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ROSANA LUÍZA DESTRO KEPPE

TENDÊNCIA ANTI-SOCIAL:
A COMPREENSÃO DOS PAIS SOBRE A
AGRESSIVIDADE DE SEUS FILHOS

Trabalho apresentado no Centro Universitário Paulistano


Curso de Psicologia
Orientadoras: Profa. Alessandra H. Ferrari
e Prof. Maria Gabriela dos S. Pereira

SÃO PAULO

2005
I

KEPPE, ROSANA LUÍZA DESTRO: TENDÊNCIA ANTI-SOCIAL: A


COMPREENSÃO DOS PAIS SOBRE A AGRESSIVIDADE DE SEUS FILHOS.

RESUMO

A característica da Tendência Anti-Social é o impulso que ela dá ao menino ou menina


para alcançar o que havia antes do momento ou da condição de deprivação. Esta criança
primeiro sofreu uma experiência intensa de abandono e em seguida reorganizou-se na
forma de alguém que se encontra em estado neutro, submetendo-se, porque não há nada
mais que a criança seja suficientemente forte para fazer. Este estado pode parecer
bastante satisfatório , do ponto de vista dos que cuidam dela. E então, por uma ou por
outra razão, a esperança ressurge: sem ter consciência e desenvolvendo mecanismos de
dissociação, a criança começa a sentir uma certa urgência em voltar atrás, para além do
momento da deprivação, quando tudo ia bem, para assim desfazer o pavor à angústia
impensável ou à confusão que se instalou enquanto o estado neutro ainda não se havia
organizado.
Na síndrome, a criança vai em busca de algo que julga ter perdido e então dirige sua
agressividade primeiro para a mãe e depois, se a situação não se resolver, para os seus
substitutos simbólicos.
A Tendência Anti-Social pode ocorrer em crianças; em adolescentes, torna-se
delinqüência e, na idade adulta, psicopatia, caso o indivíduo não receba o tratamento e
os limites necessários nas fases iniciais da vida.

PALAVRAS-CHAVE: DEPRIVAÇÃO, AGRESSIVIDADE, ESPERANÇA,


REIVINDICAÇÃO, DISSOCIAÇÃO, ABANDONO
II

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 1

2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS ............................................................... 3

2.1 DESENVOLVIMENTO INFANTIL NORMAL .......................................... 3

2.2 A TENDÊNCIA ANTI-SOCIAL .................................................................. 12

2.3 A AGRESSIVIDADE .................................................................................... 16

3. MÉTODO .......................................................................................................19

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................20

5. CONCLUSÃO ................................................................................................32

6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................33

6.1 QUESTIONÁRIO ......................................................................................... 34


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1. INTRODUÇÃO

A família é constituída por vários indivíduos que compartilham circunstâncias históricas,

culturais, sociais, econômicas e afetivas. É uma unidade básica de desenvolvimento de

experiências, de realização ou de fracasso. Nestas relações, caberia aos pais ensinar estas

circunstâncias e aos filhos aprendê-las. (Ferrari e Vecina, 2002).

O processo familiar e de sociabilização infantil (que ocorre nas primeiras fases de seu

desenvolvimento e se complexifica ao longo da vida), é realizado e compartilhado por dois ou

mais adultos, pois as crianças necessitam confirmar os conceitos que foram transmitidos,

auxiliando-as na internalização daquilo que lhe está sendo ensinado. (Ferrari e Vecina, 2002).

A criança necessita de uma figura afetiva estável, onde esta desempenha o papel de

mediador da construção de sua identidade. Seu processo de identificação será conturbado, se

neste contexto familiar que a recebe não for continente e protetor. (Ferrari e Vecina, 2002).

Um bom vínculo entre pais e filhos, uma relação de confiança, espontaneidade e

transparência, só são possíveis se cada um dos componentes dessa interação, puder realizar

uma aprendizagem emocional satisfatória.

Freud (apud Ferrari e Vecina, 2002) ressalta a tarefa de socialização da família e na

contribuição para a formação da personalidade dos indivíduos, mediante a constituição de

vínculos afetivos. O psiquismo não é algo dado pela natureza, mas fruto de uma construção

cultural que ocorre ao longo do desenvolvimento infantil, no contexto das relações familiares.

Já Winnicott (apud Ferrari e Vecina, 2002), quando fala dos cuidados maternos e da

função básica da família, para uma compreensão psicológica, descreve uma “mãe

suficientemente boa” como aquela que se adapta plenamente, às necessidades do bebê,

reconhecendo-lhe as diferentes manifestações de fome, frio e dor. O bebê é, nesse momento

inicial de seu desenvolvimento, um ser frágil e completamente dependente do outro. Assim, a


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devoção da mãe ou de sua substituta, em sua maneira de segurar, manusear e dar significado

ao mundo é indispensável para que o bebê possa dar continuidade a um crescimento saudável.

Uma criança que não recebeu esses cuidados básicos, sofreu em maior ou menor grau, uma

privação. Isso poderia acarretar prejuízos, abrindo caminhos para o surgimento de sintomas,

como por exemplo, comportamentos anti-sociais.

De acordo com Winnicott (1999), a tendência anti-social, então, seria um problema que

ocorre na infância e, caso não seja tratado, evolui para a delinqüência, na adolescência,

definindo-se mais tarde, na vida adulta, como psicopatia.

Assim, será que os pais percebem traços de tendência anti-social em seus filhos? Será

que os pais sabem o que venha a ser a Tendência Anti-Social? Portanto, a presente pesquisa

visou compreender se os pais detectam traços desta variável, bem como explicar os seus

motivos e preocupações quanto a estes comportamentos.

De modo geral, este trabalho se dirige a psicólogos, psicanalistas, educadores e

profissionais de áreas afins, propondo uma reflexão sobre o modelo vigente de educação, com

vistas à compreensão dos sentimentos envolvidos na relação entre pais e filhos, sobretudo

quando a responsabilidade faz com que limites se tornem importantes nessa relação.
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2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

2.1. DESENVOLVIMENTO INFANTIL NORMAL

Todo indivíduo é dotado de uma tendência inata ao amadurecimento e não há nada

que possa ser qualificado como saudável ou doente, dentro do processo da existência

humana, que seja desvinculado e independente das condições ambientais às quais

esse mesmo indivíduo pertence ou teve origem.

A teoria do amadurecimento pessoal é o ponto nuclear do pensamento analítico de

Winnicott, que a considerou como a “espinha dorsal” (backbone) do seu trabalho

teórico e clínico.

Segundo Elza Oliveira Dias (2003), essa teoria dá ênfase aos estágios iniciais da

criança, período esse em que estão sendo constituídas as bases da personalidade e da

saúde psíquica, sobretudo o que se passa na relação mãe-bebê, descrevendo as

necessidades humanas fundamentais desde as etapas mais primitivas até a morte do

indivíduo, bem como as condições ambientais que favorecem a constituição de sua

identidade, incluindo-se a capacidade de relacionamento com o mundo e com os objetos

externos, assim como o estabelecimento de relacionamentos interpessoais.

