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Livro: Poesias 

Sou o sol na fresta 
Que o tempo abriu 
Na aba larga do chapéu 
Poeira e fuligem 
Estrelas sem brilho 
Nuvens, açoites do céu 
Filetes de luz 
Dançando na fogueira 
Do rosto trigueiro 
Resto de pão 
Que a fome matou 
Do homem carreteiro 
Carretas rangentes 
No asfalto de areia 
Rincão dos meus dias 
Sou marcas escritas 
Nos sulcos cavados 
Do barral da olaria 
Sou o que sei, não sou nada, acordei 
Sou o barro em gota 
No bico de pena 
Do barreiro, sem ter onde pousar 
Picana de cana 
Cansada da fustiga 
Sonhando, querendo mudar 
Árvores plantadas 
Podadas no caminho 
Pela mão do vento 
Crianças sadias 
Das favelas penduradas 
Em quadros frios do tempo 
Vivo colorido 
Das matas desenhadas 
Em preto e branco 
Sou pranto calado, em rosto de guerra 
No peito de tantos. 

Queres que eu morra pra te buscar 
Não sabes mais andar sozinha 
Ainda tenho mais, não és minha 
Amiga, sinto agora 
Mas não sou teu par
Dancei contigo 
E agora teu inimigo 
Me espera 
As estrelas já iniciaram 
A eterna melodia 
Preciso ouvir e ver 
O sol iluminando meu dia 
O outono está partindo 
Dando lugar à primavera 
Amiga, cubra­se! Aqui está tua veste 
Não precisa mais ficar nua 
Já me deste o suficiente 
Para aprender e sofrer 
Aprendi teus caminhos 
Tua linguagem 
Mas, enfim, obrigado! 
Depois da morte aprendi a viver. 


Se um dia decidirmos o adeus 
Dessa passagem, intransferível 
Seremos conscientes e resistíveis 
Analisaremos os erros, nossos, meus 
E na condição de um fim 
Começaremos tudo de novo 
Reconstruiremos nossa tempestade 
Que o fogo queimou 
Injusto ou não 
Em nós, em mim 
E seguiremos, quem sabe 
O nosso fruto 
Terá o pouco do nada 
Para dar continuação 
Em nosso começo 
Pois até então 
Ainda somos dois 
Em uma infinita estrada. 


Fui em busca 
Da minha realização 
Mas a chuva molhou 
Minhas vestes
Mostrando minha derrota 
E meu teste 
Para uma nova tentativa em vão 
Retirei­me para o meu reino 
E tirei minhas conclusões 
O que mais poderá ser contra mim 
Se o que é chuva para ti 
Para mim pode ser sereno 
Joguei minha fantasia 
Ainda molhada 
E aplaudi minha esperança 
Em gargalhada 
E esperei você perguntar: 
E nós? 
Logo tomaste forma 
Em meu pensamento 
E veio a madrugada 
E do nosso momento 
Restou apenas ansiedade 
Da escolha entre eu e a minha voz. 


Agora 
Que entreguei 
O meu corpo 
Como se fosse 
Um porto 
De barcos que vão e vêm 
Agora 
Que os meus beijos 
Matam outros desejos 
De lábios 
Que não conheço bem 
Você quer voltar 
Agora 
Que meus ouvidos 
Escutam 
Outros pedidos 
De alguém 
Que às vezes 
Não conheço 
Agora 
Que em minha alma 
Não existe 
Mais calma
E mais e mais desmereço 
Você quer voltar 
Não, não devemos mais 
Recomeçar no amor 
O que existiu 
Ficou no tempo 
E o tempo matou. 


O meu grito exclama 
O reflexo 
Da minha voz em chama 
E seu eco bem fraco 
Escama notas pequenas 
No couro das damas 
Ficando apenas tramas 
De um ritmo desafinado 
Se o meu tom interfere 
No arco­íris 
De nada adianta 
Você me agride 
Em forma de raios de sol 
Mas não importa 
Eu sou o som das nuvens 
Em trovão 
Que muito em breve 
Em chuva virarão 
Para molhar o chão 
Dos que vivem então 
Em seus lugares 
Torrão de terra 
Que espera sementes 
E eu sei; essas brotarão 
E elas precisarão 
De seus raios 
Não as queime 
Apenas esqueça... 


Aqui estou eu 
Exposto no tempo 
Preso pelas mãos 
Frias dos ventos
Seguindo rumos 
De cabeças perdidas 
Erguendo bandeiras 
Em terras vendidas 
Fugindo dos braços 
Amarrado a teus pés 
Segurando a barra 
Sabendo quem tu és 
Plantando sementes 
Sem tempo de cuidar 
Fingindo inocente 
Ao ver a guerra matar 
Aqui estou eu 
Um homem da rua 
Ao som do violão 
Falando da lua 
Jejuando amor 
Morrendo de fome 
Sugado pelas leis 
Criadas pelos homens 
Desenhando as mãos 
Na areia quente 
Fitando um corpo 
Que os olhos mentem 
Retirando as pedras 
Para o mundo passar 
Pelo furo d’agulha 
Pra todos nós se amar 
Aqui estou eu 
Sorteado ao nascer 
Vivendo e aprendendo 
Pra um dia morrer 
Desvairando­me 
Num grito cálido 
No vazio da multidão 
Escutando o silêncio 
Da minha canção. 


Te encontrei em um mundo diferente 
Onde o amor e a amizade 
São duas meras igualdades 
Antes e depois 
Do nosso contingente 
Da minha dúvida
Do meu incerto 
E meu certo 
Te amo quanto mais te conheço 
Te quero quanto mais 
Te esqueço 
Tenho­te distante 
Quanto mais ficas perto 
Afinal não sei de onde veio 
E nem pra onde vai 
Só sei que minha alma se esvai 
No afã de te encontrar 
Te amo 
Já não preciso dizer 
Pois vejo em você 
A razão de ser 
O motivo porque as águas 
Juntam­se e voltam para o mar. 


O cenário 
Que mais me impressionou 
Foram as imagens 
Dos nossos corpos nus 
Na hora do amor 
A refletir na parede 
Branca do quarto 
Com o reflexo da lua 
Vindo pela janela entreaberta 
Suas roupas amassadas 
No canto da cama 
E a minha alegria 
Ao sentir que estava 
Consciente e certa 
Seu corpo suado 
Seus cabelos molhados 
Seus lábios quentes 
Seus abraços 
Seus olhos meigos a brilhar 
O transporte de um tempo 
Para o outro 
E o cansaço 
Os corpos que adormeciam 
O silêncio entre penumbra 
A paisagem de amor 
O cheiro de amanhecer
Um novo sol 
Anunciando uma nova vida 
E depois o adeus 
E o meu anoitecer. 


Tanta mensagem 
Muito pouca ação 
É desse jeito minha gente 
De lado é melhor que de frente 
Tantos homens 
Que partem pra guerra matar 
Sem saber se adianta vencer 
Vendo o sangue correr 
O mundo seria bem melhor 
Com divisão 
Só haverá fome 
Enquanto houver 
Esta má distribuição 
Tanta gente 
Que não sabe  o que tem 
Esbanjam em banquetes tão nobres 
E esquecem a fome dos pobres 


E agora solidão 
Mergulhaste­me no teu oceano 
Queres que eu sobreviva 
Do teu nada 
Confusões mil 
Em minha estrada 
Não sei se sigo 
Ou se paro 
Para provar o teu engano 
Porém quase saciada 
A vontade de viver 
Paro e penso no meu depois 
Preciso destruir este elo 
Entre nós dois 
E buscar amor, amar 
E fazer gente do meu ser 
Solidão, você me devora 
Mas sem culpa 
Eu te busquei
Não quero desculpa 
Quero apenas deixar livre 
O teu caminho 
E seguir o meu sozinho 


Hoje você se fez 
Presente na minha lembrança 
Imaginei teu corpo 
Molhado junto ao meu 
Teus lábios quentes 
Murmurando aquele adeus 
Teu oceano 
Vazio e sem esperança 
Esperança que ficou 
Esquecida por você 
Partiste, tantos anos 
Talvez não sou mais nada 
Ou quem sabe o platonismo 
Te faz calada 
Junto a alguém 
Que te faz viver por viver 
Já sonhei 
Amei o bastante 
Mil enganos 
Pois nunca amei ninguém 
Como ainda te amo 
Embora ausente 
És meu motivo, minha doce saudade 
És a razão pela qual 
Sobrevivo da lembrança 
Fazendo o muito 
Desta pobre esperança 
Pois sei que ela vai alimentar 
Muito e muito 
Até que tudo seja realidade 


Exílio é estar calado 
Com tantas coisas pra dizer 
É ouvir o que os ouvidos não querem 
Sentir o que o coração rejeita 
É apertar a mão por interesse 
É olhar nos olhos das pessoas
Que se escondem por trás de sua falsidade 
É ferir a integridade passiva 
É ter que descer para acompanhar 
É ter que falar e respeitar cousas pobres e vazias 
É não aprender mais nada 
É ter que admitir a inferioridade 
Pra satisfazer o ego dos demais 
É ter que ouvir todos os anseios 
Sem poder expressar a vontade 
É o desejo de realizações 
É pedir clemência na aceitação 
Das poucas cousas que muitos 
Colocariam num pedestal 
É ser um serviçal ignorado sem ser servido 
É ter que ocultar o estado político 
Como se política fosse uma arma exterminadora 
É ouvir sempre não como se o “não” fosse 
A única coisa que se pode dizer 
Como se fosse o máximo da imaginação 
É ter que esconder a própria identidade 
Como se identidade garantisse alguma cousa 
Na sobrevivência natural do homem 
É saber que tudo poderia e deveria estar melhor 
É ter que participar desse mundo tão pequeno 
E sentir­se intolerável diante da mediocridade 
E ter que exigir das pessoas aquilo que elas têm 
E não sabem colocar para fora 
É ter que parar e não viver 
Para dar oportunidade aos outros 
É dar a mão no lugar da idéia da imaginação 
É estar sozinho no meio de tanta gente. 


Ah! Se eu pudesse 
Ser o sol que aquece 
O mundo inteiro 
A sentença que liberta 
Uma porta mais aberta 
O mar e o veleiro 
Ah! Se eu pudesse 
Em todas as minhas preces 
Ficar perto de Deus 
E falar dessa gente 
Que tão facilmente 
Esquece dos seus
Ah! Se eu pudesse 
Ser mais ação menos mensagem 
Ah! Se eu pudesse 
Ser menos enganos e mais verdades 
E falar! 
Ah! Se eu pudesse ser 
De quem esquece 
Eternas lembranças 
E em momentos de conflito 
Ser um poema a mais escrito 
Falando de criança 
Ah! Se eu pudesse 
Sentir quem merece 
Ter menos ou ter mais 
Acabaria com a guerra 
E faria desta terra 
Um mundo só de paz 
Ah! Se eu pudesse 
Ir além do futuro 
Ser uma luz nesse escuro 
E brilhar! 
Mas infelizmente 
Nada  disso eu posso ser 
E muito pouco 
Quase nada 
Posso fazer 
Pra que elas entendam 
Que viver é amar 
Ao olhar para mim 
Vejo que sou pouco 
Quem sabe apenas 
Mais um louco 
Tentando com palavras 
Alguma coisa consertar 


Lojas de brinquedos lotadas 
E crianças paradas com o olhar suplicante 
Apertando no peito a ânsia de ganhar um ... 
Disso eu não queria participar 
Mas não devo fugir dessa realidade 
Tenho alguém que viaja comigo 
Com o mesmo excesso de bagagem 
As pedras são as mesmas nas quais tropecei 
Por certo entende a minha mente tão confusa
Perante tantas coisas 
Que aqui seria difícil relacionar 
Na minha luta interminável da aceitação 
Eu sei, poucas pessoas entenderiam meu ego 
Quase sempre ignoram a forma da qual eu penso 
Mas nada pára, tudo continua, tudo se transforma 
E quando eu for fim, outras coisas começarão 
E a tendência de tudo é de se unir para vencer 
Mas quando... quando? Sem luta nada seremos. 


Ontem à noite 
Fingi ser um louco 
E saí à rua 
Procurei com as estrelas conversar 
Em uma linguagem cósmica 
Elas me falaram tantas coisas 
Que eu não tenho coragem de contar 
Uma força estranha 
Quase me fez admitir 
Que em outro mundo eu estaria certo 
Fui transportado 
Como um rei pelo espaço 
E quando cheguei 
Mostraram­me o erro 
Em que eu pensava certo 
Uma, ironizante, me falou: 
É a mente! 
Eles nunca entenderam 
Um fingido demente 
Que não tem razão pra se esconder 
Outra murmurou: 
Venha para a nossa, seu bobo! 
Apavorado, corri e tropecei 
Na tua pedra e caí no lodo 
E quando levantei, surpreso, 
Ali estava você. 


Hei! Que vida é essa 
Cheia de surpresa 
Ganhamos ou perdemos a toda hora 
Ganhar sempre é uma vitória, uma satisfação
Perder é tirar um pedacinho da gente 
É desilusão, dói e machuca 
Mas nada é eterno, tudo é transitório 
Ganhar, sempre aceitamos 
Mas perder, nunca 
O ser humano é engraçado 
Vive em busca de sempre ganhar 
Adquirir coisas novas 
Mas nunca pensa 
Que enquanto ele está ganhando 
Há um perdendo 
Enquanto um ganha uma nova amizade 
Há um outro irmão perdendo seu ente querido 
Vamos! Grite, sorria, faça alguma coisa 
Enquanto ainda pode 
Há sempre alguém esperando 
Uma manifestação sua 
Seja você, viva! 
Pois a vida também é transitória 
Um dia você se vai para deixar lugar para outro 
Você tem uma missão; cumpra! 
Não seja covarde 
Tudo só vale a pena 
Se você tiver algo a oferecer 
Não seja egoísta 
Faça alguma coisa 
Para que alguém ganhe de você 
Um bom presente 
Seja o Papai Noel dos angustiados 
Dos pobres de espírito 
Só assim você vai ver resultados 
De que a sua vivência valeu a pena. 


Você habita nosso ser 
E nós assumimos teu meio 
Dançamos neste mundo alheio 
Nos embriagamos para não ver 
Os outros nos vendo 
Vestimos uma máscara injusta 
Bordamos nossa vida oculta em trapos 
Que logo fica sendo 
A imagem da nossa eternidade 
Nos olhos da fertilidade 
Baseada nos seus confusos conceitos
Mais tarde você vai embora 
Depois que amarraste nossa outrora 
Foge apagando a chama 
Que resta em nosso peito 


Nos teus olhos eu vejo 
A profundidade do infinito 
O azul imenso do mar 
A estrada longa e aberta 
O enigma de um eco 
E um coração a cantar 
Na tua boca eu vejo 
O sorriso da Monalisa 
O palavreado de um despertar 
O murmúrio de um afago 
E o eco de uma canção de ninar 
Na tua mente eu vejo 
Idéias mil a saltar 
Desejos bem definidos 
Cada coisa em seu lugar 
E o pensamento louco de amar 


Vê! É meu sangue que brota 
Das veias revoltadas 
E da boca calada 
Surge um grito que lota 
Paz no meu abrigo 
O branco se transforma 
Amor tem outra forma 
Mas tem a ver comigo 
Sou eu quem voa 
De porto em porto 
Sou eu quem desenha 
Em teu corpo 
O resto de mim 
Sou o que vibra 
E ponho vida 
Nesta tua saída 
Sem adeus e sem fim 

j
Teu instinto 
Supera a razão 
Ficas nua 
Para agredir 
Minha mente homem 
Sacia meu desejo 
Mata minha fome 
Deliramos em um tom 
Negra escuridão 
Não sabes 
Eu também 
Apenas vivi 
Em teu corpo 
Minha eternidade 
E no quarto 
Brota uma paisagem 
De amanhecer 
Depois de nós 
Antes de ti 
Outro mistério 
Passa por mim 
E você fica 
Sendo o fim 
De um começo 
De uma nova vida 
A noite chega 
A lua me arrasta 
Quem é você não basta 
Já sei, outra razão 
Vai existir 
Em minha estrada 


Ilumine 
Os caminhos claros 
Desta multidão 
De sonhos raros 
E devastados 
Ilumine 
Toda mesa vazia 
Toda casa 
Pobre e fria 
E os desafortunados 
Ilumine
A criança abandonada 
A voz sem força 
Tão calada 
Das pessoas pobres 
Ilumine 
A razão da igualdade 
A justiça e a fraternidade 
E que o amor sobre 
Ilumine 
Tudo que precisa mudar 
E o céu, a terra e o mar 
Ilumine 
Este pedaço de terra 
Diminua a luta 
E a guerra 
E a conquista inútil 
Ilumine 
As pessoas tristes 
E aquelas que insistem 
Os outros ferir 
Ilumine 
As leis tão confusas 
E afaste 
Todos que as usam 
De forma tão hostil 
Ilumine 
A força de vencer 
A vontade de viver 
E a garra pra seguir 
Ilumine 
Tudo que precisa mudar 
Ilumine 
O céu, a terra e o mar 


Inerte em minha sorte derradeira 
No alvo da minha infelicidade 
Verte a morte companheira 
No dia­a­dia da minha saudade 
Saudade de um passado presente 
Que me apavora e me alucina 
Que ativa repentinamente 
Os mistérios que envolvem minha sina 
E agora, com o corpo aberto 
Enfrentarei esse mundo incerto
Que faz do meu ser lama 
Que outrora matou o realismo 
Embora mergulhado neste abismo 
Mantendo acesa, em meu peito 
Esta chama... 


Liberdade é saber da existência do sol 
É poder sentir o seu calor 
É saber que chove 
E poder se molhar na chuva 
É saber que em cada contexto humano 
Existe um enigma 
É saber aceitar sem ser aceito 
É poder ter raciocínio próprio 
Sem ser medíocre 
É saber onde está sua linha de divisão 
Entre seu ego e o dos outros 
Isso é liberdade ... 
Não sermos escravos ilusórios 
De nossas fantasias 
Do passado 
Das recordações, enfim ... 
A liberdade existe 
E está dentro de nós 
Liberte­se ... 


Minhas andorinhas bailam 
Como vampiros no quintal 
Formam nuvens pretas 
Dividindo o bem do mal 
De meu sangue brotam 
Paisagens secas 
Quase invisíveis 
Sinto­me com os braços na tipóia 
Rastejando em busca de jóias 
E encontro o baú, no horizonte 
Volta a primavera 
E as andorinhas 
Estão à minha espera 
Bailando ao redor 
Da potável, insaciável fonte ...

Fugi da morte em vida que vivia 
E fui sonhar com a realidade 
Mas adormeci no leito frio da falsidade 
E quando acordei, percebi 
Que eu apenas fingia 
Não sei se para mim ou para o mundo 
Pois as flores continuavam sendo fantasia 
Minha barreira foi desmoronada 
Pelos que viviam num mundo egoísta 
E um tédio profundo invadiu meu ser 
Ainda de olhos fechados 
Percebi que não tinha me encontrado 
Pelo menos para aqueles 
Sem noção do tempo 
E agora perante toda essa realidade 
Sinto­me bem acordado 
Vendo o dia de amanhã 
Caminhar do meu lado 
E a minha morte voando 
Como folhas secas ao vento ... 


Um suspiro de flor 
Vem do jardim 
E um bando de aves 
Explode do céu 
Jogas o meu vencer ao léu 
Lembras o que não existe 
E esqueces de mim 
Me faz confuso 
E eu te pergunto: 
Por que o vazio 
Está no que vejo? 
E tu demonstras o pejo 
Misturando nossas idéias e assuntos 
Falamos de coisas sensíveis e brutas 
Minha miséria depois da luta 
Irresistível da aceitação 
Pintei nossas imagens 
De todas as cores 
Mas elas, suspirando entre as flores
Rejeitam a nossa situação 


Abri a lixeira do mundo 
E entre coisas apodrecidas 
Encontrei sementes esquecidas 
Que hoje germinam meu tudo 
Brotam num silêncio misterioso 
A gana sádica e a cisma 
O que prospera, perde­se em rimas 
Desajustadas, em vão gloriosas 
Se perturbam minhas atitudes 
Minhas misturas 
Não sei, mas não fujo 
Do que procuras 
Em atos mesquinhos 
Me desfazer 
Eu ainda vou com asas brancas 
Depois de ti 
E o preto 
Que em mim sumir 
Reencontrarás depois de viver ... 


Silenciou minha paz 
Tumultua dentro de mim 
O que diz ser fim 
Da guerra viva 
Atrás de altas muradas 
Descidas intermináveis 
Lembranças amáveis 
De longas madrugadas 
Pára! Eu ocupo inteiro 
Seu corpo guerreiro 
Não adianta buscar horizontes 
O que ganho você recebe 
Você morre, e eu entro em greve 
Comigo, e com o mundo de ontem. 


Estou adormecido 
Em meus pensamentos
E dos bolsos brotam 
Flores e você pisa esquecida 
Das mãos fogem os pássaros 
Que já estavam de partida 
E vão aplaudir teu canto 
Fingido de bons momentos 
Não estou em lugar nenhum 
Se você diz ser tudo teu 
Não quero nada ter 
Se já tenho nada 
Sou de muitos a luz, a estrada 
A morte que brota do meu eu 
Faz ver que tenho em mim 
A água que molha teu rosto 
A fantasia veste teu desgosto 
Mas tenho as mãos que seguram 
Em meu peito a crença 
Enfim sou o homem 
Resto de mulher 
Que busca tudo 
Tem e nada quer 
Mas sei amar 
E reconhecer a tua diferença. 


Noite, tua negridão 
Me dá outras cores 
Das coisas que me rodeiam 
Umas você acentua 
Outras você desmerece 
No teu seio 
Com você, os sentimentos 
Brotam como flores 
Em jardins silenciosos 
É na tua calada 
Que você mantém 
Sempre a metade do planeta 
Sobre o teu véu de boêmia 
Os grandes poetas 
Te enfrentam com olhar de criança 
E coração de mãe 
Sempre disposto a amar 
E eu, noite, aqui estou 
Como tantos, só te acompanho 
No teu sempre amanhã
Que vem para dar paz 
Aos espíritos agitados 
Do dia ... 
Noite amiga dos inimigos irmãos. 


Onde estás 
Na minha poesia 
No meu canto 
Na minha alegria 
Na minha saudade 
Ou na minha paz 
Nem sei 
Meus dias lindos 
Ficaram para trás 
Que confusão 
Onde estás 
Jamais verás meu pranto 
Pranto e vontade 
De correr dessa indiferença 
Caminhar sem rumo 
E sem regresso 
Prender­me nisso ou naquilo 
Liberdade já não penso 
Pois nada me importa 
Sem a tua presença 
Incrível como fui achar 
Razão em um só momento 
Tudo foi passageiro 
Qual folha ao vento 
Mas marcaste o meu caminho 
Este amor completaste 
Sem nada pedir 
Senti paixão 
Como nunca senti 
E agora onde estás 
O que será de você 
E de quem será teu carinho? 
Onde estás ... ? 


Quando andorinhas pairam no céu 
E a brisa descansa sobre a colina
O mar se enche de graça 
Em sua dança 
E nós aqui com garra e gana 
Decidimos nossas andanças 
De dois para um só 
No livro de nossas vidas 
Viramos a folha do passado 
E vimos ilustrado 
Nosso presente amado 
Queremos do nada o tudo 
Do nosso amor o conteúdo 
De nossas alianças o mundo 
Vivemos a vida sem tempo 
De um minuto curtido a um século 
Nos objetivos 
Trançamos o nosso amanhã. 


Quero mil luzes e pingentes 
No rosto de cada um 
A expressão do que sente 
Não quero ver muita gente 
Só amigos da mente 
Que sobrevivi 
Não quero ver ninguém triste 
Pois no meu rosto existe 
A expressão da morte 
Que outrora senti 
Ela não me amedronta muito 
Pelo contrário, a gente se encontra 
Com a paz e a imensidão 
No trabalho que tive de plantar 
Semente de grão em grão 
Em sua mente eu sei 
Que alguma coisa vai germinar 
E crescerá, crescerá, eu sei 
Que vai me alcançar lá no alto 
Vai morar e muitos frutos irá me dar 
Quando no destino eu chegar 
Haverá um grande espelho 
Para me defrontar 
Verei minha massa em pó caindo 
E meu espírito subindo 
Para me glorificar 
Nesse instante somente sentirei
A paz transparente 
Que minha morte ausente 
Veio me proporcionar 
Agora sou uma estrela que brilha. 


Por motivos mil 
Meus pais de duas células 
Aqui estou 
No mundo de todos e não meu 
Na vida tracei batalhas 
Vivi, tropecei e venci 
Por motivos mil 
Hoje relembro de nuvens coloridas 
Sorri encima da minha derrota, cresci 
Das coisas boas que restaram 
Fiz minha máscara 
Para minha felicidade sentir 
Por motivos mil 
Entre deuses tornei­me mito 
Do satanás o anjo imaculado 
Tornei o mundo arrasado 
Diante de minha visão, voei 
Por motivos mil 
Da minha mente e espírito 
Restaram migalhas de felicidade 
Entre séculos vividos 
Não eras o tempo 
Em muitos segundos parado 
No alvorecer de uma realização, amei 
Por motivos mil 
Dos castelos construídos 
Escolhi a cabana 
Sonhos vividos, quis a realidade 
Das mentiras e trapaças, a verdade 
Do novelo de amigos o inimigo corri 
Por motivos mil 
Continuarei vencendo e amando 


Sou o ursinho peludo 
Que veio do frio 
Sem roupa e sem chapéu
Alegrar as crianças 
Acender as estrelas 
Rasgar as nuvens do céu 
E deixar a luz 
Brilhar a fogueira 
Pra todos pularem 
O resto da neve 
Que boneco se fez 
Pros grandes brincarem 
O vivo colorido 
Dos brinquedos quebrados 
Espalhados pelo chão 
Sou o chocolate 
Que suja a cara 
Mas adoça o coração 

Às vezes porto­me 
Como um palhaço 
Quem sabe tentando 
Mostrar meus sentimentos 
A criança adormecida 
Dentro de mim 
Ou mostrar por um momento 
A vida que tenho 
Sem razão afirmar 
Para o mundo 
Que não confia em mim 
Ainda pensam 
Que sou de ontem 
E que do seu lado 
Sou apenas o fim 
Mas esse palhaço 
Está dentro de mim 
É o maior inimigo 
É o muro que de peito aberto 
Tenho todo dia que enfrentar 
E para mim mesmo provar 
Que não sou tão errado 
Quando penso estar certo. 

j
Feche a porta, não faça barulho 
Eles não devem saber da nossa intimidade 
Pois somente por maldade 
Amanhã alguém pode ferir teu orgulho 
Enfim estamos sozinhos 
Tire a roupa, mostre a tua realidade 
Que dentro desta falsidade 
Conheço os belos caminhos 
Agora deite­se, não durma, pense 
A luta pode ser o início de quem vence 
Ame o que achar certo 
Te realizes de forma precisa 
Mas lembre­se! Chuva não é brisa 
E o nosso amanhã pode estar bem perto. 

Pintei o que vi em teu olhar 
Assinei. Aqui esta o teu retrato 
E a tua mente vestida de trapo 
Mudou a minha forma de pensar 
Passei a mão na tela 
Ainda molhada de tinta 
E misturei as cores claras 
Com as escuras 
E fiz o abstrato 
Da tua maldade tão pura 
E fingi minha felicidade 
Mesmo que agora sinta 
Que és um quadro diferente 
Da minha criação ausente 
Do que nada existiu, pra mim! 
Não sei até onde foi meu valor 
Sem moldura, jogado ao dissabor 
Só resta agora recuperar­me 
Depois desse fim. 


A esperança de amar da menina 
Nasce como flor do campo 
Sem ninguém plantar 
O galope de um zaino amadrinhado 
Queima como fogo 
No peito de um gaúcho apaixonado 
Lá dos confins do nosso rincão
Vem a nossa história 
Sofrida e vestida de glória 
Tanta poesia esquecida no tempo 
Se arrastando no vento 
Como raízes em tapera 
O silêncio do mato de pitanga 
Reflete na espuma branca 
Que escorre junto às águas da sanga 
O bando livre dos pássaros 
Voando no ar 
É toda a liberdade 
Que eu vivo a sonhar. 


Pensei em escrever o belo 
E saí à rua 
Mas para minha maior surpresa 
De amor e de beleza 
A cidade estava nua 
Mulheres fracassadas 
Crianças abandonadas 
Buscando em cada olhar uma solução 
Mendigos peregrinos 
Caminhando, implorando 
Um lugarzinho neste chão 
Gente mascarada 
Sem ser carnaval 
Poucos pensando  no bem 
Muitos no mal 
E esquecendo os valores 
Do ser humano 
Problemas incríveis solucionados 
E esse tal de amor 
Não passa de documentos arquivados 
Nos arquivos mentais 
De certos homens 
De mente de pano 


Terra vermelha 
Que seu sangue ateia 
Onde se espalha 
E logo se alheia
Busca nos braços 
Um aperto em uma abraço 
De alguém que no espaço 
Vive em teus braços 
Detona entre em amigos 
Vence e torna­se mito 
Tranca­se em labirintos 
E não desmente o já descrito 
Fala de amor 
Gosta também de seu calor 
Detesta falar de dor 
E vence a vida com fulgor. 


Te arranco do seio dessa massa 
Que só quer transformar 
Nossos lençóis frescos 
Em trapos de mendigos 
Que nada mais esperam da vida 
Quero puxar o véu te cobre 
E ver que assim morre esta ira quente 
Que corre em tuas veias 
Tão frias e sem fim 
Os amigos que te rodeiam 
Vêem você com espelho 
Para te derrotar 
Se você nada tivesse de bom 
Nunca seria imitado 
Você jamais teria amigos 
Se não fosse assim como é 
Os que são teus inimigos 
Esses sim te valorizam 
Pelo simples fato de não te aceitar 
Afirmam sem querer que você tem tudo 
O que eles não têm 
Por isso tão mesquinhos se apresentam 
Pelo simples fato de dizer não 
Você aceita em vão os que disseram sim 
Pensei que ainda tivesse 
Em cada choro, em cada prece 
A sinceridade que resta 
Me enganei, vejo agora 
Que poderia jogar tudo pro ar 
E recomeçar

Sou o consolo de quem vive no desespero 
Sou o sol que aquece o mundo inteiro 
Sou o sorriso de quem não tem motivos pra sorrir 
Sou a volta de quem se arrepende de partir 
Sou a paz de quem vive na guerra 
Sou a solução, sou o universo, o céu e a terra 
Tudo isso eu sonhei, não sou nada, acordei 
Acordei pra perguntar: 
Quem é você pra isolar caminhos? 
Este chão não é seu! 
Quem é você pra individualizar 
Os seres, se todos são filhos de Deus? 
Quem é você que critica tudo que vê 
Sem perceber o belo que existe em cada ser? 
Quem é você, que não entende 
O que a vida nos pode dar 
Tirar e devolver? 
Quem é você, que não sabe e nada faz 
Para saber da realidade e da vida? 
Quem é você, que pelo grande fato de ser homem 
Acha que a sua missão já está cumprida? 
Quem sou eu, quem é você, quem somos nós? 
Quero perceber, no emudecer de sua voz 
A concordância do meu modo de sonhar. 


Sobrevives em mim 
O que foste 
Aperta­se em nossas mãos 
Toda nossa história 
E o mundo dilacerante 
Finge aplaudir 
Nossa glória 
Escuta; é meu silêncio 
Feito mar 
Veja minha tempestade 
Já quase na metade 
Nosso abismo recuperado 
Mas nossa luta 
Ainda em chama arde 
Não temos nada a mentir 
Nem tampouco a desistir
Se temos no peito 
Nosso mapa indicador 
Já nos descobrimos 
Sem nada falar 
Nossos olhos dizem 
O que tentamos desabafar 
Eu sei, nosso amor 
Nasceu pra viver 
Além do amor. 


Desponta na ponta do arado 
Um sol vermelho 
E queima o rosto suado 
De um pobre campeiro 
Reponta e monta em pêlo 
E vem pra cidade 
Sua mágoa 
Escorre na água 
Do suor liberdade 
Do suor liberdade 
Ele não veio aqui 
Pra plantar no asfalto 
Sementes perdidas 
Ele veio buscar 
Sua vida 
Morta 
Pelas promessas 
Fingidas 
Mais um não em cada olhar 
Aponta a ponte 
E o chão molhado 
Ergue sua trouxa 
No ombro ferido 
Lá vai ele, estropiado... 


