Resumo
1.INTRODUÇÃO
O mundo tem convivido com ameaças de catástrofes provocadas pelo próprio homem em
razão da evolução do seu conhecimento científico e tecnológico, que se renovam
diariamente pelo que chamamos de evolução da humanidade.
Na época da guerra fria, convivemos com o medo da destruição total do nosso planeta por
ameaça de uma guerra nuclear que, conforme Capra (2002), mesmo não tendo acontecido,
afetou todos os aspectos de nossa vida – a saúde, o modo de vida, a qualidade do meio
ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e política.
Capra (2005b) apresenta uma profunda mudança na visão de mundo que foi oportunizada
pela revolução conceitual na física – uma mudança da visão cartesiana e newtoniana para
uma nova visão holística e ecológica.
Sobre os problemas humanos recentes, Capra (2002), afirma que o ecossistema global e a
futura evolução da vida na terra estão correndo sério perigo e podem muito bem resultar
num desastre ecológico em grande escala. A superpopulação e a tecnologia industrial têm
contribuído de várias maneiras para uma grave deterioração do meio ambiente natural, do
qual dependemos completamente.
Nas pesquisas subseqüentes, envolveu-se numa exploração sistemática do mesmo tema
central, só que agora, além do campo da física, com uma nova visão da realidade e as
implicações sociais desta transformação cultural.
Na seqüência, Capra (2005a) percebe que seus temas centrais maiores: saúde, educação,
direitos humanos, justiça social, poder político, proteção ao meio-ambiente, modelos de
gestão empresarial e a própria economia tem relação com os sistemas vivos, os seres
humanos e seus ecossistemas e, principalmente, com os sistemas sociais.
O foco principal de sua obra é a educação e o ativismo ambiental para ajudar a construir e
manter comunidades sustentáveis – comunidades onde se podem satisfazer as necessidades
e aspirações sem prejudicar as gerações futuras. Para construir estas comunidades, deve-se
aprender lições valiosas a partir do estudo dos ecossistemas os quais são comunidades
sustentáveis de plantas, animais e microorganismos. Assim, a questão da sustentabilidade
ecológica conduz a outra questão: como os ecossistemas funcionam e como se organizam
para sustentar seu processo de vida? E esta questão, em seu turno, leva a uma outra mais
genérica: como os sistemas vivos – organismos, ecossistemas e sistemas sociais – se
organizam a si próprios? Em outras palavras, qual é a natureza da vida? Este é o foco de
trabalho teórico dele.
O objetivo do artigo é apresentar o pensamento sistêmico de Fritjof Capra, que, em sua
obra, trata de uma visão unificada da vida, da mente e da sociedade e apresenta propostas
claras para a humanização do desenvolvimento econômico mundial.
2. O CONCEITO DE REDES
2.1 METABOLISMO - A ESSÊNCIA DA VIDA
Para tratar da ciência para uma vida sustentável, Capra (2005a), parte de uma pergunta
muito antiga - o que é a vida? Qual a diferença entre uma pedra e uma planta, um animal e
um microorganismo? Para entender a natureza da vida é preciso muito mais que entender
DNA, proteínas e outras estruturas moleculares, que são os blocos construtores dos
organismos vivos, porque estas estruturas também estão presentes em organismos mortos,
por exemplo, em objetos mortos como: pedaços de madeiras mortos e ossos.
Para o autor, a diferença entre um organismo vivo e um morto assenta-se no processo
básico da vida – o metabolismo que significa o fluxo ininterrupto de energia e matéria
através de uma rede de reações químicas, que permite a um organismo vivo gerar, reparar e
perpetuar a si mesmo continuamente.
A compreensão do metabolismo inclui dois aspectos básicos: Um é o fluxo contínuo de
energia e matéria. Todos os sistemas vivos necessitam de energia e alimento para se
sustentar, e todos os sistemas vivos produzem sobras. Isto é parte do metabolismo. Mas a
vida evolui de tal forma que os organismos formam comunidades, os ecossistemas, onde a
sobra de uma espécie é alimento para outra, como na figura 1, de modo que a matéria
circula continuamente através do ecossistema. (CAPRA, 2004).