Na normalidade, é o ambiente que se adapta ao bebê e, à medida que este

amadurece, na presença do ambiente facilitador, ele vai criando não apenas um, mas

vários sentidos do real. Para Elza Oliveira Dias (2003), a criança, inicialmente, faz o

sentido contrário, ou seja, se ela se adapta ao ambiente, isso pode ser o início da

formação de um falso si-mesmo patológico. Diante disso, pergunta-se: como será a

personalidade de uma criança que está se desenvolvendo normalmente? Como será o

processo de caráter que está se fortalecendo em bases saudáveis?

A perspicácia de uma criança não acarretará um atraso no processo de

amadurecimento da personalidade. Para Winnicott, (1999) sempre que há uma


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suspensão em algum ponto do desenvolvimento emocional, a criança retrocede para agir

como se fosse uma criança menor. O adulto também procede dessa maneira quando,

frustrado, torna-se grosseiro ou apresenta uma reação de raiva tal que isso lhe provoca

um sintoma físico como uma taquicardia ou uma enxaqueca, por exemplo. Assim como

a pessoa equilibrada tem maneiras mais refinadas de enfrentamento de situações

problemáticas, espera-se o mesmo na criança pequena, que tem todos os sentimentos

dos seres humanos adultos, embora sua relação com o mundo esteja só no início.

A infância é um processo gradual de formação de crenças em pessoas e coisas e

esse período é elaborado aos poucos, através de experiências satisfatórias onde algumas

necessidades são atendidas e justificadas, e de experiências ruins, onde a raiva, o ódio e

a dúvida também podem surgir. Sendo assim, a criança tem que encontrar um lugar

onde possa agir e a partir do qual possa construir um método pessoal para conviver com

seus impulsos destrutivos (Winnicott, 1999, idem).

“Façamos então a pergunta: por que a pessoa normal e sadia tem, simultaneamente, a
sensação da realidade do mundo e da realidade do que é imaginativo e pessoal? O que
aconteceu para que você e eu ficássemos assim? É uma grande vantagem ser assim, pois desta
maneira podemos usar a nossa imaginação para tornar o mundo mais emocionante e usar o
mundo real para exercer a nossa capacidade imaginativa. Será que crescemos assim mesmo?
Bem, o que quero dizer é que não crescemos assim se, no princípio, cada um de nós não tiver
uma mãe capaz de nos apresentar ao mundo em pequenas doses.”

(Winnicott: A criança e o seu mundo, 1982, p. 77)

Winnicott (1982) apresenta a criança normal como vivaz, esperta, brincalhona e

espontânea. Uma criança assim enfrenta os desafios da existência, pois uma vida sem

lágrimas e problemas só pode existir quando há obediência sem espontaneidade.


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“Um lar adaptativo seria difícil de existir para sempre, pois qual seria o alívio para uma
cólera justificada numa criança?”.

(Winnicott, A criança e o seu mundo, 1982, p. 142)

Não há bebê sozinho: há a dupla mãe-bebê. A mãe também é o ambiente da criança e

há normalidade quando ambos se compreendem e se ajudam dentro de seus recursos

naturais.

Uma criança normal emprega os recursos que a natureza lhe ofereceu para

defender-se contra a angústia e os conflitos que não tolera. No entanto, esse tipo de

capacidade, que envolve discernimento, é ainda bastante reduzida nessa fase, pois não é

fácil discernir qual tipo de auxílio está ao alcance da criança. A anormalidade revela-se

na limitação e na rigidez da capacidade infantil para discernir qual tipo de auxílio está

ao seu alcance. (Winnicott, 1982, p. 143)

A criança pode urinar na cama como um protesto contra a severidade da mãe.

Urinando na cama, ela se defende em relação aos seus direitos, de maneira que não

adiantaria à essa criança receber um medicamento contra enurese noturna pois, ao

contrário de uma doença, ela estaria sinalizando que conserva sua individualidade que

sente ter sido ameaçada pelas ordens da mãe. Após algum tempo, se for orientada e

compreendida pela mãe, esta criança acaba abandonando o sintoma e adotando uma

maneira saudável para afirmar sua personalidade frente a frustrações. Ela está

aprendendo a discernir entre bom e mau, entre o que gosta e o que não gosta.

Winnicott, (1982) chama de “sintomas” aos recursos empregados pelas crianças

para defesa de seus interesses em circunstâncias apropriadas. A criança saudável

também grita e explode de raiva porque ela gravita em torno de sua própria realidade
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interna, onde o prazer é a tônica, sendo que uma das tarefas principais daqueles que

cuidam de crianças é auxiliá-las a transitar pelos pólos da ilusão e da desilusão.

A criança saudável e normal tem grande alegria proveniente da satisfação de seus

impulsos imediatos. Muitas vezes, no entanto, ao unir-se a um grupo, acaba precisando

passar por um período de desilusionamento, onde parte dessa espontaneidade tem que

ser abandonada para integração aos outros. (Winnicott, 1982, p. 145)

“Contudo, nada poderá ser abandonado que não tenha sido primeiro descoberto e possuído.
Quão difícil é para a mãe certificar-se de que cada criança adquiriu, por seu turno, o
sentimento de ter conhecido o essencial do amor, antes de se lhe pedir que tolere e prossiga
com menos que tudo! São realmente de esperar choques e protestos, em ligação com uma
aprendizagem tão dolorosa.”

(Winnicott,:1982, p..145)

Ainda sobre o processo de desilusão e sua importância para o desenvolvimento

saudável da criança, pode-se dizer que o bebê só é capaz de alcançar o final do processo

de desilusão se já experimentou a ilusão de ser Deus, o criador do mundo. Ele é

desiludido ao despertar de sua ilusão, ao compreender que verdadeiramente não o é. Se

a ilusão tiver um término apressado, ou seja, antes de o bebê estar preparado para

reconhecer este fato, provavelmente, ele sofrerá um trauma.

O processo de desilusão na vida do bebê ocorre quando a mãe começa a sair do

estado de preocupação materna primária, quando o bebê é muito dependente e precisa

dela para tudo. Nesta fase, com o bebê mais crescido, a mãe passa a não estar tão

integralmente acoplada a ele e então começam a ocorrer “desadaptações” e “falhas”

de sua parte, não significando que ela abandona o filhinho. A partir disso, o bebê vai se

adaptando a uma nova fase, vai saindo da ilusão de que é um Deus, que cria todas as
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coisas: a mãe, a fralda limpa, o leite na hora certa, o embalo e o brinquedo que o distrai.

