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Universidade do Sul de Santa Catarina

Leitura e Produção Textual


Disciplina na modalidade a distância

3ª edição revista e atualizada

Palhoça
UnisulVirtual
2008
Créditos
Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina
UnisulVirtual - Educação Superior a Distância

Campus UnisulVirtual Coordenação dos Cursos Design Visual Monitoria e Suporte


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Carolina Hoeller da Silva Boeing Marcos Alcides Medeiros Junior
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Osmar de Oliveira Braz Júnior
Avaliação da Aprendizagem (Coordenador)
Márcia Loch (Coordenadora) Jefferson Amorin Oliveira
Cristina Klipp de Oliveira Marcelo Neri da Silva
Silvana Denise Guimarães Pascoal Pinto Vernieri
Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Leitura e Produção


Textual.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma,


abordando conteúdos especialmente selecionados e adotando uma
linguagem que facilite seu estudo a distância.

Por falar em distância, isso não significa que você estará sozinho.
Não esqueça que sua caminhada nesta disciplina também
será acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da
UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade,
seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Espaço
UnisulVirtual de Aprendizagem. Nossa equipe terá o maior
prazer em atendê-lo, pois sua aprendizagem é nosso principal
objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual
Chirley Domingues
Mônica Mano Trindade

Leitura e Produção Textual


Livro didático

Design instrucional
Flávia Lumi Matuzawa

3ª edição revista e atualizada

Palhoça
UnisulVirtual
2008
Copyright © UnisulVirtual 2007
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Didático


Professor Conteudista
Chirley Domingues
Mônica Mano Trindade

Design Instrucional
Flávia Lumi Matuzawa
Carolina Hoeller da Silva Boeing
(3ª edição revista e atualizada)

Projeto Gráfico e Capa


Equipe UnisulVirtual

Diagramação
Higor Ghisi Luciano
Vilson Martins Filho
(3ª edição revista e atualizada)

Revisão Ortográfica
Carmen Maria Cipriani Pandini

410
D71 Domingues, Chirley
Leitura e produção textual : livro didático / Chirley Domingues, Mônica Mano
Trindade ; design instrucional Flavia Lumi Matuzawa, [Carolina Hoeller da Silva
Boeing]. – 3. ed. rev. e atual. – Palhoça : UnisulVirtual, 2008.
158 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-050-9

1. Língua e linguagem. 2. Leitura. 3. Produção de textos. I. Trindade, Mônica


Mano. II. Matuzawa, Flavia Lumi. III. Boeing, Carolina Hoeller da Silva. IV. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul


Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
Palavras das professoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 – Linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
UNIDADE 2 – Leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
UNIDADE 3 – Texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
UNIDADE 4 – Textos acadêmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
UNIDADE 5 – Tópicos gramaticais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145


Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
Sobre a professora conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Comentários e respostas das atividades de auto-avaliação . . . . . . . . . . . . 151
Palavras das professoras

Informações excessivas, instantâneas e superficiais,


características do século XXI, levam-nos a ter de fazer
escolhas, definir e manifestar nossas opiniões diante dos
acontecimentos do mundo e, especialmente, do nosso meio
social. O fato é que, para sabermos nos posicionar ante esse
dinamismo, precisamos aprimorar nossas habilidades de
escuta, leitura e escrita, responsáveis pela nossa interação no
mundo, o que somente se torna possível através de um estudo
de língua portuguesa comprometido em nos preparar para a
vida pessoal, acadêmica e profissional.

Aqui, você está convidado a intensificar as suas habilidades de


leitura e escrita. Fará exercícios que o levarão a indagar sobre
a intenção contida nos textos, possibilitando-lhe desenvolver
uma postura mais crítica sobre a sua produção textual. De
forma integrada à leitura, você desenvolverá a prática de
produção de textos, possibilitando-lhe adequar a sua escrita ao
contexto que se fizer necessário.

Para desenvolver mais as suas habilidades na leitura e na


escrita, dedique-se ao estudo de cada unidade e lembre-se
da importância das atividades práticas, pois somente você
poderá investir na sua formação como leitor e escritor, duas
importantes funções que certamente exercerá ao longo da sua
vida acadêmica e profissional.

Bom trabalho!

As autoras
Plano de estudo

O plano de estudo visa a orientá-lo(a) no desenvolvimento da


disciplina. Nele, você encontrará elementos que esclarecerão
o contexto da disciplina e sugerirão formas de organizar o seu
tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva


em conta instrumentos que se articulam e se complementam.
Assim, a construção de competências se dá sobre a articulação
de metodologias e por meio das diversas formas de ação/
mediação.

São elementos desse processo:

! o livro didático;

! o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem - EVA;

! as atividades de avaliação (complementares, a distância


e presenciais).

Ementa
Níveis de linguagem: características dos diversos tipos
de linguagem e suas funções. Leitura: compreensão e
análise crítica de texto. Produção de texto: tipos e gêneros
textuais; coerência e coesão; adequação à norma culta.

Carga horária
60 horas – 4 créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivo(s)
A disciplina visa ao desenvolvimento da competência do
estudante na realização de atividades relacionadas ao uso da
língua, tanto do ponto de vista da produção quanto da recepção.
Portanto, são objetivos específicos:

! estimular o acadêmico à realização de atividades práticas


de leitura e produção textual;

! propiciar o conhecimento dos diversos gêneros textuais,


com a identificação das características e da linguagem
própria de cada um, bem como suas aplicações na
sociedade;

! possibilitar o estudo de regras específicas para adequação


do texto à modalidade culta da língua.

Conteúdo programático/objetivos
Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá deter para o desenvolvimento de
habilidades e competências necessárias à sua formação. Neste
sentido, veja a seguir as unidades que compõem o livro didático
desta disciplina, bem como os seus respectivos objetivos.

Unidades de estudo: 5
Unidade 1 – Linguagem (10 h/a)
Esta unidade, de caráter introdutório, apresentará os conceitos
de língua, linguagem e variação lingüística, definições básicas
e essenciais ao desenvolvimento da disciplina, bem como um
estudo sobre níveis de linguagem e funções de linguagem.

Unidade 2 – Leitura (15 h/a)


Esta unidade abordará a importância da leitura e sua influência
na escrita, as características dos textos literários e não-literários
e os níveis de informação explícito e implícito, enfocando a

12
Nome da disciplina

aplicação desses conceitos, a partir de atividades de leitura e


interpretação textual.

Unidade 3 – Texto (15 h/a)


Nesta unidade, serão apresentados os conceitos essenciais à
prática de produção de texto, como a definição de gêneros
textuais, intertextualidade e polifonia, e os elementos
responsáveis pela coerência e coesão dos enunciados, enfocando
a aplicação desses conceitos, a partir de atividades de produção
escrita.

Unidade 4 – Textos acadêmicos (10 h/a)


Nesta unidade, serão apresentados alguns dos gêneros textuais
que circulam no ambiente acadêmico, como resumo, resenha
e relatório, focando o objetivo, as características e a linguagem
adequada a cada um desses textos.

Unidade 5 – Tópicos gramaticais (10 h/a)


Nesta unidade, serão apresentados alguns tópicos gramaticais,
enfocando a necessidade do conhecimento de tais regras para a
adequação do texto à norma culta da língua.

Agenda de atividades/ Cronograma

! Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar


periodicamente o espaço da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da
realização de análises e sínteses do conteúdo, e da interação
com os seus colegas e tutor.

! Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço


a seguir as datas, com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.

! Use o quadro para agendar e programar as atividades


relativas ao desenvolvimento da disciplina.

13
Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

14
1
UNIDADE 1

Linguagem

Objetivos de aprendizagem

Ao final da unidade você terá subsídios para compreender:

! A diferença entre língua e linguagem.


! As causas da variação lingüística.
! As situações de uso das modalidades da língua.
! As funções da linguagem.

Seções de estudo

Nesta unidade você vai estudar os seguintes assuntos:

Seção 1 Língua, Linguagem e Variação.


Seção 2 Níveis de Linguagem.
Seção 3 Funções da Linguagem.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de conversa


Durante muito tempo, acreditou-se que dominar a língua
portuguesa era falar difícil, ou seja, empregar vocabulário culto
e usar frases de efeito com estrutura mais complexa. Hoje, no
entanto, sabemos que usar bem o português é, sobretudo, saber
adequar a linguagem a diferentes situações sociais das quais
participamos. Por exemplo, sabemos que é preciso ter um cuidado
especial com a língua quando nos submetemos a uma entrevista
de emprego, ou quando elaboramos um texto acadêmico. Mas,
em uma conversa com amigos ou familiares, podemos usar uma
linguagem mais coloquial. Assim sendo, pode-se dizer que a
língua apresenta variações e o que determina a escolha de tal ou
tal variedade é a situação concreta de comunicação.

Esse é o tema da presente unidade, que tem como objeto o estudo


da linguagem e suas variações. Aqui, você encontrará conceitos
básicos de introdução para um trabalho de leitura e produção de
textos.

São conceitos essenciais, que serão retomados no decorrer das


demais unidades, logo precisam ser bem compreendidos para
facilitar o seu crescimento na disciplina.

Bons estudos!

Seção 1 – Língua, linguagem e variação


Comunicação provém de communicare, verbo latino que significa
pôr em comum. Para Medeiros (2000, p. 15), a finalidade da
comunicação é pôr em comum não apenas as idéias, sentimentos,
pensamentos, desejos, mas também compartilhar formas de
comportamento, modos de vida determinados por regra de
caráter social.

A comunicação implica, fundamentalmente, a utilização


de uma linguagem. A linguagem humana, segundo
Koch (1997a, p. 9), tem sido concebida de maneiras
diversas, e a mais recente dessas concepções considera
a linguagem como atividade, como forma de ação, como

16
Leitura de Produção Textual

lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade


a prática dos mais diversos tipos de atos.

A linguagem se materializa de duas formas. Na primeira,


denominada de linguagem não-verbal, exploram-se sinais,
gestos e imagens. Na segunda, denominada de linguagem
verbal, utilizam-se signos, ou seja, é uma modalidade constituída
de um sistema de sinais convencionados. Esse conjunto de signos
é o que denominamos de língua.

Bem, agora que já abordamos os conceitos básicos sobre a


linguagem humana, vamos resumi-los para assimilá-los melhor.

Resumindo:
! Linguagem: capacidade do ser humano de se
comunicar por meio de um língua.
! Língua: código, sistema de signos convencionais
usados pelos membros de uma mesma
comunidade.
! Linguagem verbal: constituída de um sistema de
códigos convencionados.
! Linguagem não-verbal: constituída por imagens,
gestos, emoticons, expressão facial etc.

Para diferenciar melhor a linguagem verbal da linguagem não-verbal,


observe os seguintes exemplos:

Texto A
Uma das maneiras de ver o mundo é sob a figura da antítese.
Assim, as categorias que encontramos são: os ricos e os pobres, os
brancos e os negros, os homens e as mulheres, os heterossexuais e
os homossexuais etc.

Unidade 1 17
Universidade do Sul de Santa Catarina

Texto B

Figura 1 – Ilustração sobre antítese. (Fonte: Platão e Fiorin. Lições de


texto: leitura e redação. São Paulo: Ática,1996.)

É fácil perceber que no primeiro exemplo, por meio da linguagem


verbal, há uma afirmação genérica entre as diferenças existentes
no mundo. Da mesma forma, no segundo, essa temática aparece,
uma vez que a figura pretende, através da oposição entre a cor e o
tamanho das mãos, chamar a atenção para a fome e a desnutrição
no continente africano.

Ainda, o texto pode ser elaborado pela associação dos dois tipos
de linguagem, o que denominamos de linguagem mista. Observe
a charge:

Texto C

Figura 2 – charge do Lula Papai Noel. (Fonte: Folha de São Paulo, 18/11/2006).

A compreensão desse texto de humor ocorre pela associação


da imagem-figura de Papai Noel – com a linguagem verbal
– o conteúdo das cartas e a fala da personagem. Inclusive a
própria definição da personagem – Presidente Lula e Papai Noel
– depende do conteúdo de sua fala.

18
Leitura de Produção Textual

— Então, agora que você já sabe que língua é um código por meio do
qual as pessoas se comunicam e interagem entre si, passemos ao seguinte
questionamento:

A língua portuguesa, no Brasil, é um código único a


todos os falantes?

Para responder a pergunta, você deve levar em conta, por


exemplo, a diferença que existe na linguagem em diversos
níveis, como: a linguagem que você usa com o seu chefe não
é a mesma que você usa com os seus amigos. Ou ainda, o
vocabulário dos jovens está mais aberto às mudanças e novidades,
diferente do que acontece com os mais idosos, que tendem a um
conservadorismo. Aliás, causa-nos grande estranhamento ouvir
pessoas idosas, por exemplo, usando uma gíria, não é mesmo?
Isso acontece porque temos consciência de que há várias formas
de usarmos a língua que falamos.

Assim sendo, se você respondeu NÃO para a pergunta anterior,


então você já está próximo do conceito de nosso próximo assunto,
ou seja, Variação Lingüística.

A língua portuguesa, como todas as línguas do mundo, não se


apresenta de maneira uniforme em todo o território brasileiro.
Aliás, assim como a cultura brasileira é plural, há também a
pluralidade lingüística, o que é facilmente observado em nosso
país. Essa pluralidade é o que denominamos variação lingüística,
e esse é o tema que vamos abordar agora.

Mas qual é o objetivo de estudarmos tal assunto?

Estudar a variação lingüística oportunizará você a perceber que


diversos fatores, como região, faixa etária, classe social e profissão
são responsáveis pela variação da língua. Devemos observar, no
entanto, que não há um uso melhor que o outro. Em uma mesma
comunidade lingüística, coexistem usos diferentes, não existindo
um padrão de linguagem que possa ser considerado superior.

Unidade 1 19
Universidade do Sul de Santa Catarina

O que determina a escolha de tal ou tal variedade é a


situação concreta de comunicação.

Níveis de variação lingüística


É importante observar que o processo de variação ocorre em
todos os níveis de funcionamento da linguagem, sendo mais
perceptível na pronúncia ou no vocabulário. Também são vários
os fatores que determinam a variação, entretanto, vamos dar
ênfase à variação regional, à variação social e à variação por faixa
etária, que serão explicadas a seguir.

1) Variação regional (territorial ou geográfica)


Ocorre entre pessoas de diferentes regiões em que se fala a mesma
língua. Segundo Travaglia, essa variação normalmente acontece

[...] pelas influências que cada região sofreu durante


sua formação; porque os falantes de uma dada região
constituem uma comunidade lingüística geograficamente
limitada em função de estarem polarizados em termos
políticos, econômicos, culturais e desenvolverem então
um comportamento lingüístico comum que os identifica
e distingue. (2002, p. 42).

Então, como você pode ver, são os diferentes falares que se


encontram no Brasil como os falares gaúcho, nordestino,
carioca, o chamado dialeto caipira etc.

Essa diferença pode ser percebida em relação à pronúncia,


como por exemplo, a diferença do r e do s, na fala de cariocas,
gaúchos, paulistas. Além disso, também fica evidente a
diferença em nível vocabular, pois temos várias palavras usadas
para fazer referência ao mesmo objeto, e o uso de um ou outro
vocábulo varia de região para região. É o que ocorre em:

! pipa – papagaio – pandorga – maranhão;


! pão francês – pão de trigo – cacetinho;
! aipim – mandioca – macaxeira.

20
Leitura de Produção Textual

2) Variação social
Ocorre entre pessoas que pertencem a diferentes grupos sociais.
Neste caso, podemos dividir a língua em vários “dialetos” ou
“jargões” que, na dimensão social, representam as variações que
ocorrem de acordo com a classe a que pertencem os usuários da
língua.

Podemos, então, considerar como variedades dialetais de


natureza social, os jargões profissionais (linguagem dos artistas,
médicos, professores, operários), como também as gírias usadas
por diversos grupos como: jogadores de futebol, cantores de Rap,
freqüentadores de academias de ginástica etc. Assim, pessoas com
relações bastante estreitas e interesses comuns tendem a usar uma
linguagem mais específica.

Vejam os exemplos nos textos a seguir:

Então a nossa filosofia é mostrar pras pessoas, né,


tentar passar pras pessoas que elas podem brilhar,
que elas são importantes (...) Então nós viramos pro
negro e falamos: pô, negócio seguinte, tu é bonito, tu
não é feio como dizem que tu é feio. Teu cabelo não
é ruim como dizem que teu cabelo é ruim, entendeu?
Meu cabelo é crespo, entendeu? Existe cabelo crespo,
existe cabelo liso. Não tem essa de cabelo bom,
cabelo ruim. Por que que cabelo de branco é bom e
meu cabelo é ruim?

(Fala de um cantor de Rap)

Outro dia o coruja estava batendo lata e encontrou


um tatu.

- E aí? Eles acertaram o pilão?

- Que nada, o espada abiu o caderno e passou o maior


chapéu no piolho!

(FUSARO, Kárin. Gírias de todas as tribos. São Paulo:


Panda, 2001)

Unidade 1 21
Universidade do Sul de Santa Catarina

Você entendeu os textos dos exemplos? Talvez você sinta


dificuldades em relação ao segundo, caso você não compreenda a
gíria dos taxistas. Releia o texto, considerando este vocabulário:

Quadro 01 – quadro de referência de gírias e seus significados

Gíria Significado

Abrir o caderno Falar demais, contar a vida.

Bater lata Andar com o carro vazio, à procura de passageiro.

Chapéu Golpe, ato de não pagar ao taxista.

Coruja Taxista que trabalha no período noturno.

Espada Passageiro difícil de enganar.

Pilão Corrida prefixada.


Taxista que assalta o passageiro, até mesmo à mão
Piolho armada.
Tatu Passageiro inocente, vítima fácil.

3) Variação por faixa etária


Os dialetos, na dimensão de idade, representam as variações
decorrentes da diferença no modo de usar a língua de pessoas
de idades diferentes, normalmente em faixas etárias
diversas: crianças, jovens, adultos e velhos.

Assim, seria um fato raríssimo presenciarmos uma pessoa


idosa usando expressões como linkar (ligar um site a outro),
subir um arquivo (mandar um arquivo para a internet), até
mesmo pela pouca ou nenhuma intimidade que esse grupo
de pessoas tem com o computador e, conseqüentemente
com a internet.

— Até aqui você viu algumas variações lingüísticas. Na próxima


seção, você verá a variação de registro, que também é um conceito
importante no estudo da linguagem.

22
Leitura de Produção Textual

Seção 2 – Níveis de linguagem


Na seção anterior, você estudou os conceitos de língua e
linguagem, assim como as variações lingüísticas. Dando
continuidade ao assunto, vamos abordar a variação de registro,
que se define pela forma de utilização da linguagem, levando em
conta o contexto da situação.

Um exemplo disso é a forma como falamos com


um adulto ou com uma criança. Quando falamos
com a criança, a nossa linguagem é mais gestual,
mudamos o tom da voz, ou seja, imitamos as
próprias crianças.

Antes de estudar esse tipo de variação, que chamaremos de


níveis de linguagem, é necessário que você reflita um pouco
sobre as características da língua falada e da língua escrita. Nas
situações de fala, há um contato direto entre os interlocutores,
isto é, falante e ouvinte, o que nos permite fazer repetições e
explicações, caso nosso ouvinte não nos compreenda.

Já nas situações de escrita, o contato entre autor e leitor é


indireto, logo torna-se necessária a formulação de um texto claro,
possível de ser compreendido pelo leitor, sem a possibilidade da
intervenção simultânea do autor.

Isso desencadeia uma série de diferenças entre fala e escrita,


em relação à estrutura e à organização do texto, que podem ser
resumidamente apresentadas no quadro a seguir:

Unidade 1 23
Universidade do Sul de Santa Catarina

Quadro 02 – Comparativo entre língua oral e escrita

Língua oral Língua escrita

Repetição de palavras Vocabulário amplo e variado.

Frases inacabadas e interrompidas Frases completas.

Seqüência de orações com ou sem conexão Orações coordenadas ou subordinadas.

Frases feitas, clichês, provérbios, gírias Uso restrito de frases feitas, provérbios, gírias.

Marcas da oralidade, como daí, né, tá etc. Ausência desses marcadores.

As características do Quadro 02 são predominantes, mas não


podem ser vistas como exclusivas do texto oral ou do texto
escrito.

Você sabe que nossa produção oral não é sempre igual.


Quando falamos, fazemos variações em função do contexto da
conversação e de nossos interlocutores. Assim também a escrita
não é uniforme. Podemos escrever de várias formas, considerando
a finalidade do texto e o leitor a quem nos dirigimos, concorda?

Isso significa que há outro tipo de variação, que pode ser


registrado tanto na fala quanto na escrita. Por isso, mais
importante que observar as variações entre fala e escrita é
observar e fazer uso das diferenças entre os níveis de linguagem.

Perceba que no nosso dia-a-dia, em casa, no trabalho, no


encontro com os amigos, expressamo-nos de diferentes
formas, ou seja, não nos referimos ao nosso chefe da mesma
maneira como nos dirigimos a um amigo, não é mesmo? Daí a
necessidade de usar adequadamente os dois níveis de linguagem:
culto e coloquial.

A modalidade culta é a língua padrão. É a variedade


lingüística de maior prestígio social. É aquela usada
nas situações formais tanto na fala quanto na escrita.

24
Leitura de Produção Textual

É facilmente observada em um discurso de formatura, na


apresentação de um projeto, na defesa de uma monografia, ou
ainda, na produção de textos acadêmicos, jurídicos, empresariais
etc.

A modalidade coloquial é a linguagem que


utilizamos no nosso cotidiano, para situações
informais, tanto na fala quanto na escrita.

É a linguagem que usamos no nosso dia-a-dia, nas conversas


com os amigos, com a família, ou ainda, na produção de alguns
textos, como bilhetes ou mensagens eletrônicas.

A escolha das modalidades se dá, portanto, em função do nível de


formalidade exigido no contexto. Assim, situações mais informais
permitem o uso da modalidade coloquial e situações mais formais
exigem o uso da modalidade culta. Veja os seguintes exemplos:

Situação hipotética: confraternização entre os


funcionários da empresa X.
Contexto 1

Se você ficar encarregado de publicar um convite


a todos os funcionários, você se preocupará em
ser objetivo e, principalmente, ser compreendido
por todos, até mesmo pelos que não o conhecem.
Além disso, como pessoas que ocupam cargos
hierarquicamente superiores ao seu também serão
seus interlocutores, você tenderá à formalidade.
Provavelmente, seu texto ficará parecido com o que
sugerimos abaixo.

“No espírito de encerramento de mais um ano de trabalho,


convidamos a todos os colaboradores desta empresa para um
jantar comemorativo.

Local: Restaurante XXX

Data: 15/12/2006

Horário: 20 horas

É necessário confirmar presença até dia 10/12/2006, pelo e-mail


XXX@XX.br.”

Unidade 1 25
Universidade do Sul de Santa Catarina

Contexto 2:
Agora você é um dos funcionários da empresa
que recebeu o convite. Seu interesse é saber se as
pessoas que trabalham mais próximas de você, ou
seja, aquelas com as quais você tem mais intimidade
comparecerão. Muito provavelmente, você mandará
a elas um e-mail, de forma descontraída, próximo ao
sugerido:
“E aí, pessoal. Tô a fim de ir no jantar do dia 15. Quem vai? Vamos
combinar um esquema de carona? Tô esperando. Abração.”

Sabemos que a maioria das situações de fala tendem a ser mais


informais que as situações de escrita, o que leva as pessoas a
uma conclusão equivocada: é comum que as pessoas façam uma
associação de conceitos e denominem uma modalidade como
linguagem oral/coloquial e a outra como linguagem escrita/culta.
No entanto, como você pode ver no exemplo acima, houve a
ocorrência dos dois níveis – culto e coloquial – nos dois textos
simulados, e ambos foram produzidos de forma escrita.

Além disso, lembre-se de que os conceitos anteriormente


apresentados explicitam que tanto a modalidade culta quanto a
coloquial aparecem em situações de fala e escrita.

É importante não confudir essa diferença entre


modalidade culta e coloquial com a diferença entre
fala e escrita.

Para finalizar esta seção, gostaríamos de reforçar que o objetivo


de estudar as modalidades que lhe foram apresentadas é fazer
com que você fique atento à necessidade de adequação de seu
texto falado ou escrito à situação de uso. O ideal é que você se
sinta apto a fazer uso da modalidade culta, quando isso se fizer
necessário, e da modalidade coloquial, em situações permitidas.
Lembre-se disso, no decorrer da disciplina, em todas as
atividades de produção textual.

A seguir, você estudará as funções da linguagem como um dos


recursos disponíveis para marcar a intencionalidade de um texto.

26
Leitura de Produção Textual

Seção 3 – Funções da linguagem


Como você já estudou na primeira seção, a linguagem é utilizada
para que a comunicação se efetive. Para isso, em um processo de
comunicação, alguns elementos são necessários, tais como:

! Emissor – aquele que emite, codifica a mensagem.


! Receptor – aquele que recebe, decodifica a mensagem.
! Mensagem – o conteúdo transmitido pelo emissor.
! Código – o conjunto de signos usado na transmissão e
na recepção da mensagem.
! Referente – o contexto relacionado ao emissor e ao
receptor.
! Canal – o meio pelo qual a mensagem circula.
No processo de comunicação, todos esses elementos estão
envolvidos, mas, em razão da intencionalidade do texto,
um ou outro elemento deve ser enfatizado, o que resulta
nas funções da linguagem.

A seguir, apresentamos cada uma das funções, suas


características e contextos de ocorrência, finalizando com
um exemplo.

1. Função emotiva (ou expressiva)


É centralizada no emissor, revelando sua opinião ou emoção.
Portanto, é notável no texto o uso da primeira pessoa do singular,
das interjeições e exclamações. Predominante em textos literários,
biografias, memórias, cartas pessoais.

Unidade 1 27
Universidade do Sul de Santa Catarina

O meu amor, o meu amor, Maria


É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá)
Canta e vai-se embora
Outra nem isso, Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.
(POEMINHA SENTIMENTAL, Mário Quintana)

2. Função referencial (ou Denotativa)

É centralizada no referente, quando o emissor procura oferecer


informações da realidade. A linguagem do texto é objetiva, direta
e prevalece o uso da terceira pessoa do singular.

Predominante em textos acadêmicos, científicos e em alguns


textos jornalísticos como a notícia.

EDUCAÇÃO NÃO REDUZ DESIGUALDADE RACIAL


Estudo do IBGE revela que quanto maior a
escolaridade do trabalhador brasileiro, maior é a
diferença no salário dos brancos em relação ao dos
pretos e pardos. O levantamento teve por base a
Pesquisa mensal de Emprego do instituto, restrita às
seis maiores regiões metropolitanas do país. (Folha de
São Paulo, 18/11/2006, p. 01)

28
Leitura de Produção Textual

3. Função apelativa (ou conativa)


É centralizada no receptor. Como o emissor se dirige ao receptor,
é comum o uso dos pronomes tu e você, ou o nome da pessoa a
quem o emissor se refere.

