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Biotransformação:
importância e toxicidade
Biotransformation: importance and
toxicity

RESUMO – A biotransformação de drogas é uma etapa primordial no pro-


cesso de eliminação e diminuição da toxicidade. Entretanto, ela também é
responsável pelo surgimento de metabólitos reativos intermediários, que se
ligam às macromoléculas do organismo. Dependendo da estrutura e do
tipo de ligação, diferentes efeitos patológicos poderão ocorrer, como ne-
crose, fibrose, formação de imunógenos, mutagênese, carcinogênese e tera-
togênese. Este artigo mostra a importância da biotransformação, os
sistemas enzimáticos envolvidos e os fenômenos de inibição e indução das
enzimas, além de sinalizar os efeitos tóxicos que podem ocorrer após rea-
ções de biotransformação, sendo esse o lado “vil” da biotransformação.
Palavras-chave: CITOCROMO P450 – INDUÇÃO E INIBIÇÃO ENZIMÁTICA –
RADICAIS LIVRES.

ABSTRACT – The biotransformation of drugs is an essential step in the pro-


cess of elimination and reduction of toxicity. However, biotransformation
is also responsible for the appearance of intermediary reactive metabolites,
YOKO OSHIMA-FRANCO*
Curso de Farmácia – Faculdade de that bind to the organism’s macromolecules. Depending on the structure
Ciências da Saúde (UNIMEP/SP) and the kind of binding, different pathological effects may occur, such as
LUIZ MADALENO FRANCO tissue necrosis, fibrosis, immunogenic formation, mutagenesis, carcinoge-
Curso de Farmácia – Faculdade de
Ciências da Saúde (UNIMEP/SP) nesis and teratogenesis. This article shows the importance of biotransfor-
*Correspondências: mation, besides pointing out the toxic effects that may occur after the
Rua das Garças, 80 biotransformation reactions, which is its “mean” side.
Nova Piracicaba – 13405-132
Piracicaba/SP Keywords: CYTOCHROME P450 – ENZYMATIC INDUCTION AND INHIBITION
E-mail: yofranco@terra.com.br – FREE RADICALS.

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INTRODUÇÃO trifugados por 60 minutos a 150 mil G. As enzimas