Ele vai percebendo o mundo ao seu redor, o não-eu. Esse processo, inclusive, deve

acontecer gradualmente, pois se a ilusão tiver um término apressado, ou seja, antes de o

bebê estar preparado para reconhecer este fato, provavelmente sofrerá um trauma.

(Abram, Jan: 2000, página 160)

Ainda acompanhando as idéias de Winnicott:

“Consequentemente existe um aspecto normal no trauma. A mãe é sempre


‘traumatizada’ no bojo da adaptação. É dessa forma que o bebê faz a passagem da
dependência absoluta para a dependência relativa. Porém, o resultado não é o mesmo
de um trauma, pois a habilidade da mãe de sentir a capacidade do bebê, minuto após
minuto, emprega novos mecanismos mentais. O sentimento de não-eu que o bebê
apresenta depende da atuação da mãe nesse campo do cuidado materno. Os pais atuam
conjuntamente, fazendo com que a família opere como uma unidade, o que dá
continuidade ao processo de desilusão da criança.” (apud - Abram, Jam – A linguagem
de Winnicott, 2000, p. 160.
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Ainda dentro da linguagem de Winnicott, a mãe falha e passa a corrigir as suas falhas,
ensinando ao bebê e à criança o significado da confiança materna:

“O bebê nada sabe a respeito da comunicação, a não ser dos efeitos da falta de
confiança. É quando se estabelece a diferença entre a perfeição mecânica e o amor
humano. Os seres humanos sempre falham: no decorrer dos cuidados comuns a mãe
tenta o todo corrigir suas falhas. Essas falhas relativas, com a imediata reparação,
indubitavelmente somam-se finalmente à comunicação a fim de que o bebê venha a
conhecer o que é o sucesso. Uma adaptação bem sucedida, portanto, origina o
sentimento de segurança, o sentimento de ser amado. Como analistas, temos pleno
conhecimento desse fato, pois falhamos sempre, esperamos e nos zangamos. Se
sobrevivermos, seremos usados. Existem incontáveis falhas que são seguidas dos
cuidados que corrigem aquilo que acaba por transformar-se na comunicação do amor.
Mas de fato existe um ser humano ali para cuidar. Quando a falha não é corrigida no
tempo exigido, em segundos, minutos ou horas, empregamos o termo privação. A
criança privada é aquela que, após experimentar a correção dessas falhas, vive uma
falha que não é corrigida. É então que o empenho da criança cria as condições
necessárias para que a correção das falhas uma vez mais dite um modelo para sua
vida.”(apud - Abram, Jan in “A linguagem de Winnicott” 2000)

É difícil para a criança esse processo que envolve o estar dentro do princípio de

realidade: perde-se algo aqui, paga-se o preço pela própria liberdade ali. A criança

saudável não aceita isso assim tão facilmente. Protesta porque aprender é doloroso, é

algo que pode frustrar suas expectativas.

A criança normal também tem o direito de manifestar-se ansiosa ou não por

alimento. Ela tem o direito de recusar o alimento bom para aprender a diferenciá-lo do

não bom. Testa todas as condições para aprender e crescer. Se a sua mãe souber

contornar os sintomas da criança, sem entrar em pânico com toda a agitação que

algumas crianças conseguem provocar no ambiente para testá-lo, estará dando


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assistência suficientemente boa para seu filho, agindo de modo natural. (Winnicott,

1982).

Até aqui, falou-se basicamente das relações da criança com a sua mãe. E a presença

do pai? Ele é essencial na vida da criança, pois a insere na realidade. Entretanto, podem

surgir dificuldades em relação ao reconhecimento da figura paterna na trajetória diária

da criança pequena; dúvidas quanto a contar ou não com a presença desse pai. Podem

surgir sintomas e complicações, seja por amor, seja por sentimentos mistos de ódio e

amor, ou até por ciúmes da mãe ou do pai; mesmo assim, a criança vai precisar

enfrentar esse outro lado da realidade: o mundo das relações. Deve seguir em frente,

desafiando todo e qualquer lado mais complexo da realidade externa, até mesmo o que

inclui o nascimento de irmãozinhos novos que chegam para retirar-lhe o lugar central na

família. (Winnicott, idem, p. 146)

Concluindo, podemos dizer que pelos desenhos e brincadeiras infantis, pode-se

observar que a criança cria um mundo interior e pessoal. Nesse mundo, onde batalhas

são ganhas e perdidas, a magia se conserva num equilíbrio oscilante. (Winnicott, idem).

Esse mesmo mundo interior vai expressar-se através do corpo da criança por meio de

dores e perturbações corporais e será acompanhado de tensões e angústias do mundo

exterior. A mãe não deve achar que seu filho está doente. O seu corpo poderá ser visto

como o palco de um teatro onde a criança dramatizará suas representações internas e

será possuída por “toda espécie de pessoas reais e imaginárias”. Por vezes, essas

pessoas e animais imaginários “saltarão para fora”. (Winnicott, idem, p. 147).

Os pais dessa criança devem compreender que a criança tem o seu direito de existir

e não devem solicitar que se comporte como um adulto. Se todos esses personagens
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estão num plano externo à personalidade da criança, é por um bom motivo e devem ser

cuidados e respeitados pelos seus pais. (Winnicott, idem, 1982)

A criança saudável brinca e deve ser estimulado o brincar em sua vida pelos pais.

Para Winnicott (1982) se a criança estiver brincando, poderá haver lugar para um

sintoma ou mais, e se ela brincar, sozinha ou com outras crianças, não haverá nenhum

problema realmente grave à vista. A mãe pode sentir-se feliz e saber que há

normalidade se perceber imaginação e prazer nessas brincadeiras, pois isso depende de

uma exata percepção da realidade externa. Isso deve acalmar a mãe, mesmo que a

criança esteja urinando na cama, gaguejando, demonstrando explosões de mau-humor

ou esteja tendo ataques de birra. O brincar sinaliza que a criança está se desenvolvendo

num ambiente bom e estável e que é capaz de tornar-se um ser humano integral, com

todas as possibilidades de ser desejado, acolhido e amado.

“O brincar, baseado como é na aceitação de símbolos, contém possibilidades infinitas. Torna a


criança capaz de experimentar tudo o que se encontra em sua íntima realidade psíquica
pessoal, que é a base do sentimento de identidade em desenvolvimento. Tanto haverá
agressividade como amor.”

