância de
reconhecermos os potenciais e competências
existentes em cada pessoa, nos grupos e na
comunidade. Neste sentido, a prevenção
direciona-se ao reconhecimento, à valorização, ao
reforço dos fatores de proteção por meio da
otimização dos recursos pessoais, grupais e
comunitários existentes.

Como identificar os Fatores


de Risco e de Proteção na
Prevenção do Uso Indevido
de Drogas?
Os fatores de risco e de proteção
podem ser identificados em todos os domínios
da vida: no próprio indivíduo, na família, na rede
de amizades, na escola ou no trabalho, na
comunidade ou em qualquer outro nível de
convivência sócio-ambiental. É importante
notar que estes fatores não ocorrem de forma
estanque, havendo grande possibilidade de que
atuem de forma combinada, podendo ampliar
a variabilidade de influências que podem ser
exercidas sobre uma pessoa.
Se existem fatores de risco atuantes
em cada um dos domínios citados, também
podem ser identificados fatores específicos de
proteção. A combinação dos fatores de risco nestes
diversos níveis pode tornar uma pessoa mais ou
menos vulnerável para fazer uso indevido de drogas.
Os fatores de risco e de proteção
devem ser compreendidos na realidade das
pessoas envolvidas, pois um fator de risco
para um pode ser de proteção para outro.
Por exemplo, uma pessoa que
convive com um alcoolista e que por isto
vivencia os problemas associados pode
decidir por não beber; enquanto alguém na
mesma situação pode ver o beber demasiado
como algo natural e fazer uso abusivo do álcool.

Vejamos, a seguir, exemplos de fatores


de risco e de proteção em cada um
dos domínios da vida:

SENAD 11
DOMÍNIO INDIVIDUAL
FATORES DE RISCO FATORES DE PROTEÇÃO
Baixa auto-estima, propensão à
ansiedade e à depressão, doenças Autoconfiança e auto-estima
pré-existentes (ex.: transtorno de elevadas
déficit de atenção e hiperatividade)
Comportamento contrário às normas
Capacidade intelectual para tomar
e às regras na infância, experiências
decisões; assertividade
sexuais e com as drogas precoces
Flexibilidade nas relações
interpessoais, facilidade de cooperar,
Falta de auto-controle e assertividade
autonomia, responsabilidade e comu-
nicabilidade
Desinteresse ou desmotivação pelos Interesse pelos estudos e aspectos da
estudos e por atividades úteis vida prática
Vivência com pais ou familiares Relação de confiança com pais,
que fazem uso indevido de álcool, familiares, professores, colegas e
de medicamentos ou de outras outras pessoas capazes de dar apoio
drogas emocional
Dificuldades de interação
Apresentação de habilidades sociais
interpessoal
Ausência de um projeto de vida Presença de um projeto de vida
Inexistência ou pouca qualidade nos
Vinculação familiar afetiva, religiosa
vínculos familiares, religiosos ou
ou institucional
institucionais

Fatores de Risco e de Proteção


no Domínio dos Pares
Nesta dimensão, DOMÍNIO DOS PARES
fazem parte os FATORES DE RISCO FATORES DE PROTEÇÃO
amigos e
Pares que usam álcool/drogas, ou Pares que não usam álcool/drogas e
pessoas de
ainda que aprovam e/ou valorizam o não aprovam e/ou valorizam o seu
convívio próxi-
seu uso uso
mo, que podem
influenciar, Dificuldade de participação em
Participação em atividades desporti-
dependendo da grupos de pares que desenvolvam
vas, laborais e recreativas saudáveis
forma como atividades recreativas, esportivas e
juntamente com seus pares
pensam sobre o laborais tidas como saudáveis
uso de droga e Dificuldade de pertencimento a
Pertencimento a grupos de iguais na
dos ambientes grupos de iguais na escola e na comu-
escola e na comunidade
que freqüentam. nidade
Dificuldade em aceitar autoridade que Aceitação de autoridade situada fora
não compartilhe de determinações do do grupo de pares, na escola, na
seu grupo de pares comunidade e na família
Não participação em grupos com Participação em grupos com objetivos
objetivos sociais e comunitários sociais e comunitários

