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A SEGURANÇA PÚBLICA EM CABO VERDE

A SEGURANÇA PÚBLICA EM CABO VERDE


O problema da segurança pública em Cabo Verde parece estar na ordem do dia
e a suscitar maior preocupação às autoridades governamentais, dado o
crescendo de delinquência e violência criminal a que tem vindo a
assistir-se de há uns anos a esta parte na nossa terra.
Mas mesmo que tudo estivesse em aparente normalidade, a problemática da
segurança não se compadece com a rotina e nunca deve sossegar os
responsáveis. Exige sempre uma contínua reflexão, avaliação e diagnóstico
da situação por forma a aquilatar-se se os meios disponibilizados e os
processos adoptados estão a todo o momento em correspondência com as
necessidades e as expectativas dos cidadãos.
À parte isso, incumbe ao Estado, em instâncias devidas, o estudo, o
acompanhamento e a resposta possível aos fenómenos sociais que podem estar
na raiz do problema da criminalidade ou que podem potenciar a sua eclosão
ou agravar a sua incidência. Dir-se-á então que se trata de um problema de
abordagem multidisciplinar, tão preciosa é a segurança dos cidadãos como o
emprego, a educação ou a saúde. O cidadão não viverá feliz se em
permanente intranquilidade quanto à sua segurança física e à dos seus
bens.
Entretanto, em todas as sociedades, mormente nas democráticas e de cultura
ocidental, persiste irresolúvel a dialéctica entre o saber se a
delinquência e a violência criminal se extinguem quando atacadas nas suas
raízes sociais (desemprego, fome, injustiça, exclusão social) ou se os
instrumentos de repressão serão sempre um mal necessário.
Ah, não tenhamos ilusões. O mundo é o que é; o homem ainda não logrou
alcançar aquele patamar de evolução civilizacional e de progresso
universal em que verá resolvidos aqueles problemas de ordem material ou
espiritual que os idealistas identificam como indutores da violência
social.
O que se pergunta é se efectivamente o fenómeno da violência terá aí a sua
única e verdadeira raiz. O mesmo é perguntar se o homem não é em si mesmo,
na sua própria natureza antropológica, a razão, o móbil e a origem da
violência contra o seu semelhante.
A análise da História e das sociedades modernas dir-nos-á certamente que é
utópico imaginar que os Estados possam abdicar dos instrumentos de
prevenção e de repressão com que protegem as suas comunidades.
Cabo Verde, país pobre de recursos e com prioridades gritantes a exigir
sempre complicada ginástica orçamental, não pode, no entanto, deixar de
afectar os meios necessários à segurança das suas populações.
Poderão os mais exigentes julgá-los insuficientes e os mais idealistas um
desperdício, mas estes sabemos que são os primeiros a reclamar quando o
mal lhes bate à porta, porque o idealismo oco anda quase sempre de mãos
dadas com a hipocrisia.
A problemática da segurança leva-nos hoje a reflectir sobre os modelos
institucionais das polícias de Cabo Verde, seja a da investigação, seja a
da ordem pública. Penso que foram adoptados figurinos semelhantes aos das
suas homólogas portuguesas, ao nível dos conceitos organizativos e
funcionais e ao nível da formação técnica e filosofia de acção.
Nada a apontar em discordância, se considerarmos a proximidade cultural
entre os dois países e o acervo de vantagens que resulta do intercâmbio e
cooperação entre povos com a mesma língua e com um passado histórico
comum. E para quê inventar quando outros criaram, amadureceram e
consolidaram aquilo que podemos utilizar proveitosamente?
No entanto, há que ter cuidado quando pretendemos importar modelos
jurídico-penais e filosofias organizativas que funcionam em países de
mentalidade e cultura diferentes.
É errado supor que o código penal concebido, por exemplo, num país do
Norte da Europa, avançado cultural, social e economicamente, produza os
mesmos efeitos num país ainda incipiente no seu desenvolvimento e no seu
processo democrático, como é o caso de Cabo Verde, mesmo que a ânsia de
progresso no quadro dos direitos e garantias individuais suscite
estimulantes emulações.
Por isso, temo que não se tenha tido em devida conta a realidade concreta
de Cabo Verde quando foram adoptados alguns instrumentos jurídicos que
regulam a sua vida social.
Quando olho para a polícia de ordem pública de Cabo Verde, algo me diz que
ela está algo desencontrada com as exigências da sua vocação. Reconheça-se
nela uma boa apresentação física e aprumo nos seus fardamentos e, dum modo
geral, um nível aceitável de correcção de atitudes perante o exterior,
isto é, uma pose civilizada e consentânea com os valores das sociedades
modernas.
Mas, ao mesmo tempo, não passa despercebida uma imagem de apatia, viciosa
rotina e passividade entre agentes que fazem os seus giros.
E, em alguns casos, uma indisfarçável e excessiva familiaridade com os
transeuntes, com quem conversam pachorrentamente, brincam e trocam humores
ridentes. E tudo isto quando a poucos metros provavelmente se evidenciam
situações de pré-delinquência ou de potencial interferência com a ordem
pública.
Em abono desta impressão, vários testemunhos confirmam que algumas
infracções de gravidade variável, normalmente com prejuízo directo de
terceiros ou da comunidade em geral, frequentemente não são objecto de
pronta e eficaz intervenção repressora, ou mesmo dissuasora, com o
argumento de que não adianta porque "levados os infractores ao juiz são
logo postos em liberdade por alegada insuficiência de prova ou pela
menoridade dos infractores".
É evidente que tudo isto contribui para passar a ideia, porventura
exagerada, de que a polícia de ordem pública mais não faz que passear a
