DA SECA A CARIÚS/CE:
TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
VITÓRIA - ES
2010
FACULDADE BRASILEIRA
o
Credenciada pela Portaria/MEC N 259 de 11.02.1999 – D.O.U. de 17.02.1999
ATA DE APRESENTAÇÃO DE TFG – CURSO DE Ora formalmente divulgado ao(à) aluno (a) e aos demais
ARQUITETURA E URBANISMO participantes, e eu
O(A) aluno(a) ______________________________________________, na
qualidade de Presidente da Banca, lavrei a presente Ata que
_________________________________________________
será assinada por mim, pelos demais membros e pelo (a)
__ do ____º período do curso de Arquitetura e Urbanismo,
aluno (a) apresentadora do trabalho.
apresentou e defendeu o Projeto Final de Graduação, como
elemento curricular indispensável à colação de grau de Vitória, ____ de _____________ de 2010
Arquiteto e Urbanista, tendo como título do Trabalho:
___________________________________
_________________________________________________
Profª. Arq.
______________________ .
A Banca Examinadora, reunida em sessão reservada, ___________________________________
Convidado (a)
deliberou e decidiu pelo resultado
1
_________________________________________ ___________________________________
2 Convidado (a)
_________________________________________
3
_________________________________________ 1. Observações:
Média Final Banca: _______________________________ __________________________________________
Nota da Pré Banca:_______________________________ __________________________________________
Média Final TFG: (Nota Pré Banca + Nota __________________________________________
__________________________________________
Banca):______________
__________________________________________
__________________________________________
Rua José Alves, 301, Goiabeiras – Vitória, ES - CEP: 29075-080 – Tel: (0xx27) 3327-1500.
CGC: 01.936.248/0001-21 - E-mail: embrae.vix@terra.com.br – www.univix.br
AGRADECIMENTOS
A minha mãe companheira de viagem, que se não fosse pelas suas raízes,
não teria dado inicio a este trabalho.
Figura 001 – Seca na Paraíba .............................................021 Figura 012 – Detalhe no oitão que relata o ano de sua
construção .......................................................................... 033
Figura 002 – Localização de Icó, Sobral e Aracati no Ceará e
trajetória de fuga dos índios ................................................023 Figura 013 – Cena do filme “Lágrimas de Vela” que relata a
história dos sobreviventes do “curral” em Senador
Figura 003 – Fotografia de uma família de flagelados em uma
Pompeu ............................................................................... 033
estação ferroviária do Ceará ...............................................024
Figura 014 – Face longitudinal do casarão ......................... 033
Figura 004 – Açude do Cedro em 1906 e ao Fundo a pedra
Galinha Choca, Quixadá/CE................................................025 Figura 015 e 016 – Observa-se as características do interior
da construção e a má condição do patrimônio .................... 024
Figura 005 – Açude do Cedro hoje (2010), Quixadá/CE .....026
Figura 017 – Retirantes, Candido Portinari, 1944 ............... 034
Figura 006 – Localização do Açude do Cedro e a sede de
Quixadá/CE .........................................................................026 Figura 018 – Estados que abrigam o Polígono das
Secas .................................................................................. 035
Figura 007 – Condições atuais das construções elevadas no
acampamento em Quixadá/CE ............................................027 Figura 019 – Localização do rio Cariús e Jaguaribe em
Cariús/CE ............................................................................ 037
Figura 008 – Edificação estruturada em alvenaria
maciça .................................................................................027 Figura 020 – Ponte pênsil estruturada com cabos de aço e
ripas de madeira. Com vista para o Bairro Acampamento e ao
Figura 009 – Um dos galpões onde eram guardados os
fundo pela esquerda a casa do engenheiro mestre ............ 038
materiais de construção.......................................................028
Figura 021 – Rio Cariús hoje, parcialmente seco. Estrada
Figura 010 – Interior do imóvel atualmente, localizado no
onde estava localizada a ponte pênsil, ao fundo o antigo
antigo acampamento de Quixadá/CE ..................................028
Bairro Acampamento, 2010 ................................................ 039
Figura 011 – Casarão construído em 1923, sede do campo de
Figura 022 – Resquícios das casas dos engenheiros no Bairro
concentração em Senador Pompeu/CE ..............................033
Acampamento no início do século XXI................................ 039
Figura 023 – Hospital do IFOCS. Atualmente residência da Almoxarifado/Escritório e ao lado a Rua da Vila com as casas
Drª Luisa Angélica Sales, 2010 ...........................................039 dos operários, [19--] ............................................................ 042
Figura 024 – Antiga Gerência do IFOCS. Atualmente Figura 032 – Estação de trem em meados do século XX ... 043
residência, [20--] ..................................................................040
Figura 033 – Estação de trem hoje como Hospital Municipal,
Figura 025 – Antiga casa do médico sediando a Agência 2010 .................................................................................... 043
Postal-telegráfica, [195-] ......................................................040
Figura 034 – Área da firma Montenegro. Ao fundo a estação
Figura 026 – Vila do Prado com o antigo Hospital à direita e de trem ................................................................................ 044
ao final da rua, na mesma calçada, a casa do médico atuando
Figura 035 – Proximidade dos galpões da firma com o ramal
como a Agência Postal-telegráfica. Meados do
de trem, década 1930 ......................................................... 044
século XX ............................................................................040
Figura 036 – Estocagem da produção algodoeira, década
Figura 027 – À esquerda, Praça República atualmente. À
1930 .................................................................................... 044
direita, antiga Gerência do IFOCS seguida do antigo Hospital
e da casa do médico, 2010..................................................040 Figura 037 – Galpões atualmente, parcialmente deteriorados,
2010 .................................................................................... 045
Figura 028 – Rua da Vila atualmente com as antigas casas
dos operários, 2010 .............................................................041 Figura 038 – Primeira bandeira do município Cariús em
1968 .................................................................................... 045
Figura 029 – Antiga Rua Barbadiana com algumas
residências da época, 2010 .................................................041 Figura 039 – Rua coberta pelas águas do rio em 1974 ...... 046
Figura 030 – Almoxarifado do IFOCS, atualmente residência, Figura 040 – Manchas nas paredes dos edifícios que indicam
2010.....................................................................................041 até onde a água subiu dentro da cidade, 1974 ................... 046
Figura 031 – Foto panorâmica de Poço dos Paus. Ao fundo o Figura 041 – Trágica conseqüência na zona rural do
Bairro Acampamento com o casarão do chefe e as município em 1974 .............................................................. 046
residências dos engenheiros e topógrafos. Mais a frente o
Figura 042 – Foto aérea indicando os rios Jaguaribe e Cariús. Figura 052 – Apresentação do coral “Pequenos Cantores de
À esquerda a cidade de Jucás banhada pelo rio Jaguaribe e a Deus” na varanda do Casarão em 2007 ............................. 054
sede da cidade de Cariús (à direita) banhada pelo rio Cariús,
Figura 053 – Cena da via Sacra de 2009 em frente ao
que deságua no rio Jaguaribe ao norte de Cariús, 2010. Sem
Casarão .............................................................................. 055
escala ..................................................................................047
Figura 054 – Funcionária francesa da TAM entregando
Figura 043 e 044 – Aproximação das fotos aéreas de Jucás (à
presentes para as crianças de Cariús em 2008 .................. 055
esquerda) e Cariús (à direita), 2010. Sem escala ...............048
Figura 055 – Árvore de natal feita com garrafas pet inteiras,
Figura 045 – Mapa básico de Cariús, 2010 .........................049
no centro da Praça República em Cariús, 2009 .................. 056
Figura 046 – Alunos reunidos em frente ao Casarão que
Figura 056 e 057 – Bonecos de neve e Papai Noel feitos de
sediava o Grupo Escola Adahil Barreto. Meados do
rosas com garrafa pet, 2009] .............................................. 056
século XX ............................................................................052
Figura 058 – Logotipo do Instituto Mandacaru .................... 056
Figura 047 – Atual sede da Escola Adahil Barreto,
2010.....................................................................................052 Figura 059 – Cronologia do Casarão .................................. 057
Figura 048 – Casarão quando sediou a Câmara Municipal de Figura 060 – Rio Jaguaribe em Orós com os imóveis do
Cariús no início da década de 1970 ....................................053 hospital e residência médica as margens do mesmo,
[19--].................................................................................... 059
Figura 049 – Câmara Municipal de Cariús no início da década
de 1970, vizinha ao Casarão ...............................................053 Figura 061 – Vista parcial do Acampamento, [19--] ............ 059
Figura 050 – Câmara Municipal atualmente, sem muitas Figura 062 – Caminho percorrido em busca das construções
alterações, 2010 ..................................................................053 do DNOCS .......................................................................... 060
Figura 051 – Projeto Linhas e Rendas no grande salão do Figura 063 – Implantação das construções do IFOCS em
Casarão, 2006 .....................................................................054 Poço dos Paus, 2010 .......................................................... 061
Figura 064 – Implantação das construções do IFOCS em Figura 073 – Detalhe da elevação da residência dos
Lima Campos, 2010.............................................................062 engenheiros, 2010 .............................................................. 066
Figura 065 – Edificação utilizada pelo engenheiro mestre, Figura 074 – Recuo da entrada principal da residência
[19--] ....................................................................................063 proporcionando uma varanda lateral, 2010 ......................... 067
Figura 066 – Fachada frontal do engenheiro mestre no Bairro Figura 075 – Pequeno muro que divide a residência,
Acampamento de Poço dos Paus .......................................063 2010 .................................................................................... 067
Figura 067 – Detalhe da parede em tijolo maciço deitado de Figura 076 – Detalhe das janelas, 2010.............................. 067
uma das residências dos engenheiros no Bairro
Figura 077 – Residência geminada dos engenheiros
Acampamento de Poço dos Paus, [200-] ............................064
atualmente em Lima Campos, 2010 ................................... 068
Figura 068 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros
Figura 078 – Fachada frontal da residência geminada dos
disposto com somente a varanda frontal, [200-] ..................065
engenheiros de Lima Campos ............................................ 068
Figura 069 – Fachada principal da residência menor dos
Figura 079 – Imóveis onde moravam os operários brancos na
engenheiros no Bairro Acampamento de Poço dos
Rua da Vila em Poço dos Paus, [200-] ............................... 068
Paus ....................................................................................065
Figura 080 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros
Figura 070 – Outro imóvel dos engenheiros composto por
disposto com somente a varanda frontal, 2010................... 069
varandas lateral e frontal, [200-] ..........................................065
Figura 081 – Residência dos operários brancos na Rua da
Figura 071 – Fachada frontal da residência dos engenheiros
Vila com um novo anexo criado à esquerda descaracterizando
no Bairro Acampamento de Poço dos Paus ........................065
o imóvel, 2010 ..................................................................... 069
Figura 072 – Disposição dos imóveis utilizados pelos
Figura 082 – Fachada frontal da residência geminada dos
prováveis engenheiros no aclive em Lima Campos,
operários de Poço dos Paus ............................................... 069
2010.....................................................................................066
Figura 083 – Rua Barbadiana atualmente com espaço em Figura 092 – Fachada frontal da residência dos operários no
comum das antigas residências dos operários, 2010 ..........070 aclive ................................................................................... 073
Figura 084 – Outro espaço em comum das residências dos Figura 093 – Fachada frontal da residência dos operários em
operários barbadianos, 2010 ...............................................070 terreno plano ....................................................................... 073
Figura 085 – Residência dos operários negros na Rua Figura 094 – Disposição das residências da Vila Modelo em
Barbadiana já descaracterizadas, somente com a estrutura Orós, 19[--] .......................................................................... 074
original (mantendo a volumetria), 2010 ...............................071
Figura 095 – Disposição das residências atualmente na Vila
Figura 086 – Outra residência dos operários negros Modelo em Orós, 2010........................................................ 074
observada na Rua Barbadiana, 2010 ..................................071
Figuras 096 e 097 – Uma das residências com poucas
Figura 087 – Rua em aclive na Vila Operária, atualmente descaracterizações, ainda presente os afastamentos laterais
chamada de Vila DNOCS em Orós, com algumas residências e um dos acessos em 2010 ................................................ 075
descaracterizadas, 2010......................................................071
Figura 098 – Fachada frontal da Vila Modelo de Orós ........ 075
Figura 088 – Residências dos antigos operários localizadas
Figura 099 – Estado atual da antiga residência do médico
em terreno plano, [19--] .......................................................072
com algumas descaracterizações, 2010 ............................. 075
Figura 089 – Presença de afastamento frontal e a elevação da
Figura 100 – Estado atual da antiga residência do médico,
construção com uma pequena escada não original,
2010 .................................................................................... 076
2010.....................................................................................072
Figura 101 e 102 – Placa de identificação do DNOCS
Figura 090 – Afastamento frontal evidenciando a mureta,
atualmente na residência e pedra da alvenaria original
2010.....................................................................................073
retirada da edificação .......................................................... 076
Figura 091 – Uma das residências na antiga Vila Operária,
Figura 103 – Residência do médico ainda original.............. 076
com descaracterização somente dos tipos de esquadrias,
2010.....................................................................................073
Figura 104 – Fachada frontal da residência médica de Poço Figura 117 – Gerência do IFOCS atualmente como
dos Paus..............................................................................076 residência, 2010 .................................................................. 080
Figura 105 – Implantação do Almoxarifado/Escritório com uma Figura 118 – Fachada frontal da Gerência do IFOCS em Poço
grande área livre a frente.....................................................077 dos Paus ............................................................................. 080
Figura 106 – Detalhe do coroamento da edificação. Vergas Figura 119 – Administração americana em Orós, [19--]...... 081
modificadas, 2010 ...............................................................077
Figura 120 – Fachada frontal da Administração americana de
Figura 107 e 108 – Detalhe das portas na fachada principal Orós .................................................................................... 081
com arcos abatidos a esquerda e a via à direita do
Figura 121 – Alinhamento das construções. A antiga
Almoxarifado/Escritório que segue até o rio Cariús,
residência do médico à frente, seguida do antigo Hospital
2010.....................................................................................078
e Gerência do IFOCS, 2010 ................................................ 082