12 SENAD
A Prevenção do uso de Drogas
e a Terapia Comunitária

Fatores de Risco e de Proteção


no Domínio Familiar
Neste domínio,
DOMÍNIO FAMILIAR
os fatores de
FATORES DE RISCO FATORES DE PROTEÇÃO
risco e de
Uso de álcool e outras drogas pelos Valorização de um padrão de vida proteção referem-
pais ou familiares saudável na família se a forma como
Existência de vinculação familiar, está estruturada
Isolamento social entre os membros
boa interação entre os membros da a família e o seu
da família
família funcionamento,
Frágeis laços afetivos entre os Existência de fortes vínculos afetivos isto é, se os
membros da família entre os membros da família papéis e as regras
Falta de estímulo da família para estão claros e
Estímulo da família quanto à definidos.
os estudos, lazer e outras práticas
educação formal
laborais
Relações conflituosas, excessiva- Predomínio de um estilo compreen-
mente autoritárias ou permissivas sivo de vida, sem autoritarismo ou
entre os membros da família permissividade, mas com limites
Diálogo constante e comuni-
cação eficiente entre cônjuges e
Falta de diálogo e de comunicação
companheiros, entre pais e
entre pais, cônjuges, companheiros e
filhos; e troca de informações entre os
filhos
membros da família sobre as suas
rotinas e práticas diárias
Presença e constância de
Ausência e descontinuidade de critérios claros na aplicação de regras
critérios na aplicação de regras disciplinares, desenvolvimento de
familiares valores e compartilhamento de
tarefas no lar
Falta de interesse dos pais pelas Demonstração de interesse pela vida
conquistas dos filhos e na partici- dos filhos e participação dos pais em
pação de seus sucessos e fracassos seus sucessos ou fracassos
Incoerência e incongruência dos pais Coerência e congruência dos pais
quanto ao padrão educacional a ser quanto ao padrão educacional a ser
adotado para os filhos adotado para os filhos
Expectativas negativas em relação Expectativas positivas em relação
aos filhos ou mesmo aos cônjuges e aos filhos e aos demais membros da
companheiros família
Pais que não fornecem um bom
Presença dos pais como modelo
modelo, não sabendo transmitir as
positivo quanto às questões sociais e
normas e valores morais e sociais
morais; cultivo de valores familiares
socialmente aceitáveis
Tolerância com relação ao uso de Postura clara e assertiva quanto ao uso
drogas pelos jovens de drogas pelos membros da família
Ausência de normas e limites claros Presença de normas e limites claros
no ambiente familiar no ambiente familiar

SENAD 13
Fatores de Risco e de Proteção
no Domínio Comunitário
Fazem parte dos DOMÍNIO COMUNITÁRIO
fatores deste FATORES DE RISCO FATORES DE PROTEÇÃO
domínio, a
disponibilidade Existência de oportunidades de estu-
Falta de oportunidades socioeconômi-
da droga, a do, de trabalho, de lazer e de inserção
cas para a construção de um projeto
facilidade em social que possibilitem ao indivíduo
de vida
obtê-la, a falta concretizar seu projeto de vida
de fiscalização
das leis que já Fácil acesso às drogas lícitas e Controle efetivo do comércio de
existem, o ilícitas drogas legais e ilegais
número de Reconhecimento e valorização, por
pontos de Permissividade em relação a algumas
parte da comunidade, de normas e leis
vendas, entre drogas
que regulam o uso de drogas
outros.
Inexistência de incentivos para que
Incentivos ao envolvimento dos
o jovem se envolva em serviços
jovens em serviços comunitários
comunitários
Negligência no cumprimento de Realização de campanhas e ações que
normas e leis que regulam o uso de ajudem o cumprimento das normas e
drogas leis que regulam o uso de drogas