(Winnicott,,1999, p. 107)

“A brincadeira, o uso de formas e artes e a prática religiosa tendem, por diversos mas aliados
métodos para uma unificação e integração geral da personalidade. Por exemplo, pode-se
facilmente ver que as brincadeiras servem de elo entre, por um lado, a relação do indivíduo com
a realidade interior e, por outro lado, a relação do indivíduo com a realidade externa ou
compartilhada.”
(Winnicott, 1982, p. 164)
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“Conquanto seja fácil perceber que as crianças brincam por prazer, é muito mais difícil para as
pessoas verem que as crianças brincam para dominar angústias, controlar idéias ou impulsos
que conduzem à angústia se não forem dominados. A angústia é sempre um fator na brincadeira
infantil e, frequentemente um fator dominante. A ameaça de um excesso de angústia conduz à
brincadeira compulsiva, ou à brincadeira repetida, ou a uma busca exagerada dos prazeres que
pertencem à brincadeira; e se a angústia for muito grande, a brincadeira redunda em pura
exploração da gratificação sensual.”
(Winnicott, idem, p.162)
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2.2. ATENDÊNCIA ANTI-SOCIAL

Segundo Winnicott (1999), o comportamento anti-social não está atrelado a um

diagnóstico psiquiátrico, nem se compara à neurose ou psicose. Pode ser encontrado em

indivíduos de todas as idades, desde que, quando crianças, passaram por um histórico de

privação emocional, quando passam a lhe faltar certas características essenciais da vida

familiar. Isso pode acontecer no lar ou em vários outros lugares. A tendência anti-social

é caracterizada por:

“um elemento que compele o meio a ser importante. A criança ou o adolescente, através de
pulsões inconscientes, compele alguém a encarregar-se de cuidar dele”.
(Winnicott, 1999, p. 139)

Quando se estuda o conceito de tendência anti-social, elaborado por Winnicott,


deve-se compreender dois conceitos: privação e deprivação. A privação é a experiência
de abandono experimentada por um bebê quando muito pequeno e antes de ter
desenvolvido na mente a capacidade de diferenciar o eu e o não-eu. Para Winnicott, as
conseqüências da privação levam ao desenvolvimento de defesas radicais que
culminariam na psicose infantil precoce. A deprivação, por sua vez, é uma terrível
experiência de abandono que se passa após um período de bom desenvolvimento e
cuidados adequados que possibilitaram à criança pequena desenvolver um eu capaz de
reconhecer os agentes responsável pelo seu sofrimento no meio externo e é por isso que
suas reações ao que lhe acontece serão direcionadas ao ambiente. (Gorayeb, Raul, 2004)
A deprivação é um primeiro elemento que caracteriza a tendência anti-social e
que permite uma hipótese de origem para o problema. Em reação ao acontecimento,
tendo a criança atingido um grau de maturidade mínimo, desenvolvem-se outros
mecanismos que definirão os outros componentes do quadro. Winnicott descreve que,
ao reconhecer que “o ambiente lhe deve algo”, o bebê dirige sua agressividade para
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fora, e como já reconhece a mãe, ela será o seu alvo preferido. Se com o passar do
tempo essa situação não for tratada, outros alvos serão escolhidos em substituição à
mãe. Muitas vezes ocorrem roubos sintomáticos, que funcionam como se a criança
estivesse recuperando “algo que lhe é devido” (Winnicott, 1999)

Comportamentos anti-sociais podem ser compreendidos como furtos, roubos,


enurese noturna, agressões, fugas, onde tais ações sinalizam que a criança estaria
comunicando “um verdadeiro desapossamento” (Winnicott, 1999, p. 140), como a
perda de algo bom, que foi importante para sua experiência até um certo momento e que
lhe foi retirado por um período maior do que aquele em que se pode manter viva a sua
lembrança. Assim, Winnicott aponta que esta sinalização é uma esperança no que tange
a possibilidade de restabelecer seu caráter.
Até então, a teoria psicanalítica tinha atribuído à delinqüência, à criminalidade e

à ansiedade um caráter de culpa inevitável, resultante de ambivalências inconscientes.

Eram consideradas decorrentes do conflito que surgia com o ódio e o desejo de destruir,

dirigidas contra a pessoa amada e necessária. Pensava-se que, quando a culpa se

acumulava e não encontrava saída na sublimação ou reparação, algo tinha que ser feito

para que o indivíduo se sentisse culpado disso. A etiologia da delinqüência era vista em

termos de luta que se trava no mundo interior, na subjetividade do indivíduo. Winnicott

(1999) aceitava que os distúrbios de comportamento tinham origem nos conflitos

inconscientes, mas considerava também o fator ambiental, como um local seguro e

estável durante a infância.

Contudo, a criança pode ser classificada como desajustada ou incontrolável,

recebendo um severo tratamento em alojamentos especiais e/ou a incompreensão dos

pais ou daqueles que a cuidam. Caso seja mantido este tratamento, quando adolescente,

poderá vir a ser delinqüente. Como jovem adulto, poderá desenvolver alguma psicopatia

e remetido para institutos correcionais ou para uma prisão. (Winnicott, 1999). Seria

então função dos pais e/ou do terapeuta, administrar, tolerar e compreender tais pulsões,
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entendendo-as como “esperança”. Para isso, seria necessário, segundo o autor, que se

levasse em conta o ponto exato do trauma da privação, incluindo o histórico anterior e o

posterior bem como a persistência da condição traumática.

Além de episódios de roubo, a destrutividade é considerada como uma

estabilidade do meio que ajuda a criança a suportar a tensão resultante de um

comportamento impulsivo. Uma vez que a criança necessita de confiança, liberdade,

para movimentar, agir e excitar-se, e quando isso lhe é negado, a reação aos fatores

ambientais se torna intensas. Na entanto, isso indica necessidade de suporte, de

acolhimento para ser e crescer. (Winnicott, 1999)

Winnicott (1999) diz que as raízes da tendência anti-social são duas: a busca do

objeto perdido e a destruição. A criança não rouba o objeto, mas acredita que nesta ação

possa ter de volta a mãe para si, pois acredita ter direitos sobre. A criança cria a mãe em

sua onipotência, de maneira que “a mãe satisfaz a criatividade primária da criança, e

assim, converte-se no objeto que a criança estava disposta a encontrar” (Winnicott,

idem, p. 141)

O autor atenta para os primeiros sinais da privação, através do comportamento

imperioso, da avidez relacionada à inibição do apetite, das reclamações compulsivas do

bebê decorrentes de frustração que chegam a incomodar. Outras manifestações incluem

a sujeira (defecar, urinar), a enurese noturna, o direito de molhar o corpo da mãe, a

compulsão para sair e comprar alguma coisa, fugas, saídas sem objetivo, como a

vadiagem, e a destrutividade compulsiva.

A atividade terapêutica para estes casos envolve o provimento de cuidados à

criança. A criança deve redescobrir isso e experimentar de novo os impulsos do Id,

testando-os. O ambiente estável supre e dá a terapêutica conveniente a essa criança que

sofreu privação. A mãe e a família ajudam muito em casa, conversando, cuidando,


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impondo limites amorosos, desde cedo. O ambiente, para Winnicott (1999), deve dar

uma nova oportunidade de “ligação egóica”, ajudando a criança a perceber que houve

uma falha ambiental, no apoio a esse ego e que isso redundou na tendência anti-social.

