Entenda o caso
Em 2008, o então presidente Lula sancionou a Lei 11.738, conhecida como Lei do
Piso do Magistério e que regulamenta a base salarial dos professores em todo o Brasil. Na
época, a Lei determinava um valor de R$950,00, somados aí o salário e as gratificações e
vantagens para uma carga horária de até 40 horas semanais para os profissionais com
formação de nível médio. O valor ainda que não fosse o ideal e reivindicado pela CNTE,
dava forças para que a categoria seguisse confiante no trabalho e na luta por um salário
melhor.
Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Ceará contestaram
e, com o argumento de que não tinham recursos para pagar o valor determinado em Lei,
entraram no mesmo ano com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade. Em dezembro de
2008, a Ação foi julgada (liminarmente) pelo Supremo que reconheceu a legitimidade da Lei,
porém com a limitação de dois dispositivos: o da composição do piso e o que trata da jornada
fora de sala de aula. Estes dois pontos ficaram para ser julgados mais tarde e são estes
pautados para julgamento no dia 17. Em janeiro deste ano o governador do Rio Grande do
Sul, Tarso Genro, pediu a exclusão do seu estado da Ação. Pedido que foi negado pelo
ministro Joaquim Barbosa, já que, no entendimento dele, o relatório já havia sido entregue.
Composição do Piso
Segundo os governadores que entraram com a ADI, os estados não estão preparados
para suportar a despesa de pagar um valor mínimo para os professores. Argumento que foi
arduamente contestado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. Segundo ele, no texto
que criou o Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), em 2006, já havia a previsão para a
instituição de um piso nacional para os professores. "Eu entendo que essa ADI não deva
prosperar porque foi feita uma mudança na Constituição prevendo o piso. Então, se foi feita
uma emenda constitucional, não há porque julgar inconstitucional uma lei que regulamenta
esse dispositivo", alegou.
Além disso, o MEC anunciou que vai liberar este ano 1 bilhão de reais para as
prefeituras que comprovarem que a falta de dinheiro foi causada exclusivamente pela
implementação do Piso e seus reajustes. Em fevereiro, o MEC reajustou o valor do Piso de
R$1.024,00 para R$1.187,97.
Jornada extraclasse
A Lei define no parágrafo quatro do artigo 2º o cumprimento de, no máximo, 2/3 da
carga dos professores para desempenho de atividades em sala de aula. Sobre este ponto, os
governadores alegam que com o aumento das horas que cada professor terá que cumprir
para o planejamento das aulas e a consequente diminuição das horas dentro de sala de aula,
os estados vão ser obrigados a contratar mais profissionais. Com a aprovação da Lei do Piso
os mestres devem reservar 33% do seu tempo com planejamento. Para os governadores,
esta obrigação interveio na organização dos sistemas de ensino estaduais. A Lei de
Diretrizes e Bases (LDB) diz como seriam os sistemas de ensino nos estados, mas cada
estado tem sua autonomia.
Para a CNTE, o tempo destinado para o planejamento das aulas é importante para
elevar a qualidade do ensino. “Um professor sem tempo para planejar o que irá passar para
o aluno, acaba fazendo um mau trabalho. Esta jornada extraclasse não é para descansar.
Continua sendo mais uma etapa do trabalho”, explicou Leão.
Reajustes
Além da luta pela implementação do Piso, a CNTE briga pela aplicação do reajuste
conforme estabelece a Lei. A lei aprovada pelo Congresso fixa como parâmetro o aumento
de gasto por aluno/ano no Fundeb. A divergência é se deve ser considerada a variação do
ano anterior, isto é, de 2009 e 2010, ou a atual, de 2010 para 2011. A Advocacia-Geral da
União (AGU) argumenta que, em 2011, só existe uma estimativa de receita e que seria
temerário dar um reajuste com base em previsões. Já a CNTE diz que a lei é clara e fala no
ano atual e aconselha os sindicatos a contestarem o Piso do MEC na justiça.
No ano passado o MEC reajustou o Piso de R$950,00 para R$ 1.024,67, mas a CNTE
reivindicou o aumento para R$ 1.312,85, que, infelizmente, não foi atendida. Para este ano, a
CNTE afirma que o reajuste deveria ser de 21,71%, o que elevaria o valor do Piso para
R$1.597,87. No dia 24 de fevereiro o MEC anunciou o reajuste de 15,84%, o que significa
que o valor do Piso dos Professores passa a ser de R$1.187,97. Uma diferença
considerável.
Para Roberto Leão é importante que a Ação seja julgada agora. “Temos muitos
estados em greve por culpa, principalmente, da má remuneração dos educadores.
Convocamos nossas afiliadas a lutar pela correta aplicação do Piso. Temos a convicção de
que não é justo protelar mais este julgamento e que o STF irá honrar a Casa votando não
apenas a favor dos professores, mas de toda a nação que depende de cidadãos bem
educados para levar o país rumo ao progresso”, concluiu. (CNTE)