14 SENAD
A Prevenção do uso de Drogas
e a Terapia Comunitária

Fatores de Risco e de Proteção no Domínio


Escolar
DOMÍNIO ESCOLAR Nesse domínio,
FATORES DE RISCO FATORES DE PROTEÇÃO ocorre o
entrecruzamento
Indefinição, falta de comunicação e de Definição, comunicação e negociação
negociação de normas, regras e limites de normas, regras e limites de fatores de
risco e de pro-
Incoerência e incongruência entre os Coerência e congruência entre
teção presentes
agentes educativos na prática das professores, diretores e servidores na
normas educativas aplicação das normas e regras escolares em todos os
outros domínios.
Relações desrespeitosas e falta de Relações de respeito mútuo, compro-
Em verdade,
responsabilidade e compromisso entre misso e cooperação entre os agentes
os agentes educativos (professores, educativos (professores, diretores,
a escola é o
diretores, servidores, etc) servidores, etc) ambiente em que
boa parte - ou a
Distanciamento entre a família e a Relações amistosas e de cooperação
maioria - destes
escola entre família e escola
fatores pode ser
Falta de estímulo às práticas das ativi- Estimulo à prática das atividades esco-
percebida.
dades escolares lares
Ausência de expectativas positivas Verbalização das expectativas positivas
em relação ao desempenho dos alunos com relação ao desempenho dos alunos
tanto no aspecto formativo quanto em todos os aspectos do currículo
informativo do currículo
Ausência de atividades criativas e Promoção de práticas escolares
estimulantes que concorram para a criativas e estimulantes, com atividades
criação de vínculos entre o aluno e a curriculares e extracurriculares que
escola concorram para a criação de vínculos
entre o aluno, a escola, os pais e a
comunidade
Relações preconceituosas para com Relações abertas, honestas, sem
os alunos, com a utilização de rótulos atitudes negativas, punitivas,
como forma de punição e exclusão preconceituosas ou excludentes entre
professor e aluno
Ausência de afetividade na relação Fortes vínculos afetivos entre professor
professor e aluno e aluno
Relações professor/aluno baseadas no Relações entre professor/aluno
autoritarismo ou no excesso de baseadas no respeito mútuo
permissividade
Ausência de afetividade e confiança no Presença de afetividade e confiança no
ambiente escolar ambiente escolar
Falta de estímulos e de práticas educati- Estímulo e exercício dos princípios de
vas relativas ao altruísmo, cooperação e altruísmo, cooperação e solidariedade
solidariedade
Falta de controle quanto à presença de Controle da presença de drogas
drogas
Tolerância com relação ao cigarro, Reconhecimento e valorização, por
álcool e/ou outras drogas parte da escola, de normas e leis que
regulam o uso de drogas, com definição
e aplicação efetiva das normas internas
da escola

SENAD 15
Os Diferentes Tipos de Usuários ou de
Envolvimento com as Drogas
Um dos cuidados primordiais ao se abordar o tema das drogas é ter
claro a distinção entre os diferentes tipos de usuários, a partir das características
do seu envolvimento com as drogas. É fundamental não aplicar o conceito de
dependente para todos os usuários de drogas, pois nem sempre este é o caso.
Por outro lado, mesmo aquelas pessoas que não estão dependentes
merecem atenção, pois antes de se instaurar um quadro de dependência, o
indivíduo já pode ter problemas relacionados ao uso indevido (problemas
familiares, sociais, legais, trabalhistas, etc). É possível fazer diagnósticos
precoces, evitando a instalação da dependência e todos os prejuízos decor-
rentes.
O uso de drogas não leva, necessariamente, ao abuso ou dependência,
sendo possível identificar diferentes tipos de usuários. Abaixo uma
classificação didática sobre tipos de usuários:

1. O usuário experimental ou experimentador: é aquele que


experimenta uma ou mais drogas por curiosidade, por pressão do grupo de
amigos, ou por qualquer outro motivo, sem dar continuidade ao uso. Como
exemplo pode ser o caso de um adolescente que fumou maconha uma ou duas
vezes, pela facilidade de acesso ao produto passado tranquilamente numa
festinha por amigos, sem que essa experiência casual tenha se repetido.

2. O usuário ocasional ou recreativo: é o que utiliza uma ou mais


substâncias, quando disponíveis, em ambiente favorável e em situações especí-
ficas ou de lazer, sem que esse uso eventual tenha qualquer efeito negativo nas
suas relações sociais, afetivas ou profissionais. Podemos incluir aqui os chama-
dos bebedores sociais, que ingerem bebidas alcoólicas nos finais de semana ou
em ocasiões especiais, como festas, jantares e datas comemorativas.

3. O usuário freqüente ou funcional: é aquele que faz uso


habitual de uma ou mais drogas de modo controlado. Pode ocorrer, de forma
esporádica, algum prejuízo nas relações sociais, familiares, profissionais em
função de um comportamento que começa a se tornar sistemático e repetitivo,
seguindo um certo ritual que passa a chamar a atenção pela importância que
o consumo adquire na rotina do usuário.