localizam-se predominantemente na superfície do

A
exposição diária a uma variedade de compostos retículo endoplasmático liso e constituem o sistema
estranhos (xenobióticos) é capaz de levar à oxidase de função mista ou monoxigenases ou siste-
absorção deles através dos pulmões, da pele ou ma citocromo P450 (BENET & SHEINER, 1987).
ingeridos, não intencionalmente, como contaminantes
Ele possui importantes funções metabólicas, além
nos alimentos e na água ou, deliberadamente, na for-
ma de medicamentos com fins terapêuticos ou não. A de ser o sistema de sentinela que primeiro apreende
exposição a xenobióticos pode ser inadvertida e aci- e inativa vários xenobióticos no organismo (fig. 1).
dental, às vezes inevitável. Alguns são inofensivos; ou- Para uma droga ser metabolizada pelos microssomas,
tros, porém, podem provocar respostas biológicas de é necessário ser lipossolúvel, pois essa propriedade fa-
natureza farmacológica ou tóxica. Essas respostas bio- cilita a penetração dela no retículo endoplasmático e
lógicas geralmente dependem da conversão da subs- a sua ligação ao citocromo P450.
tância absorvida em um metabólito ativo ou não, com Apesar de o fígado ser o principal órgão bio-
a finalidade principal de ser eliminada. transformador, importa ressaltar que as enzimas mi-
Biotransformação é a alteração química sofrida crossomais expressam-se em vários outros tecidos,
pelo xenobiótico no organismo, comumente sob a como pulmão e rins (LLAMA & AVENDAÑO,
ação de enzimas específicas e/ou inespecíficas
1993; HONKAKOSKI & NEGHISHI, 1997; BU-
(MEYER, 1996). Juntamente com os fenômenos
de absorção, distribuição e excreção, ela participa TLLETÍ GROC, 1999), pele, cérebro e intestino
da regulação de níveis plasmáticos de drogas. A (WATKINS et al., 1987; PETERS & KREMERS,
biotransformação, portanto, é um processo alter- 1989).
nativo, em que os metabólitos formados possuem Os componentes do sistema P450 são:
propriedades diferentes das drogas originais, com ca-
racterísticas mais hidrofílicas, tendo por objetivo faci- • citocromo P450: componente primordial do
litar a excreção pelo organismo (MEYER, 1996). sistema enzimático oxidativo. Foi assim deno-
Contudo, nem sempre as drogas são inativadas; minado por Omura & Sato (1964), porque o
pelo contrário, alguns metabólitos apresentam ati- complexo formado com o monóxido de car-
vidade aumentada (por exemplo, codeína em mor- bono apresentava um pico de aborção espec-
fina) ou propriedades tóxicas (entre elas, parathion trofotométrica no comprimento de onda 450
em paraoxon), incluindo a mutagenicidade, a tera- nm. Essa enzima apresenta um núcleo pirrólico
togenicidade e a carcinogenicidade.
com o átomo de ferro à semelhança da hemo-
globina, sendo considerada uma hemoproteí-
SISTEMAS ENZIMÁTICOS na;
As enzimas são as responsáveis pelas reações de • NADPH-citocromo P450 redutase ou NADPH-
biotransformação e encontram-se presentes em todo citocromo C redutase: enzima intermediária,
o organismo (sangue, rins, pulmões, pele, tecido ner- flavoproteína, contendo quantidades equimo-
voso, intestino delgado e fígado). Embora elas este- lares de flavina monomucleotídio (FMN) e fla-
jam distribuídas em todo o organismo, o fígado é, vina adenina dinucleotídio (FAD). Um outro
sem dúvida, o órgão que mais as concentra (WA- grupo enzimático, NADH-citocromo b5 redu-
TKINS, 1992). Testes bioquímicos realizados com o tase, acompanha o citocromo P450 e funcio-
tecido hepático por centrifugações sucessivas permiti-
na como alternativa na transferência de
ram constatar a presença de enzimas nas diferentes
frações denominadas solúvel (desidrogenases, estera- elétrons, da fonte para o citocromo P450. Es-
ses, amidases e transferases), mitocondrial (monoami- sas enzimas necessitam de um agente redutor,
no oxidases) e microssomal (citocromos P450). a nicotinamida adenina dinucleotídio fosfato
(NADPH), e do oxigênio molecular. Consome-
se uma molécula de oxigênio por molécula de
SISTEMA MICROSSOMAL substrato, com um átomo de oxigênio apare-
A fração hepática microssômica corresponde cendo no produto e o outro, na forma de
aos fragmentos dos retículos endoplasmáticos cen- água (OGA et al., 1988; OGA, 1996).

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Figura 1. Reação de oxidação catalisada pelo citocromo P450 (fonte: OGA, 1996).

Tabela 1. Principais isoformas do citocromo P450 (STRECK & DALLA COSTA, 1999).
ISOFORMA CYP3A4 CYP2D6 CYP2C19 CYP1A2
Alprazolam Amitriptilina
Amitriptilina Clomipramina Amitriptilina
Astemizol Clozapina Amitriptilina Cafeína
Carbamazepina Codeína Citalopram Clomipramina
Ciclosporina Debrisoquina Clomipramina Clozapina
Eritromicina Esparteína Diazepan Fluvoxamina
Imipramina Fluvoxamina Imipramina Haloperidol
Substratos Lidocaína Haloperidol Mefenitoína Imipramina
Midazolam Imipramina Omeprazol Paracetamol
Lidocaína Metoprolol Proguanil Propranolol
Nifedipina Mianserina Tolbutamida Teofilina
Omeprazol Nortriptilina Varfarina Varfarina
Quinidina Paroxetina
Terfenadina Propranolol
Triazolam
Ciclosporina
Eritromicina Debrisoquina Mefenitoína Cafeína
Marcadores Midazolam Esparteína Omeprazol Fenacetina
Nifedipina
Omeprazol
Cetoconazol Flufenazina
Claritromicina Fluoxetina Fluoxetina
Inibidores Eritromicina Paroxetina Fluvoxamina Fluvoxamina
seletivos Fluoxetina Quinidina Sertralina
Fluvoxamina Sertralina
Setralina
Carbamazepina
Dexametasona
Etanol Barbitúricos Omeprazol
Indutores Fenitoína Rifampicina Rifampicina Tabagismo
Fenobarbital
Rifampicina
Troleandomicina
Polimorfismo Não há estudos até o Não há estudos até o
Sim Sim
genético momento momento

