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DA SECA A CARIÚS/CE:

Trajetória histórica e estudo das construções

Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo

Isabela Sales Bridi


2010
ISABELA SALES BRIDI

DA SECA A CARIÚS/CE:
TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Trabalho Final de Graduação de Curso apresentado


ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade
Brasileira – UNIVIX de Vitória/ES, como requisito
parcial para obtenção do título de Arquiteta e
Urbanista.
Orientadora: Viviane Pimentel.

VITÓRIA - ES
2010
FACULDADE BRASILEIRA
o
Credenciada pela Portaria/MEC N 259 de 11.02.1999 – D.O.U. de 17.02.1999

ATA DE APRESENTAÇÃO DE TFG – CURSO DE Ora formalmente divulgado ao(à) aluno (a) e aos demais
ARQUITETURA E URBANISMO participantes, e eu
O(A) aluno(a) ______________________________________________, na
qualidade de Presidente da Banca, lavrei a presente Ata que
_________________________________________________
será assinada por mim, pelos demais membros e pelo (a)
__ do ____º período do curso de Arquitetura e Urbanismo,
aluno (a) apresentadora do trabalho.
apresentou e defendeu o Projeto Final de Graduação, como
elemento curricular indispensável à colação de grau de Vitória, ____ de _____________ de 2010
Arquiteto e Urbanista, tendo como título do Trabalho:
___________________________________
_________________________________________________
Profª. Arq.
______________________ .
A Banca Examinadora, reunida em sessão reservada, ___________________________________
Convidado (a)
deliberou e decidiu pelo resultado
1
_________________________________________ ___________________________________
2 Convidado (a)
_________________________________________
3
_________________________________________ 1. Observações:
Média Final Banca: _______________________________ __________________________________________
Nota da Pré Banca:_______________________________ __________________________________________
Média Final TFG: (Nota Pré Banca + Nota __________________________________________
__________________________________________
Banca):______________
__________________________________________
__________________________________________

Rua José Alves, 301, Goiabeiras – Vitória, ES - CEP: 29075-080 – Tel: (0xx27) 3327-1500.
CGC: 01.936.248/0001-21 - E-mail: embrae.vix@terra.com.br – www.univix.br
AGRADECIMENTOS

A minha mãe companheira de viagem, que se não fosse pelas suas raízes,
não teria dado inicio a este trabalho.

Ao meu pai pelo incentivo em sempre dar o máximo de si e “paitrocinio” às


longas viagens ao Ceará.

Aos meus irmãos e a toda minha família, que compartilharam os prazeres e


dificuldades proporcionadas por este trabalho.

A todos que colaboraram com entrevistas e pesquisas de campo realizadas.

Aos moradores de Cariús e seus conterrâneos, por simplesmente serem


desta terra acolhedora.

A minha orientadora Viviane, por transmitir seus valiosos conhecimentos e


pela paciência quando me deparei com obstáculos.

E principalmente à minha tia Angélica, que abriu suas portas e colaborou de


forma significativa, pois sem sua ajuda não teria atingido meus objetivos.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 001 – Seca na Paraíba .............................................021 Figura 012 – Detalhe no oitão que relata o ano de sua
construção .......................................................................... 033
Figura 002 – Localização de Icó, Sobral e Aracati no Ceará e
trajetória de fuga dos índios ................................................023 Figura 013 – Cena do filme “Lágrimas de Vela” que relata a
história dos sobreviventes do “curral” em Senador
Figura 003 – Fotografia de uma família de flagelados em uma
Pompeu ............................................................................... 033
estação ferroviária do Ceará ...............................................024
Figura 014 – Face longitudinal do casarão ......................... 033
Figura 004 – Açude do Cedro em 1906 e ao Fundo a pedra
Galinha Choca, Quixadá/CE................................................025 Figura 015 e 016 – Observa-se as características do interior
da construção e a má condição do patrimônio .................... 024
Figura 005 – Açude do Cedro hoje (2010), Quixadá/CE .....026
Figura 017 – Retirantes, Candido Portinari, 1944 ............... 034
Figura 006 – Localização do Açude do Cedro e a sede de
Quixadá/CE .........................................................................026 Figura 018 – Estados que abrigam o Polígono das
Secas .................................................................................. 035
Figura 007 – Condições atuais das construções elevadas no
acampamento em Quixadá/CE ............................................027 Figura 019 – Localização do rio Cariús e Jaguaribe em
Cariús/CE ............................................................................ 037
Figura 008 – Edificação estruturada em alvenaria
maciça .................................................................................027 Figura 020 – Ponte pênsil estruturada com cabos de aço e
ripas de madeira. Com vista para o Bairro Acampamento e ao
Figura 009 – Um dos galpões onde eram guardados os
fundo pela esquerda a casa do engenheiro mestre ............ 038
materiais de construção.......................................................028
Figura 021 – Rio Cariús hoje, parcialmente seco. Estrada
Figura 010 – Interior do imóvel atualmente, localizado no
onde estava localizada a ponte pênsil, ao fundo o antigo
antigo acampamento de Quixadá/CE ..................................028
Bairro Acampamento, 2010 ................................................ 039
Figura 011 – Casarão construído em 1923, sede do campo de
Figura 022 – Resquícios das casas dos engenheiros no Bairro
concentração em Senador Pompeu/CE ..............................033
Acampamento no início do século XXI................................ 039

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LISTA DE FIGURAS

Figura 023 – Hospital do IFOCS. Atualmente residência da Almoxarifado/Escritório e ao lado a Rua da Vila com as casas
Drª Luisa Angélica Sales, 2010 ...........................................039 dos operários, [19--] ............................................................ 042

Figura 024 – Antiga Gerência do IFOCS. Atualmente Figura 032 – Estação de trem em meados do século XX ... 043
residência, [20--] ..................................................................040
Figura 033 – Estação de trem hoje como Hospital Municipal,
Figura 025 – Antiga casa do médico sediando a Agência 2010 .................................................................................... 043
Postal-telegráfica, [195-] ......................................................040
Figura 034 – Área da firma Montenegro. Ao fundo a estação
Figura 026 – Vila do Prado com o antigo Hospital à direita e de trem ................................................................................ 044
ao final da rua, na mesma calçada, a casa do médico atuando
Figura 035 – Proximidade dos galpões da firma com o ramal
como a Agência Postal-telegráfica. Meados do
de trem, década 1930 ......................................................... 044
século XX ............................................................................040
Figura 036 – Estocagem da produção algodoeira, década
Figura 027 – À esquerda, Praça República atualmente. À
1930 .................................................................................... 044
direita, antiga Gerência do IFOCS seguida do antigo Hospital
e da casa do médico, 2010..................................................040 Figura 037 – Galpões atualmente, parcialmente deteriorados,
2010 .................................................................................... 045
Figura 028 – Rua da Vila atualmente com as antigas casas
dos operários, 2010 .............................................................041 Figura 038 – Primeira bandeira do município Cariús em
1968 .................................................................................... 045
Figura 029 – Antiga Rua Barbadiana com algumas
residências da época, 2010 .................................................041 Figura 039 – Rua coberta pelas águas do rio em 1974 ...... 046
Figura 030 – Almoxarifado do IFOCS, atualmente residência, Figura 040 – Manchas nas paredes dos edifícios que indicam
2010.....................................................................................041 até onde a água subiu dentro da cidade, 1974 ................... 046
Figura 031 – Foto panorâmica de Poço dos Paus. Ao fundo o Figura 041 – Trágica conseqüência na zona rural do
Bairro Acampamento com o casarão do chefe e as município em 1974 .............................................................. 046
residências dos engenheiros e topógrafos. Mais a frente o

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LISTA DE FIGURAS

Figura 042 – Foto aérea indicando os rios Jaguaribe e Cariús. Figura 052 – Apresentação do coral “Pequenos Cantores de
À esquerda a cidade de Jucás banhada pelo rio Jaguaribe e a Deus” na varanda do Casarão em 2007 ............................. 054
sede da cidade de Cariús (à direita) banhada pelo rio Cariús,
Figura 053 – Cena da via Sacra de 2009 em frente ao
que deságua no rio Jaguaribe ao norte de Cariús, 2010. Sem
Casarão .............................................................................. 055
escala ..................................................................................047
Figura 054 – Funcionária francesa da TAM entregando
Figura 043 e 044 – Aproximação das fotos aéreas de Jucás (à
presentes para as crianças de Cariús em 2008 .................. 055
esquerda) e Cariús (à direita), 2010. Sem escala ...............048
Figura 055 – Árvore de natal feita com garrafas pet inteiras,
Figura 045 – Mapa básico de Cariús, 2010 .........................049
no centro da Praça República em Cariús, 2009 .................. 056
Figura 046 – Alunos reunidos em frente ao Casarão que
Figura 056 e 057 – Bonecos de neve e Papai Noel feitos de
sediava o Grupo Escola Adahil Barreto. Meados do
rosas com garrafa pet, 2009] .............................................. 056
século XX ............................................................................052
Figura 058 – Logotipo do Instituto Mandacaru .................... 056
Figura 047 – Atual sede da Escola Adahil Barreto,
2010.....................................................................................052 Figura 059 – Cronologia do Casarão .................................. 057
Figura 048 – Casarão quando sediou a Câmara Municipal de Figura 060 – Rio Jaguaribe em Orós com os imóveis do
Cariús no início da década de 1970 ....................................053 hospital e residência médica as margens do mesmo,
[19--].................................................................................... 059
Figura 049 – Câmara Municipal de Cariús no início da década
de 1970, vizinha ao Casarão ...............................................053 Figura 061 – Vista parcial do Acampamento, [19--] ............ 059
Figura 050 – Câmara Municipal atualmente, sem muitas Figura 062 – Caminho percorrido em busca das construções
alterações, 2010 ..................................................................053 do DNOCS .......................................................................... 060
Figura 051 – Projeto Linhas e Rendas no grande salão do Figura 063 – Implantação das construções do IFOCS em
Casarão, 2006 .....................................................................054 Poço dos Paus, 2010 .......................................................... 061

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LISTA DE FIGURAS

Figura 064 – Implantação das construções do IFOCS em Figura 073 – Detalhe da elevação da residência dos
Lima Campos, 2010.............................................................062 engenheiros, 2010 .............................................................. 066

Figura 065 – Edificação utilizada pelo engenheiro mestre, Figura 074 – Recuo da entrada principal da residência
[19--] ....................................................................................063 proporcionando uma varanda lateral, 2010 ......................... 067

Figura 066 – Fachada frontal do engenheiro mestre no Bairro Figura 075 – Pequeno muro que divide a residência,
Acampamento de Poço dos Paus .......................................063 2010 .................................................................................... 067
Figura 067 – Detalhe da parede em tijolo maciço deitado de Figura 076 – Detalhe das janelas, 2010.............................. 067
uma das residências dos engenheiros no Bairro
Figura 077 – Residência geminada dos engenheiros
Acampamento de Poço dos Paus, [200-] ............................064
atualmente em Lima Campos, 2010 ................................... 068
Figura 068 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros
Figura 078 – Fachada frontal da residência geminada dos
disposto com somente a varanda frontal, [200-] ..................065
engenheiros de Lima Campos ............................................ 068
Figura 069 – Fachada principal da residência menor dos
Figura 079 – Imóveis onde moravam os operários brancos na
engenheiros no Bairro Acampamento de Poço dos
Rua da Vila em Poço dos Paus, [200-] ............................... 068
Paus ....................................................................................065
Figura 080 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros
Figura 070 – Outro imóvel dos engenheiros composto por
disposto com somente a varanda frontal, 2010................... 069
varandas lateral e frontal, [200-] ..........................................065
Figura 081 – Residência dos operários brancos na Rua da
Figura 071 – Fachada frontal da residência dos engenheiros
Vila com um novo anexo criado à esquerda descaracterizando
no Bairro Acampamento de Poço dos Paus ........................065
o imóvel, 2010 ..................................................................... 069
Figura 072 – Disposição dos imóveis utilizados pelos
Figura 082 – Fachada frontal da residência geminada dos
prováveis engenheiros no aclive em Lima Campos,
operários de Poço dos Paus ............................................... 069
2010.....................................................................................066

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DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
LISTA DE FIGURAS

Figura 083 – Rua Barbadiana atualmente com espaço em Figura 092 – Fachada frontal da residência dos operários no
comum das antigas residências dos operários, 2010 ..........070 aclive ................................................................................... 073

Figura 084 – Outro espaço em comum das residências dos Figura 093 – Fachada frontal da residência dos operários em
operários barbadianos, 2010 ...............................................070 terreno plano ....................................................................... 073

Figura 085 – Residência dos operários negros na Rua Figura 094 – Disposição das residências da Vila Modelo em
Barbadiana já descaracterizadas, somente com a estrutura Orós, 19[--] .......................................................................... 074
original (mantendo a volumetria), 2010 ...............................071
Figura 095 – Disposição das residências atualmente na Vila
Figura 086 – Outra residência dos operários negros Modelo em Orós, 2010........................................................ 074
observada na Rua Barbadiana, 2010 ..................................071
Figuras 096 e 097 – Uma das residências com poucas
Figura 087 – Rua em aclive na Vila Operária, atualmente descaracterizações, ainda presente os afastamentos laterais
chamada de Vila DNOCS em Orós, com algumas residências e um dos acessos em 2010 ................................................ 075
descaracterizadas, 2010......................................................071
Figura 098 – Fachada frontal da Vila Modelo de Orós ........ 075
Figura 088 – Residências dos antigos operários localizadas
Figura 099 – Estado atual da antiga residência do médico
em terreno plano, [19--] .......................................................072
com algumas descaracterizações, 2010 ............................. 075
Figura 089 – Presença de afastamento frontal e a elevação da
Figura 100 – Estado atual da antiga residência do médico,
construção com uma pequena escada não original,
2010 .................................................................................... 076
2010.....................................................................................072
Figura 101 e 102 – Placa de identificação do DNOCS
Figura 090 – Afastamento frontal evidenciando a mureta,
atualmente na residência e pedra da alvenaria original
2010.....................................................................................073
retirada da edificação .......................................................... 076
Figura 091 – Uma das residências na antiga Vila Operária,
Figura 103 – Residência do médico ainda original.............. 076
com descaracterização somente dos tipos de esquadrias,
2010.....................................................................................073

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LISTA DE FIGURAS

Figura 104 – Fachada frontal da residência médica de Poço Figura 117 – Gerência do IFOCS atualmente como
dos Paus..............................................................................076 residência, 2010 .................................................................. 080

Figura 105 – Implantação do Almoxarifado/Escritório com uma Figura 118 – Fachada frontal da Gerência do IFOCS em Poço
grande área livre a frente.....................................................077 dos Paus ............................................................................. 080

Figura 106 – Detalhe do coroamento da edificação. Vergas Figura 119 – Administração americana em Orós, [19--]...... 081
modificadas, 2010 ...............................................................077
Figura 120 – Fachada frontal da Administração americana de
Figura 107 e 108 – Detalhe das portas na fachada principal Orós .................................................................................... 081
com arcos abatidos a esquerda e a via à direita do
Figura 121 – Alinhamento das construções. A antiga
Almoxarifado/Escritório que segue até o rio Cariús,
residência do médico à frente, seguida do antigo Hospital
2010.....................................................................................078
e Gerência do IFOCS, 2010 ................................................ 082
Figura 109 e 110 – Placas de identificação do DNOCS no
Figura 122 – Perfil do antigo Hospital atualmente, 2010 ..... 082
antigo Almoxarifado/Escritório .............................................078
Figura 123 – Detalhes da janela com postigo liso, original do
Figura 111 – Almoxarifado/Escritório atualmente, 2010 ......078
imóvel, 2010 ........................................................................ 083
Figura 112 – Fachada frontal do Almoxarifado/Escritório de
Figuras 124 e 125 – Placas de identificação do DNOCS no
Poço dos Paus ....................................................................078
antigo Hospital .................................................................... 083
Figura 113 – Antiga Gerência do IFOC S mais a frente com
Figura 126 – Antigo Hospital em Poço dos Paus no ano de
o antigo Hospital ao fundo, 2010 .........................................079
2010 como residência ......................................................... 083
Figura 114 – Antiga Gerência do IFOCS, 2010 ...................079
Figura 127 – Fachada frontal do Hospital de Poço dos
Figura 115 e 116 – À esquerda o detalhe da escada em forma Paus .................................................................................... 083
de trapézio, [200-]. À direita o recuo na entrada, 2010 ........080
Figura 128 – Antigo Hospital de Lima Campos atualmente
abandonado, 2010 .............................................................. 084

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LISTA DE FIGURAS

Figura 129 – Detalhe da elevação da construção e inclinação Figura 139 – O Hospital alguns anos depois de sua
do terreno, 2010 ..................................................................084 construção no ano de 1922. Ainda sem o anexo que fora
construído a esquerda do edifício na década de 1930........ 091
Figura 130 – Presença da base de pedras na escada,
2010.....................................................................................084 Figura 140 e 141 – À esquerda o alto pé direito ainda mantido
na atual residência da Dra Luisa Angélica Sales. À direita a
Figura 131 – Varanda frontal com disposição das jardineiras
presença de varanda disposta por colunas, fachada por onde
no guarda-corpo, 2010 ........................................................085
era feito o acesso ................................................................ 092
Figura 132 – Palco nos fundos do interior do imóvel,
Figura 142 – Antigo Hotel Pilão em chamas em 2003 ........ 097
2010.....................................................................................085
Figura 143 – O casarão reconstruído, [200-] ...................... 097
Figura 133 – Cabine de projeção acima da entrada principal
no interior do imóvel, 2010 ..................................................085 Figura 144 – Castelo de Garcia D’Ávila atualmente ............ 098
Figura 134 – Antigo Hospital e Cineclube de Lima Figura 145 – Vista aera do Castelo de Garcia D’Ávila ........ 098
Campos ...............................................................................086
Figura 146 – Capela conservada e a ruína do castelo ........ 098
Figura 135 – Fachada frontal do Hospital de Lima
Figura 147 – Exemplo de restaurações em uma edificação
Campos ...............................................................................086
com estrutura bem conservada, utilizando a Instância Estética
Figura 136 – Bangalô de 1916 construído em Sacramento, e Histórica ........................................................................... 099
Califórnia/EUA .....................................................................089
Figura 148 – Exemplo de restaurações com uma edificação
Figura 137 – Vegetação no afastamento frontal. Bangalô em ruína, utilizando a Instância Estética e Histórica ........... 099
californiano de 1914 construído em Victoria/Canadá
Figura 149 – Cartaz do CIAM.............................................. 102
importado de Califórnia/EUA ...............................................090
Figura 150 – Local original dos templos .............................. 103
Figura 138 – Detalhe da elevação da edificação. Bangalô
construído em Sacramento, Califórnia/EUA ........................090 Figura 151 – Templos de Templo de Ramsés II e sua esposa
preferida Neferetari ............................................................. 104

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LISTA DE FIGURAS

Figura 152 e 153 – Imagens representativas em 3D Figura 165 – Pequeno depósito, 2010 ................................ 115
demonstrando a volumetria original da edificação ...............110
Figura 166 – Parede elevada no final do antigo corredor de
Figura 154 – Casarão recém reformado, em destaque sua acesso principal, 2010 ........................................................ 115
forma em “L” em 2002 .........................................................110
Figura 167 – Banheiro da suíte master. A porta principal
Figura 155 e 156 – Fachada posterior do Casarão antes (ano originalmente estava localizada onde está a atual báscula,
de 2001) e depois da intervenção [ca. 2002/2003] ..............111 2010 .................................................................................... 115
Figura 157 - Capinação antes da intervenção em 2001 ......111 Figura 168 – Adições de paredes ....................................... 116

Figura 158 – Lavanderia acrescentada na fachada posterior Figura 169 – Antigo pequeno banheiro no corpo original no
do imóvel, 2010 ...................................................................112 ano de 2001 ........................................................................ 117
Figura 159 – Edificações interligadas, 2010 ........................112 Figura 170 – Antigo banheiro, hoje como depósito,
2010 .................................................................................... 117
Figura 160 – Pequena residência interligada ao Casarão
pelas varandas, 2010 ..........................................................112 6 Figura 171 – Banheiro maior antes da reforma em 2001 .... 118
Figura 161 – Piscina e deck coberto acrescentado alguns Figura 172 – Banheiro maior depois da reforma, 2006 ....... 118
anos após a intervenção, na área posterior do terreno do
Figura 173 – Modificações nos antigos banheiros
Casarão, 2010 .....................................................................113
existentes ............................................................................ 118
Figura 162 – Salão de eventos, localizado ao lado da piscina,
Figura 174 – Detalhe da coluna de concreto em forma de “U”,
2010.....................................................................................113
2010 .................................................................................... 119
Figura 163 – Parte do salão de eventos e garagem coberta
Figura 175 e 176 – Colunas construídas na reforma em 2006
com duas vagas em 2006 ....................................................113
e à direita como estão atualmente, 2010 ............................ 119
Figura 164 – Localização das edificações
Figura 177 – Colunas de concreto com adaptação de um
acrescentadas .....................................................................114
pequeno depósito, 2010...................................................... 120

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LISTA DE FIGURAS

Figura 178 – Três colunas suportando duas tesouras na suíte Figura 191 – Piso atualmente revestido com cerâmica e
master construídas em 2006 ...............................................120 portas com soleira, 2010 ..................................................... 126

Figura 179 e 180 – Barra de ferro presa por anéis na tesoura, Figura 192 – Árvore frondosa na área frontal do terreno em
2010.....................................................................................121 200 ...................................................................................... 127

Figura 181 – Paredes de alvenaria escondendo as colunas de Figura 193 – Parte do muro que divide o Casarão da Câmara
concreto, 2010 .....................................................................121 Municipal parcialmente destruído pela árvore, 2001 ........... 127
Figura 182 – Sala íntima criada pelas paredes que escondem Figura 194 – Jardim atualmente, 2010................................ 128
as colunas, 2010 .................................................................121
Figura 195 e 196 – Muro frontal do imóvel durante sua
Figura 183 – Viga em diagonal, 2010 ..................................122 construção em 2001 e depois de pronto, 2003 ................... 128
Figura 184 – Adições de viga e colunas de sustentação .....123 Figura 197 – Portão de ferro para passagem de veículos,
[200-] ................................................................................... 129
Figura 185 – Antigo fogão à lenha encontrado em 2001 no
interior da edificação............................................................124 Figura 198 – Fachada lateral por onde estava localizada a
antiga escada de acesso principal. Atualmente para acesso
Figura 186 – Antiga cozinha e atualmente como sala de estar,
de veículos, 2006 ................................................................ 129
2010.....................................................................................124
Figura 199 – Guarda-corpo parcialmente elevado, com a
Figura 187 – Tijolo da alvenaria aparente, 2001 .................125
escada prestes a ser retirada em 2001 ............................... 130
Figura 188 – Piso de madeira aroeira encontrado na suíte
Figura 200 – Drª Angélica e sua família na antiga escada
master, antigo grande salão em 2001 .................................125
localizada entre o copo original e o anexo acrescentado,
Figura 189 – Detalhe dos barrotes na suíte master, 2001 .................................................................................... 130
2003.....................................................................................126
Figura 201 – Escada atual com adição de guarda-copos.
Figura 190 – Detalhe dos barrotes no piso do corredor no ano Acesso principal a residência, 2001 .................................... 131
de 2003................................................................................126

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LISTA DE FIGURAS

Figura 202 – Marcação no piso para registro da antiga Figura 214 – Detalhe das novas telhas postas como canal,
escada, 2001 .......................................................................131 para substituir as faltantes, 2010 ........................................ 136

Figura 203 e 204 – Original fogão a lenha restaurado, Figura 215 – Detalhe das novas telhas, 2010 ..................... 136
2010.....................................................................................132
Figura 216 – Iluminação natural durante o dia na suíte master,
Figura 205 – Detalhe da chaminé do fogão a lenha, 2010 .................................................................................... 137
2010.....................................................................................132
Figura 217 – Detalhes do antigo forro na atual suíte master
Figura 206 – Caixa d’água durante sua restauração. Nota-se em 2001 .............................................................................. 137
o aumento de meio metro ainda visível,
Figura 218 – Detalhes do antigo forro no atual quarto de
[ca. 2001/2002] ....................................................................132
visitas, 2001 ........................................................................ 137
Figura 207 – Caixa d’água depois da restauração,
Figura 219 – Estrutura de madeira o qual o forro era preso na
2010.....................................................................................133
atual suíte master, e acima a cobertura da edificação com as
Figura 208 – Localização da caixa d’água e fogão a telhas sendo retiradas em 2001 .......................................... 138
lenha ....................................................................................133 6
Figura 220 – Armário da copa feito com o reaproveitamento
Figura 209 e 210 – Elemento encontrado nas das madeiras da cobertura, [200-] ...................................... 138
escavações..........................................................................134
Figura 221 e 222 – Porta antes da limpeza com ninho de
Figura 211 – Fachada posterior, quase sem resquícios de cupins (ano de 2001) e depois restaurada e pintada com tinta
telhas na cobertura. Condições em que a edificação foi a óleo em 2010 ................................................................... 139
encontrada em 2001 ............................................................134
Figura 223 e 224 – Janela do banheiro social com teias de
Figura 212 – Outro perfil da fachada posterior com somente aranha (em 2001) e após a limpeza pintada com tinta a óleo,
algumas telhas restantes, 2001 ...........................................135 2010 .................................................................................... 139

Figura 213 – Telhas coloniais antigas postas como capa na


cobertura, 2010 ...................................................................136

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DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
LISTA DE FIGURAS

Figura 225 e 226 – Semelhanças das janelas, à esquerda Figura 239 – À esquerda a porta original de acesso lateral
Janelas da copa situada no anexo, e à direita imagem (vista pelo interior do imóvel, 2001), e à direita a atual porta
da janela do corpo original, 2010 .........................................140 que foi substituída pela antiga (vista pelo exterior),
2010 .................................................................................... 144
Figura 227 e 228 – Recuo da janela antes da intervenção em
2001 e o mesmo mantido após a mesma em 2006 .............140 Figura 240 e 241 – À esquerda a antiga porta do anexo [197-],
à direita o vão interno deixado ao retirar o elemento,
Figura 229 – Preenchimento do peitoril das janelas,
2006 .................................................................................... 144
2010.....................................................................................141
Figura 242 – Vão das janelas removidas na suíte de visitas,
Figura 230 – Recuo do peitoril mantido somente nas janelas
2010 .................................................................................... 145
da copa, 2010 ......................................................................141
Figura 243 e 244 – À esquerda a janela original do antigo
Figura 231 – Fachada frontal ainda com todas as janelas
lavabo (2001), e à direita a atual báscula fixa substituída pela
originais, [19--] .....................................................................141
antiga janela, 2010 .............................................................. 145
Figura 232 – Alterações nas esquadrias da fachada principal,
Figura 245 – Janela da sala íntima mantida no exterior do
2001.....................................................................................141
imóvel, 2010 ........................................................................ 146
Figura 233 e 234 – Janela da fachada frontal do corpo original
Figura 246 – Janela da sala íntima fechada por dentro,
adaptada para se transformar em uma porta, 2001 ............142
2010 .................................................................................... 146
Figura 235 – Janela retomada ao seu estado original,
Figura 247 – Duas janelas do quarto de visitas mantidas no
2010.....................................................................................142
exterior do imóvel, 2010 ...................................................... 146
Figura 236 e 237 – À esquerda a antiga porta acrescentada
Figura 248 – Duas janelas do quarto de visitas fechadas por
em alguma época do imóvel (2001), à direita a nova porta
dentro .................................................................................. 146
substituída pela antiga, 2010 ...............................................143

Figura 238 – Uma das antigas portas de acesso lateral, anos


antes da intervenção no imóvel na década de 1970 ...........143

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DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
RESUMO

Este trabalho de graduação trata da análise de intervenção Tal levantamento admitiu a criação de uma tipologia própria
realizada em um imóvel aqui denominado de Casarão, em para as construções do DNOCS da mesma época, além do
Cariús (antigamente conhecido como Poço dos Paus), uma reconhecimento de suas origens americanas nos bangalôs,
cidadezinha no interior do Ceará na década de 1920. devido aos operários estrangeiros que trabalharam no açude.