Aqui está tua esperança 
Veio de longe, do horizonte 
Veio encher a fonte 
Desta impossibilidade criança 
Agora tens água à vontade 
Eu tenho sede; dê­me de beber
Levanta meu ser 
Que serei tua verdade 
Seremos dança, poesia e par 
Te engrandecerei, te farei mar 
Meu sangue, tua brisa 
A molhar nossa areia 
E quando nada mais restar de nós 
Teremos uma voz 
Presente em cada ceia. 


Estou triste 
E é dessa tristeza 
Que eu tiro 
O pior das minhas conclusões 
Enquanto te faço 
Céu, brisa e mar 
Me faz lixo, mil ilusões 
Me arrasta por caminhos 
Que eu não conheço 
E quando precisas de mim 
Sou o tudo 
E quando preciso 
Sou teu nada 
Sou teu abismo 
Quem sabe teu lodo! 
Me jogas na rua 
Em busca de justificação 
Ignoras minha situação 
Não encontro 
Eles são iguais a você 
Negas o pouco e tiras o resto 
E ainda diz 
Esse cara não presta 
E depois lambe o último sabor 
Que era meu vencer. 


Molhaste meu rosto 
Sacudiste minha mente homem 
Ao murmurar: Esqueça­me 
Foi como dizer: Te some! 
Neste tom amargo
De adeus, quase sem gosto 
E, depois do amor 
Uma realidade 
Terei de ter forças 
Para dar e enfrentar 
E saber que nos encontramos 
Antes de errar 
Ou antes de tudo ser falsidade 
Te encontrei tarde ou talvez não 
Não compreendeste 
Minha juventude ilusão 
Mas pense no pouco que te amo 
Se estás sofrendo 
E o teu vencer 
É longe dos sonhos 
Que foram somente teus 
Corra nesta escuridão 
Tateando o que for teu 
Que estando feliz 
Estarei vivendo. 


Você que se propôs viver 
Ao meu lado em vida 
Largou seu bando de andorinhas 
Para fazer seu próprio ninho 
Aconchego, resolveu lutar 
E escolher uma só estrada 
Para sua caminhada desconhecida 
Você é muito valorizado 
Considerado por meu ser 
É ego acordado, bailado 
Em cada conversa viagens 
De possibilidades, diálogos 
Você que agora faz parte 
Da minha vida, unida 
Tornou­se o adubo 
De uma semente amor 
Que brotou e agora cresce 
Deslumbrante, vivendo 
Você, que primeiro aceitou 
O inferior aceitado 
Descobre através de nossa janela 
Que o infinito soou para nós 
A nossa continuação
Nosso fruto. 


Vai meu pensamento vai 
E pousa anos atrás 
Quero recordar 
A casa onde eu morava 
As figueiras e o bamburral 
A terra vermelha de horta 
As hortênsias quase mortas 
Extinção que me faz tanto mal 
A cozinha de chão 
A sala sem sofá 
Dois quadros na parede 
Um quarto sem cama e sem rede 
Que saudade me dá 
Meu pai no bar da esquina 
As calças curtas do meu irmão 
Minha mãe na sanga com a roupa 
Água limpa, mas tão pouca... 
E a panela de ferra no fogão 
Avenida e a vila nova 
A vizinha com as crianças 
A rua que encostava com o céu 
A noite cobria um preto véu 
E do ontem, só restaram lembranças. 


Livro: Questão de Valores – Olhar de Frente 

Nós ... 
Não temos o direito de informar 
Como se nada tivéssemos para transmitir 
Não podemos ler, como se fôssemos analfabetos 
Não podemos dar opinião 
Como se opinião tivesse ordem hierárquica 
Não podemos contestar nem duvidar 
Como se os outros sempre estivessem certos 
Não podemos fazer parte de assuntos 
Como se da nossa boca somente saíssem besteiras 
Não podemos falar do nosso fim de semana 
Como se agente não fosse feliz
Não podemos falar da nossa família 
Da nossa casa, da nossa roupa, da nossa comida... 
Como se elas não tivessem nada de interessante 
Não podemos falar das peraltices de nossos filhos 
Como se eles não fossem crianças que nos fazem 
Existir e sermos felizes 
Como que só existissem as grandes coisas. 
Só temos que escutar, aprender e executar 
Como se a inteligência fosse apenas privilégio 
Das pessoas bem sucedidas... e ainda temos que 
Achar lindas as atitudes vazias para sermos lembrados. 
Só tem uma coisa: poucas pessoas percebem 
Que todos nós caminhamos para o mesmo lugar 
E por uma questão de egoísmo, 
Caminhamos todos sozinhos... 


Nasci pra 
Te completar 
Faças de mim 
O que quiseres 
Meu peito teu abrigo 
Serei teu homem 
Se fores 
Minha mulher 
Venha acenda 
A luz do quarto 
Retire este 
Lençol misterioso 
Que cobre 
Teu corpo inerte 
E faças de conta 
Que eu te dei uma pousada. 


Eu não consigo entender 
Tantas verdades perdidas 
Eu não consigo entender 
Tanta gente oprimida 
Barradas pra não lutar 
Palavras que fazem calar 
Esta massa cansada e dividida 
Eu não consigo entender
Tanta gente com fome 
Eu não consigo entender 
A ganância do homem 
Que esquece os valores humanos 
E flutua nos seus enganos 
Sem ver que o ódio consome 
Eu não consigo entender 
Você por aí mal­andante 
Eu não consigo entender 
Pessoas perto tão distantes 
Tantas coisas, mas mal divididas 
Tantas promessas, poucas cumpridas 
Germinando sementes errantes 
Eu não consigo entender 
Quem ganha com a guerra 
Tanta gente que nem sabe o que tem 
Nem imagina que exista por aí alguém 
Implorando um cantinho nesta terra 
Eu ano consigo entender 
Quem não entendeu 
Que o mundo ainda tem um só dono. 


Magoa­me ao colocar nos extremos 
Minha mente 
E a minha pobreza 
Pois considero­me 
Opulento e fértil 
Ao menos no que faço 
Tenho certeza 
Jamais irei vestir de ouro 
Minha face, minhas palavras 
Tão verdade 
É o exemplo que sou para mim 
Marcas ficaram 
Pelos caminhos 
Da minha viagem 
Dia­a­dia as coisas se modificam 
Ganham outras formas 
E as que ficam 
São os restos recuperados 
Que amanhã serão 
Mais um conteúdo 
A ser discutido 
A dois e em tudo
Daremos continuação 
Lado a lado. 


Con el pecho cerrado 
Y los ojos vendados 
Como noche en el alma 
Siguen su camino 
Sin nada decir, 
Nosotros somos así. 
Los niños nacen 
Junto a la represión 
Que podemos hacer 
Ahora muy solo 
Su cabeza no, 
Nosotros somos así 
Yo sé, tú también 
Que ellos 
Están haciendo 
Algo 
Para cambiar 
Los años helados 
Ya se puede sentir 
En la voz del pueblo 
Unido 
Mirar hacia delante 
El tiempo dilata 
Y nuevos vientos 
Traerán libertad 
Libertad sudada 
Esperamos que sí. 


Entrada proibida 
Que coisa estranha 
Ordens maldosas 
Misturadas com cinismo 
Mãos que erguem 
Repicam sinos 
E eu me delato 
Com minha façanha 
Sei, sou  massa 
Colhi minhas próprias flores
Colori o negativo da minha cara 
Da forma mais precisa e rara 
E cresci em cima dos meus valores 
Ora! Eu estou ficando transparente 
No meio desta multidão presente 
Que ainda não consegui desenrolar 
Lá fora, eu sei, o sol existe 
A chuva que molha 
Gente lendo o ontem 
E o amanhã, apenas folha 
Sem ver o proibido 
Deixa tudo passar... 

Eu vim aqui 
Para consertar 
Algum coisa 
Que está fora de lugar 
Não sei se são as luzes 
Do cenário 
Que atrapalham em minha cara 
Ou se é a cabeça dos homens 
Que pra mim é coisa rara 
Ou este suga­suga 
Do homem pelo homem 
Para o banquete da terra 
Ou esta gestação 
Do ventre livre 
Que expele bombas de flores 
Tumultuando a paz 
Na guerra. 


Estou só neste quarto vazio 
E é desta solidão 
Que eu tiro 
Motivos maiores e firo 
Este amor tão distante e frio 
Mil coisas se proporcionaram 
A mim 
Hoje, neste entardecer 
Mas não consigo viver 
Nem tirar proveito 
Quando está longe de mim
Gosto de você 
E em cada rosto 
Transporta meu pensamento 
Para o seu corpo 
E não está aqui 
Lavei minha mente 
Das coisas que não me dizem nada 
E sentei até o anoitecer 
E veio a madrugada 
E o silêncio 
Me conformou por você 


Nasci da minha morte 
Pra viver a minha vida 
Encurtei meus caminhos 
Pra caminhar em uma 
Estrada comprida 
Sonhei com a incerteza 
Pra acordar na rua 
Entendi as mentalidades 
E vesti pra não ver nua 
Caminhei dentro desta confusão 
E aplaudi nos pés da razão 
Que destes aos meus atos 
Compreendi teus mistérios 
E por isso levarei a sério 
Nosso dia, nossa verdade 
Nosso amor, nosso fato. 


Vulto inconfundível 
De frente sem rosto 
Nos olhos um gosto 
De planos mil 
Raios de luz da luz 
Natural do homem 
Abundante de fome 
Cobre mentes nuas 
Prenda minha fuga 
Nesta sujeira suga 
O meu afã 
Retira esta parede
Mas deixa a rede 
Posso cair amanhã. 


Onde foram os pássaros 
Que explodiam em nosso jardim? 
Calaram­se as flores 
Que nasciam em mim 
E você ficou despida 
Não sei porque! 
O que então 
Mil minutos perdidos 
Em longas nuvens – solidão 
Isto não pode acontecer 
És tudo em mim 
E eu em você 
Um beijo 
Teu sorriso me ata 
Teu corpo me mata 
Eu espero 
Deixo, amor, deixo. 


Teu silêncio 
Me devora 
Tua paz 
Me põe em guerra 
Desbravas 
Minhas terras 
E te apossas 
Da minha outrora 
Caminhas 
No meu tempo 
Estilhaços 
De cismas 
Me transformas 
Em cinzas 
E partes 
Com o vento 
Meu sangue corre 
Faz um mar seco 
E morre 
Pra não navegar
Foges por um oceano 
De mentiras 
E enganos 
Pra não me deixar. 

Eu, das coisas tão simples, 
Da palavra amiga 
Dos mistérios contidos 
Do amor aos outros 
Sem religião definida 
Sem política 
Sem tempo 
Sou passagem 
Sou viagem 
Dos problemas 
Das soluções 
Do jeito em tudo 
Da crítica 
Dos comentários 
Das estrelas 
Das bobagens 
Das palhaçadas 
Deste planeta 
Das revoltas 
Das batalhas 
Do amor as crianças 
Do querer aos adultos 
Do amor à natureza 
Do não ao preconceito 
De todas as formas de amor 
De um monte de coisas 
Que você deveria saber 
Do sempre mais e mais 
Da partícula do teu ego 
Da tua própria dúvida 
De você 
E do próprio eu... 


Vejo minhas coisas bailarem 
Sem ritmo
Sem melodia 
Sem dança 
Minhas mãos tocam 
E não alcançam 
Alegria de um lar 
Lá fora o vento 
As folhas arrastam 
Machucam as árvores 
Desgalhadas 
E você muda 
Em gargalhadas 
Me diz chega 
Você me basta 
Tudo balança 
Sem se apoiar 
O chão com o teto 
Parecem se encontrar 
E eu vejo 
Nosso céu vazio 
A luz se apaga 
E não mais te vejo 
Meu corpo adormece 
E depois do beijo 
O dia nasce sombrio... 


Sou uma voz 
Que soa 
Desafinada 
No protesto 
Da paz 
Sou um corpo 
Que dança 
Desvairado 
No porto 
Do cais 
Sou outros mais 
Que ninguém ouve 
Sou uma brisa 
Que desliza 
Pela boca 
Molhada 
E envenena 
Meu ser...

Tanto tempo 
Que estamos brincando de amor 
Tanto tempo 
Que a voz 
Entre nós dois se calou 
Tanto tempo 
Que nós estamos 
Perdendo de sermos felizes 
Tanto tempo 
Que nós juntamos jornais picados. 
Não adianta! 
Nada mais velho 
Que as notícias de ontem 
Tanto tempo 
Que nós cada vez 
Que tentamos encontrar 
Uma saída 
Neste labirinto 
Nos encontramos 
No mesmo lugar... 


Você que em 
Cada momento 
Faz renascer meus sentimentos 
Tão reprimidos 
Pelo tempo 
Você que em 
Cada instante 
Planeja meu inconsciente 
E eu me sinto 
Como o vento 
Leve suave soprando 
As árvores lá fora 
Queria que tudo fosse 
Vivido aqui agora 
Que tudo fosse festa 
Que tudo fosse dança 
Que tudo fosse presente 
Que tudo fosse colorido 
Que tudo fosse 
Visto de frente
Mas tudo é amor 
“Eu sei que é”. 


Um rosto louco 
Muitas vezes 
Serve de diversão 
E consegue dar invasão 
Nas mentes poucas 
Treme seu braço 
E não alcança apoio 
E em seu redor 
Se forma um palco 
De pejo e o pior 
Quem nele está 
Representa o fracasso 
Agem assim 
Porque não conseguem entender 
O que está além de você 
E longe da tua realidade 
No teu sorriso 
Vejo tua falsa alegria 
Depois da comédia 
Louca e fria 
Foge o artista 
E tu ficas sem tempo 
Sem idade... 


Mulher que completa 
Minha poesia 
Mulher meu ouro 
Minha lama 
Meu sereno 
Minha chama 
Mulher minha fantasia 
Meu abismo 
Minha realidade 
Meu sonho, meu desejo 
Minha paz 
Meu ensejo 
Meu engano 
Minha falsidade
Afinal, o que és 
Em minha vida 
Minha alegria 
Fingida 
Ou o complemento 
Da minha história 
De amor e cor 
Não sei, vim de ti 
E vivo em ti 
O encontro o adeus 
O melhor e o pior 
Dos sonhos meus 
Onde és mar 
Céu, estrelas 
Mulher e flor. 


Escuta 
Minha canção de dor 
Falando do passado 
Escuta 
A carreta rangendo 
Costeando o alambrado 
Escuta 
O vento lá fora 
Derrubando as amoras 
Árvores desgalhadas 
E você morta 
Desbotada 
Esquece nossas raízes 
Minhas pobres cicatrizes 
Abertas 
Expressas 
Sem nada resolverem 
Nem pôster dos Beatles 
Escuta. 
É um coro de anjos rebeldes 
Espalhando bombas no céu... 
Já não ouve mais... 
Eu também... 


Do que fiz ontem
Estou mergulhado 
Em meus arrependimentos 
Sinto a necessidade de perdão 
Das mentes que joguei ao vento 
Estou confuso comigo 
Não sei porque 
De mentes que julguei ser maior 
Me faz chegar ao ridículo 
Com coisas tão sem importância 
E o pior! 
Que quase esqueci 
Da nossa felicidade 
Teu dia nossa realidade 
Não sei se eu quis fugir de mim 
E me esconder da nossa integridade 
Caminhamos em silêncio 
Pelas ruas da cidade 
Quanto tempo perdido 
Mas sei recomeçar depois do fim. 


Depois de tanto tempo 
Só tem hoje 
Pra ficar 
Entre quatro paredes 
Contando as horas 
Pra chegar 
Malas prontas 
Roupas bem passadas 
Pés descalços 
Cabeça ao vento 
Lá vamos nós 
Gastar e nos gastarmos 
Enquanto há vida 
Sei que haverá tempo 
E menos distância 
De mim e de você 
Mas já sei que não 
Vou morrer 
Sem antes sonhar 
Areia seca 
Água salgada 
Saudade malvada 
Vai me trazer logo 
Meu pedaço vou deixar
Nosso amor, nosso filho... 

Pena que eu te conheci no fim 
Mas teu canto 
Mostrou­me novos horizontes 
Tuas mãos em carícias 
Buscaram da fonte 
Esta felicidade 
Que fugira de mim 
Vais partir 
Mil estradas percorrerás 
Quem sabe sempre 
Ou nunca jamais 
Lembrarás de mim 
Ou serei um a mais 
Das noites sem importância 
Que a vida te dá 
E agora parta 
Pise firme os teus passos 
Aperte esta vontade 
De vencer em teus braços 
Não olhes para trás 
Não existe adeus pelo menos para mim 
Pois sei que a luz 
Que iluminará teu caminho 
Por certo iluminará tua mente 
E verás que estou sozinho 
Tentando descobrir porque a vida 
Me oferece o que está no fim. 

As cordas 
Do meu ego 
Afirmam 
A tua consciência 
Inimiga inocência 
Do muito 
Que te nego 
Sou capacho 
Palhaço 
Neste palco 
Sem almejar 
Um futuro 
Cego tramar
No que faço 
E desfaço 
As partículas 
Da minha murada 
Resta o que te esvai 
Em gargalhadas 
Amanhã sou eu... 
Mas não vou rir 
Do que ficou 
Vou resistir 
O meu amanhecer 
Já amanheceu. 


Sem fantasia 
A sociedade 
Não entende 
O verdadeiro amor 
Não sente 
A mão que se estende 
No acalanto da dor 
Sem fantasia 
A sociedade 
Não entende 
O branco 
De um corpo negro 
Inerte 
Não dá direito 
De recuperação 
Ofende... 
Diminuindo 
Seu vencer 
Que verte. 


Gostaria de voar 
E situar­me na imensidão 
E fazer do meu então 
O motivo de chegar 
Chegar aonde não sei 
Mas quero paz no meu desencontro 
Verdade no meu conto 
E não mentir o que amei
Te olhar e ver no que foi 
E o que morre 
Nesta multidão que corre 
Te salientar no imenso vazio 
Te igualar na descida 
Te esperar na partida 
E um adeus 
Inesperado e frio... 
Me mata... 


De homem a menino 
Pandorga na mão 
Bolinha no imbo 
Doce sonho de ilusão 
Que o coração 
Reclama no tempo 
Mas perde­se na idéia 
E no vento 
Que vontade de correr 
De cantar e de sorrir 
De abraçar o contador 
De histórias pra eu dormir 
De homem a menino 
Bodoque na mão 
Pulando amarelinha 
Bem alto do chão 
Eu imaginava 
Voar sem asas 
E acordar em um banco 
De praça. 

Invade pela minha janela 
Um desejo meu e dela 
De uma nova vida 
O meu céu parece se abrir 
No brilho das estrelas 
Já se pode sentir 
Você chegando 
Você chegando 
Não sei como você é 
Mas já posso imaginar 
Você nos meus braços
Chorando querendo nanar 
Arde no meu peito 
Um sonho perfeito 
Canção de ninar 
No silêncio calado da noite 
Por entre brinquedos 
Amor, paz e segredos 
Quero te guardar 
Quero te guardar 
Não sei como você é 
Mas já posso imaginar 
Você nos meus braços 
Chorando querendo nanar... 


O que brota em nosso meio 
Selvas espirituais 
Liberdades conjugais 
Amor, paz, anseios 
O que nasce no dia­a­dia 
Grandes vazios preenchidos 
Torturantes arrependidos 
Em não ver o sangue que caía 
Uma selva de máquinas pensativas 
Inocentes, servindo os que ativam 
Com seus rudes mandados 
E elas servem amedrontadas 
Com a igualdade tornam­se caladas 
Gritar, chorar... não 
O mundo não é nosso! 


Tantas lutas eu venci comigo mesmo 
Bem antes de saber da tua chegada 
Eu não tenho idéia 
Do mundo que te espera 
Mas quero te acompanhar 
Quero te acompanhar 
O teu amanhã eu sei 
Está muito distante 
E nós, é esse nós 
Que falo 
Sou eu e sua mãe
Já de cabelos brancos 
Mas não ligue pelas vezes 
Chatas e ultrapassadas 
Que te aconselhar 
Porque... 
Um dia você vai estar no meu lugar 
Só aí então vai perceber 
Como é bela e longa esta espera 
Como é pertinho o teu nascer 
Você, quero tomar em meus braços 
E dizer coisas de ninar 
Te ensaiar nos primeiros passos 
Pra depois tua vida continuar... 


Mentalidades supérfluas 
Me agridem em vão 
Meu silêncio se confunde 
Com o vazio 
Não quero agressão 
Nosso teto, a luz, ligue... 
E leia o manuscrito 
Na minha face fria 
Você aprendeu pouco 
Por isso me diz 
Coisas simples 
Linguagem de massa 
Pensando encontrar barreira 
Para satisfazer 
Teu desejo 
Constante, tua farsa 
Viajamos pelos mesmos caminhos 
Buscamos os mesmos carinhos 
Por que ficarmos 
Distantes da realidade? 
Pare! Toma minha mão 
Vamos andar como gente... então 
Que achaste dessa nova mentalidade? 


Olhar de frente 
É ver o mundo passar 
É a gente sentir­se sozinho...
É amar o desconhecido e querer 
Fazer parte do seu conteúdo... 
É jogar pros ares seus sonhos 
É ver cintilarem as estrelas 
É estar dentro de si e ao mesmo tempo 
No meio do mundo... 
É estar atento a tudo 
É ter só pra você a paz 
É sentir tocarem no seu inconsciente 
E você despertar para a vida 
Olhar de frente é mostrar­me 
Capaz de ter olhos e ver o mundo 
Com os sentimentos... 


Já que não estou em Tapuã 
Piso forte e me enraízo 
Por aqui mesmo 
Na roda que corre... 
Corre o rio pro mar 
Corre sangue nas veias 
Corre o ar fresco 
Por entre frestas 
Corre risco de vida 
Que brinca com o fogo do mar 
Corre... corre... deixa correr 
Já que não estou em Tapuã 
Troco idéias com o mundo 
E a vida passa na tevê... 
A cara transborda o que 
O coração está sentindo 
Na inquietude da alma 
A incerteza descansa 
Sobre a sombra do teu sonho... 
No balançar do acalanto de mãe 
Adormece a mulher menina... 
E agora levanto a cabeça 
E vejo uma luz 
Que representa o sol 
Estou viva! 
E viva quero me entregar até morrer... 

j
Vejo linhas se cruzando 
Outras se encontrando 
Retas, paralelas e curvas 
Quebradas desenhadas 
Sem continuação 
Tudo para definir objetos 
Plantas animais e pessoas 
E a senhora consciência por que será 
Que não tem linhas pra defini­las? 
Acho que seria desastroso 
De repente a consciência 
Das pessoas começa 
A construir formas 
Garanto! Seria um verdadeiro 
Festival de monstros ambulantes 
É gratificante poder olhar­se para dentro 
E ver que seu monstrinho não é tão 
Assustador... 
Mas nunca se esqueça 
O teu rosto será sempre 
Como um espelho 
De tua consciência 
Ele sempre reflete o que a alma sente. 


Apenas uma palavra 
Me devora 
No sentido de partícula que sou 
Consumo o veneno de meu trânsito 
Entre fogueira sou calor 
De imagens translúcidas 
Sou verdade 
Do choque estrondo sou 
Do começo ao fim chego ao meio 
Com tantas estradas 
Disponíveis 
Sempre voando eu vou 
Do corpo sou braços abertos 
Da mente sou sempre despeito 
No amor sou água ardente 
Que roda em seu ente 
Dos seus gritos eco sou. 

j
Olho no espelho 
E me espanto 
Cadê você, liberdade? 
Você sempre diferente 
Dos passarinhos 
Sem asas... 
Olho para os lados 
E vejo 
Cimento concreto 
E mais nada 
Cadê você natureza? 
Vem, vem dar mais beleza 
Não há tempo para mágoa 
Poço fundo sem água 
Corre junto 
Ou ultrapassa 
Nesta corrida 
Malvada. 

Sentimentos que implodem 
No meu peito 
Razão do ser ou não ser 
Na busca de respostas 
Para conflitos sociais... 
E a vida... 
A vida continua 
Enquanto discute­se futebol 
A fome persiste em fazer 
Sua goleada 
No estômagos do mundo. 
E no peço fundo e negro 
Da consciência nula 
Brilha uma estrela 
A esperança 
E a vida... 
A vida continua 
Enquanto discute­se o pacote 
A dívida externa aumenta 
E o terrorismo 
Toma conta do mundo... 
E no jardim da vida 
Já não restam mais flores 
Mas o verde presente 
Diz que alguma coisa ainda resta
E pode­se mudar... 


Um não sei o quê 
Que nestes momentos 
Me atormenta 
Busca lá dentro de mim 
Um fundo que não existe 
Que procura a metade 
De cara perdida 
Que transforma 
O momento em século 
Um não sei o quê 
Que faz da mão amiga 
Um caminho do meu sonho 
A sonhar... 
Que faz da minha perdição 
Eu me encontrar 
Que faz da minha afirmação 
Me negar 
Que faz deste teu olhar 
Uma estrela a brilhar 
Que faz da minha contradição 
Um instante a sonhar 
Que faz neste tic­tac 
Me aprofundar 
E será que neste que faz 
Eu posso parar... 


Ser ou existir, não é tudo 
Agora querer é mais supremo 
Que todas as crenças 
Viver entre grades ou traumas 
É indigno de qualquer humano 
Ou extraterrestre 
Viva, corra, exija, aproveite 
Pois a qualquer hora 
Você pode ser guilhotinado 
E estamos em pleno século XX 
E isso é uma realidade 
Que existe ao nosso redor 
Não devemos fugir dela
Devemos é ignorá­la. 


Meu consciente dorme 
Num sono fértil 
Sobre a relva macia 
O céu debruça o seu olhar azul 
Sobre o meu corpo incandescente. 
O toque suave de suas mãos 
Fazem acender esta fogueira menina 
Que a ira outrora em estilhaços 
Deixou cicatrizes na alma envaidecida. 
Dorme, dorme... deixe­me dormir 
Pois enquanto o acalento do meu sono vigora 
A incerteza estará voando 
Em forma do último condor 
Entre rapinas por outras paisagens. 


Se você acordou hoje 
Abriu a janela 
E através dela 
Viu que tudo corria normal... 
Mas no seu peito palpitava 
O desejo de novas emoções 
Anseios por realizações 
Que fizessem deste dia 
Um dia muito especial 
A cada instante que passa 
Os tons da vida 
Vão desbotando 
Mas a esperança continua 
Em sua transparência de tule 
Ofuscando os sentimentos 
Vamos liberte­se 
Deixe que seu grito 
Quebre os cristais da vida. 
Para alguém especial 
Um dia muito especial 
Rotina... 
Parabéns pelo seu aniversário...

Entre os lençóis frescos e macios 
Detonamos em busca do prazer... 
E no ímpeto de nossa hora sagrada 
Nos sentimos entrelaçados 
De corpo e alma 
A frase “eu te amo” não sai 
Mas explode entre seus lábios quentes 
Que eu sou seu melhor vício... 
São instantes que passam depressa 
Que depois simplesmente ficam a vagar 
Por nossas cabeças 
Nos olhamos, e o riso 
Espontâneo nasce 
Em nossas faces 
Na certeza de que nós sobreviveremos 
A nossa mentira... 


O rádio preludiava 
Uma canção 
Que falava de amor 
Através dos vitrais 
Eu via seu corpo 
Sendo acariciado 
Num banho de espumas 
Perfumadas. 
A luz tênue acentuava 
Seus contornos deixando também 
Transparecer a sua alma. 
Era uma noite de verão 
E eu estava ali 
Pronta para te receber 
No meu acalanto 
Na mais linda história de amor 
No meu íntimo desnudo 
Só restava o desejo 
Que o tempo parasse 
E eu fosse feliz. 
O relógio tocou 
Eu despertei 
Deslizando a mão sobre a cama 
Você não existia...
Foi apenas um sonho 
Sonho de verão que aconteceu 
No inverno... 


Sua perturbação 
Me atormenta 
Deixa na imensidão 
Do céu uma nuvem a tapar o sol 
E neste exato momento 
Um arrepio me percorre 
É a falta de calor solar 
De tantas coisas que me rodeiam 
Até esta mosca me importuna 
Para tudo isto há uma razão 
É a falta de certeza 
Do que ocorre em sua mente 
Todo o rio corre para o mar 
Se estamos juntos 
É porque juntos vamos caminhar 
Se o caminho é longo ou curto 
Não sei, mas vamos chegar 
É porque queremos e vamos 
Nos aprofundar 
Se um sorriso for negado sorrirei 
Se algum soluço me vier da garganta 
Chorarei 
Enquanto sentir o calor 
Deste amor amarei 
Por todos estes motivos 
É que viverei 
Eternamente... 


Que a cor do céu 
Que vejo agora 
É a mesma 
Que você vê 
Que o que sinto agora 
Você algum dia vai sentir 
Que o que falo 
Neste instante 
Você vai entender
O sentido 
Quem me afirma 
Que amanhã vai amanhecer 
E o sol vou ver 
Com o mesmo esplendor 
Que no teu coração vai existir 
O mesmo embalo de sentimentos 
Que hoje tem 
Que eu continuarei 
Ser uma pessoa e não um ser 
A mais simplesmente 
Quem me afirma que... 


Cintilam entre as luzes do palco 
As personagens desta história 
Dezenas de pares de olhos 
Fixam­se nos movimentos 
Identificando­se 
Com o que é interpretado... 
A cada cena que é trocada 
O espectador 
Tenta buscar no seu íntimo 
A resposta 
Ou a pergunta para tudo... 
As luzes se apagam 
E o silêncio retumba... 
As luzes se acendem 
E eu me vejo 
Representando para todos 
Pois faço parte 
Desta sociedade 
Que usa máscaras para conquistar 
Para vencer e para viver... 
No palco dos artistas 
Fica a proposta de divertir 
E alegrar os outros... 
E no palco da vida a proposta 
É sobreviver 


Saí pelas ruas sem destino 
O frio e a chuva fina
Penetravam até os meus ossos 
Deixando transparecer 
A rigidez da minha alma quente 
Que procurava através dos olhos... 
Alguém que soubesse 
Da minha existência, carência... 
Alguém que tivesse no peito 
Estampado os desejos 
De uma criança com fome 
Procurando os seios da mãe 
Para saciar­se com seu leite... 
Alguém que arrogante 
Levanta sua bandeira 
Empunhando na outra mão 
Um pássaro ferido, agonia... 
Alguém que se sente vazio 
Enquanto se afoga e transborda 
De sentimentos 
Assim como um copo de vinho 
Que ao ser enchido 
Derrama e mancha a toalha 
Branca, amor... 
Na rua não encontrei nada 
Que conviesse 
Com os meus anseios... 
Volto para casa, fecho a porta 
Descanso a alma na rotina 
Da minha vida 


O meu mundo colorido 
Que um dia eu vi 
E hoje não vejo mais 
A escuridão nasceu pra mim 
As cores do arco­íris 
Que desponta por de trás 
Das nuvens pretas 
Hoje, já não sei se existe 
Só se alguém contar 
Pra mim... 
Seus olhos sei que me vêem 
Mas os seus olhos eu nunca vou ver 
Se um dia estiver triste 
Conte­me logo pois não sei 
Se vou te sentir
As formas e cores no meu 
Mundo são diferentes do seu 
Mas não se preocupe 
Pois o meu Deus 
É o mesmo que o seu 
O sol que brilha pra ti 
Eu posso apenas sentir 
Me dê a mão eu não te vejo 
Mas posso te sentir... 


Teus desejos 
Tocaram as margens 
Do meu querer 
No passado 
Lembranças 
Do reencontro 
Entre nuvens de fumaça 
O entardecer... 
Os anos passaram 
Mas os sentimentos 
Não mudaram 
Os conflitos 
E a semelhança 
De nossas almas continuam 
Nos afago dos impulsos 
E depois 
Restaram as lágrimas 
Que não caíram 
E o riso é abafado 
Pelo beijo 
Calado da noite... 


Entre baratas 
E traças 
De casa velha 
O fluído emerge 
Das profundezas 
Num aroma de castelo 
Enfeitiçado 
Deixando em nudez 
Seus príncipes
Emoldurando o retrato 
Da própria felicidade 
Na ânsia de um amanhã incerto 
Que na certeza cá está. 
Entrelaçado 
De boca em boca 
De corpo, cabeça 
E braços. 