Figura 109 e 110 – Placas de identificação do DNOCS no
Figura 122 – Perfil do antigo Hospital atualmente, 2010 ..... 082
antigo Almoxarifado/Escritório .............................................078
Figura 123 – Detalhes da janela com postigo liso, original do
Figura 111 – Almoxarifado/Escritório atualmente, 2010 ......078
imóvel, 2010 ........................................................................ 083
Figura 112 – Fachada frontal do Almoxarifado/Escritório de
Figuras 124 e 125 – Placas de identificação do DNOCS no
Poço dos Paus ....................................................................078
antigo Hospital .................................................................... 083
Figura 113 – Antiga Gerência do IFOC S mais a frente com
Figura 126 – Antigo Hospital em Poço dos Paus no ano de
o antigo Hospital ao fundo, 2010 .........................................079
2010 como residência ......................................................... 083
Figura 114 – Antiga Gerência do IFOCS, 2010 ...................079
Figura 127 – Fachada frontal do Hospital de Poço dos
Figura 115 e 116 – À esquerda o detalhe da escada em forma Paus .................................................................................... 083
de trapézio, [200-]. À direita o recuo na entrada, 2010 ........080
Figura 128 – Antigo Hospital de Lima Campos atualmente
abandonado, 2010 .............................................................. 084
Figura 129 – Detalhe da elevação da construção e inclinação Figura 139 – O Hospital alguns anos depois de sua
do terreno, 2010 ..................................................................084 construção no ano de 1922. Ainda sem o anexo que fora
construído a esquerda do edifício na década de 1930........ 091
Figura 130 – Presença da base de pedras na escada,
2010.....................................................................................084 Figura 140 e 141 – À esquerda o alto pé direito ainda mantido
na atual residência da Dra Luisa Angélica Sales. À direita a
Figura 131 – Varanda frontal com disposição das jardineiras
presença de varanda disposta por colunas, fachada por onde
no guarda-corpo, 2010 ........................................................085
era feito o acesso ................................................................ 092
Figura 132 – Palco nos fundos do interior do imóvel,
Figura 142 – Antigo Hotel Pilão em chamas em 2003 ........ 097
2010.....................................................................................085
Figura 143 – O casarão reconstruído, [200-] ...................... 097
Figura 133 – Cabine de projeção acima da entrada principal
no interior do imóvel, 2010 ..................................................085 Figura 144 – Castelo de Garcia D’Ávila atualmente ............ 098
Figura 134 – Antigo Hospital e Cineclube de Lima Figura 145 – Vista aera do Castelo de Garcia D’Ávila ........ 098
Campos ...............................................................................086
Figura 146 – Capela conservada e a ruína do castelo ........ 098
Figura 135 – Fachada frontal do Hospital de Lima
Figura 147 – Exemplo de restaurações em uma edificação
Campos ...............................................................................086
com estrutura bem conservada, utilizando a Instância Estética
Figura 136 – Bangalô de 1916 construído em Sacramento, e Histórica ........................................................................... 099
Califórnia/EUA .....................................................................089
Figura 148 – Exemplo de restaurações com uma edificação
Figura 137 – Vegetação no afastamento frontal. Bangalô em ruína, utilizando a Instância Estética e Histórica ........... 099
californiano de 1914 construído em Victoria/Canadá
Figura 149 – Cartaz do CIAM.............................................. 102
importado de Califórnia/EUA ...............................................090
Figura 150 – Local original dos templos .............................. 103
Figura 138 – Detalhe da elevação da edificação. Bangalô
construído em Sacramento, Califórnia/EUA ........................090 Figura 151 – Templos de Templo de Ramsés II e sua esposa
preferida Neferetari ............................................................. 104
Figura 152 e 153 – Imagens representativas em 3D Figura 165 – Pequeno depósito, 2010 ................................ 115
demonstrando a volumetria original da edificação ...............110
Figura 166 – Parede elevada no final do antigo corredor de
Figura 154 – Casarão recém reformado, em destaque sua acesso principal, 2010 ........................................................ 115
forma em “L” em 2002 .........................................................110
Figura 167 – Banheiro da suíte master. A porta principal
Figura 155 e 156 – Fachada posterior do Casarão antes (ano originalmente estava localizada onde está a atual báscula,
de 2001) e depois da intervenção [ca. 2002/2003] ..............111 2010 .................................................................................... 115
Figura 157 - Capinação antes da intervenção em 2001 ......111 Figura 168 – Adições de paredes ....................................... 116
Figura 158 – Lavanderia acrescentada na fachada posterior Figura 169 – Antigo pequeno banheiro no corpo original no
do imóvel, 2010 ...................................................................112 ano de 2001 ........................................................................ 117
Figura 159 – Edificações interligadas, 2010 ........................112 Figura 170 – Antigo banheiro, hoje como depósito,
2010 .................................................................................... 117
Figura 160 – Pequena residência interligada ao Casarão
pelas varandas, 2010 ..........................................................112 6 Figura 171 – Banheiro maior antes da reforma em 2001 .... 118
Figura 161 – Piscina e deck coberto acrescentado alguns Figura 172 – Banheiro maior depois da reforma, 2006 ....... 118
anos após a intervenção, na área posterior do terreno do
Figura 173 – Modificações nos antigos banheiros
Casarão, 2010 .....................................................................113
existentes ............................................................................ 118
Figura 162 – Salão de eventos, localizado ao lado da piscina,
Figura 174 – Detalhe da coluna de concreto em forma de “U”,
2010.....................................................................................113
2010 .................................................................................... 119
Figura 163 – Parte do salão de eventos e garagem coberta
Figura 175 e 176 – Colunas construídas na reforma em 2006
com duas vagas em 2006 ....................................................113
e à direita como estão atualmente, 2010 ............................ 119
Figura 164 – Localização das edificações
Figura 177 – Colunas de concreto com adaptação de um
acrescentadas .....................................................................114
pequeno depósito, 2010...................................................... 120
Figura 178 – Três colunas suportando duas tesouras na suíte Figura 191 – Piso atualmente revestido com cerâmica e
master construídas em 2006 ...............................................120 portas com soleira, 2010 ..................................................... 126
Figura 179 e 180 – Barra de ferro presa por anéis na tesoura, Figura 192 – Árvore frondosa na área frontal do terreno em
2010.....................................................................................121 200 ...................................................................................... 127
Figura 181 – Paredes de alvenaria escondendo as colunas de Figura 193 – Parte do muro que divide o Casarão da Câmara
concreto, 2010 .....................................................................121 Municipal parcialmente destruído pela árvore, 2001 ........... 127
Figura 182 – Sala íntima criada pelas paredes que escondem Figura 194 – Jardim atualmente, 2010................................ 128
as colunas, 2010 .................................................................121
Figura 195 e 196 – Muro frontal do imóvel durante sua
Figura 183 – Viga em diagonal, 2010 ..................................122 construção em 2001 e depois de pronto, 2003 ................... 128
Figura 184 – Adições de viga e colunas de sustentação .....123 Figura 197 – Portão de ferro para passagem de veículos,
[200-] ................................................................................... 129
Figura 185 – Antigo fogão à lenha encontrado em 2001 no
interior da edificação............................................................124 Figura 198 – Fachada lateral por onde estava localizada a
antiga escada de acesso principal. Atualmente para acesso
Figura 186 – Antiga cozinha e atualmente como sala de estar,
de veículos, 2006 ................................................................ 129
2010.....................................................................................124
Figura 199 – Guarda-corpo parcialmente elevado, com a
Figura 187 – Tijolo da alvenaria aparente, 2001 .................125
escada prestes a ser retirada em 2001 ............................... 130
Figura 188 – Piso de madeira aroeira encontrado na suíte
Figura 200 – Drª Angélica e sua família na antiga escada
master, antigo grande salão em 2001 .................................125
localizada entre o copo original e o anexo acrescentado,
Figura 189 – Detalhe dos barrotes na suíte master, 2001 .................................................................................... 130
2003.....................................................................................126
Figura 201 – Escada atual com adição de guarda-copos.
Figura 190 – Detalhe dos barrotes no piso do corredor no ano Acesso principal a residência, 2001 .................................... 131
de 2003................................................................................126
Figura 202 – Marcação no piso para registro da antiga Figura 214 – Detalhe das novas telhas postas como canal,
escada, 2001 .......................................................................131 para substituir as faltantes, 2010 ........................................ 136
Figura 203 e 204 – Original fogão a lenha restaurado, Figura 215 – Detalhe das novas telhas, 2010 ..................... 136
2010.....................................................................................132
Figura 216 – Iluminação natural durante o dia na suíte master,
Figura 205 – Detalhe da chaminé do fogão a lenha, 2010 .................................................................................... 137
2010.....................................................................................132
Figura 217 – Detalhes do antigo forro na atual suíte master
Figura 206 – Caixa d’água durante sua restauração. Nota-se em 2001 .............................................................................. 137
o aumento de meio metro ainda visível,
Figura 218 – Detalhes do antigo forro no atual quarto de
[ca. 2001/2002] ....................................................................132
visitas, 2001 ........................................................................ 137
Figura 207 – Caixa d’água depois da restauração,
Figura 219 – Estrutura de madeira o qual o forro era preso na
2010.....................................................................................133
atual suíte master, e acima a cobertura da edificação com as
Figura 208 – Localização da caixa d’água e fogão a telhas sendo retiradas em 2001 .......................................... 138
lenha ....................................................................................133 6
Figura 220 – Armário da copa feito com o reaproveitamento
Figura 209 e 210 – Elemento encontrado nas das madeiras da cobertura, [200-] ...................................... 138
escavações..........................................................................134
Figura 221 e 222 – Porta antes da limpeza com ninho de
Figura 211 – Fachada posterior, quase sem resquícios de cupins (ano de 2001) e depois restaurada e pintada com tinta
telhas na cobertura. Condições em que a edificação foi a óleo em 2010 ................................................................... 139
encontrada em 2001 ............................................................134
Figura 223 e 224 – Janela do banheiro social com teias de
Figura 212 – Outro perfil da fachada posterior com somente aranha (em 2001) e após a limpeza pintada com tinta a óleo,
algumas telhas restantes, 2001 ...........................................135 2010 .................................................................................... 139
Figura 225 e 226 – Semelhanças das janelas, à esquerda Figura 239 – À esquerda a porta original de acesso lateral
Janelas da copa situada no anexo, e à direita imagem (vista pelo interior do imóvel, 2001), e à direita a atual porta
da janela do corpo original, 2010 .........................................140 que foi substituída pela antiga (vista pelo exterior),
2010 .................................................................................... 144
Figura 227 e 228 – Recuo da janela antes da intervenção em
2001 e o mesmo mantido após a mesma em 2006 .............140 Figura 240 e 241 – À esquerda a antiga porta do anexo [197-],
à direita o vão interno deixado ao retirar o elemento,
Figura 229 – Preenchimento do peitoril das janelas,
2006 .................................................................................... 144
2010.....................................................................................141
Figura 242 – Vão das janelas removidas na suíte de visitas,
Figura 230 – Recuo do peitoril mantido somente nas janelas
2010 .................................................................................... 145
da copa, 2010 ......................................................................141
Figura 243 e 244 – À esquerda a janela original do antigo
Figura 231 – Fachada frontal ainda com todas as janelas
lavabo (2001), e à direita a atual báscula fixa substituída pela
originais, [19--] .....................................................................141
antiga janela, 2010 .............................................................. 145
Figura 232 – Alterações nas esquadrias da fachada principal,
Figura 245 – Janela da sala íntima mantida no exterior do
2001.....................................................................................141
imóvel, 2010 ........................................................................ 146
Figura 233 e 234 – Janela da fachada frontal do corpo original
Figura 246 – Janela da sala íntima fechada por dentro,
adaptada para se transformar em uma porta, 2001 ............142
2010 .................................................................................... 146
Figura 235 – Janela retomada ao seu estado original,
Figura 247 – Duas janelas do quarto de visitas mantidas no
2010.....................................................................................142
exterior do imóvel, 2010 ...................................................... 146
Figura 236 e 237 – À esquerda a antiga porta acrescentada
Figura 248 – Duas janelas do quarto de visitas fechadas por
em alguma época do imóvel (2001), à direita a nova porta
dentro .................................................................................. 146
substituída pela antiga, 2010 ...............................................143
Este trabalho de graduação trata da análise de intervenção Tal levantamento admitiu a criação de uma tipologia própria
realizada em um imóvel aqui denominado de Casarão, em para as construções do DNOCS da mesma época, além do
Cariús (antigamente conhecido como Poço dos Paus), uma reconhecimento de suas origens americanas nos bangalôs,
cidadezinha no interior do Ceará na década de 1920. devido aos operários estrangeiros que trabalharam no açude.
Tal edificação foi construída pelo governo, através do DNOCS Esta metodologia favoreceu na análise dos procedimentos
(Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) que executados pela atual moradora, Drª Angélica Sales. As
contratou empresas estrangeiras para empreitar açudes no intervenções foram examinadas através de fundamentações
interior dos estados nordestinos onde a seca era mais teóricas e Cartas Patrimoniais, após o que foi avaliada a
intensa. pertinência dos procedimentos adotados.
8. ANEXOS .....................................................................156
Restaurar uma edificação não é somente preencher os vazios Cariús contada através de entrevistas com os moradores
e reparar os bens danificados, e sim preservar tanto seu mais antigos, além das pesquisas bibliográficas.
passado e sua história quanto a construção (estrutura) em si,
Em seguida, o 3º capítulo apresenta o Casarão, contando sua
revelando os valores estéticos e históricos levando em
cronologia. Devido à falta de documentos, a história do imóvel
consideração o material original e os registros documentados.