FONTE: CAPRA ( 2004, p. 148)
Mudando-se dos sistemas biológicos para os sociais, Capra (2005a, p. 94) afirma que “a
vida no reino social pode também ser entendida em termos de rede, mas aqui não se lida
com reações químicas, lida-se com comunicação”. As redes vivas nas sociedades humanas
são redes de comunicação. Assim como as redes biológicas, elas são autogeradoras, mas o
que elas geram é, na sua grande totalidade, não-material. Cada comunicação cria
pensamentos e significados, que dá oportunidade para mais comunicação e, assim, toda a
rede, gera a si própria.
Na medida em que a comunicação prossegue numa sociedade em rede, criam se múltiplos
círculos de feedbacks os quais, eventualmente, produzem e partilham um sistema de
crenças, explicações, e valores – “um contexto comum de significados, também conhecido
como cultura, o qual é continuamente sustentado por mais comunicação” (CAPRA, 2005a,
p. 103).
Através desta cultura os indivíduos adquirem identidade como membros de uma rede
social e desta forma a rede gera seus próprios limites. Não se trata de um limite físico, mas
um limite de expectativas, de confiabilidade e lealdade, continuamente mantido e
renegociado pela rede de comunicação.
A cultura, destarte, nasce da rede de comunicação entre os indivíduos e produz obrigações
sobre suas atitudes. Em outras palavras, as regras do comportamento que obrigam as ações
dos indivíduos são produzidas e continuamente reforçadas por sua própria “rede de
comunicação”. (CAPRA, 2005a, p.105).
Para o autor, a rede social também produz um corpo de conhecimento partilhado –
incluindo informação, idéias e saberes que formata as idiossincrasias da cultura em adição
aos seus valores e crenças. Contudo, os valores da cultura e crenças também afetam seu
próprio corpo de conhecimentos. Eles são partes da lente através da qual é visto o mundo.
As redes biológicas operam no reino da matéria, as redes sociais no reino do significado.
Os sistemas biológicos trocam moléculas em suas redes de reações químicas; os sistemas
sociais trocam informações e idéias em suas redes de comunicação.
A análise das similaridades e das diferenças entre as redes biológica e social é central para
a síntese da nova compreensão científica da vida, da mente e da sociedade, como também
para desenvolver uma maneira de tratar coerente e sistêmica de algumas grandes questões
da sociedade.
À medida que este novo século segue em frente, conforme Capra (2005a), percebem-se
dois desenvolvimentos que terão fortes impactos sobre o bem-estar e a forma de vida da
humanidade. Ambos têm a ver com as redes e envolvem tecnologias radicalmente novas.
Um deles é a ascensão do capitalismo global; a outra é a criação de comunidades
sustentáveis baseadas na prática de uma perspectiva ecológica. Onde quer que o
capitalismo global esteja ligado à rede eletrônica de fluxo informacional e financeiro, a
perspectiva ecológica está conectada à rede ecológica de fluxo de energia e material. O
objetivo da economia global, em sua forma atual, é maximizar a riqueza e o poder das
elites; o objetivo das perspectivas ecológicas é maximizar a sustentabilidade da teia da vida.
Durante as ultimas três décadas a revolução da tecnologia da informação fez surgir um
novo tipo de capitalismo que é profundamente diferente daquele da revolução industrial ou
daquele que emergiu após a segunda guerra. Tem três características fundamentais. O
centro de suas atividades econômicas é global, a principal fonte da sua produtividade e
competitividade é a inovação, geração de conhecimento e processamento de informação e
está estruturado amplamente em redes de fluxo financeiro. Este novo capitalismo global
também é conhecido como nova economia ou simplesmente globalização (CAPRA, 2005a).
