Resumo: Este texto é parte do projeto de pesquisa em andamento e tem como objetivo
compreender como sobrevivem os agricultores familiares da comunidade rural Bananal no
município de Pires do Rio (GO), após o processo de modernização agrícola ocorrida a partir da
década de 1980. Tal modernização, no espaço agrário brasileiro, caracteriza-se pela adoção de
capital e tecnologias exteriores advindas da política norte-americana, a chamada “Revolução
Verde”. Este processo beneficiou prioritariamente os grandes produtores, detentores de capital e
poder político. Em contrapartida, os pequenos produtores familiares desenvolveram-se às margens
desse contexto. No entanto, esse segmento de produtores é responsável por grande parte da
produção de alimentos, comercializados nas feiras locais e regionais. No caso piresino, parte dos
agricultores familiares foram expulsos para a cidade. Os que permanecem no campo criam
alternativas de sobrevivência, como os que praticam a avicultura de corte subordinada ao frigorífico
de frangos (NUTRIZA). Paralelamente à essas características econômicas, esse grupo de
agricultores guarda características culturais que perpassam gerações, como festas, linguagem,
causos, religiosidade, entre outros. Assim, levantam-se as seguintes questões: a) Quais os principais
fatores que interferem na produção e reprodução da agricultura familiar em Pires do Rio? b) Quais
as principais características culturais dessas famílias que ainda resistem à modernização do campo?
c) Qual a importância da agroindústria de frangos para a (re)produção da agricultura familiar em
Pires do Rio? Para chegar ao objetivo proposto e as respostas às perguntas-problemas, alguns
procedimentos metodológicos serão adotados, como: revisão de literatura pertinente ao tema e
pesquisa de campo com a adoção de entrevistas com os agricultores familiares.
INTRODUÇÃO
1
Bolsista do PBIC/UEG. Graduando do curso de Geografia da Universidade Estadual de Goiás, Unidade de Pires do
Rio. E-mail: rafaeldmlmntr@gmail.com
2
Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia. Professor de Geografia da Universidade Estadual de
Goiás, Unidade de Pires do Rio. E-mail: venâncio.marcelo@gmail.com
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agroindústria de frangos para a sobrevivência da pequena produção familiar e investigar o sentido
do território como espaço de produção, trabalho e sobrevivência da família, tomando como área de
estudo para a pesquisa, a comunidade rural Bananal no município de Pires do Rio (GO).
O trabalho justifica-se por reconhecer a importância da agricultura familiar na produção de
alimentos para o mercado interno e também pelo aumento significativo dos conflitos de
trabalhadores por terra com o intuito de melhorarem suas condições de vida ou permanecerem na
propriedade e se reproduzirem. Além disso, fundamentalmente, por se constituir em um estudo
local irá contribuir para a discussão geral do assunto em questão. Não há no município de Pires do
Rio estudos que tentaram aprofundar nas formas de produção e reprodução da agricultura familiar.
Por isso, este poderá também servir de estímulos a outras pesquisas sobre essas unidades de
produção e será elemento enriquecedor de debates a respeito desse assunto, na busca de políticas
públicas que beneficiem o segmento dos agricultores familiares.
Por apresentar uma multiplicidade conceitual, iremos destacar aqui algumas definições de
agricultura familiar, bem como de sua multifuncionalidade, a partir de autores como Abramovay
(1992), Lamarche (1993), Mendes (2005), Medeiros (2007) e Venâncio (2008), que caracterizam a
agricultura familiar por uma íntima relação entre trabalho e gestão do patrimônio familiar, ou seja, a
mão-de-obra e os meios de produção são da família. Desta forma, cabe a ela a tomada de decisões e
gerenciamento da propriedade rural onde se instalam e da qual retiram meios de sobrevivência.
Quanto á produção, na maior parte das vezes é para subsistência da família, só havendo
comercialização dos excedentes em feiras e comércios locais/regionais.
Complementarmente, Lamarche (1993) salienta ainda que a terra onde o trabalho familiar é
aplicado deve ser vista não apenas como espaço produtivo, mas de reprodução sociocultural, espaço
de sobrevivência, comportamentos e valores. Assim, para Cazella, Bonnal e Maluf (2009) a unidade
de produção familiar é a que se reproduz em regime familiar, desenvolvendo para isso processos
biológicos de produção sobre um pedaço de terra, “situada” num território com características
sociais, ambientais e culturais determinadas.
E por esse motivo é que David (2008) salienta que, a partir dos anos 1990 os temas
relacionados à agricultura familiar ganharam destaque em debates que referem-se à importância
econômica e social do segmento no processo de desenvolvimento, a necessidade de formas
alternativas de produção e da formulação de políticas públicas que contemplem os agricultores
familiares.
