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VERA BARROUIN MACHADO

Mudança do Clima: da Rio-92 a Copenhague centígrados entre 1990 e 2100, e o de 2007 afirmou ser inferior a 5% a
probabilidade de que o fenômeno se devesse apenas a causas naturais.
De uma forma ou de outra, todos os países do globo serão afetados
pelas alterações do clima. O aumento da temperatura global, o derretimento
Vera Barrouin Machado de neve das montanhas, o degelo das calotas polares e o consequente aumento
do nível do mar poderão colocar em risco a própria existência de países
vulneráveis, como os pequenos Estados insulares. Os cenários para o Brasil
contemplam a alteração do regime de chuvas, a redução da disponibilidade
de água em áreas áridas e semiáridas e até a possibilidade dramática de
savanização parcial da Amazônia.
A vulnerabilidade dos países em desenvolvimento diante do fenômeno é
acentuada pela escassez de recursos financeiros e tecnológicos, o que dificulta
sua adaptação às novas circunstâncias. Para os países desenvolvidos, o
desafio consiste em racionalizar os padrões de consumo e alterar padrões de
produção, com a introdução de tecnologias menos poluentes.
Para ambas as categorias de países, são indispensáveis a mobilização de recursos
Introdução financeiros, a geração e aplicação de novas tecnologias, assim como a vontade
política para a adoção de políticas públicas inovadoras destinadas a contrarrestar
Motivados pela evidência científica de alterações no clima do planeta, os a mudança do clima com respostas efetivas e urgentes – o que pode vir a afetar
países membros da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e do interesses estabelecidos. Coloca-se, assim, como fator político fundamental nas
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) decidiram, negociações internacionais sobre o tema, a questão da repartição de responsabilidade
em 1988, criar o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). pelo fenômeno, a qual recai em maior grau sobre os países desenvolvidos, os quais,
O Painel tem como objetivo a compilação de informações sobre os diversos desde a Revolução Industrial até a década de 1990, contribuíram com cerca de
aspectos da pesquisa climática com vistas a fornecer elementos para 90% das emissões de gases de efeito estufa. Do mesmo modo, a responsabilidade
consideração e possíveis ações dos governos e entidades civis. pela mitigação dos efeitos da mudança do clima recai em maior proporção sobre os
O primeiro relatório do IPCC, publicado em 1990, concluiu que, a partir da países desenvolvidos, cujo uso de combustíveis fósseis desde o século XIX contribuiu
Revolução Industrial, o aumento da concentração de gases de efeito estufa na para alavancar o desenvolvimento econômico e social que lhes permitiu satisfazer
atmosfera vinha provocando o aquecimento da temperatura terrestre de 0,3 a necessidades básicas de suas populações e dispor de maior capacidade financeira
0,6 graus centígrados. Este alerta deu ensejo às negociações de uma Convenção- e tecnológica. Por tais razões, é imprescindível a preservação, em todas as
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), aberta à negociações internacionais sobre o tema, do princípio das responsabilidades comuns
assinatura por ocasião da Conferência Mundial para o Meio Ambiente e porém diferenciadas e respectivas capacidades dos países, tal como consagrado
Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992), e em vigor desde 1994. Os relatórios na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
subsequentes do IPPC, divulgados em 1995, 2001 e 2007, reforçaram os
prognósticos de que o aquecimento global atual é inequívoco e de que a maior O Marco Jurídico
causa do problema é a acumulação de gases de efeito estufa na atmosfera,
decorrente, sobretudo, da queima de combustíveis fósseis desde a Revolução No plano internacional, a resposta aos desafios da mudança do clima é
Industrial. O relatório de 2001 indicou projeções de aumento de 1,4 a 5,8 graus regida por dois instrumentos jurídicos principais: a Convenção-Quadro das

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Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que reúne os princípios sobre o futuro do regime de mudança do clima em dois trilhos. O primeiro
e diretrizes políticas para o regime internacional de mudança do clima; e pelo tem por objetivo definir novas metas de redução de emissões de países
Protocolo de Quioto que, complementando a Convenção, estabelece metas desenvolvidos para o segundo período de compromisso do Protocolo de
quantitativas de redução ou limitação de emissões de gases de efeito estufa Quioto, após 2012. O segundo trilho traduziu-se no Plano de Ação de Bali
para países desenvolvidos. O primeiro período de compromisso do Protocolo para o fortalecimento da implementação da UNFCCC no curto, médio e
de Quioto, de 2008 a 2012, visa a reduzir as emissões agregadas dos países longo prazo.