Tal edificação foi construída pelo governo, através do DNOCS Esta metodologia favoreceu na análise dos procedimentos
(Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) que executados pela atual moradora, Drª Angélica Sales. As
contratou empresas estrangeiras para empreitar açudes no intervenções foram examinadas através de fundamentações
interior dos estados nordestinos onde a seca era mais teóricas e Cartas Patrimoniais, após o que foi avaliada a
intensa. pertinência dos procedimentos adotados.

Para chegar a este assunto, foi feito uma busca sobre a


cronologia das secas no sertão, o que levou ao
desenvolvimento de planos e metas e à criação do DNOCS.
Devido à necessidade de moradia e infra-estrutura dos
funcionários das empresas, foram criadas pequenas vilas no
perímetro dos rios onde eram construídas tais barragens,
entre elas a vila Poço dos Paus. Nela o Casarão era uma
edificação de destaque, inicialmente sendo o antigo Hospital,
e ao longo dos anos passou a abrigar inúmeras funções.

Após argumentar sobre a trajetória histórica da seca, a origem


da cidade Cariús e introduzir o Casarão através de uma
cronologia feita por entrevistas aos moradores locais, foram
apresentadas pesquisas sobre os aspectos das edificações
na mesma região de Cariús que conformam um conjunto com
unidade tipológica formal e construtiva. Palavras-chave: Seca, açude, DNOCS, Cariús/CE,
intervenção, patrimônio.

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DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..............................................................18 B. SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE OS


BANGALÔS E O ANTIGO HOSPITAL DE POÇO DOS
PAUS .................................................................................... 91
2. DA SECA A CARIÚS ....................................................20

2.2 SECA NO BRASIL ........................................................21 4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA ...................................... 93


2.2. CARIÚS (TRAJETÓRIA) ..............................................36 4.1 CESARE BRANDI ......................................................... 94

4.2 CARTAS PATRIMONIAIS ........................................... 100


3. O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS...........50

3.1 TRAJETÓRIA DO CASARÃO........................................51 5. ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFICIO ............ 108


3.2 ANÁLISE TIPOLÓGICA DAS CONSTRUÇÕES DO A. ADIÇÕES.................................................................... 109
DNOCS..................................................................................58
B. INTERIOR................................................................... 115
A. IMPLANTAÇÃO.............................................................58
C. ÁREA EXTERNA ........................................................ 127
B. RESIDÊNCIA DOS ENGENHEIROS ............................63
D. COBERTURA ............................................................. 134
C. RESIDÊNCIA DOS OPERÁRIOS E DEMAIS
FUNCIONÁRIOS ...................................................................68 E. ESQUADRIAS ............................................................ 139

D. EDIFICAÇÕES DE SERVIÇO ........................................77


6. CONCLUSÃO ............................................................. 148
3.3. O CASARÃO (ANÁLISE TIPOLÓGICA) ........................86

A. CARACTERÍSTICAS DOS BANGALÔS ........................89 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................... 150

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DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
SUMÁRIO

8. ANEXOS .....................................................................156

A. PLANTA BAIXA ORIGINAL 1922 ................................157

B. PLANTA BAIXA PRÉ INTERVENÇÃO ........................158

C. PLANTA BAIXA ATUAL ..............................................159

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DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
INTRODUÇÃO 18

Restaurar uma edificação não é somente preencher os vazios Cariús contada através de entrevistas com os moradores
e reparar os bens danificados, e sim preservar tanto seu mais antigos, além das pesquisas bibliográficas.
passado e sua história quanto a construção (estrutura) em si,
Em seguida, o 3º capítulo apresenta o Casarão, contando sua
revelando os valores estéticos e históricos levando em
cronologia. Devido à falta de documentos, a história do imóvel
consideração o material original e os registros documentados.
Também se deve levar em conta a integração das novas é contada baseada apenas em entrevista com habitantes
partes com as antigas de forma harmônica. Tais locais e funcionários que trabalharam no Casarão nas
incorporações devem possuir linguagem da arquitetura atual diversas funções abrigadas pelo edifício ao longo dos anos.
de maneira que não falsifiquem a edificação. Isso tudo só é Entre eles o Sr. José Ferreira, ex-presidente da Câmara
possível se antes tivermos conhecimento da sua história e do Municipal de Cariús, a professora Diva Targino, a Sra. Joniza
Sales, Drª Luisa Angélica Sales, entre outros.
local onde está localizada.

Com os argumentos citados acima o tema deste trabalho será Esta trajetória histórica do imóvel será essencial para poder
baseado na restauração do Casarão localizado no município desenvolver uma análise tipológica das construções do
DNOCS. Isto é possível através de pesquisa de campo na
de Cariús, interior do Ceará, conhecida como uma edificação
região onde se encontra o Casarão, a região Centro Sul (Vale
de grande valor histórico, educacional, político e cultural para
o município pela comunidade da região. do Salgado) do Ceará, em busca de informações não
somente em Cariús, mas também em outras duas cidades
Para abordar este assunto, o restauro, foi necessário seguir (Icó e Orós) e um distrito (Lima Campos da cidade de Orós).
uma linha de raciocínio, contando seu passado, para poder
Esta pesquisa se baseou na procura de edificações
entender como chegou ao seu estado atual, podendo assim,
trabalhar com uma base de informações sólida. construídas pelo DNOCS, através de firmas estrangeiras, na
época da construção dos açudes nas cidades, para que fosse
Inicialmente, no 2º capítulo foi abordada a cronologia das possível desenvolver um parâmetro arquitetônico entre essas
secas no nordeste, principalmente no Ceará, que levou ao construções do DNOCS.
desenvolvimento de planos contra a seca, sendo uma delas o
atual DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as No entanto, não foi possível trabalhar com os dados colhidos
da cidade de Icó devido às construções elevadas pelo
Secas), o que levou ao surgimento e trajetória histórica de

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DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
INTRODUÇÃO 19

DNOCS serem mais recentes (ano de 1973) e construídas por Por intermédio destes elementos serão levantados
uma empresa brasileira. Já a cidade de Orós e seu distrito argumentos sobre as compatibilidades, incompatibilidades e
Lima Campos* têm origem na década de 1920 e 1930 e foram questões alternativas em relação aos procedimentos
edificadas por empresas estrangeiras, assim como em Cariús. tomados, além de apresentar o que poderia ser melhorado ou
feito de outro modo.
Todavia, através das informações colidas, é feita uma
busca da origem deste parâmetro, encontrados nos bangalôs O objetivo principal e essencial deste trabalho consiste em
californianos com alguns traços semelhantes, podendo assim, relembrar e trazer a vida novamente à história quase
comparar as características arquitetônicas. esquecida de Cariús. Ao apresentar a cidade e o projeto de
restauração, tende-se a abrir caminhos para que pessoas
As bases utilizadas para analisar as feitorias no imóvel leigas ao assunto tenham mais interesse sobre a história de
aplicadas pela Drª. Angélica foram explicadas no 4º capítulo. sua cidade ou outra de referências marcantes.
Entre eles está o teórico Cesare Brandi, e documentos como
a Carta Patrimonial de Burra e de Veneza. A meta é despertar o estudo de centros históricos, edificações
antigas que possuem uma vasta e rica trajetória, abrangendo
No capítulo seguinte a analise é incrementada com o material diferentes métodos de pesquisa e estudos, podendo assim,
didático “Técnicas Básicas de Conservação e Restauração” apresentar soluções tomadas em cada caso. Esta
ensinadas na disciplina de Técnicas e Retrospectivas II pela competência enriquece o status do local analisado e também
professora Viviane Pimentel.
impem que a história seja esquecida e patrimônios sejam
___________ destruídos, prejudicados ou desfigurados.

* Em pesquisas feitas nos Diários Oficiais da União da época, foi possível


encontrar a construtora americana, a Dwight P. Robinson & Co. Inc.,
responsável pelo açude de Orós – mesma de Cariús. Porém, não foram
descobertos registros históricos sobre Lima Campos. Neste caso, levando
em conta que as construções de Lima Campos são semelhantes às de
Orós e Cariús, pode-se supor que, as edificações deste distrito devem ter
sido originadas pela mesma firma americana.

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DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
20

DA SECA A CARIÚS
2
CAPITULO 02
DA SECA A CARIÚS
21

Hoje, a seca é um cenário constante na vida dos nordestinos Já no século XVII e início do século XVIII a seca abrange todo
tendo seus primeiros registros antes do império português. o território nordestino, com alguns episódios em destaque
como no caso da capitania de Pernambuco em 1692 onde,
No século XVI estes colonizadores foram atraídos pelas belas
segundo relatos de Frei Vicente do Salvador, índios foragidos
planícies e ótima vegetação rasteira das caatingas no se reuniram em grandes grupos para avançar sobre as
nordeste, propícias a pastagem mantendo uma visão no fazendas situadas as margens dos rios a procura de
desenvolvimento da pecuária e também na agropecuária com alimentos (AMIGOS DO BEM, [20--]).
a plantação de cana e algodão em altitudes que somente a
chuva poderia regar. Devido a tais características favoráveis
ao desenvolvimento da zona rural, não era de se esperar por
uma catástrofe natural, a seca (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO,
1922, p. 57).

A primeira estiagem a ser documentada chegou ao sertão do


nordeste entre Bahia a Pernambuco em 1583 durante a fase
do açúcar - onde o plantio era em larga escala, pois a cana-
de-açúcar se adaptou-se ao clima e ao solo nordestino -
devastando a produção canavieira além das plantações de
mandioca. Os engenhos que eram a base da economia
colonial foram obrigados a parar seu funcionamento, deixando
as fazendas sem água. Cerca de 5 mil índios que habitavam
as redondezas, mortos de fome e sede, desceram o sertão
em busca de alimento, segundo relatos do missionário Fernão Figura 001 – Seca na Paraíba.
Cardin que tratavam sobre o clima e a terra do Brasil e as Disponível em: http://www.portalmidia.net/noticia/instituto-nacional-de-
origens e costumes os índios brasileiros (AMIGOS DO BEM, pesquisas-espaciais-preve-grande-seca-na-paraiba/. Acesso em: 25 jul.
2010.
[20--]).

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CAPITULO 02
DA SECA A CARIÚS
22

2.1. Seca no Ceará Após a crise nos engenhos, os sertanejos começam a obter
esperanças no intervalo de aproximadamente meio século
sem registros alarmantes de secas no sertão, quando um
A dolorosa experiência da seca deixou rastros e cicatrizes surto de varíola em 1776 devastou quase todo o perímetro
pela história da região nordeste. São grandes os relatos de nordestino, seguido de outra seca em 1777 conhecida como
fome, sede, perda de produção agrícola e pecuária que “a seca dos três setes”. Coincidentemente, com a falta de
conseqüentemente causaram uma destruição massiva na chuva a epidemia de varíola se alastra até 1778. Como
população. conseqüência a Corte Portuguesa ordenou que os flagelados
fossem reunidos nas margens dos rios repartindo, entre si, as
Pode-se considerar que o estado que mais sofreu com esses terras adjacentes (AMIGOS DO BEM, [20--]). De acordo com
acontecimentos foi o Ceará, devido ao seu vasto histórico de os registros no acervo do DNOCS2 citados por Jaqueline
episódios de secas com no mínimo oito1 casos registrados de Cordeiro (2010), cerca de 7/8 do rebanho bovino foi perdido e
estiagem entre o século XVIII até os dias atuais. Seu início morrendo mais da metade da população nordestina.
significativo na década de 1720 atingiu não só a província do
Ceará como também seu vizinho, o Rio Grande do Norte. Contudo, era de se esperar que a seca não desse trégua aos
Poucos anos depois, ocorreu outra seca, porém em escala nordestinos. Em 1791, pouco mais de uma década após a
maior, devastando engenhos e matando de fome não apenas seca dos três setes, a denominada Grande Seca tornou a vida
o gado e animais domésticos, mas também quase todos os no sertão mais difícil. Transformou a população cearense em
escravos da região nordeste. Segundo relatos do historiador pedintes, desde os homens às crianças (CORDEIRO, 2010).
Irineu Pinto, os fiscais da Câmara pediram ao rei de Portugal No litoral nordeste do Ceará, em Aracati, ocorreu um
que mandasse mais escravos para trabalharem nos alastramento da peste de varíola e, devido à grande
engenhos, pois os que habitavam a região, por um triz, não aglomeração de famintos dos sertões, cerca de 600 pessoas
pereceram por completo (AMIGOS DO BEM, [20--]). foram a óbito. Os índios que ali residiam, e não pereceram,
____________ ____________
1
Pesquisa/conclusão da autora, mediante observações dos registros 2
constantes nos sites da internet. DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.

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CAPITULO 02
DA SECA A CARIÚS
23

Legenda
fugiram para os estados ao oeste do Ceará, movendo-se em
Vilas mais afetadas pela seca
direção ao interior do Piauí e Maranhão, restando apenas 1 – Trecho do Rio Acaraú
uma pequena população indígena (CORDEIRO, 2010). 2 – Trecho do Rio Jaguaribe
PARÁ Trajetória dos índios

Segundo o professor Vieira Junior ([20--], p. 04), não somente


1
o litoral cearense sofreu com essa seca, mas também vilas Fortaleza
MARANHÃO
em extremos opostos da capitania, como Icó e Sobral ficaram Sobral
Aracati
a mercê deste pesadelo. Ambas em área economicamente
desenvolvidas pelo agro-pastoril e banhadas pelos rios, 2 RIO GRANDE
DO NORTE
Jaguaribe e Acaraú, sentiram igualmente a dimensão em que Icó

a grande seca seguiu seu rumo no Ceará. Até sete anos após
PIAUÍ PARAÍBA
a lástima dominar os sertanejos, o assunto ainda era
queixado pela Câmara de Vereadores de Icó através da carta
PERNAMBUCO
enviada ao príncipe regente D. João no início do ano de 1801,
narrando a miséria em que seguia a vila durante os dois anos ALAGOAS
de estiagem: TOCANTINS PARAÍBA
SERGIPE
Daquelle ainda não visto castigo, os brados
da pobreza, os gemidos dos que tinhão o Figura 002 – Localização de Icó, Sobral e Aracati no Ceará e trajetória de
impróprio nome de ricos, a dissolução dos fuga dos índios.
Povos, e dos animaes, a consternação dos Fonte: Acervo pessoal.
racionaes viventes (...) se arojam a comer
toda, e qualquer (...) ave immunda que fose Após grandes incidentes de secas durante três séculos desde
a carne dos mesmos, as raixes das arvores, seus primeiros registros, é somente no início do século XIX
com que se intranhão em grandes males que surgiram as primeiras iniciativas do governo para apoio
[SIC].
(VIEIRA JUNIOR, [20--], p.04) aos flagelados, com a criação de organizações, instituições e
comissões de caráter administrativo.

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CAPITULO 02
DA SECA A CARIÚS
24

A primeira organização com intuito de dar assistências às A seca de 1877 a 1879 devastou vilas inteiras, carregando
vítimas da seca e socorrer a pobreza incentivando o cultivo da consigo gado, crianças, mulheres, idosos e plantações,
mandioca no país foi a Pia Sociedade Agrícola estabelecida deixando um rastro de 500 mil mortes na região, sendo 200
pelo governador da Paraíba, Luis da Mota Fêo em 24 de mil delas só no Ceará. Dos 800 mil habitantes cearenses 15%
outubro de 1802 - devido à sensibilidade da capitania (PB) à migraram para Amazonas e 8,5% foram para outros estados,
última grande seca. Foi ordenada então a plantação de alguns se deslocavam para lugares distantes. Fortaleza foi
duzentas mil covas de mandioca alcançando lucros até 1804 extremamente devastada e cerca da metade da população
(NASCIMENTO FILHO, 2008). morreu (AMIGOS DO BEM, [20--]).

Porém em períodos de dificuldades econômicas no preço da


farinha de mandioca, Luiz da Mota Fêo recorreu ao apoio do
governador da Bahia para importar a farinha e remediar a
situação dos fazendeiros que, com o ganho líquido, Fêo
alimentava o gado faminto, os escravos e repulham os furtos
feitos pelos flagelados da região (NASCIMENTO FILHO, 2008).

Mas em julho de 1805 a Pia Sociedade Agrícola foi abolida


devido à chuva que caía sobre a terra paraibana tornando o
solo inapropriado para a mandioca. Então tudo que estava
sobre sua posse como lavouras, fundos, propriedades, entre
outros, foi doado ao hospital Santa Casa de Misericórdia
(NASCIMENTO FILHO, 2008).
Figura 003 – Fotografia de uma família de flagelados em uma estação
ferroviária do Ceará.
Agora não somente a Paraíba, mas toda a região nordeste e
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Seca_no_Brasil. Acesso em: 7
principalmente o Ceará, foram devastados por uma das secas jun. 2010.
com maior índice de mortalidade registrado até a atualidade
(AMIGOS DO BEM, [20--]). Em conseqüência da grande seca que devastou o Ceará, o
Governo Imperial adotou metas para abastecimento de água

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CAPITULO 02
DA SECA A CARIÚS
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para a população e implantação de sistemas de irrigação para Todavia, a comissão foi reestruturada novamente e, em 1889,
a agricultura no interior da província. Com esse objetivo foi foram feitas algumas modificações no projeto original do
criada uma das primeiras comissões formada por engenheiros açude, elaboradas pelo engenheiro Ulrico Mursa da Comissão
e cientistas, que baseados em iniciativas de estudos e de Açudes e Irrigação. As obras então foram iniciadas em 15
pesquisas, propuseram a construção de açudes para de novembro de 1890, sob a nova direção do engenheiro
retenção de águas pluviais e canal de ligação para os campos Bernardo Piquet Carneiro e após várias suspensões da
próximos. Chefiada pelo engenheiro austríaco Julius Pinkas, a construção, a barragem pode ser finalmente finalizada em
coletiva da comissão desembarcou em Fortaleza no dia 12 de 1906 (WIKIPÉDIA, 2010).
janeiro de 1878. Após analises do território, foram
determinados a construção de 30 açudes e de sistemas de Hoje o Açude do Cedro, além de ser encarregado de prover
irrigação nas províncias do Ceará (COSTA, 2001, p. 173). as redes de irrigação, propõe locais para pesca, prática de
esportes e banho.
Contudo, a única construção iniciada pela Comissão de
Açudes e Irrigação (mais tarde, o atual DNOCS) foi o Açude
do Cedro localizado em Quixadá, interior do Ceará, local
indicado pelo engenheiro Ernesto Antônio Lassance Cunha e
confirmado pelo engenheiro britânico Jules Jean Revy, sendo
este encarregado de executar o projeto original em 1882
(WIKIPÉDIA, 2010).

Entretanto, por questões de desacordos, a comissão foi


dissolvida em 1886. Devido a este acontecimento e à outra
seca que abateu não somente o Ceará, mas como
Pernambuco e Paraíba, motivou o abandono das vilas destes
estados e, conseqüentemente, a elaboração do projeto do Figura 004 – Açude do Cedro em 1906 e ao Fundo a pedra Galinha
Choca, Quixadá/CE.
Açude do Cedro foi paralisado até 1888 (COSTA, 2001, p.
Fonte: COSTA, Cacilda Teixeira. O sonho e a técnica: a arquitetura de
173). ferro no Brasil. Editora EDUSP. pg. 172, 2001.

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CAPITULO 02
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acondicionamento dos materiais e equipamentos de


construção do Açude do Cedro.

QUIXADÁ

AÇUDE SEDE
CEDRO QUIXADÁ

Figura 005 – Açude do Cedro hoje (2010), Quixadá/CE.


Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%A7ude_do_Cedro>
Acesso em: 7 jul. 2010.

Durante a construção da barragem, os operários e CEARÁ


engenheiros montaram acampamento nas proximidades da
obra para servir de apoio e moradia. Os resquícios Figura 006 – Localização do Açude do Cedro e a
constituídos dos casarões ainda estão presentes a seis sede de Quixadá/CE. QUIXADÁ

quilômetros da sede do município de Quixadá, como se pode Fonte: Intervenções no mapa: Acervo Pessoal.
observar nas figuras 007 a 009. Porém, vale ressaltar que
algumas edificações eram direcionadas para hospedagem, e
outros casarões servia como galpões para o

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CAPITULO 02
DA SECA A CARIÚS
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Figura 008 – Edificação estruturada em alvenaria maciça.


Figura 007 – Condições atuais das construções elevadas no Disponível em:
acampamento em Quixadá/CE. <http://www.revistacentral.com.br/index.php?option=com_content&view=ar
Disponível em: ticle&id=1585:casaroes-do-acude-cedro-cenas-de-um-patrimonio-
<http://www.revistacentral.com.br/index.php?option=com_content&view=ar abandonado-&catid=59:direito-e-cidadania&Itemid=277>. Acesso em: 16
ticle&id=1585:casaroes-do-acude-cedro-cenas-de-um-patrimonio- jun. 2010.
abandonado-&catid=59:direito-e-cidadania&Itemid=277>. Acesso em: 16
jun. 2010.

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CAPITULO 02
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Figura 010 – Interior do imóvel atualmente, localizado no antigo


acampamento de Quixadá/CE.
Figura 009 – Um dos galpões onde eram guardados os materiais de Disponível em:
construção. <http://www.revistacentral.com.br/index.php?option=com_content&view=ar
Disponível em: ticle&id=1585:casaroes-do-acude-cedro-cenas-de-um-patrimonio-
<http://www.revistacentral.com.br/index.php?option=com_content&view=ar abandonado-&catid=59:direito-e-cidadania&Itemid=277>. Acesso em: 16
ticle&id=1585:casaroes-do-acude-cedro-cenas-de-um-patrimonio- jun. 2010.
abandonado-&catid=59:direito-e-cidadania&Itemid=277>. Acesso em: 16
jun. 2010. A formação da Comissão de Açudes e Irrigação desencadeou
o interesse do governo federal em ampliar a organização em
uma Inspetoria de Obras Contra as Secas - IOCS3,

____________
3
IOCS – Criada através do Decreto Nº 7.619 em 21 de outubro de 1909.

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promulgada em 1909 pelo Presidente da República, Nilo atual Jucás. Com o passar do tempo a vila passou a ser
Peçanha. Segundo Fritsch (1990), citado por Pomponet denominada Cariús, localidade que abriga o objeto de estudo
(2009, p. 59) a inspetoria foi criada na “era de ouro” da deste trabalho (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1912a, p. 06).
Primeira República, quando o país estava proporcionando
grandes obras de infraestrutura, tais como portos e ferrovias. Para que os projetos de caráter público fossem executados,
foi necessária uma concorrência pública entre as empresas
Com sede em Fortaleza, o IOCS proporcionava estudos, interessadas visando o menor custo. A sessão para o açude
planejamentos e obras contra as conseqüências das secas na do Poço dos Paus foi aberta na sede do IOCS, em Fortaleza,
região nordeste do Brasil. Seus serviços eram executados de com duração de um mês, tendo início dez dias após a
acordo com a urgência da área, sendo dos mais variados aprovação inicial do Presidente (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO,
possíveis, promovendo infraestrutura de todos os efeitos: 1912b, p. 29).
estradas de ferro; vias de comunicação entre flagelados,
mercados e centro de produtores; açudes de pequeno, médio Grande parte das concorrências foi feita da mesma maneira,
e grande porte; poços tubulares e artesianos; canais de como no caso do açude do Caio Prado, hoje sendo município
do Ceará, com a concorrência finalizada juntamente com o
irrigação; barragens transversais e submersas; drenagem de
açude do Poço dos Paus. Tal fato também pode ser verificado
vales; estações pluviométricas, estudos das condições
em outras partes da região nordeste. O açude da Serrinha
meteorológicas, geológicas e topográficas das zonas
pertencente ao município Serra Talhada, finalizado no mesmo
assoladas; conservação das florestas; além de outros contra
os efeitos das secas (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1909, p. ano, é um exemplo (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1912c p.
02). 26).