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O substrato forma um complexo com a forma inibidores da monoamino-oxidase (IMAO) ou no da


oxidada do citocromo P450, que recebe um elétron terapia antietílica e uso de inibidores da desidroge-
procedente do NADPH, via NADPH-citocromo P450 nase aldeídica (antabuse). Outras vezes a inibição é
redutase. Esse elétron reduz o Fe3+ para Fe2+. O extremamente tóxica, como no caso da inibição da
complexo, então, liga-se à molécula de O2 e capta acetilcolinesterase, na intoxicação por praguicidas
mais um elétron procedente também do NADPH. organofosforados e carbamatos. A competição entre
Esse segundo elétron, às vezes, procede do NADH e é os muitos substratos metabolizados pelas enzimas
transportado pelo citocromo b5 redutase, de modo microssomais pode levar à inibição, assim como o
a desmembrar o O2 molecular em átomos de oxigê- fluxo sanguíneo hepático é capaz de se tornar o fa-
nio, altamente reativos e instáveis (radical livre). Um tor limitante da velocidade. A destruição do citocro-
radical livre é uma molécula ou fragmento molecu- mo P450 por agentes hepatotóxicos ou pelo
lar contendo um ou mais elétron não pareado em monóxido de carbono diminui o fluxo sanguíneo
sua última camada orbital (GREGUS & KLAAS- hepático de maneira crônica.
SEN, 1995). Um desses átomos liga-se à droga, re-
As conseqüências da inibição correspondem a
sultando em substrato oxidado, que se desliga do
menor velocidade de biotransformação, aumento
complexo enzimático. O outro átomo de oxigênio
dos níveis do xenobiótico no organismo, aumento
é utilizado na produção da molécula de água. A
enzima, por sua vez, oxida-se para reiniciar o novo dos efeitos farmacológicos e maior incidência de to-
ciclo. Reduções ocorrem em condição de baixa xicidade da droga (BENET & SCHEINER, 1987).
concentração de oxigênio molecular. Indução – A indução é um fenômeno particular
às enzimas microssomais. São relatados dois tipos de
indução (CORREIA, 1994). Ao primeiro pertence
FATORES QUE AFETAM A VELOCIDADE o fenobarbital, em que o aumento da atividade enzi-
DE BIOTRANSFORMAÇÃO mática pode ser atribuído à síntese de citocromo
P450, citocromo redutase e outras enzimas, à
A velocidade de biotransformação depende da proliferação do retículo endoplasmático, ao aumen-
concentração de citocromo P450, da proporção das to do peso hepático e ao aumento do fluxo sanguí-
isoformas, da afinidade pelo substrato, da redução neo e biliar e de outras proteínas hepáticas. Ao
do complexo droga-citocromo P450 e da competi- segundo tipo pertencem os hidrocarbonetos policí-
ção entre substratos endógenos e exógenos. Estima- clicos aromáticos (HPA) (GONZALEZ, 1988), por
se que o citocromo P450 apresente de 20 a 200 iso- exemplo, 3,4-benzopireno em que ocorre aumento
formas (RELLING & EVANS, 1992). Quatro delas da síntese de proteínas, ao passo que o aumento no
(CYP3A4, CYP2D6, CYP2C19 e CYP1A2) foram mais metabolismo de drogas limita-se a poucos substra-
estudadas por estarem relacionadas com a
tos, não resulta em aumento na concentração dos
biotransformação de drogas. A tabela 1 discrimina
citocromos P450 redutases e associa-se ao apareci-
os diferentes substratos, marcadores, inibidores, in-
mento de uma oxidase terminal qualitativamente
dutores e a ocorrência ou não de polimorfismo ge-
diferente. Essa classe de indutor também pode acele-
nético das diferentes isoformas.
rar a formação de intermediários reativos durante o
A velocidade da biotransformação também é
metabolismo de outras drogas ou de compostos quí-
afetada por outros fatores, como genéticos (poli-
micos ambientais.
morfismos), fisiológicos (doença, estado clínico, ida-
de, sexo) e ambientais (poluentes e substâncias São as seguintes as conseqüências da indução:
químicas industriais) ou por uso concomitante de aumento da síntese de proteínas, maior velocidade
outras drogas. Esses fatores podem levar a duas con- de biotransformação, menor disponibilidade da
seqüências antagônicas: inibição ou indução na ve- droga original e aumento de toxicidade, no caso de
locidade de biotransformação, de suma importância drogas metabolizadas para formas reativas.
no estabelecimento dos regimes terapêuticos (posos- Há diferenças entre os dois tipos de indução, es-
logia). pecialmente quanto ao tempo de indução e duração
Inibição – A inibição pode ocorrer com todos os da indução. No caso de anticonvulsivantes, a indu-
sistemas enzimáticos, microssomais e não microsso- ção é lenta (no mínimo três dias) e a duração é curta
mais. Algumas vezes ela é extremamente desejável, (cinco a sete dias). No HPA, a indução é rápida (algu-
como no caso da terapia antidepressiva e uso dos mas horas) e a duração é longa (cinco a 12 dias).