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No entanto, tais estudos revelam que esse segmento, no Brasil, reproduz-se de forma marginal
frente à modernização da agricultura inserida no espaço rural a partir da década de 1960. Essa
modernização, conforme Coelho e Barreira (2008) e Alves (2008) ocasionada pelo processo
denominado “Revolução Verde” contribuiu para que o capitalismo se expandisse no campo, o que
gerou a migração de camponeses sem terra para as cidades, que por sua vez, crescem
desordenadamente e sem infra-estrutura. Ocasionou também a emergência de movimentos sociais
de lutas por terra, a desvalorização do conhecimento local/tradicional camponês face ao
conhecimento científico e global e ainda degradação ambiental e das condições socioeconômicas
dos agricultores.
Graziano da Silva (2003) argumenta que a partir desse momento histórico, a agricultura passa
a operar como um ramo de produção da indústria: ela compra força de trabalho e insumos e
posteriormente, vende matéria-prima para as indústrias, aumentando a divisão do trabalho e perda
de características artesanais de produção. Como salienta Mendes (2005), Venâncio (2008) e
Hespanhol (2008) essa modernização agrícola beneficiou basicamente os grandes proprietários,
detentores de capital. Tais unidades de produção possuem caráter produtivista e setorial voltado,
principalmente, para exportação.
Ainda, para Graziano da Silva (2003) e Hespanhol (2008), a modernização agrícola tornou-se
expressiva a partir do ano de 1965, quando foi instituído o Sistema Nacional de Crédito Rural, que
visava a comercialização e custeio das safras, sendo altamente seletivo, restrito aos grandes e
médios proprietários rurais, uma vez que os pequenos arrendatários, meeiros e parceiros não
dispunham de patrimônios e garantias exigidas por lei.
Conforme ressalta Venâncio (2008) foi na década de 1980, nos governos Collor e Figueiredo,
que a agricultura familiar viveu um dos seus piores momentos, pois a preocupação do Estado recaía
sobre a exportação de produtos agrícolas, beneficiando dessa maneira a elite fundiária, detentora de
terra e capital, deixando às margens da sociedade o segmento familiar de produção agrícola.
De acordo com Medeiros (2007), a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação/ Food and Agriculture Organization) divide a agricultura familiar em três categorias
gerais partindo da análise da renda, apesar de dentro de cada categoria haver diferenciações, que
são:
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Quadro 1 – Divisão da agricultura familiar pela renda, conforme a FAO.
Integrada ao mercado, garantindo a reprodução
Agricultura familiar consolidada econômica da família.
Frágil em relação ao mercado, com renda
Agricultura familiar de transição familiar instável.
Engloba os que produzem para auto-consumo
Agricultura familiar de subsistência com venda de mão-de-obra sazonal, como os
sem terra.
Org. MONTEIRO, R. de M., 2009.
Fonte: MEDEIROS, 2007.
Diante dos autores trabalhados, definimos como agricultura familiar um modelo de produção
sustentado pela mão-de-obra familiar associada aos meios de produção pertencentes à família,
visando primeiramente sua subsistência e comercializando excedentes em feiras e comércios locais
e regionais.
No entanto, a agricultura familiar, como ressaltam Mendes (2005) e Venâncio (2008) enfrenta
problemas hoje no país, diante da constante precarização das condições de vida dos pequenos
produtores. Na verdade, desde a colonização européia do território brasileiro até o advento da
agricultura altamente moderna3 a partir da década de 1960, as políticas agrícolas e agrárias4 sempre
estiveram voltada aos interesses das oligarquias fundiárias, do mercado externo e fortalecimento do
capitalismo no campo, fragilizando a agricultura familiar e tornando-a dependente econômica e
socialmente das políticas compensatórias do Estado.
Graziano da Silva (2003) alerta para a necessidade das políticas públicas para os pequenos
agricultores serem focadas no lado social, com programas de reforma agrária e uma política
diferenciada em termos de taxas de juros do crédito, preços mínimos, seguro rural, entre outros.
3
A agricultura moderna se caracteriza pela implantação de tecnologias e uso de produtos químicos, que
possibilitaram o aumento da produção e da produtividade. (GRAZIANO DA SILVA, 1998).
4
De acordo com Graziano da Silva (2003), dizem respeito às relações de produção, às formas de organização
do trabalho, aos níveis de renda e emprego dos trabalhadores rurais, distribuição da propriedade da terra, etc.