Com intuito de acelerar o processo de construção de açudes Porém a prosperidade do IOCS, sob os decretos do
e poços nas regiões mais condenadas pelas secas, no dia 18 presidente Venceslau Brás, não foi muito além,
de outubro de 1912, é aprovado pelo Presidente da supostamente, devido ao alto custo na execução dos açudes.
No ano de 1914 somente 42 poços haviam sido escavados,
República, Hermes da Fonseca, o projeto e orçamento
propostos pelo IOCS para construção do açude na Vila Poço sendo que 33 deles eram privados e apenas 9 públicos
dos Paus - Ceará, antigo distrito do município de São Mateus, (VILLA, 2000, apud POMPONET, 2009, p. 59). Mas o
principal vilão foi a seca de 1915 que novamente arrasou a

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região nordeste. Junto à estiagem foi introduzido o primeiro 1915 onde a própria família de Rachel foi obrigada a fugir do
campo de concentração no Ceará, situado em Alagadiço a Ceará. Em trechos do livro, dois dos personagens principais,
oeste de Fortaleza (CORDEIRO, 2010). Conceição e Vicente, dialogam sobre o campo de
concentração erguido nesta época. Em seu conto, a escritora
Devido à massiva miséria em que os flagelados se Rachel relembra que o curral chegou a aglomerar cerca de 8
encontravam, era de se esperar que vítimas encurraladas mil flagelados da seca (SÁ, [20--]).
pela seca se alastrassem por todo o estado cearense. Para
evitar um reprise da seca de 1877, onde mais de 110 mil Em 1919, quando Epitácio Pessoa ascende à presidência da
sertanejos famintos tomaram conta das ruas de Fortaleza, as República, a seca na região nordeste é administrada em
autoridades tomaram providencias para que os "mulambudos” maior escala, visando propostas de açudes, barragens e
do sertão, assim chamados, não chegassem à capital do escavação de poços com a finalidade de reservar água pluvial
estado, aterrorizando, saqueando trazendo moléstia e sujeira para épocas de grandes estiagens. A grande quantidade de
como davam parecer nos boletins do poder público da época máquinas e equipamentos importados de Nova York e
(SÁ, [20--]). desembarcados em Fortaleza era prova de que finalmente os
nordestinos iriam ter um mecanismo de defesa contra os
Com essa meta, foi criado pelos governos estadual e federal, efeitos das secas (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1922, p. 60).
o campo de concentração, onde as famílias eram isoladas
das cidades e sob vigilância de soldados foram mantidas Em meados do mesmo ano, a Inspetoria de Obras Contra as
neste recinto com um pouco de água e comida. Todavia a Seca - IOCS recebe o nome de Inspetoria Federal de Obras
média de mortalidade dos flagelados chegava a 150 por dia e Contra as Seca – IFOCS4 através do decreto promulgado por
a acumulação dos famintos e a putrefação dos mesmos era Epitácio Pessoa (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1919, p. 101-
absurdamente grande, tanto que o governo estadual foi 109), seguido da lei que instituiu a Caixa Especial das Obras
obrigado a dispersar os prisioneiros em 18 de dezembro do
mesmo ano (SÁ, [20--]).

A “seca de quinze” foi um trágico marco que até os romances ____________


deram vida aos relatos desse episódio, um deles é “O Quinze” 4
IFOCS – Aprovada pelo Decreto Nº 13.687 em 9 de julho de 1919.
de Rachel de Queiroz. O livro narra o cenário da seca de

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de Irrigação no Nordeste5 garantindo o financiamento Porém o insucesso foi inevitável. A execução dos serviços
necessário para início das obras (DIÁRIO OFICIAL DA pedia um orçamento muito superior ao que foi inicialmente
UNIÃO, 1923, p. 51). estipulado, e em 1923 algumas obras foram paralisadas,
outras tiveram que restringir suas atividades. Em outros
Após garantir a verba, Epitácio aprovou as cláusulas, em casos, as que já estavam quase concluídas, foram finalizadas
1920, que autorizaram o IFOCS a contratar empresas (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1924, p. 63).
estrangeiras para as grandes construções de barragens e
canais de irrigação no nordeste, iniciadas em: Gargalheira e Em relação às construções no estado do Ceará, as obras que
Parelhas no Rio Grande do Norte pela empresa inglesa (com tiveram os trabalhos suspensos foram as de Poço dos Paus,
sede em Londres) C. H. Walker & Co. Ltd. 6 (DIÁRIO OFICIAL Patú e Quixeramobim (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1924, p.
DA UNIÃO, 1920, p. 02); Orós e Poço dos Paus no Ceará e 63), entretanto foi concluída quase toda a infraestrutura para
São Gonçalo e Piranhas na Paraíba designando a empresa a implantação dos acampamentos, tais como a construção de
americana Dwight P. Robinson & Co. Inc.7 (DIÁRIO OFICIAL casas para os trabalhadores, administradores e homens de
DA UNIÃO, 1920, p. 04); Acarape (iniciada em 1910, mas “categoria”, casas de oficinas e depósito de materiais.
quase concluída), Quixeramobim e Patú no Ceará pela
Além da infraestrutura, em Poço dos Paus e Quixeramobim
empresa inglesa Norton Griffiths& Co. Ltd.8 (DIÁRIO OFICIAL
DA UNIÃO, 1920, p. 06). foram concluídas as casas que abrigam os geradores de força
e somente em Poço dos Paus é garantido o registro de
____________ abastecimento de água no acampamento (DIÁRIO OFICIAL
5
DA UNIÃO, 1922, p. 60, 61).
A Caixa Especial autorizava o Governo Federal a adquirir empréstimos
no exterior com um certo limite. Regulamentada pela Lei 3.965 em 25 de Já em Acarape as construções foram prosseguidas e
dezembro em 1919.
finalizadas somente em 19249 (DNOCS, [20--]a) e em Orós
6
Aprovada pelo Decreto Nº 14.433 em 22 de outubro de 1920. foram concluídas em 196110 (DNOCS, [20--]b).
7
Aprovada pelo Decreto Nº 14.434 em 22 de outubro de 1920. A desmotivação das famílias locais proporcionada pelas
8 estiagens, também ajudou na redução de verba para as obras
Aprovada pelo Decreto Nº 14.435 em 22 de outubro de 1920.
contra as secas. Contudo em 1925, segundo Fritsch (1990),

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citado por Pomponet (2009, p. 60) o sucessor de Epitácio relatos que afirmam a promessa não cumprida de água e
Pessoa, Artur Bernardes, propôs uma redução de despesas, comida para os flagelados no campo de concentração do
desamparando os investimentos na região nordeste. Crato, onde o a quantidade de mortos por dia chegou a cerca
de 200 pessoas devido à fome e doenças. Segundo
Então novamente a estiagem assola o Nordeste em 1932 e o
estatísticas oficiais, dos 73918 flagelados aprisionados nos
movimento dos sertanejos foi feito em direção às grandes “currais”, 16200 foram confinados em Crato, 28648 em
cidades. Com função de bloquear os flagelados até a capital, Cariús, 16221 em Senador Pompeu, 6507 em Ipu, 4542 em
os campos de concentração, os chamados “Currais do Quixeramobim, 1800 em Fortaleza Sá ([20--]) .
Governo”9, são reutilizados, porém neste caso o campo não
foi só implantado em Alagadiço (Fortaleza), mas também em Nesta época algumas construções feitas para apoio dos
outras cidades com estrutura básica e estação de trem, sendo operários dos açudes, serviram como sedes dos campos de
alastrados Ppor todo estado do Ceará: Pirambu (em concentração no Ceará, tal como a antiga vila em Senador
Fortaleza, conhecido como Campo do Urubu), Senador Pompeu. Os casarões do antigo acampamento foram
Pompeu, Quixadá, Quixeramobim, Cariús, Ipu e Crato. Os construídos em 1919 pelos trabalhadores ingleses que
flagelados recebiam comida, cuidados e podiam trabalhar em operavam na construção do açude na região (ROCHA, 2008).
obras sob vigia dos soldados, porém não evitou a mortalidade Embora não sejam encontrados documentos oficiais que
dos sertanejos devido às condições desumanas nos “currais” afirmam quais imóveis foram utilizados para tal propósito,
(CORDEIRO, 2010). ainda se podem observar as ruínas destas construções no
município, como no caso do resquício de um casarão
Entretanto, no livro Campos de Concentração no Ceará: construído em 1923 representado nas figuras 011 a 016.
Isolamento e Poder na Seca de 1932, da historiadora Kênia
Souza Rios (2001), citados por Sá ([20--]) são encontrados

____________
9
Currais do Governo – Nome dado vulgarmente aos campos de
concentração, devido às condições precárias e o modo como os humanos
eram tratados pelos soldados do governo, feito animais encurralados.

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Figura 013 – Cena do filme “Lágrimas de Vela” que relata a história dos
Figura 011 – Casarão construído em 1923, sede do campo de sobreviventes do “curral” em Senador Pompeu.
concentração em Senador Pompeu/CE. Disponível em:
Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82817432>. Acesso <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=515480>. Acesso
em: 9 jul. 2010. em: 16 jun. 2010.

Figura 012 – Detalhe no oitão que relata o ano de sua construção. Figura 014 – Face longitudinal do casarão.
Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82823198>. Acesso Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82823197>. Acesso
em: 9 jul. 2010. em: 9 jul. 2010.

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falta de treinamento e experiência militar, a tropa composta


pelos cearenses sofreu com o frio devido às fardas
inadequadas. Em estimativa, menos da metade dos soldados
improvisados voltaram vivos para o Ceará (SÁ, [20--]).

As condições dos nordestinos também foram representadas


nas Artes Plásticas, como retratado na obra de Portinari que
enfatiza a miséria e sofrimento do povo nordestino, realçando
a tristeza e dramatização dos personagens bastante realistas
(fig. 017).

Figura 015 e 016 – Observa-se as características do interior da construção


e a má condição do patrimônio.
Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82817433>;
<http://www.flickr.com/photos/kallyl/82817434>. Acesso em: 9 jul. 2010.

Cerca de uma década depois, tropas revolucionárias contra o


exército brasileiro se erguiam em São Paulo com objetivo de
derrubar o Governo de Getúlio Vargas que assumiu a
presidência em1930, dando origem a Revolução de 32. E
para aumentar o volume de soldados, o governo federal e
estadual convocou cerca de 1200 dos flagelados cearenses,
Figura 017 – Retirantes, Candido Portinari, 1944.
inclusive idosos e crianças, que habitavam os campos de Disponível em:
concentração, para servir ao Exército brasileiro contra as <http://www.proa.org/exhibiciones/pasadas/portinari/salas/portinari_retirant
tropas revolucionárias em São Paulo. Em conseqüência a es.html>. Acesso em: 8 jul. 2010.

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Devido a repetidas e prolongadas crises de estiagem durante Para uma nova reformulação do IFOCS, o Presidente da
séculos em praticamente todos os municípios dos estados do República José Linhares em dezembro de 1945, adota um
nordeste, incluindo o norte de Minas Gerais, esta área ficou novo nome para a Inspetoria, tornando-se finalmente em
conhecida como Polígono das Secas em 1936, sendo foco de Departamento Nacional de Obras Contra as Secas –
atenção especial pelo Poder Público em 1.877 municípios DNOCS10, hoje sendo o atual nome, administrando uma nova
(SUDENE). estrutura para o Departamento que mais tarde, em 1963, se
transforma em uma autarquia federal independente do poder
central (DNOCS, [20--]c).

Novamente outra grande seca em 1958 se alastrou pelo


nordeste. As conseqüências foram ainda mais alarmantes
devido à exclusão da região no Plano de Metas "crescer
cinqüenta anos em cinco” do governo do Presidente da
República, Juscelino Kubitschek. Com a seca, o governo
federal foi obrigado a encaminhar obras de emergência para
mais de 500 mil habitantes do nordeste (CORDEIRO, 2010).

A partir de então, Kubitschek implementa o plano de “Uma


política de desenvolvimento para o Nordeste”, que leva à
fundação da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento
do Nordeste) em 1959 que atua na região do Polígono das
Secas promovendo o desenvolvimento dos municípios desta
área (CORDEIRO, 2010).
Figura 018 – Estados que abrigam o Polígono das Secas. ____________
Disponível em:
<http://www.dnocs.gov.br/~dnocs/var/images/galeria/_piscicultura/penteco 10
DNOCS – Conferido pelo Decreto-Lei Nº 8.846 em 28 de dezembro de
ste/PoligonoSecas.jpg>. Acesso em: 9 jul. 2010. 1945.

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Somente uma década depois a taxa de mortalidade, devido à 2.2. Cariús – Trajetória
estiagem no nordeste brasileiro, foi reduzida drasticamente.
Contudo 11% da população migrou procurando uma
qualidade de vida melhor. Tentando fugir da miséria, fome, (...) para construirmos o futuro precisamos
sede e principalmente das crises provocadas pelas secas que conhecer o passado. (...) Registrar fatos do
assolavam qualquer flagelado do sertão nordestino fossem presente para que mais adiante os ávidos
neo-cariuenses tenham fontes de
homens, mulheres, crianças ou idosos (CORDEIRO, 2010).
informações sobre tópicos de uma
civilização passada, incrementando desta
forma, a cultural, a alta estima e a cidadania.
(...) sempre que possível editaremos fatos
atinentes a personalidades que glorificaram
nossa terra, buscando restabelecer a nossa
história, para que estranhos que não
conhecem nosso passado, nem o nosso
povo, possam compreender que a nossa
gente tem orgulho de pertencer a essa terra.
(JORNAL FOLHA DO MUQUÉM, 2000, p. 01)

Este é o pensamento dos habitantes de Cariús11, que


transmitem o orgulho da terra natal onde ao longo dos
séculos se desenvolveu lutando contra secas e enchentes,
deixando de ser apenas um deserto no sertão para conquistar
sua emancipação como município do Ceará.

____________
11
Cariús – Nome indígena tupi que significa “Rio de Cari”, ou seja, peixe
de água doce. Mas segundo relatos de Tomaz Pompeu Sobrinho, possui
sentido de “água saindo do mato”.

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O povoamento desse território foi feito pelas primeiras tribos


indígenas que habitavam nas áreas das proximidades do rio
IGUATU
Jaguaribe, os quixelôs, naturais dos povoados de Telha, hoje JUCÁS
a atual cidade Iguatu. Entretanto, devido às missões jesuíticas
em meados do século XVIII, os nativos viviam em SEDE
CARIÚS
aldeamentos na área de Poço dos Paus12 (atual Cariús)
sendo pacificados através dos métodos de catequese na
quadra colonial da ordem religiosa (IBGE, 1959).

De acordo com os conhecimentos sobre a colonização do CARIÚS


Brasil, após a desocupação dos índios na região, seu
povoamento foi atribuído no governo de D. João III, a partir da
concessão em sesmarias, onde os colonos tinham o direito de
ocupar a área com a produção que demarcaria seu território.
Supostamente por questões de necessidade, com a
proximidade da água para o próprio fornecimento e dos
animais, se localizaram às margens do rio Cariús, onde o CEARÁ
Legenda
mesmo deságua no rio Jaguaribe, desenvolvendo a produção
Rio Cariús
de pecuária, e ali estabeleceram suas casas originando as
Rio Jaguaribe
fazendas.
CARIÚS
____________ Figura 0019 - Localização do rio Cariús e
Jaguaribe em Cariús/CE
12
Poço dos Paus – Segundo moradores locais, o nome foi dado devido a Fonte: Intervenções no mapa: Acervo Pessoal.
formação dos vários poços nos perímetros dos morros com vegetação da
região. Não foram encontrados registros de quando o nome foi adquirido
pela vila.

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Todavia, o território não passava de um deserto. Devido a


essas condições que obrigavam o homem a migrar de sua
Casarão do
terra, tocado pela necessidade, cansado de ver seu gado Residências dos
engenheiro mestre
morrer e sua plantação esvaecer, em 1920 o Presidente da engenheiros e topógrafos
República, Epitácio Pessoa, aprova o decreto que permite a
autorização do IFOCS na contratação da empresa americana
Dwight P. Robinson & Co. In. para a construção da barragem
de alvenaria em Poço dos Paus com objetivo de conter as
águas do rio Cariús (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1920, p. 4).

Com a vinda dos americanos para as margens do rio, foi


necessária a implantação de acampamentos compostos de
várias edificações e construções necessárias para a fixação
de moradias dos operantes. Entre elas, foi construída a ponte
pênsil (fig. 020), o único acesso que ligava o território de Poço
dos Paus divido pelo rio Cariús. Em um lado do rio (entre o rio
Cariús e o rio Jaguaribe) foi construído o casarão do
engenheiro mestre em um nível mais alto (demolido
recentemente sem motivos), as residências para o alto
escalão, como os engenheiros e topógrafos (fig. 022) e a
Casa de Gelo – que através de rumores dos moradores
locais, servia para produzir gelo que era colocado nas
Figura 020 – Ponte pênsil estruturada com cabos de aço e ripas de
bebidas dos americanos – no Bairro Acampamento. madeira. Com vista para o Bairro Acampamento e ao fundo pela esquerda
a casa do engenheiro mestre.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

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Na outra margem do rio Cariús estava crescendo a vila do


Poço dos Paus, formada também pelos americanos, onde foi
edificado um Hospital (fig. 023), hoje atual residência da Drª
Luisa Angélica Sales fundadora do Instituto Mandacaru13, a
Gerência do IFOCS (fig. 024) que também abrigou os
funcionários e a casa do médico (fig. 025) – após alguns anos
foi a sede da Agência Postal-telegráfica e mais tarde se
tornou em uma residência – na Vila do Prado atual Praça da
República.

Figura 021 – Rio Cariús hoje, parcialmente seco. Estrada onde estava
localizada a ponte pênsil, ao fundo o antigo Bairro Acampamento, 2010.
Fonte: Acervo.

Figura 023 – Hospital do IFOCS. Atualmente residência da Drª Luisa


Angélica Sales, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

____________
Figura 022 – Resquícios das casas dos engenheiros no Bairro
13
Acampamento no início do século XXI. Instituto Mandacaru – ONG (Órgão Não Governamental) criada em
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. novembro de 2003 com objetivo de combater a exclusão social.

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Figura 026 – Vila do Prado com o antigo Hospital à direita e ao final da


rua, na mesma calçada, a casa do médico atuando como a Agência
Figura 024 – Antiga Gerência do IFOCS. Atualmente residência, [20--]. Postal-telegráfica. Meados do século XX.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 025 – Antiga casa do médico sediando a Agência Postal- Figura 027 – À esquerda, Praça República atualmente. À direita, antiga
telegráfica, [195-]. Gerência do IFOCS seguida do antigo Hospital e da casa do médico,
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

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Também foram construídos 18 casas modestas, 9 em cada


lado da rua, para os operários brancos na Rua da Vila (fig.
028), hoje Rua 7 de Setembro; na Rua Barbadiana – assim
chamada pela aparências robustas e pele negra dos
moradores - foram erguidas casas para os negros
estrangeiros que vieram do Caribe para trabalhar na
construção do açude (fig. 029); o Almoxarifado/Escritório (fig.
030) – que segundo moradores locais possuía um sino que
tocava para chamar os operários ao trabalho, além da
implantação da Casa de Força e Luz para o suprimento de
energia do acampamento.
Figura 029 – Antiga Rua Barbadiana com algumas residências da época,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 028 – Rua da Vila atualmente com as antigas casas dos operários,
2010. Figura 030 – Almoxarifado do IFOCS, atualmente residência, 2010.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. Fonte: Acervo pessoal.

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Casarão do Residências dos


engenheiro Chefe engenheiros e topógrafos.
Almoxarifado
/Escritório

Rua da Vila – Casas


dos operários

Figura 031 – Foto panorâmica de Poço dos Paus. Ao fundo o Bairro Acampamento com o casarão do chefe e as residências dos engenheiros e topógrafos.
Mais a frente o Almoxarifado/Escritório e ao lado a Rua da Vila com as casas dos operários, [19--].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

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No mesmo ano, 1920, foi iniciada a construção da estação de


trem que levaria todo material de construção da barragem
para Poço dos Paus (fig. 032). Entretanto, durante sua
execução, as obras do reservatório de Poço dos Paus foram
paralisadas devido à racionalização de verba do governo. Em
virtude deste acontecimento, após a inauguração da estação
em 1922, o ramal ficou à disposição do tráfego de pessoas e
da produção algodoeira, trazendo homens à procura de
empregos que ao se depararem com uma infraestrutura
básica proporcionada pelos americanos, estabeleceram-se no
local, o que resultou em um pequeno núcleo de comércio
visando o desenvolvimento de um povoado. Figura 032 – Estação de trem em meados do século XX.
Fonte: IBGE. Enciclopédia dos Municípios, vol. XVI, 1959.
Segundo moradores, em 1978 o trem já não estava mais em
funcionamento e em seu edifício está localizado o atual
Hospital Municipal Dr. Thadeu de Paula Brito (fig. 033). Tais
que vivenciaram a época em que o ramal ainda estava em
ativa, afirmam que a utilização do mesmo não era mais viável
por questões econômicas, devido à abertura de novas
estradas adentro do estado evidenciando e facilitando acesso
dos automóveis individuais e coletivos.

Com o adensamento de habitantes e o crescimento


econômico, o acampamento foi elevado à categoria de Vila
em 1938 pelo Decreto Lei 169, pertencendo ao Município de
São Mateus, hoje denominada de Jucás (IBGE, 1956).
Figura 033 – Estação de trem hoje como Hospital Municipal, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

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Além do comércio, a riqueza econômica da vila estava em


crescimento devido à alta produtividade de algodão através
de firmas como Montenegro (figs. 034 - 037), Mifrota e Cortez.
Foi então que, em abril de 1938, o Padre José Sobreira
chegou a Vila e escolheu o dia 8 de setembro, mesmo
período da colheita do algodão, para celebrar a festa da
padroeira Nossa Senhora Auxiliadora de Poço dos Paus
nesta época, dando ênfase ao dia da fartura do algodão.

Figura 035 – Proximidade dos galpões da firma com o ramal de trem,


década 1930.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 034 – Área da firma Montenegro. Ao fundo a estação de trem,


década 1930.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 036 – Estocagem da produção algodoeira, década 1930.


Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

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CAPITULO 02
DA SECA A CARIÚS
45

Figura 037 – Galpões atualmente, parcialmente deteriorados, 2010.


Fonte: Acervo pessoal.

Segundo o morador José Ferreira, ex-presidente da Câmara Figura 038 – Primeira bandeira do município Cariús em 1968.
Municipal, durante anos a população da cidade lutou pela Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
emancipação do distrito através de comitês para elevar a vila
em município do Ceará. Embora Cariús esteja localizada no Polígono das Secas
sendo vítima de várias crises de estiagens durantes séculos,
Em 22 de Novembro de 1951, através da Lei 1153/51, Poço os efeitos também podem ser o inverso. Como ocorreu em
dos Paus é desmembrada da cidade de São Mateus, se 1974, um dos maiores casos de enchentes no município.
erguendo à categoria de município. Mas é somente em 25 de Relatos de moradores que vivenciaram o acontecimento
março de 1955 que a formação oficial da Câmara Municipal é alegam que as elevações das águas dos rios Jaguaribe e
instalada já com o novo nome de Cariús, elegendo como Cariús foram tão violentas que balançaram a ponte pênsil,
primeiro prefeito o Sr. Silvestre Almeida Duarte (IBGE, 1959). feita de cabos de aço, até carregá-la correnteza a fora.

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CAPITULO 02
DA SECA A CARIÚS
46

Destruiu grande parte da área baixa localizada na zona rural


da cidade, principalmente as casas feitas de taipa14, forçando
os moradores a se abrigarem na parte mais alta ou em
residências elevadas como o Casarão, antigo hospital do
acampamento dos americanos, instalando os flagelados da
enchente no grande salão da edificação.

Figura 040 – Manchas nas paredes dos edifícios que indicam até onde a
água subiu dentro da cidade, 1974.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 039 – Rua coberta pelas águas do rio em 1974.


Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

____________
14
Taipa - Antiga técnica construtiva em que a paredes eram constituídas
de entrelaçamento de madeiras verticais e horizontais amarradas umas as Figura 041 – Trágica conseqüência na zona rural do município em 1974.
outras com cipó e preenchidas com barro. Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

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DA SECA A CARIÚS
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Figura 042 – Foto aérea indicando os rios Jaguaribe e Cariús. À esquerda a cidade de Jucás banhada pelo rio Jaguaribe e a sede da cidade de Cariús (à
direita) banhada pelo rio Cariús, que deságua no rio Jaguaribe ao norte de Cariús, 2010. Sem escala.
Fonte: Google Earth. Acesso em: 25 de jun. de 2010.