do Anexo I (países desenvolvidos) em, pelo menos, 5% abaixo dos níveis de Fundamentado nas conclusões do Quarto Relatório do IPCCC, o Plano
1990. de Ação de Bali tem como foco ações cooperativas em quatro pilares:
O regime internacional de mudança do clima está fundamentado no mitigação, adaptação, financiamento e tecnologia. O Plano de Ação prevê
princípio das responsabilidades comuns porém diferenciadas e respectivas ainda a adoção de uma visão compartilhada sobre ação cooperativa de longo
capacidades dos Estados. Conforme o artigo 4.1 da Convenção, todos os prazo, de acordo com os princípios e disposições da Convenção. O Plano
países têm obrigação de implementar políticas e programas que contribuam de Bali foi uma dupla vitória para o regime. De um lado, engajou os Estados
para a mitigação da mudança do clima e adaptação a seus efeitos adversos. Unidos – que não ratificaram o Protocolo de Quioto – na discussão de
Os países desenvolvidos, por suas responsabilidades históricas e atuais pelo compromissos quantificados de mitigação comparáveis aos dos demais países
aquecimento global, assumiram obrigações específicas, sob a forma de metas desenvolvidos que são Partes no Protocolo. De outro, estabeleceu as
quantificadas de redução de emissões e compromisso de fornecer apoio condições para ações mais expressivas de mitigação por parte de países em
financeiro e tecnológico aos países em desenvolvimento. O nível de apoio desenvolvimento.
financeiro e tecnológico, contudo, tem estado muito abaixo do esperado. O Plano de Ação também distingue claramente os compromissos dos
Os países em desenvolvimento, por sua vez, devem contribuir com países desenvolvidos e as ações de países em desenvolvimento, situando-os,
políticas públicas para enfrentar o aquecimento global de forma compatível inclusive, em subparágrafos distintos (1.b.i e 1.b.ii). As negociações para a
com o imperativo do desenvolvimento social e econômico: em outras palavras, implementação do Plano têm como objetivo principal garantir que os esforços
a Convenção reconhece que os países em desenvolvimento buscarão o de todos os países do Anexo I sejam comparáveis, inclusive daqueles que
crescimento econômico, de forma a habilitá-los a lutar contra a fome e a não são parte do Protocolo de Quioto, como os Estados Unidos.
pobreza de suas populações, o que consequentemente aumentará suas No caso de países em desenvolvimento, espera-se a implementação de
emissões de gases de efeito estufa. O que se espera dos países em ações mais expressivas de mitigação sob a Convenção, no contexto de suas
desenvolvimento, como o Brasil, é que o crescimento de suas emissões seja políticas nacionais de desenvolvimento sustentável. Tais ações deverão ser
atenuado, com o auxílio de tecnologias mais limpas. Tal esforço de redução apoiadas por fluxos financeiros e tecnológicos novos e adicionais, provenientes
da curva de crescimento das emissões com relação a um cenário de dos países desenvolvidos, em consonância com o disposto nos artigos 4.3 e
crescimento normal das emissões difere, portanto, do compromisso de países 4.7 da UNFCCC. As ações implementadas com o apoio internacional oferecido
desenvolvidos relativo à redução absoluta de suas emissões com relação aos deverão ser mensuráveis, comunicáveis e verificáveis (MRV, da sigla em inglês).
níveis existentes em 1990. Ainda sob o pilar de mitigação, o Plano de Ação de Bali reconhece a
importância de apoiar atividades de redução de emissões no setor florestal em
O Mapa do Caminho de Bali países em desenvolvimento. Nesse sentido, o parágrafo 1.b.iii do Plano de
Ação de Bali prevê negociações para a provisão de incentivos à redução de
Na 13ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro (COP-13), emissões por desmatamento e degradação florestal (REDD, da sigla em inglês),
realizada em Bali, em dezembro de 2007, adotou-se um conjunto de decisões bem como discussões sobre o papel de conservação, manejo florestal sustentável
conhecido como “Mapa do Caminho de Bali”, que consolidou as negociações e aumento do estoque de carbono florestal (o chamado “REDD+”). Em Bali,

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as Partes na UNFCCC também adotaram decisão inovadora sobre REDD no que determinou o início imediato de um processo de negociação de novos
órgão subsidiário para assuntos técnicos da Convenção. A decisão encoraja compromissos para as Partes do Anexo I, de acordo com o artigo 3.9 do
as Partes a explorarem ações, incluindo atividades de demonstração, para tratar Protocolo2. Já o AWG-LCA foi criado pelo Plano de Ação de Bali, que
dos vetores de desmatamento com vistas à redução de emissões por instaurou processo a ser concluído até 2009 para assegurar “a implementação
desmatamento e degradação florestal. Ademais, convida as Partes, em particular plena, efetiva e sustentada da Convenção”.