Predominante em sermões, discursos e textos publicitários, já que


estes se dirigem diretamente ao consumidor.

Celular de graça
Na sua mão
CLARO
A vida na sua mão
Você ainda ganha o dobro de minutos do seu
plano por até 12 meses.
(Texto publicitário – NOKIA – publicado no Diário
Catarinense em 19/11/2006)

4. Função fática
É centralizada no canal, tendo como objetivo prolongar ou
não o contato com o receptor, ou testar a eficiência do canal.
Predominante na conversação, como saudações, falas informais
e falas telefônicas, quando fazemos uso da linguagem mais
por exigência das relações sociais do que pela necessidade de
transmissão da mensagem.

No elevador:
- Bom dia!
- Bom dia!
- Que calor tem feito.
- Pois é.
- Até logo.
-Tchau.

Unidade 1 29
Universidade do Sul de Santa Catarina

5. Função poética
É centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos
criados pelo emissor. Valorizam-se as palavras e suas
combinações. Predominante em textos com linguagem figurada,
como poemas, letras de música, textos publicitários.

Quando os sapatos ringem


- quem diria?
São os teus pés que estão cantando!

(QUINTANA, Mário. Verão. In: Mário Quintana de


Bolso. Porto Alegre: L&M, 1997, p. 140.)

6. Função metalingüística
É centralizada no código. É quando a linguagem é usada para
falar dela mesma. Ocorre quando um texto comenta outro texto,
ou quando o poema fala do próprio poema ou quando o cinema
explica como se faz um filme.

Predominante em dicionários.

As expressões são data venia, permissa venia,


concessa venia. O senhor, para não usar de
aspereza com o juiz, o senhor bota data venia,
que quer dizer “com o devido respeito”, bota
antes data venia e aí fala o que quiser para o juiz.
Os sinônimos de data venia seriam permissa
venia, concessa venia. Eu jamais repito data venia
no mesmo processo. Só data venia, data venia,
fica enfadonho, né? (Fala de um advogado no
exercício de sua função).

É importante você observar que os textos selecionados


apresentam como função predominante aquela que pretendemos
exemplificar, mas isso não exclui a possibilidade de um mesmo
texto apresentar mais de uma função de linguagem, fato que
ocorrerá na atividade proposta para este assunto.

30
Leitura de Produção Textual

Síntese
Ao término desta unidade, você deve ter compreendido alguns
conceitos básicos para o estudo da língua portuguesa, os quais
retomaremos aqui:

a) Linguagem deve ser definida como a capacidade de


comunicação do ser humano. Manifesta-se tanto por signos
lingüísticos, ou seja, por palavras, quando denominada de
linguagem verbal, quanto por imagens, o que caracteriza a
linguagem não-verbal.

b) Língua é um código, conjunto de signos, estabelecido por uma


determinada sociedade, em um determinado espaço geográfico.

c) As línguas não são uniformes. Elas variam, pois as pessoas


falam de modo diferente em relação à pronúncia, ao vocabulário,
ao uso de gírias e expressões e à estrutura gramatical. Vários
fatores podem influenciar essa variação, mas apresentamos como
os mais relevantes alguns fatores externos, tais como:

! Geográfico: variação decorrente do local onde o falante


vive.
! Social: variação decorrente do grupo social ao qual o
falante pertence, ou a profissão que exerce.
! Idade: variação decorrente da faixa etária do falante,
uma vez que as expressões coloquiais e as gírias mudam
rapidamente com o decorrer do tempo.

d) Além da variação geográfica, social e etária, há a variação de


registro. Trata-se das possibilidades de diferentes usos da língua
por um mesmo falante. Em situações informais, tem-se a opção
pelo nível coloquial; já em situações formais, pelo nível culto.
Tais modalidades, coloquial e culta, são observadas tanto em
textos falados quanto escritos.

e) Seis elementos compõem o processo de comunicação:


emissor, receptor, mensagem, código, contexto e canal. Quando
produzimos nossos textos, enfatizamos um ou outro elemento,
de modo intencional, o que resulta em seis diferentes funções da
linguagem: emotiva, centrada no emissor; apelativa, centrada

Unidade 1 31
Universidade do Sul de Santa Catarina

no receptor; poética, centrada na mensagem; metalingüística,


centrada no código; referencial, centrada no contexto, e fática,
centrada no canal.

O objetivo de você ter estudado este conteúdo, aqui brevemente


resumido, é adquirir conhecimentos básicos sobre a língua para
que possa aplicá-los nos processos de leitura e produção textual,
desenvolvidos nas unidades seguintes.

Atividades de auto-avaliação

1) Procure no seu cotidiano, exemplos de textos que são elaborados por


meio de linguagem verbal, não-verbal e pela junção de ambas.

32
Leitura de Produção Textual

2) Leia o texto de apoio e busque exemplos de variação percebidos por


você no seu dia-a-dia, na sua comunidade.

NÃO EXISTEM LÍNGUAS UNIFORMES


Sírio Possenti
Alguém que estivesse desanimado pelo fato de que parece que
as coisas não dão certo no Brasil e que isso se deve ao “povinho” que
habita esse país (conhecem a piada?), poderia talvez achar que tem um
argumento definitivo, quando observa que “até mesmo para falar somos
um povo desleixado”. Esse modo de encarar os fatos da linguagem é
bastante comum, infelizmente. Faz parte da visão de mundo que as
pessoas têm a respeito dos campos nos quais são especialistas. Em outras
palavras, é uma avaliação falsa. Mas como existe, e como também é um
fato social associado à linguagem, deve ser levado em conta. Por isso, para
quem pretende ter uma visão mais adequada do fenômeno da linguagem,
especialmente para os profissionais, dois fatos são importantes: a) todas as
línguas variam, isto é, não existe nenhuma sociedade ou comunidade na
qual todos falem da mesma forma; b) a variedade lingüística é o reflexo da
variedade social e, como em todas as sociedades existe alguma diferença
de status ou de papel entre indivíduos ou grupos, essas diferenças se
refletem na língua. Ou seja: a primeira verdade que devemos encarar é relativa
ao fato de que em todos os países (ou em todas as “comunidades de falantes”)
existe variedade de língua. E não apenas no Brasil, porque seríamos um povo
descuidado, relapso, que não respeita nem mesmo sua rica língua. A segunda
verdade é que as diferenças que existem numa língua não são casuais. Ao
contrário, os fatores que permitem ou influenciam na variação podem ser
detectados através de uma análise mais cuidadosa e menos anedótica.
Um dos tipos de fatores que produzem diferenças na fala de pessoas
são externos à língua. Os principais são os fatores geográficos, de classe,
de idade, de sexo, de etnia, de profissão etc. Ou seja: as pessoas que
moram em lugares diferentes acabam caracterizando-se por falar de
algum modo de maneira diferente em relação a outro grupo. Pessoas que
pertencem a classes sociais diferentes, do mesmo modo (e, de certa forma,
pela mesma razão, a distância – só que esta social) acabam caracterizando
sua fala por traços diversos em relação aos de outra classe. O mesmo vale
para diferentes sexos, idades, etnias, profissões. De uma forma um pouco

Unidade 1 33
Universidade do Sul de Santa Catarina

simplificada: assim como certos grupos se caracterizam através de alguma


marca (digamos, por utilizarem certos trajes, por terem determinados
hábitos etc), também podem caracterizar-se por traços lingüísticos. Para
exemplificar: podemos dizer que fulano é velho porque tem tal hábito
(fuma cigarro sem filtro, por exemplo), ou porque fala “Brasil” com um “l”
no final (ao invés de falar “Brasiu”, com uma semivogal, como em geral
ocorre com os mais jovens). Ou seja, as línguas fornecem meios também
para a identificação social. Por isso, é freqüentemente estranho, quando
não ridículo, um velho falar como uma criança, uma autoridade falar como
uma pessoa simples etc. Por exemplo, muitos meninos não podem ou não
querem usar a chamada linguagem correta na escola, sob pena de serem
objeto de gozação por parte dos colegas, porque em nossa sociedade a
correção é considerada uma marca feminina.
Também há fatores internos “a língua que condicionam a variação.
Ou seja, a variação é de alguma forma regrada por uma gramática
interior da língua. Por isso, não é preciso estudar uma língua para não
“errar” em certos casos. Em outras palavras, há erros que ninguém
comete, porque a língua não permite. Por exemplo, ouvem-se
pronúncias alternativas de palavras como caixa, peixe, outro: a
pronúncia padrão incluiria a semivogal, a pronúncia não-padrão a
eliminaria (caxa, pexe, outro). Mas nunca se ouve alguém dizer peto,
jeto ao invés de peito e jeito. Por que será que os mesmos falantes
ora eliminam e ora mantêm a semivogal? Alguém pode explicar por
que o i cai antes de certas consoantes e não diante de outras? Alguém
pode explicar por que o u cai antes de t (outro) e o i não cai no mesmo
contexto (peito, jeito)? Certamente, então, o tipo de semivogal (i ou u)
e a consoante seguinte são parte dos fatores internos relevantes para
explicar esse fato que, de alguma forma, todo falante conhece.
Mais exemplos: poderemos ouvir “os boi”, “dois cara”, “comédia dos
erro”, mas nunca “o bois”, “um caras” ou “comedia do erros”. Ouviremos
muitas vezes “nós vai”, mas nunca “eu vamos”. Assim, as variações
lingüísticas são condicionadas por fatores internos à língua ou por fatores
sociais, ou por ambos ao mesmo tempo.
Alguns sonham com uma língua uniforme. Só pode ser por mania
repressiva ou medo da variedade, que é uma das melhores coisas que a
humanidade inventou. E a variedade lingüística está entre as variedades
mais funcionais que existem. Podemos pensar na variação como fonte de
recursos alternativos: quanto mais numerosos forem, mais expressiva pode
ser a linguagem humana. Numa língua uniforme talvez fosse possível
pensar, dar ordens e instruções. Mas, e a poesia? E o humor? E como os
falantes fariam para demonstrar atitudes diferentes? Teriam que avisar
(dizer, por exemplo, “estou irritado”, “estou á vontade”, “vou tratá-lo
formalmente”)?
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas:
Mercado das Letras, 1996, p. 33.

34
Leitura de Produção Textual

3) Os textos, a seguir, são transcrições de falas em situação coloquial.


Reescreva, adequando-os à linguagem culta.
a) A TV eu acho que nem sempre é uma boa influência para as crianças
e também não espero que eduque essas crianças com os programas
tão violentos. Até nos desenhos animados tem essa violência e com a
apelação sexual dos outros programas.

Unidade 1 35
Universidade do Sul de Santa Catarina

b) Se tem um problema que é difícil de enfrentar é a miséria que


quanto mais parece que tem programa social, mais parece que tem
família vivendo na rua com criança na rua pedindo esmola e ainda
muitas vezes as mulheres desta família que já está na rua continua
engravidando, dá a impressão que nunca acabará o mesmo cenário.

36
Leitura de Produção Textual

4) O texto que segue é um trecho de uma publicidade institucional


financiada pela Unicef e pela Fundação Odebrecht. Leia-o e identifique
pelo menos duas funções de linguagem.

Você acha normal

que uma criança carente

fracasse na escola?

Nós não.

Os altos índices de repetência escolar só não são mais perversos


que o conformismo da nossa sociedade com esse absurdo. Um
absurdo que está presente de modo significativo entre as classes
sociais mais ricas e de modo esmagador entre as classes mais
pobres.

Unidade 1 37
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais
Para aprofundar os tópicos abordados sugerimos a leitura de:

FARACO, Carlos Alberto e TEZZA, Cristóvão. Prática de


texto para estudantes universitários. Petrópolis, RJ: Vozes,
1992. (Do capítulo primeiro ao sétimo)

38
2
UNIDADE 2

Leitura

Objetivos de aprendizagem

Ao final da unidade você terá subsídios para:

! Diferenciar, a partir de características específicas, textos


literários e não-literários.
! Compreender que o processo de leitura como
construção de sentido envolve conhecimento
contextual.
! Perceber que o processo de leitura como construção de
sentido envolve, também, o uso de estratégias como a
extrapolação do nível explícito de informações.
! Reconhecer as possibilidades de processar inferências
sobre as informações implícitas, tais como os
pressupostos e os subentendidos.

Seções de estudo

Nesta unidade você vai estudar os seguintes assuntos:

Seção 1 O que significa ler?


Seção 2 Possíveis leituras.
Seção 3 Nas entrelinhas.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de conversa


Nesta unidade, você é convidado à leitura, pois desenvolver essa
competência é um dos objetivos da disciplina. É importante estar ciente
de que para fazer um bom curso superior você deverá dedicar um
tempo aos estudos extra-aula. Esses estudos pressupõem ter às mãos
boas fontes de leitura e fazer bom uso delas. Portanto, é preciso ler.
Sem o exercício da leitura, não será possível desenvolver competências
necessárias ao aprendizado esperado nas diversas áreas, como capacidade
de compreensão, síntese, argumentação e investigação científica.

Portanto, convidamos você a nos acompanhar no roteiro de


leitura proposto nesta unidade, partindo da conceituação básica
sobre o ato de ler, focalizando diferentes modos de leitura, até a
compreensão de como podemos inferir a partir do que lemos.

É necessário que você, ao realizar o estudo de cada seção, busque


ampliar sua prática de leitura, não só aproveitando as referências
bibliográficas que lhe serão indicadas, como também pesquisando
outras fontes nas bibliotecas.

Igualmente se faz necessário que você compreenda que o seu


desempenho nas atividades de escrita (direcionadas nas unidades
subseqüentes) dependerá de leituras prévias, ou seja, ler é
condição essencial para quem se propõe a escrever.

SEÇÃO 1 – O que significa ler?


Nesta seção, vamos trabalhar um pouco com a leitura, uma
atividade essencial para quem quer escrever bem. Para tanto,
iniciaremos com os conceitos de leitura de uma forma bastante
resumida e exercitaremos a leitura e a interpretação de textos
variados. Então... mãos à obra para mais um desafio.

Definir o que significa LEITURA não é uma tarefa fácil, pois, a


cada dia, novos conceitos são atribuídos a este vocábulo.

Poderíamos considerar, para início de conversa, o conceito mais


abrangente: ler é decodificar códigos. No entanto, sabemos que
a leitura é uma atividade muito mais abrangente, pois o ato de

40
Leitura e Produção Textual

ler, segundo Orlandi (1999), é um processo que envolve


habilidades além das que se resolvem no imediatismo.

Assim, mais do que decodificar códigos, o que fazemos


durante uma leitura é construir significados a partir daquilo
que lemos. Portanto, se adotamos essa perspectiva de
leitura, não podemos mais considerá-la um simples ato de
decodificação de um produto pronto, mas sim, um processo
de significação e de construção do texto.

Nesse sentido, devemos levar em consideração que a


leitura é um processo que se dá a partir da interação entre leitor
e texto. Assim sendo, o leitor constrói o significado do texto a
partir dos objetivos que guiam a leitura.

Pense um pouco: quais motivos levariam você à


realização de uma leitura?

Talvez, sejam diversos os objetivos que o impulsionam a ler um texto,


iniciando pelos mais prazerosos, como devanear, preencher um momento
de lazer, passando pelos mais úteis, como procurar uma informação
concreta, seguir uma pauta de instruções para realizar atividades (cozinhar,
conhecer regras de um jogo), até os mais complexos, como confirmar ou
refutar um conhecimento prévio, aplicar a informação obtida com a leitura
de um determinado texto na realização de um trabalho.

Independente do objetivo que o conduza ao ato de ler, você deve


atentar para o fato de que, na realização de qualquer atividade de
leitura, como destaca Orlandi (1999), alguns fatores se impõem e,
entre eles, destacamos:

! As especificidades e a história do sujeito leitor.


! Os modos e os efeitos de leitura de cada época e
segmento social.
Dessa forma, ainda que o conteúdo de um texto não mude, é
possível que dois leitores com histórias de leitura e objetivos
diferentes subtraiam dessa leitura informações distintas.

Unidade 2 41
Universidade do Sul de Santa Catarina

Conceituando
A partir do que vimos anteriormente, podemos
agrupar a definição de leitura em duas grandes
concepções:

! leitura como decodificação;


! leitura como construção de significado.

Considerando a segunda concepção – leitura como construção


de significado – a mais adequada à competência que se pretende
desenvolver nesta disciplina, iniciemos o nosso roteiro de leitura
pela observação de dois textos aqui propostos.

Neste momento, você está convidado a fazer a leitura dos textos para,
em seguida, prosseguir com o conteúdo da unidade. Então, vamos ler?

TEXTO 1
Ela tem alma de pomba

Que a televisão prejudica o movimento da pracinha Jerônimo


Monteiro, em todos os Cachoeiros de Itapemirim, não há dúvida.

Sete horas da noite era hora de uma pessoa acabar de jantar, dar
uma volta pela praça para depois pegar a sessão das 8 no cinema.

Agora todo mundo fica em casa vendo uma novela, depois outra
novela.

O futebol também pode ser prejudicado. Quem vai ver um jogo


do Cachoeiro F.C. com a estrela do Norte F.C., se pode ficar
tomando cervejinha e assistindo a um bom Fla-Flu, ou a um
Internacional X Cruzeiro, ou qualquer coisa assim?

Que a televisão prejudica a leitura de livros, também não há dúvida.


Eu mesmo confesso que lia mais quando não tinha televisão.

Rádio, a gente pode ouvir baixinho, enquanto está lendo um


livro. Televisão é incompatível com livro – e com tudo mais nesta
vida, inclusive a boa conversa...

42
Leitura e Produção Textual

Também acho que a televisão paralisa a criança numa cadeira mais


que o desejável. O menino fica ali parado, vendo e ouvindo, em vez
de sair por aí, chutar uma bola, brincar de bandido, inventar uma
besteira qualquer para fazer. Por exemplo: quebrar o braço.

Só não acredito que televisão seja “ máquina de fazer doido”.

Até acho que é o contrário, ou quase o contrário: é máquina de


amansar doido, distrair doido, acalmar, fazer o doido dormir.

Quando você cita um inconveniente da televisão, uma boa


observação que se pode fazer é que não existe nenhum aparelho de
TV, em cores ou em preto e branco, sem um botão para desligar.

Mas quando um pai de família o utiliza, isso pode produzir o


ódio e rancor no peito das crianças, e até de outros adultos. Se
o apartamento é pequeno, a família é grande, e a TV é só uma,
então sua tendência é para ser um fator de rixas intermináveis.

- Agora, você se agarra nessa porcaria de futebol.

- Mas, francamente, você não tem vergonha de acompanhar essa


besteira dessa novela?

- Não sou eu não, são as crianças!

- Crianças, para a cama.

Mas muito lhe será perdoado, à TV, pela sua ajuda aos
doentes, aos velhos, aos solitários. Na grande cidade – num
apartamentinho de quarto e sala, num casebre de subúrbio, numa
orgulhosa mansão a criatura solitária tem nela a grande distração,
o grande consolo, a grande companhia. Ela instala dentro de sua
toca humilde o tumulto e o frêmito de mil vidas, a emoção, o
suspense, a fascinação dos dramas do mundo.

A corujinha da madrugada não é apenas a companheira de gente


importante, é a grande amiga da pessoa desimportante e só, da mulher
velha, do homem doente ... ou dos que estão parados, paralisados, no
estupor de alguma desgraça ... ou que no meio da noite sofrem o assalto de
dúvidas e melancolias ... mãe que espera filho, mulher que espera marido...
homem arrasado que espera que a noite passe, que a noite passe...

(Rubem Braga)

Unidade 2 43
Universidade do Sul de Santa Catarina

Você acaba de ler uma crônica de Rubem Braga e deve estar


pensando: como posso interpretar este texto?

Vamos esclarecer isso. Acompanhe o seguinte roteiro:

1. Você pode já ter lido outras crônicas do mesmo autor, o que


permitirá que você faça comparações deste texto com outros,
em relação à linguagem e ao estilo próprio de Rubem Braga.
Caso isso não tenha ocorrido, é uma boa oportunidade para você
pesquisar sobre o autor. Vá à biblioteca, pesquise na internet e
faça outras leituras.
Sugestão: Leia Crônicas 5 – Para
Gostar de Ler. Editora Ática. Você 2. Um dos primeiros aspectos que chama atenção na leitura de
encontrará outras crônicas de um texto é a linguagem utilizada: perceba que estamos diante
Rubem Braga e de mais três autores de um texto de fácil leitura, uma leitura a ser feita no nosso
brasileiros: Carlos Drummond de cotidiano, com uma linguagem próxima ao nível coloquial (o
Andrade, Fernando Sabino e Paulo
Mendes Campos.
que você já estudou na seção 2 da primeira unidade). Esses
traços caracterizam a crônica que, segundo Antônio Cândido,
“não é um gênero maior, [...] é um gênero menor. ‘Graças a
Deus’, porque assim, ela fica perto de nós. [...] Por meio dos
assuntos, da composição aparentemente solta, do ar de coisa
sem necessidade que costuma assumir, a crônica se ajusta à
sensibilidade de todo o dia”.

3. Após essas observações mais gerais sobre o autor e o tipo de


texto por ele produzido, passemos a definir o tema abordado
e o ponto de vista assumido pelo autor em relação a isso. Veja
que o autor fala da “televisão”, um tema conhecido por todos e
já amplamente debatido em nossa sociedade. Em um primeiro
momento, ele nos apresenta as desvantagens da TV. E isso é
feito, em seqüência, do primeiro ao sétimo parágrafo do texto.
Ao contrário, no oitavo e nono parágrafos, há a compensação,
quando o autor admite um aspecto positivo da TV. O mesmo
ocorre nos dois últimos parágrafos do texto. Em meio a essa
oposição entre vantagens e desvantagens da TV, o autor lança
uma outra questão. Aponta para a possibilidade que todos
nós temos de desligar o aparelho, caso a programação nos
incomode. E é nesse momento que ele retrata os conflitos
familiares que essa atitude pode causar, por meio de um
diálogo presente na maioria das famílias brasileiras. Então,
podemos concluir que o autor não se posiciona de forma a
defender exclusivamente um ponto de vista, mas nos apresenta
o problema, de forma a nos fazer ponderar sobre os dois lados

44
Leitura e Produção Textual

da questão. Esta é mais uma característica da crônica, que não


tem como objetivo a defesa de uma única idéia para persuadir
o leitor. Ao contrário, lança-se o problema para a reflexão.

4. Dada a temática e o posicionamento do autor, passemos a


enumerar os argumentos e a forma como foram apresentados.
Identificamos no texto parágrafos em que são apresentadas
vantagens e desvantagens em relação à TV, então, facilmente
poderemos listar quais seriam esses aspectos:

! Negativos: prejudica outras atividades como passeios pela


praça, ida ao cinema, ida ao campo de futebol, leitura
e conversa. No caso das crianças, concorre com outras
brincadeiras que possibilitam mais criatividade e com as
atividades físicas.
! Positivos: auxilia no combate à solidão, permite às
pessoas o relaxamento e o desvio das preocupações.
Sim, resumidamente, são esses os argumentos apresentados pelo
autor. Você deve compreendê-los, não necessariamente aceitá-
los. Por fim, o interessante é perceber como esses argumentos
foram formulados: pela linguagem simples e pelos exemplos
do cotidiano, inclusive com locais e situações bem específicas
(Cachoeiros de Itapemirim). Ora, a leitura equivocada seria
aquela que julgasse que o tema do texto é a cidade citada. O uso
de exemplos específicos, no início do texto, não significa que o
problema debatido seja local. O exemplo é apenas uma forma de
representação de algo maior. Cabe a você, leitor ou leitora, fazer
as comparações e as adequações necessárias.

Veja agora o segundo texto, que aborda um tema nada novo, mas
ainda muito pertinente nos dias atuais.

Unidade 2 45
Universidade do Sul de Santa Catarina

TEXTO 2
A ética dos pequenos atos

O que a história real de um político que fura a fila nos ensina


sobre liderança.

É incrível como aprendemos sobre as pessoas usando a


técnica denominada “observação passiva”. Trata-se, simplesmente,
de prestar atenção ao comportamento humano, especialmente
nas pequenas coisas, sem interferir. Tive recentemente uma
experiência com a qual pude aprender sobre coerência de conduta.
Eu estava na sala de embarque do aeroporto. Também estava
ali um conhecido e controvertido político, desses que passam
a maior parte do tempo dando explicações sobre suspeitas de
corrupção.

Quando o funcionário anunciou o embarque, recomendou


que se apresentassem primeiro os passageiros das fi las 15 a 28. Os
demais deveriam esperar. É uma técnica para agilizar a operação.
Como eu estava na fileira 12, esperei. O político, porém, foi o
primeiro a se postar no portão de embarque. Certamente estava
no fundo do avião, pensei. Entretanto, quando entro no avião, ele
está sentado em uma das primeiras poltronas.

Durante o vôo refleti sobre o episódio. Por que o fato


me incomodava? Ele não havia atrapalhado a viagem, nem
comprometera a segurança. Sim, mas, por menor que seja,
o descumprimento de uma norma de conduta – ponderei
– constitui uma contravenção. Pequena, inocente e até
insignificante, mas, mesmo assim, uma contravenção. Do
episódio sobraram uma constatação e um aprendizado. A
constatação: certamente, para ele, o negócio é levar vantagem,
mesmo descumprindo as normas, do avião ou da República. O
aprendizado: a ética nas grandes coisas começa nas pequenas. As
pessoas agem no atacado como no varejo. Creia, você é observado
nas pequenas coisas – positivas e negativas –, principalmente se
for o líder de um grupo. Sempre alguém notará as sutilezas de
seu comportamento cotidiano e pensará: “Ele é assim”.

Para terminar a história do político, o motorista que me


apanhou no aeroporto era seu eleitor e fã, a ponto de emocionar-
se ao vê-lo. E comentou: “Ele é um bom político – rouba, mas

46
Leitura e Produção Textual

faz”. O que me levou a perguntar-lhe: “O senhor não acha que


ele poderia fazer sem roubar?”. “Mas ele é um político...São
todos assim”, ponderou. Esse conceito conformista explica muita
coisa. Segundo ele, quem detém o poder, e pode ajudar os outros,
fica livre de freios morais, aplicáveis aos que dependem de sua
compaixão.

Não se trata disso, e sim de obrigação. Ele foi eleito para


cuidar dos interesses da sociedade, e não dos seus próprios.
Sobre isso, diria Platão: “Ética sem competência não se instala.
Competência sem ética não se sustenta”. A não ser, é claro, que
levar vantagem em tudo seja um traço cultural, o que significaria
apunhalar a meritocracia. E isso não convém a ninguém que
considere a ética um valor, especialmente se for um líder.