4. O usuário abusivo: é aquele que já apresenta problemas pelo


consumo excessivo de uma ou mais drogas em uma das esferas de sua vida,
mas ainda está se mantendo nas demais. Os problemas que surgem já são
identificados por terceiros, mas são negados pelo usuário.

5. O usuário dependente: para definirmos se alguém é dependente


de drogas, seguimos o critério da Organização Mundial da Saúde - OMS, que
considera dependente de uma droga a pessoa que apresenta três ou mais das
seguintes manifestações:
• Forte desejo de consumir a droga;
• Dificuldade de controlar o consumo (por exemplo, a hora em que
começa ou pára de fazê-lo, a quantidade e o número de vezes que faz uso);

16 SENAD
A Prevenção do uso de Drogas
e a Terapia Comunitária

• Utilização persistente da droga apesar Quando os habitantes de uma comunidade


das suas conseqüências prejudiciais; não possuem laços sociais fortalecidos é mais fácil
• Maior prioridade dada ao uso da droga de se expandirem os fatores de risco geradores
em detrimento de outras atividades ou obrigações; de demandas pelas drogas e também a ampliação
• Aumento da tolerância à droga (neces- da oferta com a conseqüente violência gerada pelo
sidade de doses cada vez maiores para obter tráfico e o crime organizado.
o mesmo efeito); A promoção de redes sociais que resultem
• Síndrome de abstinência (sintomas em vínculos de solidariedade entre as pessoas
corporais como dores, tremores, dentre outras, nos diversos tipos de comunidades constitui,
que ocorrem quando o consumo da droga sem dúvida, um fator de proteção dos mais
é interrompido ou diminuído). importantes a serem incrementados pelos
programas de prevenção ao uso indevido de drogas,
nas esferas federal, estadual ou municipal.
A Terapia Comunitária na É nesta perspectiva que a metodologia
abordagem Preventiva da terapia comunitária está sendo qualificada
como uma estratégia eficaz de prevenção do uso
indevido de drogas, de promoção de saúde e de
A terapia comunitária é um espaço no
construção de redes sociais integrando as tantas
qual vários domínios da vida do indivíduo e da
possibilidades de ações preventivas do uso de
coletividade podem ser trabalhados, sejam eles
drogas.
familiar, profissional, comunitário, cultural, entre
outros.
É um espaço de promoção de encontros
interpessoais e intercomunitários, objetivando
a valorização das histórias dos participantes,
o resgate da identidade, a restauração da
auto-estima e da confiança em si, a ampliação
da percepção dos problemas e possibilidades de
resolução. Tem como base de sustentação o estí-
mulo para o desenvolvimento ou a criação de uma
rede de solidariedade.
Este contexto de possibilidades de
expressão dos conflitos, medos e dúvidas, num A Terapia Comunitária
ambiente livre de julgamentos, onde se valorizam
as diferenças individuais e as experiências de vida ampliando a Prevenção
de cada um, favorece a prevenção, o tratamento e
a reinserção social de usuários, dependentes e suas
em Rede
famílias. Rede social tem como conceito “um
Verifica-se a mudança de uma política conjunto de relações interpessoais concretas
assistencialista para uma política de participação que vinculam indivíduos a outros indivíduos à
solidária. Um novo paradigma nas políticas medida que se percebe o poder de cooperação
públicas que possibilita o desenvolvimento comu- como atitude que enfatiza pontos comuns em um
nitário e social da população. grupo para gerar solidariedade e parceria” (Duarte,
A Política Nacional sobre Drogas - PNAD 2004, pag. 30).
do Governo Federal alinha-se a esta perspectiva Esta definição assemelha-se sobremaneira
quando entende que fazer prevenção do uso com a proposta da terapia comunitária, funda-
indevido de drogas é promover a inclusão mentada nos termos da abordagem sistêmica, da
social, em especial daquelas populações antropologia cultural e da teoria da comunicação.
cujas demandas pessoais e sociais colocam-nas O próprio movimento da terapia
mais expostas aos fatores de risco e, portanto, comunitária no Brasil é uma grande rede que se
mais vulneráveis ao uso indevido de drogas. torna parte de outra rede ampliada de prevenção.