Vejo grandiosidades 
Pequeninas diante de mim... 
Leio sobre os sentimentos 
Dos outros, que para mim 
Não dizem nada... 
Despi o mundo e sua nudez 
É cristalina e arrogante... 
Sua vaidade escorrega 
Em minhas veias 
Num prateado de luar... 
Abro a bolsa e tiro dela 
A eterna esperança... 
Fecho a porta 
E o prazer acontece... 
Continuo de boca fechada 
E os gritos ainda estão no ar... 
Quero tirar­te as vestes 
E na tua nudez quero 
Tirar tuas máscaras 
E então poder 
Ter­te íntegro... 


Era tarde primaveril... 
O sol cintilava 
Nas nuvens cor­de­rosa 
E o ar fino era cortado 
Pelos vôos dos sabiás 
Cor de chocolate... 
A história descansava 
Em forma de livro 
Sobre a mesa da varanda 
Enquanto os canhões
Que defenderam esta terra 
Dormiam no sono 
Imortalizado dos séculos 
No alto da colina... 
A garotada da vila 
No bate­bola 
E o jogo de amarelinha 
Cortava o silêncio 
Num picado de vozes... 
Isso faz parte de um passado 
O presente está audacioso 
E cheio de surpresas 
E o futuro, o que nos proporcionará? 


Quando a morte paira sobre nós 
Como uma sombra, a esperança que a vida 
Espírito vai seguir a sua jornada 
Aparece no nosso horizonte perdido... 
Nos interiorizamos e jogamos 
Na balança 
De um lado tudo o que gostaríamos de ter 
Feito e não fizemos 
Do outro lado da balança 
Tudo o que fizemos 
E que não demos o devido valor... 
O resultado é terrível, pois não valeu 
A pena ter vivido 
Das poucas sementes plantadas 
Poucas germinarão 
E os frutos que delas brotarão 
Levarão algum tempo 
Para que alguém 
Os colha para saciar­se... 
E então através de meus gestos 
Sobreviverei 
Na memória dos mortais... 

Suas idéias palpitam 
Nasce mais um embrião 
E agora solidão
Te amaldiçoaram 
Esta é a luta do poeta, quinhão... 
Lá vai ele 
Por aí a fora, seu ente 
Levando no peito 
A rasgada esperança 
E os destroços 
Migalhas da mente 
Flutuam pelo espaço 
Que bela andança... 
Suas obras serão imortalizadas 
No papel, no seu ego 
Nesta andança 
E enquanto houver 
Crianças imunizadas 
Contra a guerra atômica, matança... 
O poeta terá inspiração 
Para continuar 
O seu trabalho 
Transcendental... 


Chegas como uma sombra 
Escurecendo e tomando conta 
Do meu íntimo 
Que surpresa... 
E és inesperada 
Nada deixa na memória 
Para recordações de um passado... 
Ou um momento vivido... 
És o tudo ou o nada... 
És o momento obscuro... 
É apenas a loucura... 
Aceitar a sua convivência 
É ter uma sombra 
A te seguir... 
É como mergulhar 
Em um lago 
É sentir a água te molhando... 
És a loucura porque 
Assim te batizaram... 

j
Esperar o inconsciente acordar 
É como esperar o entardecer chegar 
É ver no céu pombas 
Do amor voando... 
Esperar o amanhecer 
É uma noite bem vivida 
É ter certeza que a bomba atômica 
Não explodiu... 
Esperar é ter paciência 
É abrir os braços 
É esperar que alguém 
Venha ao teu encontro 
Ou simplesmente cruzar... 
Esperar é olhar para um jardim 
É ver as flores colorindo 
A natureza 
Sem agredi­las 
É neutralizar­se das neuroses... 
Esperar é esperar... 


Olho, mas não vejo 
Toco, mas não sinto 
Ouço, mas não escuto 
Temo, mas não corro 
Pra que... 
No outro lado profundo 
Traço a busca do meu túnel 
E sinto que é grande 
Como o universo 
Misterioso como o mar 
Eloqüente como a lua 
Surpreendente como a luz 
Que chega de repente 
Iluminando as trevas 
E daí... 
Buscar aproximar mais 
E mais os dois lados 
Eu sei que é difícil 
Mas se os dois lados querem 
Eu vou conseguir unificar 
A matéria com a alma 
E neste momento 
Eu sei 
Vai ser gratificante
Pois deixarei 
De ser apenas mais um 
Serei eu... 


Livro: Poesias Semeando 

A vida é mantida pelas bicadinhas 
De sentimentos loucos... efervescentes... 
Opressivos... psicodélicos... desajustados... 
Frenesi de expectativa... 
E quem será capaz de esconder da vida 
As proezas e malabarismos, que nossos 
Corações se submetem ao conquistar 
Degraus da escada rolante?... 
E cair... atolando o nariz na esperança, 
Que é amiga íntima da aventura... 
Encher o bolso de fé... 
Derramando o orgulho por terra. 
Esbarrar em bombas atômicas 
Ao subir em teu corpo... 
Na chegada me anuncio... 
Entrando em tua casa: displicente... 
Limpo os pés no tapete do passado. 
Ao erguer a cabeça. Vejo por entre a fumaça 
De vapor uma noite de inverno. 
Você surgindo ao meu encontro... 
Concentrei minhas energias... 
Era apenas uma visão... 
Sobre a mesa pousava uma mosca 
No cartão postal de Boston City... 


Venceu o prazo... 
E a fome surge das trincheiras 
E disputa corrida com a miséria, 
Enquanto os banquetes imperam 
Dando inveja aos estômagos do povo... 
O combate continua... 
Entre a ira e a paz e os 
Perdedores somos nós... 
Aliados seguem de mãos dadas
Fabricando mais um delinqüente... 
O gatilho dispara, deixando expostos 
Os sentimentos da humanidade... 


João, índio guapo, valente, 
Teve como troféu sua vida 
Em lutas e guerras, em defesa 
De sua terra, quinhão de esperança. 
Depois de montar seu alazão e 
Percorrer coxilhas, rasgando o tempo 
Em busca de sua liberdade pampeana. 
Hoje, vacila ao dependurar suas esporas, 
Aposenta sua lança junto ao fogo de chão 
Que ele e a chinoca Maria acenderam 
Com o seu amor, num rancho de 
Chão batido, que hoje é ninho de 
Corações alados, dando ao 
Horizonte majestoso, um colorido 
De mansão de sonhos... 


Observando, você pode experimentar 
Um pouco de cada mundo 
Que está ao seu redor... 
Ou quem sabe descobrir em você 
Várias personagens que compartilham 
Da sua própria vida... 
Observando, você pode dobrar a esquina 
Defrontar­se com a realidade, 
Que o mundo acabou e você sobreviveu... 
Debruçar na janela e sonhar que 
Seu grande amor está correndo 
Ao seu encontro... 
Observando, você pode ouvir vozes 
Ou sussurros de seu subconsciente 
Registrando os seus momentos... 
Mas nem a tudo você pode estar atento, 
Pois num descuido é que você 
Encontrará a felicidade... 

j
Mãos nos bolsos, 
Deixo seguir a impaciência... 
Olho para o céu, 
Vejo­me descoberta... 
Toco ao meu redor 
É o cimento que impera... 
Pra distrair... 
Fumo um cigarro... 
Deste tumulto 
Não entendo nada... 
Fico em silêncio, 
É a minha meditação... 
Fecho os olhos, 
Vejo você... 
Sintonizo­me com a vida, 
É a guerra que mata... 
Estendo a mão, 
É a falsidade que vem ao meu encontro... 
Quero correr, não posso... 
Pegue um espanador, tire a poeira 
De minha estátua... 
Esqueçamos tudo... 
É hora de recomeçar... 


Pra tudo existem fronteiras... 
A vida termina na morte, 
O grito pára no ar... 
A solução fica distante, 
Um suspiro revela um desabafo... 
Um rio chega até o mar... 
A mão que se estende 
Para nada alcançar... 
O destino marca bobeira, 
O coração bate mais forte, 
A emoção acaba de derrapar... 
O limite da conta bancária estoura, 
Lá vem barriga vazia... Os carnês 
Decoram a bolsa da madame, 
Enquanto o negro sofre 
Discriminação na delegacia... 
O louco é solto para administrar 
Nossas fronteiras sem limites... 
j
Desprende do ar um cheiro, 
Remexendo as entranhas entorpecidas, 
Subindo pelo ventre rasgando 
O desejo do sexo esquecido 
Dos dias envoltos de surpresas... 
A pele arde com o calor do sol 
E os anseios evaporam­se 
Nutrindo a fraqueza dos invencíveis. 
O ser mergulha no espelho, 
A expressão borrada 
Depois de um dia de trabalho... 
Deixa a desilusão acanhada 
Perante os preconceitos impostos... 
Sigo minha meta, desvendando 
O rumo em que me perdi... 


Ter­te é sair do nada 
E sentir­se em casa... 
É fazer parte do bolo 
E ser apenas a essência... 
Ter­te é fluir, entregar­se, 
Recebendo num afago 
O teu amor de presente... 
Ter­te é cair num abismo 
E encontrar nele a felicidade... 
Ter­te é sentar ao teu lado 
E dividirmos sem restrições 
Os nossos mundos... 
Ter­te, tive e ter­te­ei 
Para sempre adormecido 
No meu sono. 


Ilhados no seu próprio mundo, 
Convivem enjaulados, 
Dividindo o espaço, 
Onde a mente não tem fronteiras... 
Partem em busca de se encontrarem... 
Na parede uma tela pintada, 
Estilo renascentista. 
No canto a natureza verde, viva,
Num vaso, fica decorando o ambiente, 
Insinuando que a morte anda por perto. 
Sentados, apertam um botão. 
Um passatempo é uma lavagem cerebral... 
A bola furou... o samba faliu... 
A cachaça nutriu e a bomba explodiu... 
Contaminando com amor a população... 


O corpo debruçado, cansado da luta, 
Entre marechais e comandantes 
Da roda­viva, sobre brandura... 
A luta perdeu­se na curva dos sonhos. 
Os direitos e os deveres misturaram­se 
Saciando a sede do desejo incandescente... 
Exalando do ser a satisfação que 
Cobre o semblante como um véu 
Transparente, suavizando a expressão... 
Sai pela fresta dos olhos a ternura 
Que se acomoda entre nós... 
Chegou a hora de nos rendermos 
E de nos entregarmos sem resistência... 
A guerra continua mesmo que os canhões cessem... 


A própria vida nos dá a vida 
Numa apoteose de sinfonia de pureza e amor... 
Passamos nosso ciclo... 
A inocência e a espontaneidade são nossos mestres 
Na infância. Crescemos e na adolescência vivemos 
Em busca de quem somos e que caminho seguirmos 
Refletimos... agora somos adultos, traçamos 
Várias linhas que, ao nosso ver, são os melhores 
Caminhos para se chegar a plenitude. 
Com o decorrer do tempo, poucas são as portas 
Que se abrem e lá vem mais decepções. 
Somos teimosos... Nem sempre saímos vencedores, 
Mas o jogo continua... O tempo passa, nos damos 
Conta que a velhice chegou de mansinho 
E passa a ser nossa inimiga mortal. 
Se você tiver conseguido pelo menos uma cadeira 
De palha como seu trono e puder olhar para trás 
E ver que as sementes plantadas, por você, vingaram...
Meus parabéns! O seu reinado conseguiu sobreviver... 
Mas eu lhe pergunto: Valeu a pena?... 
Pouco importa... a sua hora chegou... 
Se você passa a existir em função da vida 
E ela é passageira... não se assuste... 
Pois pode ter certeza “A MORTE É ETERNA”... 
E nesta eternidade você poderá ter mais 
Uma chance de se encontrar... 


Sou o nada e do nada 
Despertei para o mundo... 
Chorei... Minha lágrima 
Transformou­se em diamante, 
Arma poderosa, na destruição 
Ativando a secreção da carne 
Em decadência, alimentando 
A vertente da sobrevivência... 
Sorri... A minha felicidade 
Em pontas de faca brilha 
Com o sol. Renasce a 
Vontade de expandir para 
O conforto dos que sofrem... 
Transforma em pão as pedras 
Do caminho para saciar a 
Fome do mundo, como num milagre... 
Abrir os braços e fazer escorrer 
Água cristalina para os corpos 
Secos, carentes de amor... 


De pés nus como a alma 
Avanço o sinal vermelho... 
Sapatos polidos me aguardam 
E em passos largos 
Vou ao encontro do futuro... 
A dúvida morre na esquina 
E os sonhos desabrocham... 
Os faróis do desejo 
Clareiam a nossa mente... 
Surpresas... confissões 
Decepções escorregam 
Sobre o meu colo.
O mundo dá mais uma volta. 
O grito de satisfação 
Lota o estômago faminto... 
E a miséria se desmancha em risos, 
Deixando um vazio 
Na integridade deste 
Momento supremo... 


No dourado ondular dos trigais 
Flui em mim a memória transubstanciada... 
O suor brota, queimando as fontes de energia. 
A noite cai... O tempo trará pela mão 
O aconchego até nosso ninho... 
Me encontrará por caminhos sem beira. 
Atolada em ti, plantada no teu ventre 
A semente do nosso futuro. 
Amanhã, o trigo será pão para a 
Humanidade, minha missão ficou cumprida. 
Enquanto a guerra continua estourando 
Rojões sobre a plantação... 


Beirando o abismo, 
Deparei­me com o paraíso perdido 
Dos mundanos, farrapos humanos, 
Frutos desta parceria ilusória, 
Que tapa sua podridão com vestes 
Douradas, enganando os moribundos... 
Venderam­me uma alma e com ela 
Descobri as trevas do porão 
Da minha casa, resultado da 
Decadência por falta de 
Compreensão na humanidade... 
Descanso sobre a sombra da 
Figueira e o vento me presenteou 
Com sons aveludados... Acasalamo­nos 
Sobre a áurea de tua nobreza, 
Deixando a miséria em estado de alerta... 


Gostaria de lhe transmitir
Estas imagens incandescentes. 
Estar presente no seu delírio. 
Servir­lhe de vestes sobre o céu azulado 
Sentir­lhe como o calor que derrete 
Os segredos, revelando a pureza dos anjos. 
Ouvir sua voz e entrar no ritmo cadenciado 
Da melodia que transmite a sensualidade 
De uma noite fresca... primaveril... 
Respirar e ser embriagada por um aroma 
Silvestre, libertando da gaiola 
O erotismo do amor, confessar­lhe 
Que o amor está presente entre nós... 


Que sabor terá o teu veneno... 
Se tuas palavras vão aos poucos 
Mistificando­se... 
Que cor terá os teus pensamentos... 
Se entre o branco e o preto 
Esboças o sorriso da Monalisa... 
Que anseios carregas contigo 
Se eu te vejo harmonioso 
Com jeito de quem acabou de hastear 
A sua própria bandeira 
Em terras desconhecidas... 
Que laços são estes que te anulam, 
Se flutuas em bolhas de sabão 
Num banho aromatizado de buscas... 
Que bons ventos te trazem, 
Se no teu regresso segues 
Entre o luar a neblina 
Transbordando emoções contidas... 


Enquanto um rádio informava: 
... Chegou a hora Brasil... ZHY 2000... 
a imaginação dava... volta e meia... 
quero ir... 
Ir... encontrar­me no ápice... 
A salvação para as mentes doentias... 
Calejadas... torturadas... Perguntamos? 
­ A razão pela qual raciocinamos?... 
Os irracionais
Vivem em paz consigo mesmos... 
Mas, mesmo assim se justifica... 
Nós rastejarmos pois é assim 
Que aprendemos a andar... 
Andar... Pra onde? Pra quê?... 
Se ao nosso redor 
Existe 
Um paraíso mundano... 
Onde morre de fome 
Um coração apaixonado... 
A solidão existirá... 
Mesmo que toda a humanidade 
Se dê as mãos... 
A imaginação vai seguir 
Por aí afora dispersando 
A rotina... que tanto se 
Molda a nós mesmos... 


Glorifica­te com as luzes 
Que jogam sobre tuas lanças e espadas, 
Pois armado tu podes mostrar a tua ira 
Com o mundo e contra ti próprio... 
A tua revolta nasce com a tua fraqueza. 
E os ventos que sopram chegam 
Aos teus ouvidos como falsos apoios, 
Usando­te como instrumento desta guerra... 
Teus sentimentos jogas ao acaso de um furacão 
Que segue por aí a destruir... 
O que constituíste tem alicerces 
Frágeis e transparentes como vidro, 
Deixando a sua fortaleza exposta 
Às invejas e às intempéries do tempo... 
Teu reino é falso, pois na construção 
Faltou o amor; teus discípulos são muitos 
Porque precisam sugar o que resta 
E a lei que te rege é egocêntrica... 
­ MÃOS AO ALTO... 
­ baixa as tuas armas e reformula 
o teu reino, pois acredite... 
A FELICIDADE AINDA EXISTE... 

j
Andante de tantas estradas, 
Sigo o meu caminho, à procura 
Da voz mais aguda de um sentimento 
Desorientando o que existe em mim... 
Os meus inimigos: a fome e o cansaço 
Me enfrentam, desafiando­me para 
Uma luta de resistência, onde os 
Salários defasados são os limites 
De nossas capacidades físicas... 
A imaginação desafoga as minhas mágoas, 
Libertando­se do meu corpo, deixando a 
Minha esperança algemada, prisioneira 
Deste destino que não mais me pertence... 
Eu continuarei andante por caminhos 
Desconhecidos, buscando a minha sobrevivência... 


Inerte, desprovida de tudo, 
Espero atônita por uma mudança 
Onde possamos aconchegar­nos 
Sem medo e saciar as interrogações. 
Espero por um calmante que 
Cesse esta dor fininha e 
Angustiante da tortura em ver 
Desabar sobre nossos pés 
Todo um sistema falido 
E erguer­se um império 
Fanático, tendo como 
Sua primeira lei, a preservação 
Da vida humana numa performance 
De caneta e papel... 


Sulcos na carne 
Recebendo a herança 
Dos momentos perdidos... 
Verte valores esquecidos 
Na noite, no dia. 
Um único andarilho 
Do destino, que disputa 
A hora de amarrar as 
Fibras da agonia... 
Deixando o caminho
Infestado de rotina 
Desbotada, no quadro 
Emoldurado, dependurado 
No espaço da imaginação... 


Com o corpo bêbado e 
Cansado de subir e descer 
Escadas do prédio da adolescência. 
Carrego as sombras de sentidos explorados... 
Flutuo com a nave­mãe por este céu de anil, 
Rasgando sedas do horizonte, procurando 
Encontrar a razão, raiz do cedro solitário, 
De beira de estrada que continua indiferente, 
Cumprindo a sua missão, sem protestar. 


Vê! É meu sangue que brota 
Das veias revoltadas 
E da boca calada 
Surge um grito que lota 
Paz no meu abrigo 
O branco se transforma 
Amor tem outra forma 
Mas tem a ver comigo 
Sou eu quem voa 
De porto em porto 
Sou eu quem desenha 
Em teu corpo 
O resto de mim 
Sou o que vibra 
E ponho vida 
Nesta tua saída 
Sem adeus e sem fim 


Com letras garrafais 
Brancas ou pretas 
Dentro do meu labirinto 
Antigo ou moderno 
Nasce uma longa vontade 
De escrever mais e mais
Mas de repente descubro 
Pouca verdade em tudo. 
Há raízes mais profundas 
Não vale a pena registrar 
Este momento de rara beleza 
Não a vejo à luz 
Que penetrava pela janela 
Entreaberta do caminho 
Que leva ao infinito do nada 
E também está difícil 
Achar uma saída trancada 
Deste túnel iluminado 
Que o destino cavou 
Só ouço perguntas confusas 
Que me fazem calar a boca. 
Mas agora são milhares 
De pessoas sem rosto, aflitas 
Tateando para se encontrarem 
Poxa... logo agora foi acabar 
O tinteiro que estava cheio 
Não posso mais nada responder... 


Em altos degraus 
Ergui meu corpo 
Escondendo minha face 
Do primeiro ao último 
Caminhei por muitas 
E longas noites frias 
E cheguei até o ponto 
De total exclamação 
Com os pés em chagas. 
E vivi o meu segundo 
Mais que a eternidade 
Descansei meu pensamento 
Nas lembranças de ti 
E pensei no que não perdi 
E fui lentamente descendo 
Possibilitando assim 
Sentir a loucura de amar... 


Hei, você aí parado
Não fique tão calado 
Vem comigo cantar 
Uma frase de amor 
Qualquer coisa que for 
Só não pode calar 
Uma frase bem dita 
Muitas vezes fica 
Longo tempo a vagar 
Lançando sementes 
No silêncio das mentes 
Loucas pra germinar... 


Quando agente descobre 
Que os caminhos 
Que está percorrendo 
Já foram bloqueados 
Por outros andarilhos 
Que nem se atreveram a sonhar 
E que cada passo alcançado 
A metade já é passado 
O presente imponente 
Arrogante se faz presente 
Através de uma janela 
Batizada pelo nome “ansiedade” 
E tudo de repente 
Parece estar escrito 
Nas paredes frias 
“A estrada terminou” 
Aí entra em conflito 
A teimosa esperança 
Que desabrocha resplandecente 
Como verdadeira loucura 
De dentro da minha alma cansada 
Como se fosse água na semente 
Do meu próprio vencer 
E se instala em minha cabeça 
Sem pagar aluguel 
Mas eu deixo transparecer 
Ao abrir duas portas 
Que são meus próprios olhos 
Bem vivos para a realidade. 

j
No silêncio da minha alma 
Eu escondo tantas revoltas 
Como se fossem um mar aberto 
Com suas ondas devorando a areia 
Apagando o rastro de liberdade 
Nos caminhos que não andei 
Já encontrei seres de volta 
Com os sonhos presos nas mãos 
Pelo tempo que eu mesmo desenhei 
Em papéis cinzas da saudade 
Em cada volta uma revolta 
Vem comigo como bagagem 
E o vento com  o tempo me açoita 
Para uma nova viagem... 


Eu levantei o dedo primeiro! 
Portanto, um momento para mim... 
Que momento, não há mais momento 
Somos todos mecânicos, comandados 
Por um forte esquema eletrônico! 
Hora... o que importa agora 
Se não somos mais pensantes... 
As flores foram pisoteadas 
Pelos soldados de aço e plástico 
O verde já amarelou de vergonha 
De tanto esperar a chegada... 
O canto emudeceu por entre os edifícios 
E coqueiros acinzentados 
E repousa na completa solidão 
Dos ouvintes que nunca ouviram 
Os velhos continuam sentados 
Na sala de espera vazia, lotada 
À espera da vida negada... 
Os meninos correm pelas calçadas 
Levando junto a minha carteira 
Que foi minha apenas por que? 
Um dia, eu e você negamos a um deles 
A lavanderia desmemorizada no tempo 
Abre o tanque e deixa escorrer 
Seu futuro sonhado, resto de passado 
Presente em seus olhos marejados... 
Um momento para mim... 
Deixa­me anotar o que falei
Posso esquecer, pois isto é passado 
Amanhã vai ser diferente, eu sei que vai... 


Na cor dos teus 
Olhos pretos 
Vejo a verde mata 
Na luz 
De tua bondade 
Um branco asfalto, 
Grande escuridão 
Em teus pés 
Amarrados 
A louca vontade 
De seguir 
Nas curvas 
Do teu corpo 
Duas vias 
Contra­mão 
Teu amor, 
Pão aos mendigos 
Teu seio, meu eterno abrigo 
Em tudo vejo a paz 
Entre mil 
Coisas mais 
Te vejo 
E não estás... 


Quando sobressai 
Um notável suspense 
Nasce uma falha 
Para matar sem piedade 
O que foi construído 
Pedras sobre pedras 
Tirar nosso dias 
E a própria batalha 
E a nossa folia 
Fica sendo embalada 
Pelo pé de vento 
Aí eu imito o passado 
Para ser total motivo 
De toda a gargalhada
Incompleta da razão 
Então eu apenas limito­me 
A viver inconsciente 
Pois se em todas as 
Nossas constrangidas falhas 
Tirássemos o que atrapalha 
Queria morrer... 


Saio à rua e vejo o medo 
Passando a faixa de segurança 
Com o sinal verde­esperança 
Olho para o relógio no pulso da força 
E sinto sua ponta aguda açoitando­me 
Fazendo­me um escravo do tempo 
Baixo os olhos rumo à sarjeta 
E vejo a miséria passar desapercebida 
Nadando em águas sujas, no leito frio 
Onde até agora dormi... 
As pessoas pedem meu endereço 
Mas não sei direito pra quê... 
Se sou um número incompleto 
De uma matemática falida 
Que só soube subtrair 
Sento­me no banco da praça 
Onde às vezes costumo esquecer da vida 
Distraio­me cobrindo­me com jornais 
Adormeço no delírio dos meus sonhos 
E acordo ansioso, por parecer ter lido 
Num sonho tão antigo 
Que foi retirada do dicionário 
A palavra “Liberdade” 
Folheio rapidamente um amontoado de folhas 
Amassadas pela noite mal dormida 
E escancara diante dos meus olhos 
Vermelhos de sono não dormido 
Uma foto amarelada pela idade 
Ainda do meu tempo de infância 
Não espanto pela foto 
E sim pelo tempo que passou 
Enquanto eu apenas cresci... 

j
Sempre que de uma boca calada 
Explodem rumores incessantes 
Como gotas de remédio 
Tranco­me dentro de um quarto 
E vejo refletir no espelho 
Que estou dentro de mim 
Ouço vozes esparsas 
Como se muitos dissessem: 
Vire a página já escrita 
Apague os próximos manuscritos 
E sai correndo pela porta 
Imaginária que está em sua frente 
Pois está é a receita viva 
Para alcançar labirintos negados 
Você pode enfrentar sem medo 
Esta barreira invisível 
Que está cada vez mais penetrante 
Em seu próprio corpo 
E dentro de cada um de nós... 


As peles borbulhavam 
Em multiplicados coloridos 
As vozes que ouvia 
Pareciam estar dubladas 
Pela própria angustia 
De não fazer parte 
Dessa constante 
O vinho distante 
Balançava na bandeja 
Pendurada nos braços 
Miseráveis, comandados 
De um pobre robô. 
Rodava entre as pessoas 
Uma arte que poucos viram 
Tão branca, desbotada 
Quase transparente 
O corpo das vozes 
Estava preocupado 
Com a morte viva 
Dos indefesos animais 
Que adornavam seus pescoços 
E assim a noite esvaziou­se 
Desperdiçando um raro momento.

Até você minha mesa 
Deve estar cansada 
De apoiar papéis pardos 
Que registro ansiosamente 
Os meus longos desabafos 
Uma pena que você 
É feita de madeira 
Resto da natureza 
Hoje tão morta não pode falar 
Pois teria um discurso 
Tão longo que duraria 
Toda a sua existência 
Mas não se preocupe 
Sou tão vivo, resto de morte 
Dar­me­ei ao trabalho 
De revelar os segredos 
Aos mais distantes 
Constantes presentes 
Na minha verdade 
Acredito se um dia terminar 
Este incompreendido trabalho 
Terei milhares de versos 
Apenas para arquivar... 


Me encanta 
Una ténua canción 
Que viene 
De las gotas más pequeñas 
De la lluvia... 
Ruido musical 
De las aguas sin destino 
Que entran en mi cuerpo 
Y mi alma bebí... 
Mi pensamiento reverdece 
Mi sangre hierve 
Mis ojos miran insistentes 
Para cualquier lugar 
Del mundo 
Yo siento que vuelvo 
A mis misterios 
Y me quedo libre
Como el cielo sin las estrellas 
Como el viento sin ruido 
Como las puertas cerradas 
De una ciudad sin alma y sin hombres... 

Dividiste 
O que reservaste para mim 
Espalhaste 
No chão, teu rancor 
Maltrataste 
O meu quase amor 
E partiste invisível... 
Como se você fosses invisível 
Que confusão 
São os valores descartáveis 
Ferem os sentimentos 
E então ficam sabendo 
Que estou aqui à toa 
Mas não somos à toa... 
Tua saliência explode 
Em minhas falhas 
Me encontro no eu desencontro 
Me conto no teu conto 
Me abraço no fim da batalha 
Porque sou batalha... 


Apenas posso olhar 
Com nitidez o horizonte 
Que um dia imaginei 
Chegar perto 
Ou ultrapassar. 
O tempo cauteloso 
Bem devagar 
Foi me ensinado a conhecer 
Caminhos diferentes 
Viagens demoradas 
E quando pensei 
Nos meus limites 
Estar chegando... 
Maior foi minha surpresa
Descobri que a terra 
Nunca se encostou ao céu 
Era apenas na minha fantasia 
Construída nos meus sonhos 
Intocáveis de menino... 

Com o vento, pelo rosto 
Uma lágrima quente 
Desliza lentamente 
Acompanhando minha canseira 
Pondo um ponto final 
Na minha boca aberta 
Para a interrogação 
Mas não posso estar cansado 
Aqui acolá, qualquer coisa 
Devo e terei de fazer 
Afinal, sou semente germinada 
Nesta plantação devastada 
Chamada sobrevivência 
Nem o que ouço pode me cansar 
Não importa, são frases prontas 
Que só impedem as minhas 
Por isso, até já decorei 
Uma após a outra 
Para não perder o significado. 
Já faz tanto tempo que elas 
Vêm se arrastando 
Tocada pelo vento lento 
Das tardes de outono 
Só me resta pedir 
Para que o vento não as leve 
Poderão ser úteis no meu questionamento. 


Não quero a voz passiva dos homens 
Nem a fúria dos dirigentes 
Braços fortes chamados poder 
Não quero piedade nem cortesia 
Apenas por um simples dever 
A evolução tecnológica 
Em função do botão do extermínio
Colocando a vida em último plano 
O questionamento de soluções 
Atrapalhando idéias tão claras 
A fantasia após o carnaval 
Ou além dos sonhos 
Não quero ser um fiapo de poeta 
Só para escrever a manifestação 
Angustiante de um povo sofrido 
Não quero novas leis 
E sim respeito pelas que existem 
Não quero entender grandes coisas 
Sem antes entender as pequenas 
Pois estas são o corrimão 
De um entendimento maior 
Não quero julgar atos 
Quero apenas estar junto 
Dando o pouco que é o muito de mim 
Para que possamos transformar 
Este sonho que todos proclamam 
Em verdade absoluta... 
Não quero viver sem memória 
Nem ser estória 
Eu quero apenas viver... 


Lá fora está chovendo 
Molhando meus apodrecidos 
Pensamentos vivos 
Desmanchando meus encantos 
Me sujeitando a ficar vendo 
E sendo um raio de sol 
Que busca ao longe razões 
Para a fuga dessa imensidão vazia 
E predestinada 
Viagens, noites frias 
Ventos que batem à porta 
Dos nossos porões esquecidos 
Em um labirinto desconhecido 
Eu me apavoro e transbordo 
Em estilhaços radioativos 
Não posso mais continuar 
Resta­me viver um momento 
Para contar histórias 
De mil desconhecidos livros 
Que eu nunca escrevi...

As cabeças não entendem 
As pessoas confundem 
E o mundo afunda 
Dentro de um êxtase 
Reverso no papel 
Escrito na parede 
E escondido dentro de nós... 
Sem portas e grades 
A prisão é a mesma 
A guilhotina corta 
E flocos sucumbindo 
No mar, no ar, na terra... 
Momentos crucificados ao pó 
Lágrimas cauterizadas 
É apenas voz na escuridão. 


Livro: Metades 

Paralise pensamento... Preciso definir minhas idéias. São momentâneos, mas 
existe nelas a profundidade do infinito. 
O cheiro da terra molhada aguça a sensibilidade. Na cor do céu, existe um tom de 
azul estranho, acentuado no alto o vermelho, graduado em retículas. Será instinto 
ou imaginação? 
O sol parece em chamas. Em cada raio há imensidão. Vagueio por entre 
enormidades e conteúdos. Ora lá, ora aqui. Paralise pensamento.... 
O silêncio da minha alma contagia a paz interior. A intimidade de um diálogo corre 
solta, libertando as fantasias eróticas que foram autuadas em flagrante pelos 
padrões da sociedade. 
Meu cenário é entre arquiteturas de pedra. Apenas o cume de uma árvore deverá 
bailar com a brisa que lhe abraça. A nostalgia toca­me as mãos, através de gestos 
perdidos. O conflito entre os homens é o enredo desta cena. Paralise 
pensamento... 
A reflexão é nula, pois o pensamento anda ocupado. Platéia não existe. O 
momento é único e solitário. O pau oco repousa abandonado, identificando­se 
com o vazio dos corações de reis e mendigos, habitantes do mesmo planeta. O 
raciocínio continua deslizando como água mansa no leito consciente do meu 
mundo.
Paralisar não é conveniente nesta hora! O intervalo é anunciado. Volto à minha 
vida, forjando­me com firmeza, enquanto uma mariposa, tonta, baila perdida ao 
redor da luz da vela, queimando suas asas... 