Na nova economia o capital opera em tempo real movendo-se rapidamente de uma opção
para outra numa busca incessante de oportunidades de investimento. Os movimentos de
cassino global operado eletronicamente não seguem nenhuma lógica de mercado. Os
mercados são continuamente manipulados e controlados por estratégias de investimento
elaborados por computadores, percepções subjetivas de analistas influentes, de eventos
políticos em qualquer parte do mundo, principalmente, por turbulências inesperadas
causadas por interações complexas do fluxo de capital. (CAPRA, 2005a).
O impacto da nova economia sobre o bem-estar e humano tem sido altamente negativo.
Tem enriquecido uma elite global de especuladores financeiros, empreendedores e
profissionais high-tech. No topo, tem havido acumulação de riquezas sem precedentes.
Mas na sua totalidade as suas conseqüências sociais e ambientais têm sido um desastre.
4. A ASCENÇÃO DO CAPITALISMO GLOBAL
A ascensão do capitalismo global tem sido acompanhada pela ascensão e polarização das
desigualdades sociais dentro e fora dos países, em particular a pobreza, e as desigualdades
sociais têm aumentado através do processo de exclusão social, o qual é uma conseqüência
da estrutura em rede da nova economia. “À medida que o fluxo capital e a informação
interligam redes de escala mundial, eles excluem destas mesmas redes todas as populações
e territórios que não têm valor ou interesses para suas buscas de ganho financeiro”
(CAPRA, 2005a, p. 147). Como resultado, certos segmentos da sociedade, áreas das
cidades, regiões e mesmo países inteiros tornam-se economicamente irrelevantes.
Assim, um novo segmento empobrecido da humanidade emerge em volta do mundo como
conseqüência direta da globalização. Isto compreende grandes áreas dos planetas como as
áreas abaixo do Saara Africano, as áreas rurais da Ásia e da América Latina. Mas a
geografia da exclusão social também inclui porções de todos os países e de todas as
cidades do mundo.
Segundo Capra (2005a), de acordo com a doutrina da economia da globalização conhecida
como neoliberalismo, os acordos de livre comércio internacional impostos pela
Organização Mundial do Comércio – OMC - sobre seus países membros aumentarão o
comércio global. Isto criará uma expansão econômica global; e o crescimento econômico
global diminuirá a pobreza, porque seus benefícios eventualmente “fluirão abaixo” para
todos .
Esta afirmação está fundamentalmente errada, de acordo com o autor. O capitalismo global
não mitiga a pobreza e a exclusão social, ao contrário exacerba-os. O neoliberalismo tem
estado cego para este efeito porque os economistas das corporações têm tradicionalmente
excluído dos seus modelos os custos sociais da atividade econômica. Similarmente, os
economistas mais convencionais têm ignorado os custos ambientais da nova economia - o
aumento e a aceleração da destruição ambiental global é tão grave, se não mais do que seu
impacto social.
Uma das crenças do neoliberalismo é que os países pobres deveriam concentrar na
produção de um pequeno e especial grupo de mercadorias para exportação com intuito de
obter capital estrangeiro e deveriam importar grande parte das demais commodities. Esta
ênfase na exportação tem levado a um rápido esgotamento dos recursos naturais
necessários para produzir safras a serem exportadas país após país – o desvio de água
fresca para interior de fazendas; o foco sobre agricultura de consumo intensivo de água, tal
como cana-de-açúcar, resulta em leitos de rios secos, a conversão de terra agricultável de
boa qualidade em plantações de safra para fazer dinheiro, e a migração forçada de um
grande número de agricultores de suas terras. Por todo mundo há incontáveis exemplos de
como a globalização econômica está piorando a destruição ambiental (CAPRA, 2005a).
Desde que o valor dominante no capitalismo global é ganhar dinheiro, seus representantes
procuram eliminar legislações ambientais valendo-se da bandeira do livre comércio onde
quer que possam, a não ser que estas legislações não interfiram com seus lucros. Assim, a
nova economia causa destruição ambiental não somente aumentando o impacto das suas
operações sobre os ecossistemas do mundo, mas também eliminando leis de proteção
ambiental nacional país após país. Em outras palavras, a destruição ambiental não é apenas
um efeito colateral, mas é também uma parte intestinal do capitalismo global.