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Autores como Abramovay (1992/2002), Lamarche (1993/1997), Corbucci (1995), Graziano
da Silva (1998/2003), Schneider (1999), Hespanhol (2000), Guanziroli et al (2001), Soares (2001),
Wanderley (2001), Mendes (2002/2005), Maluf (2003), Favareto (2007), Venâncio (2008), Cazella,
Bonnal e Maluf (2009) e o relatório elaborado por estudiosos da FAO/INCRA (1996) ressaltam a
importância da produção familiar para o abastecimento do mercado interno de alimentos, na
segurança alimentar, na geração de emprego e renda, na preservação do meio ambiente e
manutenção do tecido cultural. Ressaltam também as desvantagens da agricultura familiar face a
agricultura patronal moderna, cognominada de agronegócio, que de acordo com Hespanhol (2008)
tem acesso à linhas de crédito e tratamento diferenciado por parte do poder público, devido seu peso
nas exportações, enquanto a agricultura familiar, mesmo tendo acesso a financiamentos com baixos
juros, como o PRONAF5 e o PRONAT6, ainda encontra dificuldades para se manter, uma vez que
necessita de ações não-restritas apenas ao crédito oficial, como assistência técnica, serviços de
extensão rural de qualidade, canais preferenciais para a comercialização dos produtos gerados pelos
pequenos produtores, melhorando assim sua qualidade de vida, porque como enfatiza Graziano da
Silva (2003), a questão, antes de ser tecnológica, é política. Antes de saber qual tecnologia iremos
usar, devemos decidir que tipo de sociedade queremos construir.
De acordo com o estudo da FAO/INCRA (1996), no Brasil, quase 40% do Valor Bruto da
Produção Agropecuária (VBP) é produzido por agricultores familiares. O estudo mostra que 24%
do VBP total da pecuária de corte, 52% da pecuária de leite, 58% dos suínos e 40% das aves e ovos
advêm da agricultura familiar. Esse grupo de produtores ainda é responsável por 33% do algodão,
31% do arroz, 72% da cebola, 67% do feijão, 97% do fumo, 84% da mandioca, 49% do milho, 32%
da soja, 46% do trigo, 58% da banana, 27% da laranja, 47% da uva, 25% do café e ainda 10% do
VBP da cana-de-açúcar. Esses dados comprovam a importância da agricultura familiar para a
sociedade e para a diminuição das desigualdades sociais no campo brasileiro.
Como coloca Hespanhol (2008) faz-se necessário desenvolver um plano de desenvolvimento
rural que extrapole o apoio à produção e efetivamente valorize o homem do campo, propiciando à
este o acesso a serviços públicos e renda para suprimento de necessidades básicas.
5
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, criado em 1996 pelo governo Fernando
Henrique Cardoso, voltado ao atendimento de pequenos e médios produtores rurais.
6
Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais, vinculado a Secretaria de
Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário, sendo parte do PRONAF.
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MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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De acordo com Cervo e Bervian (1983) e Whitaker (2002), a entrevista não é uma simples conversa. A entrevista é
uma conversa orientada para um objetivo definido: recolher através de interrogatório aplicado ao informante dados
para a pesquisa, permitindo-nos registrar observações sobre a aparência, o comportamento e as atitudes do
entrevistado.
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A partir dos anos de 1980, as áreas de Cerrado, vistas até essa época como úteis apenas para
extração de madeira e pecuária extensiva passaram por significativas transformações, devido a
implementação de políticas desenvolvimentistas e investimentos por parte do governo.
(MEDEIROS, 1998). Especificamente, no município de Pires do Rio (GO), localizado no Sudeste
Goiano, entre os meridianos 17º17’53” Latitude Sul e 48º16’37” Longitude Leste8, essas
transformações, de acordo com Silva (2002), se deram com a chegada de famílias paulistas e
paranaenses que se instalaram nas áreas de chapadas via subsídios creditícios do Estado. De acordo
com essa autora, antes do processo de modernização da região, a produção rural assentava-se,
sobretudo, no milho, arroz, café, pequena produção leiteira e gado de corte. Hoje, o espaço rural
piresino conta com a agroindústria de beneficiamento de soja e do frigorífico de frango comandado
pelo grupo Tomazini. A inserção dessas novas atividades no município ocasionou expulsão das
famílias de pequenos produtores para a cidade, e outras exercem atividades ligadas à agroindústria.
No município de Pires do Rio existem hoje cerca de 200 propriedades familiares e a atividade
produtiva predominante é a pecuária de leite, além da produção de frangos para o frigorífico
(NUTRIZA), do cultivo de milho, mandioca, feijão, arroz, hortaliças, suínos, galináceos, dentre
outros. Essa produção é entregue nas feiras e comércios locais e regionais. Para análise dessa
pesquisa selecionamos a comunidade rural Bananal, que se localiza na parte Sudeste do município e
possui cerca de 20 sedes/propriedades.
