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A Voz do Professor

O Mito do Aluno Digital


José Carlos Antônio

O uso dos computadores e da Internet nas escolas criou uma infinidade de mitos que, em sua
maioria, não apenas não correspondem à realidade como também escondem fatos e intenções.
Um desses mitos é o de que o aluno é naturalmente um grande conhecedor da tecnologia e que
domina os computadores e a Internet, enquanto que os professores, por sua vez, nasceram sem o
“gene digital” e, por isso, estão sempre em desvantagem e sentem-se naturalmente inseguros
para usar os computadores e a Internet sem que antes tenham múltiplas capacitações e passem a
dominar também essas tecnologias. Será mesmo que esse mito se sustenta diante dos fatos?

Em uma pesquisa desenvolvida com 300 alunos do Ensino Médio de uma escola pública, constatei,
por exemplo, que 11% dos alunos não possuíam e-mail, 39% possuíam e-mail, mas não o
utilizavam e apenas 50% deles tinham e utilizavam os seus e-mails. Vale lembrar que 100% dos
alunos pesquisados dispunham de computadores e acesso à Internet, quer fosse em suas casas,
quer fosse na escola.

Analisando as produções textuais desses alunos é fácil perceber que a grande maioria não sabe
como utilizar um editor de textos eletrônico, como o Word ou outro qualquer. Eles sabem digitar,
mas não sabem formatar o texto, não conseguem alinhá-lo corretamente, não usam o corretor
ortográfico de forma eficaz, têm dificuldades para lidar com imagens inseridas no texto ou
simplesmente não sabem como as inserir, não sabem usar tabelas, etc., etc. Ou seja, são
usuários muito pouco proficientes dos editores de texto. E veja que eu não estou falando aqui da
qualidade das produções, dos erros de gramática, ortografia, concordância, regência, fuga ao
tema, etc., etc.

Poderíamos listar uma enormidade de itens que esses alunos não dominam, mas a lista seria tão
extensa que é mais fácil listar aquilo que eles sabem realmente fazer. Tomando como base as
competências de letramento digital (pesquisar, comunicar-se e publicar na Internet) podemos
resumir o conhecimento médio dos alunos pesquisados como se segue:

Pesquisar

1. Eles usam o Google como ferramenta quase exclusiva para pesquisa; pesquisam usando uma
única palavra de busca ou uma frase muito curta; na maioria das vezes aceitam a primeira
indicação feita pelo buscador e retornam como produtos da pesquisa textos inteiros ou trechos
muito grandes que copiam e colam diretamente, sem analisá-los, resumi-los ou compreendê-los;

2. Conhecem poucos sites e blogs que contêm material didático ou instrucional (geralmente
procuram por trabalhos prontos) e a maioria do material que consultam de forma não orientada
diz respeito a jogos, humor, violência, sexo e pornografia;

3. Gostam de pesquisar vídeos no YouTube e em outros sites destinados a armazenar esse tipo de
mídia, e buscam mais freqüentemente vídeos de conteúdo humorístico;

Comunicar-se

1. Os alunos usam praticamente apenas dois meios de comunicação na Internet: o Orkut e o


MSN; o e-mail é muito pouco usado e menos ainda as listas de discussão e fóruns;

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2. A comunicação se dá quase sempre entre os colegas da turma ou da escola e gira em torno dos
interesses próprios da idade e do grupo;

3. A comunicação representa a maior parte do tempo de uso dos computadores e da Internet;

4. A linguagem utilizada nas comunicações é a linguagem coloquial, basicamente oral e


simplificada por um sistema de códigos e abreviações que se difundiu pela Internet nas salas de
bate-papo e posteriormente no MSN e no Orkut;

Publicar

1. Um número muito pequeno de alunos possui blogs ou sites pessoais;

2. Os blogs são temáticos (sobre jogos, poesia, esportes ou algum outro tema do interesse do
aluno) e alguns têm ainda o formato de “diários pessoais” que deu origem aos blogs quando eles
surgiram;

4. Imagens são publicadas preferencialmente no Orkut, são pessoais ou da turma e referem-se ao


cotidiano dos alunos;

5. Vídeos procuram retratar o cotidiano e situações que consideram interessantes, embora sejam
muitas vezes vídeos toscos, de mau gosto e ofensivos. Dentre os temas dos vídeos destacam-se:
violência local (brigas), traquinagens (que eles chamam de “zueira”), situações constrangedoras
envolvendo colegas (e professores) no ambiente cotidiano e registros de festas e eventos locais.