(Eugênio Mussak. Publicado na revista Você S/A, de novembro


de 2006, p. 114)

Agora, façamos um exercício de leitura, pautando-nos em um


roteiro equivalente ao do texto 1.

Pausa para exercitar a teoria

1. Como já informado, este texto foi publicado na revista Você


S/A. Essa revista é voltada a leitores com interesse no mercado
profissional, por isso seu foco está em reportagens sobre o
desempenho das empresas, as possibilidades de atualização e
aperfeiçoamento dos profissionais, a busca do equilíbrio entre
carreira e vida pessoal, dicas econômicas etc. Nesse contexto,
é pertinente que haja um espaço destinado à publicação
de textos opinativos sobre temas relevantes a esse mundo
profissional, como a seção Papo de líder, onde encontramos
os textos do professor Eugênio Mussak, consultor na área de
Liderança, Desenvolvimento humano e profissional.
Caso você tenha mais
2. A compreensão do texto apresentado requer que você interesse nessa área,
identifique, em um primeiro momento, o tema a ser debatido acesse www.vocesa.com.
e a forma como o autor o aborda. Definimos o assunto de um br e leia a coluna publicada
texto quando respondemos, de forma bem ampla e genérica, mensalmente.

do que o texto trata. Neste caso, o assunto em pauta é “ética”.

Unidade 2 47
Universidade do Sul de Santa Catarina

Já o tema, que é uma delimitação do assunto, só é definido


quando conseguimos especificar qual é o recorte que o autor
faz no texto, isto é, dentre as várias possibilidades de abordar
o assunto geral, qual é a escolhida pelo autor. Neste caso,
o texto não fala de ética, de forma geral, ao contrário, fala
especificamente da atitude ética esperada em pequenas coisas.
Para isso, é interessante notar os dois primeiros parágrafos:
antes do debate em si, o autor traz para o texto um trecho
narrativo, em que nos relata um fato ocorrido. A partir desse
relato, que envolve elementos como lugar e personagens, somos
levados ao ponto central do texto: “o descumprimento a uma
norma de conduta”, atitude esta condenada pelo autor do texto.

3. Tendo clareza sobre o tema e o posicionamento do autor,


passemos a entender qual é a argumentação que sustenta a
sua tese. A pergunta que devemos fazer é: Por que a atitude
do político é condenada? Por que o autor é contra a atitude
do político que, segundo ele, nem chega a causar problemas
e é insignificante? A resposta que encontramos no terceiro
parágrafo é: “A ética nas grandes coisas começa nas pequenas”.
Sim, esse é o ponto central do texto. Essa é a mensagem a
ser transmitida. Enfim, essa é a tese defendida pelo autor, que
acrescenta ao texto um elemento mais sofisticado, uma figura
de linguagem chamada comparação, quando segue com “as
pessoas agem no atacado como agem no varejo”. Assim, todo o
restante do texto segue nessa linha argumentativa, chamando
a atenção para o fato de que sempre seremos observados e
julgados pelos nossos pequenos atos. Dando seqüência, ainda
encontramos, no penúltimo parágrafo, uma crítica à própria
postura do brasileiro que, de um modo geral, aceita a atitude
condenada pelo autor, quando esta parte de um político.
Finalizando a leitura, podemos perceber que, no último
parágrafo, o autor reitera seu posicionamento, defendendo a
ética como um valor a ser considerado e, como sustentação
a sua argumentação, faz referência a Platão, por meio de um
recurso denominado de citação.

A citação, como um elemento de elaboração textual, é


um recurso que você estudará na próxima unidade.

48
Leitura e Produção Textual

Para finalizar essa seção, você viu que não há uma receita para
aprender a ler. Não há roteiro pré-estabelecido que dê conta de
nortear a leitura de todos os textos. O que propusemos nesta
seção foi mostrar a você alguns pontos que nunca podem ser
desconsiderados nessa atividade:

! busque se informar sobre o contexto: conhecer o autor


e prestar atenção na época e no local de publicação
do texto já fornece pistas de como a leitura deve ser
conduzida. Diante da constatação de “quem escreveu” e
“quem é o leitor alvo”, você já consegue elaborar algumas
expectativas sobre a forma de abordagem do tema;
! leia quantas vezes for necessário para identificar o tema,
a tese defendida, se for o caso, e os argumentos que
sustentam essa tese. Escreva isso em tópicos e observe
como esses tópicos estão divididos nos parágrafos;
! volte ao texto e confira se você sabe o significado de
todos os termos utilizados. Use o dicionário.
Até aqui, nossa intenção foi motivá-lo a ler e mostrar que este é
um ato complexo, quando se pretende ir além da decodificação
das palavras. O que você está estudando é pertinente ao ato
de ler, independente de qual seja o seu objeto de leitura, isto é,
independente do texto.

Na próxima seção, trataremos de especificar algumas diferenças


que deverão ser percebidas por você na leitura de textos literários
e não-literários.

SEÇÃO 2 – Possíveis leituras


Vamos dar continuidade ao nosso roteiro de leitura, iniciado na
seção anterior, partindo da observação dos dois textos. Analise-os
a seguir.

Unidade 2 49
Universidade do Sul de Santa Catarina

TEXTO 1
Estudante de 21 anos morre de anorexia em Araraquara

A estudante Carla Sobrado, 21, morreu anteontem em


Araraquara (273 Km de SP) de parada cardíaca, provavelmente
decorrente de anorexia nervosa, doença que a obrigava a se
submeter a tratamento há cinco anos.

(Folha de São Paulo, 18/11/2006 – Cotidiano C1)

TEXTO 2
Notícia de Jornal

João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da


Babilônia num

barracão sem número

Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro

Bebeu

Cantou

Dançou

Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

(Manuel Bandeira)

Você reparou na diferença entre os dois textos? Pelo menos,


podemos apontar três diferenças:

! A primeira é em relação à forma: o primeiro texto é


escrito em prosa, e o segundo, em verso.
! A segunda diferença está na linguagem: o primeiro
texto apresenta uma linguagem objetiva, não figurada, e
o segundo apresenta rimas nos verbos: Chegou,Cantou,
Dançou, atirou.

50
Leitura e Produção Textual

! A terceira é em relação ao nível de informatividade:


o primeiro trata as informações com bastante
precisão, especificando o local (Araraquara) e o tempo
(16/11) associados ao fato noticiado. Já no segundo,
as informações são mais vagas, pois não se sabe
precisamente quando (uma noite) e em que local da
Lagoa ocorreu o fato.

Podemos, então, a partir dessas diferenças, trazer à


tona uma discussão sobre as características do texto
literário e do não-literário.

Para conhecer o texto literário, devemos partir do princípio de


que ele não tem o compromisso com a realidade, com a verdade,
com a informação. Literatura é a arte da ficção. São textos
escritos para emocionar, como por exemplo: poesia, contos,
crônicas, romances etc. O texto literário deve, então, como disse
Horácio, «instruir e deleitar».

Outra característica que diferencia o texto literário é a


linguagem. Assim sendo, no texto literário, as palavras adquirem
um valor conotativo: mais do que dizem, sugerem.

A partir dessas afirmações, podemos dizer que o texto literário:

! é ambíguo, plurissignificativo e, portanto, aberto a várias


interpretações;
! tem uma intenção estética, procurando provocar
a surpresa e o prazer. Para tal, recorre a processos
estilísticos que reflitam um modo original, diferente de
ver e de falar do mundo;
! apresenta o compromisso com a verdade da mensagem
em um plano secundário;
! apresenta como recursos predominantes a função poética
da linguagem e a linguagem conotativa;
! pode ser em prosa ou em verso.

Unidade 2 51
Universidade do Sul de Santa Catarina

O texto não-literário, por sua vez, procura transmitir com


objetividade uma mensagem. São textos que lemos nos jornais, nas
revistas, nos artigos científicos etc. Assim sendo, o texto não-literário:

! evita a ambigüidade, procurando a objetividade;


! tem uma intenção utilitária;
! estabelece como relevante a verdade da informação;
! tem como recurso predominante a função informativa e a
linguagem denotativa;
! é quase exclusivamente em prosa.

Conceituando
! A linguagem conotativa, predominante no texto
literário, constitui-se da apresentação das palavras
e das expressões em seu sentido não literal e não
estável. É a linguagem figurada, rica em recursos que
indicam o valor da subjetividade no sentido do texto.
! A linguagem denotativa, predominante no
texto não-literário, faz uso das palavras e das
expressões em seu sentido mais literal e estável.
É a linguagem que visa à construção do sentido
pelo viés da objetividade.

Para finalizar esta seção, veja se você compreendeu e se consegue


perceber, no exemplo a seguir, o que caracteriza o primeiro texto
como não-literário e o segundo como literário. Vamos praticar?

O Rio de Janeiro é uma cidade de fama mundial, consolidada


como destino turístico para os diferentes fluxos turísticos que se
dirigem ao cone sul.

Cartão postal do país, a cidade destaca-se por sua exuberante


beleza natural, formada pela perfeita harmonia entre o mar e a
montanha. Junte-se a esta topografia monumentos históricos,
variada oferta de meios de hospedagem, bares, restaurantes, o
sol, a praia, o verde das encostas e chega-se à receita do que faz
com que o carioca seja um povo alegre e hospitaleiro. Nele se

52
Leitura e Produção Textual

identifica o estilo de viver, produzir, comportar-se, estar atento a


todos os acontecimentos, lançar moda e expressões.

[...]

(http://www.rio.rj.gov.br/comudes/turismo.htm)

Retrato de uma cidade

Tem nome de rio esta cidade


onde brincam os rios de esconder.
Cidade feita de montanha
em casamento indissolúvel
com o mar.

Aqui
amanhece como em qualquer parte do mundo
mas vibra o sentimento
de que as coisas se amaram durante a noite.

As coisas se amaram. E despertam


mais jovens, com apetite de viver
os jogos de luz na espuma,
o topázio do sol na folhagem,
a irisação da hora
na areia desdobrada até o limite do olhar.

Formas adolescentes ou maduras


recortam-se em escultura de água borrifada.
Um riso claro, que vem de antes da Grécia
(vem do instinto)
coroa a sarabanda a beira-mar.
Repara, repara neste corpo
que é flor no ato de florir
entre barraca e prancha de surf,
luxuosamente flor, gratuitamente flor
ofertada à vista de quem passa
no ato de ver e não colher.

(Carlos Drummond de Andrade. In: http://www.memoriaviva.com.br/


drummond/poema061.htm)

Você notou que, apesar desses textos abordarem a


mesma temática, eles também possuem diferenças?

Unidade 2 53
Universidade do Sul de Santa Catarina

Pois bem, o primeiro texto (não-literário) fala da cidade do Rio


de Janeiro de modo claro, pois sua linguagem é objetiva e possui
um único sentido: o denotativo. Já no segundo texto (literário),
a linguagem de Drummond é poética, portanto, provoca uma
interpretação por meio de associações, isto é, trabalha com o
sentido não-literal: o conotativo.

SEÇÃO 3 – Nas entrelinhas


Dando continuidade ao nosso roteiro de leitura, propomos,
nesta última seção, que você estude os níveis de informação
textual. Quando lemos um texto, podemos perceber que algumas
informações estão explícitas, ou seja, aparecem claramente
expressas, enquanto outras não. Observe o seguinte exemplo.

Fonte: Folha de São Paulo, 18/11/2006, A26.

Nesta charge, o que há de informação explícita é exatamente


aquilo que expressa a fala do personagem: alguém foi selecionado
no teste de beleza. Isso nos leva a deduzir, do primeiro
quadrinho, que a selecionada é uma das candidatas presentes na
sala de espera. Claro que essa primeira interpretação se faz pela
associação da linguagem verbal com a não-verbal.

No entanto, no segundo quadro, a leitura que podemos fazer da


linguagem não-verbal é que o abajur foi selecionado. Porém, se a
nossa leitura se encerra neste ponto, deixamos de atribuir sentido

54
Leitura e Produção Textual

ao texto, uma vez que causa muita estranheza um objeto ser


selecionado em um teste realizado por pessoas.

Então, ao observarmos a charge mais atentamente, chegamos à


interpretação desejada: entendemos que o padrão de beleza é tão
exigente e até absurdo em relação à magreza das pessoas, que, no
ambiente retratado na charge, somente o abajur, sendo um objeto
de menor espessura, enquadra-se no perfil de modelo.

É relevante você saber que só compreendemos isso porque


acionamos o conhecimento que temos do contexto. Sendo
a charge um dos modelos de humor de maior conotação
sociopolítica, seu propósito é ironizar questões atuais da
sociedade, exigindo do leitor conhecimento de mundo, isto é, dos
fatores extralingüísticos aos quais elas se referem para que ocorra
de fato a compreensão no momento de leitura.

Isso significa que, para a compreensão de enunciados, segundo


Ilari e Geraldi (1987), é necessário que o interlocutor faça
inferências, isto é, leia as informações que se apresentam no texto
de forma implícita.

Logo, o que você vai aprender nesta seção são os tipos


de inferência, que se classificam como pressupostos e
subentendidos.

Por exemplo, quando dizemos “o professor parou de fumar”,


inferimos que o professor fumava. Esse tipo de inferência
classificamos como pressuposição.

Mas ainda podemos inferir que o professor tomou consciência de


que fumar é prejudicial à saúde. Esse tipo de inferência pode ser
classificada como “subentendido”.

Perceba que chegamos ao pressuposto fumava porque a locução


parou de é uma “pista” de que anteriormente a ação era feita.
Ao contrário, chegar ao subentendido requer conhecimento de
mundo, tanto que, em nosso exemplo, estamos imaginando um
leitor que saiba sobre a ligação entre cigarro e saúde. Isso pode
variar de leitor para leitor, logo cabe a você fazer a inferência de
acordo com o contexto: ele poderia ter parado de fumar por uma
razão financeira, ou porque sua mulher exigira etc.

Unidade 2 55
Universidade do Sul de Santa Catarina

Resumindo
Há dois níveis de informação: explícito e implícito.

A informação explícita é a que está literalmente expressa


no texto.

A informação implícita é a que aparece velada no texto, ou


seja, de forma não direta.

Chega-se à leitura do nível implícito por inferências, que se


classificam em pressupostos e subentendidos.

Pressuposto é uma inferência que não depende do


contexto, enquanto o subentendido está ligado à situação
de comunicação em que o ato da fala é produzido.

— Agora que você já se familiarizou com esses conceitos, que foram


introduzidos na charge apresentada no início desta seção, vamos
conhecer um pouco mais sobre pressuposição e subentendido.

Como vimos no exemplo anterior, o pressuposto foi ativado pela


expressão lingüística “parou de”. Segundo Koch (1997), essas
expressões podem ser chamadas de marcadores de pressuposição.

Vejamos outros exemplos em que aparecem esses marcadores:

a) Ele passou a trabalhar.


Pressuposto: ele não trabalhava antes.

b) Ele continua bebendo.


Pressuposto: ele já bebia.

c) Lamento que ele tenha sido demitido.


Pressuposto: ele foi demitido.

d) Antes de meu irmão se casar, ele viajou para a Europa.


Pressuposto: meu irmão se casou.

Nesses enunciados, estamos chamando atenção para a expressão


que ativa a pressuposição, mas podemos, ainda, retomar a leitura
dos mesmos e fazer outras inferências, ativadas pelo nosso

56
Leitura e Produção Textual

conhecimento de mundo, inclusas na categoria do subentendido,


concorda? Veja exemplos:

a) Ele passou a trabalhar. (Pressuposto: ele não


trabalhava antes)

Subentendido: ele pagará suas contas, sem precisar dar


satisfações a ninguém.

b) Ele continua bebendo. (Pressuposto: ele já bebia.)

Subentendido: ele terá problemas de saúde.

c) Lamento que ele tenha sido demitido. (Pressuposto:


ele foi demitido.)

Subentendido: a demissão foi injusta.

d) Antes de meu irmão se casar, ele viajou para a Europa.


(Pressuposto: meu irmão se casou.)

Subentendido: ele quis curtir a vida de solteiro.

Lembre-se de que os subentendidos apresentados


são possíveis leituras, que podem variar de acordo
com o contexto, portanto, não podemos tomar tais
interpretações como “verdadeiras”, diferentemente da
pressuposição, que não pode ser negada por nenhum
leitor.

Para finalizar esta seção, observe como fazemos esses tipos de


inferência em nosso cotidiano:

1) Em um texto publicitário publicado na revista Época


(31/06/2006, p. 64), encontra-se o seguinte enunciado:

PROTEÇÃO PARA A GENTE NÃO É


SÓ SE PREOCUPAR COM AIR BAG .
E SIM COM O AIR DE MANEIRA GERAL.

Unidade 2 57
Universidade do Sul de Santa Catarina

A informação explícita é que a GM possui duas preocupações:


a segurança das pessoas e a preservação do meio ambiente. No
entanto, no nível implícito, há um pressuposto de que as outras
marcas teriam como único diferencial o AIR BAG. Ativamos
esse pressuposto, através da expressão ‘PARA A GENTE
NÃO É SÓ AIR BAG’, o que nos faz inferir que para os
demais concorrentes, apenas o AIR BAG é importante. Além do
pressuposto, podemos acrescentar outras inferências, tais como os
seguintes subentendidos:

a) A GM preocupa-se muito com a vida de seus clientes.

b) A GM quer conquistar um público preocupado com o


meio ambiente.

c) A GM quer montar carros com mais detalhes do que


seus concorrentes etc.

2) Em um texto informativo publicado na Folha Online


(14/11/2006), encontra-se a seguinte chamada:

PASSAGEIROS ENFRENTAM ATRASOS EM VÔOS NO


QUARTO DIA DA NOVA CRISE AÉREA

A informação explícita é que há atrasos nos vôos. Porém,


implicitamente, há um pressuposto de que já houvera crises
antes. Perceba, então, que este recurso da pressuposição tem
a função de relembrar o leitor das notícias anteriormente
publicadas. Ainda, caso o leitor desconheça essa informação,
ele poderá recuperá-la ao acionar este tipo de inferência. Além
disso, o leitor que tem acompanhado as notícias sobre a crise em
questão extrapolará a interpretação, visto que estará munido de
informações contextuais para inferir com subentendidos, por
exemplo:

a) O governo ainda não autorizou a contratação de novos


controladores de vôos.

b) O consumidor continua sendo a vítima.

c) As empresas aéreas não ligam para o consumidor etc.

58
Leitura e Produção Textual

Desse modo, a partir dos conceitos expostos e dos exemplos


comentados, esperamos que você tenha compreendido que,
quando iniciamos esta unidade destacando leitura como um
processo de construção de sentido, estamos assumindo também
que esse processo depende que se alcance o nível implícito dos
textos no ato da leitura.

Atividades de auto-avaliação
1. Leia o texto a seguir e responda as questões subseqüentes. Para
isso, você deve também reler o texto Ela tem alma de pomba, já
estudado na seção 1, percebendo que a interpretação de um texto
requer conhecimentos prévios adquiridos em leituras anteriores.

Que tal desligar a TV?

Brasília – Na minha infância, tínhamos apenas uma televisão em


casa. Quando estragava, o jeito era esperar pelo conserto.Mas não
fazia muita falta. Moleque, gostava mesmo era das brincadeiras
de rua. Também a programação não ajudava muito.

Hoje, com a violência nas ruas, trânsito infernal, drogas, as


crianças acabam ficando mais dentro de casa. Com isso, a TV
ganhou um papel importante no nosso cotidiano. Ainda bem que
agora temos programas educativos e infantis de qualidade.

Mas às vezes dá vontade de desligar o aparelho de TV. Foi a


sensação que tive ao assistir a um comercial de uma montadora
de automóveis dirigido ao público jovem.

Um adolescente chega em casa irritado, num estilo rebelde,


jogando os tênis no meio do quarto. Amuado e desolado, senta na
cama, pensativo. Lembra-se de seus amigos na escola. A maioria
com seus belos carros. Ele não.

Só fica satisfeito quando descobre sobre a cama, uma caixinha.


Dentro, as chaves de um carro novinho em folha. Maravilha de
exemplo esse dado comercial.

Fico pensando nos adolescentes que não têm carro. Todos devem
começar a se sentir no direito de se transformar no mesmo

Unidade 2 59
Universidade do Sul de Santa Catarina

rebelde do comercial. Quem sabe eles não acabam conseguindo


faturar um carro zerinho?

Não fossem os bons programas educativos e infantis, além de um


bom futebolzinho, dá até vontade de seguir o conselho de um
velho amigo. O melhor é não ter televisão dentro de casa. Sobra
mais tempo para ler e conversar.

(Folha de S. Paulo, 3/06/1999)

a) Apresente, de acordo com seu ponto de vista, vantagens e


desvantagens da TV, não informadas pelo autor (mínimo duas).

b) Você considera a TV um auxílio ou um obstáculo à cultura?

c) Quem sustenta economicamente a TV?

2) Verifique se você compreendeu os critérios utilizados no


processo de comparação entre texto literário e não-literário,
destacando as características dos textos a seguir.

60
Leitura e Produção Textual

TEXTO 1

Segundo 85% dos estudantes entrevistados, são dois os motivos


que os levaram cursar a universidade: adquirir formação
específica em alguma área, visando à ascensão profissional no
mercado, e adquirir formação geral para ampliar a capacidade
de interação social e cultural. No entanto, eles afirmam que há
algumas dificuldades no decorrer do processo, sendo a maior
delas a tentativa de conciliar as exigências do trabalho com o
estudo. Nessa “guerra” com o tempo, sentem, por exemplo, que
deveriam ler mais do que têm conseguido. Mesmo assim, não
hesitam em responder que o grande desafio está na superação
desse problema.

(trecho extraído de monografia intitulada A leitura na


universidade, apresentada na UNISUL)

TEXTO 2

(...) Não digo que a Universidade me não tivesse ensinado


alguma; mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o vocabulário. O
esqueleto. Tratei-a como tratei o latim: embolsei três versos
de Virgílio, dois de Horácio, uma dúzia de locuções morais e
políticas, para as despesas da conversação. Tratei-os como tratei a
história e a jurisprudência. Colhi de todas as coisas a fraseologia,
a casca, a ornamentação.....

(trecho extraído de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de


Machado de Assis)

Unidade 2 61
Universidade do Sul de Santa Catarina

3) Identifique os pressupostos dos enunciados a seguir:

a) “O latim morreu, vivas ao latim!” (Revista Língua. Ano 1, nº


4, 2006, p.20)

b) “Insulto não dá mais demissão por justa causa.” (“A justiça do


insulto”. Revista Língua. Ano 1, nº 6, 2006, p.26)

62
Leitura e Produção Textual

c) “Se eu fosse mulher, eu punha arsênico no chá.” (Revista


Língua. Ano 1, nº 6, 2006, p.32)

d) “Se eu fosse marido, eu tomava.” (Revista Língua. Ano 1, nº


6, 2006, p.32)

e) “Gostaria que a palavra ‘ósculo’ voltasse à moda”. (Ana Paula


Arósio em entrevista à Revista Língua, Ano 1, nº 6 , p. 53)

4) Que tipo de inferência podemos fazer da leitura do seguinte


texto:

Fonte: Caco Galhardo – Folha de S. Paulo, 25/11/2006, Caderno Ilustrada, E15.)

Unidade 2 63
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese
Ao término desta unidade, você deve ter aprendido alguns
conceitos acerca de leitura e desenvolvido algumas técnicas de
interpretação de textos. Portanto, lembre-se:

! Ler é construir significados a partir da decodificação de


códigos e da análise contextual.
! Os textos, sob os aspectos aqui abordados, podem ser
classificados em literários e não-literários. Os textos
literários são aqueles que não têm compromisso com a
realidade e podem ser escritos em verso ou prosa, fazendo
uso da linguagem conotativa. Os textos não-literários
são aqueles que, geralmente, procuram transmitir uma
mensagem de modo claro e objetivo, fazendo uso da
linguagem denotativa.
! O ato de ler, independente de o texto ser literário ou não,
leva-nos a fazer inferências, o que se define pela leitura
de informações que se apresentam implícitas.
! As inferências podem ser classificadas em: pressupostos,
quando o texto apresenta expressões que nos levam a
deduzir o que está implícito, e subentendidos, quando
fazemos isso a partir do nosso conhecimento extratexto.
Esses conhecimentos, além de possibilitar a compreensão nas
atividades de leitura, servirão de recursos a serem aplicados nas
atividades de escrita, desenvolvidas a partir da próxima unidade.

64
Leitura e Produção Textual

Saiba mais

Que tal aprofundar seus estudos?

Aqui vão algumas sugestões:

FIORIN, José Luiz. O dito pelo não dito. In: Revista Língua
Portuguesa. Ano 1. No. 6. São Paulo: Ed. Segmento, 2006.

<http://www.revistalingua.com.br>

<http://www.bomjesus.br/publicacoes/pdf/revista_PEC/leitura_
um_desafio_sempre_atual.pdf.>

Sobre o assunto em questão leia: ORLANDI, Eni. Leitura: teoria


e prática. Porto Alegre: Mercado Aberto, ano 3, nº 3, 1984.

Unidade 2 65
3
UNIDADE 3

Texto

Objetivos de aprendizagem

Ao final da unidade você terá subsídios para:

! Compreender as diferenças entre os gêneros textuais.


! Perceber as possibilidades de relações intertextuais.
! Identificar e utilizar os recursos necessários à construção
de sentido do texto.
! Desenvolver a competência textual no que se refere à
habilidade de produção escrita.

Seções de estudo

Nesta unidade você vai estudar os seguintes assuntos:

Seção 1 Tipologia textual.


Seção 2 Polifonia e intertextualidade.

Seção 3 Texto e construção de sentido.


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de conversa


A presente unidade tem como objeto de estudo o texto na
perspectiva da produção escrita. Aqui, você encontrará condições
de estudar o texto, desde sua conceituação, até os elementos
que lhe atribuem sentido, passando por temas essenciais como a
classificação em gêneros e a produção a partir do intertexto.

Lembre-se de que desenvolver a competência textual (leitura


e escrita) é o objetivo da disciplina. Portanto, se na unidade
anterior focamos a sua atenção para a prática de leitura e
interpretação, nesta unidade, esperamos que você se esforce na
prática de produção escrita, uma vez que o desenvolvimento dessa
habilidade requer muito empenho.

A leitura atenta ao conteúdo aqui exposto permitirá que você


realize as atividades de auto-avaliação com sucesso. Trata-se, na
maioria, de atividades de produção textual, às quais esperamos
que você se dedique e nas quais desejamos que você encontre o
prazer da autoria.

Aceite este nosso convite e entenda que escrever é, de fato, um


ato contínuo – de fazer e refazer; construir e reconstruir.