Na comunidade do Bananal, parte dos produtores praticam a avicultura de corte para
abastecer a indústria de frango (NUTRIZA) do município, sendo que muitos desses produtores têm
como única fonte de renda esta atividade. Nas questões de infra-estrutura, observa-se uma má
conservação das estradas, mata burros, bueiros e pontes, sendo necessário que o poder público
invista na melhoria desses locais; na questão da saúde, verifica-se a ausência de PSF (Programa
Saúde da Família) e de atendimento odontológico, portanto a necessidade de criação de atendimento
médico e odontológico para os moradores; no tocante à segurança pública, vê-se que esta é mínima,
por isso seria necessário aumento da patrulha rural e a comunidade apresenta ainda problemas
ambientais como erosão do solo, assoreamento dos rios, evidenciando a carência de técnicos
ambientais para solucionar os problemas citados. Observa-se também na comunidade a falta de
assistência técnica, recursos financeiros, redes de água para poço artesiano comunitário, opções de
8
Limita-se com os municípios de Orizona, Urutaí, Caldas Novas, Santa Cruz de Goiás, Palmelo, Cristianópolis,
Vianópolis e Ipameri, estando distante de Brasília (capital federal) 238 km, cujo acesso se dá pelas rodovias BR-040,
da GO-010 e GO-330. O município está a 142 km de Goiânia (capital do Estado), cujo acesso se dá pela GO-020.
(SILVA, 2002).
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lazer, treinamentos, capacitação, opções de renda, regularização fundiária (documentos de terras),
entre outras coisas, fazendo-se importante a viabilização de recursos financeiros para aquisição de
tratores e implementos agrícolas, criação de opções de lazer, poços artesianos e regularização de
posses de terras.
Além da produção econômica, cabe-se investigar também as relações socioculturais que esses
produtores guardam há várias gerações, como os terços cantados, causos, festas, linguagem, dentre
outros.
Wagner e Mikesell (2003) salientam que o estudo da cultura permite compreender uma
comunidade de pessoas ocupando e transformando um determinado espaço além de conhecer
valores, crenças, comportamentos e linguagens comuns a todos os membros. Cabe à Geografia
distinguir, descrever e classificar essas relações, considerando-as como paisagem cultural,
procurando suas origens na história da cultura. Nessa direção, Claval (1999) comenta que o peso da
cultura é decisivo em todos os domínios político, econômico, social e cultural. Assim, para esse
autor a cultura é o conjunto de representações sobre as quais repousa a transmissão, de uma geração
a outra ou entre parceiros da mesma idade, das sensibilidades, idéias e normas. Ela inclui a imagem
do meio ambiente próximo e os conhecimentos, práticas e ferramentas que permitem tirar partido
dele.
Nesse contexto, como dito anteriormente, o espaço agrário do município de Pires do Rio
passou por significativas transformações socioespaciais, principalmente a partir da década de 1980,
mediante a modernização da agricultura. Tal modernização assegurou o abastecimento,
principalmente, do mercado externo com a produção das supersafras de grãos, sendo isso subsidiada
pelo Estado. Já a agricultura familiar do município, responsável por parte do abastecimento do
mercado alimentício local/regional, principalmente com hortaliças, frutas e leite, foi excluída desse
processo. O pensamento de Mendes (2005), referindo-se à produção agrícola no município de
Catalão (GO), reforça esses argumentos:
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parte da produção é destinada ao consumo familiar. (MENDES, 2005, p. 184, acrescentes
nossos).
Os produtores têm que produzir com recursos próprios, e às vezes, não conseguem nem
assegurar a própria subsistência de sua família, sendo, aos poucos, desterritorializados e
reterritorializados nas cidades em busca de uma condição econômica favorável. Mesmo enfrentando
essas dificuldades, muitos produtores permanecem no campo e ainda resistem, diversificando a
produção e também se organizando através de associações e cooperativas na esperança de dias
melhores. Nesse sentido, conforme salienta Lamarche (1993), esses agricultores familiares ainda
resistem como uma categoria residual tradicional marcante na história do Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
GUANZIROLI, C. et al. Agricultura familiar e reforma agrária no início do século XXI. Rio de
Janeiro: Garamond, 2001.
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HESPANHOL, R. A. M. Produção familiar: perspectiva de análise e inserção na microrregião
geográfica de Presidente Prudente. 354 f. (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geociências e
Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2000.
MEDEIROS, S. A. F. Agricultura moderna e demandas ambientais: o caso da soja nos cerrados. In:
DUARTE, L. M. G.; BRAGA, M. L. S. (Org.). Tristes cerrados: sociedade e biodiversidade.
Brasília: Paralelo, 1998.
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