Amanhecia!... Despertei para este dia, que veio após o outro. Estava viva. 
Estrutura de carne e osso sadios. Continuava vazia, num oco insuportável. Era 
costume despojar­me dos sentimentos ao deitar. Guardá­los nas gavetas devidas 
do armário. Este dia tinha que ser especial. Sem esmorecer, abria a gaveta do 
espírito de luta. Lá estava ele cansado. Fechei... Abri a do espírito de esperança. 
Surpresa!... Estava radiante... Vesti minha primeira peça e continuei. Abri a do 
espírito de camaradagem. Que decepção!... Houve uma sabotagem!... Ele se 
encontrava cínico e venenoso. Dispensei... 
O da audácia se manifestou. Vesti a segunda peça. A gaveta do amor 
transbordava. Ótimo!... Vou precisar... A terceira peça já estava comigo... 
Sentia­me mais segura no reino dos mortais. Corri os olhos pelas gavetas... A 
inveja estava super­carregada e iria continuar assim por muito tempo. Este 
sentimento é pobre. Não dá frutos. 
A do pudor. Só uma pitada. Coloquei como adorno. A gaveta do desejo vibrava... 
(lembrei de você). E lá estava eu com a quarta peça... 
O espírito esportivo saltitava como pipoca  em sua gaveta. Uma dose, sem gelo, 
vem a calhar. Usei como meias... o espírito da razão, usei como cinto, para poder 
adaptar conforme a minha cintura e a ocasião. Calcei nos pés o espírito da 
coerência e dedicação... 
À tiracolo, levava a paixão descompromissada... Saí para a rua... Não deu em 
nada... Não me havia munido do espírito de raiva e desprezo. Azar o meu... Você 
desfilava pela alameda central de mãos dadas com a felicidade... 


No ecoar de um relógio, o tempo parou... Sebastião espanava os fantasmas de 
sua trajetória, no silêncio... baforadas de seu cachimbo, envolviam­no. Era 
Mágico... Uma Satisfação! 
O tempo... Conseguira deslocar de seu eixo o poder... A perdição! 
Sua meia­idade espionava através de um espelho de toucador... Como a mão de 
um cadáver, assombrando através de uma terra erudita... Consolação! 
O passado beijava­lhe a face trazendo doces recordações... Ilusões! 
Sentimentos enformigavam­se ligados à vida por um fino cordão... Palpitação! 
Sorria suavemente, contrastando com a expressão pálida e perscrutadora de seu 
rosto... Fora paixão! 
Dos amigos, só lhe restava seu cão pulguento que cochilava sobre seus pés... 
Solidão! 
Sua alma, agora encardida pelo passar dos anos, aguardava na fila da vida 
eterna... Tudo em vão!
Só lhe restava a morte passageira... 


Com o destino marcado, cheguei naquela cidade. Silhuetas de pessoas 
misturavam­se com o vai e vem dos carros. 
Os caminhos eram muitos, infinitos. Os luminosos tinham o brilho da novidade. 
Um cheiro forte, impregnador, veio absorver­me. Era meu pensamento. A 
magicidade elástica do passado, arrastou­me ao aconchego de doces lembranças, 
resgatando a dádiva que fora nossa aventura. 
Enquanto isso, eu caminhava pela calçada, com passos de felino, por entre 
anúncios alucinantes, levando na mão o endereço. 
Mas um tênue suspiro, roubou­me daquele lugar... 
­ A vida é efêmera, passageira, vale a pena tentar... 
Os momentos se renovam, mas nós continuamos os mesmos. 
Voltei a te buscar... fui contigo para o futuro... 
Te imaginei nos meus braços. Ressuscitei nosso amor consagrando o silêncio, 
resguardado pela paz dos amantes da noite, era fato consumado. Corpos 
vacilantes. Esperamos o lento crepúsculo de emoções, dissolvendo­nos de 
prazeres. 
Logo depois... procuramos o caminho de volta... 
­ Hei moça! Preste atenção aonde anda! Ou você morrerá atropelada! 
Rompi mais uma vez com você e voltei a trilhar o meu destino. 


Hoje, emergindo frases de ontem 
Encontro­te no jardim 
Da noite distante... 
Tocando as flores... 
Desbravando o meu íntimo 
Com as mãos do desejo... 
Beija­me as feridas de hoje 
Trazendo a paz líquida 
Evitando a indigestão 
De meus tempos... 
A inspiração surge do nada 
Badalando os sinos da criação 
Na magia dos que amam... 
É a concepção que os deuses 
Oferecem aos mortais... 


Vieram de outras terras
Trazendo no bolso sementes, 
No coração a ilusão 
De uma vida melhor... 
Encontraram a mata virgem 
Lutaram pela sobrevivência 
Araram a terra com mão de aço 
Entoando velhas canções 
Acompanhados pela melodia 
Dos gorjeios... 
Em homenagem ao Deus Baco 
Plantaram videiras 
Calejando mãos e almas... 
Colheram finas castas 
E transformaram em vinho e vida 
De buquê mais nobre para esta terra... 
Na história, foram sagas de lutas 
Que, sem glórias, repousam 
Nos vales de cima da serra... 


No silêncio do meu acalanto 
Descubro tesouros perdidos 
Resgatados por dores e risos... 
A vida embala­se na rede 
Demonstrando a plenitude 
De um romance frenético 
Entre amantes da natureza... 
Anjos de minha eternidade 
Sem asas e sem cores 
Desgarrados ao vento 
Lutam com frieza 
Dos olhos do mal... 
Mendigos sem cabeças 
Nus de pecados afoitam 
Os prantos de guerra 
No bailar dos vaga­lumes 
A incerteza deixa cair 
O fuzil no abismo da ganância 
Assobiando a valsa dos cisnes 
Os hipopótamos dançam 
Afogando as mágoas do 
Coração humano... 

j
De gestos cansados pela ironia da vida, 
Descanso sobre a lança de guerra 
Este vazio que me pertence... 
Com olhar penetrante e despachado 
Encaro o horizonte de sonhos intransigentes, 
Desvendando esta imagem de rosto familiar 
Invocando sentimentos loucos, 
Na busca de realizações que, 
Por hora, divertem­me em outros espaços... 
Permaneço encouraçado 
Aquecido pelo fogo ardente 
Do interior, sigo mantendo 
Acesa a chama da vida... 


Nasceste do meu ventre 
Calejado por liberdade... 
E hás de seguir livre 
Comandando a tua própria 
Existência, levando na alma 
O silêncio de batalhas 
Vencidas entre homens de ferro... 
Tuas mãos colherão os frutos 
Que na minha passagem brotaram das veias... 
És estrela de brilho, de futuro 
E de continuação... 


Roubaste pedaços de mim e 
Esqueceste minha alma por acaso... 
Violaste minha integridade, 
Mas foste impedido pelos guardiões 
De invadir meu terreno... 
Segues perambulando, 
Carregado de muambas... 
Retornas ao meu caminho atento, 
Vigias a minha existência... 
Mais um vício te domina! 
Liberta­te de teu calabouço 
Deixa a podridão evaporar­se... 
Aproxima­te de mãos vazias 
E alma pura para conversarmos...
Não importa sobre o quê conversaremos, 
Estaremos sempre falando de nós mesmos... 
Mesmo que demore, encontraremos 
O caminho da esperança, JUNTOS... 


No universo existe 
Um pedaço de campo virgem 
A espera de um pássaro nativo 
Que deu asas aos seus anseios 
E partiu... 
Ao voar seguiu 
Rasgando o véu da noite 
Por entre as estrelas 
E rabos de cometa 
Nutriu­se de esperanças 
E enfrentou o desconhecido 
Travando fronteiras, 
Desvendando os escalões 
Da sociedade... 
Sentindo­se entre o 
Anjo louro, barroco, e a 
Criança negra abandonada 
De pés no chão 
Na escola da vida 
Formou­se e fez pós­graduação 
Hoje segue ensinando a lição mais dura 
De amar com o coração... 
O campo, por ora, ficará esperando 
Até que ele possa cumprir 
Com a sua missão... 


Por muito tempo 
Andaste à minha sombra 
Velando a lágrima maculada... 
Abandonaste­me no primeiro temporal e 
O vazio permanece enternecido 
Retendo o sonho de criança... 
Enraízo meus pés no chão negro 
Na busca de segurança... 
Fico em mim, porque é em mim 
O meu lugar...
Monto um quebra­cabeças 
De palavras, para expressar 
O sentido de sentir... 
E neste simples ser ou fazer 
Defronto­me com o mundo... 
Num gesto cansado e incoerente 
De conseqüências súbitas 
De um rei sem trono... 
Obrigo­me a esvaziar 
A minha alma lotada 
Para saciar a inveja 
Do homem pássaro... 
Os pássaros não andam! 
Voam!... 


Neste colorido de emoções, 
O sentimento mais louco 
Desabrocha na menina a esperança 
Que desfila e enfeitiça o seu 
Cravo e canela... 
O perfume embriaga a razão 
Deixando solto o desejo dos amantes 
Da mãe­natureza. 
E os filhos de teu seio 
Dançam eloqüentes com a sombra 
Do destino... 
Rodopiam de braços abertos 
Na esperança de sentir 
A verdadeira felicidade... 


Era apenas ele. 
Único, desprovido, feliz. 
Veio do nada. 
Agora era tudo. 
Agarrava­se à terra 
Como raízes sólidas... 
Transmitia tranqüilidade 
Mesmo que a ganância 
Desprendesse labaredas 
Exterminando o bom senso. 
Não apostou, mas ganhou
Agora sou seu talismã 
Exposto sobre seu peito. 
Derramou um pote de mel 
Sobre minha áurea 
Despertou sua cobiça e 
Partimos em busca 
De realizações... 


No apagar das velas 
Fecham­se os olhos 
De maldade 
Somos todos iguais... 

Na sobrevivência da alma 
Retumbam emoções 
Levando a matéria 
Aos extremos 
Conduzidos pela 
Mão da vida... 

Em nossa intimidade 
Dorme o segredo dos apaixonados 
A ira dos anjos 
De cara suja de lama e 
Consciência transparente... 


Esvoaçando anseios 
Libero do vazio 
A busca incansável 
Da faísca 
Que ateará fogo 
Nas trevas do cotidiano... 
Devastando a consciência 
Da razão que impera 
Sobre o mundo enlouquecido 
Contido apenas por 
Grades de emoções... 
A todo instante 
Experimenta­se um suicídio lento 
Tomando um cálice e amor azedo... 
Exaltando o prazer...
Na fotografia... 
Um corpo continua 
Desfalecido na sarjeta 
Despojado de vida... 


Por que imaginar mil trancas? 
Nesta invisível e única porta 
Que está aberta para a fuga 
Qual chave está com todos nós 
Por que culpar os maus momentos? 
Sem procurar a razão 
Neste mundo incompleto 
Por que pisotear as flores? 
Único resto de beleza 
Sobre nossa complicada estrada 
Por que justificar a inocência? 
Neste momento que somos 
De uma forma ou de outra culpados... 
De nossa própria destruição... 


Rasguei meus versos tristes 
Que falavam de paz na humanidade 
E comecei a escrever tudo de novo 
Conciliei­me com a esperança 
Mas devagarinho, o cansaço 
Foi invadindo a alma 
Forçando esta conturbada aspiração 
De versos com frases inconsoláveis 

Caminhei na noite, buscando o tempo 
Escorreguei na laje áspera 
Ralei meus incontestáveis brios 
Fiquei com a minha metade 
Desnuda para o mundo 
Senti vergonha dos acontecimentos 
Justifiquei com minha camisa rasgada 
Corri e cobri meu corpo 
Com vestes pretas e queimadas 
Sobras do inconfundível amanhã 
E confessei meus pecados 
Para mim mesmo
Pois tive medo de sugerir mais idéias 
Aos buliçosos pecadores... 


Nunca escondi 
Minha silenciosa realidade 
Quem sabe deste labirinto 
Venham meus mistérios 
Minha ferida ardente 
Minha vontade sempre viva 
De estar presente 
Em momentos tão ausentes 
Do nosso futuro violentado 
Deslizo como bola de neve 
Nas curvas, picos acinzentados 
Abismos, lagos e caminhos 
Perco­me na busca do encontro 
Mas reluto com a mágica chama 
Do próprio eu... 
Busco todas as formas 
De expressão conhecida 
Desconhecida da vida 
Revelada em cores neutras 
Só resta­me seguir andando 
E semeando nesta terra viciada 
Que nunca conheci... 


Nesta fogueira ardente 
Quero queimar um a um 
Meus defeitos tão apontados 
Quero ficar de pé inerte 
Para ver a última brasa 
Afogar­se nas águas frias 
Que vertem do solo seco 
Para ter a certeza absoluta 
Da minha grande vitória 
Rápido como o vento 
Quero cambalear no espaço 
Por cima das águas... 
Triunfante como todos os reis 
Despojado de todas as honrarias 
Imediatamente pararei o mundo
Afim de não se encontrar comigo 
Tenho medo da minha derrota 
Ainda as labaredas são constantes 
Dentro do meu peito 
Dando a idéia de cruel certeza 
De que continuo no imaginário 
Cultivando alguns dos meus defeitos 
Pois foram eles que me guiaram 
Pelos caminhos do meu próprio saber... 


De peito fechado 
E olhos vendados 
Como noites na alma, 
Segue o caminho 
Sem nada falar: 
Será que somos assim? 
Meninos nascem 
Junto à repressão 
Que podemos fazer? 
Agora, sozinho, 
Sua cabeça não. 
Será que somos assim? 
Eu sei, você também, 
Que eles estão fazendo 
Alguma coisa 
Para mudar... 
Os anos gelados 
Já se podem sentir 
Na voz do povo unido... 
Olhar adiante 
O tempo dilata 
Em novos ventos, 
Vira liberdade, 
Liberdade suada... 
Nós esperamos que sim... 


No palco da vida 
Sou fantasia 
Porque tenho 
Em minha frente 
A barreira, a poeira
E a lama das estradas 
Não percorridas. 
No papel registro 
A poesia invisível 
Como flores na primavera 
Porque tenho 
A paz costumeira. 
Sou o fim porque 
Começo todos os dias 
Sou concelho 
Do que vejo no espelho 
Sou o que precisas 
Na tua aflição 
Sou o passado e presente 
Do meu próprio futuro 
O que sou, então? 


Quantos nasceres de sol 
Existem na perturbação de um poeta 
Quantas vezes de forma futura 
Ele tenta mostrar a angústia 
E o desespero além das ilusões 
Nunca... nunca... iremos saber 
Pois o homem caminha algemado 
Rumo à sua própria destruição 
Sem se importar com a beleza 
Do verde que cobre a mata 
Das águas claras da sanga 
Das ruas estreitas de chão 
Dos tempos mais antigos 
Dos coqueiros esbeltos 
Erguidos rumo ao céu 
Das crianças envoltas nos sonhos 
E fantasias do meu tempo. 
Mas com tudo isto e muito mais 
O homem se prende às grades 
De ferro do futuro 
Olhando o presente passar 
Rapidamente pelas ruas congestionadas 


Nace en la punta el arado
Un sol matrero 
Y quema el rostro marcado 
De un pobre campero 
Monta en su pingo de nada 
Y viene al pueblo 
Seca su frente apenada 
De libertad sudada 
El no vino aquí para plantar 
En asfalto semillas perdidas 
Vino a buscar otra vida 
Muerta en las promesas fingidas 
Pero aquí lo niegan las miradas 
Apenas puerta y suelo mojado 
Junta su orgullo derramado 
Y allá se va derrotado... 


Quero calar­me 
Diante de minha revolta 
Quase sem volta 
Quero colorir 
Toda a paisagem 
Amarela do meu rosto 
Quero sentir o gosto 
De amor perdido 
Entre as pessoas 
Quero seguir avante 
Minha batalha 
Mas as falhas 
Podam o teu vencer 
Complemento do meu 
Falo de ti 
De maneira perturbada 
Pois minha luta 
Depende de uma justa 
E passiva união 
Das nossas próprias idéias... 


Chuva fria que não molha 
Minha cabeça pensativa 
Participação radioativa 
Em cada pessoa que olha
Em poucas horas fingidas 
Na época em que estamos 
Reconstruímos o que desabamos 
De forma incompreendida 

E de galho em galho 
Voamos como pássaros ao vento 
Sempre encontrando o atalho 

A chuva continua caindo 
Sem nada molhar, enquanto o tempo 
Depressa vai se esvaindo. 


De repente todos nós inertes 
Olhamos um ponto no espaço 
Desmerecido pela fumaça 
Refletindo como se fosse 
Os últimos raios do sol na terra 
Pessoas caindo como insetos 
Em sua inocência se perguntam: 
Alguma inovação poderia existir 
Na definição dos caminhos do homem 
Na existência definitiva 
Desta vida reprimida na face 
Desta terra sem rosto 
Mas as vozes não ressoam 
Diante deste ato desumano 
E a luz fica cada vez mais longe 
Retraída na retina de cada ser 
E não é noite nem dia 
Apenas uma nova época... 
Adormecida num profundo silêncio... 


Vinte e sete anos 
Sempre acompanhado 
Pelo menos tinha 
Minha pobre solidão 
E agora estou só 
Tua indiferença 
Tua insatisfação
Consomem o veneno 
Da minha vida... 
Em todos os teus atos 
Destróis a única gota 
Da minha alegria 
E eu me debato 
Será que o encontro 
Está depois do fim? 
Ou tudo isto é motivo 
Para tua desejada fuga? 
Gostaria, nesta hora, de correr, 
Voar sem asas, além de mim 
Para te encontrar... 


Batem na cortina do passado 

E a poeira remota e solta 
Sufocando os entes infiltrados 
Na lama de alguém magoado 

Remoer e engolir a seco 
O aperto da garganta 

De nada adianta 
Pois o silêncio se implanta 

No meio de dois 
Ficando um só 

O poder sobe à tona 
E o bom não é lembrado 
As palavras atacam 

De arco e flecha, lança 

Na direção do alvo 
E, eu boquiaberto 
Aqui estou. 


Suicido­me no silêncio 
Maltratado do nosso amor
Mudo a paisagem escura 
Em cores claras e vibrantes 
Para dar tempo no momento 
Da tua indecisão 
Transporto­me do resto 
De um inimigo 
Para um grande amigo fiel 
Mas o vazio vem perturbar 
Nossos complicados planos 
Tornamo­nos frios e caímos 
Nos mesmos erros 
Como gostaria de gritar 
Para o mundo saber 
Tudo o que já deveria 
Há mil momentos antes. 
O quanto te amo 
E seguir avante 
Nossa derrotada batalha 
Sem perceber que nasci... 


Soam em meus ouvidos 
Palavras nuas e frias 
Da tua segunda pessoa 
Projetada pela loucura 
Grito, mas não ouves 
Estás muda 
Diante deste momento 
Desconhecido e raro 
Jogas­te contra mim 
Numa tumultuada raiva 
Foges da realidade 
Desencanto­me e desconheço 
A minha cruel aceitação 
E fico mil vezes a repetir 
Recolhe tua lágrima 
Não vale a pena molhar o chão 
Para viver esta contraria cena 


Encontro­me num mundo 
Bastante selvagem 
Para os meus desejos
Queria viver toda a fantasia 
Mera fuga da realidade 
Casualidade de minha angústia 
Mas entre nós dois 
Sou apenas resto de alegria 
Um dilema de ida e volta 
Caminho dentro desta confusão 
Percebo o meu depois 
E maltrato­me sem pensar 
Volto ao passado e envolvo­me 
Sou um objeto do mundo 
Um passageiro da viagem 
Que nunca sequer comprou 
O seu bilhete de passagem 
Até quando vou de porto em porto 
Voar sem rumo, sem origem, sem destino 
Isto eu não sei... 
Mas quero dar adeus ao meu consumo 
E viver o que resta... 


Meu sangue escorre 
Faz um mar seco 
Logo morre 
Pra você não navegar. 
Por um oceano 
Foges, mentindo 
Inventando enganos 
Pra não deixares 
Caminhas no meu tempo 
Repetes estilhaços de cismas 
Transformas­me em cinzas 
E partes com o vento... 


Não vá! 
É cedo 
Não és flor nem botão 
Mas enfeitas meu chão 
Não vá! 
Tenho medo 
De silenciar­me 
Com minha angústia
E sufocar­me 
Antes da luta 
Não vá! 
Teu amor é puro 
Não precisas de juros 
Somente a multa de ficar 
Não vá! 
Porque calar 
O que tens a dar 
Tu não roubaste 
A vida ofertou­te 
Sem regra nenhuma. 
Despreze as cicatrizes 
Não vá! 
É cedo 
Façamo­nos felizes... 


Livro: Nudez da Alma 

Um grito de angústia 
Vasa o silêncio 
De toda a multidão 
Em passos lentos 
Caminham em um único tom 
Azul da cor do medo... 
Mas não sei se o pavor 
Foi pintado por alguém 
As grades pesadas 
Trancam os mistérios 
De cada homem de aço 
Tudo fica tão devagar 
Até meu pensamento 
Esquece de ocupar 
O seu verdadeiro papel 
E eu invento formas 
Para ir levando 
O tempo de arrasto 
Puxados por correntes 
Que ornamentam a tristeza 
Da minha provisória 
E interminável prisão. 

j
A besta ortodoxa caminha 
Livre e solta por todos os lugares 
É cega, sim é cega a fera 
Mas bela se apresenta 
Travestida... 
Diz­se defensora de alguns 
Ou de todos 
Porém, aqueles 
Que supostamente são defendidos 
Não a conhecem 
Nem sequer sabem que ela existe... 


Teus passos lentos 
Teus cabelos ao vento 
Já diziam tudo 
Pouco a pouco teu mundo 
Foi ficando mudo 
Tua cidade lentamente 
Foi virando as costas 
Rasgando teu peito 
Retirando a força 
De teus braços cansados 
Forçosamente 
Foste afastando­te 
De tudo e de todos 
E de ti mesmo... 
Até sumir... 
Levaste junto tua 
Própria mágoa... 
Deixando como agradecimento 
Um rastro de água 
Que nunca secará... 


Eu não queria silenciar­me 
E andar vazio pela vida 
Mas a cada instante 
O funil fica mais estreito 
E eu caio no abismo 
Que há pouco você retirou 
Para onde levará tamanho peso
Dessas terras sem dono 
Que formavam os sulcos cavados 
Que geram esta imensidão 
Em nossa frente 
Pelo menos, se pudéssemos 
Passar por cima e sentirmo­nos 
De outro lado... 
Poderíamos até encontrar 
O paraíso dos sonhos 
Que guardo há tanto tempo 
Nos calabouços do meu silêncio... 


De que adianta 
Buscarmos todos os dias 
Na prateleira do ódio 
Um novo remédio 
Para esta chaga 
Sempre sangrando 
Sem antes estancar 
E recuperar 
O que já foi derramado... 
Para tudo há um remédio 
Quem sabe um dia 
Até poderemos rolar 
Pelas pedras de ponta 
Que sempre encontramos 
Nesta longa caminhada 
Sem ferir nossos corpos 
E quando chegar nas águas 
As ondas salgadas 
Adoçarão nossa tempestade 
E abrirão nossos olhos 
Para um mundo que um dia 
Tentamos descobrir na escuridão 
E nos perdemos buscando 
A certeza de estar pronto 
Um para o outro... 


Ser artista não é casualidade 
É algo grande e sensível que lateja 
Dentro de cada um...
Os caminhos são difíceis, às vezes desanimadores 
Vezes incompreendido até pelos próprios 
É lutar pelo espaço com “unhas e artes” 
É “brigar” com o sistema e enfrentar poderes 
De pessoas que nem se atreveram a sonhar 
É se expor a todos os tipos de agressão 
E ainda ter que encenar fora do palco 
Renegando momentos festivos e importantes 
De nossa vida comum. 
É deixar de lado nossos filhos, nossos amigos 
Nosso lazer e consumir horas e horas 
Em pesquisas e ensaios para mostrar o melhor 
Às vezes chega a ser uma grandiosidade incontestável 
Mas para muitos não passa de mera bobagem de um “artista” 
É colocar o íntimo de si a julgamentos 
Às vezes constrangedores, que inibem a vontade de criar 
E agente se machuca! Desanima, cruza os braços 
E invade uma vontade enorme de mandar tudo... 
E procurar proteção entre quatro paredes 
Deixar o tempo passar, olhando apenas pela fresta da janela 
Mas olhar o quê? O possível brotar de uma consciência inconsciente! 
Mas quando me encontro nesta situação 
Algo explode dentro de mim e parto pra luta de qualquer jeito... 
Mesmo com os braços amarrados 
Pois tenho certeza do adubo na semente arte... 
Não é revolta e sim um grande desabafo 
Nem conceitos desconhecidos 
Há muitos nesta estrada, com a mesma vontade 
De falar desta inexplicável experiência... 


Estas máquinas que me rodeiam 
Não me incomodam 
Elas são quase precisas 
Só erram quando o homem esquece de 
Alguns dados alimentar 
Porém as máquinas que alimentam 
Me machucam por sentir 
A aproximação de erros 
Após erros e sentirem­se certos 
Sem querer pelo menos 
Compartilhar com minhas idéias 
Sem querer acender as luzes 
Da minha escuridão e 
Iluminarem­se junto a mim...

Por la calle dormida 
De las mañanas frías 
De invierno inevitable 
Sin mucha razón humeante camina 
Bajo la lluvia fina 
Un hombre y un otro y otro 
Con el dolor de cada día nuevo... 
Son obreros de mis sueños 
Cansados sacando la suerte 
Con su pan bajo el brazo 
Desnudo encorvado van construyendo 
Pocas ciudades y mil cárceles 
Necesidad de la democracia 
Tantos años esperando el milagro 
Temen su tiempo su casa su tierra 
Regalo tan prometido... 
Pero para hacer mis versos 
Yo hoy me pongo a pensar 
En las palabras que oigo hablar 
¿Por qué no compramos también los poetas ? 
Pues en cada obrero hay un pedazo 
De mi alma de mi poesía... 
Me gusta juzgar que soy libre 
Sin horario sin reloj 
Sin la voz amortajada que transita en el tiempo 
Montañas, ríos y campos 
Pobres campos que tiritan de verde 
Pobres tierras, con destino de rutas 
Pobres obreros, siempre con las manos vacías 
Cerradas y callosas del trabajo 
Pero con ganas de alzar los puños a lo alto 
Mientras yo busco escribir rescribir versos 
Para los hombres conocer mejor estés hombres... 


Um inseto no vidro 
Estraçalha suas asas 
Na tentativa de fugir 
Da grande barreira 
Que o homem colocou em sua frente 
Em forma de janela
Mas os homens mesmo 
Com as janelas abertas 
E de braços soltos 
Pernas livres 
Para caminhar por estradas 
Não ultrapassam esta 
Pequena e única barreira 
Nem se quer tentam ir além da porta 
E se auto­violentam todos os dias 
Na tentativa de buscar novos caminhos 
E sempre se encontram na mesma 
Linha de limite desta caminhada 


Hoje, eles mataram a velha 
Venderam seus móveis 
Roupas e objetos pessoais 
Por fim venderam a casa 
Com todos os fantasmas 
Tentaram se livrar 
De todas as lembranças possíveis 
Mas os fantasmas 
Continuam habitando suas cabeças 
Seus corpos e tudo mais 
Estão com medo 
Com medo sim 
Há! Estão com medo do fim 
O barulho dos pratos na mesa desfeita 
Ainda ecoa e fere os surdos. 
Sempre me achei culpado 
Das dores do mundo 
Espero um dia ser mártir 
De causa alheia 
Ou traidor de minha própria causa. 
Não sei porque estou dizendo isso 
Talvez seja porque eu não me escute mais. 
Ou será que estou ficando surdo? 


Ilumine los caminos claros 
De esta multitud de sueños raros 
Y devastados 
Ilumine toda mesa vacía
Toda casa pobre y fría 
Y desafortunados 
Ilumine el niño abandonado 
La voz sin fuerza tan callada 
De las personas pobres. 
Ilumine la razón de igualdad 
La justicia y la fraternidad 
Y que el amor sobre... 
Ilumine todo lo que, precisa cambiar 
Ilumine el cielo la tierra y el mar 
Ilumine este pedazo de tierra 
Disminuya la lucha y la guerra 
Y la conquista inútil 
Ilumine las leyes tan confusas 
Y aparten todos los que usan 
de forma tan hostil. 
Ilumine las personas tristes 
Y aquellas que insisten 
A los otros herir 
Ilumine la fuerza de vencer. 
Las ganas de vivir 
Y la garra para seguir... 


Sonhos 
Apenas sonhos 
Das noites sem dormir 
Que agora se vão 
Rasgando o peito aberto 
Fugindo pela janela 
Encostada na parede 
Das casas, que um dia 
Desejei morar 
Como podem os vidros 
Quebrarem sem fazer 
Sequer barulho 
Deve ser a mudez 
Que não me deixa ouvir 
Também não sei o que ouço 
Primeiro... ou depois 
Gostaria de juntar os cacos 
E ter a sensação 
De montar um grande espelho 
Mas para quê? 
Se sou invisível por enquanto...

Nem mais um soluço em vão 
Um olhar perdido no horizonte 
Uma indefinição definida 
Se já estou certo de que os homens 
São todos iguais a mim 
Eu que pensava ser um fiapo 
Resto de tantas coisas juntas... 
Entre pedaços encontro a diferença 
Eles são iguais a muitos ou a poucos? 
Nem mais uma busca... 
Nem mais um entendimento 
Isolar­me também nunca 
Pois sei que atrapalharia 
A minha interminável 
E contestável luta 
De sermos pelo menos comuns 
Antes do impossível... 
Sermos iguais... 


Remover cinzas 
Para mostrar pedaços 
Do meu lado queimado 
São coisas que me fazem pensar 
E descobrir um pouco de cada um 
Que passam se fazendo 
De invisíveis 
Ao meu redor 
Ocupando caminhos 
Que guardei no armário 
De pedra empoeirada 
Nos porões da minha saudade 
Reluto insistentemente 
Desafiando minha coragem 
Na tentativa de ver todos 
Caminhando por rumos novos 
Que estão saltitantes em nossa frente 
Mas antes disso preciso 
Com cautela abrir devagarinho 
Os olhos entreabertos 
E despertar com toda a surpresa
De que em meus caminhos 
Não há sinal de indicação 


Meu silêncio incomoda 
A mim e aos outros 
São raros momentos 
Repartidos em segundos 
Que faço minha reciclagem 
E vou mesmo sem ter 
Asas nem onde pousar 
Coloco­me na parede 
Para ser fuzilado 
Pela minha consciência 
E morro com estilhaços 
De inconformidade... 
Antes do acontecimento 
Trágico da morte em vão 
Questiono­me sem respostas 
Os ouvintes estão ausentes 
Culpar alguém não devo 
A prisão é a sentença 
É só minha, quero voltar a si 
Para desfrutar a liberdade. 


São grandes momentos 
Colocados um após o outro 
No paredão do extermínio 
Os canhões dirigidos 
Para os meus pensamentos 
Explodindo minhas atitudes 
Ainda bem que acordei 
Do susto atômico 
E tive a oportunidade 
De perceber a grande ilusão 
Dos meus sonhos 
Os homens caminham felizes 
Lado a lado 
Encontrados em si... 
Sem piedade de ninguém... 

j
A distância 
É a maior inimiga 
Do sentimento chamado amor 
O elo entre nós 
Sinto que a cada dia 
Vai se enfraquecendo 
Fiapos de desilusão 
Um a um são arrancados 
De nossa cabeça 
Um dia senti entrelaçado 
Por tantas maravilhas 
Que hoje são apenas restos 
De um passado presente 
Quem sabe ausente do nosso 
Sonhado futuro de paz 
São pedras que rolam 
Debaixo de nossos pés 
E nós caímos um para cada lado 
Desmoronando nossa consciência 
Que construímos com sacrifício 
E agora... 