Seção 1 – Tipologia textual


Desde o início da disciplina, você foi convidado à leitura de
vários textos. Na primeira unidade, você se deparou com
exemplos de textos verbais e não-verbais. Na segunda unidade,
você conheceu as especificidades do texto literário, em oposição
ao não-literário, além de ter compreendido que nem todas as
informações encontram-se explícitas nos textos.

Atente para o fato de que tudo o que você tem recebido como
objeto de leitura, independente de sua extensão ou da linguagem
de que é constituído, classifica-se como texto.

Então, como podemos conceituar texto?

68
Leitura de Produção Textual

Comecemos pelas propriedades textuais que podem ser


facilmente observáveis no processo de leitura e que devem ser
consideradas como essenciais no processo de produção de textos
verbais:

a) Um texto não é um aglomerado de frases. Mais do que


isso, as partes devem estar articuladas entre si, compondo
um todo significativo.

b) Todo texto é produzido por um sujeito em um


determinado tempo, em um determinado espaço,
com uma determinada finalidade. Por isso, o texto
revela ideais e concepções de um grupo social de uma
determinada época.

c) Todo texto é escrito, intencionalmente, para um


interlocutor ou um grupo de interlocutores, o que implica
a escolha da estrutura e da linguagem adequada.

Assim, segundo Koch (2006, p.20), texto deve ser conceituado


como “um evento comunicativo, dialógico, no qual convergem
ações lingüísticas, dialógicas e sociais”.

Mas, que eventos são esses? Você já parou para pensar


quais são os textos que o cercam em seu dia-a-dia?
Seriam cartas, anúncios, notícias, avisos, relatórios,
crônicas, manuais de instrução, contratos, bilhetes,
histórias em quadrinho, poemas e tantos outros?

Cada um desses exemplos equivale a um gênero textual, no qual


se agrupam textos com características compartilhadas, como
o objetivo, a forma de apresentação e o público para o qual se
destinam.

Unidade 3 69
Universidade do Sul de Santa Catarina

Pausa para exercitar a teoria


Lembre-se dos textos que você já conhece de sua leitura cotidiana
e tente responder as questões:

1. Quais seriam as características compartilhadas por todos os


textos classificados como notícia?

2. Como você poderia explicar a diferença entre um aviso e um


bilhete?

É importante destacar nesse momento que, segundo Koch (2006),


gêneros são tipos relativamente estáveis de enunciados, marcados
sócio-historicamente, visto que estão diretamente relacionados
às diferentes situações sociais. Não se deve confundir gênero com
as modalidades descritiva, narrativa e argumentativa.

Por exemplo, você pode escrever uma carta usando tanto a


modalidade descritiva (retratando um lugar) quanto a narrativa
(relatando fatos). Da mesma forma, em um relatório, você pode
descrever um ambiente e argumentar sobre as necessidades
de mudança neste ambiente. Logo, você não está produzindo
textos cujos nomes são descrição, narração ou dissertação. Ao
contrário, nas situações imaginadas você está produzindo textos
denominados carta e relatório e, nesses processos de produção,
você pode fazer uso de uma ou mais modalidade de escrita.

70
Leitura de Produção Textual

Pausa para exercitar a teoria


Para finalizar esta seção, apresentamos um quadro com uma
pequena relação de gêneros (segunda coluna), associados ao
contexto de ocorrência (coluna 1). Há algumas lacunas a serem
preenchidas por você, portanto, considere estas duas observações:

a) Perceba que um mesmo gênero textual pode ser


recorrente em diferentes espaços. Por exemplo, a crônica,
por sua variedade (lírica, reflexiva, humorística) enquadra-
se como texto literário, jornalístico, humorístico.

b) Os gêneros textuais não constituem uma lista


definitiva. Novos gêneros surgem em decorrência de
novos propósitos para a utilização da linguagem e de
novas tecnologias.
a) Crônica
1. Textos literários
b) Novela
c) Poema
d) Conto
e)

2. Textos jornalísticos a) Notícia


b) Editorial
c) Artigo de opinião
d) Resenha
e)

a) Resumo
3. Textos acadêmicos
b) Resenha
c) Relatório
d) Artigo
e)

4. Textos empresariais a) Carta


b) Memorando
c) Ata
d) Recibo
e)

7. Textos publicitários a) Anúncio


b)

6. Textos humorísticos a) História em quadrinhos


b) Charge
c) Piada
d)

Unidade 3 71
Universidade do Sul de Santa Catarina

Após a leitura desta seção, em que conceitos e definições sobre


texto e gêneros textuais lhe foram apresentados, cabe a você
produzir seus próprios textos, o que lhe será proposto na seção
auto-avaliação.

SEÇÃO 2 – Polifonia e intertextualidade


Na seção anterior, você estudou que, para a elaboração de um
texto, é necessário definir sua finalidade e seu interlocutor,
classificando-o em um determinado gênero. Você também
observou que os textos têm, além de objetivos específicos,
características e linguagem próprias. Dando seqüência ao estudo
do texto, nesta seção, você estudará as formas como um texto se
relaciona a outro.

Muitas vezes, os enunciados que produzimos, tanto na oralidade


quanto na escrita, não constituem idéias novas, mas uma nova
maneira de dizer aquilo que já nos foi dito, ou seja, uma fusão
de idéias que já assimilamos e que refletem o grupo ao qual
pertencemos. Assim, você, quando discute algum assunto e
pretende convencer seus interlocutores, acaba utilizando de
argumentos já citados por outras pessoas que defenderam a
mesma idéia, concorda?

Não é por acaso que rotulamos as pessoas que não


conhecemos pela observação dos discursos que
proferem.

Fazemos isso, pois percebemos no discurso dessas pessoas um


conjunto de vozes interligadas, como afirma Pêcheux (1990, p. 77):

[...] tal discurso remete a outro, frente ao qual é uma


resposta direta ou indireta, ou do qual ele ‘orquestra’ os
termos principais, ou anula os argumentos. Assim é que
o processo discursivo não tem, de direito, um início: o
discurso se conjuga sempre sobre um discurso prévio [...].

72
Leitura de Produção Textual

Essas vozes percebidas nos discursos, orais ou escritos,


determinam uma das características discursivas,
denominada Polifonia.

Você deve estar pensando: como essas múltiplas vozes


aparecem nos textos? Na verdade, ao produzirmos um
texto, temos duas maneiras de fazer isto: podemos
deixar as vozes implícitas ou podemos trazê-las para a
cena, demarcando-as explicitamente.

A segunda opção, em que claramente se reconhece


um texto no outro, trata-se do que denominamos de
Intertextualidade. Para Koch (1997b, p. 48):

A produção de discursos não acontece no vazio. Ao


contrário, todo discurso se relaciona de alguma forma,
com os que já foram produzidos. Nesse sentido, os
textos, como resultantes da atividade discursiva, estão em
constante e contínua relação uns com os outros. A esta
relação entre o texto produzido e os outros textos é que se
tem chamado de intertextualidade.

Os conceitos de polifonia e intertextualidade são muito próximos.


Então, para que você possa diferenciá-los mais facilmente, retome
o que você já estudou na unidade 2 sobre informações explícitas
e informações implícitas. Fazendo uma associação entre os
dois assuntos, pode-se dizer que na polifonia, o cruzamento de
vozes está implícito, enquanto na intertextualidade, as vozes são
explicitadas. Percebeu a diferença?

Resumindo:
! Polifonia: várias vozes presentes em um mesmo
texto, que falam de perspectivas ou pontos de
vista diferentes.
! Intertextualidade: relação de um texto com
outros textos prévia e efetivamente produzidos.

Unidade 3 73
Universidade do Sul de Santa Catarina

Observe os exemplos a seguir, que devem ajudar você a


compreender melhor esses conceitos:

João não é um traidor. Pelo contrário, tem-se


mostrado um bom amigo.

A expressão “pelo contrário” deveria exercer a função de ligar


idéias opostas. Não é o que acontece de forma explícita, pois
as duas idéias “não ser traidor” e “ser bom amigo” não são
contraditórias. Então, por que o locutor desse enunciado usa a
expressão “pelo contrário”?

Só pode haver uma resposta a esse questionamento: a presença


de “pelo contrário” se justifica como um elemento que liga uma
outra voz – implícita – que afirma “ser João um traidor”, com a
voz do locutor que afirma “ser João um bom amigo”. Nesse caso,
a expressão pelo contrário é um índice da presença de outra voz no
texto, ou seja, de que o texto é polifônico.

SÓ NÃO DÁ BRILHO EM PANELA,


OU SEJA, TEM MIL UTILIDADES.
(anúncio publicitário do papel Report Multiuso)

Nesse caso, para que o leitor compreenda o texto, ele deve


acionar um outro texto anterior, que anunciava a marca Bombril
como “tem mil e uma utilidades”. Temos aí um exemplo de
texto publicitário construído intencionalmente a partir de outro
preexistente, o que caracteriza um trabalho de criação que se vale
da intertextualidade. É claro que, corre-se o risco de o texto
não fazer sentido ao leitor, caso ele desconheça o texto prévio
(Bombril), ao qual este (Multiuso) se refere.

Um pouco mais sobre Intertextualidade


No exemplo do anúncio publicitário, você pode observar a
intertextualidade como um recurso utilizado pelo autor no
processo de elaboração textual. Você também poderá observar

74
Leitura de Produção Textual

essa relação intertextual em outras situações, por exemplo,


quando o autor, ao escrever o seu texto:

a) imita um outro texto já conhecido, o que resulta em


uma paródia;

b) segue a mesma orientação argumentativa de outro


texto, tentando explorar a semelhança entre ambos;

c) incorpora o intertexto para ridicularizá-lo,


explorando a diferença entre ambos.

É importante destacar que, nesses casos, a intertextualidade


é um recurso fundamental na elaboração dos textos.
Mesmo assim, será sempre uma opção do autor
produzir ou não produzir textos valendo-se desse
recurso.

No entanto, há situações em que, de fato, você deverá fazer


referência a outros textos. Por exemplo, para a realização de um
trabalho científico, em que delimitamos um tema como objeto
de estudo e, a partir daí, fazemos diversas leituras do que já foi
publicado sobre esse tema, bem como leituras de outros temas
que podem nos auxiliar no desenvolvimento e na explanação de
nossas idéias.

É a leitura de outros autores que possibilita a fundamentação


teórica do trabalho. Desse modo, devemos sempre fazer
referências precisas às idéias desses autores, isto é, citar a fonte
(livro, revista e todo tipo de material produzido gráfica ou
eletronicamente) de onde são extraídos os dados de que nos
utilizamos em nossos textos.

As citações também são exemplos de intertextualidade explícita e


podem ser:

! Diretas, quando se referem à transcrição literal de uma


parte do texto de um autor, conservando-se a grafia, a
pontuação, o idioma etc.

Unidade 3 75
Universidade do Sul de Santa Catarina

Nesse mundo voltado para a linguagem, a quantidade


de estímulos e informações é cada vez maior.
Os jovens experimentam uma empatia feita não só
de facilidade para relacionar-se com as tecnologias
audiovisuais e informáticas, mas também de
cumplicidade expressiva: é em seus relatos e imagens,
em suas sonoridades, fragmentações e velocidades
que eles encontram o seu idioma e seu ritmo (MARTÍN
BARBERO, 1998, p.58).

! Indiretas, quando são redigidas pelo autor do trabalho a


partir das idéias e contribuições de outro autor. Portanto,
consistem na reprodução do conteúdo do documento
original, com a utilização de uma linguagem própria.

Para Raskin (1985), o humor depende de vários


fatores, tais como: o estímulo, a experiência do
interlocutor e seu estado psicológico momentâneo, o
contexto situacional e a sociedade. Este último item
é considerado como relevante na produção do riso,
pois o humor é compartilhado por membros de um
determinado grupo social, em uma certa cultura, com
seus valores, crenças, normas etc.

— Após a leitura desta seção, que tal uma atividade prática?

Pausa para exercitar a teoria

A seguir, você lerá trechos da crônica Ser brotinho de Paulo


Mendes Campos. Observe como o autor, em uma linguagem
cotidiana, define algumas das caracterísitcas inerentes às jovens
da década de sessenta. Considerando o conceito de
intertextualidade, escreva uma crônica, a partir da leitura deste
texto, em que você possa retratar (o/a) jovem de nossa década.

[...] ser brotinho é ainda possuir vitrola própria e perambular


pelas ruas do bairro com um ar sonso-vagoso, abraçada a uma
porção de elepês coloridos. É dizer a palavra feia precisamente no
instante em que essa palavra se faz imprescindível e tão inteligente

76
Leitura de Produção Textual

e natural. É também falar legal e bárbaro com um timbre tão por


cima das vãs agitações humanas, uma inflexão tão certa de que
tudo neste mundo passa depressa e não tem a menor importância.
[...] É ainda ser brotinho chegar em casa ensopada de chuva,
úmida camélia, e dizer para a mãe que veio andando devagar para
molhar-se mais. É ir sempre ao cinema, mas com um jeito de
quem não espera mais nada desta vida. É ter uma vez bebido dois
gins, quatro uísques, cinco taças de champanha e uma de cinzano
sem sentir nada, mas ter outra vez bebido só um cálice de vinho
do Porto e ter dado um vexame modelo grande. É o dom de falar
sobre futebol e política como se o presente fosse passado, e vice-
versa. Ser brotinho á atravessar de ponta a ponta o salão da festa
com uma indiferença mortal pelas mulheres presentes e ausentes.
Ter estudado ballet e desistido. [...] Ser brotinho é adorar. Adorar o
impossível. Ser brotinho é detestar. Detestar o possível. É acordar
ao meio-dia com uma cara horrível, comer somente e lentamente
uma fruta meio verde, e ficar de pijama telefonando até a hora
do jantar, e não jantar, e ir devorar um sanduíche americano na
esquina, tão estranha é a vida sobre a Terra.

(Paulo Mendes Campos, Ser brotinho. In: Para Gostar de Ler


– Crônicas 5. São Paulo: Ática, 2002)

Seção 3 – Texto e construção de sentido


Para dar início a esta seção e compreender o objetivo aqui
proposto, é interessante recapitular os pontos essenciais
abordados nas seções anteriores.

Na primeira seção, você teve a oportunidade de


estudar o texto em uma perspectiva bem ampla, o
que inclui o próprio conceito de texto e como eles se
configuram. Assim, você observou que os diversos
textos com os quais você “convive” cotidianamente
em sua vida pessoal, acadêmica e profissional
constituem os gêneros do discurso.

Na segunda seção, você se deparou com uma questão


bem relevante em relação à produção de um texto:
um texto nasce a partir de outro, ou porque retoma, mesmo

Unidade 3 77
Universidade do Sul de Santa Catarina

que implicitamente, a idéia do outro, ou porque se constrói pela


referência explícita ao outro.

Neste sentido, podemos concluir que as duas seções permitiram


que você olhasse para o texto como um todo, localizando-o
dentro da proposta de gêneros e verificando a sua relação com
outros textos.

Diferentemente, esta seção possibilitará que você olhe para dentro


do texto, para as partes que o compõem, de forma específica, para
os parágrafos e para os períodos que os compõem, observando os
elementos lingüísticos responsáveis pela construção de sentido no
texto.

Assim, independente do gênero que você pretenda produzir


- carta, relatório, resenha, conto, memorando, resumo etc -, se
pretende fazer uso da modalidade padrão da língua, o que é
exigido na maioria dos textos escritos, alguns aspectos devem ser
considerados.

Portanto, o objetivo desta seção é propiciar a você o


conhecimento dos recursos lingüísticos responsáveis
pela construção de sentido no texto e, por outro lado, o
reconhecimento das estruturas inadequadas à modalidade padrão.
Veja cada um desses recursos lingüísticos a seguir.

1. Coerência
Um texto é coerente quando apresenta idéias organizadas
e argumentos relacionados em seqüência lógica, de forma a
permitir que o leitor chegue às conclusões desejadas pelo autor.
Assim, um texto coerente deve satisfazer a quatro critérios
básicos:

! A continuidade: diz respeito à necessária retomada


de elementos no decorrer do discurso. Tem a ver com
a unidade temática do texto. Uma seqüência de temas
diferentes a cada parágrafo não será aceita como texto.
! A progressão: o texto deve retomar seus elementos
conceituais e formais, mas não pode se limitar a essa
repetição. É preciso que apresente novas informações a
propósito dos elementos retomados.

78
Leitura de Produção Textual

! A não-contradição: as ocorrências presentes no texto


não podem se contradizer, devem ser compatíveis entre si
e com o mundo ao qual o texto representa.
! A articulação: refere-se à maneira como os fatos e os
conceitos apresentados no texto se encadeiam, como se
organizam, que papéis e valores exercem uns com relação
aos outros.

A escolha da profissão não é um ato simples, ao qual se


possa chegar sem hesitações e dúvidas. Entretanto, esse
momento deve ser respeitado pelos pais.

Neste caso, o que fere a coerência é a contradição


existente entre os dois períodos. Vamos analisar a
relação entre esses períodos do seguinte modo:
! Idéia A: “a escolha da profissão é um ato difícil”
! Idéia B: “o momento da escolha da profissão deve
ser respeitado pelos pais”
Perceba que as idéias A e B não se contradizem,
pelo contrário, B é conseqüência de A. Porém, no
texto, as idéias A e B estão associadas pelo conectivo
“Entretanto”, cuja função é ligar idéias opostas.
Estabelece-se, então, a contradição: o leitor sabe que não
há oposição entre os sentidos de A e B, mas é “forçado”,
diante do conectivo “entretanto”, a fazer tal leitura.
Onde está o problema? Na escolha do conectivo.
O equívoco do autor se resume em ter utilizado
um conectivo de oposição, enquanto pretendia
estabelecer idéia de conclusão. Para desfazer a
contradição e dar coerência ao texto, basta substituir
“entretanto” por algumas opções como: portanto,
logo, desse modo, assim.

Vamos analisar mais um caso de incoerência?

Observe este texto:


Meu filho não estuda na UNISUL. Ele não sabe que a
primeira Universidade do mundo românico foi a de
Bolonha. Essa universidade possui um imenso espaço
verde.

Unidade 3 79
Universidade do Sul de Santa Catarina

Uma seqüência de três períodos sobre o mesmo assunto


– universidade – não implica necessariamente um texto coerente.
Neste exemplo, o que ocorre é a falta de continuidade, pois o
autor provoca uma ruptura ao se referir a diferentes universidades
sem a mínima relação estabelecida entre elas.

Fique atento!
É fácil perceber que não há coerência nos exemplos anteriores.
No entanto, muitas vezes, você conseguirá detectar esse problema
em textos produzidos por outras pessoas, sem perceber que
o mesmo ocorre em seus textos. Portanto, sempre releia com
atenção seu texto, antes de enviá-lo aos leitores.

Para finalizar esse item, acompanhe a definição apresentada por


Fávero: “A coerência refere-se aos modos como os componentes
do universo textual, isto é, os conceitos e as relações subjacentes
ao texto de superfície, se unem numa configuração de maneira
reciprocamente acessível e relevante (2004, p. 10).

2. Coesão
Um texto é coeso quando suas partes estão estruturalmente bem
organizadas. Os elementos de coesão são os conectores existentes
entre as palavras, as orações, os períodos ou os parágrafos, que
garantem a ligação entre as idéias.

São também os recursos de referenciação, aqueles que


possibilitam a retomada das palavras no texto, sem repeti-las.

Observe nos exemplos a seguir como alguns recursos lingüísticos


contribuem para a coesão textual:

a) O presidente chegará amanhã ao Estado de Tocantins,


onde ele participará de uma reunião com os líderes do MST.

b) A acadêmica fez a apresentação de seu trabalho.

c) O juiz olhou para o auditório. Ali estavam os parentes


e amigos do réu, aguardando ansiosos o veredicto final.

Perceba que, no enunciado (a), “onde” está associado a Tocantins


e “ele” a presidente. Em (b), “seu” faz referência à acadêmica e,
em (c), “ali” remete a auditório. Em todos esses exemplos, os

80
Leitura de Produção Textual

itens destacados são os recursos de ordem gramatical que fazem


referência a termos já citados no enunciado.

Trata-se da referenciação, ou seja, um processo


por meio do qual se retoma uma palavra ou uma
expressão, a fim de se evitar a repetição.

Além desses recursos de referenciação, há outras possibilidades


de se evitar a repetição de termos. Podemos, além de retomar
nomes com pronomes, fazer uso da substituição vocabular e da
elipse. Dando seqüência aos exemplos, temos:

d) Todos queriam que o aluno participasse da pesquisa,


mas, por ser um acadêmico de primeira fase, seu projeto
não foi aceito.

e) Os vereadores deveriam aprovar o projeto. No entanto,


não participaram da reunião.

Em (d), temos a substituição do termo “aluno” por “acadêmico”,


o que caracteriza um caso de substituição vocabular. No
enunciado (e), há um vazio na posição indicada antes do
verbo, mas sabemos que o ato de não comparecer está ligado a
“vereadores”. Logo, o termo “vereadores” é retomado de forma
implícita, pois não está expresso, e esse recurso de omissão de
palavras é definido como elipse.

— Não se preocupe com as nomenclaturas utilizadas, pois o que


é importante no estudo sobre coesão é que você consiga perceber
como os períodos devem ser estruturados e usar os recursos até aqui
demonstrados em seus próprios textos!

“Podemos conceituar coesão como o fenômeno que


diz respeito ao modo como os elementos lingüísticos
presentes na superfície textual se encontram
interligados”. (KOCH, 1997b, p. 35).

Importante: em alguns casos, coerência e coesão podem ser


dois aspectos interligados, assim, quando o enunciado está mal
estruturado, o sentido se altera.

Unidade 3 81
Universidade do Sul de Santa Catarina

Observe um exemplo em que o texto sofre de ambos os


problemas:

Como todos estavam decididos a votar contra a


alteração da data.

Tem-se aí um caso de enunciado com sentido incompleto. A


pergunta que se faz é: Como todos estão decididos a isso, o que
acontecerá? Falta coesão, pois falta articular uma última parte
a essa idéia. Também falta coerência, uma vez que não se
completou a idéia.

Já em outros casos, a falta de elementos coesivos não perturba a


coerência do texto.

Observe este exemplo dado em Fávero (2004):

Luiz Paulo estuda na Cultura Inglesa.


Fernanda vai todas as tardes no laboratório de física
do colégio.
Mariana fez 75 pontos na FUVEST.
Todos os meus filhos são estudiosos.

O texto está destituído dos elementos de coesão, ou seja, não há


elementos de ligação, mas há coerência, pois o último período
justifica os anteriores, atribuindo sentido ao todo.

Algumas vezes, ao contrário deste último exemplo, temos


situações em que os elementos coesivos não acarretem coerência
ao texto. Repare:

Maria está na cozinha. Lá os azulejos são brancos.


Também o leite é branco.

Apesar de haver os elementos de referência lá e também, não há


relação de sentido entre as partes.

82
Leitura de Produção Textual

Falar de coerência e coesão como mecanismos de construção


de sentido do texto levou-nos a falar em vários momentos sobre
elementos de ligação, o que equivale a falar em conectivos.

É de fundamental importância que você saiba fazer


uso dos conectivos em seus textos, pois são eles os
elementos responsáveis pelo encadeamento lógico
das idéias, o que justifica denominá-los de conectores
argumentativos.

Veja, a seguir, uma tabela organizada por grupos de conectores


com suas funções textuais.

3. Uso de conectores argumentativos

Para Para Para Para Para


Para apresentar
estabelecer estabelecer apresentar estabelecer estabelecer
CONCLUSÃO
idéia de idéia de EXPLICAÇÃO uma uma
OPOSIÇÃO ADIÇÃO CONSEQÜÊNCIA CONDIÇÃO COMPARAÇÃO
/CAUSA

MAS E PORQUE LOGO SE DE UM LADO


PORÉM NEM JÁ QUE PORTANTO CASO POR OUTRO
NÃO SÓ...
TODAVIA VISTO QUE ENTÃO CONTANTO ENQUANTO
MAS TAMBÉM
CONTUDO COMO ASSIM DESDE QUE COMO
NO ENTANTO POIS DESSE MODO MAIS (DO) QUE
ENTRETANTO PORQUANTO POIS MENOS (DO) QUE
EMBORA UMA VEZ QUE POR CONSEGUINTE
MESMO POR ISSO
APESAR DE DE FORMA QUE
AINDA QUE
NÃO OBSTANTE

Unidade 3 83
Universidade do Sul de Santa Catarina

Observe como podemos conectar várias idéias em um único


período, utilizando os recursos da tabela. Em princípio, temos
um aglomerado de frases desconectadas:

! As mulheres sempre lutaram pelos seus direitos.


! Em muitas empresas, os homens continuam ganhando
mais que as mulheres.
! Ainda há muita discriminação em relação às mulheres.
As possibilidades de se elaborar um período coeso e coerente
podem ser muitas. Eis dois exemplos:

As mulheres sempre lutaram pelos seus direitos, mas


ainda há muita discriminação em relação a elas, pois
os homens, em muitas empresas, ainda ganham mais.
“Mas”: estabelece relação de sentido entre idéias
opostas.
“Pois”: introduz uma explicação para idéia anterior.
“Elas”: retoma mulheres, evitando repetição do termo.

Em muitas empresas, os homens continuam


ganhando mais que as mulheres, o que indica haver
ainda muita discriminação em relação a elas, apesar
de sempre terem lutado pelos seus direitos.

! “Elas”: retoma mulheres, evitando repetição do termo.

!“Apesar de”: estabelece relação de sentido entre idéias


opostas.

O conteúdo estudado nesta seção deve ser aplicado no momento


em que você produzir seus textos. Por isso, é importante
exercitar a prática da escrita a partir da construção de pequenos
parágrafos, como propomos na seguinte atividade.

84
Leitura de Produção Textual

Pausa para exercitar a teoria


Seguindo o exemplo anterior, escolha uma das propostas e una os
enunciados em um só período. Não se esqueça dos elementos de
ligação e procure evitar repetições.

Atividade 1:

! A terapia do eletrochoque está de volta.


! A terapia do eletrochoque foi criada no início do século
XX para tratar esquizofrenia e histeria.
! Um estudo da Universidade de Saint Louis acaba de
mostrar uma versão light da terapia.
! O estudo mostra que a técnica pode dar bons resultados
no tratamento de depressão severa.
Escreva sua resposta aqui:

Atividade 2:

! O filme Separados pelo Casamento estreou bem nas


bilheterias americanas.
! O filme recebeu algumas críticas maldosas.
! O críticos disseram que o casal de atores não tem a
mesma química demonstrada por Brad Pitt e Angelina
Jolie em Sr. E Sra. Smith.
! Separados pelo Casamento tem como protagonista um casal
interpretado por Jennifer Aniston e Vince Vaughn.
Escreva sua resposta aqui:

Unidade 3 85
Universidade do Sul de Santa Catarina

Agora que você já estudou sobre os recursos que contribuem


para a construção de sentido do texto, apresentaremos, como
finalização desta unidade, alguns dos problemas mais recorrentes
e que devem ser evitados quando se pretende produzir textos
objetivos e adequados à língua padrão.