os países desenvolvidos, a mobilizarem recursos para apoiar tais esforços. O mandato do AWG-LCA deveria encerrar-se em 2009. Assim, para
O Plano de Ação de Bali também estabeleceu negociações para o manter o equilíbrio entre os dois trilhos do Mapa do Caminho de Bali, também
aprofundamento de ações de apoio à adaptação. Apesar de terem menor o AWG-KP deveria apresentar resultados concretos até 2009. Esperava-
parcela de responsabilidade histórica pela mudança do clima, os países em se, portanto, que a 15ª Conferência das Partes (COP-15) na UNFCCC e a
desenvolvimento já estão sofrendo impactos das alterações climáticas e 5ª Conferência das Partes como reunião das Partes no Protocolo de Quioto
necessitam de iniciativas urgentes em adaptação. Tais desafios criam (CMP-5), realizadas em Copenhague, em dezembro de 2009, pudessem
necessidades financeiras expressivas, que são adicionais ao desafio do adotar decisões sobre novas metas do Protocolo de Quioto e sobre ações
desenvolvimento econômico e social. cooperativas para a implementação da Convenção.
Os dois outros pilares do Plano de Ação de Bali dizem respeito aos Entre Bali e Copenhague, os dois grupos reuniram-se quatro vezes em
meios de implementação de ações em mitigação e adaptação em países em 2008 (Bangcoc, em abril; Bonn, em junho; Acra, em agosto; e Poznan, em
desenvolvimento, de forma a habilitá-los a oferecer sua contribuição para o dezembro) e seis vezes em 2009 (Bonn, em março, junho e agosto; Bangcoc,
esforço global de combate à mudança do clima. A esse respeito, um dos em setembro; Barcelona, em novembro; e durante a Conferência de
principais desafios das negociações sob o Plano de Ação de Bali é o Copenhague, em dezembro).
estabelecimento de sistema de governança que assegure, de forma transparente
e inclusiva, uma base financeira e tecnológica para ações efetivas de Desafios do Protocolo de Quioto (AWG-KP)
enfrentamento da mudança do clima, conforme previsto na UNFCCC. Tal
sistema também deverá permitir uma adequada gestão e aplicação dos Quanto ao Protocolo de Quioto, o grande desafio na Conferência de
recursos, de forma a gerar condições para o efetivo cumprimento dos Copenhague era acordar o volume de redução de emissões para os países
compromissos estabelecidos pelo regime internacional. do Anexo I. Estes, contudo, relutaram em apresentar metas ambiciosas de
redução de emissões, sem que houvesse definição de compromissos pelos
De Bali a Copenhague Estados Unidos, que não são Parte do Protocolo de Quioto, e das ações a
serem implementadas pelos países em desenvolvimento no âmbito da
Desde Bali, as negociações internacionais são conduzidas no âmbito de Convenção.
dois Grupos de Trabalho Ad Hoc: sobre Compromissos Futuros para as Apenas na 8ª sessão do AWG-KP (Bonn, junho de 2009), os países
Partes do Anexo I sob o Protocolo de Quioto (AWG-KP), e sobre Ações desenvolvidos engajaram-se na discussão sobre o volume de redução de
Cooperativas de Longo Prazo sob a Convenção (AWG-LCA). O Brasil emissões para o segundo período de compromisso do Protocolo. Nessa
ocupou a presidência deste último em 2008, e a vice-presidência em 2009.
O AWG-KP foi criado para implementar a Decisão 1/CMP.11, adotada
na primeira reunião das Partes no Protocolo de Quioto (Montreal, dez/2005), 2
“Commitments for subsequent periods for Parties included in Annex I shall be established in
amendments to Annex B to this Protocol, which shall be adopted in accordance with the provisions
of Article 21, paragraph 7. The Conference of the Parties serving as the meeting of the Parties
1
O texto da Decisão pode ser consultado no endereço http://unfccc.int/documentation/decisions/ to this Protocol shall initiate the consideration of such commitments at least seven years before
items/3597.php the end of the first commitment period referred to in paragraph 1 above [2008-2012]”.