Também se deve levar em conta a integração das novas é contada baseada apenas em entrevista com habitantes
partes com as antigas de forma harmônica. Tais locais e funcionários que trabalharam no Casarão nas
incorporações devem possuir linguagem da arquitetura atual diversas funções abrigadas pelo edifício ao longo dos anos.
de maneira que não falsifiquem a edificação. Isso tudo só é Entre eles o Sr. José Ferreira, ex-presidente da Câmara
possível se antes tivermos conhecimento da sua história e do Municipal de Cariús, a professora Diva Targino, a Sra. Joniza
Sales, Drª Luisa Angélica Sales, entre outros.
local onde está localizada.
Com os argumentos citados acima o tema deste trabalho será Esta trajetória histórica do imóvel será essencial para poder
baseado na restauração do Casarão localizado no município desenvolver uma análise tipológica das construções do
DNOCS. Isto é possível através de pesquisa de campo na
de Cariús, interior do Ceará, conhecida como uma edificação
região onde se encontra o Casarão, a região Centro Sul (Vale
de grande valor histórico, educacional, político e cultural para
o município pela comunidade da região. do Salgado) do Ceará, em busca de informações não
somente em Cariús, mas também em outras duas cidades
Para abordar este assunto, o restauro, foi necessário seguir (Icó e Orós) e um distrito (Lima Campos da cidade de Orós).
uma linha de raciocínio, contando seu passado, para poder
Esta pesquisa se baseou na procura de edificações
entender como chegou ao seu estado atual, podendo assim,
trabalhar com uma base de informações sólida. construídas pelo DNOCS, através de firmas estrangeiras, na
época da construção dos açudes nas cidades, para que fosse
Inicialmente, no 2º capítulo foi abordada a cronologia das possível desenvolver um parâmetro arquitetônico entre essas
secas no nordeste, principalmente no Ceará, que levou ao construções do DNOCS.
desenvolvimento de planos contra a seca, sendo uma delas o
atual DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as No entanto, não foi possível trabalhar com os dados colhidos
da cidade de Icó devido às construções elevadas pelo
Secas), o que levou ao surgimento e trajetória histórica de
DNOCS serem mais recentes (ano de 1973) e construídas por Por intermédio destes elementos serão levantados
uma empresa brasileira. Já a cidade de Orós e seu distrito argumentos sobre as compatibilidades, incompatibilidades e
Lima Campos* têm origem na década de 1920 e 1930 e foram questões alternativas em relação aos procedimentos
edificadas por empresas estrangeiras, assim como em Cariús. tomados, além de apresentar o que poderia ser melhorado ou
feito de outro modo.
Todavia, através das informações colidas, é feita uma
busca da origem deste parâmetro, encontrados nos bangalôs O objetivo principal e essencial deste trabalho consiste em
californianos com alguns traços semelhantes, podendo assim, relembrar e trazer a vida novamente à história quase
comparar as características arquitetônicas. esquecida de Cariús. Ao apresentar a cidade e o projeto de
restauração, tende-se a abrir caminhos para que pessoas
As bases utilizadas para analisar as feitorias no imóvel leigas ao assunto tenham mais interesse sobre a história de
aplicadas pela Drª. Angélica foram explicadas no 4º capítulo. sua cidade ou outra de referências marcantes.
Entre eles está o teórico Cesare Brandi, e documentos como
a Carta Patrimonial de Burra e de Veneza. A meta é despertar o estudo de centros históricos, edificações
antigas que possuem uma vasta e rica trajetória, abrangendo
No capítulo seguinte a analise é incrementada com o material diferentes métodos de pesquisa e estudos, podendo assim,
didático “Técnicas Básicas de Conservação e Restauração” apresentar soluções tomadas em cada caso. Esta
ensinadas na disciplina de Técnicas e Retrospectivas II pela competência enriquece o status do local analisado e também
professora Viviane Pimentel.
impem que a história seja esquecida e patrimônios sejam
___________ destruídos, prejudicados ou desfigurados.
DA SECA A CARIÚS
2
CAPITULO 02
DA SECA A CARIÚS
21
Hoje, a seca é um cenário constante na vida dos nordestinos Já no século XVII e início do século XVIII a seca abrange todo
tendo seus primeiros registros antes do império português. o território nordestino, com alguns episódios em destaque
como no caso da capitania de Pernambuco em 1692 onde,
No século XVI estes colonizadores foram atraídos pelas belas
segundo relatos de Frei Vicente do Salvador, índios foragidos
planícies e ótima vegetação rasteira das caatingas no se reuniram em grandes grupos para avançar sobre as
nordeste, propícias a pastagem mantendo uma visão no fazendas situadas as margens dos rios a procura de
desenvolvimento da pecuária e também na agropecuária com alimentos (AMIGOS DO BEM, [20--]).
a plantação de cana e algodão em altitudes que somente a
chuva poderia regar. Devido a tais características favoráveis
ao desenvolvimento da zona rural, não era de se esperar por
uma catástrofe natural, a seca (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO,
1922, p. 57).
2.1. Seca no Ceará Após a crise nos engenhos, os sertanejos começam a obter
esperanças no intervalo de aproximadamente meio século
sem registros alarmantes de secas no sertão, quando um
A dolorosa experiência da seca deixou rastros e cicatrizes surto de varíola em 1776 devastou quase todo o perímetro
pela história da região nordeste. São grandes os relatos de nordestino, seguido de outra seca em 1777 conhecida como
fome, sede, perda de produção agrícola e pecuária que “a seca dos três setes”. Coincidentemente, com a falta de
conseqüentemente causaram uma destruição massiva na chuva a epidemia de varíola se alastra até 1778. Como
população. conseqüência a Corte Portuguesa ordenou que os flagelados
fossem reunidos nas margens dos rios repartindo, entre si, as
Pode-se considerar que o estado que mais sofreu com esses terras adjacentes (AMIGOS DO BEM, [20--]). De acordo com
acontecimentos foi o Ceará, devido ao seu vasto histórico de os registros no acervo do DNOCS2 citados por Jaqueline
episódios de secas com no mínimo oito1 casos registrados de Cordeiro (2010), cerca de 7/8 do rebanho bovino foi perdido e
estiagem entre o século XVIII até os dias atuais. Seu início morrendo mais da metade da população nordestina.
significativo na década de 1720 atingiu não só a província do
Ceará como também seu vizinho, o Rio Grande do Norte. Contudo, era de se esperar que a seca não desse trégua aos
Poucos anos depois, ocorreu outra seca, porém em escala nordestinos. Em 1791, pouco mais de uma década após a
maior, devastando engenhos e matando de fome não apenas seca dos três setes, a denominada Grande Seca tornou a vida
o gado e animais domésticos, mas também quase todos os no sertão mais difícil. Transformou a população cearense em
escravos da região nordeste. Segundo relatos do historiador pedintes, desde os homens às crianças (CORDEIRO, 2010).
Irineu Pinto, os fiscais da Câmara pediram ao rei de Portugal No litoral nordeste do Ceará, em Aracati, ocorreu um
que mandasse mais escravos para trabalharem nos alastramento da peste de varíola e, devido à grande
engenhos, pois os que habitavam a região, por um triz, não aglomeração de famintos dos sertões, cerca de 600 pessoas
pereceram por completo (AMIGOS DO BEM, [20--]). foram a óbito. Os índios que ali residiam, e não pereceram,
____________ ____________
1
Pesquisa/conclusão da autora, mediante observações dos registros 2
constantes nos sites da internet. DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.
Legenda
fugiram para os estados ao oeste do Ceará, movendo-se em
Vilas mais afetadas pela seca
direção ao interior do Piauí e Maranhão, restando apenas 1 – Trecho do Rio Acaraú
uma pequena população indígena (CORDEIRO, 2010). 2 – Trecho do Rio Jaguaribe
PARÁ Trajetória dos índios
a grande seca seguiu seu rumo no Ceará. Até sete anos após
PIAUÍ PARAÍBA
a lástima dominar os sertanejos, o assunto ainda era
queixado pela Câmara de Vereadores de Icó através da carta
PERNAMBUCO
enviada ao príncipe regente D. João no início do ano de 1801,
narrando a miséria em que seguia a vila durante os dois anos ALAGOAS
de estiagem: TOCANTINS PARAÍBA
SERGIPE
Daquelle ainda não visto castigo, os brados
da pobreza, os gemidos dos que tinhão o Figura 002 – Localização de Icó, Sobral e Aracati no Ceará e trajetória de
impróprio nome de ricos, a dissolução dos fuga dos índios.
Povos, e dos animaes, a consternação dos Fonte: Acervo pessoal.
racionaes viventes (...) se arojam a comer
toda, e qualquer (...) ave immunda que fose Após grandes incidentes de secas durante três séculos desde
a carne dos mesmos, as raixes das arvores, seus primeiros registros, é somente no início do século XIX
com que se intranhão em grandes males que surgiram as primeiras iniciativas do governo para apoio
[SIC].
(VIEIRA JUNIOR, [20--], p.04) aos flagelados, com a criação de organizações, instituições e
comissões de caráter administrativo.
A primeira organização com intuito de dar assistências às A seca de 1877 a 1879 devastou vilas inteiras, carregando
vítimas da seca e socorrer a pobreza incentivando o cultivo da consigo gado, crianças, mulheres, idosos e plantações,
mandioca no país foi a Pia Sociedade Agrícola estabelecida deixando um rastro de 500 mil mortes na região, sendo 200
pelo governador da Paraíba, Luis da Mota Fêo em 24 de mil delas só no Ceará. Dos 800 mil habitantes cearenses 15%
outubro de 1802 - devido à sensibilidade da capitania (PB) à migraram para Amazonas e 8,5% foram para outros estados,
última grande seca. Foi ordenada então a plantação de alguns se deslocavam para lugares distantes. Fortaleza foi
duzentas mil covas de mandioca alcançando lucros até 1804 extremamente devastada e cerca da metade da população
(NASCIMENTO FILHO, 2008). morreu (AMIGOS DO BEM, [20--]).
para a população e implantação de sistemas de irrigação para Todavia, a comissão foi reestruturada novamente e, em 1889,
a agricultura no interior da província. Com esse objetivo foi foram feitas algumas modificações no projeto original do
criada uma das primeiras comissões formada por engenheiros açude, elaboradas pelo engenheiro Ulrico Mursa da Comissão
e cientistas, que baseados em iniciativas de estudos e de Açudes e Irrigação. As obras então foram iniciadas em 15
pesquisas, propuseram a construção de açudes para de novembro de 1890, sob a nova direção do engenheiro
retenção de águas pluviais e canal de ligação para os campos Bernardo Piquet Carneiro e após várias suspensões da
próximos. Chefiada pelo engenheiro austríaco Julius Pinkas, a construção, a barragem pode ser finalmente finalizada em
coletiva da comissão desembarcou em Fortaleza no dia 12 de 1906 (WIKIPÉDIA, 2010).
janeiro de 1878. Após analises do território, foram
determinados a construção de 30 açudes e de sistemas de Hoje o Açude do Cedro, além de ser encarregado de prover
irrigação nas províncias do Ceará (COSTA, 2001, p. 173). as redes de irrigação, propõe locais para pesca, prática de
esportes e banho.
Contudo, a única construção iniciada pela Comissão de
Açudes e Irrigação (mais tarde, o atual DNOCS) foi o Açude
do Cedro localizado em Quixadá, interior do Ceará, local
indicado pelo engenheiro Ernesto Antônio Lassance Cunha e
confirmado pelo engenheiro britânico Jules Jean Revy, sendo
este encarregado de executar o projeto original em 1882
(WIKIPÉDIA, 2010).
QUIXADÁ
AÇUDE SEDE
CEDRO QUIXADÁ
quilômetros da sede do município de Quixadá, como se pode Fonte: Intervenções no mapa: Acervo Pessoal.
observar nas figuras 007 a 009. Porém, vale ressaltar que
algumas edificações eram direcionadas para hospedagem, e
outros casarões servia como galpões para o
____________
3
IOCS – Criada através do Decreto Nº 7.619 em 21 de outubro de 1909.
promulgada em 1909 pelo Presidente da República, Nilo atual Jucás. Com o passar do tempo a vila passou a ser
Peçanha. Segundo Fritsch (1990), citado por Pomponet denominada Cariús, localidade que abriga o objeto de estudo
(2009, p. 59) a inspetoria foi criada na “era de ouro” da deste trabalho (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1912a, p. 06).
Primeira República, quando o país estava proporcionando
grandes obras de infraestrutura, tais como portos e ferrovias. Para que os projetos de caráter público fossem executados,
foi necessária uma concorrência pública entre as empresas
Com sede em Fortaleza, o IOCS proporcionava estudos, interessadas visando o menor custo. A sessão para o açude
planejamentos e obras contra as conseqüências das secas na do Poço dos Paus foi aberta na sede do IOCS, em Fortaleza,
região nordeste do Brasil. Seus serviços eram executados de com duração de um mês, tendo início dez dias após a
acordo com a urgência da área, sendo dos mais variados aprovação inicial do Presidente (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO,
possíveis, promovendo infraestrutura de todos os efeitos: 1912b, p. 29).
estradas de ferro; vias de comunicação entre flagelados,
mercados e centro de produtores; açudes de pequeno, médio Grande parte das concorrências foi feita da mesma maneira,
e grande porte; poços tubulares e artesianos; canais de como no caso do açude do Caio Prado, hoje sendo município
do Ceará, com a concorrência finalizada juntamente com o
irrigação; barragens transversais e submersas; drenagem de
açude do Poço dos Paus. Tal fato também pode ser verificado
vales; estações pluviométricas, estudos das condições
em outras partes da região nordeste. O açude da Serrinha
meteorológicas, geológicas e topográficas das zonas
pertencente ao município Serra Talhada, finalizado no mesmo
assoladas; conservação das florestas; além de outros contra
os efeitos das secas (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1909, p. ano, é um exemplo (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1912c p.
02). 26).