Esclarecendo um pouco mais, em cada item, apresentaremos


uma definição do problema, seguida de exemplo e proposta de
reformulação do enunciado.

Queísmo
Trata-se do uso excessivo da palavra que nos momentos de ligação
entre as orações.

O diretor determinou que a reunião que foi marcada


para a semana que vem terá que ser adiada.
O diretor determinou que a reunião marcada para a
próxima semana deve ser adiada.

Imprecisão seqüencial

Trata-se do uso de uma palavra de forma indevida, pois seu


sentido não é adequado ao contexto.

Dessa forma, com transigência e diálogo, os


indivíduos discriminados pelo grupo passam a ser
assimilados.
(... passam a ser aceitos. Nós podemos assimilar
conhecimento, mas não indivíduo.)

86
Leitura de Produção Textual

Paralelismo
Consiste em apresentar idéias similares em uma forma gramatical
idêntica. Trata-se da manutenção do mesmo critério gramatical
no decorrer do período. O problema que se observa nos textos,
em geral, é a falta de paralelismo.

Em público, ele demonstra insociabilidade, ser irritável,


desconfiança e não ter segurança.
(Em público, ele demonstra insociabilidade,
irritabilidade, desconfiança e insegurança.)

Ambigüidade
Possuem ambigüidade as palavras, as expressões ou os períodos
com mais de um sentido. A ambigüidade pode ser estrutural,
lexical ou de referência.

! Estrutural: quando a duplicidade de sentido ocorre em


função da organização da frase.

O garoto viu o incêndio do prédio.


Há duas possibilidades de leitura: o garoto viu um
incêndio que ocorreu no prédio, ou o garoto estava no
prédio e, de lá, viu um incêndio.

! Lexical: quando a duplicidade de sentido ocorre em função


de um próprio item lexical já possuir mais de um sentido.

Eu o vi no banco.
Sem o contexto, não podemos saber se o enunciado
se refere a um banco de praça, ou a uma instituição
financeira.

! De referência: quando não fica definido qual é o nome


que um pronome deve retomar.

Unidade 3 87
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os alunos disseram aos professores que todos eles


deveriam ser responsabilizados pelo fato.

Há uma tentativa de usar os pronomes todos eles para fazer


referência a um termo anterior, no entanto, não sabemos se eles
se refere a alunos ou a professores.

Importante!

Estamos listando ambigüidade como algo que deve ser evitado


nos textos. No entanto, cabe um comentário: a ambigüidade
é um problema em textos técnicos, científicos, empresariais,
jurídicos, ou seja, textos informativos em geral, que exigem
clareza e objetividade.

Em outras situações, como em textos humorísticos ou


publicitários, a ambigüidade passa a ser um recurso usado de
forma intencional. Vejamos, por exemplo, uma piada:

Marido 1 – Como você ousa dizer palavrões na frente


da minha esposa?
Marido 2 – Por quê? Era a vez dela?

Nesse caso, o sentido de humor se constrói exatamente pela


ambigüidade. O leitor deve, inicialmente, interpretar na frente
como marcador de espaço para depois perceber que o sentido
desejado da expressão na frente é como marcador de tempo.

Finalizando esta unidade, reiteramos que a importância dos


assuntos aqui abordados será percebida nos momentos em que
você realizar as atividades de escrita. Portanto, fique sempre
atento (a) ao gênero textual que pretende produzir, às referências
necessárias e faça bom uso dos conectores argumentativos,
responsáveis pelo encadeamento lógico do texto. Além disso,
evite os queísmos, os coloquialismos e a falta de paralelismo...
Quanto “ismo”!

— Agora, é com você. Aproveite as atividades de auto-avaliação.

88
Leitura de Produção Textual

Síntese

Nesta unidade, você estudou o processo de elaboração textual e


deve ter compreendido que:

! Cada texto diferente utilizado pelos interlocutores


corresponde a um gênero textual específico, isto é, possui
finalidade, estrutura e linguagem própria.Desse modo,
você deve ter percebido a diferença entre bilhete, carta,
crônica, anúncio, charge etc.;
! Muitas vezes, um texto remete a outro. Isso ocorre de
forma explícita, quando, intencionalmente, citamos
um texto anterior (por meio de referência), ou quando
fazemos uma paródia ou uma recriação de um texto
já conhecido. Trata-se da intertextualidade. Também
é possível reconhecer outras vozes presentes em um
texto, mesmo que de forma implícita, característica esta
denominada de polifonia;
! Independente do gênero textual a ser elaborado, algumas
características são necessárias para que o texto possa ser
compreendido pelos seus interlocutores. Para tal, faz-se
necessário cuidar para que o texto contenha as seguintes
características:
a) coerência: organização lógica das idéias;

b) coesão: períodos gramaticalmente completos.

Além disso, fique atento para não cometer alguns erros bastante
comuns:

a) queísmo: uso excessivo da palavra “que”;

b) imprecisão seqüencial: uso de palavra inadequada ao


contexto;

c) falta de paralelismo: uso de diferentes critérios


gramaticais em um mesmo período;

d) ambigüidade: uso de palavra, expressão ou período


com mais de um sentido.

Unidade 3 89
Universidade do Sul de Santa Catarina

Esperamos que, com o estudo desta unidade, você tenha


sido estimulado à prática de escrita, ponto fundamental ao
desenvolvimento da próxima unidade.

Atividades de auto-avaliação

1. Observando, nos textos a seguir, critérios como objetivo, estrutura,


linguagem e interlocutor, como você os classificaria em relação a
gênero?

TEXTO 1
AS CIVILIZAÇÕES
As civilizações desabam
Por implosão...
Depois,
Como um filme passando às avessas
Elas se erguem em câmera lenta do chão.
Não há de ser nada...
Os arqueólogos esperam, pacientemente,
A sua ocasião!
(Mário Quintana)

TEXTO 2
VIVA AS DIFERENÇAS
“A campanha ‘A vida não tem regras. Siga as suas’, de Marie Claire, é
oportuna e atual. Adorei o anúncio que fala de casamento. Atitudes
assim contribuem para o fortalecimento da cidadania de todas as
pessoas.” J. P. C. Brasília, DF.

TEXTO 3
Amor, estou no cinema. Volto antes das 11:00. Tem pizza no forno. Beijo.

90
Leitura de Produção Textual

TEXTO 4
TROQUE SEM DÓ.
EX-CERVEJA NÃO PEDE PENSÃO.
NOVA SCHIN

TEXTO 5
PAI NÃO ENTENDE NADA
- Um biquíni novo?
- É, pai.
- Você comprou no ano passado!
- Não serve mais, pai. Eu cresci.
- Como não serve? No ano passado você tinha 14 anos, este ano tem 15.
Não cresceu tanto assim.
- Não serve, pai.
- Está bem. Toma o dinheiro. Compra um biquíni maior.
- Maior não, pai. Menor.
Aquele pai, também, não entendia nada.
(Luís Fernando Veríssimo)

TEXTO 6
Ocorreu, na semana passada, em Brasília, a Primeira Conferência Nacional
dos Povos Indígenas. Os índios participantes da conferência levaram à
mesa de discussão uma polêmica pauta com mais de mil reivindicações,
que incluía a criação de uma universidade federal indígena.

Escreva aqui suas respostas:

Texto 1:

Unidade 3 91
Universidade do Sul de Santa Catarina

Texto 2:

Texto 3:

Texto 4:

Texto 5:

Texto 6:

2. Propomos que você escreva três diferentes textos sobre um mesmo


tema. Procure assumir um posicionamento sobre a seguinte questão:
A TV exerce influência negativa na educação infantil? Tendo clara a sua
opinião, deixe-a expressa em três dos cinco gêneros textuais propostos:
a) Escreva uma carta a um diretor de emissora de TV,
convencendo-o da necessidade de mudanças na programação
direcionada às crianças. Caso você não tenha críticas a fazer,
ou seja, caso você não concorde que a influência da TV seja
negativa, sua carta deve ser dirigida aos pais ou professores
da educação infantil, defendendo a programação televisiva e
sugerindo a utilização da mesma no processo de educação.

92
Leitura de Produção Textual

b) Invente um fato ligado ao tema e escreva uma notícia para um


jornal ou revista (impresso ou eletrônico).
c) Você é o responsável pela divulgação dos programas de
uma emissora. Faça um texto para a propaganda favorável à
programação infantil, especificando o conteúdo e a qualidade de
tal programação.
d) Faça um convite para uma palestra sobre o tema.
e) Suponha que você vá fazer uma pesquisa sobre o tema e
decida usar a entrevista como um método para obtenção de
dados. Elabore o roteiro da entrevista.

3. Construa um período, associando os enunciados a seguir. Não se


esqueça: para que seu texto fique coerente e coeso, utilize elementos
de ligação e evite as repetições desnecessárias.
! José Wilker é um dos ícones das artes dramáticas no Brasil.
! José Wilker fez 42 filmes e 31 novelas.
! José Wilker interpretou JK.

! José Wilker se diz um admirador do ex-presidente JK.

4. Considerando o que você estudou na Seção 3, propomos alguns


exercícios que vão exigir de você uma atenta observação dos
enunciados, para que possa reescrevê-los, adequando-os à norma
culta. Então, vamos praticar? Faça as devidas correções:
a) Espero que você me telefone para que possamos discutir
as alterações que foram introduzidas no projeto sem que nós
autorizássemos.
b) Os garotos acusados como responsáveis pelo acidente dão
exemplo de bom comportamento, todavia realizam trabalhos
voluntários em hospitais.
c) As etapas previstas para o trabalho são o levantamento das
famílias necessitadas, o cadastramento dos membros dessas
famílias e distribuir o material para que possam construir suas
casas.
d) Os movimentos ultranacionalistas não estão enterrados na
Alemanha. Os símbolos nazistas, em tese, são proibidos, logo
podem ser vistos em encontros de membros do Partido Nacional
Democrata, de extrema direita.
e) O professor esperava que o orientando entregasse o seu
relatório ao coordenador.

Unidade 3 93
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Acesse o site http://www.releituras.com/pmcampos_bio.asp e leia


a Biografia de Paulo Mendes Campos. Ele é o autor do texto da
atividade de auto-avaliação do EVA nesta unidade. Aproveite e
conheça também alguns de seus textos.

94
4
UNIDADE 4

Textos acadêmicos

Objetivos de aprendizagem

Ao final da unidade, você terá subsídios para:

! Identificar alguns dos gêneros textuais que circulam no


ambiente acadêmico, como resumo, resenha e relatório.
! Utilizar os recursos necessários à confecção do trabalho
acadêmico.
! Desenvolver a habilidade de produção escrita de textos
acadêmicos.

Seções de estudo

Nesta unidade você vai estudar os seguintes assuntos:

Seção 1 Resumo.
Seção 2 Resenha.
Seção 3 Relatório.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de conversa


Na unidade anterior, apresentamos, de forma ampla, diversos
gêneros textuais e você deve ter identificado, entre eles, aqueles
aos quais tem mais acesso em seu cotidiano. Nesta unidade,
faremos um recorte, focalizando os textos de fundamental
importância no decorrer de sua vida acadêmica, tais como:
resumo, resenha e relatório.

Não se trata de uma apresentação exaustiva de todos os tipos de


resumo, resenha ou relatório, tampouco uma abordagem para o
ensino das normas de estruturação e formatação dos textos. Essas
informações você encontrará nas referências indicadas na seção
Saiba mais. Trata-se de propor uma leitura desses textos, para
que você perceba o processo de elaboração textual, incluindo a
observação de aspectos como a finalidade de cada um deles (o
que inclusive os diferencia em categorias - gêneros) e a linguagem
utilizada. Aprender a redigi-los é uma tarefa para a qual você
constantemente será desafiado no processo de aprendizagem das
demais disciplinas do seu curso.

Seção 1 – Resumo
No seu dia-a-dia, muitas vezes, você é levado a contar ou registrar,
de maneira informal, o que você vê, ouve ou lê. Isso ocorre quando
você, por exemplo, conta um filme, faz anotações relevantes sobre
uma palestra ou aula, seleciona aspectos centrais de um texto
que esteja estudando etc. Nessas atividades, aparentemente tão
corriqueiras, você exercita sua capacidade de síntese, exigida na
elaboração de alguns textos, entre eles, o resumo.

Faça um teste: procure se lembrar de um filme que


tenha visto recentemente e, em seguida, experimente
contar o enredo dele em voz alta. Você percebe que,
ao fazer isso, pula alguns detalhes, contando apenas
o que julga essencial? Ótimo, pois, desse modo,
podemos definir resumo como uma apresentação
seletiva, em que destacamos os aspectos que
julgamos mais interessantes e/ou importantes.

96
Leitura de Produção Textual

Além das situações apresentadas, há outros momentos em que


você é levado a ler alguns textos que já lhe são apresentados de
forma sintetizada. Isso ocorre quando, por exemplo, você lê a
sinopse de um filme ou de capítulos de novela, a quarta capa
(parte posterior, externa) de um livro etc. Observe:

Quarteto Fantástico (2005)


! Sinopse: Um desastre atinge uma nave espacial, fazendo
com que seus quatro tripulantes sofram modificações em seu
organismo de forma a ganharem poderes especiais. Reed
Richards (Ioan Gruff udd), o líder do grupo, passa a ter a
capacidade de esticar seu corpo feito borracha. Sue Storm (Jessica
Alba), sua ex-namorada, ganha poderes que a permitem ficar
invisível e criar campos de força. Johnny Storm (Chris Evans),
irmão de Sue, pode aumentar o calor do seu corpo, enquanto
que Ben Grimm (Michael Chiklis) tem seu corpo transformado
em pedra e ganha uma força sobre-humana. Ao retornar à Terra
após o acidente logo os novos poderes começam a se manifestar,
fazendo com que todos tenham que se adaptar a eles e também à
condição de celebridades que os poderes lhes trazem.

(Fonte: <http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/quarteto-fantastico/quarteto-fantastico.asp>)

Nesse caso, temos a sinopse de um filme, cuja finalidade é


possibilitar ao leitor a informação rápida de aspectos importantes
como enredo, personagens, elenco a fim de que possa optar por
assistir ou não a esse filme. Você já deve ter realizado a leitura de
textos como esse publicados em jornais ou na internet.

Logo, o resumo não é um texto que deva lhe causar


estranheza, o que nos leva a acreditar que não é
difícil estudar a importância deste gênero textual no
universo acadêmico.

Unidade 4 97
Universidade do Sul de Santa Catarina

Apresentamos, a seguir, as funções do resumo:

1. Em algumas situações de estudo, você deverá produzir um


resumo de filme, livro, capítulo de livro ou texto, quando será
avaliado quanto à sua capacidade de compreensão da idéia
expressa pelo autor e quanto à sua capacidade de síntese.

Este livro retrata a história de um grupo de crianças


órfãs, que vivia nas ruas da cidade da Bahia. Eram um
grupo de meninos, conhecidos por todos como os
“capitães da areia”, viviam num trapiche abandonado,
perto da praia e ocupavam os seus dias a tentar
arranjar o que comer ou o que vestir, tendo muitas
vezes que roubar para o conseguir. A maioria dos
habitantes da cidade rejeitava-os e desprezava-os,
devido à sua fama de ladrões e rapazes conflituosos.
Contudo e apesar de por vezes terem determinadas
atitudes, estes rapazes eram simples crianças,
meninos, que por circunstâncias da vida foram
obrigados a viver sozinhos, a saber que só poderiam
contar com eles próprios para sobreviver. Muitas
vezes as suas atitudes eram justificadas pela carência
de amor e afeto que tinham, uns porque tinham
sido abandonados pelas mães, outros porque nunca
as tinham conhecido. No entanto nenhum deles
desejava ir para um orfanato, pois sabiam o valor da
palavra liberdade, e não a trocavam por nada.
Ao longo do livro vão sendo retratados vários
episódios e peripécias da vida destas crianças, e
apesar de todos eles viverem em condições tão
precárias, todos eram motivados por um sonho que
gostariam de alcançar.

Fonte: Amado, Jorge. Capitães de areia. In: http://pt.wikipedia.org/wiki/


Capit%C3%A3es_da_areia.

2. Em outras situações, você deverá produzir outros gêneros,


como artigo, monografia, e apresentará um resumo que indique
ao leitor o que ele encontrará em seu texto. Trata-se de um gênero
– resumo – inserido em outro gênero – artigo ou monografia.

98
Leitura de Produção Textual

Observe o texto a seguir, como exemplo de resumo obrigatório


antes do início do texto no artigo científico:

O texto da publicidade visa a um contexto


comunicativo que se realiza nos domínios da
persuasão, e esta se traduz na relação texto-contexto
e na força argumentativa da palavra. Logo, este artigo
faz uma reflexão acerca da linguagem publicitária,
ressaltando os enfoques pragmático e argumentativo
em que esse tipo de texto se revela.

Nunes, Marcia Volpato Meurer. Pragmático e argumentativo: os enfoques


da publicidade. In: Palavra, Tubarão, v.1, n. 1, p. 91-101, jan./jun. 2002

Quanto à classificação, segundo a NBR 6028 (apud ALMEIDA


& PEREIRA, 2002), os resumos podem ser:

a) Informativo: com uma estrutura mais completa, este resumo


deve trazer informações acerca da finalidade, da metodologia, dos
resultados e das conclusões a que o texto chega.

b) Indicativo: estruturado de modo mais simples, este resumo


deve enfocar apenas as partes mais relevantes do texto, como a
importância, a finalidade e os conteúdos abordados.

Independente do tipo de resumo que você pretende fazer, cabe


estar atento às seguintes orientações:

! em uma primeira leitura, procure captar a temática e o


objetivo do texto;
! em uma segunda leitura, preocupe-se em perceber como
o autor desenvolve as idéias principais do texto, logo
procure descobrir como ele as organiza e de que recursos
se utiliza, tais como: provas, exemplos, dados etc, que
servem como explicação, discussão e demonstração da
proposição original (idéia principal);
! a seguir, volte a ler o trabalho, destacando – através de
grifos ou marcas – as idéias centrais;
! por fim, reescreva (com suas palavras) essas idéias
destacadas, articulando-as.

Unidade 4 99
Universidade do Sul de Santa Catarina

É importante observar que no resumo você não opina, ou seja,


você deve manter a proposta original do autor; ao contrário do
que se espera na elaboração da resenha, que será estudada na
próxima seção.

Seção 2 – Resenha
Para dar início a esta seção, é importante chamar a atenção
para as diferentes nomenclaturas atribuídas à resenha. Assim,
pautando-se na comparação com o resumo, na literatura acerca
do tema, encontramos as seguintes oposições:

! resumo crítico X resumo;


! resenha crítica X resenha;
! resenha X resumo, denominação esta assumida por nós
nesta unidade.

Retomando a última observação da seção anterior, cabe


esclarecer que enquanto no resumo devemos apenas sintetizar
o texto original, na resenha, é obrigatório que, além da síntese,
expressemos nosso posicionamento crítico. Leia o texto a seguir:

A Passagem. (Stay, Estados Unidos, 2005. estréia no


país na sexta-feira 30) - Um rapaz (Ryan Gosling) diz
para seu psiquiatra (Ewan McGragor) que pretende se
suicidar dali a três dias, e o analista, a fim de impedi-lo,
corre para deslindar os motivos que estariam por traz da
decisão - ou pelo menos essa é a situação que parece estar
se desenrolando no início. A partir dela, o diretor alemão
Marc Foster (de A Última Ceia) vai criar outras, cada
vez mais intrincadas, até que nem os personagens nem a
platéia saibam mais discernir o que é real. [...]

Com sua estrutura de quebra-cabeça, A passagem é um


programa absorvente - embora de ligeiro não tenha nada.
Pontos extras ainda para a concepção visual de Foster e
para o ótimo elenco, completado por Naomi Watts, em
cartaz também com king Kong.

(Fonte: Seção: Veja recomenda. Revista Veja, dezembro de 2005, p. 196)

100
Leitura de Produção Textual

Trata-se de uma simples resenha de filme, mas propusemos que


você a lesse, esperando que observasse como a associação de
síntese + crítica acontece de forma entrelaçada no texto.

Além de todas as informações (claro que resumidas) sobre o filme,


como título, local, data de estréia e enredo, há o posicionamento
crítico do autor, expresso nos trechos grifados (grifo nosso). Sua
opinião favorável conduz o leitor a assistir ao filme.

Como o objetivo da resenha, geralmente publicada em jornais e


revistas, é a divulgação de objetos de consumo cultural - livros,
filmes, peças de teatro etc. -, é preciso que o resenhista, responsável
pelo julgamento da obra, tenha conhecimento na área.

Veja mais este exemplo:

DURO DE MATAR
Jack Bauer ressuscita para vingar a morte de seu
melhor amigo
Logo nos primeiros vinte minutos deste quinto dia na
vida do agente Jack Bauer (Kiefer Sutherland) já dá para
perceber que vem chumbo grosso pela frente. De cara, dois
de seus amigos são assassinados, enquanto um terceiro
fica gravemente ferido. É motivo mais que suficiente para
Bauer ressuscitar (sim, ele havia “morrido” no final da quarta
temporada) e voltar ao batente. E quando falamos de JB,
sabemos o que isso significa: conspiração, assassinatos,
correria e tortura. Ainda que Sutherland tenha levado o
Emmy de melhor ator dramático este ano (a série também
foi premiada), são os coadjuvantes que roubam a cena.

A começar pelo casal presidencial, o aparvalhado


presidente Charles Logan (Gregory Itzin) e a
problemática primeira-dama Martha (Jean Smart), a
mal humorada Chloe o’ Brien (Mary Lynn Rajskub) e
os vilões Vladimir Bierko (Julian Sands) e Christopher
Henderson (o Robocop Peter Weller), talvez o pior
inimigo de Bauer desde a infernal agente dupla Nina
Myers. A trama mais uma vez amarra conspirações
palacianas e ações terroristas em solo norte-americano
com seguidas reviravoltas e mortes assustadoramente
cruéis. A lamentar, o fato de a produção ter desencanado
do reloginho e lançado ao espaço justamente aquilo que
tornou a série tão surpreendente: a ação em tempo real.
24 Horas – 5ª. Temporada (Fox)

(Luiz Rivoiro, Seção Neurônios, Revista Playboy, outubro de 2006, p. 40)

Unidade 4 101
Universidade do Sul de Santa Catarina

Apresentamos mais um texto que serve como representação


de um tipo de resenha constantemente publicada em revistas:
resenha sobre filmes e programas televisivos. Publica-se, então,
a opinião de quem produz a resenha, mas isso não significa
que você, na posição de leitor da revista, compartilhe dessa
mesma opinião. Filmes e programas televisivos são facilmente
transformados em objetos de crítica, pois são expostos a
julgamento por parte de seus espectadores.

Cabe ressaltar que, neste caso, permite-se a utilização de um


nível de linguagem menos formal, considerando o meio de
publicação do texto e, conseqüentemente, o provável público
leitor. Entretanto, no caso da resenha exigida no meio acadêmico,
cujo objeto de crítica é, na maior parte das vezes, uma obra
literária ou de natureza técnico-científica, a linguagem utilizada
deve estar adequada à modalidade culta, como você poderá
observar no texto a seguir:

Este primeiro e vigoroso romance de um médico afegão, que vive


agora na Califórnia, narra uma história de intensa crueldade,
mas também de intenso amor redentor. Ambos transformam a
vida de Amir, o privilegiado jovem narrador de Khaled Hosseini,
que atinge a maioridade durante os últimos dias de paz da
monarquia, pouco antes da revolução em seu país e sua invasão
por forças russas.

Mas os eventos políticos, mesmo os dramáticos como os que são


apresentados em O caçador de pipas, são somente parte dessa
história. Um enredo mais pessoal, que se desenrola a partir da
íntima amizade de Amir com Hassan, filho de um empregado
de seu pai, acaba sendo o fio que amarra as pontas do livro. A
fragilidade desse relacionamento, simbolizada pelas pipas que os
meninos empinam juntos, é testada à medida que eles vêem seu
antigo modo de vida desaparecer. [...]

(http://www.verdestrigos.org/sitenovo/site/resenha_ver.asp?id=347)

Trata-se da resenha de um livro e, mais uma vez, você pode


perceber que a resenha é um tipo de texto pautado no
posicionamento do autor acerca do assunto em questão. Neste
caso, o autor optou por iniciar o seu texto pela crítica favorável

102
Leitura de Produção Textual

à obra “primeiro e vigoroso romance”, seguida da síntese, para,


somente na segunda parte, indicar o título da obra.

Ao contrário, o autor poderia ter iniciado com os dados da obra


para, em seguida, apresentar o texto crítico, como podemos
observar em:

Este é um romance emocionante, envolvente, que nos cativa


logo nas primeiras páginas. Livro de estréia de Khaled Hosseini,
O caçador de pipas é uma narrativa insólita e eloqüente sobre a
frágil relação entre pais e filhos, entre os seres humanos e seus
deuses, entre os homens e sua pátria. Uma história de amizade
e traição, que nos leva dos últimos dias da monarquia do
Meganistão às atrocidades de hoje.

Amir e Hassan cresceram juntos, exatamente como seus pais.


Apesar de serem de etnias, sociedades e religiões diferentes,
Amir e Hassan tiveram uma infância em comum, com
brincadeiras, filmes e personagens. O laço que os une é muito
forte: mamaram do mesmo leite, e apenas depois de muitos anos
Amir pôde sentir o poder dessa relação.

Amir nunca foi o mais bravo ou nobre, ao contrário de Hassan,


conhecido por sua coragem e dignidade. Hassan, que não sabia
ler nem escrever, era muitas vezes o mais sábio, com uma aguda
percepção dos acontecimentos e dos sentimentos das pessoas. E
foi esse mesmo Hassan que decidiu quem Amir seria, durante
a batalha da pipa azul, uma pipa que mudaria o destino de
todos. No inverno de 1975, Hassan deu a Amir a chance de ser
um grande homem, de alterar sua trajetória e se livrar daquele
enjôo que sempre o acompanhava, a náusea que denunciava sua
covardia. Mas Amir não enxergou sua redenção.

Muito depois de desperdiçada a última chance, Hassan, a


calça de veludo cotelê marrom e a pipa azul o fizeram voltar ao
Meganistão. não mais àquele que ele abandonara há vinte anos.
[...]

Khaled Hosseini. O caçador de pipas. Romance.

Fonte: HOSSEINI, Khaled. O caçador de pipas. São Paulo: Nova Fronteira, 2005.