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A indução causada por medicamentos pode ser escolha em pacientes grávidas e em condições de
benéfica, como na icterícia neonatal, causada pela afecções virais. A dose terapêutica para adultos é de
excessiva quantidade de bilirrubina, que, por não 325-650 mg a cada 4-6 horas ou 1.000 mg 3-4 ve-
ser conjugada e eliminada, atravessa a barreira he- zes/dia, não devendo exceder 4 g/dia, sob risco de
matoencefálica e produz uma forma de lesão cere- hepatotoxicidade (LEIKIN & PALOUCEK, 1996-
bral conhecida como Kernicterus. Administra-se 1997). A toxicidade com o paracetamol, portanto,
fenobarbital para induzir a glicuronil transferase, au- pode ocorrer com quantidades de apenas 3-4 vezes
mentando, assim, a conjugação de bilirrubina e, a dose terapêutica.
conseqüentemente, reduzindo o risco da doença. A Os hidrocarbonetos policíclicos são indutores po-
indução causada por HPA, presente nos poluentes tentes do metabolismo microssômico e acarretam o
ambientais pode, por sua vez, trazer conseqüências acúmulo de quantidade relativamente pequena de
indesejáveis, como a produção de oxidases termi- intermediários reativos, que, presumivelmente, se in-
nais qualitativamente diferentes. tercalam na hélice do DNA e iniciam a carcinogênese.
A figura 3 mostra a classificação dos carcinógenos
químicos. Observe que carcinógenos genotóxicos
BIOTRANSFORMAÇÃO E TOXICIDADE (causadores de mutação no gene) podem ser primários
A biotransformação, tão importante para a (causam mutações diretamente) e secundários (após
excreção de substâncias, apresenta o seu lado per- conversão em metabólitos reativos).
verso como resultado da oxidação microssômica. Os carcinógenos epigenéticos são agentes que,
Os metabólitos tóxicos podem formar ligação cova- por si só, não causam lesão genética. No entanto,
lente e/ou não-covalente com moléculas-alvo. As aumentam a probabilidade de causar câncer (BAR-
interações não-covalentes, entre elas, a peroxidação RET, 1992), por vários mecanismos, entre eles: au-
lipídica, a produção de espécies tóxicas de oxigênio mento de concentrações efetoras do genotóxico,
e as reações causadoras de alteração da concentra- potencialização da metabolização do genotóxico,
ção de glutation e modificação de grupos sulfidril, diminuição da desintoxicação de um genotóxico,
podem resultar em citotoxicidade. Já as interações inibição do reparo de DNA e aumento da prolifera-
covalentes de metabólitos reativos à proteína po- ção de células com DNA danificado.
dem produzir um imunógeno; a ligação ao DNA
pode causar carcinogênese e teratogênese.
O paracetamol exemplifica vários dos mecanis-
PERSPECTIVAS
mos gerais de lesão celular, tanto para interação Este artigo enfoca a importância da biotransforma-
covalente (formação de adição e de imunógeno) ção, pois, se ela não ocorresse, o organismo seria um
como para as não-covalentes. Em doses tera- depósito de substâncias químicas estranhas por tempo
pêuticas, o paracetamol é normalmente excretado, indeterminado. Nesse sentido, as enzimas exercem um
conjugado ao ácido glicurônico ou ao sulfato. Pe- papel biológico de extrema importância, sobretudo as
quenas quantidades, entretanto, são biotransfor- enzimas do citocromo P450, presentes nas membranas
madas em metabólitos reativos intermediários (N- do retículo endoplasmático liso.
acetil-p-benzo-quinona-imina, NAPBQI), elimina- A família de genes do citocromo P450 diversifi-
dos através do varredor nucleofílico, glutation cou-se desde sua origem, há mais 3,5 bilhões de
(GSH), na forma de ácido mercaptúrico. Como o anos, para adaptar-se ao metabolismo de um núme-
glutation tem suprimento limitado e ainda pode ro crescente de substâncias químicas ambientais, to-
ser depletado (estresse oxidativo) por formação de xinas alimentares e drogas ingeridas diariamente
adição entre NAPBQI e GSH (ligação covalente), a (BENET et al., 1996). Essas enzimas apresentam
droga na forma de epóxido ou quinona pode atin- uma particularidade fantástica: são passíveis de in-
gir concentração suficiente para reagir com os dução enzimática, além de inibição enzimática, co-
constituintes celulares nucleofílicos (BOOBIS et mum a todas. Embora a indução enzimática ocorra
al., 1989; NELSON & PEARSON, 1990). Sobre- com alguns medicamentos, esse aspecto tem re-
vém daí uma necrose hepática ou renal. levância na exposição aos poluentes químicos, pois
A figura 2 ilustra as vias de metabolização do pa- as reações de biotransformação catalisadas por enzi-
racetamol. É importante ressaltar as propriedades mas microssomais podem levar à formação de uma
analgésica e antitérmica do paracetamol, droga de oxidase terminal qualitativamente diferente.

