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Violência psicológica: as (in) visíveis seqüelas, no enfoque da Gestalt-terapia

Wanderléa Bandeira Ferreira1, Adelma Pimentel2


UFPA
Violência; pesquisa qualitativa; Gestalt-terapia
ST 35 – Violência de gênero e saúde da mulher

O desvelamento da violência psicológica contra a mulher vem ganhando impulso,


principalmente na década de 90, com a luta dos movimentos feministas. Atualmente, a Lei
11.340/2006, ou Lei Maria da Penha, contribui para impedir que os atos e agentes da violência
continuem a tratar a mulher de maneira indigna. Este panorama vem sendo estudado na
Universidade Federal do Pará pelo Núcleo de Pesquisas Fenomenológicas, abordagem Gestáltica,
através da produção de trabalhos de conclusão de curso e dissertações de mestrado em Psicologia. A
Gestalt-terapia é uma abordagem psicológica do contato consciente, cuja intervenção permite ao
participante fortalecer o suporte interno e auto-regulação saudável, de modo a superar situações que
obscurecem suas funções e fronteiras de contato. Nossa pesquisa-intervenção de base qualitativa é
um estudo de caso de um casal, em que o cônjuge provocou o sofrimento psicológico e a
desestruturação de sua família. Objetiva: identificar as possíveis seqüelas da violência no
psiquismo da mulher; compreender o sentido da vivência para ambos através da psicoterapia breve
ou de curta duração na abordagem Gestáltica, entendida como uma ação terapêutica focalizada no
conflito trazido pela pessoa, visando num curto espaço de tempo facilitar o acesso à consciência na
criação de ajustes saudáveis em sua auto-regulação.O contexto de realização é a Delegacia de
Mulheres de Belém,Pará. Procedimentos: serão realizadas uma sessão semanal, individual com o
marido e uma com a mulher por seis meses e uma sessão mensal com o casal. O resultado previsto é
o delineamento de um programa de tratamento do casal.
O tema em questão nos remete a uma situação, um fato, um fenômeno muito antigo e ao
mesmo tempo atual: a violência e seus desdobramentos, mais especificamente contra a mulher, o
que enfoca uma questão de gênero. De acordo com Ministério da Saúde (2005) a palavra violência é
de” origem latina, o vocábulo vem da palavra vis, que quer dizer força e se refere às noções de
constrangimento e de uso da superioridade física sobre o outro”(p. 14). Segundo Minayo e Souza
(2003), as discussões, estudos e pesquisas sobre qual seria a causa da violência impera até os nossos
dias, uns tendem a compreender a violência no plano biológico, outros no plano psicológico e ainda

1
Mestranda em Psicologia pela UFPA.
2
Dra. Em Psicologia Clinica. Vice-Cordenadora do Mestrado em psicologia da UFPA. Orientadora da dissertação de
mestrado de Wandereléa Bandeira
2
no plano social. Minayo (2005) amplia a discussão e pontua seu entendimento em que a violência
consiste na relação dessas dimensões que abarcam o ser humano. Assim, não existe uma causa
única e sim uma inter-relação de fatores que contribuem para a expressão da violência.
Minayo (2006), considera a tipologia da violência baseada no Relatório Mundial da OMS
(2002) o qual pontua os seguintes tipos de acordo com as manifestações ocorridas: há violências
auto-infligidas, que se referem a comportamentos suicidas e os auto-abuso. Existem também as
violências interpessoais, que são classificadas em dois âmbitos: o intrafamiliar e o comunitário, o
primeiro ocorre entre os parceiros íntimos e entre os membros da família e o segundo acontece no
ambiente social, entre conhecidos e desconhecidos. Por fim, há as violências coletivas, que são atos
violentos que acontecem nos âmbitos macros sociais, políticos e econômicos. Em conjunto com os
tipos, varia também a natureza da violência expressa, podendo ser classificada como: física, a qual
“significa o uso da força para produzir injúrias, feridas, dor ou incapacidade em outrem” (p.82);
psicológica, onde acontece “agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar, rejeitar,
humilhar a vítima, restringir a liberdade ou ainda, isolá-la do convívio social”(p.82); sexual, que diz
respeito ao ato ou ao jogo sexual dentro de relações hetero ou homossexual e visa estimular a
vítima ou utilizá-la para obter excitação sexual por meio de aliciamento, violência física ou
ameaças; e negligência ou abandono, que “inclui a ausência, a recusa ou a deserção de cuidados
necessários a alguém que deveria receber atenção e cuidados”(p.82).
Ampliando as manifestações da natureza da violência psicológica, a Secretaria de Vigilância
em Saúde (2005) pontua exemplos rotineiros na violência contra a mulher, a saber:

(...) Impedir de trabalhar fora, de ter sua liberdade financeira e de sair, deixar o cuidado e a
responsabilidade do cuidado e da educação dos filhos só para a mulher, ameaçar de
espancamento e de morte, privar de afeto, de assistência e de cuidados quando a mulher está
doente ou grávida, ignorar e criticar por meio de ironias e piadas, ofender e menosprezar o seu
corpo, insinuar que tem amante para demonstrar desprezo, ofender a moral de sua família (p.120
e 121).

A violência psicológica se faz presente em todos os outros tipos de violência, pois fere e
interfere na saúde mental da mulher, na sua integridade física, moral e social e segundo Minayo
(2006), acontece principalmente no espaço intrafamiliar. Esse fato dificulta muito mais a sua
divulgação diante as várias demandas de queixas fornecidas pelas mulheres nas Delegacias de
Mulheres. É uma violência silenciosa, pois a reverberação acontece entre as paredes das casas, no
choro contido, na ilusão de que não irá acontecer outra vez, que o agressor irá mudar. Ledo
engano!As difamações, o desrespeito torna-se mais freqüente, tendendo a outras formas de
violência como, por exemplo, a violência física.
Na década de 90, através dos movimentos feministas e do governo Federal, que essa realidade
veio à tona de maneira pública e, só então, foi possível enquadrar a questão da violência contra as
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mulheres como uma violação dos direitos humanos, criar Delegacias da Mulher como a Delegacia
de Defesa da Mulher (DDM), Delegacia Especializada no Atendimento a Mulher(DEAM), Casas
Abrigo e Centro de Referências para atender a essa crescente demanda de violência. Formaram-se
também grupos de estudos, encontros e conferências para discutir e fortalecer as estratégias de ação,
atenção e prevenção a violência contra a mulher, sendo uma delas a articulação com o Ministério
Público, Defensoria Pública, Judiciário e Executivo para executar ações por meio de políticas
públicas.
Em meio a anos de luta e investimento para se criar uma lei que protegesse e amparasse
legalmente à mulher nessa situação de violência, já que não existia no Código Penal Brasileiro
nenhum artigo específico para esse tipo de violência, foi sancionada a Lei 11.340/2006, mais
conhecida como Lei Maria da Penha, com o objetivo de criar mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, onde entre tantos artigos, cito o artigo 5, que reza: Para os
efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e
dano moral ou patrimonial. A violência pode ocorrer no âmbito da unidade doméstica (Artigo 5
Inciso I), no âmbito da família (Artigo 5 Inciso II) ou em qualquer relação íntima de afeto (Artigo 5
Inciso III)-(Portal Violência Contra a Mulher).
A Lei Maria da Penha vem proporcionando maior visibilidade às ações de combate à
violência contra a mulher, com intervenções concretas em relação ao agressor como, por exemplo, a
sua prisão, segurança e proteção à mulher agredida em espaços como Casas Abrigo e a viabilidade
de acessar meios governamentais e jurídicos para questões legais serem resolvidas sem tanta
morosidade e com mais resolutividade.
A realidade dessa violência que assola e assombra mulheres de diversas faixas etárias, classes
sociais e níveis de cultura tornam-se cada vez mais gritante, percebe-se nesse contexto a reificação
da dominação e exploração do homem em relação a mulher e urge a necessidade de romper com os
grilhões do domínio privado e lançar-se no domínio público para agir com intervenções diretas e
concretas tendentes à diminuição desse tipo de atitudes contra a mulher.
Como esse fenômeno está diretamente relacionado a questão de gênero e portanto abrangendo