Não posso estar nesta roda 
Engolindo as engrenagens... 
Sempre fui tão feliz! 
Não gostaria que minhas mãos 
Que sempre estiveram erguidas 
Na busca da felicidade plena 
Agora estejam querendo cair 
Ao longo do corpo, cortando o elo 
Eu sei que devo levantar­me 
E deixar a cadeira vazia 
Para outros que desejam 
Dormir com suas profundas revoltas 
Diante de todo este silêncio 
Tenho que alterar a minha voz 
Como se fosse um alto­falante 
Com todas as regulagens possíveis 
Afinal nunca fui objeto 
Para ser jogado no canto 
E ser lembrado somente 
No momento exato da minha função 
Sou um ser único!
Mas que bobagem dizer isto... 
Azar se poucos relutam 
Para vestirem todos com a mesma roupa 
Pois iguais nunca seremos... 
O silêncio fica bonito eu sei... 
Nos hospitais, nas igrejas, sei lá 
Nos lugares incomuns para os homens 
Cheios de vida pra dar... 
Acredito ou até faço uma certa força 
Deve ser uma forma antiga 
De escravizar apenas para ser escravo 
Ainda bem que o inconsciente 
Sempre será manifestado sem a própria 
Estrutura do homem sentir... 


Infiltra pela janela 
Uma angústia que eu mesmo 
Vim buscar 
Mas a janela não abre 
Tudo está tão fechado 
Dentro do meu próprio ser 
O infinito da minha liberdade 
Parece estar morrendo 
As escadas convidam­me a descer 
Os degraus imaginários 
Que sustentavam minha posteridade 
São tantas coisas que bailam 
Ao meu redor 
E eu consumo momentos tão importantes 
Dos que venci 
Mil vezes já me perguntei 
Olho para o lado e vejo 
Pessoas tão tristes e preocupadas 
Desperdiçando o amanhã 
E eu sou contaminado 
Com o veneno solto no ar 
Mas não quero deixar morrer 
Esta transparência de alegria 
Nesta rotina entediada 
Quero lutar pela grande vontade de viver... 

j
É só despojar do teu egoísmo impenitente 
Que a tua auto­violência se transformará 
Em caminhos tão belos cobertos de flores 
Como se tudo fosse um grande sonho 
Que talvez por tua maneira de agir 
Nunca tiveste a oportunidade de sonhar 
Eu quero dar­te apenas as pontas dos meus dedos 
Como forma impessoal e misteriosa 
De dar as mãos para caminhar 
Na mesma direção de tantas pessoas... 


De que adianta 
Falar do que não gosto 
Do que nos incomoda 
Tantas, quem sabe milhares 
Já me disseram 
Mas algo mais forte 
Lateja dentro do meu peito 
Parecendo dizer não deves 
Deixar abafar tua voz... 


Sem machucar­se nas pedras 
Acenda todas as luzes 
Para iluminar as cruzes 
Que marcam todas as feras 

Perdidas nos seus desalentos 
Ressuscitam das profundezas 
Momentos de pouca beleza 
Vitrificam a paz deste momento 

Como máquinas vão se repetindo 
Em lágrimas sorrindo 
E nós aplaudimos sua passagem 

Tudo passa de repente 
Deixando um vasto ausente 
E eu cultivo como miragem 

j
Quero deixar a cadeira vazia 
Desta complicada insistente roda 
Que saiu sem entrar na moda 
Mais quente da vida fria 

Azar se poucos relutam 
Para vestir a mesma roupa 
Nesta sujeira tão pouca 
Que se rompe e se junta 

Deve ser uma forma louca 
Nesta voz baixa e rouca 
Comandando pobres comandados 

Que agora estão querendo cair 
No mesmo erro de se incluir 
Nos lugares já demasiadamente lotados 


Mas é apenas um inseto 
Estraçalhando suas asas 
Nas labaredas que foram brasas 
Desabadas das paredes de concreto 

Que o homem fugindo colocou 
Em sua frente como grade 
Julgando ser muito tarde 
Pra testar a força que sobrou 

Mas arrancando grades e janelas 
Acendendo todas as coloridas velas 
Sobrou ainda a eterna escuridão 
Para convidar a soltar os braços 
E sentir livre do cansaço 
Que caminha em busca de solução 


Eu estou preso 
Tenho sim que me libertar 
Mas por que estou preso 
Tenho que sair daqui 
Eu estou perdendo tempo 
Há muito tempo lá fora
O meu tempo que faço? 
Se todos os lugares que vou 
Me sinto preso 
E cada vez mais sinto 
Tua cara escorregando de leve 
No espelho que nunca me vi... 


O gosto repetido pelos livros 
Não é apenas um hábito 
É uma desilusão na descoberta 
As pessoas não falam 
Talvez não tenham mais nada à dizer 
Elas se repetem, se repetem 
Gritam e se repetem 
Até ficarem cansadas. 
Puxa... quase morri de fome 
Vendendo cachorro­quente... 


Embora sabendo que para subir 
Precisamos das escadas 
Muitas vezes mal colocadas 
Sem o corrimão para guiar 

Vamos tateando no ar 
O chão já está ocupado 
Limpo bem lavado 
Tudo pronto pra ficar 

Nada mais é irritante 
Tudo como foi antes 
Se transforma a cada momento 

Eu já estou dormindo 
Acordado quase parindo 
A frescura da ausência do vento. 


Minha amarga inquietação 
Sempre morta, quase viva 
Torna­se rebelde e nociva
Quase útil inerte e em vão 

Quero lentamente partir 
Para o mais longe perto 
Buscar os erros tão certos 
Do meu complicado existir 

Mas desesperadamente viajo 
Nas bagagens cheias nada trago 
Do real, utópico para todos 

Cresço, diminuo e me esmago 
No canto redondo e rebuscado 
De todos os vertentes lodos. 


Perdida no horizonte!... 
Eu vi apagar... 
Uma a uma 
As estrelas do firmamento! 
Só restou a estrela... 
Dos teus olhos... 
Para me conduzir!... 
Pelo campo majestoso 
Em busca de nossas fantasias... 
Que permanecem vivas... 
Em nosso íntimo nu!... 


Em meio a fumaças de sonhos 
Suas asas planam, despertando 
Em mim o depósito de emoções 
Num terno aconchego de desejos febris... 
Cavalgo fantasias em pêlo 
Remoendo restos do ontem esquecido 
Na busca do amanhã, renovo a ilusão 
Ressonada nesta melodia... 
A madrugada serena camufla 
Um ritual de amor, orvalhando 
Mais um sentir... Mais um querer... 
Neste instante de magia, se fazem presentes 
Fiapos de realidade, em busca de novos 
Caminhos para encontrar­me no anonimato
De uma vida que cochila displicente 
No colo desta virgem vontade... 


Quem vai querer!... Quem vai querer!... 
Não custa nada... É nutritivo... 
Alimenta a alma... 
São fantasias da nossa vida, 
Buscando um futuro melhor... 
Só é indigesto no mundo capitalista... 
Faz bem á saúde da consciência... 
Sonhos!... É o antônimo de realidade!... 
Quem vai querer!... 
Sonhos é o irmão gêmeo da arte e 
Primo irmão da ilusão... 
Quem vai querer!... 
Aqui... Vendem­se sonhos... 
Na tenda da opção... 
Vamos, sejam bem­vindos 
Ao mundo dos sonhos... 
Liberte o seu lado sonhador 
Desfaça­se do cotidiano... 
Quem vai querer... Quem vai querer... 
Não compromete ninguém 
Cada sonho tem sua identidade própria 
Sem burocracia, nem taxas... 
Sonhos, são apenas sonhos... 
Vamos, venha comigo... 
Poderemos continuar 
Nos atrevendo a sonhar... 


Entre papéis, canetas 
E o cesto de lixo... 
Confrontam­se as nossas decisões... 
Temos que continuar lutando 
Contra este trânsito louco 
Que é a vida! 
Buscamos o controle do tempo... 
E o contratempo 
O desabafo malcriado 
Que explode rompendo 
A boca do vulcão menino
Extrapolando à razão... 
Enquanto isso, na mansão 
O espelho da parede 
Reflete a fagulha de raiva 
Dos olhos daquela 
Criança abandonada... 
A alma continua inquieta 
Sufocando o desejo carnal... 
É a loucura calada 
Vigiando o cérebro humano 
Pronta para sua conquista... 
O riso brota, como programa único, 
Subindo pela minha garganta 
Soltando­se... 
Nada poderá abafá­lo... 
Vagueei!... 
E os problemas estavam 
Amontoados em um canto, 
Esperando por mim... 


Fim de tarde... 
A cama está feita 
Aguardando­me para mais um sonho... 
O pão na mesa, para saciar a fome 
De um medíocre ser humano... 
Na cacimba, a água 
Despertando o desejo de vencer... 
Conseguir ultrapassar a barreira 
Do caminho perdido... 
No antro das serpentes 
Que vacilam ao decidir atacar!... 
Iludir!... Tentando ganhar 
O seu amor que permanece 
Debruçado na soleira da minha janela... 
Lutar... continuar lutando até a morte 
Chegar de mansinho e nos levar pro nada!... 
Ganhamos o troféu... 
Que de agora em diante ficará reluzindo 
Na prateleira do museu da vida... 
Enfim está garantida a sobrevivência 
Entre os mortais, apesar de sua morte... 

j
Mulher!... 
Sou mulher sedutora... 
Mito de muito sonhos... 
Inspiração!... 
Delírio para almas perdidas... 
Sou mãe protetora... 
Atrevida!... 
Brinco de amor na relva fresca... 
Desvirginando cada amanhecer... 
Atuo!... 
Rasgo o meu ventre... 
Dilatando o meu sentimento de menina!... 
E você?... 
Para mim, é anjo barroco da mitologia... 
No nosso mundo, único!... 
Que nós dominamos sob o galopar... 
De nossos cavalos alados... 
Na colina de nossos corpos... 
Sou para você!... 
A Vênus da ABBONANZA... 
Uma deusa de nossa descendência!... 
Arremessamos ao vento... 
O nosso desejo sentido... 
Que se transforma em flechas 
Atingindo­nos no alvo... 
Sou apenas uma mulher!... 
Talvez... Graças a você!... 
Que contribuiu para eu me sentir mulher... 
Você que me fez sentir... 
Um arrepio com um calor de quarenta graus... 
Com você!... Eu me senti fêmea... 
Princesa do seu trono... 
Ou talvez apenas amante!... 
Mesmo por caminhos distantes... 
Estaremos juntos, para sempre... 
De mãos dadas!... 
Desfrutando o paraíso de nossas vidas!... 


Uma rua... 
Uma esquina... 
Campo aberto... 
Meu jardim... 
Para manter o dom de ser natural!
Cultivo flores de performances delicadas... 
Acompanho a vida, pois ela continua! 
Com vibração... Inquieta... 
Meu amor! 
É um cavalheiro medieval 
De armadura brilhante... 
Minha vida! 
É um estado de espírito... 
Quanto mais idade 
Mais saborosa fica... 
Revelo­me a mim mesma 
E sinto­me purificada... 
A esperança continua moribunda! 
Desilusões! 
Quantas lágrimas contidas... 
Alegrias! 
São implosões abafadas... 
E sob a luz tênue do lampião 
Continuarei a passos largos... 
Outra rua... 
Aquela esquina... 
Nosso jardim... 


Aos amantes, o meu nobre respeito... 
Participam da vida através do patamar elevado da busca... 
Encontram no olhar perdido 
A resposta para as suas perguntas não respondidas... 
No simples toque acham a expressão do íntimo 
Que cala os preconceitos arrepiando a pele nua... 
No lençol manchado a satisfação aflorada 
Do encontro de almas... 
No dia seguinte a saudade da noite anterior 
Se eleva para o próximo encontro 
Percorrendo livremente as estradas do querer.... 
São simplesmente amantes doando­se sem nada pedir 
Em troca, reconhecendo e elevando o espírito maior... 


O amor infla por dentro 
Estufando­se para a vida 
Ocupando mais espaços vazios... 
É a magia mais antiga e completa
Que já existiu na natureza... 
Amor... 
Este sentimento natural, suave 
Embriagando corações meninos... 
Desmoronando fortalezas 
Deixando todo o ser humano 
Na mesma igualdade... 
Este amor... 
Faz voar mais alto 
Os sonhos de uma existência... 
Amor, sempre amor... 
Semente fecunda que brota 
Por nossa continuação... 
Amor, o meu amor!... 


Há várias maneiras de se conviver 
Com a MORTE... 
A principal é sobreviver!... 
A qualquer preço... 
Talvez a solução consiste 
Em viver com dignidade e afinco... 
Assim não lamentaremos 
No fim da estrada... 
Existem pessoas vivas­mortas 
Arrastando­se pelo caminho... 
Infinito, onde paradas são 
Meras placas de indicação... 
O caldeirão do amor fermenta 
Exalando o odor do prazer... 
Enquanto mãos estendem­se 
Oferecendo ajuda ao ódio... 
No prelúdio... almas sendo 
Veladas pela chama da existência... 
No fim do túnel a nossa última morte 
Delicia­se com o espetáculo da sobrevivência 
Que mais cedo ou mais tarde chegará... 
A amiga MORTE está em todos os lugares 
RONDANDO ETERNAMENTE... 


Senti você deslizar 
De mansinho...
De mãos dadas com minhas frustrações 
Desvirginando um dia radiante... 
Imaginei­te no nosso mundo... 
Descobrindo o prazer... 
Eu estava a tua procura 
Escoltada pela solidão... 
A dona aventura deliciava­se 
Com os devaneios descompromissados 
Correndo livres... 
Como os meus pensamentos... 
Neste bastidor da vida 
Os atores somos nós... 
De mundo único 
Invocando os deuses pecadores... 
De mãos postas sobre o teu colo... 
Sigo, olhando... para o amanhã 
Com intimidade... 
Verte do leito a certeza 
De que estaremos juntos 
Para mais uma vez... 
Sermos felizes... 
Nem que seja apenas na minha imaginação!... 


Na evolução do homem 
O amor transcende magicamente 
Fundindo a ligação de almas... 
O fio da existência rompe 
Aliciando a nobre coerência!... 
Deixando a viuvez ultrapassar 
O momento equalizado 
Expondo a fenda da perda... 
O peito estufa­se novamente!... 
Resgatando a consciência 
Convertida em exclamações 
De uma vida monótona 
Absorvendo os anseios 
De inovação... Os vestígios 
Denunciam a esperança dos deuses de bronze... 
Imperando sobre os sentimentos falidos 
Da humanidade!... 

j
Não destruirás os alicerces do “meu mundo” 
Porque nele existe uma vida... 
Com mil sonhos, incertezas, angústias 
E muita vontade de vencer... 
O teu mundo é único, nunca esqueça isto... 
Sempre será o mundo mais certo de todos... 
Não deixes que te aniquilem!... 
Tu tens uma causa justa a que dedicar 
A tua simples existência... 
O nosso mundo é forte, atrevido, eloqüente... 
Sempre sustentando uma base para a 
Sobrevivência do ego. 


As lembranças fluem 
Como fantasmas do passado 
Entre espasmos... 
Contorcendo­se lentamente 
No presente atrevido... 
Pela fresta do tempo 
Sigo fundida em tua alma! 
Agora... 
Deslizo minha pele 
No teu corpo... 
Arrepiando o desejo 
Da semana passada! 
E no amanhã... 
Há de reluzir 
Na selva do destino... 
Mantendo­nos unidos 
Por caminhos diferentes! 


Despertou novamente a angústia 
Da semana passada... 
Amarrotada... Sonolenta... 
Depois da folga do fim de semana! 
O choro das crianças... 
Acompanhado pelo coquetel 
De sentimentos improvisados... 
Dilacerando os desejos 
Deste dia­a­dia! 
Seguidos de noites de insônia...
Cai a chuva, que não pediu licença... 
Refrescando o ar! 
A ironia está sentada no divã da sala 
Afirmando grandes melhoras 
Para esta semana que se inicia... 
Ironia descuidada... 
Virou o copo de vinho 
Manchou a roupa do destino!... 


A ambição descansa... 
Conduzida pela mão do sono... 
Enquanto no céu 
As estrelas brilham 
Numa gratuidade infinita 
Dando ao orvalho 
Um toque de magia... 
Fecho os olhos!... 
E vejo a brisa lambendo 
As flores do campo... 
Numa sinfonia da natureza... 
Tua imagem reflete 
Na água cristalina 
No riacho da saudade... 
Transparecendo a tua alma 
Satisfeita por ter se 
Encontrado nos braços da liberdade!... 
Afundando com as mãos 
As angústias... 
Violas o meu limite 
Extravasando o compromisso 
Assumido... 
Deixaste uma marca 
Na nossa estrada!... 
É sempre assim... 
Quando arrumamos a casa 
Para esperar a felicidade... 
Ela acaba batendo em outra porta... 


Amordaçaste tua ira 
Sentindo o faro de ilusão... 
O relógio da praça
Anuncia a hora de recomeçar... 
Na beira do meu caminho 
Repousam lápides caiadas... 
De companheiros lembrados 
Por glórias do passado... 
Alçaste no infinito 
A tua criação!... 
E segues no escuro... 
Guiado pelos olhos lagrimados 
Da inspiração... 
Abandonas o casulo infame 
Entregando­te de corpo e alma 
Ao mundo dos privilegiados... 
És poeta nato!... 
E teu sonho escapa 
Pela fresta da porta 
Fechada!... 


Bom dia!... Pára o mundo!... E... 
Na minha frente aguardava­me 
Uma fotografia... A imagem que eu via... 
Era de um rosto transfigurado... 
Uma expressão de alguém cansado 
De lutar por sua própria vida!... 
Fiquei a me perguntar... 
O valor da vida? 
As fronteiras do mar? 
Que cor tem teus olhos? 
Afinal, o que é sonho? 
O que é amar? 
Mas eu vou seguindo... 
Vou denunciar!... 
A guerra!... 
Os conflitos humanos!... 
A violência! 
Medito... e suplico... 
Em nome de todos nós... 
Deixem o sol brilhar sublime 
Nas colinas do nosso campo... 
Serão com toda a certeza 
Manhãs radiantes, cheias de vidas!... 
Em cada despertar ao seu lado...

Mais um minuto, mais uma hora... 
O agora busca no cotidiano 
Meadas de realizações 
No novelo que segue diminuindo 
Na medida em que as mãos 
Do tempo tecem esta peça de malha fina 
Que aquecerá a minha alma 
Nesta busca e procura de meus ideais... 
Mais um minuto, mais uma hora... 
O ontem desfila por meus pensamentos 
Mostrando o que ficou de forte e 
Marcante por entre tempos insonsos 
Mais um minuto, mais uma hora... 
O futuro me aguarda acompanhado pela expectativa 
Sentado na praça, por onde desfilam 
Vidas e ansiedades de nosso mundo 
Sem rumo e de cabeças vazias... 


Abandonas a matilha 
Vestindo teu disfarce de pastor... 
Entre o rebanho inocente 
Conquistas o teu reinado 
De farsas e ilusões!... 
Atacas traiçoeiramente 
As vítimas distraídas 
Dilacerando a confiança... 
No pasto, alimento da vida! 
Deixas marcas de tuas presas 
Rompendo as máscaras 
Expondo o teu ego... 
A ironia exposta em sorrisos 
Concretiza o teu talismã 
Uivas a vitória!... 
Resgatando na aparência 
De príncipe encantado... 
De histórias e estórias 
Em quadrinho infantil... 
A inspiração para o novo ataque!... 
E assim segues por aí... 
Mais um anjo de alma negra!...

Existe uma TERRA PROMETIDA... 
Onde o TRABALHO... 
Contribui nesta luta 
Pela sobrevivência humana!... 
Existe uma TERRA PROMETIDA... 
Onde LUTAR... 
É buscar a FORÇA INTERIOR 
Por seus IDEAIS!... 
Existe uma TERRA PROMETIDA 
Onde a simplicidade consiste 
Em sermos dignos de uma energia! 
Chamada AMOR!... 
Existe uma TERRA PROMETIDA... 
Onde conseguimos atingir a TERRA 
Com nossos pés calejados... 
E sentir fluir do paraíso e... 
O PLANETA TERRA SERÁ UMA TERRA PROMETIDA!... 
As pessoas fazendo parte 
Da mãe NATUREZA... 
E, poder desligar o ar condicionado... 
Abrir a janela... e SENTIR a brisa soprando 
De mansinho!... 
Este é o MISTÉRIO DA TERRA PROMETIDA! 


A saudade arrombou­me o peito... 
Fiquei a vagar na inconstante fantasia... 
Busquei no dia passado 
A cumplicidade do nosso pecado maior... 
Nosso vício!... 
Que hoje reflete sem preconceito... 
No espelho fosco da vida... 
Retratando nossa busca distante... 
O desejo nu, enlouquecido... 
Espera por nós... deitado no cetim 
Do teu corpo, guardando para sempre... 
O sopro do delírio... 
E a certeza de um amor verdadeiro 
Nos acompanha, dividindo nossas vidas... 

j
Porta aberta... 
Vacilação!... 
Entre o possuir 
E ser possuído pelo desejo de carne... 
Pecado original... 
És tentação dos meus anseios... 
Equilibrando nosso momento... 
DIZEM SIM!... a ti mesmo... 
Ama a natureza... 
Assim estarás me amando... 
Impulsiona a nossa subida... 
Sejamos fortes... 
Lutemos com unhas e dentes... 
Para que mais tarde tenhamos a certeza... 
De nos encontrar, numa esquina... 
E assistir a vida deslizar 
Sobre os nossos pés... 


Deixem 
Que eu abra a minha boca! 
Que lhes mostrarei o meu mundo... 
Deixem!... 
Que eu corra livre na aurora! 
Que a minha sina reinará... 
Deixem!... 
Que eu me envolva 
Nos teus olhos! 
Que você me amará!... 
Deixem...Deixem... 
Eu ser apenas o que sou! 
Com intransigências diretas 
De um EGO... partido ao meio... 
Poder transitar sem multas 
No meu mundo... no nosso mundo... 
NO MUNDO DE TODOS NÓS!... 


Deportam através dos gestos 
Insonsos, a vontade inatingida 
Paralisam perante tantos desabafos 
Criativos dos lobos das noites enluaradas 
Sonorizando o espaço com uivos de alerta
Buscando companhia para a sua reflexão 
Alimento do raciocínio e do desejo 
Degradando os sentimentos obscuros 
Que se banham nas águas de emoções 
Sexuais obscenas, na realidade perdida... 


Amanheço toda hora... 
Um novo despertar! 
E desta vez... 
Olhava com paciência 
A vida pelo espelho... 
Via o passado entrelaçado 
Com o presente!... 
A expectativa estimulava 
O meu cérebro... 
Vindo à tona 
Reflexos!... 
Acomodados dentro de mim... 
A raiva desfazendo­se 
Num passe de magia 
Captei tua mensagem telepática 
Compensando­me teus pecados... 
Este foi um amanhecer desprovido 
De dignidade... 


Sentimos a chama 
Ainda acesa 
No amanhecer do dia, 
De cada instante... 
Espelho de olhos 
Nos revelando 
Num passe de mágica... 
O magnetismo segue 
Fluindo um orgasmo 
Em forma de vida... 
Aquecido por sentimentos 
Atrevidos... 
Cutucando a consciência 
Em busca da razão... 

j
Redimo os mistérios 
Do meu envelhecer 
Minha carne marcada 
Rasga os sulcos de cetim 
Da alma envaidecida... 
Delato a candura 
De anjos barrocos 
Perdidos na ampulheta 
Dos séculos em guerra... 
Indago através de gestos 
O álibi da força interior 
Perdida na nostalgia 
Da rotina, resgatando 
A eterna esperança!... 
Para a alma perpétua 
E corpo decadente... 


Livro: Delitos e Relatos 

Elas são filhas salgadas 
Suaves e silenciosas 
Que dizem tudo sem emitir a voz 
Elas inundam os olhos 
Para transmitir os mais lindos momentos 
De felicidade e de ternura 
Mas também transbordam para 
Expressar momentos de dor 
Mas se não fossem as lágrimas 
Nos momentos cálidos 
Como poderíamos representar 
Tanta emoção contida na alma? 
O que seria dos frágeis corações?... 
Minhas lágrimas são pesadelos 
Do meu sono acordado 
Gritos do meu silêncio 
Que todos podem sentir... 
Ver... e quem abe tocar... 
Mas sem silenciar... 


Ter uma multidão
De arrasto atrás de si 
Não significa ter todo poder... 
Questionar os valores dos outros 
Não implica no entendimento 
Dos seus próprios valores 
Ser transparente é perigoso 
Quando os raios do sol 
Refletem no brilho dos olhos fechados 
Entretanto o poder, valores e a 
Própria transparência do ser 
Sempre estará presente 
Naquele que possui a maior 
Capacidade de amar... 
Pois poucos serão aqueles 
Que ultrapassarão o sinal vermelho 
Da vida além da morte... 


Não, estou bem, não se preocupe... 
Com este meu jeito de ser de pensar e agir 
Esta angústia que às vezes transpareço 
São apenas alertas açoitadas pelo meu ego 
Para o deserto sem areia da consciência 
Sem a essência sólida da palavra amor 
Do peito aberto vazio sem alma 
Dos rios, lagos e florestas verdejantes 
Dando seu último e angustiante suspiro... 
Não, eu estou bem, não se preocupe... 
Afinal de contas o mundo esta correto 
Ainda há homens totalmente sem razão 
O feijão está presente nas mesas de luxo 
Não se preocupe... com este meu jeito 
De tentar brincar com a ironia e transmitir 
O irreal desta nossa bela realidade... 
Eu me arrisco sim... pois sei a cada instante 
É mais constante o decepar de mim... 
Pedaços que farão falta no meu amanhã... 
E no teu amanhã... no nosso amanhã... 


Sinto­me como um saco vazio 
As pernas parecem me trair 
Pois elas me conduziram
A um lugar que eu não queria 
E aqui estou traidor da minha 
Própria e única causa... 
Como se a causa dos outros 
Não tinha nada haver comigo 
Hoje sou mais pobre 
De tudo. De espírito, de alma, 
De consciência social 
Estou morrendo por dentro 
Louco para pedir perdão 
Mas para quem, se o pecado 
Foi apenas contra a mim?... 
Não mereço sequer o meu perdão... 
Como sou pequeno... 
Mas este pequeno poderá ser em troca 
Da minha inútil sobrevivência... 


Uma névoa de angústia paira no ar 
Confundindo os milhares de rostos aflitos 
Que caminham desfigurados se dividindo. 
Eles talvez vão em busca de uma solução 
Desta situação que não tiveram o direito 
Se quer, de uma pergunta mentirosa ou não 
E executaram sem ouvir esses pobres felizes 
Sonhadores, que nem sabem de sua importância 
Mas isso já não importa tanto agora 
Já que estamos afundando neste resto de lama 
Última sobra do próximo esperado dilúvio... 
Da minha angústia há muito tempo eu falo 
Nada de novo trás em meu corpo aberto 
Ela sempre brotou da incerteza e da frieza 
Que os homens da verdade tratam as coisas sérias 
Eu me consumo lentamente ou ligeiramente 
Ao ver e sentir a degradação humana... 
Suplicando mudanças em sua única dignidade 
Seu esforço pela troca de sua existência... 
Mas o que retiro de importante e questionável 
Deste belo momento atual, desatualizado 
Talvez algumas almas coloridas e desbotadas 
Que nunca se vestiram de branco 
Cessem seu pranto que nunca derramaram 
E reflitam sobre a paz que nos levaram 
Fingindo não ser um fruto de sentimentos 
Para não nos conceder o direito de acusar...

Foi preciso sim 
A fuga para conhecer 
Outros caminhos... 
E para perceber 
A imensidão 
Que estava perto de mim... 
O cedro da praça 
Que tantas vezes 
À sombra brinquei... 
À espera de matinê 
A avenida arborizada 
A vila nova tão velha 
A casa onde eu morava 
As figueiras amareladas 
Que sem nada reclamar 
Emprestavam­me seus galhos 
Para pendurar meu balanço 
Que mais tarde o tempo parou... 
O figo, fruto delicioso 
Que minha boca adoçou 
A sombra da caneleira 
A minha rua empoeirada 
A minha escola 
A minha primeira professora 
Meus primeiros be­a­bás 
A minha própria raiz 
A minha cidade pequenina... 
E o berço que aconchegou­me 
Na minha chegada... 


Não chores por pouca coisa 
As lágrimas poderão cobrir 
A beleza do mundo à sua frente 
E tu não terás a oportunidade 
De ver a grandeza do mundo 
Bem mais além que te espera... 


A poesia é o meu caminho
De flores ou espinhos 
É fogo por dentro 
Já dito por outro... 
É todo o meu princípio 
É o que trago sustentada 
Pelas mãos trêmulas 
Muitas vezes arreada 
Do mastro invisível 
Pra dar passagem ao hasteamento 
De sustentações errôneas... 
Mas enfim é o que tenho 
De mais sublime para iluminar 
As casas frias e pobres 
As igrejas e os palácios 
Para renovar a noite 
Depois do intranqüilo sono 
Os dias após o trabalho 
Para dar idéia as imaginações 
Mais lindas ou obtusas 
Para questionar a sociedade 
Para revelar o talento 
E o contraste... 
Das fotos preto e branco 
Para iluminar a felicidade 
Dos amantes mais amantes 
Para reacender a luz no canto 
Mais escuro dos homens 
Para tantas coisas possíveis... 
Venha, você também pode segurar 
O facho desta grande luz 
Que ilumina todos os caminhos 
Mas venha... 
Antes do fim do meu tempo... 


Preparar­se para o futuro 
É acompanhar e crescer 
É compreender que o amor 
O trabalho e a paz 
Entre os homens, são elementos 
Reunidos na fonte 
Inesgotável da conquista humana... 

j
O sol tantas vezes 
Modestamente retirou­se 
Para a lua tomar provisoriamente 
O radiante lugar 
Sem nenhum dos dois entrarem em atrito 
Bem que nós poderíamos 
Ceder um pouquinho 
Assim como o astro rei e a lua 
Com toda a sua grandiosidade 
Não hesitam em dar uma olhadinha 
Em outros mundos distantes 
Dando assim um toque para nós 
Quem sabe o exemplo necessário 
Para termos a harmonia 
Neste mundo tão completo 
Mas lamentavelmente incompleto... 


Adormeci depois de um sonho... 
Que tive no céu da boca 
Senti as estrela com gosto 
De algodão doce... 
Da brisa um cheiro de mato molhado 
Respirando o ar da chuva 
Tudo levou­me a correr 
Por entre os pessegueiros 
E laranjais em flores 
E vi­me como criança a brincar 
Pés desnudos, livre e solto 
Pisando como que contando 
As diversificadas lajes frias 
Dos caminhos longínquos 
Revivi minha doce amarga infância 
A linda namorada dos sonhos 
O meu pequeno lar 
A igreja pontuda 
Quase ferindo as nuvens brancas 
Do meu entardecer 
E assim invadiu­me uma mistura 
De saudade e felicidade... 

j
Eu por mais que queira não consigo lembrar 
Daquela noite do meu esperado nascimento 
Claro que nem poderia... por mais que force 
Na minha memória... sempre irá aparecer um vazio... 
Contaram­me da luz na madrugada 
Da agonia cálida de minha mãe... 
E do choro delirante que eu trouxe ao mundo 
Mais tarde pelas frestas dos meus anseios 
Enxerguei o mundo e caminhei 
Sempre registrando o tempo com a poesia 
Alguns já disseram que trago a vida 
Sem a sufocante angústia e a gelada solidão 
Outros declaram guerra às minhas sonhadas esperanças 
Mas enfim tudo leva­me amá­los a todos 
E num passo mágico abraço o desespero 
O encanto a desventura e a verdade 
Mas o que eu gostaria mesmo como sonhador que sou 
Presenciar apenas um momento onde todos os homens 
Se abraçassem sem desperdiçar o verdadeiro amor 
Eu ofereceria sem saber do retorno 
O beija para selar... 
A minha complicada, esperada esperança 
De lembrar o dia em que nasci... 