SENAD 17
Na rede de prevenção pode-se citar diretrizes da PNAD e os princípios do Sistema
escolas, serviços de saúde, igrejas, grupos de ajuda Único de Saúde - SUS, devendo realizar-se de
mútua, associações de bairro, entre outros. maneira intersetorial e descentralizada e na
Todos estes recursos podem contribuir perspectiva das políticas de saúde mental, através
efetivamente com a prevenção do uso indevido de dos CAPSad - Centros de Atenção Psicossocial
drogas, pois dizem respeito diretamente à qualidade para álcool e outras drogas.
de vida das pessoas. A terapia comunitária, neste A partir de seu quadro de pessoal
contexto, e com suas especificidades de acolhi- especializado, cabe a cada equipe dos CAPSad
mento, valorização das competências comunitárias construir seu projeto terapêutico, de acordo com
e individuais e possibilidades de encaminhamen- as competências e recursos disponíveis na rede de
tos, qualifica-se como uma importante ponte de saúde e na comunidade.
referência nesta rede para a atenção às questões Considerando os princípios da PNAD e
relacionadas ao uso de drogas. do SUS, que contemplam o trabalho comunitário
Os objetivos de uma rede social e os na prevenção e na assistência de dependentes
objetivos da terapia comunitária confundem-se, de drogas, a TC constitui-se em um recurso
tal a proximidade conceitual e ideológica. comunitário que se integra à rede de oferta
Dentre estes destacam-se: de serviços disponibilizados na comunidade.
A TC deve, portanto, articular-se visando a
“Oportunizar um espaço para a reflexão, troca de efetivação de parcerias com as equipes profissionais
experiências e busca de soluções para problemas dos CAPSad, dos hospitais, dos centros de saúde,
comuns; e mobilizar pessoas, grupos e instituições das comunidades terapêuticas, dos ambulatórios,
para a utilização de recursos existentes na própria entre outros. Para tanto, o terapeuta comunitário
comunidade” (Duarte, 2004, pag. 30). deverá conhecer os serviços existentes na sua
cidade, colocando-se como mediador entre a
Os terapeutas comunitários têm acesso equipe profissional e a comunidade.
aos não-usuários de drogas e usuários (com suas A terapia comunitária não tem como
especificidades apresentadas a seguir), familiares, proposta realizar o tratamento das dependências,
vizinhos. Conhecer melhor as diferenças entre mas poderá contribuir de forma significativa em
os tipos de usuários possibilita utilizar melhor os cada uma das suas etapas, atuando diretamente
recursos disponibilizados pela terapia comunitária junto aos dependentes ou, de forma indireta,
como acolhimento, reinserção social e encaminha- através de ações com suas famílias, com os
mentos para outros serviços. demais membros das comunidades e com as
equipes profissionais.
O terapeuta comunitário precisa conhecer
A Terapia Comunitária e o as características do tratamento, em suas
Tratamento de Dependentes diferentes etapas, para poder auxiliar a
comunidade na especificidade de cada momento
de Drogas do processo.

A terapia comunitária pode se constituir


como instrumento facilitador na formação de redes
solidárias para o enfrentamento do uso indevido de
drogas e de problemas associados à dependência.
Fundamentada na visão mais ampla de
dependência, visa a resgatar a inclusão dos
sujeitos na família e na comunidade. Esta forma de
trabalho permite que se avance do modelo da
assistência ao modelo das redes de solidariedade e
da inclusão social.
A atual política de assistência espe-
cializada para dependentes de drogas segue as