Seria necessário dar nexo à aparente irracionalidade do comportamento

delinqüente, à rigidez de seus padrões e à sua compulsividade, pois há algo a ser

comunicado nesses momentos. Quando uma criança sofre uma perda, espera-se que haja

uma manifestação de aflição. Se isso não ocorrer, pode haver um distúrbio mais

profundo.
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2.3. A AGRESSIVIDADE

Para Winnicott (1999), amor e ódio envolvem agressividade e é a partir desses

sentimentos que se constroem as relações humanas. No ser humano, esta agressividade

é disfarçada e atribuída a agentes externos, tornando difícil a compreensão de suas

origens instintivas e reprimidas. Isto traria um perigo em potencial para o indivíduo e

para a comunidade, onde se fazem necessárias fantasias inconscientes. Caso contrário,

se desencadeia a atitude anti -social.

Para o autor, desde bebê, o Homem possui a relação de amor e ódio, bem como

a manifestação de comportamento agressivo. Em inúmeras atividades, a criança brinca

de construir e destruir, onde esta última ação não a faz sentir-se desesperada e culpada

por isso. A criança destrói magicamente e não comete nenhuma violência, por enquanto.

Mas um dia, esta mágica falha e ela injuria com a boca, xinga. Depois, leva os pais à

exaustão com seu comportamento: esgota-os de cansaço quando está furiosa com eles.

Pode mordê-los até tirar sangue; pode jogar as louças ao chão e depois ficar triste com o

que acabou de fazer. Testa o ambiente e só magoa aqueles de quem gosta muito. Essa

excitação precisa direcionar sua energia para algo, mas não sabe o que fazer com toda

essa explosão de energia dentro de si.

Em outros casos, os bebês podem morder os seios maternos, tirando sangue

com suas gengivas e assim aterrorizar sua mãe. No entanto, o bebê morde não porque

está irado ou frustrado, mas porque está muito excitado. Outros podem proteger o seio

de tal forma, que passam a sofrer de inanição, pois para não morder o seio, chupam o

lado interno de seu lábio inferior, ferindo-se. Assim, uma vez que pode machucar, o

bebe também pode inibir seus impulsos, facilitando a proteção do ser amado. Da mesma

forma que tem capacidade para a destruição, tem para proteger o que ama de sua própria
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destrutividade (a que ocorre em sua fantasia). Faz parte do seu apetite e é uma forma de

amor instintivo, segundo Winnicott (1999).

Winnicott (1999) considera três aspectos sobre a agressividade. O primeiro se

refere à voracidade1 teórica ou um amor-apetite primário, onde o objetivo do bebê é a

satisfação. Para gratificar-se, pode por em perigo quem ama. Há uma conciliação

consigo e o encontro de alguma satisfação que evita com que ele seja perigoso.

Frustrado, ele odeia alguma parte de si, a menos que encontre alguém fora de si mesmo

para frustrar e que suporte ser odiado.

O segundo aspecto se refere ao que pode causar dano daquilo que menos

provavelmente o cause. Os elementos agressivos do apetite podem ser isolados e

poupados para serem usados na hora da fúria e só mobilizados e atualizados quando

para se defender de uma realidade má. Para o autor, existem forças inerentes à

personalidade da criança e que podem ser isoladas de suas muitas expressões instintivas.

Existem forças boas e más atuando e buscando o predomínio. Quando forças destrutivas

ameaçam dominar as forças de amor, o indivíduo tem de fazer algo para salvar-se.

Então, extravasa seu íntimo, representando um papel destrutivo, pedindo controle por

meio de uma autoridade externa (através do limite). Isso também pode realizado pelo

brincar, pelo trabalho.

Winnicott (1999) viu a relação entre o abandono da masturbação e da exploração

sensual, como a propiciadora do vínculo entre a realidade exterior e a interior e o início

do comportamento anti-social. A masturbação e a dramatização são métodos

alternativos e podem falhar. A criança pode achar sua realidade interna terrível demais

em confronto com a realidade externa. Sua fantasia é muito ruim para ser aceita, não

podendo ser usada na sublimação. Faz-se necessário alterar “eus” internos por novas

1
Winnicott (1999) usa a palavra voracidade para expressar a idéia da fusão original de amor e agressão.
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experiências de incorporação e projeção. Encontrar novas formas de eliminar a

maldade. A criança que chuta bola, dispende energia de agressividade pelos pés, porque

gosta de agredir e dar pontapés. Igualmente, inconscientemente está expulsando a

maldade através dos punhos e dos pés.

O terceiro aspecto se refere ao controle da agressividade madura, observada

em meninos e adolescentes. Isso motiva a competição em jogos e trabalhos. Se a

agressividade for incontrolável, a lei se encarregar de cuidar disso. Para Winnicott

(1999), toda a agressão que não é negada e aceita como responsabilidade pessoal, é

fonte de força ao trabalho de reparação e restituição. Não se deveria neutralizar os

impulsos destrutivos, pois na construção da personalidade, o indivíduo deve ser capaz

de “drenar cada vez mais o instintual” (p. 102), capacitando-se para reconhecer sua

própria crueldade e avidez, para domina-las, convertê-las em atividade sublimada.


19

3. MÉTODO

Uma vez que o objetivo da pesquisa foi investigar se os pais conhecem e

detectam traços de tendências anti-sociais em seus filhos, bem como promover reflexão

sobre as motivações que subjazem a tais comportamentos, foram aplicados 13 (treze)

questionários semi-estruturados com os seguintes temas:

- furtos,

- mentiras,

- enurese noturna,

- compulsão alimentar,

- brigas,

- masturbação,

- bulimia,

- argumentação desafiadora

- comportamento agressivo

Participaram desta pesquisa 13 indivíduos, sendo 10 mães e 03 pais, com idades

entre 20 e 60 anos. A faixa etária dos filhos pesquisados era de 1 ano a 34 anos de

idade. Para a realização da coleta de dados, foi estipulado como universo um curso

universitário diurno, de uma instituição de ensino superior particular, da cidade de São

Paulo.

Como procedimento de análise, os dados coletados foram tabulados

estatisticamente, através de percentagens, média, moda e freqüência, sob forma de

tabelas e gráficos, seguidos de análise qualitativa.


20

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao aplicar os questionários, foram pesquisadas treze indivíduos do sexo masculino

e feminino, escolhidos aleatoriamente dentre os alunos do Curso de Psicologia do

período matutino de uma instituição de ensino universitário localizada na cidade de São

Paulo, aqui denominada como Instituição A.