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CAPITULO 02
DA SECA A CARIÚS
48

Figura 043 e 044 – Aproximação das fotos aéreas de Jucás (à esquerda) e Cariús (à direita), 2010. Sem escala.
Fonte: Google Earth. Acesso em: 25 de jun. de 2010.

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CAPITULO 02
DA SECA A CARIÚS
49

Cariús hoje possui uma área distribuída em cinco distritos:


Cariús (sede), Bela Vista, Caipu, São Bartolomeu e São
Sebastião. A educação no município é bem centrada,
contando com trinta e nove escolas: uma estadual de ensino
médio, uma particular de ensino fundamental e trinta e sete
municipais de ensino fundamental. Levando em consideração
o colégio Adahil Barreto, a primeira escola da cidade fundada Figura 045 – Mapa básico de Cariús, 2010.
Fonte: SEPLAG; IPECE. Perfil Básico: Cariús. Fortaleza, 2010.
em 1938 pela professora Luiza Alencar Guimarães
denominada primeiramente como Escola Reunida, que será
tratada mais detalhadamente no capítulo seguinte.

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50

O CASARÃO E A
ARQUITETURA DO DNOCS 3
CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
51

3.1. Trajetória do Casarão sendo a praça mais importante da sede de Cariús, a Praça
República.

Após a paralisação da construção da barragem em Poço dos


Através de pesquisas de campo e entrevistas realizadas com Paus, o Hospital manteve seu funcionamento por poucos
moradores de Cariús que conhecem o passado do município anos na década de 1920. Já em meados da mesma época
– como o Sr. José Ferreira, Sra. Diva Targino, Sra. Jonisa até início da década de 1930 não se tem registro das
Sales e a atual moradora Dra. Luisa Angélica Sales – pode-se
atividades no edifício. Porém, a partir desta data, o Sr. José
desenvolver a trajetória histórica. Sendo assim, observou-se Ferreira afirma que o interventor de São Mateus (atual Jucás),
que o Casarão (antigo Hospital) foi uma das construções Maximinio, residiu no imóvel quando Poço dos Paus ainda era
locais mais notáveis e de grande prestígio, desde sua distrito de São Mateus.
implantação até os dias atuais.
Durante a permanência do interventor no local, a professora
No ano de 1920, quando foi autorizada a construção da Luiza de Alencar Guimarães desejou uma nova função para o
grande barragem no rio Cariús em Poço dos Paus, os imóvel, sediar sua escola. Nascida em 02 de dezembro de
americanos determinaram a necessidade de montar um 1903, Dona Luizinha (assim chamada) começou a lecionar
acampamento neste território para fixar suas moradias e em Araripe e Saboeiro logo após alguns anos de diplomada
edifícios de serviço, saúde e administração. Entre esses em Fortaleza. Em 1936 fixou residência em Poço dos Paus,
imóveis, havia um de suma importância e destaque, o
na Rua da Vila (atual Rua 7 de Setembro) onde também
Hospital, que dava auxílio aos habitantes desse funcionava sua escola, Escola Isolada.
acampamento.
Com necessidade de formar uma escola maior, D. Luizinha
Construído em 1922 pela firma americana Dwinght P. escreveu uma carta para o Presidente da República Getúlio
Robinson & Co. Inc. e conduzida pelo IFOCS. Está Vargas solicitando o imóvel pertencente ao IFOCS para fixar
implantada nas margens do rio Cariús, perto da entrada residência e sediar sua escola. Como resposta o presidente
principal da cidade, na antiga Vila do Prado, que segundo escreveu na mesma carta “Cumpra-se”. No entanto, diante da
relatos, nada mais era que um grande pasto de animais. Hoje dificuldade na desocupação do interventor, D. Luizinha
esperou dois anos até que a ordem fosse atendida. Então, em

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CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
52

1938 mudou-se para o Casarão, convidando a amiga Diva Posteriormente, o Grupo Escola Adahil Barreto foi instalado
Targino para lecionar juntamente na futura sede da escola em uma nova sede próximo ao Casarão, onde mantém suas
que passou a se chamar Escola Reunida. atividade até os dias atuais (fig. 047).

Em 1954 foi criado o Grupo Escola Adahil Barreto, nome pelo


qual a escola passou a ser chamada após vários debates
entre Luiza de Alencar Guimarães e líderes políticos, que
preferiam outro nome para a escola. Todavia, o nome
indicado por D. Luizinha em homenagem ao amigo deputado
Adahil Barreto, considerado um benfeitor de Cariús,
especialmente no setor da Educação, permaneceu (fig.45).

Figura 047 – Atual sede da Escola Adahil Barreto, 2010.


Fonte: Acervo pessoal.

Já em toda a década de 1960 não se tem registros ou


lembranças dos moradores locais sobre acontecimentos
relacionados ao Casarão ou sua ocupação. Mas foi no início
da década de 1970 que a Câmara Municipal de Cariús passa
a ser administrada no imóvel (fig. 048). Há relatos de que
festas e eventos culturais, políticos e educacionais teriam
acontecido no Casarão, entretanto a falta de arquivamento e
conservação dos registros da Câmara deixa a desejar por
Figura 046 – Alunos reunidos em frente ao Casarão que sediava o Grupo mais informações sobre fatos e acontecimentos no imóvel.
Escola Adahil Barreto. Meados do século XX. Alguns anos depois passou a ser ministrada na edificação
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. vizinha ao Casarão.

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CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
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Figura 050 – Câmara Municipal atualmente, sem muitas alterações, 2010.


Fonte: Acervo pessoal.

Figura 048 – Casarão quando sediou a Câmara Municipal de Cariús no O ano de 1974 foi marcado pela grande enchente em Cariús,
início da década de 1970. quando transbordaram o rio Cariús e o rio Jaguaribe,
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. deixando as famílias das regiões mais baixas desabrigadas.
Entretanto, pelo Casarão ser uma construção elevada e das
mais altas da cidade, o imóvel foi uma das edificações que
serviu de abrigo para os flagelados durante março a começo
de maio daquele ano.

Após as águas da enchente baixarem, o Casarão se tornou


residência de habitantes locais como D. Cotinha, D. Sônia, D.
Jesuína e D. Maria Pequena durante 8 anos até se tornar, em
1983, sede do MOBRAL15 e residência do presidente da
comissão, o Sr. José Antonio, sua esposa Profª Maria Alcides
da Silva e seus filhos.

Figura 049 – Câmara Municipal de Cariús no início da década de 1970, ____________


vizinha ao Casarão.
15
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização.

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O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
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Já de 1998 a 2001, o imóvel foi mantido como residência Cristo, onde o Casarão foi utilizado como camarim para o
somente dos filhos de José Antonio e Maria Alcides. Após a elenco da peça (fig. 053).
desocupação, o Casarão foi deixado em péssimo estado de
conservação com rachaduras, deterioramento da cobertura e
vários danos no interior da edificação. Contudo, em julho
2001 é iniciada a restauração realizada pela Dra. Luisa
Angélica Sales que veio a residir no imóvel em março de
2003, após a conclusão das obras juntamente com seu irmão,
Dr. Lourenço Oliver Sales.

Em novembro do mesmo ano, fundaram o Instituto


Mandacaru, uma instituição não-governamental com o
objetivo de combater a exclusão social, cuja sede foi instalada Figura 051 – Projeto Linhas e Rendas no grande salão do Casarão, 2006.
no imóvel. O instituto promoveu várias ações ao longo dos Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
anos como, por exemplo, o projeto Linhas e Renda em 2006,
que buscou capacitar jovens e adultos em corte e costura
para geração de emprego e renda para o mercado regional,
transformando o Casarão em um ateliê de costura e divulgado
na TV Verdes Mares do Ceará (fig. 051).

No ano seguinte, a ONG realizou a apresentação cultural do


Auto de Natal com o coral natalino “Pequenos Cantores de
Deus” da Associação Beneficente Otacílio Correia de Várzea
Alegre (CE) na varanda do Casarão (fig. 052). Já no ano de
2009 o instituto promoveu o evento da encenação da Via
Sacra que acontece todos os anos no feriado da Paixão de Figura 052 – Apresentação do coral “Pequenos Cantores de Deus” na
varanda do Casarão em 2007.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

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CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
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Figura 053 – Cena da via Sacra de 2009 em frente ao Casarão. Figura 054 – Funcionária francesa da TAM entregando presentes para as
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. crianças de Cariús em 2008.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Os atos beneficentes continuam ao longo dos anos.
Funcionários da Companhia aérea TAM de Paris, há três Neste último natal (2009) ocorreu o Sonho de Natal, onde o
anos, se hospedam no Casarão para os preparativos da instituto proporcionou um projeto inovador utilizando cerca de
campanha Natal Feliz que, promovida pelo Instituto 10.000 garrafas pet para ambientar a Praça República criando
Mandacaru, pela fundação Otacílio Correia e pela Brazilian uma grande árvore, um Papai Noel, quatro bonecos de neve,
Mission16, distribuem presentes para crianças carentes em quatrocentas luminárias e três velas (fig. 055 a 057). Não
Cariús e em outros municípios da região do Cariri (fig. 054). somente os moradores de Cariús apreciaram a decoração,
mas também as cidades vizinhas como Jucás, Iguatu,
____________ Saboeiro e Varzea Alegre.
16
Brazilian Mission – Organização não-governamental fundada por
cearenses que residem em Miami, Estados Unidos da América.

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CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
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Além de ter sido a sede do Instituto Mandacaru, o imóvel


mantém uma exposição permanente de fotografias chamada
de “NOSSA TERRA, NOSSA GENTE”, onde anualmente, na
semana de aniversário do município e na festa da padroeira,
professores e estudantes de escolas públicas da cidade
visitam o Casarão para apreciar um pouco da história do
município Cariús através de fotos antigas dos prédios, povo e
eventos culturais, políticos, educacionais, esportivos e
religiosos.

No início de agosto deste ano, a Drª Angélica hospedou no


Casarão 20 estudantes cubanas de medicina vindas para
fazer estudo de campo sobre o nível de satisfação do Sistema
Único de Saúde (SUS), como Cariús não possui hotel nem
Figura 055 – Árvore de natal feita com garrafas pet inteiras, no centro da
pousada, Angélica ofereceu sua residência para alojar as
Praça República em Cariús, 2009. estudantes.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 056 e 057 – Bonecos de neve e Papai Noel feitos de rosas com
garrafa pet, 2009]. Figura 058 – Logotipo do Instituto Mandacaru.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

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CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
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Residência de A Escolas Reunidas passou a Abrigou flagelados Sede do MOBRAL e Início da restauração
Maximinio, se chamar Grupo Escolar, da enchente que residência do presidente feita pela Dra. Luisa
interventor de depois em Grupo Escolar transbordou os rios da comissão do projeto, Angélica Sales
Jucás, quando Adahil Barreto dando Jaguaribe e Cariús o Sr. José Antonio, sua
Cariús ainda era continuidade a residência de esposa Profª Maria
distrito de Jucás D. Luizinha Alcides da Silva e seus
filhos

Início década
1922 a 1924 1938 1974 a 1982 1998 a 2001 2003
de 1970

Início década 1954 a Fins 1974 1983 a 1998 Julho 2001


de 1930 a 1937 década de 1950

Março: Residência
da Dra. Luisa
Escolas Reunidas de Cariús Angélica Sales e Dr.
Hospital Lourenço Oliver
e residência de D. Luizinha
construído pelo Residência de D. Sales.
(escreveu para Getúlio
atual DNOCS, Cotinha, D. Sônia, D. Residência dos filhos
Vargas solicitando o Novembro:
funcionando até Câmara Municipal Jesuína e D. Maria de José Antonio e
casarão para a Escola e Fundação e sede do
1924 de Cariús Pequena Maria Alcides
sua residência) Instituto Mandacaru

Figura 059 – Cronologia do Casarão.

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CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
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3.2. Análise tipológica das construções do DNOCS agrupados na Rua da Vila com os funcionários brancos e a
Rua Barbadiana para os negros.

Os operários negros estavam localizados mais afastados dos


Ao longo deste trabalho é ressaltado que os imóveis do demais imóveis, deixando clara a idéia de superioridade de
DNOCS (atualmente) pertinentes a construção das barragens uma etnia sobre a outra. O almoxarifado implantado na
foram aplicadas pelas empresas contratadas, sendo assim, proximidade do rio e junto às propriedades dos operários
coube a elas implantar de acordo com a necessidade do
evidencia a necessidade de facilitar o contato destes com o
próprio uso.
setor. Do outro lado do rio ocorre a ocupação da classe
Estas edificações já foram citadas no capítulo 02, porém superior, os engenheiros, topógrafos e mestre no Bairro
agora é válido destacar novamente as construções – que a Acampamento, visando o status destes funcionários.
firma americana construiu em Poço dos Paus – neste subitem Tais medidas também podem ser vistas nas vilas de Lima
para analisar e comparar a tipologia da implantação e a Campos e Orós que, através de pesquisas em campo e
arquitetura desta vila com as demais erguidas pelas entrevistas com alguns habitantes locais pode-se analisar
proximidades dentro do estado Ceará. algumas edificações elevadas na época do início das
construções de suas barragens.

A. Implantação Através da visita à Associação de Preservação Histórico-


Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”, foram encontrados
Em Poço dos Paus é nítida a implantação hierárquica das dados sobre as obras do açude procedidas em 1922, no
edificações, separada pelo escalão e etnia dos funcionários, mesmo ano e pela mesma empresa americana do Poço dos
além dos serviços promovidos para a vila em geral. Observa- Paus, a Dwinght P. Robinson & Co. Inc.
se (fig. 063), o agrupamento das construções através de suas
semelhanças, como no caso da Vila do Prado com Na cidade de Orós, foi possível comprovar a presença de
edificações de serviço e administrativa próxima ao rio e alguns imóveis às margens do rio Jaguaribe (fig. 060)
também da massiva quantidade de casas para operários semelhantes aqueles de Poço dos Paus, como a
administração do IFOCS, a Casa de Hóspedes dos

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O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
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engenheiros e o agrupamento do hospital com a residência construídas para os operários, funcionários da construtora ou
médica, além das residências do acampamento (fig. 061). apenas habitantes da região. Este método de implantação
Entretanto, na pesquisa de campo pela cidade de Orós, não também visou distinguir a hierarquia dos envolvidos no
foi possível obter informações atuais sobre a existência ordenamento da vila, porém não foi possível situar a
dessas construções na cidade, somente que, a Casa de implantação das construções nesta cidade para este trabalho,
Hóspedes ainda está em funcionamento. devido a falta de informação na localização dos imóveis.

Figura 061 – Vista parcial do Acampamento, [19--].


Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.

Figura 060 – Rio Jaguaribe em Orós com os imóveis do hospital e Já em Lima Campos distrito da cidade Icó (CE), segundo o
residência médica as margens do mesmo, [19--].
atual administrador do açude e morador de uma das
Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”. residências do DNOCS, José Gomes de Loiola, a construção
do açude foi iniciada em 1932 levando menos de um ano para
Todavia, próximas a estas construções, separadas pelo ser concluída. Entretanto, não foram encontradas informações
terreno acidentado, ainda estão presentes a vila dos sobre a firma que empreitou a barragem, mas foi possível
operários, hoje chamada de Vila DNOCS. Outro grupo de encontrar no local o conjunto das possíveis casas dos
pequenas casas denominada de Vila Modelo também foi engenheiros e o antigo hospital da vila (fig. 064) que mais a
erguido na redondeza, mas não se sabe ao certo se foram frente será analisado juntamente com a vila Poço dos Paus.

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Figura 062 – Caminho percorrido em busca das construções do DNOCS.


Fonte: Google Mapas.

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LEGENDA

Acampamento:
Engenheiros, topógrafos

Ponte pênsil

Vila do Prado

Residência médica

Hospital

Administração IFOCS

Rua da Vila

Almoxarifado/ Escritório
IFOCS

Rua Barbadiana

Figura 063 – Implantação das


construções do IFOCS em Poço
dos Paus, 2010.
Fonte: Google Earth e acervo
pessoal.

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LEGENDA

Hospital

Rua dos engenheiros

Barragem do Açude Lima


Campos

Figura 064 – Implantação das construções do IFOCS em Lima Campos, 2010.


Fonte: Google Earth e acervo pessoal.

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B. Residência dos engenheiros residências, duas referentes às casas dos engenheiros e


topógrafos e outra do engenheiro mestre.
Feita a análise sobre a implantação das construções, agora
será possível fazer o estudo das tipologias arquitetônicas As edificações dos engenheiros e topógrafos foram
destas edificações observadas. Tal estudo seguirá uma linha implantadas na margem oposta ao Rio Cariús e enfileiradas
de raciocínio baseada na classificação pela função dos ao longo de uma estrada. Já a edificação do engenheiro
imóveis, separando por grupos de funcionários e serviços, mestre estava situada em um terreno de nível mais elevado,
permitindo a comparação das construções de Poço dos Paus acidentado e isolado, porém voltada as outras edificações.
com as vilas de Orós e Lima Campos sempre que possível. Devido a sua localização, esta construção foi provida de uma
escada centralizada com um patamar, enfatizando seu status
Este planejamento será feito com a finalidade de descobrir (figs. 065 e 066).
uma tipologia arquitetônica em comum entre estes imóveis
que classifique o Hospital de Poço dos Paus, para que mais a
frente possa ser feita uma análise mais profunda sobre seus Figura 065 – Edificação utilizada pelo
aspectos estéticos e construtivos. Todavia, não será possível engenheiro mestre, [19--].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª
analisas os aspectos funcionais, pois a falta de dados de
Luisa Angélica Sales.
grande parte dos imóveis pesquisados.

Vale ressaltar que ao longo dos anos os imóveis sofreram


alterações pelos inquilinos e que as análises aqui
apresentadas serão baseadas primeiramente em fotos
antigas e relatos de moradores locais. Quando não for
possível obter informações através destas fontes, será
possível recorrer ao estado atual dos imóveis.

Iniciando pelas construções dos funcionários da vila de Poço


Figura 066 – Fachada frontal do engenheiro mestre no Bairro
dos Paus, foi encontrado o Bairro Acampamento pertencente
Acampamento de Poço dos Paus.
aos engenheiros. Neste local foram encontrados três tipos de Fonte: Acervo pessoal.

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Todos estes imóveis possuíam forma retangular com as elas quanto as colunas das varandas possuíam
fachadas longitudinais maiores que a fachada frontal e aproximadamente 40 centímetros de espessura feitas com
posterior, disposta em somente um pavimento térreo tijolos maciços deitados, transformando a edificação em auto-
proporcionando afastamentos laterais onde a cobertura de portantes (fig. 067). Segundo a Dra Angélica Sales, as
duas águas do corpo principal da casa era direcionada. Tais coberturas eram compostas de telhas artesanais de barro
edifícios eram dispostos no terreno sem lote definido. modeladas nas coxas17, no caso das esquadrias, as portas e
janelas eram feitas em ripas verticais de madeira maciça.
O alto pé direito é levado em consideração, devido à notável
inclinação das coberturas do corpo central. Além desta, as
residências dispunham de uma cobertura frontal que
proporcionou uma varanda, suportada por colunas. Nas
residências menores dos engenheiros e topógrafos, as
varandas eram ordenadas com 4 colunas (fig. 068 e 069), já
nos imóveis maiores e do engenheiro mestre, além de
possuírem de 5 a 6 colunas na fachada principal, também
eram dotadas de varandas laterais cobertas (fig. 070 e 071).

Tais residências eram dispostas de uma quantidade notável


de janelas em todo o entorno, com esquema de abertura para
fora em duas folhas. Em relação à porta principal, esta era
Figura 067 – Detalhe da parede em tijolo maciço deitado de uma das
localizada na fachada principal, porém somente no imóvel residências dos engenheiros no Bairro Acampamento de Poço dos Paus,
pertencente ao engenheiro mestre que a entrada estava [200-].
centralizada na fachada juntamente com a escada, já nas Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
edificações dos outros engenheiros, a porta estava localizada
____________
ao lado esquerdo em relação ao centro da fachada.
17
Vistas de perto, pode-se observar que as telhas de barro dos imóveis
O material construtivo das edificações desta época era possuem tamanhos diferentes entre si, o que realça o fato de serem
basicamente a alvenaria. As paredes eram duplas, e tanto artesanais.

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Figura 068 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros disposto com Figura 070 – Outro imóvel dos engenheiros composto por varandas lateral
somente a varanda frontal, [200-]. e frontal, [200-].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 069 – Fachada principal da residência menor dos engenheiros no Figura 071 – Fachada frontal da residência dos engenheiros no Bairro
Bairro Acampamento de Poço dos Paus. Acampamento de Poço dos Paus.
Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Acervo pessoal.

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Em busca de edificações do IFOCS em Lima Campos, Já a cobertura construída em quatro águas com beiral maior
também foram encontrados imóveis que provavelmente nas laterais e na fachada principal proporcionando as
pertenciam aos engenheiros e outros funcionários de cargo varandas dispostas com 5 colunas, as duas em cada extremo
superior da construção do açude na vila. A semelhança evidenciavam as entradas da residência, que era geminada
destas residências ao analisá-las com Poço dos Paus é para duas famílias diferentes. Estas entradas eram recuadas
notável. Sua implantação lado a lado ao longo de uma via em relação à fachada frontal até aproximadamente a metade
com afastamentos laterais, forma retangular e a presença de da fachada lateral (fig. 073 e 074).
varanda lateral e frontal mantida por colunas de alvenaria
realçam as tipologias destas construções (fig. 072).
Entretanto, tais imóveis não estão à margem do rio, porém
estão próximas a água. Além de terem sido edificadas em um
aclive, foram elevadas aproximadamente 30 centímetros do
solo para que a base da residência fosse niveladas (fig. 073).

LEGENDA
Colunas evidenciando a
entrada
Porta de entrada principal
Recuo da entrada

Figura 073 – Detalhe da elevação da residência dos engenheiros, 2010.


Fonte: Acervo pessoal, 2010.
Figura 072 – Disposição dos imóveis utilizados pelos prováveis
engenheiros no aclive em Lima Campos, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
67

Figura 074 – Recuo da entrada principal da residência proporcionando Figura 075 – Pequeno muro que divide a residência, 2010.
uma varanda lateral, 2010. Fonte: Acervo pessoal.
Fonte: Acervo pessoal.

Com a presença de um afastamento frontal, nota-se a


determinação de um muro entre a residência e a rua. Por
serem imóveis geminados, nota-se a presença de uma
mureta no jardim frontal para a divisão do imóvel e
privacidade das famílias que compartilham da mesma
edificação (fig. 075).

As esquadrias eram semelhantes aos imóveis de Poço dos


Paus, com abertura para fora em duas folhas, tanto as janelas
como as portas, o único diferencial era um tipo de bandeira
nas esquadrias de Lima Campos com seqüência de
Figura 076 – Detalhe das janelas, 2010.
quadrados vazados (fig. 076). Fonte: Acervo pessoal.

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O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
68

Em relação aos materiais construtivos, a utilização de C. Residência dos operários e demais funcionários
alvenaria em tijolo maciço, a cobertura em telha de barro
Assim como as residências dos engenheiros de Lima
artesanais e as janelas e portas em madeira maciça não
Campos, as pequenas casas dos operários de Poço dos Paus
mudaram nos dez anos de diferença entre as construções de
Poço dos Paus e Lima Campos. também eram geminadas. Situadas perto do rio Cariús para o
contato direto dos funcionários à área de trabalho, foram
distribuídas em um terreno plano, lado a lado ao longo dos
dois lados de uma via, chamada Rua da Vila (fig. 079).

Figura 077 – Residência geminada


dos engenheiros atualmente em Lima
Campos, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 078 – Fachada frontal da residência geminada dos engenheiros de


Lima Campos. Figura 079 – Imóveis onde moravam os operários brancos na Rua da Vila
Fonte: Acervo pessoal. em Poço dos Paus, [200-].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Já na pesquisa de campo em Orós não foi possível encontrar
informações referentes às residências dos engenheiros e Sua forma simples e longitudinal em relação às laterais
topógrafos na época da vila. proporcionou afastamentos para os quais a cobertura de duas

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CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
69

águas é inclinada, sendo desprovidas de varanda ladeando a Assim como nas outras construções já apresentadas, o
edificação. Todavia, vale ressaltar a presença do afastamento material construtivo foi a alvenaria auto-portante em tijolo
frontal que permitiu a existência de um muro com maciço, a cobertura em telha de barro e tanto as portas como
aproximadamente 80 centímetros de altura, e outro para as janelas, eram em duas folhas com ripas de madeira
limitar esta área de cada família do imóvel (fig. 080), maciças na vertical.
necessitando assim de duas entradas que evidenciou as
portas principais na fachada frontal, localizadas em extremos
e separadas por duas janelas, uma para cada inquilino.

Figura 081 – Residência dos


operários brancos na Rua da
Vila com um novo anexo criado
à esquerda descaracterizando
o imóvel, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 080 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros disposto com


somente a varanda frontal, 2010. Figura 082 – Fachada frontal da residência geminada dos operários de
Fonte: Acervo pessoal. Poço dos Paus.
Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
70

Além dos operários brancos em Poço dos Paus, estavam


presentes os operários negros, estes estavam localizados na
Rua Barbadiana, afastados dos demais moradores e serviços
da vila. Suas residências eram dispostas em torno de uma
área em comum (fig. 083 e 084), e de acordo com as
informações obtidas pelos moradores foi possível encontrar
duas destas áreas onde foram identificadas quatro
edificações que ainda restam.