18 SENAD
A Prevenção do uso de Drogas
e a Terapia Comunitária

O Tratamento Propriamente
Dito
A evolução dos modelos de tratamento
para os dependentes de drogas do regime de
internação para os regimes predominantemente
ambulatoriais e de abordagem comunitária, está
consolidada através da nova política de saúde
mental (portaria 336/GM, Ministério da Saúde,
19/02/02) que estabelece os Centros de Atenção
Psicossocial - CAPs como unidades de serviço para
o atendimento, tanto de pessoas com transtornos
mentais como de pessoas com transtornos decor-
rentes do uso prejudicial e da dependência de
substâncias psicoativas.
Foram, então, criados os Centros de
Atenção Psicossocial - CAPSad para atendimento
de pacientes com transtornos decorrentes do uso de
substâncias psicoativas.
As características estabelecidas para os
CAPSad deixam muito claro que a natureza do
atendimento é predominantemente ambulatorial,
de atenção diária, devendo o gestor local respon-
Como o Terapeuta sabilizar-se pela organização da demanda e pelo
mapeamento da rede de instituições de atenção a
Comunitário pode contribuir usuários de álcool e outras drogas no âmbito de seu
para o Tratamento de território.
A assistência prestada ao paciente no
Dependentes de Drogas? CAPSad inclui as seguintes atividades: atendi-
mento individual (medicamentoso, psicoterápico,
O uso de drogas nos remete a um de orientação, entre outros); atendimento em
questionamento que vai além da pessoa do usuário, grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividade de
ampliando-se para uma reflexão e intervenção suporte social, entre outras); atendimento em
junto a todas as pessoas envolvidas. oficinas terapêuticas; visitas e atendimentos
A TC pode contribuir efetivamente com domiciliares; atendimento à família; atividades
o tratamento de dependentes químicos como comunitárias, enfocando a integração do
um recurso mobilizador da rede social de apoio dependente químico na comunidade e sua inserção
ao usuário, contribuindo para a melhoria da familiar e social.
qualidade das suas relações afetivas e sociais junto A TC pode representar uma importante
aos diferentes grupos aos quais pertence. parceria nas atividades grupais dos serviços junto
Neste contexto, deve atuar na condição de aos familiares e aos pacientes, desde que o terapeu-
exclusão da qual sofrem as pessoas dependentes ta se sinta em condições para tal.
de drogas, em geral estigmatizadas e rejeitadas Um trabalho importantíssimo é o da
nos diferentes contextos, inclusive na família. mobilização familiar e comunitária para que a
Uma das características importantes do pessoa em tratamento não seja excluída de sua
tratamento de dependentes de drogas é que o mes- comunidade ou estigmatizada pelo fato de ser
mo se compõe de diferentes etapas: acolhimento, diagnosticada como dependente. A TC pode atuar
tratamento propriamente dito e reinserção social. na superação do estigma atribuído aos dependentes
Entendemos que a TC pode contribuir em de drogas em tratamento, como pessoas fracas de
cada uma destas etapas e, por isso, é importante caráter ou delinqüentes, contribuindo para que a
conhecê-las. comunidade assimile esta problemática como uma
questão de saúde.

SENAD 19
A Reinserção Social de drogas e sobre o tratamento de usuários
e dependentes, bem como oferecer apoio
A TC pode prestar um imenso benefício na afetivo, emocional direto aos familiares e/ou
fase da reinserção social do dependente que poderá usuários. Devem mobilizar uma rede de apoio
ser convidado às reuniões para compartilhar com o a partir do próprio grupo da TC.
grupo seu processo de recuperação e, também, ser Para tanto, deverão se manter atualizados
incentivado para que continue o tratamento. Tais quanto aos recursos existentes na comunidade
medidas podem facilitar sua reintegração social em que estão inseridos, mantendo constante
com a (re)construção de seu vínculos de amizade articulação com as instituições de atendimento.
e de ajuda. Os CAPs ad, os centros de saúde e os
Nesta fase de retorno ao convívio social hospitais devem ser contatados na tentativa de
e de resgate das perdas ocorridas, é importante conhecer quais são os profissionais da rede que
que o grupo possa auxiliar a pessoa no resgate de estão realizando atendimento a esta clientela, nos
seus contatos familiares, profissionais e sociais, ambulatórios de saúde mental ou nos serviços de
pois este se constitui num dos objetivos da Terapia psicologia e de serviço social. Alguns hospitais
Comunitária: construir vínculos com intuito de universitários também têm se mostrado pioneiros
oferecer apoio a indivíduos e famílas em em projetos de vanguarda para o tratamento de
situações de sofrimento. dependente químicos.
É importante estabelecer parcerias entre
a terapia comunitária, os demais serviços sociais
O Papel do Terapeuta disponíveis (governamentais ou não), os serviços
Comunitário junto aos de saúde e de assistência da comunidade nas
ações preventivas, de tratamento e também de
Serviços de Saúde redução de danos. Este papel de mediador entre a
comunidade e os diferentes serviços promoverá o
Os terapeutas comunitários podem fortalecimento da rede secundária (institucional)
desenvolver um trabalho de conscientização e de tão importante no caso das dependências de
orientação sobre a prevenção do uso indevido drogas.