5. CONCEITOS DE DESENVOLVIMENTO
5.1 DESENVOLVIMENTO BIOLÓGICO
Na agricultura, uma coalizão em escala mundial de ONGs foi formada para resistir a
apressada e descuidada introdução de transgênicos e para promover a prática de uma
agricultura sustentável.
À medida que a lacuna entre os anúncios da indústria biotécnica e as realidades da
alimentação biotecnológica tornam-se ainda mais aparentes nos últimos anos; a resistência
contra os alimentos transgênicos, segundo Capra (2005a), cresceu e transformou-se num
movimento político mundial.
Os anúncios da biotecnologia, para Capra, desenham um novo mundo no qual a agricultura
não mais dependerá de químicos e assim não mais danificará o meio ambiente. A
alimentação será a melhor e mais segura do que foi antes, a fome mundial desaparecerá. Os
que foram ativistas ambientais por muitas décadas sentem um forte pressentimento de dejá
vu quando lêem ou escutam tais projeções otimistas, mas totalmente insipiente do futuro.
Relembra-se vividamente que uma linguagem similar foi usada pelas mesmas corporações
agroquímicas quando elas promoveram uma nova era de químicos para agricultura
alardeada como “Revolução Verde” décadas atrás.
Desde aquela época, o lado escuro da agricultura tornou-se dolorosamente evidente. Hoje é
bem sabido que aquela revolução não ajudou nem agricultores, nem a terra, nem
consumidores. Os efeitos a longo prazo do uso excessivo da química na agricultura têm
sido um desastre para a saúde do solo e para a saúde humana, para as nossa relações sociais
e para todo ambiente natural sobre o qual nosso bem estar e futura sobrevivência
dependem.
Os proponentes da biotecnologia freqüentemente argumentam que as sementes de
transgênicos são cruciais para alimentar o mundo. Entretanto, as agências de
desenvolvimento sabem há muito tempo que as raízes da causa da fome em volta do
mundo não estão relacionadas com a produção de alimentos. Elas são pobreza,
desigualdade e falta de acesso a alimento e terra. Se essas causas estruturais não forem
abordadas, a fome persistirá pouco importando que tecnologia será usada.
A verdade simples é que a maioria das inovações relativas a alimentos biotecnológicos tem
sido orientada pelo lucro não pela necessidade. Para Capra (2005a), por exemplo, grãos de
soja sofreram intervenção da engenharia da Monsanto para resistir especificamente ao
herbicida Roundup produzido pela própria empresa de forma a aumentar as vendas daquele
produto. A Monsanto também produziu sementes de algodão contendo um gene de
inseticida, objetivando aumentar dramaticamente as vendas de semente. Tecnologias como
estas aumentam a dependência dos agricultores sobre produtos que são patenteados e
protegidos por “direitos de propriedade intelectual”, o que faz as velhas práticas da
agricultura de reprodução, estocagem e divisão de sementes uma prática ilegal.
Há fortes indicações que uso descontrolado de colheitas trangênicas não irá apenas falhar
na solução do problema da fome, mas, ao contrário, poderá perpetuá-la e agravá-la. Se
sementes trangênicas continuarem a ser desenvolvidas e manipuladas exclusivamente por
corporações privadas, agricultores pobres não poderão adquirí-las e se a indústria
biotécnica continuar a proteger seus produtos através de patentes que impeçam de estocar e
comercializar sementes, os pobres se tornarão no futuro dependentes e marginalizados.
Os riscos da atual biotecnologia na agricultura são uma conseqüência direta da falta de
uma perspectiva ecológica dentro da indústria biotécnica. Modificações genéticas de
colheitas são feitas com uma pressa inacreditável, e transgênicos são plantados
maciçamente sem testes apropriados de curto e longo prazo dos impactos sobre os
ecossistemas e sobre a saúde humana. Estas colheitas de transgênicos não testadas e
potencialmente perigosas espalham-se por todo planeta criando riscos irreversíveis;
infelizmente estes riscos são freqüentemente colocados de lado pelos geneticistas cujo
conhecimento e treinamento ecológico é mínimo. (CAPRA, 2005a).