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ocasião, Brasil, África do Sul, China, Índia e mais 32 países em demonstrar ambição condizente com as responsabilidades históricas de
desenvolvimento propuseram, como compromisso de médio prazo (2020) tais países pelo aquecimento global. A maior parte dos desenvolvidos,
para países desenvolvidos, a redução de pelo menos 40% em relação a 1990. contudo, resiste em adotar metas de redução ambiciosas sem que haja
As reduções de cada um dos países do Anexo I seriam definidas segundo definição de compromissos de mitigação proporcionais por parte dos
suas responsabilidades históricas pelo aquecimento do planeta. Estados Unidos e de grandes países em desenvolvimento, como China,
Os países desenvolvidos, por outro lado, defenderam a definição de Índia e Brasil. Revela ainda preferência por um instrumento de
novas metas com base em avaliação interna de custos (lógica “bottom up”). substituição ao Protocolo de Quioto que faça menor distinção entre
Os números apresentados estavam muito abaixo das recomendações do países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Ante os impasses
IPCC, que apontam para necessidade de redução de emissões até 2020, nas negociações sob o AWG-KP, a Conferência de Copenhague
tendo 1990 por base, de 25% a 40% para os países do Anexo I. Entretanto, apresentou poucos avanços em relação à definição de novas metas para
em Copenhague, os números anunciados pelos desenvolvidos apenas gerariam os países desenvolvidos.
redução coletiva de 16% a 23%.
Além do nível inadequado de ambição, as propostas de metas Desafios da Convenção (AWG-LCA)
apresentadas por países desenvolvidos não raramente estavam acompanhadas
por uma série de condições. A União Europeia, por exemplo, apresentou Quanto à UNFCCC, a principal desafio da Conferência de Copenhague
proposta de redução de 20% em 2020 com relação a 1990. Tal número era alcançar entendimento político sobre pontos básicos de cada um dos
poderia chegar a 30%, no caso de compromissos comparáveis por parte pilares do Plano de Ação de Bali, de forma a estabelecer as condições para
outros países desenvolvidos e ações expressivas de países em o aprofundamento do esforço global de combate à mudança do clima.
desenvolvimento. No caso do Japão, a meta de redução em 25% em 2020 No tocante à visão compartilhada sobre ação cooperativa de longo prazo,
estava condicionada à adoção de metas ambiciosas por todas as Partes, países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, defenderam visão
incluindo tanto países desenvolvidos como países em desenvolvimento. compartilhada abrangente, que contemplasse os pilares de mitigação,
Propostas de revisão do Protocolo de Quioto também contribuíram para adaptação, financiamento e tecnologia, incluindo consenso político sobre o
desviar as discussões técnicas da definição de novo período de compromisso nível de apoio financeiro e tecnológico necessário para ações de mitigação e
do Protocolo. Japão, Nova Zelândia e Austrália, por exemplo, propuseram a adaptação.
negociação de novo protocolo, que incluiria obrigações quantificadas de limitação De acordo com o Plano de Ação de Bali, a visão compartilhada também
e redução de emissões para países que não fazem parte do Anexo I. deve incluir objetivo global de longo prazo para redução de emissões. Porém,
A intenção de substituir o Protocolo de Quioto e renegociar as bases do há opiniões divergentes quanto à abrangência do objetivo de longo prazo.
regime internacional de mudança do clima gerou forte indignação por parte Para alguns países, esse objetivo deveria ser definido apenas em termos de
dos países em desenvolvimento. Na última reunião preparatória para aumento na temperatura global. Cumpre registrar que a atuação brasileira foi
Copenhague (Barcelona, Nov/2009) e novamente durante a COP-15, o decisiva para que as 17 maiores economias firmassem, por ocasião da Cúpula
Grupo Africano, em ato de protesto contra o desvio do foco do mandato do do G8 de L’Aquila, em 2009, o compromisso de evitar que o aumento da
AWG-KP, pediu a suspensão de todas as reuniões até que os países temperatura global exceda o limite de 2°C em relação aos níveis pré-industriais.