Figura 084 – Outro espaço em comum das residências dos operários


barbadianos, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Todas as tipologias arquitetônicas desta construção se


assemelham aos imóveis dos operários brancos, porém o
diferencial é encontrado no telhado – onde a água esquerda
da cobertura é menor que a da direita – e na ausência da
mureta que viria a evidenciar um afastamento frontal,
entretanto é possível levar em consideração que esta falta
seja decorrente do espaço em comum à frente as construções
(fig. 84 e 85).

Não se sabe ao certo se estas edificações eram geminadas,


Figura 083 – Rua Barbadiana atualmente com espaço em comum das
pois não foram encontrados registros de como era a
antigas residências dos operários, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

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71

distribuição dos ambientes internos e das esquadrias na Em Lima Campos não foi possível encontrar informações
fachada principal. sobre as construções dos operários, contudo em Orós as
edificações foram localizadas em um terreno acidentado,
onde os imóveis foram alinhados e dispostos em uma quadra.
Parte das residências era direcionada para uma via em aclive,
já as demais, posteriores a estas, estavam situadas no ponto
mais alto, em um terreno plano.

Figura 085 – Residência dos operários negros na Rua Barbadiana já


descaracterizadas, somente com a estrutura original (mantendo a
volumetria), 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 087 – Rua em aclive na Vila Operária, atualmente chamada de Vila


DNOCS em Orós, com algumas residências descaracterizadas, 2010.
Figura 086 – Outra residência dos operários negros observada na Rua Fonte: Acervo pessoal.
Barbadiana, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

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Devido ao desnível do terreno, os imóveis foram elevados a ser direcionada para a fachada frontal e posterior. Todavia,
para manter o alinhamento da base, entretanto não se sabe é somente nas edificações determinadas em terreno íngreme
ao certo quanto a existência de escadas nos imóveis situadas que ocorreu a presença de um pequeno afastamento frontal
na via em aclive na época de sua construção – as que estão de aproximadamente 1,50 metros proporcionando uma
presente não são originais (fig. 089), porém é possível afirmar pequena mureta (fig. 089).
a presença dos mesmos nas edificações situadas no terreno
plano, devido à notável altura a ser vencida (fig. 088).

Figura 089 – Presença de afastamento frontal e a elevação da construção


com uma pequena escada não original, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 088 – Residências dos antigos operários localizadas em terreno
plano, [19--]. A edificação é provida somente de um acesso através da
Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-
porta e apenas uma janela, localizadas na fachada frontal.
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.
Entretanto é possível ressaltar um diferencial entre as
Como um modelo simplificado, o imóvel apresentada uma edificações situadas no aclive e no terreno plano, que está no
forma retangular, ausência de varanda e afastamentos espelhamento de sua face principal, onde a entrada do imóvel
laterais, sendo assim, a cobertura em duas águas foi obrigada na área íngreme é feita pela esquerda e nas edificações

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73

posteriores é feita pela direita. O material construtivo


permanece o mesmo para todos os imóveis do DNOCS
direcionados aos operários desta época da década de 1920 e
1930.

Figura 092 – Fachada frontal da residência dos operários no aclive.


Fonte: Acervo pessoal.

Figura 090 – Afastamento frontal evidenciando a mureta, 2010.


Fonte: Acervo pessoal.

Figura 091 – Uma das residências na


antiga Vila Operária, com
descaracterização somente dos tipos Figura 093 – Fachada frontal da residência dos operários em terreno
de esquadrias, 2010. plano.
Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Acervo pessoal.

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O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
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Ainda em Orós, foram encontradas outras pequenas


residências pertencentes a Vila Modelo, mas pela falta de
identificação do DNOCS nos imóveis, não é possível afirmar
se estas construções foram elevadas pela firma contratada
pelo departamento e para quem foram construídas, porém
são dignos de um breve estudo.

Estas edificações estão situadas em uma área mais elevada


em relação ao restante da cidade. Suas disposições se
assemelham as construções da Rua da Vila em Poço dos
Paus, possuem o mesmo material construtivo e tipos de
esquadrias, são geminadas e implantadas nos dois lados ao
longo de uma via, com o corpo da edificação em forma
retangular, simples e com cobertura em duas águas Figura 095 – Disposição das residências atualmente na Vila Modelo em
direcionadas para o afastamento lateral das edificações. Orós, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Entretanto, tais edificações possuem algumas características


diferentes de Poço dos Paus, como a elevação de
aproximadamente 40 centímetros do solo devido à inclinação
do terreno, a presença de área em comum para duas famílias
nos afastamentos laterais, por onde é feito o acesso principal
às residências, mantendo uma simetria na fachada principal
com apenas janelas, duas para cada inquilino do imóvel.
Também se pode observar a inexistência de afastamento
Figura 094 – Disposição das residências da Vila Modelo em Orós, 19[--]. frontal diferente da Rua da Vila (fig. 096 e 097).
Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.

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O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
75

Afastamento lateral Entre outras construções direcionadas à moradia dos


(área em comum)
funcionários em Poço dos Paus, encontrou-se apenas uma
residência do médico do antigo Hospital, implantada na Vila
do Prado posterior à margem do Rio Cariús. Assim como as
casas da Vila Modelo em Orós, a tipologia desta edificação
também se assemelha às casas dos operários na Rua da
Vila, tal como a geometria simples e retangular que
proporcionou uma cobertura em duas águas direcionada para
Figuras 096 e 097 – Uma das residências com poucas as laterais, além da disposição de duas janelas ao centro e
descaracterizações, ainda presente os afastamentos laterais e um dos
duas portas nos extremos da fachada principal, todas em
acessos em 2010.
Fonte: Acervo pessoal. duas folhas (fig. 099).

Figura 099 – Estado atual da antiga residência do médico com algumas


descaracterizações, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Anos depois, o imóvel aderiu à finalidade de Agência Postal-


telegráfica e moradia da família do funcionário, motivo da
Figura 098 – Fachada frontal da Vila Modelo de Orós.
existência de dois acessos na fachada principal, igualmente
Fonte: Acervo pessoal.
as casas geminadas da Rua da Vila. Todavia, não se sabe ao

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O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
76

certo se antes desta função a residência era originalmente Nos imóveis mais simples não foi possível encontrar a
dividida para duas famílias. presença de varandas ladeando a construção, porém nesta
residência a cobertura foi estendida proporcionando um tipo
Entretanto é possível notar alguns diferenciais como a falta do
de varanda fechada nas laterais, com um pequeno guarda-
afastamento frontal excluindo a possibilidade de um pequeno corpo alinhado a fachada principal (fig. 102 e 103).
muro, a presença de ornamentos em forma de molduras nos
contornos das esquadrias evidenciando as aberturas na As técnicas construtivas desta edificação são as mesmas que
fachada principal, ornamentos de frisos acima das portas e as demais, com apenas uma diversidade. As paredes foram
janelas e detalhes no frontispício que se assemelham a figura construídas em pedras, com o mesmo tamanho que os tijolos
de um frontão com oitão e fisos demarcando o tímpano(fig. maciços e da mesma forma, com dois tijolos deitados
100). formando uma parede dupla.

Figura 103 – Residência do


médico ainda original.
Fonte: Acervo pessoal fornecido
pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 100 – Estado atual da antiga residência do médico, 2010.


Fonte: Acervo pessoal.

Figura 101 e 102 – Placa de identificação do DNOCS atualmente na


Figura 104 – Fachada frontal da residência médica de Poço dos Paus.
residência e pedra da alvenaria original retirada da edificação. Fonte: Acervo pessoal.
Fonte: Acervo pessoal.

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D. Edificações de serviço retangular, foi uma construção diferenciada das demais


apresentadas até o momento, possuindo características do
Além dos imóveis direcionados a moradia dos funcionários ecletismo, como a presença de uma base determinada pela
das firmas contratadas pelo IFOCS, foi encontrado outro
elevação em relação ao solo, o corpo da edificação com a
grupo de construções que será analisado, os quais possuíam presença de cinco entradas na fachada principal com portas
a função de serviço aos habitantes das vilas. Iniciando pelo em formas de arcos abatidos (fig. 107), destacando a entrada
Almoxarifado/Escritório de Poço dos Paus, sua implantação principal centralizada pelo seu tamanho maior que as demais,
está localizada próxima a margem do rio Cariús e ladeado além da notável distribuição de janelas pelas fachadas
pelos conjuntos de residências dos operários. Seu terreno é laterais. Por último o coroamento do edifício foi marcado pela
basicamente plano onde possuía uma vasta área livre a frente presença de uma platibanda no entorno da construção com
da construção, possivelmente para reunião dos funcionários.
frontão em formato de arco de volta perfeita na fachada
principal e detalhes de frisos ao longo da edificação.

Figura 105 – Implantação do Almoxarifado/Escritório com uma grande


área livre a frente.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 106 – Detalhe do coroamento da edificação. Vergas modificadas,
Com dimensões aproximadas de 17 metros de fachada
2010.
principal e 20 metros de lateral, formando uma geometria Fonte: Acervo pessoal.

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O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
78

Em relação à cobertura do imóvel, não foi possível descobrir


sua tipologia, mas acredita-se que também foi construída com
telhas de barro, porém com uma pequena inclinação que não
pode ser visualizada graças à platibanda do coroamento.
Também não foi possível a descrição dos tipos e materiais Figura 109 e 110 – Placas de identificação do DNOCS no antigo
das esquadrias do Almoxarifado/Escritório, por não restar tais Almoxarifado/Escritório.
materiais autênticos na construção. Entretanto sabe-se que a Fonte: Acervo pessoal.
estrutura da edificação ainda é a alvenaria com tijolos
maciços deitados.

Figura 111 – Almoxarifado/Escritório


atualmente, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 107 e 108 – Detalhe das portas na fachada principal com arcos
abatidos a esquerda e a via à direita do Almoxarifado/Escritório que segue Figura 112 – Fachada frontal do Almoxarifado/Escritório de Poço dos
até o rio Cariús, 2010. Paus.
Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Acervo pessoal.

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O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
79

A cada construção de açude pelas empresas do IFOCS, era As características mais aproximadas com a edificação do
implantada uma administração, seja da Inspetoria ou das engenheiro mestre estão na sua forma retangular
firmas construtoras. Em Poço dos Paus foi descoberta a proporcionando uma cobertura no corpo central em duas
Gerência do IFOCS situada na Vila do Prado, alinhada à águas, afastamentos nas laterais facilitando a disposição de
residência do médico e ao Hospital da vila, também localizada varanda que ladeiam toda a edificação que para abrigá-las foi
à margem do Rio Cariús. Sua edificação é semelhante ao criada outra cobertura em quadro águas separada da
imóvel do engenheiro mestre e aos demais engenheiros e principal, sustentadas por colunas ao longo de toda a varanda
topógrafos do Bairro Acampamento e da vila de Lima (fig. 114).
Campos.

Antiga Gerência
do IFOCS

Antigo Hospital

Figura 114 – Antiga Gerência do IFOCS, 2010.


Figura 113 – Antiga Gerência do IFOCS mais a frente com o antigo Fonte: Acervo pessoal.
Hospital ao fundo, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

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80

Observa-se que a construção foi elevada do solo, tal sendo circundada por altas janelas. Tanto estas como as
característica pode ser considerada devido à importância de portas possuem duas folhas duplas, as frontais possuem
seu destino para a vila. Como resultado, vale notar a detalhes de venezianas na parte inferior e retângulos vazados
presença de uma escada centralizada na edificação baseada na parte superior, já as folhas posteriores são lisas para efeito
no desenho de um trapézio onde a base é mais larga que o de proteção. Assim como todas as outras construções, esta
topo com um guarda-corpo dando continuidade aos gerência ainda possui as esquadrias em madeira maciça,
balaustres do corrimão (fig. 115), além do recuo centralizado estrutura em alvenaria auto-portante com tijolos maciços
na fachada principal (fig. 116), são aspectos que frisam a deitados e cobertura com telhas de barro artesanais.
imponência da construção.

Figura 117 – Gerência do


IFOCS atualmente como
residência, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 115 e 116 – À esquerda o detalhe da escada em forma de trapézio,


[200-]. À direita o recuo na entrada, 2010.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales e acervo
pessoal da aluna.
Figura 118 – Fachada frontal da Gerência do IFOCS em Poço dos Paus.
Em relação às esquadrias, a fachada principal possui três Fonte: Acervo pessoal.
portas, uma principal centralizada e duas nos extremos,

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A falta de informações sobre algumas construções em Lima


Campos não permitiu que fosse encontrada a gerência da
construção do açude no local. Contudo, através do acervo de
imagens obtidos na Associação de Preservação Histórico-
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”, foi possível analisar a
Administração americana de Orós, porém tal estudo foi
limitado em somente uma foto antiga (fig. 119).

As principais características desta construção são


basicamente as mesmas da gerência do Poço dos Paus,
entretanto, como imóvel estava implantado em um terreno
íngreme, sua elevação foi maior e com algum tipo de técnica Figura119 – Administração americana em Orós, [19--].
Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-
construtiva, pode-se observar na fachada principal pequenas
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.
estruturas para dar estabilidade a construção neste tipo de
terreno (fig. 120). Os vãos formados pelas colunas nas
varandas possuem um estilo diferenciado, com arcos abatidos
e a presença de guarda-corpo ao longo deste espaço.

Resultante a ausência de dados sobre a edificação, não foi


possível analisar e localizar as esquadrias nas fachadas, nem
mesmo os materiais construtivos utilizados. Entretanto como
as demais construções da época e no mesmo local, é
provável que tenha sido construída igualmente ou semelhante
aos outros imóveis.
Estruturas de
estabilidade

Figura 120 – Fachada frontal da Administração americana de Orós.


Fonte: Acervo pessoal.

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82

Entre outras construções relacionadas aos serviços O Hospital assim como algumas edificações citadas, é uma
proporcionados em Poço dos Paus, encontrou-se o Hospital. construção elevada, realçando a imponência da mesma.
Por este ser o imóvel foco de estudo para este trabalho, sua Possui a forma retangular, com a face frontal menor que as
tipologia será analisada superficialmente neste capítulo junto laterais, proporcionando um afastamento nas fachadas
à outra construção hospitalar encontrada no Ceará para que longitudinais, que através da extensão da cobertura central de
mais a frente o assunto seja abordado em detalhe. duas águas para estas direções permitiu a presença de uma
varanda, que para ser ladeada em toda a construção, foram
Tal edificação está situada com os fundos do terreno para a adicionadas coberturas frontal e lateral. Igualmente às demais
margem do rio Cariús, na antiga Vila do Prado, juntamente construções semelhantes a esta, ao longo da varanda foram
com a Gerência do IFOCS e a residência do médico. Suas distribuídas colunas para dar suporte às coberturas seguindo
características são familiares a algumas construções uma simetria.
apresentadas até o momento como, por exemplo, as
residências dos engenheiros e as gerências tanto de Poço
dos Paus quanto de Orós. Até então pode-se dizer que as
edificações de maior status possuem um estilo em comum.

Antiga residência Antigo


médica Hospital Antiga Gerência
do IFOCS

Figura 121 – Alinhamento das construções. A antiga residência do médico Figura 122 – Perfil do antigo Hospital atualmente, 2010.
à frente, seguida do antigo Hospital e Gerência do IFOCS, 2010. Fonte: Acervo pessoal.
Fonte: Acervo pessoal.

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83

Originalmente as fachadas do imóvel eram dispostas de uma


notável quantidade de janelas. Na fachada principal estavam
presentes somente janelas, sendo o único imóvel elevado que
não foi encontrado registro de uma escadaria frontal
centralizada – vale ressaltar que este tipo de escada fora
Figuras 124 e 125 – Placas de identificação do DNOCS no antigo
construída alguns anos depois da desativação do Hospital. Hospital.
Entretanto o único acesso conhecido era feito à direita do Fonte: Acervo pessoal.
imóvel por uma pequena escada. O restante das faces do
Hospital eram providas de grandes janelas com duas folhas
em venezianas e com postigo liso, tipologias e estética
semelhante à Gerência do IFOCS.
Figura 126 – Antigo Hospital em Poço
dos Paus no ano de 2010 como
residência.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 123 – Detalhes da janela com postigo liso, original do imóvel, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

As técnicas e materiais construtivos são iguais aos demais


imóveis. Feitas em alvenaria, tanto as paredes quanto as
colunas, com tijolo maciço deitado, cobertura em telha de Figura 127 – Fachada frontal do Hospital de Poço dos Paus.
barro moldadas nas coxas e esquadrias em madeira maciça. Fonte: Acervo pessoal.

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84

Outra edificação encontrada foi o Hospital de Lima Campos,


situado próximo às residências dos engenheiros. Este imóvel
se assemelha esteticamente a administração de Orós devido
a sua forma retangular e localização em um terreno alteado e
inclinado (fig. 128 e 129), que proporcionou a elevação da
construção aderindo a uma escadaria centralizada na fachada
em forma de trapézio - um diferencial nesta construção foi à
presença de uma base para a escada feita em pedras (fig.
130). As demais características semelhantes estão presentes
na tipologia da cobertura, sendo em quatro águas no corpo
central com adição de outra cobertura também em quatro
águas no entorno de toda a construção para abrigar a
varanda. Assim como os outros imóveis, foram dispostas
colunas ao longo de toda a varanda para sua sustentação da
Figura 129 – Detalhe da elevação da construção e inclinação do terreno,
cobertura. 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 130 – Presença da


base de pedras na
Figura 128 – Antigo Hospital de Lima Campos atualmente abandonado,
escada, 2010.
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 03
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Ainda na varanda é possível notar a presença de guarda- mas vale notar a grande presença de vãos de janelas ao
corpos vazados com jardineiras entre as colunas, dispostas longo das faces laterais da edificação e a possível disposição
ao longo de toda a varanda. Este guarda-corpo possui a de três acessos na fachada principal. È importante mencionar
função de proteção devido à elevação da construção (fig. que após a desativação do Hospital na vila, este imóvel
131). passou a se chamar Cineclub, onde eram projetados filmes e
feitas apresentações no local, alterando a disposição original
e fazendo agregações em seu interior, como um palco e uma
cabine de projeção acima da entrada principal da edificação
(fig. 132 e 133).

Figura 132 – Palco nos


fundos do interior do
imóvel, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 131 – Varanda frontal com disposição das jardineiras no guarda-


corpo, 2010. Figura 133 – Cabine de
Fonte: Acervo pessoal. projeção acima da
entrada principal no
Devido à grande deterioração da construção, não foi possível interior do imóvel, 2010.
identificar os tipos de esquadrias presentes nas fachadas, Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 03
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86

Para finalizar vale ressaltar que as técnicas construtivas deste 3.3. O Casarão (Análise tipológica)
imóvel permanecem as mesmas que as demais, alvenaria de
tijolo maciço em toda a construção, cobertura em telha de
barro, além do diferencial, a inclusão da base em pedra da Portadoras de mensagem espiritual do
escadaria. passado, as obras monumentais de cada
povo perduram no presente como o
testemunho vivo de suas tradições
seculares. A humanidade (...) as considera
um patrimônio comum e, perante as
gerações futuras, se reconhece
solidariamente responsável por preservá-las
(...)
Figura 134 – Antigo Hospital e (Carta de Veneza, 1964)
Cineclube de Lima Campos.
Fonte: Acervo pessoal. Analisando as tipologias das edificações do DNOCS, pode-se
observar algumas características comuns entre si. Tal
equivalência estava presente nas construções que
proporcionavam maior status em cada vila estudada, sendo
elas: as residências dos engenheiros e os Hospitais de Poço
dos Paus e Lima Campos, as administrações de Poço dos
Paus e Orós.

Como suas características já foram citadas, vale à pena


assinalar agora as semelhanças entre elas. De acordo com a
tabela 01 abaixo podemos classificar suas características em
uma tipologia em comum, para que em seguida seja possível
pesquisar sobre a origem destas características associando-
as com o antigo Hospital de Poço dos Paus, atual Casarão.
Figura 135 – Fachada frontal do Hospital de Lima Campos.
Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
87

Tabela 01 – Características em comum das edificações de maior status do DNOCS.

TIPOLOGIAS HOSPITAL ADMINISTRAÇÃO RESIDÊNCIA

Administração de Residência do
Hospital de Administração de
Hospital de Lima Poço dos Paus engenheiro mestre Residência dos
Poço dos Paus Orós Residência dos
Campos de Poço dos Paus engenheiros e engenheiros e
ASPECTOS topógrafos de
topógrafos de Poço
FORMAIS dos Paus Lima Campos

Forma retangular
com fachada principal X X X X X X X
menor que as laterais

Edificação elevada do
X X X X X X
solo

Varanda coberta
X X X X X X X
ladeando a edificação

Presença de colunas
X X X X X X X
na varanda

Cobertura do corpo
central em duas X X X
águas com telhas de
barro

Cobertura do corpo
central em quatro X X X X
águas com telhas de
barro

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CAPITULO 03
O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
88

TIPOLOGIAS HOSPITAL ADMINISTRAÇÃO RESIDÊNCIA

Administração Residência do
Hospital de Administração
Hospital de Lima de Poço dos engenheiro mestre Residência dos
Poço dos Paus de Orós Residência dos
Campos Paus de Poço dos Paus engenheiros e
engenheiros e
ASPECTOS topógrafos de
topógrafos de
FORMAIS Poço dos Paus Lima Campos

Edificação
autoportante com
X X X X X X X
alvenaria dupla em
tijolos maciços

Escada centralizada X X X X
em forma de (não possui forma
trapézio em trapézio)

Disposição de
grande quantidade
X X X X X X X
de janelas ao longo
das fachadas

Janelas e portas em
X X X X X X X
duas folhas
Fonte: Acervo Pessoal.

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89

Percebe-se que o antigo Hospital de Poço dos Paus possuía


a maior parte das características em comum com as demais
edificações, podendo dizer que está construção se encaixa na
tipologia definido para os imóveis do DNOCS.

Após pesquisas e analogia do Hospital com outras


edificações para definir sua origem, foi encontrada a
conformidade do imóvel com as residências nos Estados
Unidos da América deste período. O “Bungalow”18 é o que
mais se aproxima das características do antigo Hospital.

Segundo a revista virtual americana “American Bungalow” 19,


os bangalôs foram construções mais comuns de 1880 a 1930 Figura 136 – Bangalô de 1916 construído em Sacramento, Califórnia/EUA.
nos EUA, originalmente de Bengal na Índia – de onde Disponível em: <http://architecture.about.com/od/housestyles/ig/Bungalow-
recebeu seu nome. São construções econômicas, simples e Pictures/ Curtis-Park-Bungalow.htm>. Acesso em: 27 jun. 2010.

horizontalizadas com objetivo de proporcionar toda a área de


moradia em somente um andar.
A. Características dos Bangalôs

Para a análise tipológica formal, construtiva e do imóvel em


____________ Poço dos Paus, inicialmente foram examinadas as
18
Bungalow – No Brasil chamada de “bangalô”, são casas populares do características marcantes dos bangalôs mais conhecidos, os
Estados Unidos da América, principalmente na Califórnia, que estiveram californianos. Em relação a essas características é possível
no ápice da construção em final do século XIX até meados do século XX. destacar alguns elementos como a implantação da edificação
19
American Bungalow Magazine – Uma revista virtual americana que
em terreno plano, com afastamento frontal valorizando a
disponibiliza informações e novidades sobre os bangalôs. Disponível em: presença de jardins e vegetações à frente do imóvel (fig. 137).
<http://www.americanbungalow.com/all-about-bungalows/what-is-a- A forma retangular possuía um pé direito não muito elevado –
bungalow/>. Acesso em: 27 de junho de 2010. quando elevado era para a disposição de um sótão – a face

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90

principal e posterior menor que as demais, proporcionaram Devido à elevação da edificação ao solo, determinou-se uma
afastamentos laterais no terreno por onde a cobertura em escadaria frontal, e como sinônimo de simetria foi centralizada
duas águas do corpo central é direcionada. na edificação juntamente ao acesso principal. Tal elevação
também causou a ausência de garagem interna.

Figura 137 – Vegetação no afastamento frontal. Bangalô californiano de


1914 construído em Victoria/Canadá importado de Califórnia/EUA.
Disponível em: Figura 138 – Detalhe da elevação da edificação. Bangalô construído em
<http://www.maltwood.uvic.ca/cura/projects/hallmark/images.html>. Sacramento, Califórnia/EUA.
Acesso em: 14 ago. 2010. Disponível em: <http://architecture.about.com/od/housestyles/ig/Bungalow-
Pictures/Sacramento-Bungalow.-0a-.htm>. Acesso em: 14 ago. 2010.
Com o recuo parcial da fachada principal, foi possível a
disposição de uma varanda frontal – com a presença de Nas esquadrias dos bangalôs, as janelas eram largas em
guarda-corpos em madeira – para reduzir o barulho da rua no média de três folhas. O material utilizado, tanto as janelas
interior da residência e também para sombreamento, sendo quanto as portas eram freqüentemente feitas com vidros e
assim, foram propostos colunas ao longo desta varanda para madeiras. Assim como as esquadrias, as paredes da
dar sustentabilidade à cobertura. edificação eram também em madeira.

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91

B. Semelhanças e diferenças entre o Bangalô e o antigo


Hospital de Poço dos Paus

Em meio a essas informações, o Hospital possui algumas


características de mesma natureza que os bangalôs
americanos, entretanto com adaptações para o local em que
foi inserida.

Esta construção foi implantada em um terreno plano com


estilo simplificado, geometria retangular e horizontalizada
formada por apenas um andar, características formais
semelhantes às residências americanas. Todavia, outras
características equivalentes podem ser aderidas pelo imóvel.