Unidade 4 103
Universidade do Sul de Santa Catarina

Agora que você já sabe que a resenha é um gênero no qual a sua


opinião é de suma importância, lembre-se de que você precisa:

! ter consciência de que você vai elaborar um texto a


partir de outro já existente, ou seja, trata-se do recurso
da intertextualidade, que você já estudou na unidade
anterior. Isso implica que compreenda e respeite a
opinião do autor no texto original;
! conhecer detalhadamente o objeto a ser resenhado, caso
contrário, terá dificuldade até mesmo na elaboração da
síntese;
! buscar outras fontes sobre a temática a ser trabalhada, a
fim de se propor uma crítica fundamentada;
! ter capacidade de juízo crítico, isto é, saber filtrar as
informações que obteve sobre o assunto.
Cabe observar que na resenha você reúne as habilidades de
síntese do resumo com a de se posicionar com criticidade
perante determinado assunto, fatores imprescindíveis também na
elaboração de um relatório científico, objeto de estudo da seção
seguinte.

Seção 3 – Relatório
Em sua trajetória acadêmica, provavelmente, você será levado
a relatar determinada experiência pela qual tenha passado em
função de seus estudos de modo formal.

Neste momento, sugerimos uma atividade em que você deverá


descrever, minuciosamente e de forma ordenada, tudo o que
viu, ouviu, observou e/ou vivenciou em uma viagem, uma visita,
uma experiência de estágio, um experimento ou uma pesquisa.
Experimente trazer para o cotidiano e você verá que elaborar um
relatório não é uma tarefa tão difícil.

104
Leitura de Produção Textual

Pausa para exercitar a teoria


Lembre-se de quando era um adolescente e teve que dar
satisfação de algo de sua vida a alguém, ou ainda quando resolveu
contar detalhadamente uma aventura pela qual tenha passado.
Lembrou? Então, para ilustrar, leia o texto:

A cadeira do dentista
Fazia dois anos que não me sentava numa cadeira de dentista.
Não que meus dentes estivessem por todo esse tempo sem
reclamar um tratamento. Cheguei a marcar várias consultas, mas
começava a suar frio folheando velhas revistas na antesala e me
escafedia antes de ser atendido. Na única ocasião em que botei o
pé no gabinete do odontólogo - tem uns seis meses -, quando ele
me informou o preço do serviço, a dor transferiu-se do dente para
o bolso.

- Não quero uma dentadura em ouro com incrustações em rubis e


esmeraldas - esclareci -, só preciso tratar o canal.

- É esse o preço de um tratamento de canal!

- Tem certeza? O senhor não estará confundindo o meu canal


com o do Panamá?

Adiei o tratamento. Tenho pavor de dentista. O mundo avançou


nos últimos 30 anos, mas a Odontologia permanece uma
atividade medieval. Para mim não faz diferença um “pau-de-
arara” ou uma cadeira de dentista: é tudo instrumento de tortura.

Desta vez, porém, não tive como escapar. Os dentes do lado


esquerdo já tinham se transformado em meros figurantes dentro
da boca. Ao estourar o pré-molar do lado direito, fiquei restrito à
linha de frente para mastigar maminhas e picanhas. Experiência
que poderia ter dado certo, caso tivesse algum jeito para esquilo.

A enfermeira convocou-me na sala de espera. Acompanhei-a,


após o sinal-da-cruz, e entramos os dois no gabinete do dentista,
que, como personagem principal, só aparece depois do circo
armado.

- Sente-se - disse ela, apontando para a cadeira.

Unidade 4 105
Universidade do Sul de Santa Catarina

- Sente-se a senhora - respondi com educada reverência -, ainda


sou do tempo em que os cavalheiros ofereciam seus lugares às
damas.

Minhas pernas tremiam. Ela tomou a apontar para a cadeira. - O


senhor é o paciente!

- Eu?? A senhora não quer aproveitar? Fazer uma


obturaçãozinha, limpeza de tártaro? Fique à vontade. Sou muito
paciente. Posso esperar aqui no banquinho.

O dentista surgiu com aquele ar triunfal de quem jamais teve


cárie. Ah! Como adoraria vê-lo sentado na própria cadeira
extraindo um siso incluso! Mal me acomodei e ele já estava
curvado sobre a cadeira, empunhando dois miseráveis ferrinhos,
louco para entrar em ação. Nem uma palavra de estímulo ou
reconforto. Foi logo ordenando:

- Abra a boca.

Tentei, mas a boca não obedeceu aos meus comandos. - Não vai
doer nada!

- Todos dizem a mesma coisa - reagi. - Não acredito mais em


vocês!

- Abra a boca! - insistiu ele. Abri a boca. Numa cadeira de


dentista sinto-me tão frágil quanto um recruta diante do sargento
do batalhão.

Ele enfiou um monte de coisas na minha boca e tocou o dente


com um gancho.

- Tá doendo?

- Urgh argh hogli hugli.

Os dentistas são tipos curiosos. Enchem a boca da gente de


algodão, plástico, secadores, ferros e depois desandam a fazer
perguntas. Não sou daqueles que conseguem responder apenas
movendo a cabeça. Para mim, a dor tem nuances, gradações que
vão além dos limites de um sim-não.

- A anestesia vai impedir a dor - disse ele, armado com uma


seringa.

106
Leitura de Produção Textual

- E eu vou impedir a anestesia - respondi duro segurando firme


no seu pulso.

Ele fez pressão para alcançar minha pobre gengiva. Permaneci


segurando seu pulso. Ele apoiou o joelho no meu baixo ventre.
Continuei resistindo, em posição defensiva. Ele subiu em cima
de mim. Miserável! Gemi quase sem forças. Ele afastou a mão
que agarrava seu pulso e desceu com a seringa. Lembrei-me de
Indiana Jones e, num gesto rápido, desviei a cabeça. A agulha
penetrou na poltrona. Peguei o esguichador de água e lancei-lhe
um jato no rosto. Ele voltou com a seringa.

- Não pense que o senhor vai me anestesiar como anestesia


qualquer um - disse, dando-lhe um tapa na mão.

A seringa voou longe e escorregou pelo assoalho. Corremos os


dois para alcançá-la, caímos no chão, embolados, esticando os
braços para ver quem pegava a seringa. Tapei-lhe o rosto com
meu babador e cheguei antes. A situação se invertera: eu estava
por cima.

- Agora sou eu quem dá as ordens - vociferei, rangendo os


dentes. - Abra a boca!

- Mas... não há nada de errado com meus dentes.

- A mim você não engana. Todo mundo tem problemas


dentários. Por que só você iria ficar de fora? Vamos, abra essa
boca!

- Não, não, não. Por favor - implorou. - Morro de medo de


anestesia.

Era o que eu suspeitava. É fácil ser corajoso com a boca dos


outros. Quero ver continuar dentista é na hora de abrir a própria
boca. Levantei-me, joguei a seringa para o lado e disse-lhe, cheio
de desprezo:

- Você não passa de um paciente!

Fonte: NOVAES, Carlos Eduardo. A cadeira do dentista e outras crônicas. Coleção Para gostar de ler. V.
10. São Paulo: Ática, 1994, p. 48-50.

Unidade 4 107
Universidade do Sul de Santa Catarina

Agora que você acabou de ler a crônica de Carlos Eduardo


Novaes, deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com
um trabalho acadêmico? Que linguagem é essa? Pois é, essa
realmente não é a linguagem adequada ao trabalho acadêmico,
mas a descrição e o relato detalhado, estes sim nos remetem à
idéia de relatório.

Um relatório científico trabalha com a descrição


daquilo que se observa e com o relato dos
acontecimentos, entretanto com o objetivo de
registrar permanentemente, por meio da divulgação,
os resultados encontrados em uma pesquisa ou em
um outro tipo de evento, como visitas e viagens.

Tendo em vista que esse é um tipo de registro de caráter


documental, perceba a importância dos gêneros acadêmicos
anteriormente estudados, pois, para darmos sustentação ao
relatório e assumirmos um posicionamento ante os resultados
nele apresentados, precisamos embasá-lo em outros teóricos, isto
é, precisamos saber resumir e resenhar.

Para o bom desenvolvimento de um relatório, é preciso:

a) traçar um plano, especificando o que se objetiva, qual


o ponto de partida e como será feito o armazenamento de
dados;

b) iniciar a descrição do trabalho, a partir da coleta de


dados já ordenada;

c) fazer as críticas sempre fundamentadas em teóricos de


renome na área.

Cabe ainda esclarecer que, em função dos diferentes contextos


em que se deve apresentar um relatório, há uma classificação
para esse tipo de texto. Em algumas situações, devemos fazer um
relatório parcial (diário, semanal, mensal, semestral etc). Em
outras, fazemos um relatório definitivo, como o relatório final
de uma pesquisa. Da mesma forma, quando não nos cabe emitir
o parecer da situação, não fazemos um relatório analítico, mas
somente descritivo.

108
Leitura de Produção Textual

Enfim, como todo trabalho acadêmico, o relatório possui


uma estrutura específica normatizada pela ABNT, mas que,
dependendo da temática abordada, sofre algumas variações.

Veja, como exemplo, o relatório: Atenção Farmacêutica


no Brasil: “Trilhando caminhos”, disponível no site:
http://www.opas.org.br/medicamentos/docs/rot-
atencao-farmaceutica.pdf.

Síntese

Ao final desta unidade, que contempla o estudo de três gêneros


textuais específicos, esperamos que você tenha compreendido as
características de cada texto, retomadas a seguir:

! O resumo consiste na síntese de uma obra completa,


de um capítulo da obra ou de um outro tipo de texto.
Para isso, você deve compreender as idéias apresentadas
no texto inicial, selecionar as que julgar relevantes e
reescrevê-las com as suas palavras. Atenção: selecionar
parágrafos de um texto e copiá-los não significa resumir
esse texto. Não cabe, neste gênero, o seu posicionamento
crítico sobre o tema apresentado no texto original.
Em algumas situações, você será o próprio autor do texto
original, o que facilitará a elaboração do resumo. Isso correrá
quando elaborar um resumo indicativo sobre o que escreveu em
uma monografia ou em um artigo científico.

! Ao contrário da imparcialidade apresentada no resumo,


a resenha se caracteriza por ser um texto composto da
síntese das idéias, acrescida da crítica. Nesse caso, caberá
a você obter, por meio de leitura, mais informações sobre
o tema abordado no texto inicial, para que possa, de
maneira fundamentada, expor sua opinião.
Estamos retomando resumo e resenha em uma abordagem
mais acadêmica, mas não se esqueça de que, muitas vezes,
encontramos tais textos publicados em jornais e revistas de
ampla circulação, fazendo uso, inclusive de uma linguagem mais

Unidade 4 109
Universidade do Sul de Santa Catarina

coloquial. Toda obra é passível de crítica (livro, exposição, filme,


novela etc), logo toda obra pode vir a ser o objeto de sua resenha.

! O último texto abordado foi o relatório, que também pode


ser realizado em diferentes contextos. Trata-se de relatar a
outra pessoa uma situação de viagem, visita, experimento,
pesquisa, estágio etc. Caso você apenas descreva a situação
tal como observou, sem interferência, terá escrito um
relatório descritivo. Caso você tenha que analisar o que
observou, fundamentando-se em conceitos teóricos,
emitindo um parecer, terá feito um relatório analítico.
Finalizando esta unidade, é de extrema importância chamar
sua atenção para duas questões: a) você poderá se deparar, ao
longo de suas tarefas acadêmicas, com outros textos, como artigo
científico e monografia. Trata-se de textos mais complexos, que
deverão ser escritos como resultados de pesquisa realizada sob
orientação. Você poderá se informar sobre a estrutura e a função
desses textos nas referências indicadas. b) A prática de escrita
dos textos aqui estudados deve ser uma constante e sempre
precedida de leitura e pesquisa, para que você possa aprimorar
as habilidades já relacionadas, como compreensão textual,
capacidade de síntese e crítica.

Atividades de auto-avaliação

1) Leia o texto abaixo, elabore um resumo e publique-o na exposição.


RACISMO
(Wikipédia, a enciclopédia livre)

O racismo é a tendência do pensamento, ou do modo de pensar em


que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas
distintas e superiores umas às outras. Onde existe a convicção de que
alguns indivíduos e sua relação entre características físicas hereditárias,
e determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações
culturais, são superiores a outros. O racismo não é uma teoria científica,
mas um conjunto de opiniões pré concebidas onde a principal função
é valorizar as diferenças biológicas entre os seres humanos, em
que alguns acreditam ser superiores aos outros de acordo com sua
matriz racial. A crença da existência de raças superiores e inferiores

110
Leitura de Produção Textual

foi utilizada muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de


determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram
durante toda a história da humanidade.

O racismo como fenômeno social


O racismo, como fenômeno comportamental e social, procura afirmar
que existem raças puras, e que estas são superiores às demais; desta
forma, procura justificar a hegemonia política, histórica e econômica.
Do ponto de vista racial, os grupos humanos atuais em sua maioria são
produto de mestiçagens. A evolução das espécies incluindo a humana
e o sexo facilitaram a mistura racial durante as eras. Afirmar que existe
raça pura torna ilusória qualquer definição fundada em dados étnicos
e genéticos estáveis. Portanto, quando se aplica ao ser humano o
conceito de pureza biológica, o que ocorre é uma confusão entre grupo
biológico e grupo lingüístico ou nacional. Surgimento do racismo.

O racismo no Brasil
O surgimento do racismo no Brasil começou no período colonial,
quando os portugueses trouxeram os primeiros africanos negros,
vindos principalmente da região onde atualmente se localiza a Angola.
Os negros foram trazidos ao Brasil para serem escravos nos engenhos
de cana de açúcar, devido às dificuldades da escravização dos
ameríndios, os primeiro habitantes brasileiros do qual se tem relato.
A igreja católica era contra a predação dos ameríndios, pois queria
catequiza-los, assim obteriam novos adeptos a religião católica, já que
a Europa passava por uma reforma religiosa em alguns paises onde
surgiam novas religiões.Em contra partida a igreja não se opunha
à escravidão negra, pois a considerava uma raça inferior (tanto que
chegou-se a pensar na época, que um filho de branco com um negro
fosse estéril, assim como as mulas e desse pensamento surgiu a
expressão mulato), acreditava-se que os negros não tinham almas e
o convívio com as doenças dos brancos e de seus animais, por terem
contatos à séculos com povos brancos e a domesticação dos animais
utilizados por eles, e juntamente com a motivação financeira, pois o
trafico negreiro foi a maior fonte de renda do período colonial, foram
usados como justificativas para a escravização negra.
A abolição da escravatura brasileira foi um processo lento do qual
passou por varias etapas antes sua concretização.Criaram-se leis com o
intuito de retardar esse processo de abolição como a lei do ventre livre
e a do sexagenário entre outras, as quais pouco favoreciam os escravos.
Quando finalmente foi decretada abolição da escravatura não
realizaram se projetos de assistência ou leis para a facilitação da
inclusão dos negros a sociedade, fazendo com que continuassem
sendo tratados como inferiores e tendo traços de sua cultura e religião
marginalizados, criando danos aos afrodescendentes até os dias atuais.

Unidade 4 111
Universidade do Sul de Santa Catarina

Origens
As origens do racismo são bastante controversas. O fenômeno ocorre
em todas as etnias e em todos os países. Um exemplo típico de racismo
ocorreu quando o Japão, pouco antes da Segunda Guerra Mundial,
atingiu um desenvolvimento econômico social equivalente aos países
mais adiantados econômica e tecnologicamente do mundo. O povo
japonês começou então a se comportar de forma extremamente
racista em relação a outras nacionalidades, estrangeiros em terras
japonesas não eram bem-vindos. Da mesma maneira que ocorreu
no oriente distante, no mundo ocidental também houve fenômenos
extremamente violentos ligados ao racismo. Nas Américas, em especial
nos Estados Unidos da América, o racismo chega aos extremos contra
os negros e contra os latinos, em especial no sul do país. Até a década
de 50 acontecia nos EUA de negros serem mortos enforcados em
árvores, sem julgamento, sem que os autores destes assassinatos
fossem punidos. Havia mesmo uma sociedade secreta, a Ku Klux Klan,
que se propunha a perseguir e “justiçar” negros.

Racismo e xenofobia
Muitas vezes o racismo e a xenofobia, embora fenômenos distintos,
podem ser considerados paralelos e de mesma raiz, isto é, ocorre
quando um determinado grupo social começa a hostilizar outro por
motivos torpes. Esta antipatia gera um movimento onde o grupo mais
poderoso e homogêneo hostiliza o grupo mais fraco, ou diferente, pois
o segundo não aceita seguir as mesmas regras e princípios ditados pelo
primeiro.
Muitas vezes, com a justificativa da diferença física, que acaba se
tornando a base do comportamento racista.

A tentativa de explicação da superioridade racial


No século XIX houve uma tentativa científica para explicar a
superioridade racial através da obra do conde de Gobineau, intitulada
Essai sur l’inégalité des races humaines (Ensaio sobre a desigualdade
das raças humanas). Nesta obra o autor sustentou que da raça ariana
nasceu a aristocracia que dominou a civilização européia e cujos
descendentes eram os senhores naturais das outras raças inferiores.

O nazismo
Em 1899, o inglês Houston Stewart Chamberlain, chamado de O
antropólogo do Kaiser, publicou na Alemanha a obra Die Grundlagen des
neunzehnten Jahrhunderts (Os fundamentos do século XIX). Esta obra
trouxe o mito da raça ariana novamente e identificou-a com o povo alemão.

112
Leitura de Produção Textual

Alfred Rosenberg também criou obras que reforçaram a teoria da


superioridade racial. Estas foram aproveitadas pelo programa político
do nazismo visando à unificação dos alemães utilizando a identificação
dos traços raciais específicos do povo dos senhores. Como a raça alemã
era bastante miscigenada, isto é, não havia uma normalidade de traços
fisionômicos, criaram-se então raças inimigas, fazendo desta forma
surgir um sentimento de hostilidade e aversão dirigido a pessoas e coisas
estrangeiras. Desta forma, os nazistas usaram da xenofobia associada ao
racismo atribuindo a indivíduos e grupos sociais atos de discriminação
para amalgamar o povo alemão contra o que era diferente. A escravização
dos povos da Europa oriental e a perseguição aos judeus eram as provas
pretendidas pelos nazistas da superioridade da raça ariana sobre os
demais grupos diferentes e raciais também.

O apartheid
Os trabalhos de geneticistas, antropólogos, sociólogos e outros cientistas
do mundo inteiro derrubaram por terra toda e qualquer possibilidade
de superioridade racial, e estes estudos culminaram com a Declaração
Universal dos Direitos do Homem. Embora existam esforços contra a
prática do racismo, esta ainda é comum a muitos povos da Terra. Uma
demonstração vergonhosa para o ser humano sobre o racismo ocorreu
em pleno século XX, a partir de 1948 na África do Sul, quando o apartheid
manteve a população africana sob o domínio de um povo de origem
européia. Este regime político racista acabou quando por pressão mundial
foram convocadas as primeiras eleições para um governo multirracial de
transição, em abril de 1994.

Israel
Em 1975, por pressão dos países árabes e com o apoio dos soviéticos, o
sionismo foi considerado uma forma de racismo pela Resolução 3379 da
Assembleia Geral das Nações Unidas. No entanto, em 1991, essa acusação
foi eliminada pela Resolução 4686 da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Em 2002, o Parlamento israelense aprovou uma lei que nega aos cidadãos
de origem árabe do país o direito de conviver com seus cônjuges caso
contraiam matrimônio com palestinos, pois a estes será recusada a
permissão de residência no país. A lei foi questionada na justiça por
diversas entidades de direitos humanos e em 15 de maio de 2006 foi
confirmada pela Suprema Corte de Israel.

Unidade 4 113
Universidade do Sul de Santa Catarina

2) Agora proponha um debate sobre o tema no fórum. Elabore e envie à


sua tutora um texto crítico acerca da temática: racismo. Para tanto, além de
reaproveitar seu resumo, pesquise mais sobre o assunto. Se desejar, acesse
os sites abaixo:

! http://www.renascebrasil.com.br/f_preconceito.htm
! http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0102-69091999000300011
Aproveite esse espaço para você fazer o texto antes de publicar no
EVA!

Saiba mais

Sobre a elaboração de textos acadêmicos, consulte:

! http://www.unisul.br/content/navitacontext_/user files/
file/biblioteca/CadMetCient_2.pdf
! http://www.Kanitz.com.br/impublicaveis/
comoescreverumartigo.asp
Ou consulte o seguinte livro:

! FLORES, Lúcia Locatelli. Redação: o texto técnico/


científico e o texto literário, dissertação, descrição,
narração, resumo, relatório. Florianópolis – SC: Editora
da UFSC, 1994.

114
5
UNIDADE 5

Tópicos gramaticais

Objetivos de aprendizagem

Ao final da unidade, você terá subsídios para:

! Compreender e aplicar algumas das regras de


concordância.
! Compreender e aplicar algumas das regras de regência.
! Usar o acento de crase nas situações mais comuns.
! Pontuar o texto de acordo com a modalidade padrão.

Seções de estudo

Nesta unidade você vai estudar os seguintes assuntos:

Seção 1 Concordância Nominal e Verbal.


Seção 2 Regência verbal.
Seção 3 Crase.
Seção 4 Pontuação.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de conversa


Antes de iniciarmos o conteúdo a ser abordado nesta unidade,
vamos relembrar o que você já estudou para que possa perceber a
importância da proposta aqui expressa.

Lembre-se de que, na primeira unidade, dentre os temas


abordados, você estudou sobre os níveis de linguagem, através
dos quais pôde observar que a modalidade culta da língua é a
exigida na maioria dos textos escritos, incluindo os acadêmicos.
Em seguida, na segunda unidade, voltada à leitura, você foi
convidado a ler textos literários e não-literários, bem como
interpretá-los, considerando os níveis de informação explícito e
implícito.

Já na terceira unidade, voltada ao estudo do texto, você aprendeu


que há diferentes gêneros textuais e, além disso, viu que
alguns textos são construídos a partir da relação com outros
preexistentes. Também estudou as características essenciais
à textualidade, como coesão e coerência. Na quarta unidade,
selecionamos três gêneros de texto, destacando-os como
relevantes no meio acadêmico.

Essa retomada é importante para que você compreenda a relação


do conteúdo tratado nesta unidade com as anteriores.

Até agora, se você realizou as leituras indicadas, esteve em


contato com textos produzidos na modalidade padrão da língua.
Da mesma forma, essa modalidade vem sendo exigida nas
atividades de escrita das quais você tem participado. Produzir um
texto nesse nível de linguagem, que chamamos de modalidade
padrão ou norma culta da língua, requer conhecimento de
algumas regras gramaticais, definidas na gramática normativa.

Portanto, nesta unidade, propomos o estudo de algumas dessas


regras. É claro que não se trata de um estudo exaustivo da
gramática, para o qual precisaríamos de disciplinas específicas,
mas de uma apresentação de tópicos relevantes, como
concordância, regência, crase e pontuação. Também não se
trata aqui de uma exposição completa desses assuntos, porém
da seleção dos casos mais intrigantes, ou seja, aqueles que
normalmente provocam dúvidas nos momentos de produção
escrita.

116
Leitura de Produção Textual

Dessa forma, as quatro seções desta unidade estão organizadas


em exemplos e explicações que se intercalam, visando a abordar
as regras de forma direta e objetiva.

Esperamos despertar em você a curiosidade para buscar mais


informações nas gramáticas sobre outras regras não estudadas
aqui, lembrando que o hábito de consultar gramáticas e
dicionários, associado à prática de revisão do próprio texto, é de
fundamental importância para que seu trabalho escrito apresente
uma linguagem mais adequada à modalidade padrão, exigida no
contexto acadêmico e profissional.

Seção 1 – Concordância
Nesta seção, você verá alguns casos de concordância que merecem
um estudo particular. Inicialmente, acompanhe a apresentação
de algumas regras de concordância verbal e, na seqüência,
algumas regras de concordância nominal que, tanto quanto as
primeiras, também devem ser colocadas em destaque.

Vamos começar com duas situações:

a) O artigo realizado pela acadêmica será publicado.

b) Os acadêmicos participantes da pesquisa também


publicarão seus trabalhos.

Observando os termos destacados em negrito, você concluirá que,


no primeiro exemplo, será concorda com o artigo e, no segundo,
publicarão concorda com os acadêmicos.

Trata-se do mecanismo da concordância verbal, que tem como


regra geral: sujeito no singular, verbo no singular; sujeito no
plural, verbo no plural, ou seja:

O verbo concorda com o sujeito.

Unidade 5 117
Universidade do Sul de Santa Catarina

Concordar verbo com sujeito em situações como as exemplificadas


em (a) e (b) não deve ser uma tarefa difícil para você, que já faz
isso nos momentos de comunicação oral ou escrita. No entanto,
há algumas situações que geram dúvida quanto a deixar o verbo
no singular ou no plural. Normalmente, isso acontece quando não
conseguimos identificar quem é o “tal” sujeito.

Você verá aqui algumas dessas situações, que podem ser


consideradas como casos particulares de concordância verbal.

Caso 1 – Haverá ou haverão?

Uma das situações em que podemos usar o verbo HAVER é em


substituição ao verbo existir, uma vez que os sentidos de ambos
se equivalem. Veja a comparação:

1) Existem muitos brasileiros cuja sobrevivência depende de


programas governamentais.
2) Há muitos brasileiros cuja sobrevivência depende de
programas governamentais.

Observe que o verbo existir está no plural, concordando com o


sujeito “muitos brasileiros”, enquanto o verbo haver se mantém no
singular. O mesmo ocorre nos exemplos a seguir:

3) Existirão muitos problemas na região atingida pela guerra.


4) Haverá muitos problemas na região atingida pela guerra.

Mais uma vez, o verbo existir está no plural, concordando com


o sujeito “muitos problemas”, diferente do verbo haver, que
permanece no singular. Essa mesma diferença você ainda poderá
observar nos exemplos seguintes:

5) Devem existir meios de transporte mais confortáveis em


países mais desenvolvidos.
6) Deve haver meios de transporte mais confortáveis em países
mais desenvolvidos.

118
Leitura de Produção Textual

Novamente, no primeiro caso, o verbo está no plural,


concordando com o sujeito “meios de transporte”. No segundo
enunciado, isso já não ocorre. Observe que agora os verbos
principais “existir” e “haver” não estão sozinhos, pois vêm
acompanhados de um outro verbo com função auxiliar: o
verbo dever. Mesmo nesta situação, a regra de concordância se
mantém: o verbo que acompanha existir vai para o plural, e o
verbo que acompanha haver fica no singular.

A essa altura, você deve estar concluindo, ou pelo menos


questionando:

Nunca devo usar o verbo haver no plural?

Calma, não generalize: em alguns casos você verá o verbo haver


no plural.

Veja o seguinte exemplo:

7) Ele havia corrigido prova.

8) Eles haviam corrigido a prova.