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Figura 2. Metabolismo do paracetamol (fonte: BOOBIS et al., 1989; NELSON & PEARSON, 1990).

Figura 3. Classificação de carcinógenos químicos (fonte: RANG & DALE, 1997).

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Naturalmente o organismo dispõe de várias for- Nesse contexto, a exposição a novas substâncias
mas de neutralizar os metabólitos reativos intermedi- químicas deve ser cuidadosa, incluindo-se aqui as
ários formados nas reações de biotransformação ou drogas de abuso. Mortes têm ocorrido com drogas
na exposição a vírus, toxinas e radiações. Entre elas, usadas com finalidade não médica, entre elas, o ecs-
destacam-se a deleção da célula danificada, por apop- tasy e o 1,4-butanodiol (vendidos como estimulan-
tose (morte celular programada) ou necrose, e a pos- tes para clubbers e esportistas). Outro exemplo
terior substituição da célula danificada, por mitose. bastante comum, pelo uso socialmente aceito, é o
Mas se esses mecanismos falham, podem ocorrer ne- acetaldeido, produto de biotransformação do álcool
crose tecidual (requerendo, às vezes, amputação de etílico e composto intermediário extremamente rea-
membros), fibrose ou mutagênese (GREGUS & tivo, responsável também pelos efeitos deletérios
KLAASSEN, 1995). causados pelo uso crônico do álcool. Some-se a esse
Já se sabe a necessidade da seqüência de quatro
cenário a exposição aos poluentes químicos, coran-
a seis mutações para a criação de uma célula cance-
tes e conservantes fenólicos.
rosa. O câncer é uma doença que afeta o gene (por-
tanto, genética) e uma das mais temidas entre todas Assim, quer-se ressaltar que a ponte entre
as doenças. Se falham os mecanismos de reparo e o biotransformação e toxicidade é o metabólito rea-
de interrupção do ciclo mitótico, ocorrerá uma tivo intermediário, ou radical livre, capaz de cau-
proliferação celular, totalmente incontrolável, tor- sar graves danos, como as mutações, que podem
nando a célula imortal. Desse conceito de imortali- levar à perda de informação e, finalmente, ao
dade surge um novo paradigma dessa doença, câncer. Por fim, cabe chamar a atenção sobre a
relatado pelo físico Kaku (2001), de que “envelhe- responsabilidade do uso de drogas, lícitas ou ilíci-
cer pode ser o preço que pagamos para nos proteger tas, terapêuticas ou não, pois o organismo tem
contra o câncer”. seus limites.

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Submetido: 15/abr./2002
Aprovado: 22/out./2002

76 SAÚDE REV., Piracicaba, 5(9): 69-76, 2003

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