Assim como os bangalôs, o corpo retangular do antigo


Hospital situado livre no terreno favoreceu afastamentos para
que a cobertura com forma de duas águas fosse direcionada
para as laterais.
Figura 139 – O Hospital alguns anos depois de sua construção no ano de
Devido à alta temperatura constante na região quase todo o 1922. Ainda sem o anexo que fora construído a esquerda do edifício na
década de 1930.
ano, foram adaptadas varandas dispostas com colunas que Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
dão sustentação a cobertura em todo o entorno imóvel,
oferecendo proteção da insolação direta nas fachadas. As Nesta construção também estavam presentes algumas
questões de higiene e salubridade, também são levadas em características que se diferem das moradias californianas.
consideração na tipologia do edifício, sendo elevado do solo Uma delas é a adaptação do material construtivo ao local em
para evitar o contato direto com o pasto de animais que se que foi inserido. O Hospital é uma edificação autoportante
encontrava a frente da edificação, seguindo o modelo devido à espessura das paredes – formadas por dois tijolos
americano. maciços deitados – determinadas para proteção ao calor.

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Diferente dos bangalôs que são construídos com paredes de


madeira e fundações rasas, raramente feitas em tijolos
(AMERICAN BUNGALOW MAGAZINE, 2010).

Outra característica que se diverge, é o acesso principal feito


pela lateral direita do edifício. No caso dos bangalôs, a
escadaria é construída à frente das residências, centralizada
na fachada frontal. Já as esquadrias da construção de Poço
dos Paus foram feitas todas em madeiras maciças, em duas
folhas e janelas com postigo, estreitas e altas (devido à alta
insolação), ao contrário dos bangalôs.

O alto pé direito desta construção foi proporcionado pelo tipo


de telha utilizada, colaborando no aumento do oitão devido à
inclinação, sendo assim, esta altura possui a finalidade de
proporcionar que calor suba e o ar frio desça, mantendo o
interior do imóvel sempre fresco.

Entretanto, também está presente outro diferencial no


Hospital, a inexistência de guarda-corpo ao longo de toda a Figura 140 e 141 – À esquerda o alto pé direito ainda mantido na atual
varanda do imóvel, essa carência ocorre possivelmente residência da Dra Luisa Angélica Sales. À direita a presença de varanda
devido a uma elevação não valorizada ao perigo. disposta por colunas, fachada por onde era feito o acesso.
Fonte: Acervo pessoal.
Com esta analise comparativa dos bangalôs com o antigo
Hospital, é possível perceber que as semelhanças entre suas
tipologias são mais predominantes nas formais que
construtivas. Todavia vale ressaltar que grande parte de suas
diferenças são conseqüentes do clima em que estão situadas.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
4
CAPITULO 04
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
94

“Em geral, entende-se por restauração em que a obra deve ser representada sem exprimir falsidade
qualquer intervenção voltada a dar da mesma. Caso ocorram integrações, estas não devem
novamente eficiência a um produto da
atividade humana.” realçar mais que a obra original, sendo reconhecidas de
(BRANDI, 2004, p.25) imediato. E o mais importante:

Este é o princípio do conceito de restauração idealizado por “(...) qualquer intervenção de restauro não
Cesare Brandi20 em seu livro Teoria da Restauração na torne impossível mas, antes, facilite as
eventuais intervenções.”
década de 1960. Nele iremos analisar a fundamentação (BRANDI, 2004, p. 48)
teórica da restauração e conservação arquitetônica
juntamente com as Cartas Patrimoniais21 de Veneza e Burra Cada obra de arte, quando restaurada, será sempre analisada
que possa seguir de base para o estudo da restauração feita como um caso a parte. O estudo preliminar que antecede as
no antigo Hospital, atual Casarão em Cariús, objeto de estudo aplicações das cartas patrimoniais e técnicas de restauração
deste trabalho. e conservação é essencial e único em cada monumento, pois
os métodos utilizados em uma obra podem não ser
adequados a outra, tornando-os singulares.
4.1. Cesare Brandi A restauração segundo a instância histórica implica na
qualificação da obra de acordo com o valor histórico da
Em primeiro lugar devemos analisar a construção como um
mesma, ou seja, ligar a edificação ao passado, presente e
todo, ou seja, como uma obra de arte. Para isso Brandi expõe
futuro certificando-se da presença de rastros humanos neste
duas instâncias: a instância histórica e a instância estética,
monumento. Caso esses vestígios não sejam conservados no
____________ passado e nem para o futuro, ocorrerá uma falha na
20
comunicação dos testemunhos, não sendo possível classificá-
Cesare Brandi – Nascido em 1906 e falecido em 1988, formado em
la como uma instância história.
letras e direito, entretanto possuiu grande presença na história da arte
direcionado a restauração.
Por este lado a repristinação – ato que trás a obra em seu
21
Cartas Patrimoniais – Documentos onde são encontrados os principais estado inicial, de volta aos seus primeiros tempos - é abolida,
conceitos adotados para o gerenciamento de bens patrimoniais. pois faz com que a história e os intervalos pela qual a

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CAPITULO 04
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
95

construção passou seja anulada, esquecida. “Causando a refazimentos das partes, sendo assim, estes atos
impressão de que o tempo nunca agiu sobre a obra, que se proporcionaram apenas o realce estético da obra.
mostra sempre acabada e nova” (ARAÚJO, 2006, p. 5).
Ao ver da instância histórica, todas as adições admitidas ao
A conservação de acordo com esta instância implica em longo dos anos, décadas e séculos na obra de arte é um
manter a obra da maneira em que foi encontrada, em poucas “testemunho do fazer humano” (BRANDI, 2004, p. 71). Tais
palavras, uma restauração preventiva eliminando uma adições possuem a função de complementar, sendo
intervenção direta, somente condicioná-la a técnicas de conseqüência de um desenvolvimento tornando-se uma
preservação do seu estado atual, tornando-a legítima e introdução na obra, um enxerto. Neste caso deve ser
fazendo jus ao seu histórico, um testemunho, mesmo que conservada. Em vista a este argumento, Brandi afirma que a
mutilado, reconhecido como uma obra de arte da passagem remoção implicará na redução a nada de um documento,
do ser humano. Caberia, portanto, apenas a consolidação do “donde levaria à negação e destruição de uma passagem
monumento. histórica e à falsificação do dado. (...) do ponto de vista
histórico, é apenas incondicionalmente legítima a
O entorno da edificação também é levado em consideração conservação da adição” (idem, p. 71).
na conservação da obra de arte. É necessário fazer um
levantamento das belezas naturais no perímetro, pois as O refazimento se difere da adição, nesta situação se pretende
mesmas podem estar integradas ao bem cultural. Todavia, os ligar o passado com o presente, apresentando o processo
aspectos naturais podem também não obter presença em sua original ao qual a obra se desenvolveu. Ligando o antigo com
passagem histórica ou valor em determinadas culturas, neste o atual “de modo a não distingui-los e a abolir ou reduzir ao
caso levamos em conta a predominância do panorama, em mínimo o intervalo de tempos que aparta os dois momentos”
que a vista da obra de arte não seja prejudicada pelo entorno. (idem, p. 73). Então a idéia principal do refazimento é expor a
época em que a obra surgiu. Este ato pode ser consentido à
Já no caso das adições, refazimentos e remoções da obra, é instância história, pois mesmo sendo um feito do presente,
necessário pesar o que é mais válido, a razão histórica ou a marca o fazer do humano e no momento em que o futuro for
razão estética. Uma obra que já suportou refazimentos e olhar pelo passado, verá esta assinatura do humano neste
remoções repetidamente, não será possível mantê-la apenas refazimento.
pela instância histórica, pois se seu conceito está apenas nos

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CAPITULO 04
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
96

Contudo, no caso da remoção, esta deverá ser questionada e Em oposição a estes fatos, conceituar a ruína com referências
concedida uma razão plausível para o ato, e mesmo que seja a instância estética implica em complexos enredos. Pois a
feita, deverá consentir traços de sua presença na obra em mesma pode estar integrada a monumentos, paisagens ou
que estava situada. até ser um caráter de uma determinada zona. Devido à
“delimitação negativa do conceito de ruína” como resquício de
“a instância artística (...) corresponde ao fato
basilar da artisticidade pela qual a obra de uma obra de arte, “[a ruína] não pode ser reconduzida à
arte é obra de arte.” unidade potencial”. (idem, p. 79).
(BRANDI, 2004, p. 29)
Com relação à remoção das adições, o valor artístico se
Nesta definição acima, Brandi expõe de forma simples que a contradiz com o histórico, se manifestando contra a
instância estética nem sempre utiliza os mesmo critérios que conservação dos acréscimos. Em conseqüência remove a
a instância histórica, pois uma edificação bem condicionada “recordação da passagem histórica”. Esta ação deverá ser
não seguirá as mesmas regras que uma ruína. efetuada com a devida atenção a documentação.
“(...) do ponto de vista estético não somos “Para a instância que nasce da artisticidade
constrangidos a definir a área conceitual da da obra de arte, o acréscimo reclama a
ruína com o mesmo critério do ponto de remoção. (...) E como a essência da obra de
vista histórico.” arte (...) é claro que a adição deturpa,
(BRANDI, 2004, p. 78) desnatura, ofusca, subtrai parcialmente à
vista da obra de arte, [então] essa adição
Neste pensamento citado por Brandi, caso a ruína fosse deve ser removida”
considerada pelo seu valor estético, com objetivo de levá-la à (BRANDI, 2004, p. 83-84)
unidade potencial, seria através da cópia, um falso das
Para estes casos, se deve sempre analisar a importância dos
características originais. Portanto, a ruína que não pode ser
elementos. Determinar qual valor prevalece mais, se vale
integrada, será conservada, ponderando o valor histórico,
remover as adições “além do valor intrínseco dos objetos
conservando seu estado atual como uma passagem do tempo
acrescentado”, ao ponto de destruir marcos e passagens
e história humana. (idem, p. 78).
históricas. (idem, p. 85).

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
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Outro caso em que a instância estética se opõe à histórica é a Minas Gerais apresentados ao ICMS Patrimônio Cultural
pátina, pois a mesma documenta uma passagem que o tempo (2010, p. 12).
causou na obra de arte e deve ser mantida. Todavia a
Porém devido a um incêndio ocorrido no ano de 2003, tornou
artisticidade propõe a remoção desta ação, por ser
considerada uma adição. (idem, p. 85-86). o antigo imóvel em ruína, descaracterizando o conjunto
arquitetônico. Então como ação punitiva ao agente causador
Todavia, é notório ressaltar que, assim como a instância do incidente, os resquícios do imóvel foram consolidados a
histórica, a instância estética também é fruto da ação uma cópia do casarão original. Esta ação foi proporcionada
humana, porém “se aqueles vestígios estão de fatos perdidos, devido ao grande valor estético que o edifício tinha, e ainda
não pode mais tratar-se de artisticidade, mas apenas de tem, em relação à paisagem em que está situada.
historicidade.” (idem, p. 78).
Portanto, foi considerado não só o valor do bem em si, mas
Sendo assim, a restauração da edificação como uma obra de principalmente seu valor extrínseco. O papel do bem
arte dependerá do peso dos valores que o imóvel carrega em danificado na composição da paisagem envolvente perderia
si. Seja pelos materiais nela contida, as técnicas construtivas valor com a ausência do mesmo. Por este motivo, a
utilizadas ou pelos traços do autor, tornando o ato da reconstrução foi realizada, considerando a reintegração do
restauração dependente destas condições. Portanto, cada valor estético da paisagem urbana como um todo.
bem requer uma análise específica e individualizada acerca
Figura 142 – Antigo Hotel Pilão em chamas
da instância a ser privilegiada. em 2003.
Disponível em: <http://www.ouropreto-
Existem várias maneiras de abordar uma ruína que está
ourtoworld.jor.br/FogoPilao.htm>. Acesso
prestes a ser restaurada. Para entender melhor as instâncias em: 04 out. 2010.
será mostrado dois casos de intervenção. O primeiro será o
antigo Hotel Pilão, situado na Praça de Tiradentes em Ouro
Preto, MG. Figura 143 – O casarão reconstruído,
[200-].
O conjunto urbano deste local é considerado um patrimônio Disponível em: <http://www.ouropreto-
da humanidade, segundo a Listagem de bens protegidos em ourtoworld.jor.br/pilao2.htm>. Acesso em:
04 out. 2010.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
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Outro exemplo de patrimônio em ruína é o Castelo de Garcia Figura 145 – Vista


D’Ávila, situado no litoral da Bahia é uma das primeiras aera do Castelo de
Garcia D’Ávila.
edificações portuguesa construída no Brasil. Um conjunto Disponível em:
residencial-militar dos séculos XVI e XVII, considerado como <http://www.flickr.co
um monumento nacional desde 1938. (A CASA DA TORRE m/photos/ulyssesde
[...],1989-2008) castro/4371102673/
sizes/z/>. Acesso
A intervenção no complexo foi baseada predominantemente em: 04 out. 2010.
na instância histórica, sua ruína foi mantida no estado em que
foi encontrada, devido ao significado como um testemunho da
história humana. Já a capela nela situada foi conservada ao
longo do tempo devido ao seu uso contínuo, restando apenas
pequenas intervenções sem alterar seu sentido.

A consolidação da ruína pressupõe a valorização da instância


histórica na medida em que, por exemplo, manteve expostas
Figura 146 – Capela
as técnicas construtivas empregadas nos primórdios da conservada e a ruína do
ocupação do Brasil Colônia, ao invés de reconstruir o bem. castelo.
Disponível em:
<http://mundoposto.com.
br/blog/?tag=praia-do-
forte>. Acesso em: 04
out. 2010.

Agora para exemplificar, seguem nas figuras 147 e 148 dois


exemplos de intervenções baseadas, uma em uma edificação
Figura 144 – Castelo de Garcia D’Ávila atualmente. em ruína e outra estruturalmente conservada.
Disponível em: < http://shw.rafaelpires.fotopages.com/14234491/Castelo-
Garcia-dAvila.html >. Acesso em: 04 out. 2010.

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Figura 147 – Exemplo de restaurações em uma edificação com estrutura bem conservada, utilizando a Instância Estética e Histórica.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 148 – Exemplo de restaurações com uma


edificação em ruína, utilizando a Instância Estética e
Histórica.
Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 04
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
100

4.2. Cartas Patrimoniais também são vítimas de recortes em pedaços para serem
adaptados e embelezar novas construções, onde “colunas,
Inicialmente a salvaguarda do monumento histórico não foi capitéis, estátuas, frisos esculpidos são, desse modo,
baseada na conservação e preservação do bem com a
retirados dos edifícios que faziam a glória das cidades
essência de transmitir uma emoção ou memória viva, a fim de antigas” afim de serem reaproveitados. (idem, p.40-41).
relembrar uma geração passada, crenças e acontecimentos,
de forma “a preservar a identidade de uma comunidade étnica Segundo Choay (2001, p.35), tais ações ocorrem até ao
ou religiosa, nacional, tribal ou familiar” constituindo “uma século XI. Ainda em Roma o Coliseu sofre grandes
garantia das origens” (CHOAY, 2001, p.18). mudanças, seus arcos são fechados e reutilizados para
habitações, depósitos e oficinas, e no lugar da arena é
Naquele momento, a salvaguarda havia como intenção, a elevada uma igreja e uma fortaleza da família Frangipani.
recuperação dos monumentos para a reutilização, devido à
perda de “seu sentido e seu uso, a insegurança e a miséria”. O sinal de interesse pelo passado referente aos antigos
Os primeiros acontecimentos neste sentido podem ser edifícios é despertado entre o século XIV e XV, através de
apresentados em Roma no século V, onde um decreto “abordagem literária” pelos humanistas, negligenciando o
autoriza a desapropriação dos edifícios “cujo estado não conhecimento visual, onde seus interesses não estão
permite conserto” para serem transformados em pedreiras. focalizados no monumento, e sim no “testemunho do texto
(idem, p.35). sobre o passado” acima de todos os demais. Nesta mesma
passagem são encontrados os artistas, que pela filosofia
No século seguinte o papa Gregório I, em época onde a semelhante, simpatizam pelas formas e descobrem novos
construção implicava com altos gastos, adota uma política de conceitos construtivos referentes às esculturas e antigos
reutilização, onde seu sucessor, Honório, transforma grandes edifícios. (idem, p.46-47,49).
residências patrícias em monastérios e as salas de recepção
em igrejas (idem, p.36). Entretanto, cabe aos papas dar início à proteção dos edifícios,
com medidas modernas, a fim de preservar e/ou restaurá-las.
A partir deste mesmo século, Roma é vista como “a maior Através de bulas pontificais, em meados do século XV, o
fonte de materiais prestigiosos para os novos santuários”, papa Pio II Piccolomini, a favor de sua apreciação aos
além da reutilização dos espaços, os antigos monumentos edifícios antigos, aclama a abolição da depredação e

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CAPITULO 04
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
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demolição dos mesmos, punindo a todos que danificarem tais Já Viollet-le-Duc, propiciou o início efetivo da teorização do
imóveis. Entretanto, os papas não satisfeitos somente “com restauro através do Restauro Estilístico. Neste caso o teórico
medidas preventivas”, “retiram o entulhos, desobstruem, utiliza a analogia dos edifícios similares através de
restauram as antigüidades”. Como no caso do papa Eugênio arqueologia e da história de sua arte, a fim de alterar o
IV que além de manter limpo os arredores, restaura a edifício chegando ao ponto de sua perfeição.
cobertura do Panteão. Já Nicolau V aconselhado por Leon
Battista Alberti, arquiteto italiano, faz um grande levantamento Entre outras teorias de restauro, estão presentes o Restauro
topográfico de Roma, para um promissor plano de Romântico conhecido como Anti-restauro por John Ruskin; o
restauração da cidade, além “de conservar e colocar em Restauro Histórico de Luca Beltrami utilizando critérios
destaque os grandes monumentos da Antigüidade”. (idem, específicos para cada restauração; Camilo Boito apresentou o
p.53-55). Restauro Moderno através da recuperação de um edifício
morto para suprimir uma necessidade contemporânea; o
Neste raciocínio, Pio II Piccolomini almeja não somente a Restauro Científico por Gustavo Giovannoni influencia a
idéia de preservar e conceder manutenções nos “lugares preservação do monumento no contexto urbano que está
santos da cidade” no momento, mas sim “para que as inserido; e por último o Restauro Crítico defendido por
gerações futuras encontrem intactos os edifícios da Cesare Brandi, já caracterizado no tópico anterior.
Antigüidade e seus vestígios”. (idem, p.53). (PIMENTEL, 2009/2010).

Seguindo o caminho da restauração, vale ressaltar algumas É válido concluir que tais teóricos contribuíram para o
teorias de restauro que foram vivenciadas ao longo do século desenvolvimento dos procedimentos e ações preservativas
XVII até XX. Podendo-se iniciar pelo Restauro Arqueológico nos bens, independentemente de suas variantes. Pois cada
(ou Empírico) exposta pelo Papa Leão XIII, surgem os especialista legitimou suas teorias de acordo com período em
primeiros antiquários, onde os testemunhos dos objetos são que estava sendo vivenciado.
mais confiáveis que a escrita, ao contrário do que ocorria
entre o século XIV e XV. Tal teoria era meramente substancial Para que o ato de salvaguarda de bens de interesse à
e não aprofundada em relação aos teóricos que estavam por sociedade fosse adotado até os dias atuais, profissionais
vir. envolvidos com o ramo da arquitetura, arqueologia, artes
plásticas, entre outros, conceberam encontros mundiais para

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
102

discutir e formular parâmetros de abordagem ao patrimônio, em que remete uma lembrança e modificar o restante de
devido à carência de metodologias com base científicas. Afim forma vantajosa. (CARTA DE ATENAS, 1933).
de orientar os procedimentos entre os profissionais.

Em favor deste conceito, foram desenvolvidas Cartas


Patrimoniais que recomendam aos órgãos responsáveis e
protetores dos bens culturais, políticas de preservação e
salvaguarda, reverenciando “os valores patrimoniais quanto a
amplos aspectos sócio-culturais”. (CÉSAR; STIGLIANO,
2010). Figura 149 – Cartaz do CIAM.
Disponível em:
Um dos encontros que obteve o pontapé inicial para a <http://www.uesc.br/revistas/culturaeturismo/edic
elaboração do primeiro documento internacional digno da ao7/artigo_6.pdf>. Acesso em: 26 set. 2010.
conservação e preservação do bem cultural, foi o I Congresso
Internacional de Arquitetos e Técnicos em Monumento – Afora a valorização visual do monumento, cabe a Carta de
CIAM, em Atenas no ano de 1931, que incentivou a Atenas fortificar o respeito pelo patrimônio, onde as técnicas
realização da Carta de Atenas. Neste documento é exposta a utilizadas não causem danos aos elementos do mesmo
importância do patrimônio na cidade, transpondo cuidados favorecendo também a utilização da anastilose22 – quando for
especiais em relação ao entorno dos monumentos, possível – diferenciando o novo material utilizado na técnica.
preservando sempre a perspectiva e vistas do imóvel além Para que isso ocorra o documento impõe a responsabilidade
das paisagens pelo qual ele oferece. Também leva em pela conservação dos monumentos aos Estados. Entretanto
consideração o todo como um conjunto arquitetônico. Já na não somente os órgãos governamentais, mas também a
assembléia de 1933, é levantada a questão que diz respeito população deverá respeitar e participar dos acontecimentos
aos conjuntos urbanos com repetição de imóveis, onde é culturais e históricos da comunidade elevando importância do
necessária a documentação e conservação de alguns, sendo ___________
os demais demolidos, ou ao ponto de conservar uma parte
22
Anastilose – Recolocação de elementos do monumento em seus locais
originais.

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CAPITULO 04
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
103

interesse educacional e trazendo em conseqüência, a Simbel construído no século XIII a.C (SABONGI, [20--]), salvo
redução dos danos devido ao esquecimento dos pela organização na década de 1960:
monumentos. (CARTA DE ATENAS, 1931).
“Início da Campanha da Núbia, no Egito,
Em novembro de 1945 é criada a UNESCO , uma 23 para deslocar o Grande Templo de Abu
Simbel de modo a evitar que fosse
organização internacional que visa à promoção de várias submerso pelo Nilo depois da construção da
atividades, sendo uma delas cultural, onde focaliza, dentre represa de Assuan. Durante essa
outras questões, a salvaguarda do patrimônio cultural Campanha, ao longo de 20 anos, 22
estimulando sua preservação através de assistências técnicas monumentos e complexos arquitetônicos
foram relocados. Esta foi a primeira e a
e divulgação de informações. (UNESCO, 2007). maior de uma série de campanhas.”
(UNESCO, 2007, p. 26)
De acordo com CÉSAR e STIGLIANO (2010), após
aproximadamente uma década, no ano de 1956, a UNESCO
promoveu uma Conferência Geral em Nova Delhi, Índia, onde
foram discutidos assuntos referidos à arqueologia.

Todavia vale ressaltar que também foram firmados os


cuidados dos bens históricos ao Estado e a importância da
comunicação e propagação de informações do mesmo com a
comunidade tanto local como internacional. (CÉSAR;
STIGLIANO, 2010).

Graças à UNESCO, também foi possível preservar grandes


monumentos, como no caso do complexo arqueológico Abu

___________
23 Figura 150 – Local original dos templos.
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
Disponível em: <http://www.khanelkhalili.com.br/mapasEgito9.htm>.
e Cultura.
Acesso em: 26 set. 2010.

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CAPITULO 04
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
104

referência para a análise do Casarão no capítulo seguinte.


Sua utilização será de suma importância, pois as formas de
aplicação da mesma estão dentro dos parâmetros de como o
monumento histórico está situado na atualidade. Ou seja, a
Carta de Veneza se refere não apenas aos grandes edifícios
da Antiguidade, mas também valoriza “as obras modestas,
que tenham adquirido, com o tempo, uma significação
cultural”. (CARTA DE VENEZA, 1964, p.02).

Como no caso da edificação foco de estudo deste trabalho, tal


Figura 151 – Templos de Templo de Ramsés II e sua esposa preferida imóvel pode não possuir um significado em grande escala,
Neferetari.
mas é de um testemunho, um acontecimento histórico, da
Disponível em: <http://www.khanelkhalili.com.br/mapasEgito9.htm>.
Acesso em: 26 set. 2010. comunidade local. Segundo a Carta de Veneza, para manter
o monumento como uma obra de arte classificada como
Em suas grandes realizações, no ano de 1972 em Paris, a testemunho histórico, é necessário visar sua salvaguarda
Conferência Geral da UNESCO promoveu uma convenção a através de dois métodos: a conservação e a restauração.
favor da Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural,
criando em 1976 a Comissão do Patrimônio Mundial. Neste A conservação se baseia primeiramente na manutenção
ato a organização distribui informações e promove constante da edificação, para isso o documento permite que o
mecanismos para iniciar a conservação e proteção do bem possua uma nova função, desde que não ocasione em
patrimônio universal, incluindo convenções internacionais mudanças e alterações “na disposição ou decoração dos
para aqueles interessados na salvaguarda do mesmo. edifícios”. Em conseqüência, tal feito poderá “alterar as
(UNESCO, 1972). relações de volumes e de cores”, devido à importância da
preservação volumétrica e de sua escala. (idem, p.02).
Já em 1964 ocorre o II Congresso Internacional de Arquitetos
e Técnicos em Monumento - CIAM em Veneza, dando origem Todavia, não somente o exterior, mas também o interior é
a um novo documento, a Carta de Veneza, o qual servirá de digno de conservação. Os elementos internos, sejam
esculturas ou decorações, fazem parte da edificação, sendo

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CAPITULO 04
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
105

assim não podem ser removidos de seus locais de origem, Neste caso, vale ressaltar que a restauração do monumento é
somente no caso em que tal ação seja o último recurso a fundamentada “no respeito ao material original e aos
favor da integridade do objeto. documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese”, ou
seja, em casos onde os documentos não sejam suficientes
Portanto, não há como separar os registros materiais da para restaurar a edificação ou parte dela, não se deve
edificação, pois “o monumento é inseparável da história de reconstruir onde ocorre a ausência de informação, para
que é testemunho e do meio em que se situa. [...] o indicio de complemento, evitando um falso na composição
deslocamento de todo o monumento ou de parte dele não arquitetônica. (idem, p.02).
pode ser tolerado”. Ocorrendo exceções apenas para os
casos extremos, quando o mesmo é exigido para a própria Já os acréscimos serão aceitos somente em casos onde “o
salvaguarda ou for justificado por “razões de grande interesse equilíbrio e suas relações com o meio ambiente” não forem
nacional ou internacional”. (idem, p.02). abalados. (idem, p.03).