Com intuito de acelerar o processo de construção de açudes Porém a prosperidade do IOCS, sob os decretos do
e poços nas regiões mais condenadas pelas secas, no dia 18 presidente Venceslau Brás, não foi muito além,
de outubro de 1912, é aprovado pelo Presidente da supostamente, devido ao alto custo na execução dos açudes.
No ano de 1914 somente 42 poços haviam sido escavados,
República, Hermes da Fonseca, o projeto e orçamento
propostos pelo IOCS para construção do açude na Vila Poço sendo que 33 deles eram privados e apenas 9 públicos
dos Paus - Ceará, antigo distrito do município de São Mateus, (VILLA, 2000, apud POMPONET, 2009, p. 59). Mas o
principal vilão foi a seca de 1915 que novamente arrasou a
região nordeste. Junto à estiagem foi introduzido o primeiro 1915 onde a própria família de Rachel foi obrigada a fugir do
campo de concentração no Ceará, situado em Alagadiço a Ceará. Em trechos do livro, dois dos personagens principais,
oeste de Fortaleza (CORDEIRO, 2010). Conceição e Vicente, dialogam sobre o campo de
concentração erguido nesta época. Em seu conto, a escritora
Devido à massiva miséria em que os flagelados se Rachel relembra que o curral chegou a aglomerar cerca de 8
encontravam, era de se esperar que vítimas encurraladas mil flagelados da seca (SÁ, [20--]).
pela seca se alastrassem por todo o estado cearense. Para
evitar um reprise da seca de 1877, onde mais de 110 mil Em 1919, quando Epitácio Pessoa ascende à presidência da
sertanejos famintos tomaram conta das ruas de Fortaleza, as República, a seca na região nordeste é administrada em
autoridades tomaram providencias para que os "mulambudos” maior escala, visando propostas de açudes, barragens e
do sertão, assim chamados, não chegassem à capital do escavação de poços com a finalidade de reservar água pluvial
estado, aterrorizando, saqueando trazendo moléstia e sujeira para épocas de grandes estiagens. A grande quantidade de
como davam parecer nos boletins do poder público da época máquinas e equipamentos importados de Nova York e
(SÁ, [20--]). desembarcados em Fortaleza era prova de que finalmente os
nordestinos iriam ter um mecanismo de defesa contra os
Com essa meta, foi criado pelos governos estadual e federal, efeitos das secas (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1922, p. 60).
o campo de concentração, onde as famílias eram isoladas
das cidades e sob vigilância de soldados foram mantidas Em meados do mesmo ano, a Inspetoria de Obras Contra as
neste recinto com um pouco de água e comida. Todavia a Seca - IOCS recebe o nome de Inspetoria Federal de Obras
média de mortalidade dos flagelados chegava a 150 por dia e Contra as Seca – IFOCS4 através do decreto promulgado por
a acumulação dos famintos e a putrefação dos mesmos era Epitácio Pessoa (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1919, p. 101-
absurdamente grande, tanto que o governo estadual foi 109), seguido da lei que instituiu a Caixa Especial das Obras
obrigado a dispersar os prisioneiros em 18 de dezembro do
mesmo ano (SÁ, [20--]).
de Irrigação no Nordeste5 garantindo o financiamento Porém o insucesso foi inevitável. A execução dos serviços
necessário para início das obras (DIÁRIO OFICIAL DA pedia um orçamento muito superior ao que foi inicialmente
UNIÃO, 1923, p. 51). estipulado, e em 1923 algumas obras foram paralisadas,
outras tiveram que restringir suas atividades. Em outros
Após garantir a verba, Epitácio aprovou as cláusulas, em casos, as que já estavam quase concluídas, foram finalizadas
1920, que autorizaram o IFOCS a contratar empresas (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1924, p. 63).
estrangeiras para as grandes construções de barragens e
canais de irrigação no nordeste, iniciadas em: Gargalheira e Em relação às construções no estado do Ceará, as obras que
Parelhas no Rio Grande do Norte pela empresa inglesa (com tiveram os trabalhos suspensos foram as de Poço dos Paus,
sede em Londres) C. H. Walker & Co. Ltd. 6 (DIÁRIO OFICIAL Patú e Quixeramobim (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1924, p.
DA UNIÃO, 1920, p. 02); Orós e Poço dos Paus no Ceará e 63), entretanto foi concluída quase toda a infraestrutura para
São Gonçalo e Piranhas na Paraíba designando a empresa a implantação dos acampamentos, tais como a construção de
americana Dwight P. Robinson & Co. Inc.7 (DIÁRIO OFICIAL casas para os trabalhadores, administradores e homens de
DA UNIÃO, 1920, p. 04); Acarape (iniciada em 1910, mas “categoria”, casas de oficinas e depósito de materiais.
quase concluída), Quixeramobim e Patú no Ceará pela
Além da infraestrutura, em Poço dos Paus e Quixeramobim
empresa inglesa Norton Griffiths& Co. Ltd.8 (DIÁRIO OFICIAL
DA UNIÃO, 1920, p. 06). foram concluídas as casas que abrigam os geradores de força
e somente em Poço dos Paus é garantido o registro de
____________ abastecimento de água no acampamento (DIÁRIO OFICIAL
5
DA UNIÃO, 1922, p. 60, 61).
A Caixa Especial autorizava o Governo Federal a adquirir empréstimos
no exterior com um certo limite. Regulamentada pela Lei 3.965 em 25 de Já em Acarape as construções foram prosseguidas e
dezembro em 1919.
finalizadas somente em 19249 (DNOCS, [20--]a) e em Orós
6
Aprovada pelo Decreto Nº 14.433 em 22 de outubro de 1920. foram concluídas em 196110 (DNOCS, [20--]b).
7
Aprovada pelo Decreto Nº 14.434 em 22 de outubro de 1920. A desmotivação das famílias locais proporcionada pelas
8 estiagens, também ajudou na redução de verba para as obras
Aprovada pelo Decreto Nº 14.435 em 22 de outubro de 1920.
contra as secas. Contudo em 1925, segundo Fritsch (1990),
citado por Pomponet (2009, p. 60) o sucessor de Epitácio relatos que afirmam a promessa não cumprida de água e
Pessoa, Artur Bernardes, propôs uma redução de despesas, comida para os flagelados no campo de concentração do
desamparando os investimentos na região nordeste. Crato, onde o a quantidade de mortos por dia chegou a cerca
de 200 pessoas devido à fome e doenças. Segundo
Então novamente a estiagem assola o Nordeste em 1932 e o
estatísticas oficiais, dos 73918 flagelados aprisionados nos
movimento dos sertanejos foi feito em direção às grandes “currais”, 16200 foram confinados em Crato, 28648 em
cidades. Com função de bloquear os flagelados até a capital, Cariús, 16221 em Senador Pompeu, 6507 em Ipu, 4542 em
os campos de concentração, os chamados “Currais do Quixeramobim, 1800 em Fortaleza Sá ([20--]) .
Governo”9, são reutilizados, porém neste caso o campo não
foi só implantado em Alagadiço (Fortaleza), mas também em Nesta época algumas construções feitas para apoio dos
outras cidades com estrutura básica e estação de trem, sendo operários dos açudes, serviram como sedes dos campos de
alastrados Ppor todo estado do Ceará: Pirambu (em concentração no Ceará, tal como a antiga vila em Senador
Fortaleza, conhecido como Campo do Urubu), Senador Pompeu. Os casarões do antigo acampamento foram
Pompeu, Quixadá, Quixeramobim, Cariús, Ipu e Crato. Os construídos em 1919 pelos trabalhadores ingleses que
flagelados recebiam comida, cuidados e podiam trabalhar em operavam na construção do açude na região (ROCHA, 2008).
obras sob vigia dos soldados, porém não evitou a mortalidade Embora não sejam encontrados documentos oficiais que
dos sertanejos devido às condições desumanas nos “currais” afirmam quais imóveis foram utilizados para tal propósito,
(CORDEIRO, 2010). ainda se podem observar as ruínas destas construções no
município, como no caso do resquício de um casarão
Entretanto, no livro Campos de Concentração no Ceará: construído em 1923 representado nas figuras 011 a 016.
Isolamento e Poder na Seca de 1932, da historiadora Kênia
Souza Rios (2001), citados por Sá ([20--]) são encontrados
____________
9
Currais do Governo – Nome dado vulgarmente aos campos de
concentração, devido às condições precárias e o modo como os humanos
eram tratados pelos soldados do governo, feito animais encurralados.
Figura 013 – Cena do filme “Lágrimas de Vela” que relata a história dos
Figura 011 – Casarão construído em 1923, sede do campo de sobreviventes do “curral” em Senador Pompeu.
concentração em Senador Pompeu/CE. Disponível em:
Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82817432>. Acesso <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=515480>. Acesso
em: 9 jul. 2010. em: 16 jun. 2010.
Figura 012 – Detalhe no oitão que relata o ano de sua construção. Figura 014 – Face longitudinal do casarão.
Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82823198>. Acesso Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82823197>. Acesso
em: 9 jul. 2010. em: 9 jul. 2010.
Devido a repetidas e prolongadas crises de estiagem durante Para uma nova reformulação do IFOCS, o Presidente da
séculos em praticamente todos os municípios dos estados do República José Linhares em dezembro de 1945, adota um
nordeste, incluindo o norte de Minas Gerais, esta área ficou novo nome para a Inspetoria, tornando-se finalmente em
conhecida como Polígono das Secas em 1936, sendo foco de Departamento Nacional de Obras Contra as Secas –
atenção especial pelo Poder Público em 1.877 municípios DNOCS10, hoje sendo o atual nome, administrando uma nova
(SUDENE). estrutura para o Departamento que mais tarde, em 1963, se
transforma em uma autarquia federal independente do poder
central (DNOCS, [20--]c).
Somente uma década depois a taxa de mortalidade, devido à 2.2. Cariús – Trajetória
estiagem no nordeste brasileiro, foi reduzida drasticamente.
Contudo 11% da população migrou procurando uma
qualidade de vida melhor. Tentando fugir da miséria, fome, (...) para construirmos o futuro precisamos
sede e principalmente das crises provocadas pelas secas que conhecer o passado. (...) Registrar fatos do
assolavam qualquer flagelado do sertão nordestino fossem presente para que mais adiante os ávidos
neo-cariuenses tenham fontes de
homens, mulheres, crianças ou idosos (CORDEIRO, 2010).
informações sobre tópicos de uma
civilização passada, incrementando desta
forma, a cultural, a alta estima e a cidadania.
(...) sempre que possível editaremos fatos
atinentes a personalidades que glorificaram
nossa terra, buscando restabelecer a nossa
história, para que estranhos que não
conhecem nosso passado, nem o nosso
povo, possam compreender que a nossa
gente tem orgulho de pertencer a essa terra.
(JORNAL FOLHA DO MUQUÉM, 2000, p. 01)
____________
11
Cariús – Nome indígena tupi que significa “Rio de Cari”, ou seja, peixe
de água doce. Mas segundo relatos de Tomaz Pompeu Sobrinho, possui
sentido de “água saindo do mato”.
Figura 021 – Rio Cariús hoje, parcialmente seco. Estrada onde estava
localizada a ponte pênsil, ao fundo o antigo Bairro Acampamento, 2010.
Fonte: Acervo.
____________
Figura 022 – Resquícios das casas dos engenheiros no Bairro
13
Acampamento no início do século XXI. Instituto Mandacaru – ONG (Órgão Não Governamental) criada em
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. novembro de 2003 com objetivo de combater a exclusão social.
Figura 025 – Antiga casa do médico sediando a Agência Postal- Figura 027 – À esquerda, Praça República atualmente. À direita, antiga
telegráfica, [195-]. Gerência do IFOCS seguida do antigo Hospital e da casa do médico,
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 028 – Rua da Vila atualmente com as antigas casas dos operários,
2010. Figura 030 – Almoxarifado do IFOCS, atualmente residência, 2010.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. Fonte: Acervo pessoal.
Figura 031 – Foto panorâmica de Poço dos Paus. Ao fundo o Bairro Acampamento com o casarão do chefe e as residências dos engenheiros e topógrafos.
Mais a frente o Almoxarifado/Escritório e ao lado a Rua da Vila com as casas dos operários, [19--].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Segundo o morador José Ferreira, ex-presidente da Câmara Figura 038 – Primeira bandeira do município Cariús em 1968.
Municipal, durante anos a população da cidade lutou pela Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
emancipação do distrito através de comitês para elevar a vila
em município do Ceará. Embora Cariús esteja localizada no Polígono das Secas
sendo vítima de várias crises de estiagens durantes séculos,
Em 22 de Novembro de 1951, através da Lei 1153/51, Poço os efeitos também podem ser o inverso. Como ocorreu em
dos Paus é desmembrada da cidade de São Mateus, se 1974, um dos maiores casos de enchentes no município.
erguendo à categoria de município. Mas é somente em 25 de Relatos de moradores que vivenciaram o acontecimento
março de 1955 que a formação oficial da Câmara Municipal é alegam que as elevações das águas dos rios Jaguaribe e
instalada já com o novo nome de Cariús, elegendo como Cariús foram tão violentas que balançaram a ponte pênsil,
primeiro prefeito o Sr. Silvestre Almeida Duarte (IBGE, 1959). feita de cabos de aço, até carregá-la correnteza a fora.
Figura 040 – Manchas nas paredes dos edifícios que indicam até onde a
água subiu dentro da cidade, 1974.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
____________
14
Taipa - Antiga técnica construtiva em que a paredes eram constituídas
de entrelaçamento de madeiras verticais e horizontais amarradas umas as Figura 041 – Trágica conseqüência na zona rural do município em 1974.
outras com cipó e preenchidas com barro. Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 042 – Foto aérea indicando os rios Jaguaribe e Cariús. À esquerda a cidade de Jucás banhada pelo rio Jaguaribe e a sede da cidade de Cariús (à
direita) banhada pelo rio Cariús, que deságua no rio Jaguaribe ao norte de Cariús, 2010. Sem escala.