o homem e a mulher, é necessário criar estratégias de enfrentamento para ambos com o objetivo de
re-significar suas atitudes e maneiras de relacionar-se e aprender a conviver com respeito a
singularidade de cada um, oferecendo serviços na área da psicologia, social, jurídico e infra-
estrutural. Parece que a Lei Maria da Penha vem suprir essa carência há tanto tempo sentida por
essas mulheres, situando-a como uma questão de saúde pública.
Segundo Arendt(1981), a condição humana através da expressão vita activa é compreendida
por três atividades: o labor; que corresponde ao processo biológico do corpo humano; o trabalho;
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relacionado ao artificialismo da existência humana e ação; que se refere a atividade que se exerce
entre os homens , em sua pluralidade. Ressalta ainda que é na ação mediada pela comunicação que
as relações são construídas e aonde existe o espaço para a vivência da alteridade, de aprender a
conviver com o igual e o diferente de si mesmo, no processo de construção de sua identidade em
sua singularidade e pluralidade.
Compreende-se o desvelamento dessa realidade de violência psicológica com a participação
direta e concreta da organização entre as mulheres, através de suas ações, seus discursos que
embora revelasse a comunalidade do gênero, o vivido era diferenciado em suas tramas particulares,
suas subjetividades em que através de suas relações foram ganhando força política para expressar o
que até então estava encoberto.
Recorro a Abordagem Gestáltica, para compreender o fenômeno e embasar-me teoricamente
nas condutas interventivas nas entrevistas individuais e de casal, com o objetivo de possibilitar o
resgate da saúde mental e física. Esta perspectiva psicológica surgiu na década de 50 com o
lançamento do livro Gestalt-therapy de Perls, Hefferline e Goodman, está alicerçada
filosoficamente no humanismo existencial fenomenológico e na filosofia do Diálogo de Buber,
tendo como teorias de base a Psicologia da Gestalt, a Teoria de Campo de Kurt Lewin e a Teoria
Organísmica de Goldstein. Esse embasamento filosófico e teórico possibilita compreender o homem
como um ser livre, responsável por suas escolhas, com capacidade para projetar-se, com potencial
criativo, particular, singular, dotado de consciência intencional na relação consigo, com o outro e
com o mundo; é um ser que interage com o meio na busca da satisfação de suas necessidades,
procurando se auto-realizar e auto-regular nas relações que estabelece nos diversos
campos(geográfico, emocional, ambiental , transcendental e religioso) que compõem seu universo,
seu espaço vital, num processo contínuo de aprendizagem e de reestruturação em seu campo
perceptual.(YONTEF,1998)
A Gestalt-terapia enfoca a relação indivíduo – meio, compreende as diversas formas de
contato através das quais o indivíduo satisfaz suas necessidades no meio, o modo como assimila o
que é nutritivo e como rejeita o que é nocivo nessa constante busca de satisfação de suas
necessidades, o indivíduo cria ajustes criativos para resolver tal situação, sendo esta a forma de o
indivíduo se auto-regular, encontrar seu equilíbrio e sua forma saudável de contactar consigo e com
o outro. Entende-se,pois, a saúde como a constante satisfação de suas necessidades e como doença,
a repetição de interrupções na satisfação de suas necessidades. Ressalta-se que o organismo tende a
se auto-regular, mesmo que seja de forma disfuncional, não saudável. (KYIAN,2001)
Entende-se que a Gestalt-terapia tem o objetivo de melhorar a qualidade de contato que a
pessoa estabelece consigo, com o meio e ampliar a awareness de si mesmo, sendo essa
compreendida como o “processo de estar em contato vigilante com os eventos mais importantes do