Já a restauração tem a finalidade de manter o valor histórico e Outro testemunho escrito analisado juntamente com a Carta
estético do monumento, com o objetivo de manter os rastos de Veneza, foi a Carta de Burra, sendo ela um complemento
deixados pelas épocas em que a edificação vivenciou, deste documento anterior. Elaborada em 1980 pelo Conselho
ostentando o material nelas contidas. Para que isso ocorra, é Internacional de Monumentos e sítios – ICOMOS na Austrália,
necessário utilizar as técnicas tradicionais da época, porém aprimorou os procedimentos de conservação e restauração
quando não for possível, pode-se optar pelas técnicas além de colaborar com as recomendações de preservação,
modernas que comprovem o resultado pretendido, sem danos reconstrução do monumento edificado e de seus elementos.
ao monumento.
Assim como a Carta de Veneza, a carta de Burra defende a
Em casos de substituição de partes faltantes, a Carta de conservação com respeito ao “testemunho nela presente”,
Veneza favorece a concepção de um novo elemento, de designando o bem como “um local, [...] um edifício ou outra
modo em que o novo não sobressaia mais que o antigo, esta obra construída, [...] que possuam uma significação cultural,
integração deve ser feita através de materiais diferenciados compreendidos [...] para as gerações passadas, presentes ou
dos originais para que não ocorra a falsificação de partes do futuras”. (CARTA DE BURRA, 1980, p.01-02).
monumento.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
106

Entretanto, a mesma carta aceita “obras mínimas de admitido apenas para a manutenção da substância dos
reconstrução”, mas apenas para atender as necessidades e edifícios, a fim de desacelerar o “processo pelo qual ela se
exigências do edifício em si (idem, p.01). Diferente da Carta degrada, limitando-se “à preservação, à manutenção, e à
de Veneza, onde não denunciava alguma forma de eventual estabilização da substância existente”. Deixando
reconstrução do imóvel. claro que métodos onde depredam o significado do bem não
serão tolerados.
Ao esclarecer os procedimentos quanto à reconstrução, a
Carta de Burra (1980, p.04) cita que, o objetivo maior é Paralelo a estas técnicas temos a restauração, onde envolve
permitir uma “leitura” completa do monumento, trazendo o a reposição dos elementos, porém a “um estado anterior
significado cultural que foi perdido, onde deve “se limitar à conhecido”, viabilizando a recolocação de materiais
reprodução de substâncias cujas características são desconjuntados, ou em outras condições subtrair acréscimos
conhecidas graças aos testemunhos materiais e/ou de elementos. (idem, p.01 e 03).
documentais”.
Nestes casos, de acordo com a Carta de Burra (1980, p.03) a
Todavia, tais partes devem ser diferenciadas quando vistas restauração só é possível se for obtida a quantidade de dados
de perto e não sobressaírem mais que o entorno em que está que suprem o testemunho de suas características anteriores,
situada, limitando-se a “completar uma entidade desfalcada e assim como é mencionado simultaneamente na Carta de
não [...] a construção da maior parte da substância de um Veneza (1964, p.02). Devendo equilibrar, qual época deve ser
bem” (idem, p.04). privilegiada, já que “todas as épocas deverão ser
respeitadas”. (CARTA DE BURRA, 1980, p.03).
Seguindo a mesma linha da Carta de Veneza (1964, p.02), a
Carta de Burra (1980, p.03), afirma que quando for necessária Um procedimento considerável nos processos de salvaguarda
a remoção de elementos que forem pertencentes ao de um edifício histórico é o estudo, não apenas na
monumento, só será permitido meramente para manter a construção, mas também de seu entorno. Na Carta de
sobrevivência dos mesmos. Veneza (1964, p.03) o ato de escavação é levemente
mencionado, mas é na Carta de Burra (1980, p.04) onde é
A preservação não é citada na Carta de Veneza, todavia, declarada que a escavação em casos o qual é permitido o tal
segundo a Carta de Burra (1980, p.01 e 03) este ato será ato, se torna “necessária para a obtenção de dos

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CAPITULO 04
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
107

indispensáveis à tomada de decisões relativas à


conservação”.

Para finalizar, tanto a teoria de Cesare Brandi, quanto os


procedimentos das Cartas Patrimoniais, realçam a proteção
do monumento edificado por ser um patrimônio importante
para a humanidade ou para uma coletividade. Deste ato surge
a necessidade de respeito aos bens materiais que circundam
a comunidade local podendo se expandir de forma nacional
até um ponto global.

Para isso deve-se relacionar o patrimônio com o cotidiano da


população, não excluí-la, mas tornar parte do dia-a-dia desta
comunidade. Difundindo a idéia de um pequeno projeto de
salvaguarda em grandes planejamentos e planos de
revitalização local para regional à nacional.

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108

ANÁLISE DA INTERVENÇÃO
NO EDIFÍCIO 5
CAPITULO 05
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
109

O ato de intervir em um patrimônio está ligado em manter as imóvel em sua forma original também pode aplicar técnicas
condições do objeto, prolongando ao máximo sua vida e de básicas sem mesmo obter conhecimento sobre o tema.
seus elementos, levando em consideração que, nem sempre
È a partir deste ponto que iremos avaliar e analisar os
é possível obter um parecer conclusivo, sendo necessária
uma constância nas ações de conservação do bem edificado. procedimentos utilizados na intervenção feita pela Dra Luisa
Angélica Sales – atual moradora do imóvel – de acordo com
“Contudo, não podemos perder de vista a os princípios fundamentais citados no capítulo anterior e os
percepção de que muitas vezes é materiais didáticos sobre “Técnicas básicas de conservação e
impossível reconstituir o objeto em sua
materialidade original, sabendo, porém, que restauração”24. E quando possível, indicar técnicas
é necessário estabilizar os processos de alternativas que podem melhorar as condições físicas do
alteração/degradação da obra/objeto/ patrimônio.
artefato, por meio de ações que não
comprometam as características de seus
materiais constitutivos. Ao perceber a
imensa dificuldade que é a prática de um A. Adições
respeito rigoroso à integridade do objeto –
tanto na sua preservação material quanto Em relação à volumetria do Casarão, sua forma inicialmente
em relação ao seu significado –,
era retangular, quando foi construída em 1922. Entretanto
compreendemos a necessidade de ações
conscientes, realizadas por profissionais podemos observar a adição de um volume em forma de “L”,
qualificados, que devem reciclar seus para ampliação do imóvel, logo após a desabilitação do
conhecimentos continuamente.” Hospital, no começo do século 1930 – eventualmente durante
(FRONER; SOUZA. 2008. p.03-04).
a moradia do interventor Maximinio, possivelmente feita pelo
Segundo Froner e Souza (2008) é necessário que um mesmo – sendo mantida até os dias atuais.
profissional com especialização em restauro, preservação e
___________
conservação atue nesta área. Porém um leigo com
consciência de preservação com objetivo em manter um 24
Material obtido na disciplina de Técnicas Retrospectivas II da professora
Viviane Pimentel. Faculdade Brasileira – UNIVIX.

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CAPITULO 05
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
110

Devido ao enredo histórico nela contida, optou-se manter tal


adição e considerar o patrimônio como uma instância
histórica, pois segundo Brandi, é por obrigação em manter um
testemunho do ser humano que se deve conservar as
adições, para assim, torná-la legítima. (BRANDI, 2004, p. 71).

Figura 154 – Casarão recém reformado, em destaque sua forma em “L”


em 2002.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 152 e 153 – Imagens representativas em 3D demonstrando a
volumetria original da edificação.
Segundo o artigo 13º da Carta de Veneza (1964, p.03) e o
Fonte: Acervo pessoal.
artigo 8º Carta de Burra (1980, p.02-03) os acrescimentos e
adições de novas construções só poderão ser permitidos caso
não prejudique sua composição e visualização em relação ao
entorno.

A partir desta afirmação, pôde-se justificar as demais adições


inseridas, localizada na área posterior do imóvel durante sua
intervenção. Antes de serem inseridas, o estado em que este
terreno foi encontrado era desastroso. O suposto quintal do

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CAPITULO 05
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
111

imóvel estava coberto de mato, ervas daninhas, e vegetações


que se alastraram para todos os lados.

Figura 155 e 156 – Fachada posterior do Casarão antes (ano de 2001) e


depois da intervenção [ca. 2002/2003].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 157 - Capinação antes da intervenção em 2001.


Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Após a capinação e limpeza do terreno que cercava o


Casarão, foi possível acrescentar outras edificações, como no
caso da lavanderia ao nível do terreno. Sua presença não
realça mais que a imagem do Casarão, apenas foi adaptada à
área externa, próxima ao imóvel de forma que não fosse
necessário alterar o interior para adequar o ambiente.

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CAPITULO 05
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
112

Cobertura da
Lavanderia

Varanda do
Casarão
Residência
acrescentada

Figura 159 – Edificações interligadas, 2010.


Fonte: Acervo pessoal.

Figura 158 – Lavanderia acrescentada na fachada posterior do imóvel,


2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Outra volumetria acrescentada foi uma pequena residência


interligada ao Casarão somente pelas varandas, sem
necessariamente ser adicionada estruturalmente ao imóvel,
constituindo um volume independente. Já este acréscimo foi
motivado devido à necessidade de uma moradia direcionada
aos pais da Dra Angélica que fosse localizada próxima da
mesma.
Figura 160 – Pequena residência interligada ao Casarão pelas varandas,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
113

Há também outras construções agregadas ao terreno,


próximas ao Casarão que são: a piscina, a garagem, o salão
de eventos e um deck coberto (fig. 161, 162 e 163). Estas
edificações foram aplicadas corretamente no terreno, pois não
estão anexadas ao imóvel analisado, não interferindo na
composição visual do mesmo.

Nestes casos, assim como a pequena residência, podem ser


justificados pela teoria de Brandi já citada anteriormente, onde
as adições feitas atualmente servirão de um testemunho do
fazer humano para o futuro. (BRANDI, 2008, p. 71).
Figura 162 – Salão de eventos, localizado ao lado da piscina, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 161 – Piscina e deck coberto acrescentado alguns anos após a


Figura 163 – Parte do salão de eventos e garagem coberta com duas
intervenção, na área posterior do terreno do Casarão, 2010.
vagas em 2006.
Fonte: Acervo pessoal.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

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ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
114

Figura 164 – Localização das edificações acrescentadas.


Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
115

B. Interior Estas aplicações procuraram proporcionar uma melhor


adequação para o imóvel, pois foram construídas em áreas
Outro exemplo de adições, agora na parte interior do ociosas, que não possuíam mais utilidade, como no caso do
Casarão, são as paredes que foram construídas para adaptar
corredor - já que este acesso não era mais conveniente,
o imóvel a uma residência atual. Para esta situação foram devido ao quarto já possuir uma porta de acesso pela varanda
elevadas paredes para acrescentar um banheiro à suíte de frontal.
visitas. Próximo a este banheiro, na mesma suíte, foi
adaptado um pequeno depósito com acesso pelo banheiro da Figura 166 – Parede elevada no
suíte master. final do antigo corredor de acesso
principal, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 165 – Pequeno depósito, 2010.


Fonte: Acervo pessoal.

Este último ambiente está situado onde era o antigo corredor


do primeiro acesso principal ao imóvel, a porta principal fora
Figura 167 – Banheiro da suíte
substituída por uma báscula e o final do corredor fechado. master. A porta principal
originalmente estava localizada
Tais adaptações foram decorrentes da necessidade e onde está a atual báscula, 2010.
privacidade tanto das visitas quanto da moradora. Fonte: Acervo pessoal.

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ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
116

Figura 168 – Adições de paredes.


Fonte: Acervo pessoal.

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ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
117

Além destes banheiros, a edificação foi encontrada com dois


banheiros adaptados. Um deles estava localizado no corpo
original, um pequeno ambiente – suposto lavabo - somente
para uma cuba e uma bacia sanitária. E outro banheiro no
anexo, consideravelmente grande comparado ao anterior.

Os dois ambientes estavam em péssimas condições


sanitárias, completamente sujos e com acúmulo de lixo. Neste
caso a Drª Angélica transformou o pequeno banheiro do
corpo original em um depósito, retirando os equipamentos
sanitários.

Figura 170 – Antigo banheiro, hoje


como depósito, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

O outro banheiro foi reformado, relocando a bacia sanitária no


lugar chuveiro, e separando por uma pequena parede a cuba
e a bacia sanitária da área molhada. Todas as paredes deste
ambiente foram revestidas com cerâmicas até o nível do
chuveiro, uma ótima proposta para melhor limpeza e higiene
do banheiro.

Essas mudanças foram um ponto positivo para o imóvel, pois


Figura 169 – Antigo pequeno banheiro no corpo original no ano de 2001. o lavabo, por ser um ambiente muito pequeno, não era viável
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
ergonomicamente para uma residência com idosos. Já a

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CAPITULO 05
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
118

reforma do banheiro maior proporcionou uma melhor


ambientação, aproveitando os espaços de forma útil.

Esta conduta é pertinente às disposições da Carta de Burra,


especificadas no art. 1 (1980, p. 1) que dispõe sobre a
possibilidade de intervir no bem para que seja adaptado para
atender às necessidades e exigências do imóvel ao contexto
atual. Entretanto, essas modificações podem ser facilmente
reversíveis, de acordo com sua destinação (idem, p.2).
Figura 171 – Banheiro maior antes da
reforma em 2001.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela
Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 172 – Banheiro maior


depois da reforma, 2006.
Figura 173 – Modificações nos antigos banheiros existentes.
Fonte: Acervo pessoal fornecido
Fonte: Acervo pessoal.
pela Drª Luisa Angélica Sales.

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CAPITULO 05
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
119

Dando continuidade às adições no interior da edificação,


temos presente algumas colunas de concreto acrescentadas
para dar sustentabilidade às tesouras da cobertura que
estavam cedendo. Estas colunas foram postas de forma que
“abraçassem” a linha da tesoura, através de encaixes em Figura 175 e 176 – Colunas
forma de “U” na parte superior da mesma, para evitar que não construídas na reforma em 2006 e
à direita como estão atualmente,
apenas fossem apoiadas e sim, presas às colunas.
2010.
Fonte: Acervo pessoal fornecido
pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 174 – Detalhe


da coluna de
concreto em forma
de “U”, 2010.
Fonte: Acervo
pessoal.

Duas dessas colunas estão localizadas na suíte de visitas.


Estas suportam uma das três tesouras do corpo original, a
qual não evidência grande deterioração, porém tais métodos
foram utilizados como modo de prevenção.
Atualmente, para aproveitar o pequeno espaço criado entre
as duas colunas e a parede, foi adaptado para um pequeno
depósito.

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CAPITULO 05
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
120

Um procedimento correto segundo a professora Viviane


Pimentel (2009/20010, p.08) em seu material didático afirma
que quando necessário, as peças de madeiras deterioradas
podem ser niveladas “aumentando sua seção com reforços de
madeira ou metálicos, fixados com cintas ou parafusos
passantes de aço inox”.

Esta intervenção é relevante na medida em que as barras de


reforço não se destacam em relação à peça de madeira. No
entanto, o mesmo não acontece com os anéis, que foram
mantidas na cor prata, sobressaindo em relação à madeira.
Neste caso seria necessário a pintura deste elemento à uma
Figura 177 – Colunas de
cor semelhante a madeira.
concreto com adaptação de um
pequeno depósito, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Outro ambiente em que foram aplicadas mais três colunas de


concreto é a suíte master, o antigo grande salão. Em uma das
tesouras foram aplicadas duas colunas com o sistema de
encaixe em forma de “U”, assim como no caso da suíte de
visitas. Já na outra tesoura, foi aplicada somente uma coluna
de concreto com o mesmo sistema.

Entretanto, para maior reforço, foi necessário aplicar uma


barra de ferro na parte inferior da linha da tesoura, presa à
mesma por dois anéis de aço. Figura 178 – Três colunas suportando duas tesouras na suíte master
construídas em 2006.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

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ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
121

Atualmente, estas colunas estão embutidas nas paredes de


alvenaria. Tal solução promoveu mais segurança às tesouras
para evitar uma possível flambagem. Este local hoje é
ambientado por uma sala íntima na suíte.

Figura 181 – Paredes de alvenaria escondendo as colunas de concreto,


2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 179 e 180 – Barra de ferro presa por anéis na tesoura, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 182 – Sala íntima criada pelas paredes que escondem as colunas,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.

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ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
122

Além das duas colunas que suportam a tesoura na suíte Tais procedimentos interferem no valor estético em relação ao
master, foi acrescentada uma viga de concreto em diagonal interior do edifício, neste caso poderia ter sido aplicado
no ambiente ao lado a suíte para dar apoio à mesma tesoura. técnicas mais aprimoradas, que não interferissem nos
espaços.
Não foi possível utilizar coluna de concreto nesta situação,
pois a tesoura não está alinhada com a parede, podendo ficar Entretanto, são plausíveis se forem analisados juntamente
um volume excedente em relação à mesma. Todavia, neste com as Cartas Patrimoniais e a teoria de Brandi, pois
caso seria necessário demolir parte da parede para construir segundo estes fundamentos, em caso de adições devem-se
uma nova estrutura, o que não era justificável para esta sempre diferenciar o novo do velho. Nesta situação foram
intervenção. utilizados métodos e materiais modernos na intervenção da
edificação, como o concreto, ferro e aço.

Estes métodos utilizados também estão corretos segundo a


instância histórica de Brandi, pois é importante mostrar cada
fase em que a edificação passou ao longo dos anos desde
sua construção até os dias atuais, para isso Brandi (2004, p.
73) afirma que “refundir o velho e o novo de modo a não
distingui-los”, é “abolir ou reduzir ao mínimo o intervalo de
tempo que aparta os dois momentos.” Por isso foi necessário
a diferenciação dos materiais aplicados na intervenção dos
originais, para que mostrasse a passagem de tempo entre o
velho e o novo acrescentado.

Figura 183 – Viga em diagonal, 2010.


Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
123

Figura 184 – Adições de viga e colunas de sustentação.


Fonte: Acervo pessoal.

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124

Assim como em várias casas em cidades do interior, em Figura 185 – Antigo fogão à lenha
Cariús é comum encontrar fogões à lenha feitos de tijolos. encontrado em 2001 no interior da
Atualmente, na cidade ainda é muito utilizado este tipo de edificação.
fogão entre as famílias de baixa renda. Fonte: Acervo pessoal fornecido
pela Drª Luisa Angélica Sales.
No Casarão não foi diferente, fora encontrado um fogão à
lenha feita em tijolos maciços – os mesmos da alvenaria da
edificação – onde estava situada na original cozinha,
atualmente sendo ocupada pelo lugar da sala de estar. Na
reforma, a cozinha passou a estar localizada no anexo
mencionado anteriormente.

Devido a essas mudanças o fogão ficou desabilitado não


sendo necessário manter este elemento histórico. Em todo
caso, Brandi (2004, p.71) afirma que “a remoção deve ser
sempre justificada e (...) deve ser feita de modo a deixar
traços de si mesma e na própria obra.” Infelizmente não foi
possível manter traços de sua existência no imóvel devido à
colocação do revestimento cerâmico no piso.

Entretanto, foi importante o registro em fotografia deste


elemento feito pela Drª Angélica, pois desta maneira é
confirmada sua existência e passagem pelo imóvel mantendo
um testemunho histórico.
Figura 186 – Antiga cozinha e
atualmente como sala de estar,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05
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125

Na maioria dos casos em que a edificação sofre uma Em relação ao piso do imóvel, sabe-se que os pisos da suíte
intervenção, é comum a reconstrução de pequenas partes da master e de visitas eram originalmente em frisos de madeira
alvenaria ou dos seus elementos. aroeira sobre barrotes25.

Neste caso foi necessário o preenchimento do reboco em


algumas paredes no interior do Casarão, devido à presença
de fissuras e tijolos aparentes. Este procedimento foi utilizado
não somente no interior, mas também nas fachadas externas
da edificação.

Um ato devidamente correto, pois proporciona a reconstrução


de pequenas partes do imóvel e não em grandes alterações
que poderiam constituir em um falso restabelecimento da
obra. Este procedimento é comprovado pelo art. 18º da Carta Figura 188 – Piso de madeira aroeira
encontrado na suíte master, antigo
de Burra (1980, p. 04) onde afirma que “a reconstrução deve grande salão em 2001.
se limitar à colocação de elementos destinados a completar Fonte: Acervo pessoal fornecido pela
uma entidade desfalcada e não deve significar da maior parte Drª Luisa Angélica Sales.
da substância de um bem”.
Os demais cômodos nãos apresentavam os revestimentos
originais. No entanto os antigos registros indicam a existência
de antigo barroteamento, demonstrando que provavelmente
em outros cômodos tinham o mesmo acabamento.

___________
25
Barrotes - O método de aplicação é chamado de barroteamento, que
Figura 187 – Tijolo da alvenaria aparente, são barrotes (vigas de madeiras) – apoiados em estruturas – que
2001. suportam o piso.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª
Luisa Angélica Sales.

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126

Figura 189 – Detalhe dos barrotes na Neste caso, talvez fosse possível restaurar o revestimento de
suíte master, 2003. madeira, uma vez que os barrotes ainda estavam em bom
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela
estado. Porém à falta de recursos e profissionais
Drª Luisa Angélica Sales.
especializados na região, não permitiu esta intervenção.

Entretanto, a justificativa teórica para este caso é equivalente


ao fogão à lenha. Antes da colocação do piso cerâmico foi
possível registrar os traços e a existência dos barrotes. Tais
elementos não foram retirados dos seus locais de origem, sua
existência ainda permanece abaixo do revestimento cerâmico.

Figura 190 – Detalhe dos barrotes


no piso do corredor no ano de
2003.
Fonte: Acervo pessoal fornecido
pela Drª Luisa Angélica Sales.

Devido ao precário estado de conservação do piso de


Figura 191 – Piso atualmente
madeira, o mesmo foi retirado e, além das suítes, todo o
revestido com cerâmica e portas
interior do Casarão foi revestido com piso cerâmico e com soleira, 2010.
acrescentado soleiras em quase todos os vãos e portas. Fonte: Acervo pessoal.

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127

C. Área Externa As raízes desta árvore estavam prejudicando os alicerces dos


dois imóveis, em conseqüência foi necessária a derrubada da
A intervenção no imóvel começou pelo seu entorno. Devido mesma. Segundo a Drª Angélica, para isso “foi solicitada e
aos descuidos dos antigos proprietários ao longo dos anos,
concedida autorização do Ibama para derrubar a árvore. O
tudo o que havia no terreno onde está situado o Casarão era corpo de bombeiros de Iguatú [cidade vizinha a Cariús]
formigueiros, mato, lixo e uma enorme árvore frondosa efetuou a operação de derrubada, e a Prefeitura Municipal de
localizada na área frontal entre o Casarão e o imóvel vizinho, Cariús transportou a madeira cortada.”
a atual Câmara Municipal.

Figura 193 – Parte do muro que divide o Casarão da Câmara Municipal


parcialmente destruído pela árvore, 2001.
Figura 192 – Árvore frondosa Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
na área frontal do terreno em
2001. Hoje, no local onde estava situada a árvore frondosa está
Fonte: Acervo pessoal presente um jardim florido com bouganvilles, pequenos
fornecido pela Drª Luisa arbustos e um coqueiro.
Angélica Sales.

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128

Figura 195 e 196 – Muro frontal do imóvel durante sua construção em


2001 e depois de pronto, 2003.
Figura 194 – Jardim atualmente, 2010.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Fonte: Acervo pessoal.

A retirada desta árvore foi um ato correto, e pode ser


justificada através do artigo 8 da Carta de Burra (1980, p. 02-
03) que declara “a introdução de elementos estranhos ao
meio circundante, que prejudique a apreciação ou fruição do
bem, deve ser proibida”. Ou seja, este elemento além de
prejudicar estruturalmente o imóvel, estava deturpando a
contemplação do mesmo.

Além da criação do jardim, foi elevado um pequeno muro e


acrescentados portões na área frontal do imóvel para
proteção e evitar intrusos. À frente do jardim está localizado o
muro feito de tijolos furados com detalhes em madeira e um
portão de ferro.

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129

Para proteger a passagem no afastamento lateral da


edificação, foi proposto um portão vazado de duas folhas para
passagem de veículos para a garagem do terreno.