desenvolvidos apresentassem avanços quanto à definição das novas metas Alguns países, contudo, entendem que o objetivo de longo prazo deveria
de mitigação no âmbito do Protocolo de Quioto. também abarcar, além do limite de aquecimento de 2º C, também a
Para os países em desenvolvimento, como o Brasil, as novas metas concentração máxima de gases de efeito estufa em 450 ppm, o pico para
dos países desenvolvidos precisam não apenas atender adequadamente emissões globais em 2020 e a redução global de 50% das emissões em
às necessidades de combate à mudança do clima, mas também 2050, com relação a 1990. Outros países, como os pequenos Estados

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insulares, defendem limite de 1,5º C para o aumento da temperatura global e É fundamental aproveitar plenamente as oportunidades de mitigação que
concentração máxima de 350 ppm. as atividades florestais oferecem, sobretudo para um país como o Brasil, que
Alguns países desenvolvidos passaram a defender a unificação de ações tem no desmatamento seu principal setor de emissão. Defendemos a geração
de mitigação, ignorando a distinção entre as metas de países desenvolvidos e de fluxos financeiros internacionais para todas as atividades florestais, inclusive
as ações de países em desenvolvimento, estabelecida pela Convenção e para o combate ao desmatamento e conservação. A forma de tais fluxos,
reforçada pelo Plano de Ação de Bali. Buscavam, assim, redefinir as bases contudo, deve se adequar à natureza das atividades, não sendo apropriado o
do regime internacional de mudança do clima, de forma a aumentar as uso, por exemplo, de créditos de carbono para todas. Preocupação central,
obrigações de países em desenvolvimento e, em muitos casos, reduzir as nesse particular, é a busca de soluções que fortaleçam a integridade ambiental
obrigações de países desenvolvidos. do Protocolo de Quioto.
Coube aos países em desenvolvimento manter o foco das negociações A Conferência de Copenhague logrou contrarrestar propostas de
nas principais questões enunciadas pelo Plano de Ação de Bali e a estabelecimento de metas de mitigação para setores produtivos específicos,
comparabilidade plena entre as metas dos países do Anexo I sob o Protocolo como no caso da agricultura. A discussão sobre abordagem setorial vem
de Quioto e os compromissos de redução a serem adotados pelos países sendo promovida principalmente por países desenvolvidos, como alternativa
desenvolvidos que não são Parte do Protocolo, como os EUA. No que aos compromissos nacionais para reduzir as emissões de gases de efeito
concerne à mitigação por parte de países em desenvolvimento, defenderam a estufa. Contudo, o Plano de Ação de Bali (subparágrafo 1.b.iv) direciona a
apresentação voluntária de ações apropriadas às condições nacionais discussão sobre abordagem setorial à promoção de pesquisa,
(NAMAs), a serem registradas internacionalmente juntamente com o apoio desenvolvimento, aplicação, difusão e transferência de tecnologias mais limpas,
internacional recebido para sua implementação. O Brasil muito contribuiu de forma a aprofundar a implementação do artigo 4.1.(c) da UNFCCC3.
para a articulação e defesa da posição dos países em desenvolvimento, tendo Em Copenhague, por iniciativa do Brasil, adotou-se enfoque em transferência
atuado, desde a COP-14 (Poznan, dezembro de 2008), como coordenador de tecnologias para o tratamento de abordagens setoriais no setor agrícola,
do G-77/China nas negociações sobre mitigação no AWG-LCA. de acordo com o mandato conferido pelo Plano de Ação de Bali.
No que tange à mitigação no setor florestal, o AWG-LCA logrou Por outro lado, no caso do setor de transporte internacional, não foi
avançar, por ocasião da COP-15, entendimentos sobre a criação de possível avançar convergência em Copenhague. Alguns países em
moldura para a provisão de incentivos à redução de emissões por desenvolvimento mostraram-se resistentes ao tratamento de transporte
desmatamento e degradação florestal (REDD). Em Copenhague, foi internacional no âmbito da Convenção, uma vez que o tema já é tratado no
possível alcançar maior convergência sobre princípios que devem nortear artigo 2.2 do Protocolo de Quioto.4 Países desenvolvidos defenderam
o tratamento de REDD, como sua contribuição para o desenvolvimento abordagem setorial para o tratamento de combustível de navios e aeronaves
sustentável, a promoção de ampla participação de países em utilizados no transporte internacional (bunker fuels), tendo em vista as
desenvolvimento, a natureza voluntária das ações e a característica de dificuldades para atribuir aos países as emissões oriundas do setor. Na busca
ser country-driven e oferecer contribuição para o objetivo último da
Convenção: a estabilização da concentração de gases de efeito estufa na 3
“All Parties, taking into account their common but differentiated responsibilities and their
atmosfera em nível que impeça interferência antrópica perigosa no sistema specific national and regional development priorities, objectives and circumstances, shall (…)
climático. Alcançou-se, ademais, maior reconhecimento quanto à (c) Promote and cooperate in the development, application and diffusion, including transfer, of
necessidade de se gerar fluxos financeiros internacionais para todas as technologies, practices and processes that control, reduce or prevent anthropogenic emissions
of greenhouse gases not controlled by the Montreal Protocol in all relevant sectors, including
atividades florestais incluídas no chamado REDD+ (desmatamento, the energy, transport, industry, agriculture, forestry and waste management sectors”.