Como podemos ver, um número considerável dos alunos são basicamente analfabetos
tecnológicos funcionais, isto é, eles conhecem as tecnologias que lhes permitem pesquisar,
comunicar-se e publicar, mas não o fazem com proficiência porque não possuem as competências
e habilidades necessárias para tal. Além disso, as ferramentas que eles conhecem são
extremamente simples e eles as conhecem de forma superficial.

Do outro lado do universo digital temos os professores. Estes possuem as competências e


habilidades que lhes permitem pesquisar, comunicar-se e publicar com proficiência, mas não o
fazem porque na maioria das vezes não têm conhecimento das ferramentas e meios disponíveis
para fazê-lo por meio da tecnologia digital dos computadores e da Internet. Além disso, o
conhecimento superficial das ferramentas torna os professores inseguros, ainda que esse
conhecimento superficial seja maior do que o dos alunos.

Embora não disponha de dados estatísticos atuais sobre o grau de inclusão digital dos professores,
tenho observado que nos últimos cinco anos o número de professores que utilizam computadores
e a Internet para si próprios e como ferramenta auxiliar de ensino tem aumentado
consideravelmente. Em uma sala com quarenta professores em que há cinco anos tínhamos
apenas dois ou três deles que possuíam endereço de e-mail, hoje verificamos que somente dois
ou três ainda não possuem um endereço eletrônico.

Tudo isso sinaliza ainda mais intensamente para a necessidade de uma mudança de paradigma
por parte do professor que lhe permita ver no aluno uma possibilidade de parceria na
aprendizagem sobre o uso da tecnologia e que, paralelamente, lhe permita uma maior atuação
sobre a aprendizagem dos alunos usando as oportunidades e ferramentas que lhe aproximam do
cotidiano desses alunos.

Alunos podem aprender a fazer pesquisas com maior proficiência se professores puderem lhes
ensinar como fazê-las. Mas professores não poderão fazer isso sem que antes, eles mesmos
aprendam a usar as ferramentas tecnológicas disponíveis e que já são utilizadas pelos alunos.

Alunos podem aprender muito sobre comunicação, sobre o uso correto da língua e sobre as
diversas outras possibilidades de se comunicarem que vão além da simples troca de mensagens
instantâneas e recadinhos do Orkut com seus colegas mais próximos, mas para isso é preciso que
professores também saibam se comunicar usando o Orkut e o MSN, que sejam acessíveis pelos
alunos e que utilizem esses meios de comunicação com os alunos.

Alunos podem se tornar autores e não apenas usuários de textos, imagens e vídeos. Podem, por
exemplo, produzir documentários sobre o “making off” de uma peça teatral na escola, podem criar
rádios na Internet, podem criar blogs temáticos sobre assuntos relevantes, podem publicar seus
trabalhos originais na rede, enfim, podem contribuir para o crescimento da base de dados da
Internet de forma útil e produtiva. Mas para isso é preciso que professores publiquem também,

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que tenham seus blogs, que participem como autores e inspirem seus alunos; é preciso que
professores ajudem seus alunos a dar qualidade ao que eles produzem, que lhes ensinem
técnicas, regras e estratégias, enfim, é preciso que os professores estejam inseridos no ambiente
de produção de conteúdo para que possam ensinar a produzir conteúdo de qualidade.

Os alunos não participam de capacitações, oficinas e cursos específicos para pesquisar, comunicar
-se e publicar na Internet, mas aprendem rapidamente como fazê-los, ainda que o façam sem a
qualidade que desejamos. Os professores também podem!

Os alunos não sabem pesquisar, comunicar-se e publicar com proficiência. Os professores já


sabem. Os alunos não vão adquirir essas habilidades e competências por si mesmos, mas poderão
adquiri-las com a ajuda dos seus professores. Alunos podem ajudar professores a “lidar com a
tecnologia dos computadores e da Internet”, mas precisam de professores que lhes ajudem
aprender outras coisas que não se resumam a apenas usar a tecnologia, ou seja, alunos precisam
de professores que lhes ajudem a desenvolver suas habilidades e competências para a vida, para
o mundo, para si próprios e para que possam usar de forma proficiente as ferramentas de que já
dispõem e sabem como operar.

*José Carlos Antonio* é formado em física, professor atuante nas


redes pública e particular de ensino há 25 anos, autor de material
didático, foi editor de ciências e informática educacional do Jornal
eletrônico ZOOM por dez anos, é colaborador do EducaRede desde 2003
e, atualmente, além de lecionar regularmente no Ensino Médio também
participa de programas de formação de professores para uso
pedagógico das TICs e presta assessorias diversas para institutos e
fundações. Você o encontra na Internet em http://www.profjc.net

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