Nas suas tentativas de patentear, explorar e monopolizar todos os aspectos da
biotecnologia, as grandes corporações agroquímicas têm comprado semente e empresas
biotécnicas e têm se reestilizado como “corporações da ciência da vida”. As fronteiras
tradicionais entre as indústrias farmacêuticas, agroquímicas e biotecnológicas estão
desaparecendo rapidamente na medida que se fundem para formar conglomerados
gigantescos sob a bandeira da ciência da vida.
O que todas estas chamadas “corporações da ciência da vida” têm em comum é o reduzido
conhecimento da vida baseado numa crença errada que a natureza pode estar sujeita ao
controle humano. Ignoram a auto-geração e a auto-organização dinâmica, que é a essência
da vida, e ao invés disso redefinem organismos vivos como máquinas que podem ser
manuseadas de fora, patenteadas e vendidas como recursos industriais. Assim, segundo o
autor, a própria vida tornou-se a última commodity.
Em anos recentes, os problemas de saúde causados pela engenharia genética assim como
seus problemas sociais, ecológicos e éticos tornaram-se todos muito aparentes, e há agora
um movimento global crescente muito rápido que rejeita esta forma de tecnologia.
Para Capra (2005a), felizmente há uma alternativa ecologicamente aprovada e muito bem
documentada para os transgênicos, nova, que está lentamente tomando conta da agricultura
mundial numa revolução silenciosa. É conhecida como “agricultura orgânica”, ”agricultura
sustentável” ou “agroecologia”. Quando os agricultores plantam safras organicamente, eles
usam tecnologia baseada no conhecimento ecológico e não no químico ou na engenharia
genética para aumentar seus campos, o controle das pestes e promover fertilidade no solo.
Segundo o autor, quando o solo é cultivado organicamente, seu conteúdo de carbono
aumenta, e assim a agricultura orgânica contribui para reduzir o aquecimento global. De
fato, tem-se estimado que aumentando o conteúdo de carbono nos solos empobrecidos do
planeta a níveis plausíveis absorveria quantidade de carbono equivalente àquelas emitidas
pelas atividades humanas.
O renascimento da agricultura orgânica é um fenômeno mundial. Agricultores em mais de
130 países produzem atualmente alimento orgânico para comercializar; a área total que
está sendo trabalhada de forma sustentável é estimada em mais de sete milhões de hectares
e o mercado da alimento orgânico tem crescido numa estimativa de U$ 22 bilhões ao ano.
(CAPRA, 2005a).
Há evidência abundante que agricultura orgânica é uma alternativa ecológica saudável à
química e à tecnologia genética da indústria da agricultura. A agricultura orgânica aumenta
a produtividade de forma viável economicamente, socialmente e é ambientalmente benigna.
A segunda lição, que o autor nos passa, é que mesmo a melhor combinação possível entre
as fontes de energias renováveis não será suficiente a não ser que usemo-las de maneira
eficiente. O autor reforça que os recentes desenvolvimentos no campo da conservação de
energia têm sido extremamente encorajadores. Os projetistas ambientais acreditam que
uma impressionante redução de 90% hoje na energia e nos materiais é possível apenas com
a tecnologia existente sem causar nenhuma redução no padrão de vida. A razão para esta
possibilidade realista de tal dramático aumento na produtividade das fontes assenta-se na
ineficiência concentrada e no desperdício que são características da maioria dos projetos
industriais atuais.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As práticas sustentáveis mencionadas nos dois setores por Fritjof Capra – energia e
agricultura, segundo ele, são apenas alguns exemplos da revolução do ecodesign que está
agora ocorrendo. Suas novas tecnologias e práticas incorporam princípios básicos de
ecologia e, portanto, têm características em comum. Elas tendem a ser pequenas, com
muita diversidade, eficientes energeticamente, não poluentes, orientadas para a
comunidade, intensivas com relação ao trabalho e geradoras de empregos.