Fonte: Google Earth. Acesso em: 25 de jun. de 2010.
Figura 043 e 044 – Aproximação das fotos aéreas de Jucás (à esquerda) e Cariús (à direita), 2010. Sem escala.
Fonte: Google Earth. Acesso em: 25 de jun. de 2010.
O CASARÃO E A
ARQUITETURA DO DNOCS 3
CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
51
3.1. Trajetória do Casarão sendo a praça mais importante da sede de Cariús, a Praça
República.
1938 mudou-se para o Casarão, convidando a amiga Diva Posteriormente, o Grupo Escola Adahil Barreto foi instalado
Targino para lecionar juntamente na futura sede da escola em uma nova sede próximo ao Casarão, onde mantém suas
que passou a se chamar Escola Reunida. atividade até os dias atuais (fig. 047).
Figura 048 – Casarão quando sediou a Câmara Municipal de Cariús no O ano de 1974 foi marcado pela grande enchente em Cariús,
início da década de 1970. quando transbordaram o rio Cariús e o rio Jaguaribe,
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. deixando as famílias das regiões mais baixas desabrigadas.
Entretanto, pelo Casarão ser uma construção elevada e das
mais altas da cidade, o imóvel foi uma das edificações que
serviu de abrigo para os flagelados durante março a começo
de maio daquele ano.
Já de 1998 a 2001, o imóvel foi mantido como residência Cristo, onde o Casarão foi utilizado como camarim para o
somente dos filhos de José Antonio e Maria Alcides. Após a elenco da peça (fig. 053).
desocupação, o Casarão foi deixado em péssimo estado de
conservação com rachaduras, deterioramento da cobertura e
vários danos no interior da edificação. Contudo, em julho
2001 é iniciada a restauração realizada pela Dra. Luisa
Angélica Sales que veio a residir no imóvel em março de
2003, após a conclusão das obras juntamente com seu irmão,
Dr. Lourenço Oliver Sales.
Figura 053 – Cena da via Sacra de 2009 em frente ao Casarão. Figura 054 – Funcionária francesa da TAM entregando presentes para as
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. crianças de Cariús em 2008.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Os atos beneficentes continuam ao longo dos anos.
Funcionários da Companhia aérea TAM de Paris, há três Neste último natal (2009) ocorreu o Sonho de Natal, onde o
anos, se hospedam no Casarão para os preparativos da instituto proporcionou um projeto inovador utilizando cerca de
campanha Natal Feliz que, promovida pelo Instituto 10.000 garrafas pet para ambientar a Praça República criando
Mandacaru, pela fundação Otacílio Correia e pela Brazilian uma grande árvore, um Papai Noel, quatro bonecos de neve,
Mission16, distribuem presentes para crianças carentes em quatrocentas luminárias e três velas (fig. 055 a 057). Não
Cariús e em outros municípios da região do Cariri (fig. 054). somente os moradores de Cariús apreciaram a decoração,
mas também as cidades vizinhas como Jucás, Iguatu,
____________ Saboeiro e Varzea Alegre.
16
Brazilian Mission – Organização não-governamental fundada por
cearenses que residem em Miami, Estados Unidos da América.
Figura 056 e 057 – Bonecos de neve e Papai Noel feitos de rosas com
garrafa pet, 2009]. Figura 058 – Logotipo do Instituto Mandacaru.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Residência de A Escolas Reunidas passou a Abrigou flagelados Sede do MOBRAL e Início da restauração
Maximinio, se chamar Grupo Escolar, da enchente que residência do presidente feita pela Dra. Luisa
interventor de depois em Grupo Escolar transbordou os rios da comissão do projeto, Angélica Sales
Jucás, quando Adahil Barreto dando Jaguaribe e Cariús o Sr. José Antonio, sua
Cariús ainda era continuidade a residência de esposa Profª Maria
distrito de Jucás D. Luizinha Alcides da Silva e seus
filhos
Início década
1922 a 1924 1938 1974 a 1982 1998 a 2001 2003
de 1970
Março: Residência
da Dra. Luisa
Escolas Reunidas de Cariús Angélica Sales e Dr.
Hospital Lourenço Oliver
e residência de D. Luizinha
construído pelo Residência de D. Sales.
(escreveu para Getúlio
atual DNOCS, Cotinha, D. Sônia, D. Residência dos filhos
Vargas solicitando o Novembro:
funcionando até Câmara Municipal Jesuína e D. Maria de José Antonio e
casarão para a Escola e Fundação e sede do
1924 de Cariús Pequena Maria Alcides
sua residência) Instituto Mandacaru
3.2. Análise tipológica das construções do DNOCS agrupados na Rua da Vila com os funcionários brancos e a
Rua Barbadiana para os negros.
engenheiros e o agrupamento do hospital com a residência construídas para os operários, funcionários da construtora ou
médica, além das residências do acampamento (fig. 061). apenas habitantes da região. Este método de implantação
Entretanto, na pesquisa de campo pela cidade de Orós, não também visou distinguir a hierarquia dos envolvidos no
foi possível obter informações atuais sobre a existência ordenamento da vila, porém não foi possível situar a
dessas construções na cidade, somente que, a Casa de implantação das construções nesta cidade para este trabalho,
Hóspedes ainda está em funcionamento. devido a falta de informação na localização dos imóveis.
Figura 060 – Rio Jaguaribe em Orós com os imóveis do hospital e Já em Lima Campos distrito da cidade Icó (CE), segundo o
residência médica as margens do mesmo, [19--].
atual administrador do açude e morador de uma das
Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”. residências do DNOCS, José Gomes de Loiola, a construção
do açude foi iniciada em 1932 levando menos de um ano para
Todavia, próximas a estas construções, separadas pelo ser concluída. Entretanto, não foram encontradas informações
terreno acidentado, ainda estão presentes a vila dos sobre a firma que empreitou a barragem, mas foi possível
operários, hoje chamada de Vila DNOCS. Outro grupo de encontrar no local o conjunto das possíveis casas dos
pequenas casas denominada de Vila Modelo também foi engenheiros e o antigo hospital da vila (fig. 064) que mais a
erguido na redondeza, mas não se sabe ao certo se foram frente será analisado juntamente com a vila Poço dos Paus.
LEGENDA
Acampamento:
Engenheiros, topógrafos
Ponte pênsil
Vila do Prado
Residência médica
Hospital
Administração IFOCS
Rua da Vila
Almoxarifado/ Escritório
IFOCS
Rua Barbadiana
LEGENDA
Hospital
Todos estes imóveis possuíam forma retangular com as elas quanto as colunas das varandas possuíam
fachadas longitudinais maiores que a fachada frontal e aproximadamente 40 centímetros de espessura feitas com
posterior, disposta em somente um pavimento térreo tijolos maciços deitados, transformando a edificação em auto-
proporcionando afastamentos laterais onde a cobertura de portantes (fig. 067). Segundo a Dra Angélica Sales, as
duas águas do corpo principal da casa era direcionada. Tais coberturas eram compostas de telhas artesanais de barro
edifícios eram dispostos no terreno sem lote definido. modeladas nas coxas17, no caso das esquadrias, as portas e
janelas eram feitas em ripas verticais de madeira maciça.
O alto pé direito é levado em consideração, devido à notável
inclinação das coberturas do corpo central. Além desta, as
residências dispunham de uma cobertura frontal que
proporcionou uma varanda, suportada por colunas. Nas
residências menores dos engenheiros e topógrafos, as
varandas eram ordenadas com 4 colunas (fig. 068 e 069), já
nos imóveis maiores e do engenheiro mestre, além de
possuírem de 5 a 6 colunas na fachada principal, também
eram dotadas de varandas laterais cobertas (fig. 070 e 071).
Figura 068 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros disposto com Figura 070 – Outro imóvel dos engenheiros composto por varandas lateral
somente a varanda frontal, [200-]. e frontal, [200-].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 069 – Fachada principal da residência menor dos engenheiros no Figura 071 – Fachada frontal da residência dos engenheiros no Bairro
Bairro Acampamento de Poço dos Paus. Acampamento de Poço dos Paus.
Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Acervo pessoal.
Em busca de edificações do IFOCS em Lima Campos, Já a cobertura construída em quatro águas com beiral maior
também foram encontrados imóveis que provavelmente nas laterais e na fachada principal proporcionando as
pertenciam aos engenheiros e outros funcionários de cargo varandas dispostas com 5 colunas, as duas em cada extremo
superior da construção do açude na vila. A semelhança evidenciavam as entradas da residência, que era geminada
destas residências ao analisá-las com Poço dos Paus é para duas famílias diferentes. Estas entradas eram recuadas
notável. Sua implantação lado a lado ao longo de uma via em relação à fachada frontal até aproximadamente a metade
com afastamentos laterais, forma retangular e a presença de da fachada lateral (fig. 073 e 074).
varanda lateral e frontal mantida por colunas de alvenaria
realçam as tipologias destas construções (fig. 072).
Entretanto, tais imóveis não estão à margem do rio, porém
estão próximas a água. Além de terem sido edificadas em um
aclive, foram elevadas aproximadamente 30 centímetros do
solo para que a base da residência fosse niveladas (fig. 073).
LEGENDA
Colunas evidenciando a
entrada
Porta de entrada principal
Recuo da entrada
Figura 074 – Recuo da entrada principal da residência proporcionando Figura 075 – Pequeno muro que divide a residência, 2010.
uma varanda lateral, 2010. Fonte: Acervo pessoal.
Fonte: Acervo pessoal.
Em relação aos materiais construtivos, a utilização de C. Residência dos operários e demais funcionários
alvenaria em tijolo maciço, a cobertura em telha de barro
Assim como as residências dos engenheiros de Lima
artesanais e as janelas e portas em madeira maciça não
Campos, as pequenas casas dos operários de Poço dos Paus
mudaram nos dez anos de diferença entre as construções de
Poço dos Paus e Lima Campos. também eram geminadas. Situadas perto do rio Cariús para o
contato direto dos funcionários à área de trabalho, foram
distribuídas em um terreno plano, lado a lado ao longo dos
dois lados de uma via, chamada Rua da Vila (fig. 079).
águas é inclinada, sendo desprovidas de varanda ladeando a Assim como nas outras construções já apresentadas, o
edificação. Todavia, vale ressaltar a presença do afastamento material construtivo foi a alvenaria auto-portante em tijolo
frontal que permitiu a existência de um muro com maciço, a cobertura em telha de barro e tanto as portas como
aproximadamente 80 centímetros de altura, e outro para as janelas, eram em duas folhas com ripas de madeira
limitar esta área de cada família do imóvel (fig. 080), maciças na vertical.
necessitando assim de duas entradas que evidenciou as
portas principais na fachada frontal, localizadas em extremos
e separadas por duas janelas, uma para cada inquilino.
distribuição dos ambientes internos e das esquadrias na Em Lima Campos não foi possível encontrar informações
fachada principal. sobre as construções dos operários, contudo em Orós as
edificações foram localizadas em um terreno acidentado,
onde os imóveis foram alinhados e dispostos em uma quadra.
Parte das residências era direcionada para uma via em aclive,
já as demais, posteriores a estas, estavam situadas no ponto
mais alto, em um terreno plano.
Devido ao desnível do terreno, os imóveis foram elevados a ser direcionada para a fachada frontal e posterior. Todavia,
para manter o alinhamento da base, entretanto não se sabe é somente nas edificações determinadas em terreno íngreme
ao certo quanto a existência de escadas nos imóveis situadas que ocorreu a presença de um pequeno afastamento frontal
na via em aclive na época de sua construção – as que estão de aproximadamente 1,50 metros proporcionando uma
presente não são originais (fig. 089), porém é possível afirmar pequena mureta (fig. 089).
a presença dos mesmos nas edificações situadas no terreno
plano, devido à notável altura a ser vencida (fig. 088).
certo se antes desta função a residência era originalmente Nos imóveis mais simples não foi possível encontrar a
dividida para duas famílias. presença de varandas ladeando a construção, porém nesta
residência a cobertura foi estendida proporcionando um tipo
Entretanto é possível notar alguns diferenciais como a falta do
de varanda fechada nas laterais, com um pequeno guarda-
afastamento frontal excluindo a possibilidade de um pequeno corpo alinhado a fachada principal (fig. 102 e 103).
muro, a presença de ornamentos em forma de molduras nos
contornos das esquadrias evidenciando as aberturas na As técnicas construtivas desta edificação são as mesmas que
fachada principal, ornamentos de frisos acima das portas e as demais, com apenas uma diversidade. As paredes foram
janelas e detalhes no frontispício que se assemelham a figura construídas em pedras, com o mesmo tamanho que os tijolos
de um frontão com oitão e fisos demarcando o tímpano(fig. maciços e da mesma forma, com dois tijolos deitados
100). formando uma parede dupla.
Figura 107 e 108 – Detalhe das portas na fachada principal com arcos
abatidos a esquerda e a via à direita do Almoxarifado/Escritório que segue Figura 112 – Fachada frontal do Almoxarifado/Escritório de Poço dos
até o rio Cariús, 2010. Paus.
Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Acervo pessoal.
A cada construção de açude pelas empresas do IFOCS, era As características mais aproximadas com a edificação do
implantada uma administração, seja da Inspetoria ou das engenheiro mestre estão na sua forma retangular
firmas construtoras. Em Poço dos Paus foi descoberta a proporcionando uma cobertura no corpo central em duas
Gerência do IFOCS situada na Vila do Prado, alinhada à águas, afastamentos nas laterais facilitando a disposição de
residência do médico e ao Hospital da vila, também localizada varanda que ladeiam toda a edificação que para abrigá-las foi
à margem do Rio Cariús. Sua edificação é semelhante ao criada outra cobertura em quadro águas separada da
imóvel do engenheiro mestre e aos demais engenheiros e principal, sustentadas por colunas ao longo de toda a varanda
topógrafos do Bairro Acampamento e da vila de Lima (fig. 114).