Figura 198 – Fachada lateral por onde estava localizada a antiga escada
de acesso principal. Atualmente para acesso de veículos, 2006.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 197 – Portão de ferro para passagem de veículos, [200-].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Assim como o muro, os portões e a retirada da escada lateral
Devido à passagem de carros por este afastamento, foi são compreendidos como “obras mínimas de (...) adaptação
necessário remover uma pequena escada por onde era feito o que atendam às necessidades e exigências práticas” (CARTA
acesso principal ao imóvel original. Todavia não foi possível DE BURRA, 1980, p. 1). Enquadrando o imóvel a uma
obter registros documentados deste elemento. residência atual para veículos e com o mínimo de proteção.

Ainda por motivos de segurança, foram criados guarda-corpos


em volta de toda a edificação para a proteção dos idosos e

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crianças que circulam pelas varandas e residem no Casarão e Entretanto, para justificar sua remoção foi necessário
na residência acrescentada a este imóvel. reivindicar a instância estética segundo a teoria de Brandi
(2004, p. 83-84), onde afirma que “a instância que nasce da
Devido à adição deste elemento, foi necessário remover outra
artiscidade da obra de arte, o acréscimo reclama a remoção”
escada que estava situada na fachada frontal da edificação. para que seja retomando a forma original do imóvel. Neste
Por estar situada neste local, também trazia outra caso, é retirado o corpo estranho da obra.
conseqüência, a obstrução da passagem de pedestres na
calçada. Além desta escada, ocorre a presença de uma terceira,
localizada entre o corpo original e o anexo acrescentado
alguns anos após a construção da edificação. Porém este
elemento foi mantido, e acima do mesmo fora construída uma
nova escada adaptada para o atual imóvel, com adição de
guarda-corpos visando sempre à segurança do ser humano.

Figura 199 – Guarda-corpo parcialmente elevado, com a escada prestes a


ser retirada em 2001.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 200 – Drª Angélica e sua família na antiga escada localizada entre
Esta escada na fachada principal foi inserida anos após a o copo original e o anexo acrescentado, 2001.
construção deste imóvel, não sendo original. Todavia este Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
elemento é um marco, um testemunho histórico na edificação.

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Figura 202 – Marcação no piso para


registro da antiga escada, 2001.
Fonte: Acervo pessoal.

Segundo a Carta de Burra (1980, p. 02), os artigos 1 e 7 da


mesma, afirmam que é permitido pequenas modificações
destinadas a compatibilização para o bom usufruto do imóvel,
contanto “que sejam substancialmente reversíveis ou que
requeiram um impacto mínimo”. Sendo plausível o intuito de
manter o elemento intacto, podendo voltar ao seu primeiro
estado a qualquer momento.

Em relação à área posterior do terreno do Casarão, ainda


encontra-se o antigo fogão a lenha com uma pequena
chaminé inclusa. Foi essencialmente importante manter este
corpo, por possuir um valor histórico ligado ao primeiro
Figura 201 – Escada atual com adição de guarda-copos. Acesso principal
a residência, 2001. destino deste imóvel ainda como Hospital, pois este elemento
Fonte: Acervo pessoal. era utilizado pelas enfermeiras que escaldavam e
esterilizavam os lençóis do hospital.
Para manter registros de sua existência e “traços de si
mesma e na própria obra” (BRANDI, 2004, p. 71) a Drª Artigo 7º - O monumento é inseparável da
Angélica evidenciou no piso o local onde a antiga escada história de que é testemunho e do meio em
que se situa. Por isso, o deslocamento de
ainda esta situada.

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todo o monumento ou de parte dele não Outro elemento presente na área posterior do imóvel foi a
pode ser tolerado (...). caixa d’água também construída na década de 1920. Quando
(CARTA DE VENEZA, 1964, p. 02).
encontrada, estava desativada e os ambientes molhados do
imóvel não haviam instalações hidráulicas.

Então foi necessário adaptá-la ao Casarão e aos novos


ambientes como a copa, a lavanderia, os novos banheiros, a
piscina, deck, salão de eventos e a pequena residência
acrescentada. Para isso a nova moradora restaurou a caixa
d’água, consertando as rachaduras nela presente, e
acrescentou meio metro na altura para aumentar a pressão
da água.

Juntamente com a instalação hidráulica, também foi feita toda


a instalação elétrica do imóvel, e das edificações
Figura 203 e 204 – Original fogão a
acrescentadas em seu terreno, já citadas anteriormente.
lenha restaurado, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 206 – Caixa d’água durante


sua restauração. Nota-se o aumento
Figura 205 – Detalhe da chaminé
de meio metro ainda visível, [ca.
do fogão a lenha, 2010.
2001/2002].
Fonte: Acervo pessoal.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela
Drª Luisa Angélica Sales.

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Figura 207 – Caixa d’água depois


da restauração, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Segundo o artigo 20 e 21 da Carta de Burra (1980, p. 04), as
obras de adaptação, como no caso da caixa d’água, serão
consideradas de modo que seja o “único meio de conservar o
bem” limitando-se ao “mínimo indispensável à destinação do
bem a uma utilização”.

Nesta situação, a restauração foi de suma importância para a


reutilização do bem tratado. Caso contrário o elemento seria
Figura 208 – Localização da caixa d’água e fogão a lenha.
descartado ou demolido para atingir as exigências atuais do Fonte: Acervo pessoal.
imóvel.

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As escavações no terreno de um imóvel prestes a sofrer uma D. Cobertura


intervenção são essenciais para busca de informações e
histórias sobre o passado do local. Segundo Drª Angélica, a restauração da cobertura teve início
com a retirada das telhas, caibros e ripas. Estes dois últimos
Assim como no artigo 15 da Carta de Veneza (1964, p. 03), a elementos foram substituídos, pois partes dos mesmos não
Carta de Burra (1980, p.04) também beneficia, porém podiam ser reaproveitados para o telhado, devido ao
especifica melhor as escavações: envelhecimento das telhas pela exposição do sol e à chuva
sem manutenção preventiva.
Artigo 24º - Os estudos que implicam
qualquer remoção de elementos existentes O madeiramento da cobertura também apresentava peças
ou escavações arqueológicas só devem ser
efetivados quando forem necessários para a apodrecidas, além de outras atacadas por insetos xilófagos
obtenção de dados indispensáveis à tomada (cupins), o que pode ter causado a instabilidade da cobertura,
de decisões relativas a conservação (...). deslocamento de telhas e problemas de escoamento.
Com este intuito a Drª Angélica, fez escavações ao entorno
da edificação em busca de dados informativos sobre o
Casarão e artefatos históricos. Em conseqüência foi achada
uma espécie de algema arcaica. Entretanto, não havia
revestimento de pisos, nem vestígios de construções ou
dados que pudessem interferir na intervenção do imóvel.

Figura 211 – Fachada posterior,


quase sem resquícios de telhas na
cobertura. Condições em que a
edificação foi encontrada em 2001.
Figura 209 e 210 – Elemento encontrado nas escavações. Fonte: Acervo pessoal fornecido
Fonte: Acervo pessoal. pela Drª Luisa Angélica Sales.

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ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
135

Ainda assim, foi necessária uma maior quantidade de telhas.


Neste caso optou-se por telhas coloniais da atualidade para
complementar.

Mesmo desconhecendo sobre o assunto, a Drª Angélica


adotou técnicas corretas em relação à colocação e limpeza
das telhas. Para distinguir as antigas das novas, foram
separadas as telhas de mesma origem, utilizando “telha nova
como bica (canal) e as telhas originais como capa”.
(PIMENTEL, 2009/2010, P. 04).

Em relação à limpeza, todas as 18 mil telhas antigas foram


lavadas com água, sabão em pó e palha de aço, não
Figura 212 – Outro utilizando produtos químicos no procedimento que
perfil da fachada desgastassem as peças.
posterior com
somente algumas Todos os métodos adotados atendem às orientações técnicas
telhas restantes, 2001. que tratam sobre o assunto, evitando o uso de produtos que
Fonte: Acervo pessoal
poderiam danifica as peças originais.
fornecido pela Drª
Luisa Angélica Sales.
Da mesma maneira, o procedimento relativo à utilização das
telhas antigas nas faces visíveis da cobertura então em
A melhor solução encontrada pela moradora para
acordo com as determinações de Brandi, quando este orienta
recompensar parte desta falta, foi comprar 8 mil telhas
que a unidade potencial da obra de arte deve ser o objetivo
coloniais também feitas de modo artesanal – assim como as
de toda intervenção.
originais do Casarão – para repor as que não foram
aproveitadas.

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Figura 213 – Telhas coloniais antigas postas como capa na cobertura,


2010.
Fonte: Acervo pessoal. Figura 215 – Detalhe das novas telhas, 2010.
Fonte: Acervo pessoal

Além das telhas coloniais, a moradora optou por colocar


telhas translúcidas em dois pontos da cobertura, direcionados
para o escritório e a sala íntima situados na suíte master, pois
devido ao alto pé direito, o interior da edificação tende a ficar
escuro, o que leva a ser um ponto positivo. Portanto, além de
absorver iluminação natural de dia, evita a utilizar iluminação
artificial durante este período.

Estas telhas translúcidas não interferem na estética no


exterior do imóvel, pois as mesmas não sãos perceptíveis ao
ponto de vista do observador.
Figura 214 – Detalhe das novas telhas postas como canal, para substituir
as faltantes, 2010.
Fonte: Acervo pessoal

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Figura 217 –
Detalhes do
antigo forro na
atual suíte
master em
2001.
Fonte: Acervo
pessoal
fornecido pela
Drª Luisa
Angélica Sales.

Figura 216 – Iluminação natural durante o dia na suíte master, 2010.


Fonte: Acervo pessoal.

Em alguns quartos, como na suíte master e no pequeno


quarto de visitas, foram encontrados forros de madeira em
junta seca no teto, nivelados com a parte superior das Figura 218 –
paredes internas. Ao encontro destes forros com as paredes, Detalhes do
também foram encontradas sancas de madeiras, na suíte antigo forro no
master trabalhada com ornamentos, já do quarto de visitas atual quarto de
visitas, 2001.
eram simples.
Fonte: Acervo
pessoal
Todavia, não se sabe ao certo se os demais ambientes
fornecido pela
também presenciavam forros de madeiras. Drª Luisa
Angélica Sales.

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Contudo, segundo a Drª Angélica “os forros foram retirados Para evitar que toda a madeira retirada fosse descartada,
em função do cupim e também para que eu possa observar foram reaproveitadas peças dos forros, caibros e ripas que
melhor qualquer irregularidade nas telhas e tesouras”. estivessem em bom estado para confeccionar os armários da
copa e cozinha.
Neste caso, requerer que o forro fosse mantido não era
viável, pois desta maneira obstruiria a visibilidade interna da
estrutura da cobertura, evitando obter diagnósticos sobre as
tesouras que estão sofrendo flambagem.

Figura 219 – Estrutura de


madeira o qual o forro era
preso na atual suíte Figura 220 – Armário da copa feito com o reaproveitamento das madeiras
master, e acima a da cobertura, [200-].
cobertura da edificação Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
com as telhas sendo
retiradas em 2001.
Fonte: Acervo pessoal
fornecido pela Drª Luisa
Angélica Sales.

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CAPITULO 05
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E. Esquadrias

Certamente as esquadrias também são elementos que fazem


parte da história do patrimônio e devem ser revitalizados
dando uma nova maneira de visualizá-las. Neste caso, não
podem ser desfeitas.

No entanto foram restauradas a partir da limpeza de todas as


janelas e portas do imóvel com a remoção de teias de
aranhas, ninhos de cupins, para posteriormente serem Figura 223 e 224 – Janela do banheiro social com teias de aranha (em
lavadas. Após a higienização das esquadrias, foi aplicada 2001) e após a limpeza pintada com tinta a óleo, 2010.
Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
tinta a óleo azul - mesma cor de quando foram encontradas –
devido à boa aderência por oferecer impermeabilização. A tinta a óleo não possuir poder de penetração, neste caso,
não irá alterar as características químicas do material. Sendo
assim, o valor estético referente à cor original das esquadrias
é mantido com a pintura azul das mesmas.

Por possuírem uma significação cultural, o modo correto


utilizado pela atual moradora, em tratar todos os elementos
da mesma maneira, é confirmado pelo art. 5º da Carta de
Burra (1980, p. 02), onde “nenhum deles deve ser revestido
de uma importância injustificada em detrimento dos demais”.
Eventualmente a manutenção feita nas substâncias das
esquadrias teve o objetivo de preservar e “desacelerar do
processo pelo qual elas se degradam” (idem, p. 01).
Figura 221 e 222 – Porta antes da limpeza com ninho de cupins (ano de Quando o anexo foi construído, todas as esquadrias
2001) e depois restaurada e pintada com tinta a óleo em 2010.
Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales. adicionadas a este corpo foram copiadas iguais às originais.

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Entretanto os elementos de cada época em que a edificação As janelas do imóvel e seus peitoris eram recuados em
passou devem ser respeitados, por isso, manter as portas e relação à parede interna. Estes recuos foram mantidos
janelas deste corpo é historicamente convincente. durante a intervenção, porém alguns anos depois, estes
recuos foram preenchidos com alvenaria somente no peitoril,
Tanto Brandi (2004, p.74), quanto as Cartas de Burra e pois foram classificados como espaços ociosos em quase
Veneza passam verossimilhança a este conceito, pois todos os ambientes por não possuírem utilidade, além da
consideram um “testemunho autêntico do presente de um necessidade de obter um apoio do peitoril mais largo.
fazer humano” (BRANDI, 2004, p. 74) na época em que as
esquadrias foram construídas. No entanto essas contribuições
são validas “visto que a unidade de estilo não é a finalidade a
alcançar no curso” da restauração desta obra (CARTA DE
VENEZA, 1964, p. 03), e sim a historicidade da mesma.

Figura 227 e 228 – Recuo da janela antes da intervenção em 2001 e o


mesmo mantido após a mesma em 2006.
Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

As adições são aceitas por Brandi (2004, p. 65), na medida


Figura 225 e 226 – Semelhanças das janelas, à esquerda Janelas da copa em que tais atos irão possuir um valor e testemunho histórico
situada no anexo, e à direita imagem da janela do corpo original, 2010.
Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
no futuro, não se limitando somente aos relatos do passado

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para o presente. A Carta de Burra também admite adições A fachada principal do corpo original era composta somente
como pequenas obras para adaptações do imóvel referente por janelas. Contudo, ao longo dos anos, devido ao uso do
às necessidades do mesmo. imóvel foram feitas alterações.

Este método é plausível, em vista que a Drª Angélica manteve Figura 231 – Fachada frontal
ainda com todas as janelas
os recuos nas janelas da copa, pois dessa maneira originais, [19--].
evidenciou os aspectos originais de como eram as demais Fonte: Acervo fornecido pela
esquadrias. Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 229 – Preenchimento


do peitoril das janelas, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 232 – Alterações nas


esquadrias da fachada
. principal, 2001.
Fonte: Acervo fornecido pela
Drª Luisa Angélica Sales.

Antes da reforma, o imóvel era uma moradia geminada, e


para ter acesso frontal a uma das residências, uma janela
sofreu adaptada para se tornar em uma porta, sendo retirado
Figura 230 – Recuo do peitoril mantido o peitoril de alvenaria e trocado por uma pequena porta de
somente nas janelas da copa, 2010.
Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa
madeira de duas folhas.
Angélica Sales.

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Figura 235 – Janela retomada ao seu


Figura 233 e 234 – Janela da fachada frontal do corpo original adaptada estado original, 2010.
para se transformar em uma porta, 2001. Fonte: Acervo pessoal.
Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Esta opinião é validada pela Carta de Veneza (1964, p. 03) no
Para retornar a sua antiga forma, a instância estética “reclama art. 11º, onde o mesmo afirma que “a exibição de uma etapa
a remoção” dos acréscimos para “reencontrar a unidade subjacente só se justifica [...] quando o que se elimina é de
originária e não apenas aquela potencial, se as adições pouco interesse e o material que é revelado é de grande valor
fossem, onde possível, removidas” (BRANDI, 2004, p.83). histórico, arqueológico, ou estético”.

Nesta situação é correto admitir o retorno de sua antiga Já a janela ao lado desta, localizada no grande salão, foi
forma, a fim de preservar seu significado e a composição substituída por uma porta semelhante as demais da
visual dos elementos, onde o elemento a ser retomada a sua edificação. Todavia durante a restauração do imóvel, esta
forma original possui maior interesse que o elemento porta foi permutada por uma nova – somente a porta foi
excluído. trocada, a bandeira fixa da porta foi mantida – devido ao
apodrecimento da madeira causado por xilófagos (cupins).

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143

A porta por onde é feito o acesso principal atualmente


também sofreu substituição, a mesma não pode ser
restaurada pelo mesmo motivo que a esquadria anterior,
devido a falta de conservação e tratamento da madeira, foi
deteriorada pelos cupins.

A justificativa para este caso é semelhante ao conceito de


Brandi sobre a porta do antigo grande salão na fachada
principal. Juntamente com a Carta de Veneza (1964, p. 03), o
artigo 12º diz respeito aos elementos fadados a “substituir as
partes faltantes”. Estes “devem integrar-se harmoniosamente
ao conjunto, distinguindo-se, todavia, das partes originais a
fim de que a restauração não falsifique o documento de arte e
Figura 236 e 237 – À esquerda a antiga porta acrescentada em alguma
época do imóvel (2001), à direita a nova porta substituída pela antiga, de história”.
2010.
Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Segundo Brandi (2004, p. 47), a integração de novos


elementos é permitida, com a condição de “ser sempre e
facilmente reconhecível”. No que diz respeito a esta
incorporação de novos corpos a obra, o autor alega que não
deveram ser visíveis a distancia, “mas reconhecíveis de
imediato [...] quando se chega a uma visão mais aproximada”.

Por isso, o novo elemento foi empregado da maneira correta.


Pois está situado no conjunto de forma harmoniosa em
relação ao todo, utilizando formas diferenciais, novas Figura 238 – Uma das antigas portas de acesso lateral, anos antes da
intervenção no imóvel na década de 1970.
técnicas, não sendo uma cópia das originais. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

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No que consiste a troca da porta, é coerente a substituição do acessos, e por questão de segurança. Entretanto, a marcação
mesmo. Tendo em vista que o novo elemento não se destaca do vão na edificação foi mantida, sendo preenchido somente
mais em relação ao entorno onde está situado, mantendo-se o espaço onde a porta estava situada.
em conformidade com o conjunto.

Figura 240 e 241 – À esquerda a antiga porta do anexo [197-], à direita o


vão interno deixado ao retirar o elemento, 2006.
Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 239 – À esquerda a porta original de acesso lateral (vista pelo O mesmo caso acontece com as janelas da suíte de visitas.
interior do imóvel, 2001), e à direita a atual porta que foi substituída pela Este ambiente possui quatro janelas, entretanto como é um
antiga (vista pelo exterior), 2010.
Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
local o qual não possui um uso constante, foram removidas
duas janelas. Suas extrações não foram conseqüente
Além destas portas, havia outra situada no anexo, ao lado da somente para a devida a segurança, mas sim do
porta citada anteriormente. A remoção deste elemento foi apodrecimento das madeiras também causado por xilófagos
demandada devido à grande quantidade desnecessária de

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(cupins), como não foi possível aproveitá-las, foram


descartadas.

Figura 243 e 244 – À esquerda a janela original do antigo lavabo (2001), e


à direita a atual báscula fixa substituída pela antiga janela, 2010.
Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales

Ou seja, nestes casos as mudanças foram aplicadas pela


necessidade de adaptar o imóvel às condições atuais
Figura 242 – Vão das janelas removidas na suíte de visitas, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
propostas. Este ato é pertinente a Carta de Burra (1964, p.
01), no art. 1º, em que diz respeito à liberação de pequenas
Outra situação de remoção da esquadria original acontece no obras para enquadrar o imóvel a sua atual destinação.
antigo lavabo. Por ser atualmente um depósito com estantes,
não teria como abrir a janela de suas folhas, então em vez de O que é plausível, pois ao retirar o elemento do corpo ao qual
retirar a peça e fechar o espaço do elemento faltante com pertence, foi deixado sinais de sua existência na obra,
alvenaria, foi proposta a substituição da janela por uma tornando as afirmativas de Brandi (2004, p. 71) coerentes
báscula fixa. com o enredo. Onde o mesmo pronuncia que a remoção deve
ser questionada, e se a remoção ainda perdurar, devem ser
O preenchimento de alvenaria seria somente no vazio da deixados “traços de si mesma e na própria obra”.
diferença entra as alturas da esquadria, mantendo o recuo da
báscula em relação à parede interna. Esta mudança foi uma Mas de fato, os elementos estão destinados “a desaparecer e
boa opção para iluminação e ventilação do ambiente. o próprio monumento, quase reduzido a um resíduo da

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matéria que foi composto” (BRANDI, 2004, p. 64). Isto é, os Figura 247 – Duas janelas do
quarto de visitas mantidas no
elementos que compõe a obra de arte estão fadados a exterior do imóvel, 2010.
perecer, neste caso, pode ocorrer de serem substituídos, Fonte: Acervo pessoal.
danificados, retirados, entre outros. Em conseqüência o
monumento poderá estar destinado à degradação (caso não
seja restaurado).

A excessiva quantidade de esquadrias no imóvel é uma


questão constante. Relevante a situação, foi proposto em
algumas janelas o fechamento das mesmas somente pelo
interior da edificação com alvenaria e entulhos, preservando-
os no exterior. Este método é adequado na situação em que
foi proposto, como no caso dos ambientes ociosos, ou seja,
que não possuem uma incessante circulação ou estagnação
de pessoas.
Figura 245 – Janela da sala íntima
mantida no exterior do imóvel, 2010. Figura 248 – Duas janelas do
Fonte: Acervo pessoal. quarto de visitas fechadas por
dentro.
Fonte: Acervo pessoal.

Manter os elementos por fora foi um ato pertinente e pode ser


justificado de acordo com a Carta de Burra (1980, p. 02) no
art. 3º, onde evidência que o “respeito à substância existente
não deve deturpar o testemunho nela presente”. Neste caso
as modificações não alteraram seu significado e mantiveram o
Figura 246 – Janela da sala íntima valor estético exterior do monumento, não alterando a
fechada por dentro, 2010. disposição e mantendo a integridade visual do conjunto.
Fonte: Acervo pessoal.

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ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
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Em suma, a intervenção feita pela atual moradora, Drª Luisa


Angélica Sales, foi em grande parte compatível com as
fundamentações teóricas das cartas patrimoniais e do teórico
Cesare Brandi.

O ato de reciclar uma obra do passado e aplicá-la aos dias


atuais é um trabalho árduo, e pode sofrer algumas
interferências quando for revitalizada, mas demonstra que
nada é imutável e que até as edificações sofrem constantes
de transformações.

A revitalização do Casarão demonstra que qualquer pessoa


com força de vontade, disposição e com a devida orientação,
pode manter um patrimônio conservado. Entretanto, devemos
compreender o passado da obra de arte, não apenas
conhecendo a história, mas também saber como incorporá-la
no presente, com visão no futuro.

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CONCLUSÃO 6
CONCLUSÃO 149

Para dar inicio ao trabalho final de graduação foi preciso, de documentos da Câmara Municipal de Cariús impossibilitou
forma sucinta, identificar o assunto principal que foi tratado, obter a data exata de quando o Casarão foi sede da câmara.
ou seja, procurar o histórico e acontecimentos que deram
origem ao objeto de estudo, o Casarão. O mesmo acontece com a Escola Adahil Barreto – também
funcionou no Casarão – a ausência de arquivos com os dados
Após traçar esta linha de raciocínio, o assunto foi históricos do colégio não permitiu a data de quando o mesmo
desenvolvido ao longo do projeto, de forma detalhada e mudou de sede.
objetiva. Porém a abordagem do assunto a ser trabalhado só
Já as fundamentações teóricas e a análise das condições
foi possível através da busca dos melhores métodos de
pesquisa. físicas da antiga edificação tiveram um bom fluxo devido ao
contato direto com a atual proprietária que efetuou a
Neste caso, as informações nem sempre eram encontradas restauração no imóvel, o que facilitou os argumentos
através de referências bibliografias , arquivos ou documentos. produzidos através das investigações do levantamento de
A falta e o descuido com tais documentos também influenciou informações e fatos obtidos.
a necessidade de buscar dados com entrevistas.
A seca, o sertão do Ceará e as construções históricas das
Em relação às entrevistas, o assunto “DNOCS” era muito cidades do interior deste estado são assuntos interessantes,
delicado, principalmente para os moradores das residências mas pouco desfrutados, inclusive pelos habitantes locais –
construídas pelo departamento nas cidades onde foram feitas com exceção de alguns, como no caso da Drª Angélica. A
as pesquisas de campo, o que dificultou em parte o questão cultural é abordada nestas cidades, porém somente
recolhimento de dados. Pois o DNOCS tomou a decisão de através de festas para união dos povos. Filmes culturais são
vender os imóveis, uma vez que os mesmo foram apresentados em praças, mas o desinteresse é grande entre
abandonados pelo órgão. os moradores locais, principalmente os mais jovens.

Devidos a essas dificuldades e barreiras ao longo dos Os patrimônios históricos também estão sendo deixados de
estudos, algumas lacunas foram criadas no enredo do lado. A falta de proveito desses bens e a carência de
trabalho, não sendo possível preenche-las, como no caso da profissionais especializados em restauração acarretam no
trajetória histórica do Casarão. A falta de organização dos descuido, abandono e descaracterização dos mesmos.

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ANEXOS 8

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