farda pelas ruas, o que é um juízo devastador da confiança e da
credibilidade que uma tal instituição deve merecer aos olhos dos cidadãos.
Na verdade, a polícia é mais do que símbolo e adereço, é instrumento para
a acção concreta e consequente.
Ora, aqui está um ponto de discussão a remeter-nos para os conceitos atrás
aflorados. A saber, a eficácia da acção da polícia versus a adequabilidade
das leis em vigor.
Pois bem, se uma polícia se reconhece incapaz de garantir a ordem e a
segurança públicas por ineficácia dos instrumentos legais que enquadram e
deviam tornar consequente a sua acção, então teremos de interrogar se as
leis não devem ser reformuladas e pensadas conforme a realidade do país
concreto.
Caso contrário, será um paradoxo inaceitável que um Estado gaste dinheiros
públicos para sustentar uma polícia que fica depois tolhida na sua acção
pelas próprias leis que o Estado concebe. E tratando-se de um país pobre,
como é o caso, o sentimento público será naturalmente de repúdio e
indignação.
Os direitos e garantias individuais não podem constituir um cavalo de
Tróia contra a segurança da sociedade; a acontecer, têm de ser revistos e
adaptados à realidade. Não pode haver qualquer tibieza nas medidas de
prevenção e de combate à delinquência e ao crime.
É preciso ter presente que no jovem delinquente pode estar um criminoso em
estado larvar. Se a delinquência não for objecto de punição atempada e
suficientemente dissuasora, cria-se o convencimento da impunidade e
gera-se uma escalada de práticas delituosas que pode culminar no crime
mais violento.
E a realidade das coisas é por demais flagrantemente elucidativa. Talvez
por fruto da evolução geral das sociedades, mas em parte resultantes da
pouca eficácia das autoridades, o homicídio, o roubo em habitações, o
vandalismo e o assalto a transeuntes têm vindo a crescer, isto num país em
que me lembro do tempo em que as portas raramente se fechavam à chave.
Naturalmente que o aumento da criminalidade é um fenómeno quase
generalizado e aparentemente favorecido pela globalização da informação. A
notícia do crime hediondo cometido numa longínqua paragem do planeta ganha
repercussão e chega no instante imediato a todos os cidadãos do mundo, não
admirando assim que as tendências perniciosas acabem por influenciar as
mentes mais permeáveis.
A verdade é que alguns crimes cometidos nos últimos anos contra a pessoa
humana em Cabo Verde têm assumido requintes de violência sem precedentes,
parecendo decalcar modelos exteriores, o que nos faz reflectir sobre a
evolução que o fenómeno pode tomar se não for estancado a tempo.
Associado ao efeito negativo da difusão mediática dos males que acontecem
no mundo, acresce ainda que, em função do incremento do turismo, Cabo
Verde poderá ainda ver agravadas futuramente algumas formas de
delinquência ou criminalidade. A indústria do turismo é um recurso para o
país, mas não deixa de ser uma moeda de duas faces.
É necessário precaver e estar preparado para certos crimes como a
pedofilia, o tráfico de menores e o tráfico de droga. Convém frisar que a
condição arquipelágica torna o território cabo-verdiano
extraordinariamente vulnerável ao tráfico internacional da droga, por
assim dizer uma apetecível placa giratória, sabendo-se como se sabe que
este fenómeno é por si só origem de outras formas de criminalidade.
Por outro lado, parece que a expatriação de delinquentes tem vindo a
ensombrar o panorama social e certamente irá futuramente ganhar proporções
mais inquietantes por ser muito provável que os países de acolhimento da
diáspora endureçam as suas medidas de auto-protecção contra presenças
indesejáveis.
Eis um problema bicudo que o Estado deve encarar com a máxima seriedade,
desenvolvendo as medidas de prevenção e de resolução necessárias, quer no
âmbito social, quer no âmbito da actuação e da vigilância policiais.
Adequando e moldando as leis à realidade concreta do país, restará depois
debruçar-se sobre os instrumentos da segurança para os capacitar ao
exercício competente das suas funções. Várias serão certamente as medidas
a pôr em prática de modo a melhorar a operacionalidade e eficácia.
Elas são de vária natureza e os responsáveis bem as conhecem. Têm que ver
com os equipamentos e os meios materiais, mas passarão essencialmente pela
formação humana e técnica dos agentes e pela melhoria da operacionalidade
dos meios e dos processos de actuação.
É errado supor que a formação dum agente de polícia se esgota na
aprendizagem inicial. De modo nenhum. A sua formação é um processo
contínuo que exige acompanhamento pedagógico permanente por parte dos
chefes hierárquicos, assim como instrução, reciclagem e periódicas
avaliações de desempenho, em programas intercalados ao longo de todas as
carreiras.
A par disso, é indispensável a existência de um serviço de informações que
seja eficaz e produtivo, tributário dos órgãos de soberania e
especialmente virado para o apoio das instituições policiais,
designadamente a polícia de ordem pública e a polícia judiciária. Um
serviço de informações capaz de cooperar e interligar-se no plano
internacional, visto que a mobilidade social dos tempos actuais esbate as
fronteiras físicas entre os estados e tende a alargar a malha por onde
escapa o criminoso.
Confiemos em que as autoridades responsáveis tomem as medidas necessárias
para pôr cobro ao crescendo de criminalidade na nossa terra.
Escrevi este artigo com o olhar posto em Cabo Verde, mas ouso pensar que
muito do seu conteúdo é aplicável a outros estados democráticos.
Tomar, 15 de Abril de 2005
Adriano Miranda Lima
V o l t a r

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