Toda a minha vontade de saciar 
Esta louca faminta e devoradora ansiedade 
De conhecer horizontes escuros além 
Que do meu pequeno mundo vejo apenas traços 
De cores desmaiadas 
Estes desejos me arrastam pelos pés 
E eu descubro toda a beleza além 
E eu choro eu canto eu rio como ninguém 
Mas não sacio a fome de ser cigano 
E viajar em teu corpo 
Descobrindo os mais incríveis lugares 
Onde provisoriamente 
Instalei a minha morada... 


Jurei pra mim mesmo 
Que não escreveria um verso sequer 
Mas ao conferir meus velhos
Escritos tão bem guardados 
Em minha memória tão viva 
Percebi que ainda tenho 
Muita coisa abafada 
E devo mais do que nunca dizer... 
Pensei... e logo senti­me 
Culpado das dores do mundo 
E passei a ser cúmplice 
Desta luta interminável 
Notei a importância 
De ser um poeta 
E empunhei a poesia 
E senti­me armado 
Aliado e com compromisso 
E comecei a registrar 
Denunciando novamente 
Tudo o que pensava 
Já estar há muito tempo 
Consertado... 


Nunca apague a luz 
Que ilumina os outros 
Sem antes pensar na possibilidade 
Que você poderá 
Não ver nada 
Mesmo na claridade... 


Tudo e todos 
Parecem estar no seu lugar 
Homens nas ruas 
Carros nas estradas 
Praças bem verdejantes 
Mendigos saciados 
Favelas majestosas 
Salários polpudos 
Suficiente para sobrevivência 
Pagamento em dobro 
Pelo trabalho dos operários 
Vida bem planejada 
Governo preocupado 
Com o bem estar do povo
Crianças recuperadas 
Leis que não cercam 
Os pobres de obstáculos 
Tudo e todos 
Aparentando normais 
Pouco adianta enquanto 
Muitos estão ativando 
Suas armadilhas pelos caminhos 


Por este mar aberto 
De mentiras e traições 
Eu quero navegar 
Com toda a bagagem 
De minhas poucas viagens 
Do meu grande passado 
Quero ancorar sem medo 
Na ilha mais próxima 
E contar em detalhes 
A história dos homens 
Do meu tempo... 
Semear a paz e colher 
A saudade dos que deixei 
Para trás dos meus sonhos 
E viver sem esta agonia 
Quem sabe um dia voltar 
Ao ponto de partida 
Não para ver o que deixei 
Mas para contar o que restou... 


As pedras mudam de rumo 
As águas frias dos rios 
Que cambaleiam sedentas pelo mar 
Os dentes seguram palavras quentes 
Das bocas sinceras que lentamente 
Se fecham molhando os lábios secos 
E o mundo fica atônito 
Sem ouvir a palavra amiga 
O inimigo faz dos meus sentimentos 
Turbulentas aragens 
O meu amor vacila nas trevas 
E sai em busca das calmarias
Ao encontrar... os mistérios 
São desvendados adoidadamente 
Como se tudo fosse certo 
E assim eu entendo certas coisas 
Que o destino tenta nos explicar 
E eu corro no imediatismo dos meus atos 
Tentando me redescobrir... 


Para muitas pessoas 
A gente não passa de uma laranja 
Muitas vezes sem retirar a casca 
Abrem um orifício com um alfinete 
E tomam apressadamente nosso sumo 
Pensando ser o suficiente 
Para saciar sua obscuridade 
E logo jogam fora 
Com medo de alguém perceber 
Sua não menos notável atitude 
Mas alguém com mais sede 
Junta do chão empoeirado 
E suga a penúltima gota 
E atira rolando como uma bola 
E as sementes louca para germinar 
Vão se deslocando 
E se acomodando 
No chão fértil dos sonhadores 
Com o tempo como todas as coisas 
Vão se modificando 
Um pomar verdejante nasce e brota 
E das flores surgem novas laranjas 
Crescem, amadurecem 
Unicamente para saciar 
A sede de uma nova época... 


Aqui neste lugar 
Onde reina a indiferença 
Tudo é muito irônico 
Muito diferente 
Do mundo que sonhei pra mim... 
Pra ti e para todos nós... 
A gente se perde nos labirintos
Corredores intermináveis 
A solidão das almas 
Misturam­se com o tédio 
Massacrando um dia após o outro 
Sei que estou sozinho 
Embora muito notado 
Nos momentos de minha angústia... 
Quase morro em meus questionamentos 
Que sobreviventes são estes? 
Sempre tentando infiltrar­se 
No comum e extrair os pedaços 
Dos que saltitantes 
Vão tentando construir um mundo melhor 
Faltam poucos minutos 
Para o toque fatal 
Todos se olham cara a cara 
E rápidos seguem seus destinos 
E assim todos os dias se repetem 
Sempre a mesma história 
Que eu não gostaria de contar a ninguém... 


Passei apressado 
Mas chamou­me a atenção 
Aquela mulher despejada na calçada 
Dormindo acordada o sono da miséria 
Sonhando com castelos imundos 
De desprezos... 
Ou quem sabe com a liberdade 
De correr livremente 
Sem estar presa nestes cárceres da rua 
Necessidade da divina democracia 
Com atropelos, buzinas, soldados 
Chega pra lá... 
Poderia ser melhor se ela acordasse 
E tivesse ao seu lado 
A mão estendida... as portas 
Abertas, e um teto... 
Mas sempre os fingidos olhares 
Tomam conta deste momento 
Os homens que saem apressados 
Das igrejas não há olham 
Pois mal tem eles tempo 
De se preocupar com os degraus 
Da escada para o céu...

Nos caminhos de minha busca 
Encontrei­me com a saudade 
Que lentamente aguçou­me 
Dando vida a minha solidão 
Uma lágrima rolou escondida 
Secando com o calor desta cidade 
Um sorriso com ar satisfatório 
Para as pessoas que me rodeiam 
Nasceu como um belo poema 
Tentei ocultar o que estava sentindo 
E fiquei mais só ainda 
Quase aprendi a conviver com a saudade 
As horas foram se estreitando 
O encontro se aproximando 
E eu senti que é bom sentir saudade 
O amor remexe agente por dentro 
E se percebe muitas verdades... 
Que perto passam desapercebidas... 


Mudar aqui, ali, acolá 
Este desejo é velho 
Tão velho que já sentou­se 
Na cadeira de balanço 
Da varanda empoeirada 
E perdeu­se na contagem 
Dos seus tantos dias 
Muitas vezes este desejo 
Vejo morrer entre páginas 
Dos jornais que não li 
Arranco os poucos cabelos 
E deixo flutuar tantos planos 
Mas meu corpo cansado 
Reclama e insiste em contar 
Os anos que já passaram 
Sem nada mudar... 
Eu pondero meus pensamentos 
Na agonia de sair correndo 
Sonhando e mudando tudo 
Mas me conscientizo da gravidez 
Que levo saltitante no peito
Enraízo na terra da minha teimosia 
Para ter certeza que jamais abortarei 
Esta vontade de mudar... 


Ontem encontrei­me com a cintilante 
Tímida e fria neblina 
Emoldurando a cena mais bela 
Desta cidade que estendeu­me as mãos 
Pareceu­me estar em uma gigantesca 
Bem visitada pinacoteca de luz e cor 
E a primorosa dádiva me fez sentir 
O sonhado culminante orgulho 
Mas ao mesmo tempo emudeci 
Ao pensar que tantas maravilhas 
Visuais me tocam mais profundo 
No sentimento louco de preservar 
Vão ficando apenas retidas 
Na confusa memória do tempo 
Nos livros de histórias e museus 
O velho se esvai dando lugar ao novo 
Como querendo fugir das lembranças 
Reprimidas dos nossos antepassados 
Porém com o passado tão vivo e presente 
Um turbilhão de forças irreprimidas 
Me fez sentir que aqui é o lugar 
Mais perfeito que escolhi 
Mas preciso lutar muito 
Para conseguir viver 
Com a paz com que sonhei... 


Desde o dia em que coloquei 
O pé para fora do ventre 
Saudoso de minha mãe 
O dedo feroz sempre esteve 
Apontando para o meu nariz 
Bem... não diria desde o dia 
E sim quando comecei... 
A luta pelo meu espaço 
A sujeira do mundo 
Foi lentamente calando 
E cobrindo meu corpo
Até eu sentir­me culpado 
Dos erros do mundo 
E sem querer fazer parte 
De toda esta realidade 
Entretanto já sou uma parte 
Do jogo dos homens... 
Ironicamente poderia voltar 
Ao lugar de onde parti 
Mas covardemente fugiria 
Da minha proposta 
De lutar e lutar para mudar... 
Mas mudar o quê?... 


Minha heroína 
Na infância, assim te imaginei... 
Quando pela mão 
Levava­me a todos os destinos 
Ou aqueles que julgava ser 
Melhores para mim 
Minha heroína... 
Hoje mais ainda te considero 
Pela garra e o afã 
De tuas lutas constantes... 
Cada vez te encontro mais calada 
Para o mundo e para o tempo 
Sozinha passeia ao vento 
Buscando talvez respostas 
Que a vida negou­se a te dar 
Mas você é grande 
Sei que esta grandeza 
Poucas pessoas saberão medir 
Pois magnitude não há extensão... 
Como ser humano você é suficiente 
Foste mulher sonhadora e sedutora 
Foste mãe lutadora 
Acima de tudo és um ser amado 
E muito compreendido... 
Minha mãe... minha heroína... 
Um dia fomos um só... 
Hoje somos dois em um... 

j
Sua mesa pouco a pouco 
Vai mudando sua paisagem 
Devagar se esvaindo 
Um silêncio como tom de partida 
Parece tomar conta 
Do personagem central 
Que aperta com emoção 
Um grito quase surdo 
No peito louco... 
Louco por outras batalhas 
Que o tempo lhe deu direito 
Parece­me ver as malas prontas 
Os sonhos, as loucuras 
Do outro lado espera 
Algo mais para ser vivido 
Em um curto espaço de tempo... 
A água morna vai bater 
Com suavidade em suas pernas 
Cansadas do próprio descanso 
Tudo vai voar... como borboletas 
Entre os jardins de teus sonhos 
Um bar... a noite colorida 
Os amigos da mente que escolheste 
Mudará teu dia, teu momento 
Confundindo com a noite 
Mas volte... volte logo... 
Pois deste lado 
Fica o teu pedaço saudoso 
Teus amigos de sempre... boas férias... 


Uma besta a mais 
Se assim definimos 
Por unanimidade 
Poderá ser uma a menos 
Dependendo do teu aplauso... 
Muitas vezes nós somos 
Irreverentemente culpados 
Em colocar nos pedestais 
Quem merecia estar nas finais 
Mas como não somos 
Os donos da verdade 
Mas as bestas sim!!! 
Não podemos queixar­nos 
Mas lentamente poderemos transformar...
Não as bestas... 
E assim os aplausos... 


Uns dizem: “É para aparecer” 
Outros: “É frio na careca” 
É fogo por dentro 
Coisas de artista 
Todos procuram uma definição 
Para o uso constante 
Da minha boina que tão solitária 
Cobre minha cabeça 
O dicionário define 
Mas também não diz nada 
“Boné chato desprovido de pala” 
Mas chato ao pé da letra 
É esta busca sem a certeza 
Do que estão buscando 
Eu por exemplo não me preocupo 
Em esclarecer a tua razão 
O que você representa 
O importante é o que você diz 
Mesmo estando calada 
Afinal tudo isto passa... 
Só lamento o desperdício 
Destes momentos de críticas 
Que poderiam ser guardados 
Para abraçar um amigo 
Pois com boina ou sem 
Os valores não mudam... 
O que pode mudar 
É a cor da boina... 


Os olhos da sociedade 
São perfeitos 
O que atrapalha 
São os óculos de sombra 
Mas você pode tirá­los 
Nem sempre há sol forte 
Hoje por exemplo 
Está nublado 
Com fortes tendências à chuva
E poderá molhar as lentes 
Retirando a cor da transparência 
Dos olhos desta grandiosa 
E perfeita humanidade... 


Quando a competência vem agregada 
Com a humildade... 
Representa um perigo para os competentes 
Pois os eloqüentes incompetentes 
Não hesitam sua mesquinha forma de uso 
Abafam vozes, silenciam talentos 
E sobem os mais altos picos... 
Para espalhar sem reflexão alguma 
Seu talento repassado... 
Eu pergunto: como pode haver tantos cegos 
Sem o bastão que deveria guiá­los?... 
Para perceber o talento 
Que poderia trazer algo de bom 
Até mesmo para a humanidade... 
Ou isto aqui em questão... 


O vai­e­vem do elevador me cansa 
Parece querer levar minha saudade 
A um lugar no infinito... 
Entretanto não alcança sequer o horizonte 
Se perdendo assim no destino final 
São onze dias intermináveis 
Minha cabeça ardente em febre 
Dilacera minhas conquistas... 
Já contei todas as madeiras do forro 
Que está acima de mim... 
Neste momento parece ser a única coisa acima 
Daqui para a feira onde os corredores 
Parecem cada dia menores 
As pessoas não se modificam 
Parecem todos os dias iguais... 
E eu continuo diferente... 
Tentando repousar no vai­e­vem... 

j
Quando você estiver falando 
Da desenvoltura de seu presente futuro 
Não esqueça que inteligência 
É dado a todos, uns com menos os mais 
Possibilidade de mostrar ao mundo 
Tudo pode ser uma questão de controle 
Na manifestação de seus súditos... 
Quando você estiver dando aquelas 
Polpudas gorjetas que muitas das vezes 
Indiretamente é nossa própria grana 
Aquela que falta para as nossas necessidades 
Não esqueça da ginástica 
Mesmo sem estar em tempo de olimpíadas 
Milhares de pessoas estão fazendo 
Em frente a uma caixa de supermercado 
Dividindo reduzindo para levar o menos 
Para aqueles tão sofridos trinta dias... 
Quando você estiver creditando o carnê escolar 
E achar que é tudo muito simbólico 
Não esqueça de tantas crianças que estão 
Aprendendo o ABC na terra do pátio da favela... 
Quando você assistir uma ópera no exterior 
Conte os fatos com menos vaidade 
Para aqueles que no fim de semana sobrou 
Apenas o brega que você mesmo classificou... 
Quando você estiver almoçando 
Ou qualquer coisa do gênero 
Não fale com a boca aberta ao ponto de mostrar 
O céu da boca pois ele não tem estrelas 
Pois este momento é igual para todos... 
Quando mandares teus súditos, mande com carinho 
Eles não frutos de tua parreira... 
Quando você estiver tomando seu drinque 
Regado a caviar e bebidas importadas 
Não esqueça que milhares de pessoas estão fazendo cerão 
Ou melhor desgastando sua noite por uma refeição amanhã 
Nada disso eu sou contra apenas uma questão de lembrar 
Para que não se inverta tanto a tal questão 
Que tantos falam e nada fazem pelos valores humanos... 


Você, que tanto sabe dos meus segredos 
Entretanto num relâmpago me causa medo 
Ao repetir que nada tem a ver com a minha vida. 
Você, que por causas infinitas enfim
Esteve e está perto tão longe de mim 
Ignora o ser que ainda está em tua estrada 
Você, que vira as costas em vários momentos 
E finge não perceber meus grandes sentimentos 
Na hora do nosso pouco irresistível amor 
Você, que a cada dia deixa enfraquecer 
Aquilo tudo que lutamos com verdade para ter 
Como se nada do que fizemos tivesse valor 

Será que tudo está por um fio 
Ou irás tirar dos olhos seus 
A cortina enfeitiçada do desamor 
Que sem querer colocastes nos meus? 


Esperando, esperando, esperando e... 
Assim estamos a tantos anos 
Esperando os dias melhores 
Sem nada fazer pelo melhor dos dias 
Esperando despertar a consciência 
Sem a consciência despertar 
Esperando a paz entre os homens 
Fazendo de tudo para a guerra 
Esperando os governos governarem 
Apostando sempre nos errados 
Sem querer tentar a mudança, 
Parece até que esperar é melhor 
Que tentar uma outra saída. 
Esperando o amor de alguém 
Para depois decidir dar o seu 
E acabar refugiando na solidão 
Esperando achar o sinal dos passos 
Do amigo mais audacioso 
Para seguir a trilha certa 
Dos desejos que vive esperando 
Pois abrir caminhos sempre é mais difícil 
Esperando... esperando... esperando... 
Assim passamos toda a vida 
Esperando um bom conselho 
Para acertar nossos erros 
Como se os nossos erros fossem 
Reflexo dos erros dos outros 
Esperando alguém erguer a mão 
Em protesto de tantas coisas 
Para erguer a nossa meia mão
Pois a outra metade estendemos 
Para homenagear a prepotência 
Esperando... assim é a nossa vida 
Esperando a morte chegar 
Mas que chegue sem dor 
Pois de tanto esperar 
A calma da dor é minha eterna esperança... 


May the love spirit 
Be the magic light 
That leads men 
To the true understanding 
Of life... 


Sono il sole nello spiraglio che il tempo aprì 
Nella larga falda del cappello 
Polvere e fuliggine 
Stelle senza luce 
Nuvole, fruste del cielo filetti di luce 
Danzando nel falò 
Del volto abbronzatò 
Avanzo di pane che la fame saziò 
Dell’uomo carrettiere 
Carrette scricchiolanti 
Nell’asfalto di sabbia 
Contrada dei miei giorni 
Sono impronte scritte 
Nei solchi scavati del fango dell’ollaria 
Sono ciò che so, non sono nulla, mi svergliai 
Sono il loto in gocciola nella punta di penna 
Del pantano, senza aver dove posar 
Spigone di canna 
Stanco della staffilata 
Sognando, volendo cambiar 
Alberi piantati potati nel cammino 
Dalla mano del vento fanciulli sani 
Dalle “favelas” a penzolo 
In quadri freddi del tempo 
Vivo colorido dalle foreste disegnate 
In nero e bianco 
Sono pianto segreto, in volti de guerra
Nel petto di tanti. 


Desmontei o jogo 
E a cabeça rolou no teu seio... 
Abri o leque de possibilidades 
E os delitos afloraram... 
Enchendo a represa dos sonhos... 
Vivendo intensamente os sulcos da carne 
Cavados pela emoção... 


A poesia ultrapassa 
A áurea da realidade 
Explorando o estado 
De alerta da consciência 
Brejeira elevando a 
Espiritualidade além 
Da lucidez de um 
Corpo errante 
Aflorando o novo 
Da magia da criação. 


Você pensou! 
Eu pensei... 
E nossos sensores 
Cruzaram o sinal verde 
No trevo das ondas sonoras... 
E nos encontramos às escondidas! 
Intimamente ativamos a cobiça telepática... 
Atropelando a satisfação desprevenida! 
Sangrando o desejo de estarmos juntos... 
... De Corpo e Alma... 


Abortaram os sonhos do dia 
Os pensamentos esvaziaram o paraíso 
Cesso a algazarra da alma 
Pela janela vejo a chuva caindo, suave,
Renovo os anseios, telefono... 
A expectativa badala compassada 
Fluindo do anjo da guarda 
Positividade para este caminhar 
Continuar realizando metas paralelas 
No círculo da vida, restando o triângulo amoroso 
Que o quadrado da vida limitou... 
Deixando o retângulo dos problemas sociais 
Com inveja, decorando a parede da sala... 


Emoção... 
Gotas de luz! 
Que inundam de dourado 
As cicatrizes da realidade... 
Desfigurando o orgulho! 
Permitindo aos anjos 
Sonharem mais alto! 
Diante do ventre dilatado... 
Denunciando a existência 
De uma mulher... 
Cumprindo com o ciclo 
De mais uma vida! 


Me perco no abraço 
Enlaçando a paixão 
Displicente... corre um calafrio 
Na espinha da conduta! 
Jogando­me todinha... 
No teu íntimo ausente! 
Esqueço o momento... ou simplesmente 
O ato de viver! 
Imagino­me a princesa sem reinado 
Flutuo sobre tua áurea 
De calmarias desconhecidas... 


Os anseios estão 
Em tantos lugares... 
Na briga pelo poder, no convívio... 
Bem dentro do peito!
... mas... 
Temos que alçar a vontade 
Acreditar no amanhã... 
Ficção de Criadores, 
Onde tudo cessará... 
Então... descobriremos 
A verdadeira vida... 
Arremessando a sensualidade 
No momento certo! 
Ganhando um aliado 
Para a nossa nudez arrogante... 
Íntegra de alma 
No nosso doar­se com prazer!... 
Vazando a dependência física... 
Independente... 


Neste porto de abismos 
Um barco ancorou 
Trazendo novidades... 
Reflexos de mortais 
Indisciplinados!... 
Impaciente a angústia 
Fiscalizou o desembarque... 
Não contentando­se com as sobras 
Dos banquetes capitalistas... 
Neste porto! 
Só existem bocas vazias 
Caladas... 
Exprimindo o nada! 
Onde os fiéis leitores 
Aguardam pelo veredicto final... 
Na biblioteca o velho dicionário 
Guarda a PAZ... 
Como palavra do passado... 


O momento transpira indecisão! 
Os limites contornam a fantasia 
E as ilusões confrontam­se 
Com os fantasmas dos sonos 
Disputando a janela... 
Para distrair­se com a sorte
Que desliza na corda 
Suspensa da lucidez! 
Fazendo sucesso 
No vazio existencial!... 


Mergulhei no mar o meu dia 
... e sobrou os sonhos encolhidos! 
Através do tempo... 
Uma fenda a luz 
A dúvida! 
De vida ou morte... 
Nos atos senti o desespero 
Aprisionando a alma! 
Numa emoção sincera 
Declarei greve ao coração... 
Estrangulando a sobrevivência poética! 
Gritei! 
Sufocando a razão... 
Sapateei, pedi socorro... 
E nossos ecos uniram­se no além 
Demonstrando consciência... 
Agora! 
Declaramos que nos pertencemos 
Preservando a espécie... 
Enquanto a inflação soberba 
Sobe a escada sem corrimão... 


Desvirginando o impossível 
Travamos no horizonte 
A entrega completa 
Dos corpos macios 
Sob o arco­íris 

No passado vencemos 
A barreira mística 
Arrancando no seio alheio 
O privilégio de continuar 
Sendo o primeiro... 

Hoje... gostamos de mordomias 
Fantasias de sermos diferentes
Neste sentimento louco 
Destino... incertezas... sem promessas... 

Amanhã tudo permanecerá 
No topo de nosso ego 
Seremos mocinha e bandido 
Em nosso espaço 
De espelho mágico e 
Bolhas de sabão... 


Na entrega de nossas almas 
Temos o privilégio de conhecer 
O verdadeiro amor... 
Sem tempo! 


Existem em minha vida 
Um sol e uma lua 
Vivendo em harmonia... 
Suspensos pelo rio de prata 
Encontrando o poder aquisitivo do homem 
De ressaca 
Poluindo minhas divisões e meus medos 
Continuamos dentro do tempo... 
E o nosso talento não tem apadrinhamento 
A fama é uma mera mala vazia 
Que consegue distrair os outros 
À custa de nossos nomes... 
Neste instante agonizo... 
E solto meu grito de alerta! 


Vencer... 
É rasgar o desconhecido... 
É pleitear a revanche 
Do jogo perdido... 
Vencer... 
É cumprir a agenda da vida 
Para que na partida 
A cabeça se ergue com suavidade... 
Com orgulho...
De ter nascido gente... 
Vencer... 
É deixar cair os braços 
De prazer... 
Degustar de mansinho o único e verdadeiro amor 
Vencer... 
Não é fácil... 
No meio em que vivemos 
Há uma multidão carente de desejos... 
Vencer... 
É perder em dobro! 


Temos que travar o duelo de espadas 
Com a morte... 
Temos que sobreviver! 
E... deverá existir solução 
Para a recuperação carcerária 
Para a dignidade... 
Temos que descobrir a fórmula! 
E urgente para podermos 
Olhar para trás e ver 
Que as pessoas não são 
Mais meras placas de sinalização... 
A fogueira permanece acesa! 
Fornecendo calor e luz! 
Para combater o ódio 
Prelúdio de almas veladas 
Pela chama da existência... 
No fim do túnel a nossa última morte 
Delicia­se com o espetáculo da cena 
Do Último ATO! 
A amiga MORTE é certa... 
Não escapamos dela 
Mesmo que tenhamos o poder 
Do Império dos falidos... 


Meus ideais disputam a prioridade 
Enquanto isso a realização 
Patina lentamente no 
Aconchego do teu colo... 
Roubando­me da roda viva da vida...
Sigo... 
Exalando o perfume de inocência 
Em sua direção... 
Com paciência de rainha 
Abro os horizontes de nossas 
Fronteiras infinitas 
Determinando a satisfação... 
Dos nossos corpos sedentos 
Através do espelho 
Chega até a mim a imagem 
De corpos vazios 
Sobre a mesa... 
Degustando o vinho branco 
Cúmplice deste momento... 


Entre retalhos do dia­a­dia 
Divido­me entre ideais 
E a realidade irônica... 
Insisto na nota sol 
Buscando o ritmo acelerado 
De fluir a cobiça com a 
Melodia singela dos pássaros... 
Ganhando um ouvinte distraído 
Que repousa sob a sombra... 
Esperando a calmaria 
Depois do verão forte 
Que o amor despertou 
Em seu coração de poeta... 


Ao confessar... 
Disse o seu nome! 
Não se zangue... 
Foi em desabafo! 
Por ter­lhe seduzido 
Com a fragrância da energia. 
Ampliamos o sentimento. 
Nós nos reservamos na busca 
Do Éden perdido 
Onde estaremos esperando 
Um pelo outro...

“Ser”, passageiro... 
És limitado pelo teu conhecer 
Montas e cavalgas sob as nuvens de prata 
Repelindo as regras sociais 
Armas de combate 
Entre cegos e falidos... 
Continuarás abdicando a inveja 
De ser apenas um 
Número de computador 
Que desmorona fortalezas 
Deixando mais espaços 
Vazios entre mitos 
De calças na mão! 


Quero seguir­te 
Como o sol pálido 
Que espia entre as nuvens 
Denunciando a todos a sua 
Fonte de água fresca 
Quero tragar a tua decepção 
Amaldiçoando a fraqueza 
Do próprio ato de amar 


Mostrei meu lado anormal 
Na decisão de romper 
Quebrei as regras e mandamentos... 
Gritei aos altos! 
Buscando me encontrar 
Entre os dias contados 
Golpeei o encanto 
Desabafando para o analista 
Deixando o momento de boca aberta 
Tatuando na pele 
A nossa história 
E sob concreto e réplica permanecerá 
Edificando a mansão dos deuses. 

j
Meu álibi... 
Foi estar em casa! 
Fechei a porta 
Tirei o lixo 
Lavei a louça... 
E deslizei de mansinho 
Nos braços da solidão! 
Calei a boca... 
E senti o beijo encaixando­se 
Maravilhosamente... 
Nesta condição estranha 
Do meu limitado destino 
Individual... 
Êxodo desta convivência 
Alienatória de uma BRASILEIRA... 
Que não se deu por vencida! 


Entre nós rolam cenas 
De suas realidades 
E loucos destinos 
Com o pulso firme conduzirei 
Dom Quixote... 
Para juntos desvendarmos 
O mundo de mistérios 
Fiéis para sempre 
Usaremos meias verdes 
Em defesa da ecologia 


Convivo! 
Entre perigos alucinantes... 
Onde Super­Heróis 
Manifestam sua proteção 
Através das Mídias 
Acalentando os livres conceitos... 
E a Moral? 
Permanece de pé... ou está de joelhos... 
Dibliando a platéia de palhaços da corte! 
... Todos somos sobreviventes 
Entre gênios esquecidos... 
Nós permanecemos
Sob a mesma imagem... 
Pois os planos dispararam na frente! 
Querendo chegar ao fim 
Não importando os meios... 
A Disputa... 
É o tiro certeiro nesta guerra fria 
Sob os lagos cristalinos 
DA EVOLUÇÃO. 


Entrelaçando os braços 
O aconchego chega... 
Abraços! 
Absorvo os delírios 
No silêncio de nailon! 
Vou esgrimir com a vida vadia 
Querendo a vitória 
Cometendo outro pecado 
Alegria! 
Neste estado de coma 
O astral oscila... 
Agonia! 
O teu novo calor 
Permitiu a sua ausência 
Renúncia! 
As mãos uniram­se no lirismo 
Desfrutando o momento... 
Certeza! 
Na carteira uma passagem de ida sem volta 
Ao interior desconhecido 
A esperança! 
Permanece afoita, desequilibrada... 
Julgando ser a salvação 


Neste recatado universo 
Encontrei­o perdido, distante... 
E a sua ilusão refletiu sobre a âncora 
A esperança 
Recompôs mais uma vez a unidade 
Doa delitos na calada da noite 
Comprometendo a escada de mármore que 
Esfiapando os dotes...
Em vão 
Descobrimos mais tarde demais 
Que a paixão existia 
Continuaremos por paisagens opostas 
Brincando com a aventura 


Livro: Momentos 

É tão fácil escrever difícil 
Difícil é escrever de forma que 
Todos entendam... 


Não sei se faço poesia 
Ou relato o meu dia­a­dia 
Na verdade gostaria 
De falar dos amores do vento 
Mas as lágrimas atrapalham 
No meu rosto confundindo meu olhar 
E tudo o que vejo 
Sinto a vontade de relatar... 


É preciso existir 
As pessoas que deliram 
Como uma simples estrela 
Para a vida dos comuns 
Ter razão quando olharem 
O céu estrelado 
Das noites de primavera... 


O mundo melhor 
É das pessoas que não param 
Dizia um pobre ser 
Carregado nos braços de outro... 

j
Dizia um pai no desespero 
Se eu não trabalho hoje 
Você não come amanhã 
Respondia o filho na inocência: 
Bobagem sua, temos alimento 
Para mais de trinta dias... 


Há pessoas que procuram desgraças 
Mexericando a vida dos outros 
Talvez tentando buscar uma compreensão 
Para sua própria infelicidade... 


As leis complicam e modificam 
A razão simples de viver... 


Não gosto de história 
Que visa colocar algo em pedestal 
Quando deveria 
Estar nos lugares que ocupam os tapetes 


Para fechar a porta 
É preciso mil trincos e chaves 
Para abrir a cabeça 
Basta olhar e sentir 
A realidade do mundo 
A sua volta... 
E refletir... 


No mundo do brilho 
Da fama e do sucesso 
Parece que todos são 
Guerrilheiros e inimigos
Explodindo mil aplausos 
Fingindo não querer 
Eliminar seu concorrente. 


Não acredito na fofoca 
Pois ela é sempre contada 
De maneira conveniente... 


Os homens supostamente 
De braços fortes 
Que insistem em deter o poder 
Deveriam abrir mão 
Do lado cômodo 
De sempre dizer não 
Pois o não amarra as pernas 
Das pessoas que querem caminhar... 


No silêncio misterioso 
Das nuvens brancas 
Devem guardar segredos 
Que jamais saberemos 
Pois nunca seremos brancos 
Não mais que misteriosos... 


Todo homem 
Que vive esperando... 
Jamais será esperado. 


Por não insistir 
Na busca de nossa realidade 
Criticamos nas pessoas 
Tudo aquilo que 
Gostaríamos de ser...

Viver olhando as estrelas 
As nuvens e o infinito 
Não chegaremos a lugar nenhum 
Ao refletir e olhar para dentro de si 
Poderemos ter um porto de chegada... 


Enquanto houver 
A política mal feita 
A de interesse comum 
E a religião 
Desviando caminhos 
Tudo em nossa vida 
Provavelmente 
Será indefinido 


Relutei na tentativa 
De te esquecer 
E quando venci 
Aprendi a viver 
Do teu lado 
Mesmo sem você... 


Como uma bailarina na ponta dos pés 
Ela recria a riqueza dos gestos 
Sem esgotar o verdadeiro sorriso... 
Inventa o amanhã com a mesma destreza de hoje, 
Tocando com todo o cuidado as teclas do silêncio oportuno, 
Fazendo soar nas palavras uma doce sinfonia... 
E assim ela segue, serena nos passos, pensando reconstruir 
O começo da mesma história que se repete... 


Compreender a vida
Para alguns é mais difícil 
Do que ir a Vênus, 
Para outros não passa 
De uma simples aventura 
De atravessar a rua, 
Para mim é mais excitante 
Viver do que tentar compreender... 