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campo indivíduo/ambiente, com total apoio sensorimotor, emocional, cognitivo e energético”.
(YONTEF,1998,p.31) Pode-se pensar então que quanto mais aware a pessoa estiver de si mesma,
estará mais saudável e quanto menos aware, menos saudável.
A terapia Gestáltica pode ser individual, grupal ou de casal, ter um processo de longa ou curta
duração.O que está sendo proposto nessa pesquisa é a terapia de curta duração, no qual segundo
Ribeiro(1999) a pessoa inicia o processo com a queixa de um problema que pede urgência em sua
resolução, objetiva num curto espaço de tempo ( entre 15 e 25 sessões) resgatar a crença em sua
capacidade de resolver o conflito vivenciado, aumentar a auto-estima e a auto-imagem, ampliar o
contato consigo e com os outros , aprender a ajustar-se criativamente frente as situações adversas,
etc.
Para iniciar a terapia, o psicoterapeuta fará uma avaliação para perceber se a pessoa tem
condições em sua estrutura/dinâmica para vivenciar esse processo, pois pessoas com
psicopatologias, pouca afetividade, sem disponibilidade e motivação para mudança não estão
indicadas, e posteriormente ao resultado da avaliação como positiva, acontecerá o fechamento do
contrato terapêutico.
O psicoterapeuta necessitará exercitar sua sensibilidade, criatividade e sua habilidade
empática na construção do vinculo com a pessoa e “entrar” em seu mundo existencial para percebê-
la e compreendê-la em sua totalidade, não apenas em seu sintoma. Ribeiro preconiza que “a grande
arte da psicoterapia de curta duração é funcionar, agindo imediatamente na totalidade a partir das
informações mandadas pelo sintoma, não o perdendo de vista” (p.143)
Esta pesquisa-intervenção de base qualitativa se vale do estudo de caso. Através da
psicoterapia de um casal, problematizamos a violência domestica de cunho sexual. O marido
provocou o sofrimento psicológico à esposa. Assim, utilizamos a psicoterapia breve, realizando
entrevistas individuais e com o casal, durante um período de seis meses para através das
intervenções, ampliar a compreensão do vivido pelos participantes, e ao mesmo tempo, verificar a
eficácia da psicoterapia breve.
Até o momento, já foram realizadas 5 entrevistas: 4 individuais e uma com o casal. Alguns
resultados observados: a) para a esposa: há convicção da responsabilidade do marido, entretanto, ela
condena-o pela “traição à minha confiança” ; b) para o esposo: admite seu crime, porém discorda da
tipificação a que foi enquadrado pelo código penal; vivencia um acentuado quadro depressivo; c)
para o casal) é forte a união do casal; há projetos de atualização da vida conjugal.

REFERÊNCIAS

ARENDT, H. A Condição Humana, São Paulo,Ed. Universidade São Paulo,1981.


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KIYAN, A. M. M. E a Gestalt Emerge: vida e obra de Frederick Perls.São Paulo,Editora Altana,
2001.
MINAYO, M. C. de S. e SOUZA, E. R. de.(Org.)Violência sob o Olhar da Saúde- a infrapolítica da
contemporaneidade brasileira, Rio de Janeiro, Ed. Fiocruz,2003.
MINAYO, M. C. de S. Violência e Saúde, Rio de Janeiro, Ed. Fiocruz,2006.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde. Impacto da Violência na Saúde dos
Brasileiros, Brasília,2005.
PORTAL VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER – Direitos Humanos das Mulheres e Violência
Contra as Mulheres: Avanços e Limites da Lei “Maria da Penha” – Cecília Macdowell Santos.
RIBEIRO, J. P. Gestalt-Terapia: Refazendo um Caminho,São Paulo, Summus,1985.
RIBEIRO, J. P. Gestalt-Terapia de Curta Duração, São Paulo, Summus,1999.
YONTEF, G. M. Processo,Diálogo e Awareness- Ensaios em Gestalt-Terapia, São Paulo, Summus,
1998.

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