Campos.
Antiga Gerência
do IFOCS
Antigo Hospital
Observa-se que a construção foi elevada do solo, tal sendo circundada por altas janelas. Tanto estas como as
característica pode ser considerada devido à importância de portas possuem duas folhas duplas, as frontais possuem
seu destino para a vila. Como resultado, vale notar a detalhes de venezianas na parte inferior e retângulos vazados
presença de uma escada centralizada na edificação baseada na parte superior, já as folhas posteriores são lisas para efeito
no desenho de um trapézio onde a base é mais larga que o de proteção. Assim como todas as outras construções, esta
topo com um guarda-corpo dando continuidade aos gerência ainda possui as esquadrias em madeira maciça,
balaustres do corrimão (fig. 115), além do recuo centralizado estrutura em alvenaria auto-portante com tijolos maciços
na fachada principal (fig. 116), são aspectos que frisam a deitados e cobertura com telhas de barro artesanais.
imponência da construção.
Entre outras construções relacionadas aos serviços O Hospital assim como algumas edificações citadas, é uma
proporcionados em Poço dos Paus, encontrou-se o Hospital. construção elevada, realçando a imponência da mesma.
Por este ser o imóvel foco de estudo para este trabalho, sua Possui a forma retangular, com a face frontal menor que as
tipologia será analisada superficialmente neste capítulo junto laterais, proporcionando um afastamento nas fachadas
à outra construção hospitalar encontrada no Ceará para que longitudinais, que através da extensão da cobertura central de
mais a frente o assunto seja abordado em detalhe. duas águas para estas direções permitiu a presença de uma
varanda, que para ser ladeada em toda a construção, foram
Tal edificação está situada com os fundos do terreno para a adicionadas coberturas frontal e lateral. Igualmente às demais
margem do rio Cariús, na antiga Vila do Prado, juntamente construções semelhantes a esta, ao longo da varanda foram
com a Gerência do IFOCS e a residência do médico. Suas distribuídas colunas para dar suporte às coberturas seguindo
características são familiares a algumas construções uma simetria.
apresentadas até o momento como, por exemplo, as
residências dos engenheiros e as gerências tanto de Poço
dos Paus quanto de Orós. Até então pode-se dizer que as
edificações de maior status possuem um estilo em comum.
Figura 121 – Alinhamento das construções. A antiga residência do médico Figura 122 – Perfil do antigo Hospital atualmente, 2010.
à frente, seguida do antigo Hospital e Gerência do IFOCS, 2010. Fonte: Acervo pessoal.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 123 – Detalhes da janela com postigo liso, original do imóvel, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Ainda na varanda é possível notar a presença de guarda- mas vale notar a grande presença de vãos de janelas ao
corpos vazados com jardineiras entre as colunas, dispostas longo das faces laterais da edificação e a possível disposição
ao longo de toda a varanda. Este guarda-corpo possui a de três acessos na fachada principal. È importante mencionar
função de proteção devido à elevação da construção (fig. que após a desativação do Hospital na vila, este imóvel
131). passou a se chamar Cineclub, onde eram projetados filmes e
feitas apresentações no local, alterando a disposição original
e fazendo agregações em seu interior, como um palco e uma
cabine de projeção acima da entrada principal da edificação
(fig. 132 e 133).
Para finalizar vale ressaltar que as técnicas construtivas deste 3.3. O Casarão (Análise tipológica)
imóvel permanecem as mesmas que as demais, alvenaria de
tijolo maciço em toda a construção, cobertura em telha de
barro, além do diferencial, a inclusão da base em pedra da Portadoras de mensagem espiritual do
escadaria. passado, as obras monumentais de cada
povo perduram no presente como o
testemunho vivo de suas tradições
seculares. A humanidade (...) as considera
um patrimônio comum e, perante as
gerações futuras, se reconhece
solidariamente responsável por preservá-las
(...)
Figura 134 – Antigo Hospital e (Carta de Veneza, 1964)
Cineclube de Lima Campos.
Fonte: Acervo pessoal. Analisando as tipologias das edificações do DNOCS, pode-se
observar algumas características comuns entre si. Tal
equivalência estava presente nas construções que
proporcionavam maior status em cada vila estudada, sendo
elas: as residências dos engenheiros e os Hospitais de Poço
dos Paus e Lima Campos, as administrações de Poço dos
Paus e Orós.
Administração de Residência do
Hospital de Administração de
Hospital de Lima Poço dos Paus engenheiro mestre Residência dos
Poço dos Paus Orós Residência dos
Campos de Poço dos Paus engenheiros e engenheiros e
ASPECTOS topógrafos de
topógrafos de Poço
FORMAIS dos Paus Lima Campos
Forma retangular
com fachada principal X X X X X X X
menor que as laterais
Edificação elevada do
X X X X X X
solo
Varanda coberta
X X X X X X X
ladeando a edificação
Presença de colunas
X X X X X X X
na varanda
Cobertura do corpo
central em duas X X X
águas com telhas de
barro
Cobertura do corpo
central em quatro X X X X
águas com telhas de
barro
Administração Residência do
Hospital de Administração
Hospital de Lima de Poço dos engenheiro mestre Residência dos
Poço dos Paus de Orós Residência dos
Campos Paus de Poço dos Paus engenheiros e
engenheiros e
ASPECTOS topógrafos de
topógrafos de
FORMAIS Poço dos Paus Lima Campos
Edificação
autoportante com
X X X X X X X
alvenaria dupla em
tijolos maciços
Escada centralizada X X X X
em forma de (não possui forma
trapézio em trapézio)
Disposição de
grande quantidade
X X X X X X X
de janelas ao longo
das fachadas
Janelas e portas em
X X X X X X X
duas folhas
Fonte: Acervo Pessoal.
principal e posterior menor que as demais, proporcionaram Devido à elevação da edificação ao solo, determinou-se uma
afastamentos laterais no terreno por onde a cobertura em escadaria frontal, e como sinônimo de simetria foi centralizada
duas águas do corpo central é direcionada. na edificação juntamente ao acesso principal. Tal elevação
também causou a ausência de garagem interna.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
4
CAPITULO 04
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
94
“Em geral, entende-se por restauração em que a obra deve ser representada sem exprimir falsidade
qualquer intervenção voltada a dar da mesma. Caso ocorram integrações, estas não devem
novamente eficiência a um produto da
atividade humana.” realçar mais que a obra original, sendo reconhecidas de
(BRANDI, 2004, p.25) imediato. E o mais importante:
Este é o princípio do conceito de restauração idealizado por “(...) qualquer intervenção de restauro não
Cesare Brandi20 em seu livro Teoria da Restauração na torne impossível mas, antes, facilite as
eventuais intervenções.”
década de 1960. Nele iremos analisar a fundamentação (BRANDI, 2004, p. 48)
teórica da restauração e conservação arquitetônica
juntamente com as Cartas Patrimoniais21 de Veneza e Burra Cada obra de arte, quando restaurada, será sempre analisada
que possa seguir de base para o estudo da restauração feita como um caso a parte. O estudo preliminar que antecede as
no antigo Hospital, atual Casarão em Cariús, objeto de estudo aplicações das cartas patrimoniais e técnicas de restauração
deste trabalho. e conservação é essencial e único em cada monumento, pois
os métodos utilizados em uma obra podem não ser
adequados a outra, tornando-os singulares.
4.1. Cesare Brandi A restauração segundo a instância histórica implica na
qualificação da obra de acordo com o valor histórico da
Em primeiro lugar devemos analisar a construção como um
mesma, ou seja, ligar a edificação ao passado, presente e
todo, ou seja, como uma obra de arte. Para isso Brandi expõe
futuro certificando-se da presença de rastros humanos neste
duas instâncias: a instância histórica e a instância estética,
monumento. Caso esses vestígios não sejam conservados no
____________ passado e nem para o futuro, ocorrerá uma falha na
20
comunicação dos testemunhos, não sendo possível classificá-
Cesare Brandi – Nascido em 1906 e falecido em 1988, formado em
la como uma instância história.
letras e direito, entretanto possuiu grande presença na história da arte
direcionado a restauração.
Por este lado a repristinação – ato que trás a obra em seu
21
Cartas Patrimoniais – Documentos onde são encontrados os principais estado inicial, de volta aos seus primeiros tempos - é abolida,
conceitos adotados para o gerenciamento de bens patrimoniais. pois faz com que a história e os intervalos pela qual a
construção passou seja anulada, esquecida. “Causando a refazimentos das partes, sendo assim, estes atos
impressão de que o tempo nunca agiu sobre a obra, que se proporcionaram apenas o realce estético da obra.
mostra sempre acabada e nova” (ARAÚJO, 2006, p. 5).
Ao ver da instância histórica, todas as adições admitidas ao
A conservação de acordo com esta instância implica em longo dos anos, décadas e séculos na obra de arte é um
manter a obra da maneira em que foi encontrada, em poucas “testemunho do fazer humano” (BRANDI, 2004, p. 71). Tais
palavras, uma restauração preventiva eliminando uma adições possuem a função de complementar, sendo
intervenção direta, somente condicioná-la a técnicas de conseqüência de um desenvolvimento tornando-se uma
preservação do seu estado atual, tornando-a legítima e introdução na obra, um enxerto. Neste caso deve ser
fazendo jus ao seu histórico, um testemunho, mesmo que conservada. Em vista a este argumento, Brandi afirma que a
mutilado, reconhecido como uma obra de arte da passagem remoção implicará na redução a nada de um documento,
do ser humano. Caberia, portanto, apenas a consolidação do “donde levaria à negação e destruição de uma passagem
monumento. histórica e à falsificação do dado. (...) do ponto de vista
histórico, é apenas incondicionalmente legítima a
O entorno da edificação também é levado em consideração conservação da adição” (idem, p. 71).
na conservação da obra de arte. É necessário fazer um
levantamento das belezas naturais no perímetro, pois as O refazimento se difere da adição, nesta situação se pretende
mesmas podem estar integradas ao bem cultural. Todavia, os ligar o passado com o presente, apresentando o processo
aspectos naturais podem também não obter presença em sua original ao qual a obra se desenvolveu. Ligando o antigo com
passagem histórica ou valor em determinadas culturas, neste o atual “de modo a não distingui-los e a abolir ou reduzir ao
caso levamos em conta a predominância do panorama, em mínimo o intervalo de tempos que aparta os dois momentos”
que a vista da obra de arte não seja prejudicada pelo entorno. (idem, p. 73). Então a idéia principal do refazimento é expor a
época em que a obra surgiu. Este ato pode ser consentido à
Já no caso das adições, refazimentos e remoções da obra, é instância história, pois mesmo sendo um feito do presente,
necessário pesar o que é mais válido, a razão histórica ou a marca o fazer do humano e no momento em que o futuro for
razão estética. Uma obra que já suportou refazimentos e olhar pelo passado, verá esta assinatura do humano neste
remoções repetidamente, não será possível mantê-la apenas refazimento.
pela instância histórica, pois se seu conceito está apenas nos
Contudo, no caso da remoção, esta deverá ser questionada e Em oposição a estes fatos, conceituar a ruína com referências
concedida uma razão plausível para o ato, e mesmo que seja a instância estética implica em complexos enredos. Pois a
feita, deverá consentir traços de sua presença na obra em mesma pode estar integrada a monumentos, paisagens ou
que estava situada. até ser um caráter de uma determinada zona. Devido à
“delimitação negativa do conceito de ruína” como resquício de
“a instância artística (...) corresponde ao fato
basilar da artisticidade pela qual a obra de uma obra de arte, “[a ruína] não pode ser reconduzida à
arte é obra de arte.” unidade potencial”. (idem, p. 79).
(BRANDI, 2004, p. 29)
Com relação à remoção das adições, o valor artístico se
Nesta definição acima, Brandi expõe de forma simples que a contradiz com o histórico, se manifestando contra a
instância estética nem sempre utiliza os mesmo critérios que conservação dos acréscimos. Em conseqüência remove a
a instância histórica, pois uma edificação bem condicionada “recordação da passagem histórica”. Esta ação deverá ser
não seguirá as mesmas regras que uma ruína. efetuada com a devida atenção a documentação.
“(...) do ponto de vista estético não somos “Para a instância que nasce da artisticidade
constrangidos a definir a área conceitual da da obra de arte, o acréscimo reclama a
ruína com o mesmo critério do ponto de remoção. (...) E como a essência da obra de
vista histórico.” arte (...) é claro que a adição deturpa,
(BRANDI, 2004, p. 78) desnatura, ofusca, subtrai parcialmente à
vista da obra de arte, [então] essa adição
Neste pensamento citado por Brandi, caso a ruína fosse deve ser removida”
considerada pelo seu valor estético, com objetivo de levá-la à (BRANDI, 2004, p. 83-84)
unidade potencial, seria através da cópia, um falso das
Para estes casos, se deve sempre analisar a importância dos
características originais. Portanto, a ruína que não pode ser
elementos. Determinar qual valor prevalece mais, se vale
integrada, será conservada, ponderando o valor histórico,
remover as adições “além do valor intrínseco dos objetos
conservando seu estado atual como uma passagem do tempo
acrescentado”, ao ponto de destruir marcos e passagens
e história humana. (idem, p. 78).
históricas. (idem, p. 85).
Outro caso em que a instância estética se opõe à histórica é a Minas Gerais apresentados ao ICMS Patrimônio Cultural
pátina, pois a mesma documenta uma passagem que o tempo (2010, p. 12).
causou na obra de arte e deve ser mantida. Todavia a
Porém devido a um incêndio ocorrido no ano de 2003, tornou
artisticidade propõe a remoção desta ação, por ser
considerada uma adição. (idem, p. 85-86). o antigo imóvel em ruína, descaracterizando o conjunto
arquitetônico. Então como ação punitiva ao agente causador
Todavia, é notório ressaltar que, assim como a instância do incidente, os resquícios do imóvel foram consolidados a
histórica, a instância estética também é fruto da ação uma cópia do casarão original. Esta ação foi proporcionada
humana, porém “se aqueles vestígios estão de fatos perdidos, devido ao grande valor estético que o edifício tinha, e ainda
não pode mais tratar-se de artisticidade, mas apenas de tem, em relação à paisagem em que está situada.
historicidade.” (idem, p. 78).