Nestes enunciados, o verbo haver apenas acompanha/auxilia o


verbo corrigir. Perceba que, nesta função de verbo auxiliar, ele
concorda com o sujeito ele/eles, logo é expresso tanto no singular
quanto no plural. No entanto, não se trata do mesmo sentido do
verbo haver usado anteriormente.

Agora, retomando os enunciados de (2), (4) e (6), em todos esses


exemplos, o verbo haver tem sentido de existência. Temos falado
que, em situações como essa, o verbo existir concorda com o
sujeito e o haver não concorda.

A explicação para isso é muito simples: o verbo haver, quando


indica existência ou acontecimento, pertence a uma lista de
verbos chamados de impessoais, isto é, verbos que não possuem

Unidade 5 119
Universidade do Sul de Santa Catarina

sujeito, logo, não há com quem fazer a concordância, por isso são
usados sempre no singular.

Essa situação se estende a outros casos na nossa língua. Vamos


ver? Observe:

9) Faz um ano que te conheço.

10) Faz três anos que ele desapareceu.

Perceba que, independente de estar diante de uma


expressão singular (um ano) ou plural (três anos), o
verbo fazer permanece no singular.

Constantemente, ouvimos algumas pessoas, na intenção de


“caprichar” na concordância, dizerem frases como Fazem dois
anos que estão esperando ajuda. No entanto, agora você sabe
que isso está inadequado em relação à regra prescrita pelos
gramáticos. Em função de o verbo fazer (usado para indicar
tempo decorrido) pertencer à classe dos verbos impessoais,
admite-se apenas seu uso no singular: Faz dois anos que estão
esperando ajuda. Podemos, assim, sintetizar essa regra, conforme
o quadro abaixo:

Verbos Impessoais: permanecem no singular!

! Havia muitas propostas de emprego naquela época.


Haver no sentido de existir (Existiam)

! Deve ter havido muitos acidentes no último feriado.


Haver no sentido de acontecer (Devem ter ocorrido)

Fazer no sentido de tempo ! Faz três anos que eles se conhecem.


decorrido

120
Leitura de Produção Textual

Dando seqüência ao roteiro de apresentação de regras de


concordância verbal, você estudará outro caso que merece destaque.

Caso 2 - Aluga-se ou Alugam-se casas?


Quando circulamos pelas ruas de nossas cidades, é comum
nos depararmos com placas de venda ou aluguel de imóveis ou
produtos, situações em que podemos observar o uso, muitas
vezes equivocado, da regra de concordância prevista na gramática
normativa, como “aluga-se casas, alugam-se esta casa, terreno
vendem-se, conserta-se móveis etc.” Observe como se faz este
tipo de concordância:

1) Aluga-se casa.

2) Alugam-se casas.

A dúvida é: o verbo alugar deve concordar com a


palavra casa?

Isso pode lhe parecer estranho, uma vez que dissemos


anteriormente que o verbo sempre concorda com a palavra que
funciona como sujeito na oração. No entanto, no exemplo (1), a
palavra casa é sujeito do verbo ALUGAR, por isso, em (2), o
verbo vai, necessariamente, para o plural, concordando com o
sujeito plural.

A melhor forma de você conseguir identificar


isso é fazendo o seguinte teste: Veja se é possível
transformar a oração estruturada como alugam-se
casas em casas são alugadas. Isso parece perfeito na
nossa língua.

Sem dúvida, é mais fácil usar o verbo no plural na segunda situação:


casas são alugadas. Mas saiba que ambas as orações são equivalentes,
pois estão na voz passiva e, conseqüentemente, nas duas situações, a
palavra casas funciona como sujeito do verbo alugar.

Unidade 5 121
Universidade do Sul de Santa Catarina

Veja outros exemplos e observe como o verbo sempre está


concordando com a palavra em destaque:

3) Vendem-se imóveis. OU Imóveis são vendidos.

4) Observaram-se os exemplos. OU Os exemplos foram


observados.

5) Compram-se quadros antigos. OU Quadros antigos são


comprados.

6) Aprovaram-se os orçamentos. OU Os orçamentos foram


aprovados.

Atenção, não pense que todas as situações de uso


do verbo seguido do pronome “se” pertencem a essa
regra.

Muitas vezes, para indeterminar o sujeito, isto é, de forma


intencional, não identificá-lo, construímos orações parecidas com
os exemplos anteriores, mas com uma condição diferente em
relação à concordância: o verbo deve sempre ficar no singular.

É o caso dos exemplos seguintes:

7) Precisa-se de ajudantes.

8) Trata-se de questões difíceis.

9) Necessita-se de verbas para o desenvolvimento de pesquisas.

10) Acredita-se em políticos honestos.

Repare que, mesmo seguidos de palavras no plural (em destaque),


os verbos permanecem no singular. Isso ocorre porque tais
palavras não funcionam como sujeito para os respectivos
verbos; aliás, como você já viu, nesses exemplos, o sujeito não é
identificado.

— Para finalizar esse caso, compare as duas situações apresentadas.

122
Leitura de Produção Textual

Se, nos exemplos de (3) a (6), conseguimos transformar as


orações, mostrando as duas estruturas de voz passiva na nossa
língua, o mesmo não ocorre com os exemplos de (7) a (10).

Vamos testar:

7) Precisa-se de ajudantes. (De ajudantes são precisados). (?)

8) Trata-se de questões difíceis. (De questões difíceis são tratadas). (?)

9) Necessita-se de verbas. (De verbas são necessitadas). (?)

10) Acredita-se em políticos honestos. (Em políticos honestos são


acreditados). (?)

De fato, a segunda opção parece sempre estranha aos nossos


ouvidos, e indicamos isso com o sinal de interrogação: (?).
Além disso, essas construções indicadas nos parênteses não são
permitidas na norma padrão.

Portanto, você deverá concordar o verbo do seguinte modo:

! Usar plural ou singular (dependendo do sujeito)


nos casos equivalentes ao primeiro grupo de
exemplos.

Compra-se livro

Compram-se livros

! Usar apenas a forma singular nos casos equivalentes ao


segundo grupo de exemplos.

Trata-se de um problema a ser resolvido.


Trata-se de vários problemas a serem resolvidos.

Se você é um bom observador, deve ter percebido um ponto


que diferencia os exemplos do primeiro grupo dos exemplos do
segundo grupo. Nestes últimos, de (7) a (10), o verbo sempre
exige uma preposição (de, em) e isso impede que tratemos tais
orações como as dos exemplos anteriores, de (3) a (6).

Unidade 5 123
Universidade do Sul de Santa Catarina

Fica registrada aí mais uma dica: na presença de


preposição, o verbo permanece no singular.

Observe o exemplo (7) aqui repetido:

Precisa-se de ajudantes.

— Ainda no quadro das regras de Concordância Verbal, seguiremos


com uma breve relação de situações sobre as quais você pode ter
dúvidas.

Caso 3 - Outros casos relevantes

Observe os seguintes exemplos:

A maioria dos examinadores aprovou o projeto.


A maioria dos examinadores aprovaram o projeto.

Observe que as duas opções apresentadas estão corretas,


pois o verbo pode concordar com a palavra maioria ou com
examinadores. O mesmo ocorre com os seguintes exemplos:

Metade dos alunos não apresentou o trabalho.


Metade dos alunos não apresentaram o trabalho.

Um grupo de crianças desapareceu.


Um grupo de crianças desapareceram.

Outra situação de concordância facultativa ocorre


quando escrevemos o verbo antes de um sujeito
composto.

124
Leitura de Produção Textual

Observe:

Discursaram o presidente e os ministros.


Discursou o presidente e os ministros.

Neste caso, o verbo discursar tanto pode concordar com os


dois núcleos do sujeito – presidente e ministros – quanto pode
concordar com o termo mais próximo: presidente.

Atenção: o mesmo não ocorreria se o verbo viesse


após o sujeito, caso em que obrigatoriamente
usaríamos o verbo no plural.

Observe o seguinte exemplo:

O presidente e os ministros discursaram.

Além desses casos abordados, em que podemos fazer a


concordância de modo flexível, vale a pena, ainda, fazer com
que você observe a concordância do verbo em situações em que
usamos porcentagens:

25% dos alunos faltaram à avaliação.


25% da verba é destinada a projetos educacionais.

Repare que, nos exemplos acima, a concordância não se dá


entre o verbo e a expressão que indica porcentagem, mas entre
o verbo e a palavra seguinte a essa expressão. Diferente seria se
a expressão que indica porcentagem viesse “desacompanhada”.
Neste caso, necessariamente, deveríamos concordar o verbo com
o numeral:

25% gostam do projeto.


Apenas 1% não compareceu à avaliação.

Unidade 5 125
Universidade do Sul de Santa Catarina

- Até agora, mostramos a concordância que se pauta na relação entre


verbo e sujeito. Na seqüência, abordaremos casos de concordância
nominal, ou seja, a concordância que se ocupa da relação entre os
nomes.

Caso 4 - Obrigado ou obrigada?

Agruparemos neste item os casos de concordância nominal nos


quais você deve prestar atenção, tanto em sua produção escrita
quanto oral.

! Palavras como próprio, mesmo, quite, obrigado, anexo e


incluso sempre devem concordar com o termo ao qual se
referem. Não se trata apenas da concordância de número
(uso de singular ou plural), mas também de gênero
(masculino e feminino). Portanto, são adequados os
exemplos a seguir:

Eles próprios planejaram toda a viagem.


Ela mesma revisou seu texto.
Os alunos estão quites com as parcelas da formatura.
Ela apenas disse: muito obrigada.
Seguem anexas as avaliações.
Seguem inclusos os comprovantes.

! Palavras como meio e bastante podem variar ou não.


Observe:

Ele está meio cansado.


Ela está meio cansada.

Quando usado no sentido de intensidade, equivalente a


expressões como “um pouco” ou “mais ou menos”, meio é
invariável. Ao contrário, quando usado no sentido de metade,
meio é variável, como fica claro em:

Usou meio copo de leite. Usou meia xícara de leite.

126
Leitura de Produção Textual

Portanto, diferente da forma como muitas vezes


ouvimos, o horário de 12:30 deve seguir a seguinte
concordância: Meio dia e meia.

Na dúvida sobre o uso da palavra bastante, substitua-a pela


palavra muito e verifique se a opção é singular ou plural.

Exemplo:

Comprei bastantes livros. (muitos)


Estão bastante agitados. (muito)

Não é muito comum ouvirmos, mas, no primeiro caso, a forma


adequada é bastantes, indicando quantidade. No segundo, trata-
se de um uso invariável, quando indica intensidade.

Atenção: lembrete sobre concordância nominal


Menos é uma palavra invariável, portanto, não existe
outra maneira de escrevê-la ou pronunciá-la.

— Finalizando esta seção, ratificamos que não se pretende esgotar o


assunto com esse roteiro aqui apresentado. Estamos apenas chamando
a atenção para alguns casos de concordância verbal e nominal que não
devem ser esquecidos. Busque outras informações em gramáticas a que
você tenha acesso, ou pesquise a partir da referência indicada na seção
Saiba Mais.

— Dando seqüência aos tópicos gramaticais, você estudará, na seção


seguinte, algumas das regras de regência que devem ser aplicadas no
texto escrito.

Unidade 5 127
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 2 – Regência
Inicie o seu estudo sobre regência, observando os seguintes
exemplos, que não devem ser muito distantes daquilo que você
ouve/fala ou lê/escreve em seu cotidiano.

1) Gosto de sorvete.

2) Sempre implicamos com nossos vizinhos.

3) As crianças pensaram em você?

4) Estava me referindo aos meus vizinhos.

O que esperamos que você perceba é o uso das preposições


(destacadas) em todos os enunciados. Trata-se de uma exigência
dos verbos, ou seja, sempre usamos os verbos acima seguidos das
preposições em destaque.

Desse modo, podemos conceituar regência verbal


como o comportamento do verbo em relação à
exigência ou não de preposição.

Por exemplo, não falamos gosto você ou gosto viajar; ao contrário,


sem nenhum esforço, dizemos gosto de você ou gosto de viajar.
Então, podemos concluir que o verbo gostar exige ou rege a
preposição de.

É claro que temos aí um exemplo que não causa grandes


problemas, dada a facilidade com que usamos o referido verbo.
No entanto, algumas vezes, você ficará em dúvida diante de
situações um pouco mais complicadas. Vale a pena, então,
conhecer ou relembrar a regência de alguns verbos, que merecem
atenção especial.

Caso 1 - Assistir o filme ou Assistir ao filme?


O verbo ASSISTIR pertence a um grupo de verbos que, pelo
fato de possuírem mais de um sentido, apresentam diferentes
regências. Observe:

128
Leitura de Produção Textual

5) Eles assistiram ao filme.

Neste exemplo, com o sentido de ver, presenciar, o verbo exige


preposição (em destaque). O mesmo ocorre quando usamos
assistir no sentido de pertencer, caber, como mostra o seguinte
exemplo:

6) Este é um direito que assiste ao consumidor.

Por outro lado, quando usado no sentido de ajudar, prestar


assistência, o mesmo verbo não exige mais preposição, fato que
podemos verificar neste último exemplo.

7) O enfermeiro assistiu o doente.

Outros verbos têm comportamento semelhante ao verbo assistir.


Observe a regra de regência para o verbo IMPLICAR.

8) O atraso na entrega do projeto implicará prejuízo financeiro.

Neste caso, usamos o verbo com o sentido de acarretar.


Geralmente, na linguagem cotidiana, usamos esse verbo com a
proposição em. Você já deve ter lido ou ouvido enunciados como
o exemplo acima do seguinte modo: “...implica em prejuízo...”,
cujo emprego é inadequado, neste caso, pois segundo a norma,
quando usado neste sentido, o verbo implicar não pede
preposição. Portanto, a forma usada em (8) é adequada.

Implicar também pode ser usado no sentido de ter implicância


e, quando isso ocorre, devemos usá-lo com a preposição com,
conforme exemplo a seguir.

9) Ele sempre implica com os namorados de suas filhas.

— Então, tanto assistir quanto implicar são verbos que têm a regência
modificada, de acordo com o significado que assumem. Há, ainda,
outros verbos que se enquadram nesse grupo. Portanto... seja curioso
(a)! Abra uma gramática e veja a regência dos verbos aspirar, agradar,
custar, proceder, visar.

Unidade 5 129
Universidade do Sul de Santa Catarina

Caso 2 - Prefiro estudar do que trabalhar?


Há outras situações em que você também poderá ter dúvidas,
mesmo que o verbo seja usado apenas em um único sentido e
possua apenas uma regência. Veja os enunciados e decida qual
deles está adequado à norma prescrita na gramática.

10) Prefiro estudar do que trabalhar.


11) Prefiro estudar a trabalhar.

Se você apostou em (11), há duas possibilidades: ou você já tem


essa regra memorizada, ou desconfia de que a opção (10) seja
muito óbvia. De fato, a forma apresentada no exemplo (10) é a
que utilizamos na modalidade coloquial. Na fala, torna-se quase
uma regra usar do que entre os dois complementos do verbo
preferir.

Entretanto, a forma apresentada em (11) é a adequada, pois a


regência de preferir é: “preferir uma coisa a outra”.

Mais uma vez você pode observar a diferença entre a linguagem


que utilizamos no dia-a-dia e a linguagem que nos é exigida em
textos escritos na modalidade padrão. Continue investigando
como essa diferença é visível em relação às regras de regência.
Volte à gramática, ou consulte o dicionário, e veja a regência dos
verbos obedecer e desobedecer.

Caso 3 - Informo alguém de algo? Informo algo a alguém?


Há, ainda, os verbos que permitem duas formas de regência para
a mesma situação. Assim, podemos usar o verbo INFORMAR
nas duas construções exemplificadas a seguir, ambas adequadas à
norma.

12) O deputado informou os eleitores sobre o projeto.


13) O deputado informou o projeto aos eleitores.

É importante que você saiba que outros verbos têm a mesma


regência do verbo informar, como avisar, notificar, cientificar,
prevenir.

130
Leitura de Produção Textual

Caso 4 - As pessoas que eu trabalho ou as pessoas com quem eu trabalho?


Finalizando, é necessário chamar a atenção para uma situação
muito comum na linguagem coloquial. Geralmente, ouvimos
enunciados semelhantes aos exemplos abaixo:

14) As pessoas que eu trabalho vieram de outra cidade.


15) Não encontrei as pessoas que você se referiu.
16) As pessoas que eu gosto não vieram à festa.

Você consegue identificar o problema de regência em cada um


desses exemplos? Vejamos:

14) O verbo TRABALHAR exige a preposição com. Logo,


se você diz “eu trabalho com as pessoas”, o mesmo deve ser
feito nas estruturas mais complexas em que aparecem pronomes
como que, o qual, quem. Assim, aplicando a regra de regência,
corrigimos o enunciado para:

As pessoas com quem eu trabalho vieram de outra cidade.

15) O verbo REFERIR-SE exige a preposição “a”. Por exemplo,


dizemos “eu me refiro aos alunos”. Então, devemos reescrever o
enunciado do seguinte modo:

Não encontrei as pessoas a quem você se referiu.

16) O verbo GOSTAR, o primeiro abordado nesta seção, exige


a preposição de. Você, com certeza, diria “eu gosto das pessoas”, e
não “eu gosto as pessoas”. Portanto, corrigindo o exemplo, temos:

As pessoas de quem eu gosto vieram à festa.

Observe que, mais uma vez, estamos chamando a atenção para


a estrutura permitida na modalidade coloquial, em oposição à
exigência da norma.

— Esperamos que você tenha compreendido que o princípio da regência


verbal está na exigência que o verbo faz em relação à preposição.
Muitos verbos exigem a preposição a, e, quando esta coincide com
a ocorrência de outro a, temos o acento indicador de crase. Logo, é

Unidade 5 131
Universidade do Sul de Santa Catarina

praticamente uma conseqüência do estudo da regência estudar um


pouco sobre a crase, o tópico abordado na próxima seção.

Seção 3 – Crase
Para entender o uso da crase, é interessante que você relembre
seus tempos de estudante, em que sua professora dizia: “crase
é a fusão de duas vogais iguais em uma só, sendo que uma é
preposição e a outra é artigo”.

Lembrou? Pois é, um dia já ouvimos esta explicação,


conseguimos lembrar, mas poucos sabem de fato usar
a crase. Por que será?

Acreditamos que a aplicação da crase apenas com base nas regras


gramaticais não nos garante o domínio de quando devemos ou
não usá-la. Portanto, a partir de agora, apresentaremos uma série
de situações cotidianas e dicas para que você saiba como bem
aplicá-la. Vamos lá?

Casos obrigatórios

Situação 1
Imagine que você está sozinho, sentado na lanchonete do
aeroporto e eis que ouve a conversa de duas pessoas na fila do
caixa:

- Pois é, como eu dizia, ele foi à Bahia.


- Então eles brigaram mesmo, porque ela foi a Porto Alegre.

Observe que, nas orações destacadas, temos a mesma estrutura:


verbo IR seguido de um lugar. Porém, na primeira, constatamos
o uso de crase, e, na segunda, isso não ocorre.

132
Leitura de Produção Textual

Para saber quando usar o acento de crase, experimente este


artifício: troque o verbo que pede a preposição a pelo verbo vir e
veja o que ocorre:

Se foi à Bahia, voltou da Bahia.


Se foi a Porto Alegre, voltosu de Porto alegre.

Logo, não é difícil concluir que a dica é: Se aparecer


da após o verbo vir, então, na primeira frase, em que
aparece a, é obrigatório o acento de crase.

Com nomes comuns, outra dica é a substituição do nome


feminino por um exemplo equivalente no masculino. Se diante
do masculino aparecer ao, ao invés de a ou o, então se usa crase
antes do feminino. Observe:

Trouxe a calda de chocolate.


Trouxe o bolo.

Fomos à festa.
Fomos ao cinema.

Perceba, então, que só se usa crase antes de palavra feminina,


esteja ela explícita ou não. Vamos a outros exemplos:

Conte à diretora que precisei sair.


Conte ao diretor que precisei sair.

Comprei um vestido à Versace.


Comprei um vestido à (moda) Versace.

Fomos à Eusébio Matoso.


Fomos à (rua) Eusébio Matoso.

Unidade 5 133
Universidade do Sul de Santa Catarina

Há outras situações cotidianas em que precisamos saber usar a


crase, como, por exemplo, quando nos referimos a HORA. Veja:

Situação 2
Pense: você está matriculado em um curso a distância e hoje
haverá aula presencial. Então, enquanto você se arruma, conversa
com um amigo:

- (1) A que horas vai?


- (2) Sairei à uma hora, mas voltarei às sete.
- (3) Quanto tempo durará sua aula?
- (4) Quatro horas. A aula será das duas às seis.

Note primeiramente que, antes de hora exata, aparecendo ou não


a palavra hora, geralmente há crase. Retomando o enunciado
(2), você verá que ambas as orações citam a hora exata, porém,
somente na primeira, a palavra hora aparece de forma explícita.

Agora releia o enunciado (4) e observe que nele há um


paralelismo, isto é, quando usamos das, também usamos às, mas,
se usarmos de, não poderemos fazer uso da crase. Observe:

A aula será das duas às seis.


A aula será de duas a seis.

Casos facultativos

Situação 3
Imagine que você está conversando com seu amigo sobre uma
carta que você enviou para a prima dele.

- (5) Você sabia que escrevi uma carta à sua prima?


- (6) Uma carta a minha prima? Qual delas?
- (7) Escrevi à Alice. Acho que passarei o fim-de-semana lá.
- (8) Escreveu a Alice? Você é louco? Ela é muito chata.

134
Leitura de Produção Textual

Observe que nos enunciados (5) e (6) usamos os pronomes


possessivos sua e minha. Entretanto, no enunciado (5), a
preposição que o antecede foi craseada, diferente do que ocorre
em (6). O mesmo acontece nos enunciados (7) e (8), em que
temos o nome próprio Alice precedido de preposição a, sendo
que somente no enunciado (7) ela é craseada.

Logo deduzimos que, antes de pronomes


possessivos e de nomes próprios femininos, o uso
de crase é facultativo.

Casos proibitivos
a) Não se usa crase antes de palavras masculinas.
Ex.: Nós fomos a pé. (observe que a palavra pé é masculina: o pé)

b) Não se usa crase antes de verbo.


Ex.: O cavalo saiu a galopar. (observe que galopar é um verbo)

Casos especiais
Veja se você consegue responder à seguinte pergunta:

Você faz disciplina a distância ou à distância?


Tem dúvida? Então grave: Você faz disciplina a
distância!

A preposição que precede a palavra distância será craseada


somente se esta distância for especificada, por exemplo:

Alice ficou à distância de cinco metros de seu paciente.

Unidade 5 135
Universidade do Sul de Santa Catarina

Assim como a palavra distância precisa ser determinada para que


a preposição que a antecede seja craseada, as palavras casa e terra
também precisam. Veja:

Fui a casa cedo.


Fui à casa da Margarida cedo.

Voltei a terra.
Voltei à terra natal.

Agora que você já viu alguns tópicos gramaticais fundamentais


para a construção de enunciados na norma culta, como
concordância, regência e crase, fazemos outro desafio: que tal
aprender a usar os sinais gráficos, especialmente a vírgula, de
forma que o seu texto reflita o que você realmente deseja?

Afinal, são eles os grandes astros da construção de sentido de um


texto.

Vamos, então, à próxima seção.

Seção 4 – Pontuação
Iniciaremos esta seção convidando você à leitura do enunciado a
seguir. Veja se é possível compreendê-lo:

Os analistas desistiram logo o curso foi um fracasso.

A falta de pontuação dificulta a apreensão de um sentido


específico. Em princípio, não sabemos se “os analistas desistiram
rapidamente e, por isso, o curso foi um fracasso” ou se “o curso
foi um fracasso porque os analistas desistiram”.

Observe agora que esses dois sentidos podem ficar claros,


caso o enunciado seja refeito com a devida pontuação. Leia-os
novamente e perceba o quanto a pontuação é determinante na
construção do sentido.

136
Leitura de Produção Textual

Os analistas desistiram logo. O curso foi um fracasso.


Os analistas desistiram, logo o curso foi um fracasso.

Na fala, esses sentidos seriam marcados pela


entonação, isto é, pelo tom que o falante dá à voz
para expressar sua intenção. Na escrita, os sinais de
pontuação cumprem a função de aproximar o texto
do sentido desejado pelo autor.

Como você já sabe, a pontuação abrange vários recursos gráficos,


como ponto final, dois pontos, ponto de exclamação, ponto de
interrogação, vírgula, ponto e vírgula etc.

No entanto, seguindo a proposta desta unidade, que consiste


em enfatizar as situações gramaticais mais relevantes, você verá
alguns casos de uso da VÍRGULA, acreditando que as regras
que determinam tal uso sejam o ponto de maior dúvida entre
maioria dos acadêmicos.

Você já deve ter ouvido falar que, ao ler um texto,


toda vez que fazemos uma pausa, deve haver uma
vírgula. Mas, cuidado: nem toda pausa requer o uso da
vírgula.

Na verdade, o uso da vírgula está pautado na estrutura sintática


dos períodos, não havendo, portanto, relação direta entre fala e
escrita. A seguir, listaremos algumas regras que podem lhe ser
úteis quando fizer suas atividades de escrita.

Unidade 5 137
Universidade do Sul de Santa Catarina

Regra 1

Há uma orientação básica quanto ao emprego da vírgula: Não se


separa sujeito de verbo. Observe os exemplos:

1) Os estudantes entregaram o relatório.


2) Todos os estudantes da área da Saúde deveriam participar do
evento.
3) Todos os estudantes inscritos no último congresso sobre
Saúde e Educação devem receber certificado.

Dificilmente encontramos nos textos vírgula entre sujeito e verbo,


quando o sujeito é formado por poucas palavras, como é o caso
do enunciado (1). No entanto, quanto mais extenso é o sujeito,
maior a possibilidade de se encontrar a vírgula separando o
sujeito do verbo. Logo, não seria raro nos depararmos com uma
vírgula após a palavra saúde no enunciado (2) e após a palavra
educação no enunciado (3).

Nesse sentido, segue uma observação importante:


não se impressione com a extensão do sujeito,
pois, como você observou, não usamos vírgula nos
enunciados (1), (2) e (3), e eles estão adequados à
norma.

Regra 2

Há situações específicas em que se deve usar vírgula entre os


termos da oração. Vejamos.

Situação 1: Imagine que você está conversando com seu amigo


sobre o que você fez ontem a noite.

- (1) O que você fez ontem à noite?


- (2) Ontem? Após o curso de inglês, fui ao cinema.
- (3) Sozinho?
- (4) Não. Fui ao cinema com a Maria, aquela gatinha do 603.
- (5) É mesmo, ela é uma gatinha, ou melhor, uma gatona.
- (6) Paulo, pára com isso! Eu já estou de olho nela faz tempo.