Os belos caminhos 
Nem sempre são de flores, 
Os que têm espinhos 
Nos levam mais para frente 
Pois eles nos intimidam 
Quando vacilamos 
E desejamos voltar 


Quero viver 
Como a sombra: 
Sempre mudando 
Envelhecer compreendendo 
Os valores novos 
E morrer como o vento 
Calmo e sereno de um amanhecer 
Para jamais anoitecer 


Políticos nunca serão doces 
Pois eles açucaram a vida de todos 
E depois emagrecem com saunas 
Geladas do descompromisso 


Acreditar nos outros 
É acreditar em si próprio 
Pois na troca de crédito 
Aumenta a confiabilidade 
De cada um...

Os caminhos estão embaixo 
Dos nossos pés 
Decidir quais seguir 
Depende apenas de nós 


Notícias boas não fabricam dinheiro 
Pelo contrário, as más fazem brotar 
Do misterioso mundo demagogo 
Uma satisfação silenciosa quase fingida 
Transmitida ainda com expressão de pena... 


Quero ser forte, resistente e idealista 
E não ser igual a tantos 
Que sem caminhos definidos 
Desviam da minha estrada de luta 
Pra não me olhar na cara 
Não sei... talvez na minha cara 
Esteja escrita, ou expressada 
Sua vontade não saciada 
Quero ser forte, resistente e idealista 
Para no futuro 
Rejeitar os aplausos deles negados 
Pois tudo é uma questão de tempo e hora... 


Passar pelos mesmos lugares 
Significa inconscientemente 
Parar no tempo... 


Já vi tantas pessoas passarem 
Que até não me preocupa 
Por elas não verem eu passando 
Na verdade as que não me notaram 
São as mesmas que já passaram...

Amor não se divide 
Não se guarda 
Não se empresta 
Não se vende 
Ele tem a medida exata 
É preciso aprender 
Que amor é apenas 
Para dar para os outros... 
Pois nesta troca 
O amor floresce... 
Flores e frutos 
Se percebe com o tempo 


O maior templo no universo 
Pode ser o nosso corpo 
O maior mestre é a nossa consciência... 
Para sentir isto é preciso se respeitar, 
Se amar, se valorizar 
Acima de tudo ser você mesmo... 


O homem foi criado 
Para viver todos juntos 
Então, por quê 
Todos juntos se escreve separado 
E separado se escreve junto? 


Que bom saber 
Que existe mais para conhecer 
Só assim tenho certeza 
Que estou significativamente vivendo... 


Eu me repito a toda a hora
Talvez porque os problemas 
São sempre os mesmos 
Ou nada muda simplesmente 
O que deveria mudar se repete 
Não quero acreditar 
Na frieza dos Homens 
Na ganância do poder 
Que se farta e se basta 
Conduzindo a máquina 
De mudar nossos valores 
Enquanto as mudanças 
Acontecem eu me repito... 


A capacidade de um homem 
É mais que o acúmulo de cursos 
Muitos vezes a experiência 
Preenche o vazio 
Desperdiçando pelos diplomas... 


A espera 
Atrasa a conquista humana 
A precipitação 
Desmorona os alicerces 
De uma vitória... 


Minha poesia é livre e solta 
Porque eu também sou livre e solto 
Pelo menos nos meus sonhos 
Que luto para realizar... 
Entretanto quando me defrontar 
Como parte de toda verdade 
Não sei se estarei pronto 
Para ser livre e solto... 


Há uma indecisão 
Em cada indivíduo
Gerada pela certeza 
Dos homens perfeitos 
Desta sociedade 
Que se mostra em conjunto 
Mas na verdade 
É tão dividida 
Que levaríamos 
A dúvida do amanhã 
Na tentativa de unificar... 


O máximo do modernismo 
Parece ser “não vi, não gostei” 
Muito cuidado pois pode virar 
Divisa da ignorância atual... 
E contrapor à outra idéia, 
Pois um país se faz com arte... 


O ato de ignorar 
Pode ser uma partícula 
Da ignorância fecundada 
Alojada nos cantos misteriosos 
Daqueles que expressam 
A falta absoluta de querer 
Ver nos outros o tom eufórico 
Dos sonhos em partes realizados... 


O arrependimento 
Deveria vir antes dos fatos 
Pois assim teríamos 
Mais uma oportunidade 
De refletir nossas atitudes... 


Gritam em ventos bravos 
Os cobradores de impostos 
Que todas as cobranças 
Retornam para o povo
Talvez para não deixar mais empobrecido 
Deveriam deixar com o povo 


Eu vou morrer buscando 
Sem saber o quê 
Pois se um dia tiver certeza 
Que estou lutando pela última coisa 
Morrerei por saber que estou morrendo... 


Nunca pare de remar 
Seu barco... 
Principalmente quando estiver 
Em alto mar... 
As ondas grotescas 
Poderão conduzir 
Por caminhos 
Que não são de sua escolha 
A ferocidade dos oceanos 
Poderá impedir a vontade 
De ancorar nos portos calmos 
Deste perdido, sem calma 
Angustiante, 
Realizado ou não, mundo interior 
De cada um de nós... 


Se algum dia falei mal 
Da Igreja, da política 
Ofendi, magoei certas pessoas 
Fui cruel com a alma de alguém 
Escrevi coisas que não estavas 
Preparado pra ler... 
Fui forte na minha posição 
Creia, não sou culpado 
A única coisa que eu quis 
Foi dizer a verdade 
Pensando poder ajudar 
Dismistificando o que lhe rouba 
E sacrifica mentalmente 
Inventando preceitos
Administrando conceitos 
Que só lhe atrasou e atrasa a vida... 


Os Mutiladores 
Estão quase no escuro 
Não por falta de luz 
Mas porque eles precisam 
Esconder o rosto 
E se manifestar 
Através de outros corpos 
Para manipularem melhor 
Suas pobres marionetes 
Que esperam ansiosas 
Soluções das mãos 
Destes mutiladores 
De consciência 
Não espere, corte esta corda 
Que segura teus braços 
Tuas pernas, tua cabeça 
E deixa sair de ti 
Esta vontade de ser gente 
E não marionete... 


Nunca estive tão perto da loucura humana 
Esta loucura sem camisa de força 
Para estes dois insaciados com a vida 
Não há remédio pra estancar a dor 
Que está borbulhando no ar que respiro 
As manchetes gritam desesperadamente 
Uma manipulando, outras informando 
Nas ruas o povo se divide pela influência 
Uns erguem bandeiras brancas, outros vermelhas 
Outros já estão chorando o sangue não derramado 
Enquanto dois desconhecidos bem conhecidos 
Desafiam não a própria morte mas dos outros 
Deveriam partir para um duelo e resolver 
Esta aflição infinita da morte em massa 
E resolver seus problemas internos 
Mas acho que é mais fácil fazer a cabeça 
Dos valentes guerrilheiros pobres soldados 
Comandados e guiados pela ordem suprema
Do que deixar a vida viver em paz 
O povo não precisa de sangue nem revolta 
Precisa do pão para matar a fome 
Da mão amiga e da compreensão total 
Ainda não consegui entender a dificuldade 
Do entendimento do Homem para com o Homem 
Vou parar de escrever e escutar 
A rebeldia dos aviões no céu 
As bombas as armadilhas da mente 
E contar silenciosamente 
Corpo a corpo que morreu inocente 
Só não irei aplaudir a miséria dos dois 
Pois já sofri de angustia 
Na espera da verdade 
Pois de tanta mentira 
Já não escuto mais nada 


A Sociedade dos homens 
Às vezes imita os devastadores 
Do mundo ecológico... 
Quando um ser verdejante 
Se destaca entre vegetais comuns 
Cortam alguns galhos... 
Quando forçosamente crescem um pouco mais 
Mandam aparar por baixo e cortam a copa 
Quando alastram­se pelas calçadas 
Incomodam a tecnologia da mente e do brilho 
Atrapalham o andar dos detentores 
Da suposta verdade... 
Cortam definitivamente quase pela raiz 
Mas entretanto não conseguem queimar 
As sementes soltas no ar na terra e no mar 
E elas se espalham nas covas suculentas 
De alguns donos da vontade de progredir 
E assim, demoradas mas florescem 
Grandes árvores humanas 
Para proporcionar a sombra e o total 
Relaxamento das almas que precisam 
O descanso na sombra destas pequenas 
E alastradas muralhas verdes 
Que jamais perderam a riqueza de sua cor. 

j
Se você tentou 
Lutou, brigou 
Se apaixonou 
Tropeçou, caiu 
Levantou­se 
Limpou o pó 
Continuou na estrada 
Buscando novas 
Aventuras 
Desbravou 
Desafiou seu coração 
Amou infinitamente 
Descobriu formas de amor 
Fez alguém feliz 
Foi tornar seu parceiro 
Completo nos sonhos 
E na realidade 
E agora se questiona 
Se auto­punindo 
O que que eu fiz de errado? 
Se já passou grande parte 
De sua vida 
Tenha certeza 
Você ama e sabe viver... 
Continue amando assim 
Pois amor não tem 
Tempo, idade e forma 
Ele é a realização 


Dizer o que penso 
Não significa você fazer 
Tire sua conclusão 
Ouvir o que você diz 
Não escraviza meu pensamento 
Nem atormenta meu coração 
Na medida que buscarmos 
A independência 
No pensamento 
Na conclusão 
Poderemos individualmente 
Ganhar para aprender 
E preparar­nos para o crescimento...

Mergulhar nas águas profundas do passado 
É buscar a base sem lama para o futuro 
Mas ignorar a transparência do contemporâneo 
É segurar o tempo com as mãos molhadas 
É regredir na história mal contada 
É desvalorizar a sua própria época 
É continuar com a certeza absoluta 
Que está certo dos seus contínuos erros 
É trancar os ouvidos para não escutar 
A verdade pedindo seu último socorro 
Lutando para se instalar e provar 
Sua eterna ignorada existência 


O reflexo de uma obra artística 
Sempre esteve limitada à imposição moral, 
Religiosa e política do momento 
Contemple profundamente a arte, 
E observe as circunstâncias 
Em que os artistas se encontram 
Se você achar que a arte 
Não está bem acabada, 
Acabe logo com os conceitos 
Que desmoronam e escravizam a criação. 


Que o espírito de amor 
Seja a mágica luz 
Para que os homens compreendam melhor 
O verdadeiro sentido da vida 


Se todos nós 
Déssemos as mãos 
Quem iria nos fazer cócegas?... 

j
Estar pronto para a vida 
É estar mais vivo para a morte 
É desvencilhar­se das angústias 
Que a escuridão do dia põe em nossa frente 
É amadurecer diante dos problemas 
É não estar tão certo dos seus caminhos 
É tropeçar em suas próprias paredes 
É erguer os tijolos removendo o pó 
É navegar sem barco por mar aberto 
Na tentativa de descobrir novos portos 
É nadar em todas as direções sem cansar 
É saber que a morte não afoga a vida 
Apenas transfigura na descoberta de si próprio 

Estar pronto para a morte 
É estar mais vivo para a vida 
É estar liberto das iras 
Que o tempo enferrujou na alma 
É estar perene diante dos temores 
É estar convicto da missão cumprida 
É lapidar os alicerces da sabedoria 
Sem desperdiçar as migalhas retiradas 
É emergir da insatisfação humana, 
É mergulhar na compreensão do espírito 
É saber que a vida não se apaga 
Apenas se transforma em pontos brilhantes 
No infinito misterioso da existência. 

Livro: A Uvinha Esmirradinha 

Era uma vez uma arvorezinha chamada 
Dona Parreira. Todo o mês de janeiro, 
ficava carregadinha de cachinhos 
de uva. Uma família feliz... 

Porém, nesta safra, surgiu um probleminha 
para Dona Parreira. Ela andava muito 
nervosa e preocupada... 

Um de seus filhinhos nascera esmirradinho 
Muito feio, o coitadinho!
Vivia em prantos a se lamentar... 

Na redondeza, corria um boato... 
Havia um menino chamado Pedrinho!... 
Muito levado e aventureiro. 
Filho de um vinicultor muito afamado da região... 

Dona Parreira, vendo o perigo, começou 
a tremer, pondo todos os seus filhos 
em alerta total!... 

Um dia.. 
Para surpresa de todos... Pedrinho 
apareceu com sua funda no pescoço 
e cantava uma bem entoada canção... 

“... Vim buscar!... 
... Vim buscar!... 
Lindos cachos de uvas!... 
Para um suco preparar!...” 

O cachinho esmirradinho parou logo de chorar... 
Começou a falar rapidamente! 
­ Olá menino!... 
Pedrinho, surpreso, pergunou: 
­ Quem foi que falou?... 
O cachinho esmirradinho respondeu: 
­ Aqui... eu, aqui, bem acima de você!... 

Pedrinho certificou­se e logo percebeu 
a carinha chorona do cachinho 
esmirradinho e perguntou: 
­ Por que você chorou?... 
­ Porque sou feio e rejeitado pelos meus 
irmãos gorduchinhos... 

Aquela história desapontou e comoveu o 
menino Pedrinho, que se prontificou a ajudar!... 
Logo o cachinho se manifestou, entusiasmado!... 
­ Quero que me colha e me leve para a sua casa. 
Faça um suco de mim e tome. Vou alimentar 
você e seus amiguinhos... Possuo vitaminas 
que todas as crianças de sua idade precisam... 

Pedrinho atendeu o pedido 
de seu mais novo amigo. 
Em suco, sua mãe o transformou.
O copo ficou cheio de suco bem rosado... 
O cachinho, num tom de felicidade, falou: 
­ Agora beba­me... beba­me... 
Glut’!... glut’!... em cada glut’ 
Aumenta a satisfação de Pedrinho!... 

Pedrinho tomou. Ficou alimentado 
e forte, crescendo sadio, 
sem esquecer seu copo de suco 
todas as manhãs. 

Hoje, ele cultiva, com todo o carinho 
e dedicação, o parreiral mais lindo 
e produtivo da região... 

Livro: Viagem ao Planeta Criança 

Era um planeta 
Muito tristonho 
Só tinha bruxa 
Não havia sonho 

Ninguém jamais 
Se atreveu a brincar 
Porque uma bruxa 
Vivia a controlar 

Mas de repente 
Alguém apareceu 
Semeando alegria 
O amor logo nasceu
E o triste planeta 
Com graça ficou 
Foram tantas brincadeiras 
Que até o sol brilhou 

Um foguete de sonhos 
Num lugar distante caiu 
Foi grande a explosão 
Que na terra se ouviu 

Um menino lentamente 
Saiu da lataria 
Dizendo pra ele mesmo 
Entrei numa fria 

A menina mais encorajada 
Saiu pela porta lateral 
Sem nada comentar 
Só falava: poxa que legal! 

Os primeiros problemas 
Começaram a aparecer 
Fazia muito frio 
Precisavam se aquecer 

Olharam em sua volta 
Ninguém para informar 
Aonde eles estavam 
Nem o nome do lugar 

O aparelho tinha estragado 
Com a forçada aterrissagem 
Parecia ser o fim 
Do começo da viagem 

Voltando a lata velha 
Ao foguete quer dizer 
Perceberam algo errado 
Não sabiam resolver 

As turbinas ferviam 
Com bastante pressão 
O rádio em silêncio 
Ficaram sem comunicação 

Diante de tudo isso
Ficaram tristes a pensar 
Imaginavam nunca mais 
Sair daquele lugar 

Mas quando de repente 
Viram alguém se aproximar 
Duvidosos se esconderam 
Para melhor observar 

Um homem muito estranho 
Falando bem diferente 
Vinha ao encontro 
Do escangalhado foguete 

Resmungava um bi bi bi 
Que parecia um computador 
Vinha aos empurrões 
Como um carro sem motor 

No guia planetário 
Procuraram decifrar 
Aquela linguagem 
Que acabaram de escutar 

Surpresa para os dois 
Bi, Bi, Bi queria dizer 
O que querem neste lugar 
Digam logo sem temer 

Os meninos preocupados 
Começaram a pensar 
Numa forma inteligente 
Diferente de assustar 

Um disse para o outro 
Não vamos agora ensaiar 
Monte em minhas costas 
E comece a gritar 

Grandioso foi o susto 
Muito difícil de explicar 
Eles jamais imaginaram 
O que iam provocar 

O desconhecido foi caindo 
Lentamente até o chão 
Os dois se aproximaram
Com muita precaução 

Mas antes de acordar 
Colocaram um tradutor 
De idiomas desconhecidos 
Na cabeça do morador 

O que querem por aqui 
Ele começou a perguntar 
Confundindo os meninos 
Com uma bruxa do lugar 

O menino ironizando 
Achou graça do que ouviu 
Será que tem vassoura 
Essa Bruxa cara de pavio 

Não fale ela pode escutar 
Retrucou o desconhecido 
É de muito bom alcance 
O seu mágico ouvido 

A menina falando alto 
Salientou que iria mudar 
Aquele planeta triste 
No mais lindo lugar 

Argumentou o menino 
Calma vamos devagar 

Com muita inteligência 
Poderemos tudo conquistar 

O menino dirigiu­se 
Para o homem engraçado 
Pedindo que falasse 
Que havia de complicado 

Pois bem vou lhe contar 
Falou o homem do planeta 
Quem manda neste lugar 
É aquela bruxa picareta 

Ele apontou para um lugar 
Aparentemente horrível 
Lá mora aquela doida
Cada vez mais insensível 

Do alto daquele morro 
Ela observa muito bem 
E não gosta que estranhos 
Permaneçam aqui também 

Não estou vendo nada 
O menino logo reclamou 
Que confusão diz a menina 
Pois eu também não estou 

Interferiu o planetário 
Hoje temos pouca visão 
Isso sempre acontece 
Quando acende o caldeirão 

Olhe só que fumaceira 
Aponta o menino reclamando 
Deve ser o chá de morcegos 
Que ela está preparando 

Sabe, que lá na terra 
Também não é diferente 
Só não queima o céu 
Porque está longe da gente 

Oh! Não fale assim 
E não faças ruídos 
Eu conheço muito bem 
Aqueles benditos ouvidos 

Muito nervoso o homem 
Deixou cair no chão 
Uma enorme papelada 
Que chamava atenção 

O menino bastante curioso 
Imediatamente perguntou 
O que há nestes papéis 
Que até o senhor se assustou 

Respondeu o morador 
São as leis misteriosas 
Impostas pela bruxa 
Aquela estúpida maldosa
Ao ler ficaram espantados 
E quase sem esperanças 
Era proibido qualquer 
Brincadeira de criança 

O que faço da minha boca 
Se gosto tanto de falar 
Pensou a pobre menina 
Mas nada quis indagar 

Como um grande relâmpago 
Apareceu aterrorizante 
A mais temida bruxa 
Do planeta agonizante 

Riscou todo o foguete 
Com suas grandes unhas 
E chamava desentoadamente 
Venham cá criaturinhas 

Vocês nunca mais sairão 
Deste lugar horripilante 
Soltou uma horrível gargalhada 
E rumou para o horizonte 

Quando ela sumiu 
O menino comentou apavorado 
Vocês viram o foguete 
Ficou ainda mais estragado 

Tenho quase certeza 
Falou a menina encorajada 
Tem que existir alguém 
Pra ajudar nesta enrascada 

Levados pela situação 
Decidiram caminhar 
Depois de quilômetros 
Pararam para observar 

Olhe que lindo... olhe... 
Repetia o menino feliz 
Deve ser o Planeta Criança 
Lugar que sempre quis 

Apressada falou a menina 
Ainda não sabemos bem
Se são todas crianças 
Ou amigos da bruxa também 

Continuaram a andar 
Comentando o planeta 
Veja aquele magrinho 
Pulando e fazendo careta 

Olhe o nariz daquele 
Repare que bocão 
Se abrir um pouco mais 
Poderemos ver o coração 

Exagerada e sem graça 
Mal feita a sua piada 
Comentou o menino 
Num tom mais camarada 

Eles não eram diferentes 
Mas chamavam a atenção 
Cada vez que passavam 
No meio da multidão 

Nisso a menina resolveu 
Para o povo declamar 
Uma linda poesia 
Que falava do lugar 

“Espalhando travessuras 
Vamos transformar 
Este escuro planeta 
No mais lindo lugar 

Distraindo emoções 
Vamos procurar 
Algo além dos sonhos 
E crianças pra brincar 

Caminhando atentos 
Iremos encontrar 
Alguém que viva aqui 
Com vontade de sonhar 

Correndo sem parar 
E pulando por aqui 
Toda a fantasia 
Vamos descobrir”
Lindo dizia o povo 
Batendo muitas palmas 
Esse momento de poesia 
Alegrou nossas almas 

Mas no meio do povo 
Tinha algo diferente 
Alguém com uma fantasia 
Metade bixo, metade gente 

Chegaram perto para ver 
Aquela coisa estranha 
Tinha orelha de macaco 
E pernas de aranha 

Ao voltarem para casa 
Começaram a se preocupar 
Uma bruxa verdadeira 
Com vassoura deveria voar 

Não deram importância 
Continuaram a brincadeira 
Pra capturar a bruxa 
Descobriram uma maneira 

Mas nada comentaram 
Sobre seus planos 
Tinham medo de cometer 
Mais um dos seus enganos 

Uns estranhos ruídos 
Vinham de algum lugar 
Talvez fosse a bruxa 
Ainda querendo assustar 

A menina no escurinho 
Pensava preocupada 
De repente teve uma idéia 
Bastante engraçada 

Que tal se conseguíssemos 
A bruxa capturar 
E numa árvore grande 
Da floresta amarrar 

O menino não gostou
Daquela idéia maluca 
Uma árvore merece respeito 
Numa árvore nunca 

Alguém se aproximava 
Precisavam disfarçar 
Não sabiam quem era 
Nem como enfrentar 

Com panos velhos 
Fizeram um gigante 
Um boneco magrão 
Mas muito elegante 

Certeza eles não tinham 
De quem se aproximava 
Poderia ser a bruxa 
Que só atrapalhava 

No meio da noite 
Era difícil reconhecer 
Tentaram uma senha 
Mas não ouviram responder 

Parecia o morador 
Gritando ao vento 
Nasceu uma esperança 
Escutem­me só um momento 

O foguete terá conserto 
O defeito descobri 
Onde estão vocês 
Venham cá estou aqui 

Na dúvida os meninos 
Resolveram não se aproximar 
A voz meio rouca 
Ficava difícil decifrar 

Com aquele espantalho 
Entraram em ação 
Sem saber quem era 
Maior foi a confusão 

O que ia acontecer 
Ninguém imaginou 
Só se deram conta
Quando o homem disparou 

Imediatamente os dois 
Saíram a procurar 
Seu único amigo 
Conhecido no lugar 

Ao ver o homem sair 
Em tamanha disparada 
Perceberam que tudo 
Não valeu nada 

Espere disse a menina 
Isto também não é o fim 
Ainda tenho o endereço 
Que ele deixou pra mim 

O menino achou melhor 
A armadilha continuar 
Para mais tarde 
O amigo procurar 

A menina comentou 
Tive uma idéia genial 
Eu vou lhe transformar 
No mais feio animal 

Com aquela proposta 
O menino se arrepiou 
Tendências bruxísticas 
Ele na menina imaginou 

Calma, só vou lhe pintar 
Com uma maquiagem 
Que eu trouxe junto 
Na minha bagagem 

A menina pinta no rosto 
Um grande bigodão 
O coitado ficou tão feio 
Que parecia um trovão 

O menino olhou no espelho 
E da pintura não gostou 
Irritado com a mão 
A tinta esparramou
Ficaram discutindo 
Quem tinha mais razão 
Descobriram finalmente 
Que brigar não era a solução 

E partiram para a brincadeira 
Com o povo do lugar 
Enfrentaram um problema 
Ninguém mais sabia brincar 

Vamos primeiramente 
Dar uma demonstração 
Como é que se brinca 
Sem fazer confusão 

Começaram pulando corda 
Depois de se esconder 
Jogaram bola e ping­pong 
Para o povo reaprender 

Nisso passa por ali 
Um empolgante vendedor 
De girassóis planetários 
E suspiros de amor 

Vendendo pé­de­moleque 
Salgados feitos na hora 
Gritando para todos 
Quem quiser eu faço agora 

Logo pensa o menino 
Este vendedor até parece 
Com aquela velha bruxa 
Quem viu jamais esquece 

Manifesta­se o vendedor 
Diga qual é a sua pirralha 
Cara de pepino maduro 
E perninha de palha 

Não estavam acostumados 
Com aquela agressão 
Retrucaram, veja como fala 
Seu bobo nariz de melão 

Os dois ficaram tristes 
E muito desapontados
Falaram bem baixinho 
Novamente fomos enganados 

Uma chuva fina do céu 
Começou a cair no jardim 
Felizes brincavam e cantavam 
Mais ou menos assim: 

“Com a voz do meu canto 
Neste planeta diferente 
Acordando do encanto 
Quero ver muita gente 

Ascendendo as estrelas 
Riscando poemas no chão 
Explodindo no silêncio 
A mais linda canção” 

Chegaram em casa molhados 
E comentaram sorridentes 
Que brincadeira gostosa 
Até brincaria novamente 

Nisso uma voz fininha 
Vinha do escuro da rua 
Abram meus netinhos abram 
Venham ver a beleza da lua 

Nem acredito falou o menino 
Mas agora pouco importa 
O que tiver de errado 
Saberemos ao abrir a porta 

Disse a menina precavida 
Cuidado pode ser um ladrão 
Olhe primeiro na janela 
Assim evita confusão 

Pela voz parece a vovó 
Dizia o menino entusiasmado 
Oba! hoje, vai ser uma noite 
De sonho encantado 

A alegria foi tão grande 
Que parecia estar sonhando 
Ele foi até a porta 
Bem assim cantarolando:
“Que vontade de cantar 
De correr e de sorrir 
De abraçar o contador 
De histórias pra eu dormir” 

Ao abrir a porta 
Percebeu ela disfarçada 
Em grandes panos velhos 
Vinha a bruxa enrolada 

Os dois descontentes 
Falaram alto e empolgados 
A armadilha não funcionou 
Fomos outra vez enganados 

Mas que burrinha 
Comentou a menina brava 
Por que não puxei a corda 
Que a armadilha disparava 

A bruxa se manifestou 
Espalhando mil pavores 
Então são vocês os dois 
Os malditos invasores 

O menino enfrentou a bruxa 
Respeite meus bigodes 
Bruxinha cara de porco 
Fedorenta que nem bode 

Calado seu atrevidinho 
Como ousa assim falar 
Eu corto suas orelhas 
Se voltar a desrespeitar 

O menino e a menina 
Deram uma gargalhada 
Que até a medonha bruxa 
Ficou meio apavorada 

O menino aproveitou 
Para uma coisa perguntar 
Escuta Dona Bruxinha 
A senhora nunca quis brincar 

Basta, falou a bruxa
Jamais neste mundo 
Uma bruxa brincaria 
Seu camundongo imundo 

De ditadora chamou o menino 
Isso não se faz com o povo 
Mas ainda vou ver aqui 
Reinar a alegria de novo 

Vou chamar meus urubus 
Berrou a Bruxa incomodada 
Para dar um jeitinho 
Imediatamente nesta cambada 

O menino resolveu 
Inverter a situação 
E convidou a dona Bruxa 
Para lhe dar uma lição 

Olha dona Bruxinha 
Poderes adquirem­se brincando 
Em dois segundos poderá 
No mundo estar mandando 

O que você está dizendo 
É sério menininho 
Se isso não for verdadeiro 
Farei de você um picadinho 

Calma, venha, vamos brincar 
Nunca falei tão sério 
Quando a senhora rodar 
Descobrirá todo o mistério 

Dê­me as suas mãos 
Vamos rodar bem depressa 
Este planeta será seu 
Juro é minha promessa 

Rodaram, rodaram, até cair 
Esparramados no chão 
A menina amarrou a Bruxa 
Pensando ser a solução 

Mas para sua surpresa 
A Bruxa se livrou 
Do emaranhado de cordas
E a todos desapontou 

Disse irei até o castelo 
Preparar no caldeirão 
A mais forte incombatível 
E destrutiva poção 

E logo mandarei derramar 
Neste planeta horripilante 
Jamais alguém brincará 
Por toda a vida um só instante 

Intrigados os dois ficaram 
Ao ver a Bruxa andar 
Se ela fosse de verdade 
Com vassoura deveria voar 

Novas e grandes armadilhas 
Os dois prepararam 
Numa bacia colorida 
Alguma coisa colocaram 

Finalmente ficou pronto 
Era só esperar a chegada 
No meio da escuridão 
Vinha ela desconfiada 

Quando repentinamente 
Na bacia alguém esbarrou 
Todo molhado e fedorento 
O pobre homem ficou 

Os dois pediram desculpas 
Para o seu amigo maior 
Depois queriam lhe contar 
O que havia de pior 

O menino chamou 
­ Maninha venha até aqui 
Aquela água não era água 
E sim um pinico de xixi 

Mas não diga para ele 
Chega desta confusão 
Vamos logo resolver 
Esta horrível situação
Nisso despenca a bruxa 
Não se sabe de que lugar 
Chata e estrambelhada 
Ainda querendo brigar 

Os três decidiram juntos 
A bruxa desmascarar 
Vivendo a mesma história 
O planeta não poderia ficar 

Falou o menino empolgado 
Vamos aproveitar agora 
E mostrar para este povo 
Quem é esta senhora 

A dona deste planeta 
Retrucou muito agitada 
Mas naquela situação 
Era melhor ficar calada 

O Povo já sabia 
De toda a verdade 
Não adiantava mais 
Impor sua maldade 

O menino resolveu 
Com o problema acabar 
E para toda a multidão 
Começou a comentar 

Quem está por baixo 
Destas vestes horrorosas 
É apenas um homem mau 
Com idéias tenebrosas 

Peça por peça retiraram 
O sapato ao vestido 
Quando tiraram a última 
Tudo ficou esclarecido 

Era mesmo um homem 
Que talvez nunca brincou 
Por isso mantinha o planeta 
Sob as leis que criou 

O menino e a menina 
Com auxílio do morador
Construíram um império 
Da brincadeira e do amor 

De rei e de rainha 
Brincaram até cansar 
Foram tantas brincadeiras 
Que até esqueci de contar 

No silêncio da tarde 
A vovó dos meninos acordou 
E foi em busca deles 
Pra contar o que sonhou 

Era um sonho fantástico 
Com encanto e magia 
Onde todos desejavam 
A brincadeira e a alegria 

O menino falou pra vovó 
O sonho não precisa contar 
Que nós estávamos nele 
Está dizendo em seu olhar 

E assim neste planeta 
Ou em qualquer outro lugar 
Enquanto houver uma criança 
A fantasia irá reinar. 


Livro: Ursinho Pecameca e suas travessuras 

Num lugar distante “de sonhos” 
Havia um mágico muito falado 
Que com suas magias 
Vivia sempre ocupado 

Num certo dia, resolveu 
Em pedra transformar 
A mais linda floresta 
Conhecida do lugar 

Com aqueles olhos enormes 
Olhando na bola de cristal 
Começou a sua magia 
Num completo ritual
“Abracadim abracadam 
Abracadam abracadim 
Quero esta floresta 
Em pedra para mim” 

Para o bem da natureza 
Algo na magia deu errado 
Nada se transformou 
Como o mágico tinha planejado 

Neste exato momento 
Chegaram ofegantes 
Uma girafa, um chimpanzé 
E dois lindos elefantes 

Trazendo um grande livro 
Com a capa amassada, 
Que contava uma estória 
Deveras engraçada 

“A incrível estória 
De sonhos e bravuras 
Do Ursinho Pecameca 
Com suas travessuras” 

­ Bem, aqui estou eu 
Pra contar a minha história, 
Facetas que estão guardadas 
No baú da minha memória. 

Antes de partir para a cidade 
A primeira coisa que fiz, 
Foi acordar bem cedinho 
E coçar o nariz 

Preparei uma festança 
Pra toda a bicharada, 
Despedi­me dos presentes 
E parti em disparada 

Uma grande amiga 
No caminho encontrei 
De “Boneca Travessa” 
O apelido lhe dei
Seguimos nossa viagem 
Num cavalo pangaré 
Encontramos um rio... 
Que azar! Não dava pé. 