Portanto, foi considerado não só o valor do bem em si, mas
Sendo assim, a restauração da edificação como uma obra de principalmente seu valor extrínseco. O papel do bem
arte dependerá do peso dos valores que o imóvel carrega em danificado na composição da paisagem envolvente perderia
si. Seja pelos materiais nela contida, as técnicas construtivas valor com a ausência do mesmo. Por este motivo, a
utilizadas ou pelos traços do autor, tornando o ato da reconstrução foi realizada, considerando a reintegração do
restauração dependente destas condições. Portanto, cada valor estético da paisagem urbana como um todo.
bem requer uma análise específica e individualizada acerca
Figura 142 – Antigo Hotel Pilão em chamas
da instância a ser privilegiada. em 2003.
Disponível em: <http://www.ouropreto-
Existem várias maneiras de abordar uma ruína que está
ourtoworld.jor.br/FogoPilao.htm>. Acesso
prestes a ser restaurada. Para entender melhor as instâncias em: 04 out. 2010.
será mostrado dois casos de intervenção. O primeiro será o
antigo Hotel Pilão, situado na Praça de Tiradentes em Ouro
Preto, MG. Figura 143 – O casarão reconstruído,
[200-].
O conjunto urbano deste local é considerado um patrimônio Disponível em: <http://www.ouropreto-
da humanidade, segundo a Listagem de bens protegidos em ourtoworld.jor.br/pilao2.htm>. Acesso em:
04 out. 2010.
Figura 147 – Exemplo de restaurações em uma edificação com estrutura bem conservada, utilizando a Instância Estética e Histórica.
Fonte: Acervo pessoal.
4.2. Cartas Patrimoniais também são vítimas de recortes em pedaços para serem
adaptados e embelezar novas construções, onde “colunas,
Inicialmente a salvaguarda do monumento histórico não foi capitéis, estátuas, frisos esculpidos são, desse modo,
baseada na conservação e preservação do bem com a
retirados dos edifícios que faziam a glória das cidades
essência de transmitir uma emoção ou memória viva, a fim de antigas” afim de serem reaproveitados. (idem, p.40-41).
relembrar uma geração passada, crenças e acontecimentos,
de forma “a preservar a identidade de uma comunidade étnica Segundo Choay (2001, p.35), tais ações ocorrem até ao
ou religiosa, nacional, tribal ou familiar” constituindo “uma século XI. Ainda em Roma o Coliseu sofre grandes
garantia das origens” (CHOAY, 2001, p.18). mudanças, seus arcos são fechados e reutilizados para
habitações, depósitos e oficinas, e no lugar da arena é
Naquele momento, a salvaguarda havia como intenção, a elevada uma igreja e uma fortaleza da família Frangipani.
recuperação dos monumentos para a reutilização, devido à
perda de “seu sentido e seu uso, a insegurança e a miséria”. O sinal de interesse pelo passado referente aos antigos
Os primeiros acontecimentos neste sentido podem ser edifícios é despertado entre o século XIV e XV, através de
apresentados em Roma no século V, onde um decreto “abordagem literária” pelos humanistas, negligenciando o
autoriza a desapropriação dos edifícios “cujo estado não conhecimento visual, onde seus interesses não estão
permite conserto” para serem transformados em pedreiras. focalizados no monumento, e sim no “testemunho do texto
(idem, p.35). sobre o passado” acima de todos os demais. Nesta mesma
passagem são encontrados os artistas, que pela filosofia
No século seguinte o papa Gregório I, em época onde a semelhante, simpatizam pelas formas e descobrem novos
construção implicava com altos gastos, adota uma política de conceitos construtivos referentes às esculturas e antigos
reutilização, onde seu sucessor, Honório, transforma grandes edifícios. (idem, p.46-47,49).
residências patrícias em monastérios e as salas de recepção
em igrejas (idem, p.36). Entretanto, cabe aos papas dar início à proteção dos edifícios,
com medidas modernas, a fim de preservar e/ou restaurá-las.
A partir deste mesmo século, Roma é vista como “a maior Através de bulas pontificais, em meados do século XV, o
fonte de materiais prestigiosos para os novos santuários”, papa Pio II Piccolomini, a favor de sua apreciação aos
além da reutilização dos espaços, os antigos monumentos edifícios antigos, aclama a abolição da depredação e
demolição dos mesmos, punindo a todos que danificarem tais Já Viollet-le-Duc, propiciou o início efetivo da teorização do
imóveis. Entretanto, os papas não satisfeitos somente “com restauro através do Restauro Estilístico. Neste caso o teórico
medidas preventivas”, “retiram o entulhos, desobstruem, utiliza a analogia dos edifícios similares através de
restauram as antigüidades”. Como no caso do papa Eugênio arqueologia e da história de sua arte, a fim de alterar o
IV que além de manter limpo os arredores, restaura a edifício chegando ao ponto de sua perfeição.
cobertura do Panteão. Já Nicolau V aconselhado por Leon
Battista Alberti, arquiteto italiano, faz um grande levantamento Entre outras teorias de restauro, estão presentes o Restauro
topográfico de Roma, para um promissor plano de Romântico conhecido como Anti-restauro por John Ruskin; o
restauração da cidade, além “de conservar e colocar em Restauro Histórico de Luca Beltrami utilizando critérios
destaque os grandes monumentos da Antigüidade”. (idem, específicos para cada restauração; Camilo Boito apresentou o
p.53-55). Restauro Moderno através da recuperação de um edifício
morto para suprimir uma necessidade contemporânea; o
Neste raciocínio, Pio II Piccolomini almeja não somente a Restauro Científico por Gustavo Giovannoni influencia a
idéia de preservar e conceder manutenções nos “lugares preservação do monumento no contexto urbano que está
santos da cidade” no momento, mas sim “para que as inserido; e por último o Restauro Crítico defendido por
gerações futuras encontrem intactos os edifícios da Cesare Brandi, já caracterizado no tópico anterior.
Antigüidade e seus vestígios”. (idem, p.53). (PIMENTEL, 2009/2010).
Seguindo o caminho da restauração, vale ressaltar algumas É válido concluir que tais teóricos contribuíram para o
teorias de restauro que foram vivenciadas ao longo do século desenvolvimento dos procedimentos e ações preservativas
XVII até XX. Podendo-se iniciar pelo Restauro Arqueológico nos bens, independentemente de suas variantes. Pois cada
(ou Empírico) exposta pelo Papa Leão XIII, surgem os especialista legitimou suas teorias de acordo com período em
primeiros antiquários, onde os testemunhos dos objetos são que estava sendo vivenciado.
mais confiáveis que a escrita, ao contrário do que ocorria
entre o século XIV e XV. Tal teoria era meramente substancial Para que o ato de salvaguarda de bens de interesse à
e não aprofundada em relação aos teóricos que estavam por sociedade fosse adotado até os dias atuais, profissionais
vir. envolvidos com o ramo da arquitetura, arqueologia, artes
plásticas, entre outros, conceberam encontros mundiais para
discutir e formular parâmetros de abordagem ao patrimônio, em que remete uma lembrança e modificar o restante de
devido à carência de metodologias com base científicas. Afim forma vantajosa. (CARTA DE ATENAS, 1933).
de orientar os procedimentos entre os profissionais.
interesse educacional e trazendo em conseqüência, a Simbel construído no século XIII a.C (SABONGI, [20--]), salvo
redução dos danos devido ao esquecimento dos pela organização na década de 1960:
monumentos. (CARTA DE ATENAS, 1931).
“Início da Campanha da Núbia, no Egito,
Em novembro de 1945 é criada a UNESCO , uma 23 para deslocar o Grande Templo de Abu
Simbel de modo a evitar que fosse
organização internacional que visa à promoção de várias submerso pelo Nilo depois da construção da
atividades, sendo uma delas cultural, onde focaliza, dentre represa de Assuan. Durante essa
outras questões, a salvaguarda do patrimônio cultural Campanha, ao longo de 20 anos, 22
estimulando sua preservação através de assistências técnicas monumentos e complexos arquitetônicos
foram relocados. Esta foi a primeira e a
e divulgação de informações. (UNESCO, 2007). maior de uma série de campanhas.”
(UNESCO, 2007, p. 26)
De acordo com CÉSAR e STIGLIANO (2010), após
aproximadamente uma década, no ano de 1956, a UNESCO
promoveu uma Conferência Geral em Nova Delhi, Índia, onde
foram discutidos assuntos referidos à arqueologia.
___________
23 Figura 150 – Local original dos templos.
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
Disponível em: <http://www.khanelkhalili.com.br/mapasEgito9.htm>.
e Cultura.
Acesso em: 26 set. 2010.
assim não podem ser removidos de seus locais de origem, Neste caso, vale ressaltar que a restauração do monumento é
somente no caso em que tal ação seja o último recurso a fundamentada “no respeito ao material original e aos
favor da integridade do objeto. documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese”, ou
seja, em casos onde os documentos não sejam suficientes
Portanto, não há como separar os registros materiais da para restaurar a edificação ou parte dela, não se deve
edificação, pois “o monumento é inseparável da história de reconstruir onde ocorre a ausência de informação, para
que é testemunho e do meio em que se situa. [...] o indicio de complemento, evitando um falso na composição
deslocamento de todo o monumento ou de parte dele não arquitetônica. (idem, p.02).
pode ser tolerado”. Ocorrendo exceções apenas para os
casos extremos, quando o mesmo é exigido para a própria Já os acréscimos serão aceitos somente em casos onde “o
salvaguarda ou for justificado por “razões de grande interesse equilíbrio e suas relações com o meio ambiente” não forem
nacional ou internacional”. (idem, p.02). abalados. (idem, p.03).
Já a restauração tem a finalidade de manter o valor histórico e Outro testemunho escrito analisado juntamente com a Carta
estético do monumento, com o objetivo de manter os rastos de Veneza, foi a Carta de Burra, sendo ela um complemento
deixados pelas épocas em que a edificação vivenciou, deste documento anterior. Elaborada em 1980 pelo Conselho
ostentando o material nelas contidas. Para que isso ocorra, é Internacional de Monumentos e sítios – ICOMOS na Austrália,
necessário utilizar as técnicas tradicionais da época, porém aprimorou os procedimentos de conservação e restauração
quando não for possível, pode-se optar pelas técnicas além de colaborar com as recomendações de preservação,
modernas que comprovem o resultado pretendido, sem danos reconstrução do monumento edificado e de seus elementos.
ao monumento.
Assim como a Carta de Veneza, a carta de Burra defende a
Em casos de substituição de partes faltantes, a Carta de conservação com respeito ao “testemunho nela presente”,
Veneza favorece a concepção de um novo elemento, de designando o bem como “um local, [...] um edifício ou outra
modo em que o novo não sobressaia mais que o antigo, esta obra construída, [...] que possuam uma significação cultural,
integração deve ser feita através de materiais diferenciados compreendidos [...] para as gerações passadas, presentes ou
dos originais para que não ocorra a falsificação de partes do futuras”. (CARTA DE BURRA, 1980, p.01-02).
monumento.
Entretanto, a mesma carta aceita “obras mínimas de admitido apenas para a manutenção da substância dos
reconstrução”, mas apenas para atender as necessidades e edifícios, a fim de desacelerar o “processo pelo qual ela se
exigências do edifício em si (idem, p.01). Diferente da Carta degrada, limitando-se “à preservação, à manutenção, e à
de Veneza, onde não denunciava alguma forma de eventual estabilização da substância existente”. Deixando
reconstrução do imóvel. claro que métodos onde depredam o significado do bem não
serão tolerados.
Ao esclarecer os procedimentos quanto à reconstrução, a
Carta de Burra (1980, p.04) cita que, o objetivo maior é Paralelo a estas técnicas temos a restauração, onde envolve
permitir uma “leitura” completa do monumento, trazendo o a reposição dos elementos, porém a “um estado anterior
significado cultural que foi perdido, onde deve “se limitar à conhecido”, viabilizando a recolocação de materiais
reprodução de substâncias cujas características são desconjuntados, ou em outras condições subtrair acréscimos
conhecidas graças aos testemunhos materiais e/ou de elementos. (idem, p.01 e 03).
documentais”.
Nestes casos, de acordo com a Carta de Burra (1980, p.03) a
Todavia, tais partes devem ser diferenciadas quando vistas restauração só é possível se for obtida a quantidade de dados
de perto e não sobressaírem mais que o entorno em que está que suprem o testemunho de suas características anteriores,
situada, limitando-se a “completar uma entidade desfalcada e assim como é mencionado simultaneamente na Carta de
não [...] a construção da maior parte da substância de um Veneza (1964, p.02). Devendo equilibrar, qual época deve ser
bem” (idem, p.04). privilegiada, já que “todas as épocas deverão ser
respeitadas”. (CARTA DE BURRA, 1980, p.03).