4
degradação florestal, conservação, manejo florestal sustentável e aumento “the Parties included in Annex I shall pursue limitation or reduction of emissions of greenhouse
gases (...) from aviation and marine bunker fuels, working through the International Civil
do estoque de carbono florestal). Aviation Organization and the International Maritime Organization, respectively.”

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de soluções de compromisso, alguns países em desenvolvimento, como o enfrentamento da mudança do clima. O Fundo Global para o Meio Ambiente
Brasil, destacaram a importância de se preservar, em qualquer âmbito onde (GEF) atua como um mecanismo financeiro da UNFCCC e tem destinado
sejam tratadas emissões, os princípios da UNFCCC, que regem mudança cerca US$ 250 milhões anuais para projetos de mitigação, quantia
do clima como um todo, inclusive o de responsabilidades comuns, porém significativamente inferior às necessidades de financiamento para o
diferenciadas. enfrentamento da mudança do clima, estimadas pelo Secretariado da
Outro importante tema de discussão na Conferência de Copenhague foi UNFCCC em mais de $200 bilhões de dólares anuais.
o tratamento do comércio internacional. Alguns países desenvolvidos, como O G77/China apresentou, em 2008, proposta de mecanismo financeiro
os EUA, têm considerado a possibilidade de aplicar ajustes fiscais de fronteira para a Convenção, que se destinaria a ações de mitigação e adaptação em
(border tax adjustments) à importação de produtos e serviços de “alta países em desenvolvimento. O nível de financiamento do mecanismo seria
emissão” de gases de efeito estufa. Tais iniciativas já geravam forte reação de 0.5% a 1% do produto nacional bruto dos países que são Partes do
no G77/China antes da COP-15, pelo interesse comum dos países em Anexo I da Convenção. Tal proposta tem como base o artigo 4.3 da
desenvolvimento em evitar medidas restritivas aplicadas ao comércio com Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
base em argumentos de mitigação, por estarem em desacordo com o artigo (UNFCCC), segundo o qual cabe aos países desenvolvidos prover recursos
3.5 da UNFCCC5. Em Copenhague, o Brasil atuou no sentido de estabelecer financeiros novos e adicionais para cobrir custos incorridos por países em
consistência entre os regimes de comércio e de mudança do clima. desenvolvimento no cumprimento de suas obrigações sob a Convenção.
Na COP-15, as discussões sobre adaptação refletiram as visões Lembre-se que, segundo o artigo 4.7, a abrangência das ações levadas a
divergentes entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os primeiros cabo por países em desenvolvimento dependerá diretamente do cumprimento
enfatizaram a importância de incentivar atividades de preparação e das obrigações de financiamento e transferência de tecnologia dos países
planejamento das ações de adaptação; os segundos defenderam a criação desenvolvidos.
de moldura para adaptação sob o amparo da Convenção, que incluísse Países desenvolvidos, por outro lado, enfatizaram o papel de mecanismos
recursos financeiros novos e significativos para os países em desenvolvimento. de mercado e de soluções inovadoras para gerar fluxos financeiros mais
Na área de transferência de tecnologia, o Brasil e o G77/China expressivos. Um exemplo de solução inovadora foi a chamada “Proposta
enfatizaram a necessidade de ações governamentais para viabilizar o Norueguesa”, que prevê a canalização de recursos por meio de leilões dos
desenvolvimento, a transferência e a difusão de tecnologias limpas. Tais ações direitos de emissões dos países desenvolvidos. Não se chegou a acordo
abarcariam a utilização de financiamento público para a aquisição de sobre novo arranjo institucional para o provimento de recursos financeiros.
