Um
Hermann sabia para onde estava sendo enviado, e não se podia dizer
que ele estava satisfeito. Evitara demonstrar sua insatisfação na frente de seus
superiores, mas a muito custo. Havia feito o máximo para manter impassível,
rosto sério e olhos firmes, acenando a cabeça em sinal de concordância às
ordens do comandante. Encarava o olhar deste, lembrava-se: Olhos claros, de
um azul-cinzento, severos. Olhos de um homem que não aceitaria um “Não”. E
de certo o novato não o daria.
Servir ao Reich.
Mas não dessa vez, Hermann. Desta vez você vai ter de realizar um
pequeno trabalho em Washington. Sim, comandante.
Mas ele concordara em partir - afinal, quem era ele para questionar a
decisão de seus líderes? Seria como questionar a decisão do próprio
Goebbels. E isso seria inadmissível, por mais frustrado que poderia estar. Teria
de fazer sua escalada nas terras de Washington.
E logo estava pronto para partir, no dia seguinte a ter recebido tais
ordens de seus superiores. Caminhava pesarosamente, carregando malas
surpreendentemente pesadas: Uma em suas costas, uma mochila comum,
aonde carregava suprimentos normais; e outra levada nos braços, nos quais
agora os músculos gritavam em agonia, em cansaço. Para a felicidade do
alemão, entretanto, não precisara nem precisaria agüentar tal peso por muito
tempo. Sven o havia deixado o mais próximo a base do que lhe fora permitido,
lhe desejando “boa sorte na América, rapaz”. A isto Hermann apenas
respondeu com um sorriso e um agradecimento. Não se incomodou em
despedir-se: detestava despedidas, os únicos momentos em que acabava
fraquejando, abaixando suas defesas mentais.
Oh, a suástica.
Mas não havia nenhum colega por perto, e certamente não haveria. Já
estava entrando no hangar, passando por suas portas metálicas e geladas, e
teve sua primeira visualização do avião.
O mundo é do Reich.
Movimento.
A subida.
Passou as mãos cobertas por luvas nos ombros, para tirar a neve que
começava a se acumular, resquícios da nevasca que tomara lugar não muito
tempo antes. Olhou para trás e para os lados, para constatar que estava
sozinho. A noite estava escura, suas únicas fontes de luz sendo os globos
luminosos cobertos de branco.
De qualquer modo, não havia ninguém próximo. Claro que não; que tipo
de cidadão estaria no meio do parque, em uma noite de nevasca, encarando a
bandeira de Washington?
Eu.
A merda do Reich.
Ah, a suástica.