A pesquisa teve por objetivo promover reflexão sobre a tendência anti-social em

crianças e adolescentes e verificar a compreensão dos pais sobre a agressividade de

seus filhos nessa fase.

Tabela 1. Distribuição quanto ao sexo dos entrevistados

SEXO FREQUÊNCIA % freqüência

Masculino 03 23%

Feminino 10 77%

N = 02 13 100%

Observando-se a tabela 1, percebe-se que a maioria dos entrevistados pertence ao

sexo feminino. A informação vai ao encontro das idéias da pesquisadora da PUC-SP

Profa. Fúlvia Rosemberg, em sua pesquisa sobre a Psicologia como uma profissão

feminina (Rosemberg, Fúlvia, Psicologia, profissão feminina, Cadernos de Pesquisa,

São Paulo, n. 47, p. 18-31, novembro/1983), tendo em vista desenvolverem-se nesse

curso qualidades como a escuta, o acolhimento e o cuidado, entre outras questões, traços

de maternagem que é algo inerente ao feminino.


21

Tabela 2. Distribuição das idades dos alunos pesquisados

Idade Frequência % freqüência

23 1 10%

29 1 10%

32 1 10%

35 1 10%

38 2 20%

42 1 10%

44 1 10%

48 1 10%

46 1 10%

50 1 10%

54 1 10%

56 1 10%

N= 13 pessoas 13 100%

Fonte: Instituição A - 2005

Com base na tabela 2, observa-se que as idades estão variando de 23 a 56 anos e a

idade de 38 anos representa 20% da amostra. Assim, a idade modal é de 38 anos e a

idade média desse grupo é de 41 anos com um desvio padrão de 9,83 o que demonstra

pequena variação entre as idades. Organizando-se esta população por faixa etária,

observou-se em termos modais a porcentagem de 30,76% , correspondente a 8 alunos,

entre 30 a 50 anos. Uma pequena parcela de 15,38% correspondente a duas pessoas

estavam na faixa de 20 a 30 anos e na faixa de 50 a 60 anos havia 3 pessoas que


22

corresponderam a 23,07% do total pesquisado. Observou-se a predominância de um

público na faixa dos 40 aos 50 anos, com potencial de amadurecimento para assumir as

responsabilidades intrínsecas aos cuidados de uma família.

Tabela 3. Distribuição do número total de filhos

Pais Frequência % freqüência

05 2 38,46

04 1 30,76

3 3 23,07

1 4 7,7

N= 13 27 filhos 100%

A tabela 3 mostra o número total de filhos de cada indivíduo pesquisado. Havia 27

filhos ao todo e observou-se que 5 pessoas tinham dois filhos, representando 38,46%,

enquanto apenas um indivíduo tinha quatro filhos, representando 7,7% do total. A

população pesquisada tinha, em média 2 filhos, notando-se um desvio padrão de

0,95%, o que mostra uma certa homogeneidade no padrão familiar mantido atualmente

de acordo com a quantidade de filhos.


23

Tabela 4. Distribuição das idades dos filhos escolhidos pelos pais para responder à
pesquisa
Idade Frequência F%

1 a 5 anos 2 15,38

5 a 10 anos 2 15,38

10 a 15 anos 4 30,77

15 a 20 anos 2 15,38

20 a 25 anos 2 15,38

25 a 30 anos 1 7,7

13 filhos 100%

A tabela 4 mostra que solicitou-se ao grupo questionado que escolhesse e

focalizasse a atenção em um filho para melhor responder a cada questão do instrumento

de pesquisa aplicado. Em termos de amplitude, vê-se que há uma idade mínima de 1

ano e uma máxima de 26 anos. Interessa à pesquisa as idades de crianças e adolescentes

entre 1 a 18 anos já que é nessa faixa etária que o problema da tendência anti-social

pode apresentar-se. Sendo assim, observa-se na tabela uma presença significativa de

filhos de 10 a 15 anos, ou seja 30,77%. A idade média desses filhos é de 13 anos, idade

dentro da faixa relacionada às pesquisas sobre tendência anti-social, a qual abrange a

infância e a adolescência, havendo um desvio padrão de 7,65% em relação às demais

idades.

Segundo Winnicott, em todas as idades podem-se observar a incidência de traços

anti-sociais: a deprivação ocorre na infância, quando a criança sente que perdeu algo em

termos de afeto, algo que era seu. Caso a família não detecte os sinais característicos de

tendência anti-social da criança nessa fase e não os trate com amor e limites adequados,

o problema pode evoluir para algo mais sério na adolescência, ganhando o nome de
24

delinqüência. Já na idade adulta, esse indivíduo que não recebeu os cuidados adequados

nas primeiras etapas da vida, pode apresentar o quadro de psicopatia. Assim, todas as

faixas etárias foram interessantes enquanto objeto de pesquisa, já que as idades dos

filhos variou de 1 ano a 30 anos.

Tabela 5 – Questão 5: distribuição referente à incidência de brigas

Brigas Freqüência F%

Raramente 8 61,5

Bastante 1 7,7

Sempre 1 7,7

As vezes. Quando? 3 23,07

Não soube responder 0 0

Total 13 filhos 100%

Esta questão refere-se ao comportamento agressivo que pode culminar em brigas

no cotidiano, seja com a mãe, o pai ou outras pessoas. Um grande número de filhos

briga raramente e isso corresponde a 61,5% da população pesquisada. Apenas 23,07%

da população, ou seja, 3 filhos brigavam às vezes, sendo que por razões diversas como:

- quando queria preservar seu espaço pessoal;

- por motivo de disputa

- quando era provocado e precisava se defender.

Observa-se um grupo bastante pacífico quanto ao quesito “briga”, sendo que houve

um desvio padrão de 1,32%: apenas dois indivíduos se desviavam do padrão não

agressivo do grupo. Segundo Winnicott, a agressividade é algo que o ser humano não

gosta de mostrar aos demais. A revelação dessa faceta nas crianças ou adolescentes
25

pode ser positiva enquanto sinalizadora de que algo importante e precisa ser

compreendido (ansiedade? medo ? reação à frustração? testes ao ambiente e à paciência

da mãe e do pai? afirmação dos limites pessoais? raiva? fúria? ousadia?) O bebê dentro

de cada ser humano, não importa a idade, pode reagir de muitas maneiras quando perde

as estribeira. Para Winnicott, a agressividade tem dois significados, pode ser uma reação

à frustração e também uma importante fonte de energia individual (Winnicott in “Os

bebês e suas mães”). A criança pode estar precisando expressar-se abertamente e isso

pode ser positivo, mas talvez seus pais precisem ensinar-lhe a dosar toda a energia que

tem em si. O oposto pode ser guardar tudo, inibir todos os impulsos e ter um déficit em

termos de criatividade e sofrer também por isso. Na pesquisa, os três filhos que às vezes

brigam podem estar dentro de atitudes saudáveis ou não. Um acompanhamento

terapêutico ou uma boa conversa com os pais, que inclua abertura e carinho, pode trazer

muitas respostas e propostas de crescimento.