tecnologias, a flexibilização de direitos de propriedade intelectual e a criação Esse impasse prevaleceu nas negociações técnicas do AWG-LCA e do
de centros para o desenvolvimento de tecnologia limpa. Os países AWG-KP em Copenhague. No tocante ao Plano de Ação de Bali, as
desenvolvidos, contudo, preferiram enfatizar mecanismos de mercado para a conhecidas divergências entre países desenvolvidos e países em
transferência de tecnologias e resistiram a qualquer proposta de flexibilização desenvolvimento, sobretudo no tratamento de temas como mitigação e
de direitos de propriedade intelectual. financiamento, não foram superadas; países desenvolvidos apresentaram
Na área de financiamento, buscou-se assegurar que a Convenção se posições sabidamente inaceitáveis para o G-77/China, como a universalização
torne capaz de estimular e canalizar recursos adequados e suficientes para o de compromissos de mitigação. A despeito de algum progresso, como o
relativo avanço no tratamento de florestas e agricultura, a característica de
“pacote” da negociação do AWG-LCA impediu o consenso final em torno
5
“as Partes devem cooperar para promover um sistema econômico internacional favorável e de qualquer de seus componentes no âmbito dos grupos técnicos.
aberto conducente ao crescimento e ao desenvolvimento econômico sustentáveis de todas as
Partes, em especial de países em desenvolvimento (...) as medidas adotadas para combater a O Brasil teve papel de destaque na busca pelo consenso em Copenhague.
mudança do clima, inclusive unilaterais, não devem constituir meio de discriminação arbitrária O Presidente da República ressaltou durante o evento o compromisso do
ou injustificável ou restrição velada ao comércio internacional.”

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País com o desfecho exitoso da Conferência de Copenhague. Reforçou a agricultura, energia e siderurgia, podem levar, estima-se, ao referido desvio
decisão do país de implementar ações voluntárias de mitigação, de forma a de 36,1% a 38.9% em relação à curva de crescimento normal das emissões
reduzir as emissões brasileiras projetadas para 2020 em 36,1% a 38,9%, a brasileiras ao longo da próxima década.
despeito do custo financeiro que isto representará para o País.
Para resolver os impasses em nível técnico em Copenhague, foram Contribuição do Brasil para o Combate à Mudança do Clima
realizadas consultas de alto nível, conduzidas por grupo limitado de Estados,
incluindo os países do chamado grupo BASIC (Brasil, África do Sul, Índia, O Brasil tem demonstrado a importância que atribui ao enfrentamento
China), Estados Unidos e representação de grupos regionais e países da mudança do clima e a disposição de implementar ações de mitigação
vulneráveis. Tais consultas geraram texto – o “Acordo de Copenhague” – ainda mais expressivas, contribuindo para o esforço global de redução de
que foi apresentado como projeto de decisão da Conferência das Partes. emissões. Considera ainda que para os países desenvolvidos, tal esforço
Em plenária, não foi possível alcançar consenso para a adoção do documento, deva se traduzir em metas de redução legalmente vinculantes e ambiciosas,
e a Conferência das Partes se limitou a tomar nota do Acordo de Copenhague. que sejam válidas para o conjunto de suas economias. Do Brasil e demais
O Acordo de Copenhague foi o encaminhamento possível. Ainda que países em desenvolvimento, o que se espera – e o que estamos dispostos a
esteja aquém do nível de ambição brasileiro, apresenta elementos positivos, fazer – é um esforço de redução da curva de crescimento de emissões.
como o objetivo de limitar o aumento da temperatura média global em até O Brasil é país de matriz limpa e, portanto, já tem economia de baixo
2°C e a indicação de financiamento para combate à mudança do clima em carbono. O perfil brasileiro de emissões de CO2 é o oposto do perfil global,
países em desenvolvimento da ordem de 30 bilhões de dólares para o período já que a maioria das emissões nacionais provém dos usos da terra. Nosso
de 2010 a 2012. Estabelece, além disso, compromisso coletivo de países principal desafio é a redução do desmatamento, objetivo constante do Plano
desenvolvidos para a mobilização de 100 bilhões de dólares anuais até 2020, de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia. De
oriundos de fontes variadas de financiamento, tanto públicas como privadas. acordo com o INPE, o desmatamento na Amazônia caiu em 45% no período
O Brasil desempenhou papel ativo nas negociações do Acordo de compreendido entre agosto de 2008 e julho de 2009, atingindo a menor taxa
Copenhague e considera que os entendimentos políticos logrados nesse de desmatamento nos últimos 20 anos.