20 SENAD
A Prevenção do uso de Drogas
e a Terapia Comunitária

Sugestões de Dinâmicas de mais próxima, tanto para acolher esta pessoa,


conhecer melhor sua dificuldade, como para
Mobilização e Abordagem encaminhá-la para algum serviço especializado, se
for necessário.
sobre o Tema Drogas Sentimentos comuns como frustração pela
falta de controle sobre o próprio comportamento,
O tema drogas é bastante comum nas decepção consigo e com as pessoas mais próximas,
reuniões de terapia comunitária. Pesquisa realizada impotência, raiva de si mesma e de outras pessoas,
junto aos terapeutas apontou o alcoolismo como o sentimento de ser incompreendido, fracasso,
segundo tema mais presente nas sessões. negação do próprio problema são recorrentes.
Os participantes falam sobre o seu É bastante comum que, ao invés do usuário,
consumo ou de algum familiar e dos sentimentos compareça à terapia um familiar. Em geral, os
que estão associados. sentimentos relatados são de mágoa, culpa, raiva
Os principais sentimentos que emergem do usuário, frustração por não conseguir ajudá-lo
serão apresentados, bem como algumas propostas efetivamente, desespero ou mesmo indiferença.
de motes, músicas e ditados populares que podem Cada um destes sentimentos devem ser
auxiliar o terapeuta na condução das terapias com identificados pelo terapeuta no momento da
esta temática. contextualização, de modo a verificar qual
Quando o usuário se faz presente na deles está em destaque naquele momento. São
reunião é importante acolhê-lo, ressaltando a sentimentos mobilizados pela presença do uso de
importância de sua presença naquele espaço e drogas, mas que podem ser facilmente identificados
qualificando a terapia como um local de cuidado em outras experiências de vida, o que proporciona
de si e dos outros. É importante o terapeuta estar a elaboração de motes que beneficiem todos os
atento ao usuário e reservar um pequeno espaço participantes.
de tempo ao final da terapia para uma conversa

Exemplos de Motes:
Importante
• “Quem já viveu uma experiência de frus-
tração e como fez para resolvê-la ou lidar melhor
com ela?” Nas sessões de terapia, a realização
• “Quem já sentiu que perdeu o controle de rituais tem um grande valor agregador
diante de alguma situação? Como se sentiu? O que e facilitador de uma tomada de consciência
fez?” e de ampliação da percepção do problema
• “Quem já teve dificuldade de perdoar e das possibilidades de solução.
alguém e o que fez para mudar isto?”
Os rituais são momentos com uma
• “Quem já teve raiva de si mesmo? Como
presença forte de elementos simbólicos que
fez para resolver?”
condensam uma determinada experiência.
• “Quem já se sentiu dependente de algo ou
alguém e como fez para resolver?”
• “Onde mora o prazer para cada um?”

SENAD 21
Rituais 3) Ritual do prazer:

Objetivo: ampliar as possibilidades de prazer, sem


1) Ritual do perdão: que o uso de drogas seja necessário.
Objetivo: perdoar a si e perdoar ao outro.
Orientações ao grupo: solicitar que todo o grupo
Orientações ao grupo: solicitar aos participantes reflita e responda: onde mora o prazer para mim?
que pensem a quem gostariam de perdoar e a quem
4) Ritual da aceitação:
gostariam de pedir perdão. Em seguida, as pessoas
que desejarem, compartilham com o grupo o que Orientações ao grupo: solicitar que os participantes
pensaram. do grupo se dividam em duplas, um de frente para
o outro – olhos nos olhos - dizendo: eu (dizer o
2) Ritual do amor incondicional: próprio nome) te aceito (dizer o nome do outro)
como você é.
Objetivo: incentivar no grupo a reflexão
sobre o amor a pessoa, que não se restringe a um
comportamento isolado. Sugestões de Ditados
Amar a pessoa – não aceitar o seu comportamen-
to.
Populares
-Águas passadas não movem moinhos;
Orientações ao grupo: cada pessoa do grupo deve
-Água mole em pedra dura, tanto bate até que
eleger alguém para declarar amor incondicional.
fura;
Devendo na sua vez, dizer a seguinte frase: eu amo
-Antes só do que mal acompanhado;
(fulano), só não aceito seu comportamento de ....
-Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje.