138
Leitura de Produção Textual

Observe que usamos a vírgula em quatro dos enunciados


apresentados, em função de terem diferentes estruturas
oracionais. No enunciado (2), a vírgula é usada para separar
termos que se encontram “fora do lugar”, isto é, termos que não
respeitam a ordem: sujeito + verbo + complementos. Veja:

- (2) [...] Após o curso de inglês, fui ao cinema.

Quem foi ao cinema? Eu (sujeito).


Qual é o verbo? “fui” (ir).
Qual o complemento? “cinema”

Então, a ordem padrão seria:

- (2) Fui ao cinema após o curso de inglês.

Mas, se essa ordem é quebrada, devemos separar aquilo que está


deslocado com vírgula, o que resulta em construções como a do
enunciado (2). No enunciado (4), a vírgula, após o nome Maria,
introduz uma explicação sobre ela, ou seja, é o que as gramáticas
trazem sob a denominação de aposto. Observe:

- (4) [...] Fui ao cinema com a Maria, aquela gatinha do 603.

No enunciado (5), a vírgula é utilizada para corrigir, ou melhor,


explicar que Maria não é uma gatinha, mas sim uma gatona.
Veja:

- (5) [...] ela é uma gatinha, ou melhor, uma gatona.

No enunciado (6), o nome Paulo necessariamente deve vir


separado por vírgula, pois indica a pessoa a quem o falante
(amigo de Paulo) se dirige. É o que as gramáticas trazem como
vocativo. Observe:

- (6) Paulo, pára com isso!

- Compreendeu?
- Pois é, você deve estar pensando que é fácil falarmos dessas regras
quando usamos exemplos com uma linguagem coloquial, mas, na
modalidade culta, a aplicação delas se repete.

Unidade 5 139
Universidade do Sul de Santa Catarina

Observe, nos trechos a seguir, como a vírgula é aplicada:

“(1) Em Estética da criação verbal (1992), Bakhtin propõe uma


reflexão sobre os gêneros discursivos, (2) denominação dada por
ele aos tipos relativamente estáveis de enunciados, elaborados em
cada esfera da utilização da língua.”
(TRINDADE, Mônica Mano. Dissertação de mestrado. 2001)

Em (1), a vírgula separa um termo deslocado, que indica o


local (de publicação) onde o autor propõe uma reflexão. Entre
as vírgulas indicadas em (2), temos uma explicação ao termo
antecedente (gêneros discursivos).

“A intertextualidade em sentido restrito é a relação de um texto


com outros textos previamente existentes, isto é, efetivamente
produzidos.”
(KOCH, Ingedore. O texto e a construção de sentidos. 1997b)

A expressão isto é introduz uma reexplicação à afirmação


anterior.

Regra 2
Cabe esclarecer que, além das regras apresentadas, há situações
de uso da vírgula entre as orações. Trata-se da pontuação de
estruturas mais complexas, isto é, de períodos compostos,
segundo as gramáticas. A seguir, apresentamos os casos mais
comuns.

1) Orações sobrepostas (em seqüência)

O professor chegou à sala, pediu silêncio, aguardou alguns


minutos e começou a aula.

2) Antes de conectivos que estabelecem relações de oposição,


explicação, conclusão etc (ver quadro unidade 3 – seção 3)

Esforçou-se muito, porém não conseguiu o prêmio. (oposição)


Estuda muito, logo será recompensado. (conclusão)

140
Leitura de Produção Textual

3) Para isolar expressões cuja função seja corrigir ou explicar a


oração antecedente.

O meu amigo, que estuda na escola pública, foi aprovado em 1º


lugar no concurso. (explicação)

4) Para separar orações deslocadas em relação à idéia principal.

Como ele estava doente, não participou do encontro.

Síntese

Como você pôde observar, a adequação à modalidade culta da língua


implica o conhecimento de algumas regras prescritas pelos gramáticos,
o que justifica finalizarmos nossos estudos com esta unidade.

O roteiro aqui proposto partiu da seleção dos aspectos


gramaticais mais relevantes ao trabalho de produção de textos,
organizado do seguinte modo:

! Na primeira seção, abordamos questões de concordância,


dando ênfase aos verbos impessoais e aos casos de voz
passiva.
! Na segunda seção, você estudou um pouco de regência, e
deve ter percebido que alguns verbos merecem destaque,
pois exigem preposição de um modo diferente ao que
você está acostumado a ouvir no cotidiano.
! Na terceira seção, dentro do conceito mais amplo de
regência, apresentamos os casos mais comuns de uso do
acento indicativo da crase.
! Na quarta e última seção, chamamos a sua atenção para a
importância da pontuação.

Em todas essas seções, ao contrário de propor um estudo


exaustivo que contemplasse todas as regras dos tópicos abordados,
tentamos mostrar a você que compreender apenas algumas

Unidade 5 141
Universidade do Sul de Santa Catarina

delas já o instrumentaliza para investigar e estudar mais, não só


sobre o assunto em questão, mas também sobre outros tópicos
gramaticais que julgue necessários.

Esperamos ter despertado em você a consciência de que o


conhecimento da norma culta requer muita leitura de textos
produzidos nessa modalidade, a tarefa árdua de escrever e
reescrever, mas, além disso, muito lhe será útil adquirir o hábito
da consulta às regras gramaticais na revisão dos próprios textos.

Atividades de auto-avaliação

1) Reescreva os enunciados abaixo, adequando-os à norma culta.

a) Devem fazer três anos que não visitamos nossos parentes.

b) Verificou-se os problemas e constatou-se que não haviam


formas de solucioná-los.

c) Encontrei os profissionais que me referi.

d) Devem haver algumas possibilidades de encontrarmos as


pessoas que falávamos.

142
Leitura de Produção Textual

e) 80% da população preferem cinema do que teatro.

f) A manifestação implicou na queda do presidente.

2) Explique a diferença de sentido entre:

a) A maior parte dos alunos não entregou a secretária.

b) A maior parte dos alunos não entregou à secretária.

3) Os enunciados abaixo, extraídos de textos publicados


na revista ÉPOCA (26/06/06) foram, intencionalmente,
modificados. Faça a pontuação de acordo com a norma culta da
Língua Portuguesa:

a) Na terça-feira 20 o programa em homenagem a


Cláudio Besserman Vianna o Bussunda terminou com
todos os integrantes do grupo Casseta & Planeta no
estádio do Maracanã. O comediante que morreu vítima
de um ataque cardíaco na Alemanha onde gravava
programas durante a Copa era uma espécie de artilheiro
do grupo de humoristas mais bem-sucedido do Brasil.

Unidade 5 143
Universidade do Sul de Santa Catarina

b) De acordo com Ziraldo as principais características do


humor da turma do Casseta e Planeta são a criatividade a
irreverência e principalmente a crueldade. Com a morte
de Bussunda o programa perde seus personagens mais
populares Ronaldo Fofômeno uma imitação impagável
do jogador e o presidente Lula que ele fazia com o dedo
mindinho dobrado e a voz rouca.

Saiba mais

No decorrer desta unidade, sugerimos a você que buscasse mais


informações em gramáticas da Língua Portuguesa, bem como
ressaltamos a importância da consulta no momento de produção
textual.

Os tópicos abordados serão encontrados em qualquer gramática


normativa, mas, caso você queira uma sugestão de referência,
deixamos aqui algumas dicas.

CEREJA, Roberto. Gramática reflexiva: texto, semântica e


interação. São Paulo: Atual, 1999.

CIPRO NETO, Pasquale Gramática da língua portuguesa /


Pasquale e Ulisses. São Paulo: Scipione, 1998.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luís F. L. Nova Gramática do


Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1985.

Ainda você pode acessar para rápidas consultas:

! http://www2.uol.com.br/linguaportuguesa/
! http://ciberduvidas.sapo.pt/
! http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/

144
Para concluir o estudo

No decorrer deste estudo, você foi orientado às atividades de leitura


e produção escrita, conforme os objetivos previstos no plano da
disciplina. Como aporte teórico a esse trabalho prático, apresentamos
conceitos fundamentados em áreas e autores da Lingüística que
contribuem para o processo de aprendizagem da Língua Portuguesa.

Desse modo, propusemos a você um roteiro que se iniciou


com os conceitos básicos sobre língua, linguagem e variação,
perpassando pelas concepções de leitura e texto, incluindo
os níveis implícitos da linguagem, os gêneros textuais – com
especificidade nos textos acadêmicos –, a intertextualidade
e a polifonia, até a apresentação de regras gramaticais
relevantes à prática de escrita na modalidade culta.

Nossa intenção foi, mais do que o inserir na discussão teórica,


oportunizar o desenvolvimento das habilidades de leitura e
escrita, o que justifica a natureza prática das atividades sugeridas.

Acreditamos que o desenvolvimento da aptidão para ler


e produzir textos só se dará pelo esforço constante de sua
parte, logo as tarefas de leitura e produção textual não se
encerram com esta disciplina, mas constituem-se em um
processo contínuo, integrado às atividades envolvidas nas
demais disciplinas do seu curso e à sua atuação profissional.

Esperamos apenas ter contribuído para o início desse


processo e que você, por ter aceitado nosso convite, tenha
concluído esta etapa consciente de que
o texto é um construto histórico e social,
extremamente complexo e multifacetado, cujos
segredos (quase ia dizendo mistérios) é preciso
desvendar para compreender melhor esse “milagre”
que se repete a cada nova interlocução – a interação
pela linguagem. (KOCH, 2006, prólogo)

Até breve,
Chirley e Mônica.
Referências

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6028:


apresentação de resumos: procedimento. Rio de Janeiro, 2003.
CIPRO NETO, Pasquale. Gramática da língua portuguesa. São
Paulo: Scipione, 1998.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. São Paulo:
Ática, 2004.
ILARI, Rodolfo; GERALDI, João Wanderley. Semântica. São Paulo:
Ática, 1987.
KOCH, Ingedore. A inter-ação pela linguagem. São Paulo:
Contexto, 1997 (a).
_____. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo:
Contexto, 1997 (b).
_____. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez,
2006.
MEDEIROS, João Bosco. Comunicação em língua portuguesa.
São Paulo: Atlas, 2000.
ORLANDI, Eni P. Discurso e leitura. Campinas: Unicamp, 1999.
PÊCHEUX, Michel. Análise Automática do Discurso. In: GADET, F.
TAK, T. (orgs.). Por uma análise automática do discurso: uma
introdução à obra de Michel Pêcheux.. Campinas: Unicamp,
1990.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação. São Paulo:
Cortez, 2002.
Sobre os professores conteudistas

Chirley Domingues é graduada em Letras Português/


Francês e mestre em Literatura Brasileira pela UFSC.

É professora da Universidade do Sul de Santa Catarina,


onde leciona as disciplinas de Literatura Portuguesa e
Brasileira, Prática de Ensino em Língua Portuguesa,
ambas para o curso de Letras, e a disciplina de
Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa, para o
curso de Pedagogia.

É professora da Universidade do Vale do Itajaí, onde


leciona as disciplinas de Poesia Moderna e Literatura
Infanto-Juvenil. Atua ainda, na mesma universidade,
como revisora da Editora Univali.

É organizadora do livro “A Cidade Escrita: literatura,


jornalismo e modernidade em João do Rio”, publicado
em 2005.

Mônica Mano Trindade é graduada em Letras -


Licenciatura em Língua Portuguesa pela UNICAMP,
especialista em Análise do Discurso pela PUCCAMP,
mestre em Lingüística Aplicada e doutora em
Lingüística pela UFSC.

Professora da Universidade do Sul de Santa Catarina,


leciona as disciplinas da área de Língua Portuguesa e
Lingüística, nos cursos de Comunicação Social e Letras,
e orienta projetos de pesquisa e extensão relacionados ao
ensino de Língua Portuguesa.

Atua também como coordenadora do curso de Letras da


UNISUL – campus Grande Florianópolis.
Respostas e comentários das
atividades de auto-avaliação

Unidade 1

1- Resposta individual
Você deve observar a leitura do seu dia-a-dia e perceber
que vários textos, como charges, histórias em quadrinhos,
anúncios publicitários etc. fazem uso de imagens (linguagem
não-verbal). Caso um texto associe as imagens às palavras,
perceba que para compreendê-lo é necessário associar o
sentido de ambas as linguagens.
2- Resposta individual
Você deve, a partir da leitura do texto, pesquisar como
percebe as diferenças na fala das pessoas. Fique atento para
questões como gírias específicas (que normalmente são
utilizadas por um grupo restrito), vocabulário diferente (ou
que até lhe pareça estranho), alternância no uso de pronomes
como tu/você etc.
Troque os seus exemplos com os colegas da disciplina,
utilizando a ferramenta Exposição. Cite as palavras, frases ou
expressões encontradas e contextualize, indicando onde e
em que grupo de falantes você buscou tal exemplo. Desse
modo, você também poderá ver o resultado da pesquisa
feita pelos colegas, o que ampliará o seu conhecimento
sobre Variação e ainda possibilitará a descoberta de algumas
curiosidades sobre outras comunidades lingüísticas.
3- Resposta individual
Você deve perceber que os textos retratam exatamente a
nossa forma de expressão oral. Se você fosse entrevistado(a)
ou participasse de uma roda de discussão sobre os temas
violência na TV e miséria, muito provavelmente você diria
algo em uma estrutura muito próxima à que se apresenta nos
itens a e b.
No entanto, se você expressar a sua opinião por escrito, você
não terá a oportunidade de se explicar para o seu leitor,
nem a possibilidade de contar com recursos como gestos e
entonação, próprios do contexto de conversação oral. Desse modo,
você deve optar pelo uso da modalidade padrão e tentar escrever um
texto claro, objetivo e sem repetições.
Seguem sugestões de como os textos poderiam ser reformulados, o
que não significa que você não possa propor outras respostas.
a) A violência presente nos programas televisivos, inclusive em
desenhos animados, e a exposição de cenas de sexo indicam
que não é possível esperar a contribuição desse meio de
comunicação para a educação das crianças.

b) Os programas sociais que visam ao combate à miséria não têm


sido muito eficientes, pois cresce assustadoramente o número
de famílias que vivem na condição de extrema pobreza. O mais
agravante ainda é a falta de planejamento familiar, visto que
muitas mulheres engravidam mesmo já possuindo filhos que
sobrevivem de esmolas nas ruas.

4- Na primeira parte do texto, você deve ter percebido uma forma


diferenciada de escrita, ou seja, não há parágrafo, e sim versos
centralizados, em destaque. Essa estrutura é percebida visualmente e
revela a escolha do autor pela função poética (centralizada na forma
de organização das palavras). Ainda podemos afirmar que, como
o texto se dirige ao leitor (usando o pronome “você”), na intenção
de sensibilizá-lo para o fato, temos a presença da função apelativa
(centralizada no receptor).
Na segunda parte, encontramos um parágrafo informativo, cuja função
é explicar a primeira parte do texto. Caracteriza-se aí a função referencial
(centralizada na informação direta e objetiva).

Unidade 2

1- Resposta individual
Discuta o tema, fazendo associações com conhecimentos prévios. Por
exemplo, você pode pensar na relação existente entre as temáticas TV
e violência, TV e interesses econômicos, TV e aquisição de cultura etc.
Tente definir um posicionamento crítico, ou seja, identifique o que você
considera positivo e o que considera negativo. Discuta no fórum.
2- Lendo os dois textos, você deveria ter percebido que, embora ambos
tratem da universidade, algumas diferenças se evidenciam, como:
O primeiro trata o tema de forma objetiva, usando uma linguagem
direta, inclusive com dados estatísticos. Faz uso da função Referencial
(retomando aqui as Funções de Linguagem – seção 3 da unidade 1),
ou seja, é de natureza informativa. Essas características determinam a
classificação do texto como não-literário, o que já poderia ser afirmado
pela própria referência (monografia).

152
O segundo, ao contrário, é um texto literário, pois, independentemente
da referência (Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de
Assis), podemos perceber algumas características opostas às do
primeiro texto, como: uso da função Emotiva, em que predominam
os sentimentos do locutor, que expõe as suas sensações em primeira
pessoa; o relato a partir de sua experiência com a universidade e a
opção pela linguagem indireta e figurada.
3- Retomando a seção 3 para fazer esta atividade, chega-se à seguinte
resposta:
a) A partir da expressão “morreu”, podemos chegar ao pressuposto: o
Latim já foi considerado uma língua viva.
b) A partir da expressão “não dá mais”, podemos chegar ao pressuposto:
o insulto já foi motivo de demissão por justa causa.
Nos enunciados c) e d), a partir da expressão “se eu fosse”, chegamos,
respectivamente, aos pressupostos:
O locutor não é a mulher
O locutor não é o marido
e) Pela expressão “voltasse”, chegamos à pressuposição:
a palavra ósculo já esteve em evidência
4- Infere-se deste texto que “os casamentos têm curta duração”.
Chegamos a essa inferência – subentendido – pelo conhecimento que
temos do contexto, o que inclui saber sobre os atuais problemas em
relações matrimoniais e as estatísticas para divórcio. Caso contrário, se
você não acionar esse contexto no momento de inferir, a última fala
ficará desprovida de sentido, pois causa estranheza alguém decidir,
simultaneamente, a data do casamento e a do divórcio.

Unidade 3

Pausa para exercitar a teoria: Seção 1


1- Independentemente de conhecer qualquer teoria a respeito da notícia
como um gênero jornalístico, você pode perceber, apenas pautado na
sua experiência como leitor, que normalmente a notícia é um texto que
tem por objetivo relatar um fato ocorrido em um determinado lugar,
em uma determinada data, envolvendo determinadas pessoas. Por isso,
algumas características textuais se repetem em cada notícia diferente,
como fato, lugar, tempo, pessoa. O texto ainda pode conter a causa (ou
uma suposta causa) para o ocorrido.
2- Você pode pensar que se trata do mesmo gênero textual, uma vez que
o bilhete e o aviso se assemelham em relação ao objetivo – transmitir
rapidamente uma informação – e ao fato de ambos não serem
extensos. No entanto, eles se diferem em relação ao interlocutor –

153
pessoa a quem o texto é direcionado – e, conseqüentemente, possuem
níveis diferentes de linguagem.
O aviso é destinado a um grupo de pessoas. Ocorre em locais de
trabalho ou locais públicos, quando há a necessidade de se transmitir
uma informação de interesse do grupo. Por exemplo: em um mural de
sala de aula, pode haver um aviso da secretaria, destinado a alunos-
bolsistas, informando-os sobre a necessidade de recadastramento. Em
uma loja, pode haver um aviso destinado aos clientes, informando-lhes
a mudança em relação ao horário de funcionamento. Perceba que,
nos dois exemplos, a informação é transmitida a um grupo específico
e delimitado, mas composto de diferentes pessoas. Isso requer que
o texto seja claro e objetivo, visando ser compreendido por todos, e
impessoal, dado o fato de ser publicado em espaços públicos, o que
faz com que possa ser lido e observado por todas as pessoas que os
freqüentam, mesmo quando o aviso não é direcionado a elas.
Desse modo, a linguagem do aviso aproxima-se da modalidade culta da língua.
Ao contrário, o bilhete tem um tom mais informal e pessoal, pois tem
como interlocutor uma pessoa específica. Mesmo que seja direcionado a
um grupo, a relação entre quem escreve o bilhete e quem lê é mais direta e
familiar. Por isso, ao escrever um bilhete, usamos a modalidade coloquial.
Por exemplo, posso entregar um relatório em um departamento e, pelo
fato de já ser uma pessoa conhecida do funcionário que receberia meu
relatório, sinto que me é permitido, no caso de sua ausência, deixar o
trabalho com o bilhete: “Fulano, este é o relatório para enviar amanhã,
conforme a gente combinou. Qualquer coisa me liga”.

Pausa para exercitar a teoria: Seção 1


Textos Literários: Romance
Textos Jornalísticos: Crônica
Textos Acadêmicos: Monografia
Textos Empresariais: Relatório
Textos Instrucionais: Guia de Viagem
Textos Humorísticos: Crônica
Textos Publicitários: Outdoor

Pausa para exercitar a teoria: Seção 2


Você deverá observar como Paulo Mendes Campos descreve o
“brotinho” e pensar que características e que apelido teria a ou o jovem
que atualmente corresponde ao “brotinho” da época da crônica.
Publique seu texto na Exposição

154
Pausa para exercitar a teoria: Seção 3
1- Há várias possibilidades de você escrever um período, organizando
as idéias que lhe foram apresentadas. Eis uma para cada uma das
propostas:
A terapia do eletrochoque, criada no início do século XX para tratar
esquizofrenia e histeria, está de volta, pois um estudo da Universidade
de Saint Louis acaba de mostrar uma versão que pode dar bons
resultados no tratamento de depressão severa.
2- “Separados pelo Casamento”, protagonizado por Jennifer Aniston e
Vince Vaughn, estreou bem nas bilheterias americanas, mas recebeu
algumas críticas maldosas sobre a falta de química entre o casal,
quando comparados a Brad Pitt e Angelina Jolie, em “Sr. e Sra. Smith”.

Atividades de auto-avaliação
1- Você deve não apenas ler os textos, mas também observar elementos
como a estrutura, a linguagem, os interlocutores a quem são
direcionados e o espaço de publicação. Sendo assim, poderá classificá-
los da seguinte maneira:
Texto 1: Poema
As pistas são o nome do autor e a estrutura do texto em versos.

Texto 2: Carta
Trata-se da opinião que o leitor envia e a revista publica em uma sessão
destinada a críticas sobre as reportagens e matérias da edição anterior.

Texto 3: Bilhete
Texto curto, com o objetivo de transmitir um rápido recado, em tom
pessoal e coloquial.

Texto 4: Anúncio Publicitário


Trata-se de um anúncio do produto cerveja da marca Schincariol.
(Perceba a inferência que o leitor pode fazer a partir da comparação
entre ex-cerveja e ex-mulher).

Texto 5: Crônica
Crônica humorística, especialidade de Luís Fernando Veríssimo.

155
Texto 6: Notícia
Ocorreu um fato (conferência), em um local (Brasília), em um
determinado tempo (semana passada).

2- Resposta individual
Na unidade 2, você já leu e discutiu o tema. Aproveite esse estudo
prévio para fundamentar os textos que deve redigir aqui.
Divulgue um dos seus textos para que seja lido pelos colegas.
3- Apresentamos aqui três sugestões. Envie sua resposta para correção,
caso tenha dúvida.
José Wilker, um dos ícones das artes dramáticas no Brasil, fez 42 filmes e
31 novelas e interpretou JK, de quem se diz admirador.
Um dos ícones das artes dramáticas no Brasil, com 42 filmes e 31
novelas, José Wilker interpretou o ex-presidente JK, de quem se diz
admirador.
Admirador e intérprete de JK, José Wilker também fez 42 filmes e 31
novelas, destacando-se como um dos ícones das artes dramáticas no
Brasil.

4- Problema: queísmo
Correção: Espero o seu telefonema para que possamos discutir as
alterações feitas no projeto sem a nossa autorização.
Problema: falta de coerência
“Todavia” liga idéias opostas, e, nesse caso, não há essa oposição entre
as orações.
Correção: Os garotos acusados como responsáveis pelo acidente dão
exemplo de bom comportamento, pois realizam trabalhos voluntários
em hospitais.

Problema: falta de paralelismo


As três etapas deveriam ser expressas de uma única forma, o que não
ocorre, pois há dois nomes – levantamento e cadastramento – e um
verbo – distribuir.
Correção: As etapas previstas para o trabalho são o levantamento das
famílias necessitadas, o cadastramento dos membros dessas famílias e
a distribuição do material para que possam construir suas casas.

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Problema: falta de coerência
“Logo” é um conectivo usado para indicar conclusão. As idéias “os
símbolos nazistas são proibidos” e “podem ser vistos em encontros de
membros do Partido...” são contraditórias, por isso devemos usar um
conectivo que indique essa oposição, como “mas”, “porém”, “todavia”
(ver quadro de conectivos na seção 3, unidade 3).
Correção: Os movimentos ultranacionalistas não estão enterrados na
Alemanha. Os símbolos nazistas, em tese, são proibidos, mas podem
ser vistos em encontros de membros do Partido Nacional Democrata,
de extrema direita.

Problema: ambigüidade
Não fica claro a que palavra o pronome “seu” faz referência: professor
ou orientando. Isso autoriza duas interpretações: ou o relatório é do
professor ou o relatório é do orientando.

Correção:
O professor esperava que o seu relatório fosse entregue ao
coordenador pelo orientando. (O relatório é do professor)
O professor esperava que o relatório do orientando fosse por ele
mesmo enviado ao coordenador.(O relatório é do orientando)

Unidade 4

1- Resposta individual
Retome as sugestões dadas na seção 1 da unidade 4 para a elaboração
do resumo.
2- Resposta individual
Não se esqueça de que a resenha exige um posicionamento crítico, o
que requer que você leia mais sobre o tema.

Unidade 5

1- a) Deve fazer três anos que não visitamos nossos parentes.


b) Verificaram-se os problemas e constatou-se que não havia formas
de solucioná-los.
c) Encontrei os profissionais aos quais me referi / a quem me referi.
d) Deve haver algumas possibilidades de encontrarmos as pessoas de
quem falávamos/das quais falávamos.

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e) 80% da população prefere cinema a teatro.
f) A manifestação implicou a queda do presidente.
2- a) A maior parte dos alunos não entregou a secretária.
b) A maior parte dos alunos não entregou à secretária.
Veja que a mudança em relação ao uso da crase remete-nos a sentidos
diferentes para o verbo entregar:
! O enunciado (a) só pode ser usado em um contexto em que os
alunos não tenham delatado a secretária para alguém.
! O enunciado (b) deve ser usado para indicar que os alunos não
entregaram algo à secretária. Por exemplo, se houvesse uma
pergunta como: “a quem os alunos entregaram o relatório?”,
caberia a resposta: “a maior parte dos alunos não entregou à
secretária”, deixando implícito que o relatório teria sido entregue
a uma outra pessoa.

3- a) Na terça-feira 20, o programa em homenagem a Cláudio Besserman


Vianna, o Bussunda, terminou com todos os integrantes do grupo
Casseta & Planeta no estádio do Maracanã. O comediante, que morreu
vítima de um ataque cardíaco na Alemanha, onde gravava programas
durante a Copa, era uma espécie de artilheiro do grupo de humoristas
mais bem-sucedido do Brasil.
b) De acordo com Ziraldo, as principais características do humor
da turma do Casseta & Planeta são a criatividade, a irreverência e,
principalmente, a crueldade. Com a morte de Bussunda, o programa
perde seus personagens mais populares: Ronaldo Fofômeno, uma
imitação impagável do jogador, e o presidente Lula, que ele fazia com o
dedo mindinho dobrado e a voz rouca.

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