As tecnologias agora disponíveis fornecem fortes evidências que a transição para um
futuro sustentável não é mais um problema técnico ou conceitual. É um problema de
valores e desejo político.
Em adição a essas considerações, o pensamento de Norberto Elias na obra Envolvimento e
Alienação (1998), trata da necessidade dos sociólogos se distanciarem ou se alienarem do
problema sociológico que estão estudando para fornecerem alternativas confiáveis para a
resolução dos problemas da humanidade; que, em síntese, é o de proteger os humanos dos
perigos que eles representam para si próprios.
Elias relata que os problemas devem ser estudados numa perspectiva de tempo de longa
duração porque os fatos que estão ocorrendo neste momento têm ligação com os que os
antecederam e influenciarão outros fatos no futuro. É como numa partida de xadrez, em
que não se pode analisar a jogada número dezoito sem conhecer todas as que a
antecederam. Primeiro, deveria se conhecer, na partida, qual foi o tipo de abertura utilizada,
o sistema de defesa do oponente, etc. Assim, também é na sociologia.
O termo usado como conceito genérico para o padrão que os seres humanos
interdependentes formam em conjunto, como grupos ou indivíduos é chamado por Elias de
figuração ou configuração.
Outro conceito chave para entender essas questões é o conceito de síntese avançada que
trata do seguinte: sob certas condições, a partir das moléculas pequenas surgiram as
grandes moléculas, unidades mais altamente organizadas e, finalmente, os organismos
celulares, a partir das grandes moléculas, para então chegar aos organismos com órgãos
cada vez mais especializados, capazes de sínteses cada vez mais amplas, até as formações
mais complexas – os humanos. Ao mesmo tempo, todavia, esse conceito se refere ao
desenvolvimento do conhecimento humano sobre o mundo em que vivemos e do qual
fazemos parte. Etapa se sucede à etapa, numa espiral da evolução da humanidade.
As alternativas para o futuro estão sendo mostradas pelo espírito científico de Fritjof Capra,
com teorias de redes e sistemas e suas propostas; e de Norberto Elias, com teorias sobre
figurações e reflexões sobre a grande evolução (III Parte de Envolvimento e Alienação).
São os cientistas pilotos no comando da nave Terra, acionando o leme, para que a
humanidade tome seu rumo certo. Assim seja.
Abstract
The article deals with the humanizing proposals of the worldwide economic development,
of the physicist and system scientist, Fritjof Capra, author of best-sellers that include The
Tao of Physics, The Turning Point, The Web of Life, and The Hidden Connections. In this
last one, he treats his ideas and theories that are presented in this article. The objective of
the article is to present the systemic thought of the author, who, in his work, deals with a
unified vision of the life, the mind and the society. Capra presents as conclusions the
sustainable practices in the energy and agriculture that are examples of the ecodesign
revolution that already is occurring at this moment. The current available technologies
supply strong evidences that the transition for a sustainable future is not a conceptual or
technical problem any more. Its a problem of values and political desire.
Referências
CAPRA, Fritjof. Conexões Ocultas: Ciência para uma Vida Sustentável. 4ª ed. Trad. Marcelo Brandão
Cipolla. São Paulo, SP: Editora Pensamento-Cultrix Ltda, 2005a.
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos. 9ª ed. Trad.
Newton Roberval Eichemberg.. São Paulo, SP: Editora Pensamento-Cultrix Ltda, 2004.
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação: A Ciência, a Sociedade e a Cultura emergente. 23ª ed. Trad. Álvaro
Cabral. São Paulo, SP: Editora Pensamento-Cultrix Ltda, 2002.
CAPRA, Fritjof. O Tao da Física: Um paralelo entre a Física Moderna e o Misticismo Orienta. 23ª ed. Trad.
José Fernandes Dias. São Paulo, SP: Editora Pensamento-Cultrix Ltda, 2005b.
ELIAS, Norbert. Envolvimento e Alienação. Editor alemão Michael Schroter, traduzido do inglês por Álvaro
de Sá. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.