Seguindo a mesma linha da Carta de Veneza (1964, p.02), a
Carta de Burra (1980, p.03), afirma que quando for necessária Um procedimento considerável nos processos de salvaguarda
a remoção de elementos que forem pertencentes ao de um edifício histórico é o estudo, não apenas na
monumento, só será permitido meramente para manter a construção, mas também de seu entorno. Na Carta de
sobrevivência dos mesmos. Veneza (1964, p.03) o ato de escavação é levemente
mencionado, mas é na Carta de Burra (1980, p.04) onde é
A preservação não é citada na Carta de Veneza, todavia, declarada que a escavação em casos o qual é permitido o tal
segundo a Carta de Burra (1980, p.01 e 03) este ato será ato, se torna “necessária para a obtenção de dos
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO
NO EDIFÍCIO 5
CAPITULO 05
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
109
O ato de intervir em um patrimônio está ligado em manter as imóvel em sua forma original também pode aplicar técnicas
condições do objeto, prolongando ao máximo sua vida e de básicas sem mesmo obter conhecimento sobre o tema.
seus elementos, levando em consideração que, nem sempre
È a partir deste ponto que iremos avaliar e analisar os
é possível obter um parecer conclusivo, sendo necessária
uma constância nas ações de conservação do bem edificado. procedimentos utilizados na intervenção feita pela Dra Luisa
Angélica Sales – atual moradora do imóvel – de acordo com
“Contudo, não podemos perder de vista a os princípios fundamentais citados no capítulo anterior e os
percepção de que muitas vezes é materiais didáticos sobre “Técnicas básicas de conservação e
impossível reconstituir o objeto em sua
materialidade original, sabendo, porém, que restauração”24. E quando possível, indicar técnicas
é necessário estabilizar os processos de alternativas que podem melhorar as condições físicas do
alteração/degradação da obra/objeto/ patrimônio.
artefato, por meio de ações que não
comprometam as características de seus
materiais constitutivos. Ao perceber a
imensa dificuldade que é a prática de um A. Adições
respeito rigoroso à integridade do objeto –
tanto na sua preservação material quanto Em relação à volumetria do Casarão, sua forma inicialmente
em relação ao seu significado –,
era retangular, quando foi construída em 1922. Entretanto
compreendemos a necessidade de ações
conscientes, realizadas por profissionais podemos observar a adição de um volume em forma de “L”,
qualificados, que devem reciclar seus para ampliação do imóvel, logo após a desabilitação do
conhecimentos continuamente.” Hospital, no começo do século 1930 – eventualmente durante
(FRONER; SOUZA. 2008. p.03-04).
a moradia do interventor Maximinio, possivelmente feita pelo
Segundo Froner e Souza (2008) é necessário que um mesmo – sendo mantida até os dias atuais.
profissional com especialização em restauro, preservação e
___________
conservação atue nesta área. Porém um leigo com
consciência de preservação com objetivo em manter um 24
Material obtido na disciplina de Técnicas Retrospectivas II da professora
Viviane Pimentel. Faculdade Brasileira – UNIVIX.
Cobertura da
Lavanderia
Varanda do
Casarão
Residência
acrescentada
Figura 179 e 180 – Barra de ferro presa por anéis na tesoura, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 182 – Sala íntima criada pelas paredes que escondem as colunas,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Além das duas colunas que suportam a tesoura na suíte Tais procedimentos interferem no valor estético em relação ao
master, foi acrescentada uma viga de concreto em diagonal interior do edifício, neste caso poderia ter sido aplicado
no ambiente ao lado a suíte para dar apoio à mesma tesoura. técnicas mais aprimoradas, que não interferissem nos
espaços.
Não foi possível utilizar coluna de concreto nesta situação,
pois a tesoura não está alinhada com a parede, podendo ficar Entretanto, são plausíveis se forem analisados juntamente
um volume excedente em relação à mesma. Todavia, neste com as Cartas Patrimoniais e a teoria de Brandi, pois
caso seria necessário demolir parte da parede para construir segundo estes fundamentos, em caso de adições devem-se
uma nova estrutura, o que não era justificável para esta sempre diferenciar o novo do velho. Nesta situação foram
intervenção. utilizados métodos e materiais modernos na intervenção da
edificação, como o concreto, ferro e aço.
Assim como em várias casas em cidades do interior, em Figura 185 – Antigo fogão à lenha
Cariús é comum encontrar fogões à lenha feitos de tijolos. encontrado em 2001 no interior da
Atualmente, na cidade ainda é muito utilizado este tipo de edificação.
fogão entre as famílias de baixa renda. Fonte: Acervo pessoal fornecido
pela Drª Luisa Angélica Sales.
No Casarão não foi diferente, fora encontrado um fogão à
lenha feita em tijolos maciços – os mesmos da alvenaria da
edificação – onde estava situada na original cozinha,
atualmente sendo ocupada pelo lugar da sala de estar. Na
reforma, a cozinha passou a estar localizada no anexo
mencionado anteriormente.
Na maioria dos casos em que a edificação sofre uma Em relação ao piso do imóvel, sabe-se que os pisos da suíte
intervenção, é comum a reconstrução de pequenas partes da master e de visitas eram originalmente em frisos de madeira
alvenaria ou dos seus elementos. aroeira sobre barrotes25.
___________
25
Barrotes - O método de aplicação é chamado de barroteamento, que
Figura 187 – Tijolo da alvenaria aparente, são barrotes (vigas de madeiras) – apoiados em estruturas – que
2001. suportam o piso.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª
Luisa Angélica Sales.
Figura 189 – Detalhe dos barrotes na Neste caso, talvez fosse possível restaurar o revestimento de
suíte master, 2003. madeira, uma vez que os barrotes ainda estavam em bom
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela
estado. Porém à falta de recursos e profissionais
Drª Luisa Angélica Sales.
especializados na região, não permitiu esta intervenção.
Figura 198 – Fachada lateral por onde estava localizada a antiga escada
de acesso principal. Atualmente para acesso de veículos, 2006.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 197 – Portão de ferro para passagem de veículos, [200-].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Assim como o muro, os portões e a retirada da escada lateral
Devido à passagem de carros por este afastamento, foi são compreendidos como “obras mínimas de (...) adaptação
necessário remover uma pequena escada por onde era feito o que atendam às necessidades e exigências práticas” (CARTA
acesso principal ao imóvel original. Todavia não foi possível DE BURRA, 1980, p. 1). Enquadrando o imóvel a uma
obter registros documentados deste elemento. residência atual para veículos e com o mínimo de proteção.
crianças que circulam pelas varandas e residem no Casarão e Entretanto, para justificar sua remoção foi necessário
na residência acrescentada a este imóvel. reivindicar a instância estética segundo a teoria de Brandi
(2004, p. 83-84), onde afirma que “a instância que nasce da
Devido à adição deste elemento, foi necessário remover outra
artiscidade da obra de arte, o acréscimo reclama a remoção”
escada que estava situada na fachada frontal da edificação. para que seja retomando a forma original do imóvel. Neste
Por estar situada neste local, também trazia outra caso, é retirado o corpo estranho da obra.
conseqüência, a obstrução da passagem de pedestres na
calçada. Além desta escada, ocorre a presença de uma terceira,
localizada entre o corpo original e o anexo acrescentado
alguns anos após a construção da edificação. Porém este
elemento foi mantido, e acima do mesmo fora construída uma
nova escada adaptada para o atual imóvel, com adição de
guarda-corpos visando sempre à segurança do ser humano.
todo o monumento ou de parte dele não Outro elemento presente na área posterior do imóvel foi a
pode ser tolerado (...). caixa d’água também construída na década de 1920. Quando
(CARTA DE VENEZA, 1964, p. 02).
encontrada, estava desativada e os ambientes molhados do
imóvel não haviam instalações hidráulicas.
Figura 217 –
Detalhes do
antigo forro na
atual suíte
master em
2001.
Fonte: Acervo
pessoal
fornecido pela
Drª Luisa
Angélica Sales.
Contudo, segundo a Drª Angélica “os forros foram retirados Para evitar que toda a madeira retirada fosse descartada,
em função do cupim e também para que eu possa observar foram reaproveitadas peças dos forros, caibros e ripas que
melhor qualquer irregularidade nas telhas e tesouras”. estivessem em bom estado para confeccionar os armários da
copa e cozinha.
Neste caso, requerer que o forro fosse mantido não era
viável, pois desta maneira obstruiria a visibilidade interna da
estrutura da cobertura, evitando obter diagnósticos sobre as
tesouras que estão sofrendo flambagem.
E. Esquadrias
Entretanto os elementos de cada época em que a edificação As janelas do imóvel e seus peitoris eram recuados em
passou devem ser respeitados, por isso, manter as portas e relação à parede interna. Estes recuos foram mantidos
janelas deste corpo é historicamente convincente. durante a intervenção, porém alguns anos depois, estes
recuos foram preenchidos com alvenaria somente no peitoril,
Tanto Brandi (2004, p.74), quanto as Cartas de Burra e pois foram classificados como espaços ociosos em quase
Veneza passam verossimilhança a este conceito, pois todos os ambientes por não possuírem utilidade, além da
consideram um “testemunho autêntico do presente de um necessidade de obter um apoio do peitoril mais largo.
fazer humano” (BRANDI, 2004, p. 74) na época em que as
esquadrias foram construídas. No entanto essas contribuições
são validas “visto que a unidade de estilo não é a finalidade a
alcançar no curso” da restauração desta obra (CARTA DE
VENEZA, 1964, p. 03), e sim a historicidade da mesma.
para o presente. A Carta de Burra também admite adições A fachada principal do corpo original era composta somente
como pequenas obras para adaptações do imóvel referente por janelas. Contudo, ao longo dos anos, devido ao uso do
às necessidades do mesmo. imóvel foram feitas alterações.
Este método é plausível, em vista que a Drª Angélica manteve Figura 231 – Fachada frontal
ainda com todas as janelas
os recuos nas janelas da copa, pois dessa maneira originais, [19--].
evidenciou os aspectos originais de como eram as demais Fonte: Acervo fornecido pela
esquadrias. Drª Luisa Angélica Sales.
Nesta situação é correto admitir o retorno de sua antiga Já a janela ao lado desta, localizada no grande salão, foi
forma, a fim de preservar seu significado e a composição substituída por uma porta semelhante as demais da
visual dos elementos, onde o elemento a ser retomada a sua edificação. Todavia durante a restauração do imóvel, esta
forma original possui maior interesse que o elemento porta foi permutada por uma nova – somente a porta foi
excluído. trocada, a bandeira fixa da porta foi mantida – devido ao
apodrecimento da madeira causado por xilófagos (cupins).
No que consiste a troca da porta, é coerente a substituição do acessos, e por questão de segurança. Entretanto, a marcação
mesmo. Tendo em vista que o novo elemento não se destaca do vão na edificação foi mantida, sendo preenchido somente
mais em relação ao entorno onde está situado, mantendo-se o espaço onde a porta estava situada.
em conformidade com o conjunto.
Figura 239 – À esquerda a porta original de acesso lateral (vista pelo O mesmo caso acontece com as janelas da suíte de visitas.
interior do imóvel, 2001), e à direita a atual porta que foi substituída pela Este ambiente possui quatro janelas, entretanto como é um
antiga (vista pelo exterior), 2010.
Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
local o qual não possui um uso constante, foram removidas
duas janelas. Suas extrações não foram conseqüente
Além destas portas, havia outra situada no anexo, ao lado da somente para a devida a segurança, mas sim do
porta citada anteriormente. A remoção deste elemento foi apodrecimento das madeiras também causado por xilófagos
demandada devido à grande quantidade desnecessária de
matéria que foi composto” (BRANDI, 2004, p. 64). Isto é, os Figura 247 – Duas janelas do
quarto de visitas mantidas no
elementos que compõe a obra de arte estão fadados a exterior do imóvel, 2010.
perecer, neste caso, pode ocorrer de serem substituídos, Fonte: Acervo pessoal.
danificados, retirados, entre outros. Em conseqüência o
monumento poderá estar destinado à degradação (caso não
seja restaurado).
CONCLUSÃO 6
CONCLUSÃO 149
Para dar inicio ao trabalho final de graduação foi preciso, de documentos da Câmara Municipal de Cariús impossibilitou
forma sucinta, identificar o assunto principal que foi tratado, obter a data exata de quando o Casarão foi sede da câmara.
ou seja, procurar o histórico e acontecimentos que deram
origem ao objeto de estudo, o Casarão. O mesmo acontece com a Escola Adahil Barreto – também
funcionou no Casarão – a ausência de arquivos com os dados
Após traçar esta linha de raciocínio, o assunto foi históricos do colégio não permitiu a data de quando o mesmo
desenvolvido ao longo do projeto, de forma detalhada e mudou de sede.
objetiva. Porém a abordagem do assunto a ser trabalhado só
Já as fundamentações teóricas e a análise das condições
foi possível através da busca dos melhores métodos de
pesquisa. físicas da antiga edificação tiveram um bom fluxo devido ao
contato direto com a atual proprietária que efetuou a
Neste caso, as informações nem sempre eram encontradas restauração no imóvel, o que facilitou os argumentos
através de referências bibliografias , arquivos ou documentos. produzidos através das investigações do levantamento de
A falta e o descuido com tais documentos também influenciou informações e fatos obtidos.
a necessidade de buscar dados com entrevistas.
A seca, o sertão do Ceará e as construções históricas das
Em relação às entrevistas, o assunto “DNOCS” era muito cidades do interior deste estado são assuntos interessantes,
delicado, principalmente para os moradores das residências mas pouco desfrutados, inclusive pelos habitantes locais –
construídas pelo departamento nas cidades onde foram feitas com exceção de alguns, como no caso da Drª Angélica. A
as pesquisas de campo, o que dificultou em parte o questão cultural é abordada nestas cidades, porém somente
recolhimento de dados. Pois o DNOCS tomou a decisão de através de festas para união dos povos. Filmes culturais são
vender os imóveis, uma vez que os mesmo foram apresentados em praças, mas o desinteresse é grande entre
abandonados pelo órgão. os moradores locais, principalmente os mais jovens.
Devidos a essas dificuldades e barreiras ao longo dos Os patrimônios históricos também estão sendo deixados de
estudos, algumas lacunas foram criadas no enredo do lado. A falta de proveito desses bens e a carência de
trabalho, não sendo possível preenche-las, como no caso da profissionais especializados em restauração acarretam no
trajetória histórica do Casarão. A falta de organização dos descuido, abandono e descaracterização dos mesmos.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
7
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ANEXOS 8