Tabela 6. Distribuição da porcentagem referente à mentira

Mentiras Freqüência F%

Nunca mente 4 30,76

De vez em quando 8 61,54

Em algumas ocasiões 1 7,7

frequentemente 0 0

Total de filhos 13 100%

Com referência à questão da mentira no cotidiano, do total de filhos escolhidos

para a pesquisa, 8 pessoas, que equivalem a 61,54% mentem de vez em quando, mas

sem grandes conseqüências para a dinâmica familiar. Houve um desvio padrão de


26

0,60% referente a um filho que mente em algumas ocasiões, sendo que a sua mãe

respondeu que isso ocorre quando ele, para obter sua opinião sobre algo, cria um

assunto que não aconteceu na realidade. Observa-se uma amostra significativa de filhos

que mentem sim, mas não se pode tomar isso como um sinal de tendência anti-social, é

apenas um leve traço nas circunstâncias apresentadas.

Tabela 7. Distribuição de porcentagens sobre as reações frente a frustrações.

como seu filho reage frente frequência F%

às frustrações?

Briga 4 30,76

Chora 2 15,38

Grita 3 20,07

Compreende 3 20,07

Não faz nada 2 15,38

Outra coisa. Qual? 6 53,85

Esta questão apresentou grande número de respostas em seu corpo, tem em vista

cada pai ou mãe identificar mais de uma reação quando o filho não consegue o que

deseja. Observa-se que dentre o público pesquisado, alguns filhos agem e testam o

ambiente e a família de diferentes maneiras quando frustrados. Isso foi mapeado a partir

da alternativa que perguntava qual era a reação do filho, além de todas as apresentadas

na questão, quando contrariados. Assim, 53,85% o que corresponde a seis filhos reagem

da seguinte maneira, em protesto e, segundo os pais, o filho apresenta o seguinte

comportamento:
27

- vai para o quarto e fica na cama até dormir;

- muito persistente, fica argumentando;

- “fecha a cara” e demora um dia para voltar ao “normal”;

- procura elaborar e tenta solicitar tudo outra vez;

- protesta e tenta convencer.

Segundo consta na teoria de Winnicott (1999), a criança faz valer seu direito de ter

algo e testa o ambiente até conseguir. Muitas vezes, o que ela quer é o amor e o carinho

dos pais, que julga ter perdido. No caso dessas crianças, nota-se que há porcentagens

semelhantes entre crianças mais passivas ou obedientes que, ou choram (15,38%) ou

não fazem nada (15,38%), no entanto, em média, 30,76% briga pelo que quer, o que

pode ser saudável ou não, dependendo dos fins a se alcançar.

Tabela 8. Distribuição das porcentagens referente a furto

Furtos Frequência F%

Sim, isso sempre ocorre 1 7,7

Sim, esporadicamente 0 0

Não, nunca ocorreu 9 69,23

Não que tenha saiba 3 23,07

Total 13 filhos 100%

Na tabela 8 nota-se que 9 filhos, ou seja 69,23% nunca furtaram objetos no próprio

lar ou na casa de outras pessoas. Apenas um questionado disse que furtos sempre

ocorrem, o que demonstra um traço de tendência anti-social presente, havendo um

desvio padrão de 0,75% em relação ao todo. Mais uma vez, há porcentagens ínfimas de

traços de tendência anti-social nos filhos apontados para a pesquisa.


28

Tabela 9. Distribuição das porcentagens referentes a traços diversificados de Tendência


Anti-social

Categorias diversas Frequência F%

Enurese noturna 1 7,7

Descontrole emocional 3 23,07

Masturbação 1 7,7

Saída com colegas 2 15,38

briguentos

Bulimia 2 15,38

Outros episódios 3 23,07

Não responderam 4 30,77

Esta questão envolveu um grande leque de alternativas sobre traços de tendência

anti-social em crianças e adolescentes, sendo constatado que não houve a

predominância de um ou outro traço apresentado nas categorias. Os pais assinalaram um

ou mais alternativas na questão, de maneira que observou-se o seguinte: Quatro pais

nada responderam, pois não identificaram em seus filhos tais traços. Apenas três pais,

representando 30,77%, relataram os seguintes episódios, vistos por eles como anti-

sociais: intoxicação alimentar, grande cobrança e força de vontade espantável,

sonambulismo e despertar com choro. Não há homogeneidade no grupo de respostas

apresentadas quanto a traços de tendência anti-social. Há comportamentos isolados que

podem ser estudados pela Psicologia dentro de um contexto maior no ambiente familiar.
29

Tabela 10. Distribuição das porcentagens sobre argumentação desafiadora opositiva

Desafios constantes frequência F%

Sim 0 0

Não 8 61,54

Às vezes 5 38,46

Quanto à argumentação opositiva e desafiadora em relação aos pais, que causa

atritos no ambiente familiar, não há a predominância de filhos com esse perfil no grupo

pesquisado. Há 61,54% de pessoas que não agem de maneira acintosa em relação aos

pais. O desvio padrão é de 0,50%. Mesmo assim, há uma população de 5 pessoas,

38,46% que debate agressivamente, sendo necessário verificar-se quais os motivos e

como isso ocorre para analisar-se se há uma tendência anti-social embutida nesse fato

ou não. Os sinais estão sempre querendo revelar algo aos pais e precisam ser decifrados

dentro de um contexto maior dentro da família.

Tabela 11. Distribuição das porcentagens referentes à compulsão alimentar

Compulsão alimentar frequência F%

Sempre 2 15,38

Nunca 10 76,92

Às vezes. Quando? 1 7,7

total 13 100%

Com relação à questão da compulsão alimentar, a qual dá sinais de voracidade e

pode sinalizar uma carência afetiva que busca no alimento o substituto maternal,

observa-se que esse traço não é predominante no grupo: 76,92% , 10 pessoas não
30

apresentam tal tendência. Duas pessoas apresentam-na sempre (15,38%). Houve um

desvio padrão de 0,49% em relação ao todo.

Tabela 12. Distribuição das porcentagens sobre a compreensão da agressividade

Compreensão da frequência F%

agressividade do filho

Não é agressivo 9 69,23%

Se é, pede limites 1 7,7%

Talvez sinta que perdeu o 2 15,38%

amor dos pais

Outro motivo. Qual? 1 7,7%

total 13 100%

Em relação a como os pais reagem diante da agressividade apresentada pelos

filhos, observa-se que 69,23% , o que corresponde a 9 pais, diz que os filhos não são

agressivos. Dois pais (15,38%) conseguem identificar que os filhos talvez estejam

pedindo amor quando se mostram agressivos, ou seja, há um sinal de esperança para

recuperação de algo que julga ter perdido em relação à família e os pais se mostram

sensíveis a isso. É bom sinal. Um dos pais respondeu na alternativa referente a “outro

motivo” que quando o filho se mostra agressivo, na verdade quer chamar a atenção dos

pais para algo que lhe é importante. Isso também já demonstra sensibilidade para outros

sinais inconscientes transmitidos pelos filhos.