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A Prevenção do uso de Drogas
e a Terapia Comunitária

Recursos da Comunidade
Apresentamos abaixo algumas indicações de instituições públicas, privadas e órgãos
não-governamentais das quais você poderá dispor, caso queira obter outras informações que possam
auxiliá-lo no seu dia-a-dia de trabalho:
SENAD - Secretaria Nacional Antidrogas UDED – Unidade de Dependência de Drogas da
www.senad.gov.br Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP
e-mail: prevencao@planalto.gov.br www.unifesp.br/dpsicobio/uded
Palácio do Planalto
Anexo II – Sala 207 B PROAD - Programa de Orientação e Atendimento
Cep 70150-901 – Brasília/DF – Brasil a Dependentes do Departamento de Psiquiatria da
Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
OBID – Observatório Brasileiro de Informação http://www.unifesp.br/dpsiq/proad
sobre Drogas (11) 5579-1543
www.obid.senad.gov.br
GREA - Grupo Interdisciplinar de Estudos de
VIVA VOZ - Orientações e informações sobre a Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria do
prevenção do uso indevido de drogas Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
0800 510 0015 da USP
www.grea.org.br
CONENS ou CEADS - Conselhos Estaduais
sobre Drogas HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN
www.obid.senad.gov.br www.eisntein.br/alcooledrogas

COMENS e COMADS - Conselhos Municipais FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ – FIOCRUZ


sobre Drogas www.fiocruz.br
www.obid.senad.gov.br
ALCÓOLICOS ANÔNIMOS
MINISTÉRIO DA SAÚDE www.alcoolicosanonimos.org.br
Programa Nacional de DST e AIDS
www.aids.gov.br GRUPOS FAMILIARES – NAR – ANON
www.naranon.org.br
CAPS e CAPSad
Disque Saúde: 0800 611997 NARCÓTICOS ANÔNIMOS
www.saude.gov.br www.na.org.br

www.adolec.org AMOR EXIGENTE


www.amorexigente.org.br
OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde
www.opas.org.br ABRATECOM - Associação Brasileira de Tera-
pia Comunitária
CEBRID – Centro Brasileiro de Informações so- www.abratecom.org.br
bre Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal
de São Paulo/UNIFESP REDUC - Rede Brasileira de Redução de Danos
www.cebrid.epm.br www.reduc.org.br

UNIAD – Unidade de Pesquisa em Álcool e PASTORAL DA SOBRIEDADE


Drogas da Universidade Federal de São Paulo/ www.sobriedade.org.br
UNIFESP
www.uniad.org.br/cuida

SENAD 23
Filmes
A Corrente do Bem
2000. Direção: Mimi Leder

28 Dias
2000. Direção: Betty Thomas

Quando Um Homem Ama Uma Mulher


1994. Direção: Luis Mandoki

Todos os Corações do Mundo


1995. Direção: Murilo Salles

Ilustração
Ateliê de Arte e Terapia do MISMEC-CE / Projeto 4 Varas
Desenhos produzidos por filhos de alcoolistas participantes do Projeto 4 Varas

Projeto Gráfico e Diagramação


Vitor Hugo Manzi

24 SENAD
Venda Proibida.
Esta publicação é parte integrante do material didático do Curso de Formação em Terapia Comunitária com ênfase na Prevenção do uso de Àlcool e outras Drogas, promovido pela

A Terapia Comunitária constitui-se numa


metodologia de atenção às questões relativas ao uso
de álcool e outras drogas no contexto comunitário.
É um recurso efetivamente preventivo e, também,
complementar ao tratamento e facilitador da reinserção
social do dependente químico.

A Terapia Comunitária está de acordo com


as orientações da Política Nacional sobre Drogas,
mais especificamente no que tange ao fortalecimento
das redes sociais que visem à melhoria das condições de
vida e promoção geral da saúde.
Secretaria Nacional Antidrogas�

Universidade Federal do Ceará


A Prevenção do Uso de Drogas
e a Terapia Comunitária
A Prevenção do uso de Drogas
e a Terapia Comunitária

Copyright© - 2006 - Secretaria Nacional Antidrogas - SENAD

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