documento poderão contribuir para avançar as negociações sob o AWG- Outra demonstração do empenho de mitigação nacional em bases
LCA e AWG-KP, foro legítimo de negociação, cujos mandatos foram voluntárias é o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, de dezembro de
prorrogados pela Conferência de Copenhague, na expectativa de que se 2008, cujos objetivos incluem a redução do desmatamento ilegal e o estímulo
concluam as negociações sobre o segundo período de compromisso do à reorientação econômica da região florestada. A meta é reduzir o
Protocolo de Quioto e sobre o Plano de Ação de Bali na 16ª Conferência desmatamento em 40%, entre 2006 e 2009, em relação à média registrada
das Partes, a realizar-se em dezembro de 2010, no México. entre 1996 e 2005, e 30% nos dois quadriênios seguintes, 2010-2013 e
O Acordo de Copenhague previu que, até 31 de janeiro de 2010, os 2014-2017.
países do Anexo I deveriam registrar suas metas de redução de emissões até Um terceiro exemplo do compromisso brasileiro com o enfrentamento
2020 e os países que não são Partes do Anexo I (países em desenvolvimento), da mudança do clima é a Política Nacional sobre Mudança do Clima, aprovada
como o Brasil, deveriam informar as ações nacionais de redução de emissões pelo Congresso Nacional em dezembro de 2009. A Lei 12.187/2009
que tencionam executar. Até o prazo estabelecido, mais de 55 países já estabelece o compromisso voluntário de redução de emissões que implicará
haviam apresentado seus compromissos e ações de redução de emissões. O desvio de 36,1% a 38.9% em relação à curva projetada de crescimento das
Brasil incluiu-se nesse grupo de países, tendo informado ao Secretariado da emissões brasileiras até 2020.
UNFCCC as ações de mitigação nacionalmente adequadas que o Governo Em 2008, foi lançado o Fundo Amazônia, fundo financeiro privado que
brasileiro pretende implementar. Tais ações, nas áreas de desmatamento, visa a captar doações, no Brasil e no exterior, a fim de reduzir as emissões de

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MUDANÇA DO CLIMA: DA RIO-92 A COPENHAGUE VERA BARROUIN MACHADO

gases de efeito estufa decorrentes do desmatamento na Amazônia. A iniciativa continuará a buscar o engajamento de todos os países interessados na
representa desdobramento da proposta brasileira, apresentada durante a construção de um regime justo, equitativo e eficaz de combate à mudança do
COP-12 (Nairóbi, 2006), de oferecer incentivos positivos para a redução clima.
de emissões por desmatamento em países em desenvolvimento. Tal mecanismo
tem como base doação de recursos; não gera, portanto, créditos de carbono
em troca de investimentos. Por outro lado, tem como contrapartida redução
comprovada de emissões por países em desenvolvimento.
No plano internacional, temos contribuído significativamente para a
construção e o aprimoramento do regime de combate à mudança do clima,
com uma série de iniciativas amplamente reconhecidas: a proposta que gerou
o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo no Protocolo de Quioto; o modelo
para determinar a responsabilidade histórica dos países pelo aumento da
temperatura média do planeta; a abordagem de “dois trilhos” lançada em
2005 e empregada no Mapa do Caminho de Bali; e a proposta de provisão
de incentivos financeiros para redução das emissões por desmatamento em
países em desenvolvimento.
Orientado pelos parâmetros definidos pela UNFCCC, o Brasil participou
de diversos espaços de diálogo político, como o Fórum das Maiores
Economias (MEF), iniciativa do Presidente Barack Obama, que deu
continuidade ao MEM (Major Economies Meetings), lançado em 2007
pelo então Presidente George W. Bush. Outro exemplo de atuação construtiva
foi o diálogo entre Brasil e França, que resultou na Posição Franco-Brasileira
sobre Mudança do Clima, divulgada em novembro de 2009. Ao indicar
importantes elementos consensuais entre um país em desenvolvimento e um
país desenvolvido, com circunstâncias nacionais e regionais distintas, a
iniciativa franco-brasileira buscou facilitar o estabelecimento de pontes entre
dos diferentes blocos e grupos de negociação, com vistas a alcançar
entendimentos comuns em Copenhague.
Durante a COP-15, a estreita coordenação, entre Brasil, África do Sul,
Índia e China (BASIC) desempenhou papel central na busca por soluções
consensuais. Criado em 2007, o BASIC consiste em grupo informal de
coordenação sobre mudança do clima, que se reúne regularmente à margem
das negociações sob a UNFCCC.
Zelando pelos princípios da inclusão e participação, o Brasil sempre
defendeu a UNFCCC como único instrumento jurídico legítimo de negociação,
cabendo a outros foros de discussão facilitar o aprofundamento do diálogo
político entre as Partes na UNFCC. A atuação internacional do Brasil

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