31

Winnicott diz em seu texto sobre as raízes da agressão (1999) que a agressividade

é algo muito disfarçado na vida de uma pessoa e que ninguém quer evidenciar isso em

público. Talvez por isso uma parcela tão significativa 69,23% não consiga ver a

agressividade em seus filhos.

Tabela 13. Distribuição das porcentagens referentes à reação dos pais frente aos

transtornos causados pelos filhos no ambiente familiar

Reação dos pais frequência F%

Aceita sem questionar 1 7,7

Não aceita, corrige 0 0

Conversa 12 92,31

Tem outra reação 01 7,7

Nesta questão, os pais assinalaram mais de uma alternativa. Sendo assim, sobre a

reação dos pais sobre os transtornos causados pelos filhos, observou-se que a maioria

quase absoluta 92,31% procura conversar com os filhos: prática excelente que auxilia e

corrige qualquer possibilidade do evento vir a transformar-se em tendência anti-social

de forma marcante na vida da criança. O diálogo é sempre algo saudável. Mesmo assim,

há pais que não questionam o comportamento de seus filhos, não impondo limites com

amor, nem conversando. No grupo pesquisado houve a ocorrência de uma pessoa, 7.7%.
32

5 CONCLUSÃO

Conclui-se, pela pesquisa realizada, que os pais questionados têm abertura para a

reflexão e identificação do que seja a tendência anti-social e como ela pode se

manifestar nos seus filhos. O tratamento estatístico aplicado à pesquisa apontou dados

essenciais para que também se observasse que os filhos estão sendo educados por pais

que conversam sempre que há necessidade de se redirecionar caminhos mais saudáveis

junto aos filhos.

O tema da pesquisa pode ser retomado e ampliado, tendo em vista o aumento da

incidência de casos de tendência anti-social em crianças e de delinqüência em

adolescentes nas grandes cidades brasileiras. Nota-se a necessidade de um refinamento

da pesquisa no sentido de se apurar, através de detalhamento e maior profundidade se a

criança ou adolescente possa estar reunindo evidências desse problema em sua vida,

para que os pais possam ser melhor instruídos. Dessa maneira, o trabalho de pesquisa

pode gerar massa crítica para ser também um instrumento que promove reflexão, debate

e ações de melhoria na comunidade.


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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAM, JAN, A linguagem de Winnicott. Dicionário das Palavras e Expressões


utilizadas por Donald W. Winnicott, Revinter, 2000.

DIAS, ELZA OLIVEIRA, A teoria do Amadurecimento de D. W. Winnicott. Rio de


Janeiro: Imago, 2003

FERRARI, D.C.A., VECINA, T.C.C., O Fim do Silêncio na Violência Familiar:


teoria e pratica. São Paulo: Ágora, 2002.

GORAYEB, RAUL, “O Observador Engajado”, Revista Viver Mente&Cérebro,


Coleção Memória da Psicanálise – Winnicott: Os Sentidos da Realidade, Duetto
Editorial, 2005

ROSEMBERG, FÚLVIA, Psicologia: profissão feminina, Cadernos de Pesquisa,


n. 47, p. 18-31, nov.1983

WINNICOTT, D.W. Privação e Delinqüência. SP: Martins Fontes, 1999.

WINNICOTT, D.W. Tudo Começa em Casa. SP: Martins Fontes, 1999 b.

WINNICOTT, D. W. A Criança e o seu Mundo. Rio de Janeiro: LTC – Livros


Técnicos e Científicos Editora S.A 1982
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7. QUESTIONÁRIO

1) Sexo:
a) ( ) feminino
b) ( ) masculino

2) Idade: ________________ anos

3) Quantos filhos possui? _________ filhos

4) Qual a idade de seu(s) filho(s)? _____________ anos

A partir de agora, escolha um de seus filhos para responder às perguntas a seguir:

5) Seu filho(a) arruma muitas brigas entre os irmãos e/ou colegas?


a) ( ) raramente.
b) ( ) bastante.
c) ( ) sempre.
d) ( ) as vezes. Quando? __________________________________________________
e) ( ) não sei responder.

6) Seu filho(a) costuma a mentir com que freqüência?


a) ( ) nunca mente
b) ( ) mente de vez em quando, mas sem grandes conseqüências.
c) ( ) em algumas ocasiões. Quais? _________________________________________
d) ( ) freqüentemente.

7) Geralmente, quais das reações abaixo, seu filho(a) tem quando não consegue o que
deseja?
a) ( ) briga
b) ( ) chora
c) ( ) grita
d) ( ) entende
e) ( ) não faz nada
f) outra. Qual? __________________________________________________________

8) Seu filho(a) chegou a pegar dinheiro ou objetos da sua casa ou de parentes, sem
consentimento e de forma disfarçada, sendo descoberto posteriormente pelos rastros que
deixou?
a) ( ) sim, isso sempre ocorre.
b) ( ) sim, isso ocorre esporadicamente. Em quais situações? _____________________
c) ( ) não, isso nunca ocorreu.
d) ( ) não que eu tenha conhecimento.
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9) Seu filho(a) já apresentou alguns destes episódios, com uma certa freqüência?
a) ( ) enurese noturna
b) ( ) descontrole emocional
c) ( ) masturbação
d) ( ) saídas com colegas briguentos
e) ( ) bulimia (vômitos após ingerir grande quantidade de alimentos)
f) ( ) outros episódios que lhe chama a atenção. Quais? _________________________

10) Seu filho(a) desafia-lhe constantemente, apresentando oposição aos seus


argumentos, de forma a causar transtorno no ambiente familiar?
a) ( ) sim
b) ( ) não
c) ( ) às vezes. Quando ___________________________________________________

11) Seu filho (a) come compulsivamente?


a) ( ) sempre
b) ( ) nunca
c) ( ) às vezes. Quando? __________________________________________________

12) Como você compreende a agressividade de seu filho(a)?


a) ( ) não é agressivo.
b) ( ) como um pedido de limite.
c) ( ) sente que perdeu a atenção e o amor dos pais.
d) ( ) outro. Qual? ______________________________________________________

13) Como você reage frente aos incômodos causados por seu filho(a)?
a) ( ) aceito sem questionar.
b) ( ) nunca aceito e procuro agir, aplicando corretivos.
c) ( ) converso sobre os fatos.
d) ( ) outra reação. Qual? _________________________________________________

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