Um velho barco tomamos 
Parecia uma peneira 
Ao perder o rumo 
Caímos numa cachoeira 

Sem cama e sem rede 
Dormimos no chão 
Foram tantas aventuras 
Até chegar na estação 

­ “Senhoras e senhores 
O trem já vai partir 
Queiram tomar seus lugares 
Este é o último a sair” 

“U.U.U...” lambança, chacoalhão 
E vai e vem 
Tchaco­tchaco, tchaco­tchaco 
Vinha o trem 

­ “Ao chegar na cidade 
Maiores foram as travessuras 
E desta maneira começaram 
Outras novas aventuras”. 

­ Boneca... há alguém nesta casa! 
Vamos pé por pé verificar 
Você escutou o que eu estou ouvindo? 
Deve ser uma criança sem ninguém pra cuidar 

Chamamos, ninguém responde 
Vamos então entrar 
­ Oh que bela casinha 
Acabamos de encontrar 

­ Eu vou até os quartos 
Alguém dormindo parece ter 
Depois vamos comprar 
Algumas coisas pra comer 

“Bi... Bi... Bi...” este carro! 
Cada vez mais barulhento
Não deixa ninguém dormir 
Sequer um só momento 

“Bau... “ Acordou­se o menininho 
Boneca prepare a mamadeira 
Enquanto eu vejo roupas limpas 
O leite deve estar na geladeira 

Pronto... pronto aqui está 
O seu leite bem quentinho 
Não chore tanto assim 
Sou apenas um Ursinho 

“U... U... Mamãe apagou o sol 
Papai acendeu a lua 
E o menininho vai dormir 
Pra amanhã brincar na rua 

Eu sei um dia 
Você vai entender 
Que o sol não pode se apagar 
Nem a lua se acender 

Mas enquanto isso 
Acontece então 
Durma menininho 
Do meu coração...” 

Ufa... consegui fazer dormir 
Boneca... você está ouvindo alguém falar? 
­ Sim, seu Ursinho, é o disco de estorinha 
Que coloquei na vitrola a rodar 

­ “Ah... Ah... não sou uma vira­latas 
Nem mesmo uma bruxinha malvada 
Eu sou a Dona Porta 
Protetora desta casa encantada 

Uma personagem forte 
Mas que muito chora 
Por ter que ficar 
O tempo todo com o bumbum pra fora” 

“TRIMMM”... – pronto... oh, seu Super­Herói 
Aqui é o Ursinho quem fala 
Não, não houve nada. 
Não precisa vir; desfaça a sua mala
Na minha estória 
Super­herói não vai entrar 
Obrigado... passe bem... 
Outro pra você... vou desligar... 

Boneca, estão lá embaixo 
Os super­heróis da televisão 
Tanque as portas e as janelas 
Podemos ter uma invasão 

­ Mas eu quero brincar 
Não vou ficar sentada 
Feito uma mosca tonta 
Sonhando acordada 

­ Poxa, com toda esta folia 
Você ainda me fala em brincar 
Temos que ficar em silêncio 
Até a dona da casa chegar 

Você não pode brincar na sala 
Suja os tapetes e algo pode quebrar 
No quarto de maneira alguma 
É íntimo! Não podemos desarrumar 

Na cozinha não vai dar certo 
Pode explodir a qualquer momento 
A tampa da panela de pressão 
Está com vazamento 

No banheiro também não 
Aquele é um lugarzinho 
Só pra fazer xixi e cocô 
E tomar nosso banhinho 

“Ser criança entre adultos 
Algo quase impossível 
Brincar na sala não pode 
No quarto não é plausível 

Na cozinha é perigoso 
No banheiro não convém 
Na garagem, só se chover 
E na rua, segurança não tem” 

Então vamos brincar aqui dentro
Vá correndo chamar os amiguinhos 
Enquanto eu arredo os móveis 
E preparo os salgadinhos 

Toalhas, cadeiras e mesa 
Até o vaso vou tirar 
Oba... já estão chegando 
Os amiguinhos pra brincar 

Vamos brincar de roda? 
­ De marca soldado! 
­ E depois, fazer o pique­nique 
Conforme tínhamos combinado 

A campainha está tocando 
Tenho que abrir a porta 
Saiam todos pela escada 
E levem junto esta torta 

Boneca vamos logo 
Colocar os móveis no lugar 
Devem ser os moradores 
Apitando pra entrar 

Socorra­me seu Cinzeiro 
Ajude­me, Dona Cadeira 
Acuda­me, Dona Porta, vou cair 
E bater na cristaleira... 

“Bum” olha só! Riscou o assoalho 
E sujou as paredes da sala 
Vamos sair logo daqui 
Pegue nossa mala 

­ Oh, aquele bolo de chocolate! 
­ Não pense nisso agora 
­ Nem chegamos a beber a limonada 
­ Ande logo, vamos embora 

Boneca, agora que estamos 
Novamente na rua 
Eu tenho uma grande idéia 
Que talvez seja a mesma sua 

Vamos para o rio pescar 
Pegue as minhocas e o anzol 
E sigamos por aquela estradinha
Rumo aos caminhos do sol 

­ Chegamos... aquele vermelho é meu 
­ Não fale alto demais 
Não ponha os pés na água 
Eles se assustam e não voltam mais 

Podemos até cantar uma canção 
De chamar peixinho! 
­ Atirei o pau na cobra 
­ Essa eu não sei cantar sozinho 

Você, ajude­me a cantar 
­ Claro, vamos lá: um, dois, três 
­ Um momento, deixe­me afinar 
Pra não errar mais uma vez 

“Atirei o pau na cobra, bra, bra... 
Mas a cobra não morreu, reu, reu... 
Seu gatinho admirou­se, se, se... 
Do berro, que a cabra deu...” 

“Ah... Ah... Ah...” – Os peixinhos estão rindo 
­ Também, você canta com letra errada 
Os peixinhos devem ter achado 
Uma cantiga bastante engraçada 

­ Está puxando a linha 
­ Que peixe deverá ser? 
­ Nem imagino... 
­ Puxe o que caniço para ver 

­ Olhe só! O que pesquei 
Um sapato velho! Que azar 
­ Desse rios poluídos 
é o que se pode esperar 

Boneca... eu estou sentindo frio 
Este local parece mal­assombrado 
Acho que está cheio de fantasmas 
Por todos os cantos deste sobrado 

Mas por que eu vou ter medo? 
Se estou invisível completamente 
Você é que deve estar apavorada 
Vejo­a tremer até os dentes
­ “Eu sou o enfermeiro do doutor Lobão” 
­ Você ouviu isto?... Vou dar uma olhadinha 
Espere aqui no escurinho 
Já que não tem medo de ficar sozinha 

“Bau... bau...” – O que foi isto, Ursinho? 
­ Um tal de enfermeiro do doutor Lobão 
Sem nada me perguntar 
Foi logo aplicando esta injeção 

­ Calma já vou verificar 
Se a injeção for verdadeira 
O seu “completamente invisível” 
Não passou de brincadeira 

­ Poxa que fome que sinto 
Quem sabe vamos pra cozinha fazer 
Feijão, arroz e batatas fritas 
Coisas boas pra comer! 

­ Prefiro cachorro­quente 
­ Não temos cachorro, quer dizer, pão 
­ Então, vamos fazer outras coisas 
Batatas fritas, arroz e feijão 

­ O que vai numa feijoada? 
­ Sal, feijão, pimenta e água quente 
­ Prove... a pimenta está muito forte 
­ Chega, queimar a língua da gente 

­ Deixe­me ver na despensa 
Um temperinho legal 
ÁLCOOL...! Deve ser um bom tempero 
Pois está junto do sal 

Boneca, álcool é um bom tempero? 
­ Sim, é ótimo para feijão 
­ Mas está escrito que explode 
­ Não explode coisa nenhuma, seu bobão! 

­ Então, eu vou colocar na panela 
Mas se algo errado acontecer 
É bom ir preparando 
Os pezinhos pra correr 

“Bum”... vou sair, pra mim chega 
Desta estória atrapalhada
Não consigo fazer nada certo 
Sempre acaba dando em nada. 

­ “Depois de tanto tempo 
Ser professor ele tentou 
E bem assim 
O primeiro dia começou” 

­ Bom dia, meninos e meninas 
Mas que local bem bagunçado 
Vamos juntos reunir 
O que estiver espalhado 

Agora, vamos a chamada!... Maria 
­ Estou aqui, olhe o meu dedo 
­ Estou aqui não! Diga presente 
Bem alto sem ter medo 

Continuando a chamada 
Aline... Aldirene... 
João... Luciana... 
Vinícius... e Deni... 

Como hoje é o primeiro dia 
Não tenho todos nomes registrados 
Amanhã apanho na secretaria 
A lista dos matriculados 

Epa... quem colocou­me este rabo? 
Não é hora de brincar! 
Isto não se faz com ninguém 
E a aula é para estudar 

Quem colocou?... Você, Boneca? 
­ Eeeeuuu?... Só estava escrevendo 
­ Não precisa falar 
Seus olhos estão dizendo 

Continuando a aula vamos ver 
Se vocês preparados estão 
Os números pertencem a uma matéria 
Chamada... chamada... Macarrão... 

­ “Matemática” – desculpem­me, enganei­me 
É que estou com uma fome de cão 
Há dois dias que não como 
Sequer um prato de arroz e feijão
Escute... está tocando a sineta 
Saia devagar, sem se apressar... 
Vou apanhar a bola 
Temos tempo pra jogar 

Eu atiro pra você 
E você atira pra mim 
Não, não atire tão alto 
Vai cair lá no jardim 

Bem, agora na segunda parte 
Vamos aprender a fabricar 
A superbomba de flores 
Rosas e cravos não podem faltar 

Nós somos crianças, queremos ver 
O mundo cada dia mais colorido 
Acho que falta algo nesta bomba 
Sem explodir, não terá sentido 

Deixa­me ver no laboratório 
PÓLVORA... Agora vamos conseguir 
É só colocar junto às flores 
E esperar a bomba explodir 

Ah... Ah... Ah... não explodiu 
E nem deve explodir 
Isto é uma brincadeira 
Para nos divertir 

Bom dia, não esqueçam 
Os temas de casa fazer 
Amanhã na ponta da língua 
A matéria terão que trazer 

­ “Senhoras e senhores 
E meninada aqui presente 
O grande circo traz para vocês 
Um palhaço diferente 

O maravilhoso 
O inesperado 
Ursinho Pecameca 
O mais engraçado” 

­ Boa tarde, amiguinhos
Depois de tantas andanças 
Acabei neste circo 
Para alegrar as crianças 

Querem pipocas? Eu não tenho pipocas 
Nem mesmo chocolates... 
Só tenho duas caixas de pirulitos 
E dez quilos de mandolates... 

Quem pular na cadeira feito pipoca 
Muitos doces irá ganhar 
Batendo palmas todos juntos 
Uma canção, vamos cantar 

“Veja como bate 
O meu coração 
Disfarçado até vou 
De urso a leão 

Veja como late 
O cachorrinho 
Já descobriram 
Que eu sou um Ursinho” 

Agora, fiquem todos em silêncio 
Pois logo virá o trapezista 
O homem do globo da morte 
E um brilhante malabarista 

Boneca, recebi uma cartinha 
Venha ler comigo 
Deve ser da girafa 
Ou do elefante nosso amigo 

Não!... é do mágico 
Da tal bola de cristal 
Diz ele: que a floresta 
Jamais teve o seu final 

“Um mágico não destrói, 
Os homens sim 
Constróem bombas 
Pensando no fim” 

Com a minha magia 
Só quis chamar atenção 
Dos que destroem as florestas
Sem a menor preocupação. 

Agora... deitem­se 
E durmam pra sonhar 
Num tapete mágico 
Pra floresta irão voltar. 

Que maravilha 
Estamos subindo 
Ver aqui do alto 
Tudo parece tão lindo 

“Zzzzzzz...” que viagem encantadora 
Até gostaria de voltar 
­ Seu bobo, foi só um sonho 
Nós nunca saímos deste lugar. 

Música: Pecameca 

Sou o ursinho peludo 
Que veio do frio 
Sem roupa e sem chapéu 
Alegrar as crianças 
Acender as estrelas 
Rasgar as nuvens do céu 
E deixar a luz 
Brilhar a fogueira 
Pra todos pularem 
O resto da neve 
Que boneco se fez 
Pros grandes brincarem 
O vivo colorido 
Dos brinquedos quebrados 
Espelhados pelo chão 
Sou o chocolate 
Que suja a cara 
Mas adoça o coração 


Livro: Versos e Músicas 

Esconda 
Seu cigarro 
O seu fuminho 
Finja
Ser você 
Um anjinho 
Pise 
Mais suave 
Não estrague 
Esse tamancão 
Que é do seu velho irmão 
Jure que mamãe 
Lhe ensinou 
Danças clássicas 
Mas você optou 
Pelo baião 
Diga que ainda não deu 
Seu coração ainda é meu 
Que eu coloco 
Em sua boca rosada 
Uma bala melada 
Selando o nosso amor... 


Mulher 
Que completa 
Minha poesia, 
Meu ouro, 
Minha lama, 
Minha chama 
Fantasia 
Mulher 
Meu abrigo 
Meu sonho 
Meu abismo 
Minha paz 
Meu engano 
Falsidade! 
Afinal 
O que és 
Em minha vida? 
Alegria?... 
Mulher: 
O complemento 
Da minha história 
De amor 
Mulher 
Vim de ti 
E vivo em ti
Meu encontro 
O pior 
E o melhor 
Dos meus sonhos 


Aqui onde você me achou 
Aqui eu estou 
Esperando você 
Aqui onde eu sonhei 
Uma vida de rei 
Estou a sofrer 
Aqui tudo é tão triste 
Nada mais existe 
Da vida da minha vida 
Depois que você partiu 
Me perco no vazio 
Tentando encontrar 
A razão da despedida 


Você que se propôs 
Viver ao meu lado 
Largou seu bando 
De andorinhas 
Resolveu lutar e escolher 
Uma só estrada 
Você é considerado 
Por meu ser acordado 
Em cada conversa 
Mil viagens 
Tornou­se adubo 
De uma semente amor 
Você que agora faz parte 
Da minha vida 
Você que agora caminha 
Por estrada desconhecida 
Lutando e crescendo 
Este sonho amor... 
Você que primeiro aceitou 
O inferior 
Descobre através 
De nossas janelas
O infinito soa para nós 
Continuação do nosso fruto... 


De peito fechado 
E olhos vendados 
Como noites na alma, 
Segue o caminho 
Sem nada falar 
Será que somos assim? 
Meninos nascem 
Junto a repressão 
Que podemos fazer? 
Agora sozinho, 
Sua cabeça não 
Será que somos assim? 
Eu sei, você também, 
Que eles estão fazendo 
Alguma coisa 
Para mudar... 
Os anos gelados 
Já se pode sentir 
Na voz do povo 
Unida... 
Olhar adiante 
O tempo dilata 
Em novos ventos, 
Virá liberdade 
Liberdade suada... 
Nós esperamos que sim... 


Jamais consegui encontrar alguém 
Que desse o seu amor só pra mim 
Jamais consegui manter 
A felicidade até o fim 
Quando penso 
Que sou amado 
Estou sendo 
Simplesmente enganado 
Jamais consegui dar o meu amor 
Para quem me ama eternamente 
Jamais consegui acreditar
Que no amor também se mente 
Quando amo 
Dou tudo de mim 
E no entanto 
Vivo sozinho assim 


Meu sangue escorre 
E faz um mar seco 
E morre 
Pra não navegar 
Por um oceano 
Foges, mentindo 
Cruel engano 
Pra não me deixares, 
Caminhas no meu tempo 
Estilhaços de cismas 
Me transformas em cinzas 
E partes com o vento 


Diga 
Que todo este meu pranto 
E a tristeza do meu canto 
Pra você não tem valor 
Diga 
Tudo o que você quiser 
Mas não diga que não quer 
Aceitar o meu amor 
Eu sei, 
Que é pecado implorar 
Mas não posso mais ficar 
Sofrendo como estou 
Diga, 
Pois eu vivo só porque 
Na esperança de ainda ter 
Um pouco do seu amor... 


Quando eu te procurava 
Você fingia não entender
Teu silêncio para mim 
Muito queria dizer 
Sobre tudo o que veio acontecer 
Eu fui relutando 
Na tentativa de te esquecer 
E quando venci a luta 
Aprendi a viver 
Ao teu lado mesmo sem você 
Vem... vamos procurar 
As respostas perdidas 
Se a culpa for de nós dois 
Há uma chance pras nossas vidas 
Vem... vamos se esconder 
De quem duvida de nós 
E cantar o amor novamente 
Afinados em uma só voz 
O amor de verdade 
Não tem fim, nem começo 
Maior que o universo 
É a vontade que eu tenho 
Em saber de você o quanto te mereço baby 


Te procuro a tanto tempo 
Visito todos os bares 
Tenho ido a todos os cinemas 
Percorro todos os lugares 
Por entre os raios do sol 
Te vejo vindo pela rua 
Me confundo nas lembranças 
E sonho alucinado com a imagem tua 
Preciso te encontrar 
Preciso te ver 
Nem que seja pra dizer 
Adeus 
Deitado à noite tão sozinho 
Divago ao encontro do dia 
Sinto tuas mãos e a tua boca 
Tão presentes, mas tão frias 
Pela manhã me encontro 
Cansado e bem sem graça 
Sonhando acordado, lá vou eu 
E assim à noite se passa 
Preciso te encontrar 
Preciso te ver
Nem que seja pra dizer 
Adeus 


Foi tanto amor em meu peito 
Tantos sonhos perfeitos 
Tuas noites eram tão minhas 
Teus beijos eram meus 
Quando nós nos conhecemos 
O mundo foi pequeno 
Pra guardar tanto querer 
Da nossa história 
Teus olhos da cor do céu 
Hoje faz noite em meu dia 
Teus passos modificam meu destino 
Tua ausência afoga minha alegria 
Nós se amamos demais 
Mas tudo teve fim 
E agora vivo contando as horas 
Pra um dia te ver 


Chego em casa 
Às seis horas 
Da manhã 
O galo já cantou 
E o dia já raiou 
E ela já saiu 
Pra trabalhar 
E eu mais uma vez 
Chego atrasado no batente 
E o chefe já bronqueia 
De cara feia 
Descontente 
E a vida desse jeito 
Já não dá... 
Ou eu caso com ela 
Pra curar está paixão 
Ou eu viro boêmio 
Da gafieira do João 
Laia laia laia... etc. 

j
Se um dia 
Eu partir, 
Vou sentir, 
No peito 
Uma dor 
Sem jeito 
Mas vou 
Calar 
E resistir 
Esta vontade 
De encontrar 
Alguém 
Para amar 
É que me mata, 
No silêncio 
De dor 
Sem nada 
Reclamar 
Eu sei, 
Tenho direito 
De ao menos 
Ser feliz 
E sonhar 
Eu sei, 
Dos meus defeitos: 
Não precisa 
Desse jeito 
Me olhar... 


Uma mão que alisa 
Um perfume de flor 
Uma noite com brisa 
Um mundo de amor 
Tudo isto é você 
Tudo isto é você 
Tudo isto é você 
Uma estrela no céu 
A praia e o mar 
O verde dos campos 
E a loucura de amar 
Tudo isto é você 
Tudo isto é você 
Tudo isto é você

Quanto tempo 
Ainda existe 
Pra que esta 
Juventude tão triste 
Possa achar um caminho 
De paz 
Eu queria contar 
Sua história 
Numa frase 
Completa, deixar 
Liberdade no tempo 
Que insiste 
Em nunca 
Parar de lutar 
Aonde vais juventude perdida? 
O que levas em teu coração? 
Não vai, não 
Fica aqui! 
Mostra ao mundo 
Que o tempo 
É a melhor solução 


Tentaram se livrar 
De todas as lembranças possíveis 
Mas todos os fantasmas 
Continuam bem visíveis 
Em nosso corpo e na mente 
Destruindo as sementes 
Que ficou 
Eu sempre quis 
Ser mártir de causa alheia 
Mas tornei­me um traidor 
De minha própria causa 
Descalça 
Estão com medo 
Com medo sim 
Há estão com medo 
Do medo estar no fim 

j
Não eu não posso mais ficar 
Assim sem saber o que aconteceu com nós 
Você tem que dizer 
Não me faça sofrer 
Quero ouvir a sua voz 
Não eu não posso mais ficar 
Assim sem saber o que fiz pra você 
Pra mudares tanto assim 
Já não falas mais em mim 
Até procuras não me ver 
Sabe nem sei se vivo mais 
Minha vida não tem paz 
Depois que tudo mudou 
Fale agora de uma vez 
Não aumente o que já fez 
Não aumente minha dor 
Não eu não quero imaginar 
Que nosso amor de repente se acabou 
Acordado estou sonhando 
Se estiver me escutando 
Venha ver como eu estou 


Pode me faltar 
A luz do sol pela manhã 
O aplauso delirante 
De uma gatinha fã 
Só não pode me faltar você 
Pode me faltar o happy hour 
Do final de semana 
Na conta do banco 
Acabar toda a grana 
Só não pode me faltar você 
Por duas ou três horas 
Pode me faltar o ar 
Este tempo eu resisto 
Só quando você me beijar 
Pode me faltar a praia o céu 
A areia o mar 
A dança e o escurinho 
Na mesa de um bar 
Só não pode me faltar você

Quando você voltar pra mim 
Todas as estrelas 
Com certeza irão brilhar 
Chorando de alegria 
As nuvens 
Num minuto irão secar 
Quando você voltar pra mim 
Toda a beleza 
Do anoitecer 
Será maior 
Esperar todo o dia 
Não existe 
Na vida 
Algo pior 
Sem você 
A vida não tem graça 
Quero ter você aqui bem perto 
Sem você as horas não passam 
Vem sorrindo me tirar deste deserto 


Com a força do meu canto 
Pelas ruas da cidade 
Quero espalhar todo dia 
Muito amor e felicidade 
Com a força do meu canto 
Quero ir além da esperança 
Quero ver em cada olhar 
A verdade de ser criança 
Quero vê­la acendendo as estrelas 
Riscando poemas no chão 
Quero vê­la explodindo alegria 
Com a mais linda e sublime canção 
Com a força do meu canto 
Neste planeta diferente 
Acordando do encanto 
Quero vê­la muita gente 


Sim eu devo me afastar 
Não, não devo mais te amar
Pois você não poderá 
Corresponder meus sentimentos 
Sim eu devo me afastar 
Não, não devo mais implorar 
Pois assim eu vou causar 
Muita tristeza e sofrimentos 
Te amo mas me afastarei, levarei 
Com lembranças o teu sorriso 
Que sem querer para mim, proporcionou 
Alegria de um paraíso 
Sim eu estou me afastando 
Com o pranto derramado 
Pois não posso conter 
As lágrimas neste momento 


Mamãe apagou o sol 
Papai acendeu a lua 
É noite 
O Deninho vai dormir 
Esperar o novo dia surgir 
Pra nós então 
Brincarmos lá na rua 
Lá na rua... 
Você um dia vai entender 
Que o sol 
Não se pode apagar 
Nem a lua 
Pode se acender 
Mas enquanto isso 
Aconteça então 
Durma Deninho 
Do meu coração 
Do meu coração 
Dorme Deninho 
Dorme Deninho 
Dorme Deninho... 


Bem antes de eu partir 
Vou fazer muita gente feliz 
Bem antes de eu viver 
Vou fazer o que eu ainda não fiz
Se você está triste 
Venha cantar comigo 
Explode tua voz 
E diga o que eu digo 
Cante, cante, cante, cante, o amor 
Bem antes de eu partir 
Vou fazer muita gente feliz 
Bem antes de eu viver 
Vou fazer o que ainda não fiz 
Se você está triste 
Venha dançar comigo 
Embale seu corpo 
Eu sou seu amigo 
Dance, dance, dance, dance, com amor 
Não fui eu quem inventou 
A tristeza não 
Quero paz 
No meu coração... 


De repente 
Calar 
Eu sei 
Me tortura 
É fugir 
Da própria 
Inútil 
Procura 
De ser eu 
De ser eu 
Neste tom 
Desafinado 
Ninguém vai 
Perceber 
Estão calados 
Eu preciso 
Explodir 
Afinal 
Gente sou 
E fugir 
Da própria 
Inútil 
Procura 
De ser eu 
De ser eu

Faças de conta 
Que ontem 
Eu fui apenas 
Um amigo 
Que te ajudou 
A sobreviver 
Aos inimigos 
Que te ensinou 
Os belos caminhos 
Que levaram 
Até a mim 
Só assim 
Seremos 
O começo 
De algo 
Que nunca 
Teve fim... 


Por você eu modifiquei 
Tantas coisas em minha vida 
Não cantei 
Aquelas canções 
Desprezei mil corações 
E então 
Caminhei na noite fria 
Tentando lhe encontrar e não sabia 
Já não resta mais nada 
Ilusão, ilusão... 
Por você eu modifiquei 
Tantas coisas em minha vida 
Desprezei mil amigos 
Busquei inimigos 
E então 
Caminhei na noite fria 
Tentando lhe encontrar e não sabia 
Já não resta mais nada 
Ilusão, ilusão... 

j
O meu céu é mais azul 
As estrelas brilham mais 
Pois quem tem amor 
Encontra a paz 
A tristeza acabou 
Quando vi você chegar 
Toda a minha vida 
Eu quero agora te entregar 
Agora que estamos juntinhos 
Não quero mais pensar em adeus 
Pois eu só me sinto feliz 
Quando estou nos braços teus 
Tudo é realidade 
Nada mais quero para mim 
Tenho felicidade 
Pra viver a vida até o fim 


Eu lhe fiz chorar 
Eu lhe fiz sofrer 
E agora vou lhe deixar 
Mais antes quero dizer 
Não, não vá pensar 
Que eu não tenho um coração 
Onde terminam minhas bobagens 
Começa minha compreensão 
Impulsionado pelo meu ciúme 
Agi como um louco 
Lhe maltratando assim 
Matando o nosso amor aos poucos 


Eu não gosto 
De lembrar 
Que um dia 
Alguém eu fiz 
Chorar 
E no amor 
Que perdi 
Por duvidar 
Quando ela 
Me amou 
Simplesmente
Não liguei 
Com seu 
Grande amor 
Eu até 
Brinquei 
E agora 
Estou sozinho 
Perdido 
Sem caminho 
Procurando 
Alguém como você 
No amor 
É assim 
A gente 
Busca o fim 
Mas não sabe 
Perder 
O que resta 
Para mim 
É conviver 
Com esta 
Solidão 
Pela marca 
Que deixei 
No teu coração 


Eu me pergunto a toda hora 
Que engrenagens nos faz andar? 
Qual algema que prende a liberdade? 
Qual é o sonho proibido de sonhar? 
O que tanto sopra e nada apaga? 
O que faz voltar a noite e o dia? 
O que foge e não se move? 
O que é feito do riso e da alegria? 
Eu me pergunto toda hora 
Cadê a lua dos namorados? 
Quem apagou o sol de alguns homens? 
Que roubou a voz dos calados? 
Qual o pecado que merece perdão? 
Que fuga é essa da nossa calma? 
Qual o destino mal traçado? 
Que música faz bem pra nossa alma? 
O limite das perguntas não tem fim 
Presente, passado, nem futuro
As respostas, sempre acabam em pizza 
Amontoadas como lixo atrás do muro. 


Quero viver como a sombra 
Toda hora mudando de lugar 
Sem causar nenhum estrago 
Pelos caminhos 
Por onde eu passar 
Quero correr entre as montanhas 
Sem ao menos ter que saber 
Como será o amanhã 
Nem o próximo esperado anoitecer 
Eu só quero mesmo 
Provocar o riso 
E viver voando sem riscos 
Eu quero cantar 
A poesia, o lirismo 
E parar 
Na beira do abismo 
Você pode me ajudar 
A invadir sonhados mundos 
Entre beijos os desejos 
Serão realizados em segundos... 


Hoje vou decidir 
Como vou ficar 
De nada adianta 
Lhe dar um grande amor 
Se você nem ao menos 
Quer sonhar 
Pra mim 
Só resta 
Então seguir 
Pra você 
É mais fácil 
Esquecer... 
Amanhã irás perguntar 
Como foi que acabou 
Como resposta 
Terás a solidão 
Fazendo parte do teu viver
Pra mim 
Só resta 
Então seguir 
Pra você 
É mais fácil 
Esquecer... 


No silêncio da minha alma 
Eu escondo tanto amor 
Como se fosse um mar aberto 
Com suas ondas devorando a areia 
Apagando o rastro que deixei 
Nos caminhos que não andei 
Encontrei você devolta 
Com os sonhos presos nas mãos 
Sem destino caminhas por aí 
Sem saber que te espero para amar 
Em cada volta um desencontro 
Vem comigo na bagagem 
E o vento a cada momento 
Me açoita para uma nova viagem 


A esperança de amar da menina 
Nasci como flor do campo 
Sem ninguém plantar 
O galope de um zaino amadrinhado 
Queima como fogo no peito 
De um gaúcho apaixonado 
O silêncio do mato de pitanga 
Reflete na espuma branca 
Que escorre junto às águas da sanga 
O bando livre dos pássaros 
Voando no ar é toda liberdade 
Que eu vivo a sonhar 
Lá dos confins do nosso rincão 
Vem a nossa história 
Sofrida e vestida de glória 
Tanta poesia esquecida no tempo 
Se arrastando no vento 
Como raízes em tapera...

Ai, que coisa louca! 
É dar um beijo 
Em sua boca 
Muito mais louco 
É deixar livre 
A sua boca... 
Diga tudo o que você 
Tiver vontade, 
Mesmo que a verdade 
Jamais seja ouvida, 
Pois o ato de insistir 
Poderá, com o tempo, vir abrir 
Caminhos nas estradas 
Perdidas... 


Sou um grande e sou pequeno 
Tenho muito que aprender 
E o começo dos meus passos 
Pode partir de você 
Se quiser contar comigo 
Me estenda a sua mão 
Sou pequeno e sou amigo 
E tenha um grande coração 
Solte a lágrima 
Que está presa na tua garganta 
Deixe o olhar brilhar 
Igual ao das crianças 
Se o teu coração quiser 
U amigo para brincar 
Vem aqui me dê a mão 
Vamos cantar 
Canto a paz e canto amor 
Canto a fé pros corações 
De quem ama esta vida 
E precisa de emoções 
Sou pequeno e sou amigo 
Tenho muito o que aprender 
E o começo dos meus passos 
Pode partir de você 

j
Não, não diga bobagem 
Veja a viagem 
Que a vida é... 
Esqueça o que passou 
Pense no amor 
E não perca a sua fé 
Isto alguém me diz 
A toda hora 
Sem saber que estou assim 
Na solidão 
Por alguém 
Que foi embora 
Partindo 
O meu coração 


Invade pela minha janela 
Um desejo meu e dela 
De uma nova vida 
O meu céu parece se abrir 
No brilho das estrelas 
Já se pode sentir 
Você chegando 
Não sei como você é 
Mas já posso imaginar 
Você nos meus braços 
Chorando, querendo nanar 
Arde no meu peito 
Um sonho perfeito 
Feito canção de ninar 
No silêncio calado da noite 
Por entre brinquedos 
Amor, paz e segredos 
Quero te guardar 
Quero te guardar 
Não sei como você é 
Mas já posso imaginar 
Você nos meus braços 
Chorando, querendo nanar... 


Quando andorinhas pairam no céu
E a brisa desce a colina 
O mar se enche de graça 
Em sua dança 
E  nós aqui 
Com garra e gana 
Decidimos 
Nossas andanças 
De dois para um 
No livro de nossas vidas 
Folhamos o passado 
E vimos 
Ilustrado 
O presente amado 
Queremos 
Do tudo o nada 
Do amor 
O conteúdo 
E o mundo 
Vivemos a vida sem tempo 
Minutos mais de um século 
Se amanhã tudo morrer 
Vamos ter restos de lembranças 
Que vão sobreviver 


De que adianta 
Nós buscarmos 
Todos os dias 
Pelos caminhos 
Escusos 
Uma razão 
Para esta chaga 
Sempre sangrando 
Sem antes estancar 
E recuperar 
O que já foi 
Pelo tempo 
Derramado 
Quem sabe um dia 
Nós poderemos 
Rolar 
Pelas pedras 
De pontas 
Que encontrarmos 
Em nossa estrada
Sem nos ferir 
E quando chegarmos 
No mar 
As águas apagarão 
Nossa tempestade 
Não vamos ficar 
Tristes a pensar 
Belos caminhos 
Abriremos sozinhos 
Já que estamos prontos 
Uma para o outro. 

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