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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS

SANDRA REGINA BERGMANN SCHNEIDER

PROSTITUIÇÃO E DIREITOS HUMANOS

PELOTAS
2010
SANDRA REGINA BERGMANN SCHNEIDER

PROSTITUIÇÃO E DIREITOS HUMANOS

Trabalho apresentado à disciplina de


Direitos Humanos, no Curso de
Direito da Universidade Católica de
Pelotas, requisito para aprovação na
disciplina.

Orientadora: Profª Dra. Anelize


Maximila Corrêa.
PELOTAS
2010
Dedicatória

A meu esposo, pelo incentivo.


Á minhas filhas, Jordana e Júlia
pela compreensão nas ausências.
Agradecimentos

Á Gislaine e Antoniel Danda


pela força constante.

À Flávia Danda pelas alegrias.


RESUMO
A violação excessiva dos Direitos Humanos no decorrer da Segunda Guerra Mundial, incitou os
Estados a criarem um órgão internacional que primasse pelo estabelecimento e manutenção da
paz no mundo. Criou-se a ONU e a partir deste órgão os Estados conveniaram, trataram e
formalizaram diversos Protocolos, Tratados e Convenções no intuito de proteger os direitos e
liberdades básicos do homem.
Apesar de já termos evoluído muito em relação a universalização e positivação destes direitos
expressos em diversos documentos, a vida real ainda traz muita violação de direitos básicos ao
homem, principalmente no que tange as mulheres e crianças, o que se agrava quando estas
vivem no mundo da prostituição.
Uma análise do submundo em que vivem e trabalham estas pessoas, mostra um retrato de
miséria, drogas, estigmas e desigualdade social. Um ciclo vicioso em que fazem parte a
exploração sexual de mulheres e crianças jogando-as num sistema de violação de direitos que
repercutirão em todo o seu ciclo de vida.

Palavras-chave : Direitos Humanos, exploração sexual, prostituição, direitos da mulher, direito


da criança.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................8
2. HISTÓRIA DA PROSTITUIÇÃO................................................................................9
3. A REALIDADE BRASILEIRA..................................................................................10
4. MOBILIZAÇÃO DAS PROSTITUTAS POR DIREITOS........................................12
5. DIREITOS HUMANOS E PROSTITUIÇÃO FEMININA........................................12
6. A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS.............................16
a)Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a
Mulher.........................................................................................................................18
b)Convenção sobre os Direitos das Crianças..............................................................19
7. CONCLUSÃO.............................................................................................................20
8. REFERÊNCIAS.........................................................................................................21
LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Prostituição e Direitos Violados......................................................................13


Tabela 2 – Violação de Direitos da Mulher nas Cidades Brasileiras.............................15
1. INTRODUÇÃO

Este artigo pretende discutir o tema da prostituição em sua relação com os


direitos humanos. O mundo e o submundo da prostituição feminina, as conseqüências
destas práticas no seu dia-a-dia, seus filhos, sua família. A relação entre a prostituição
infantil e a feminina no atual contexto brasileiro e onde estas pessoas têm seus direitos
humanos respeitados.
Para tanto, busquei dados históricos e atuais sobre a realidade da prostituição no
Brasil, locais de maior incidência e menor respeito pelos direitos das pessoas, relatos
pessoais, pesquisas científicas, fatos verídicos deste submundo que tem conseqüências
imensuráveis para estas famílias.
Numa sociedade capitalista, onde o consumo é fator de desigualdade social, e a
ordem de inserção social é a capacidade de consumo, o acesso ao mercado de trabalho é
vital. Abordarei a capacidade de qualificação para o trabalho, o mercado de trabalho e o
estigma dos sobreviventes da prostituição. Por fim, analisarei os dispositivos legais na
Constituição Federal do Brasil de 1988, a adesão a Convenção sobre a Eliminação de
todas as formas de Discriminação contra a Mulher e a Convenção sobre os Direitos da
Criança.
2. HISTÓRIA DA PROSTITUIÇÃO

A sensibilidade sobre o que se considera prostituição está intimamente ligada a


sociedade e a moral aplicável ao tempo e circunstâncias. É reprovada socialmente em
função da moral, das doenças sexualmente transmissíveis, do adultério e pelo impacto
negativo nas estruturas familiares.
A prostituição data pelo menos desde a antiguidade, onde era praticada por meninas
como um ritual de iniciação. Ao longo dos tempos e da história a presença de prostitutas
é constante, por vezes consideradas sacerdotisas e merecedoras de destaque. Em outros
tempos apesar de admiradas eram estigmatizadas, e deveriam vestir-se de forma
diferente da sociedade em geral e exerciam grande poder político, sendo extremamente
respeitadas. O poder ou a estigmatização estão relacionados com a moral e religião de
cada sociedade da época.
O cristianismo tentou eliminar a prostituição, impulsionada pela moral cristã mas
principalmente pelas doenças sexualmente transmissíveis. O advento da Revolução
Industrial trouxe um aumento na prostituição, com a entrada no mercado de trabalho
pelas mulheres, as condições desumanas propiciavam a troca de favores com os
capatazes e patrões, expandindo a escravidão e o tráfico de mulheres.
A ONU, em 1949, denunciou e tentou tomar medidas para o controle da prostituição
no mundo. Os Países Ocidentais tomaram medidas com o intuito de retirar a
prostituição da atividade criminosa onde se tinha inserido no século anterior, quando a
exploração sexual passou a ser executada por grandes grupos de crime organizado,
havia a necessidade de desvincular a prostituição do crime de forma a minimizar os
lucros dos criminosos.
Atualmente as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e sobretudo a AIDS, são
fatores de risco para a prática da prostituição e apesar da tentativa dos órgãos de saúde
pública no mundo na prevenção destas doenças, em regiões mais pobres do mundo a
miséria e a prostituição são praticamente sinônimas.
No Brasil, a prostituição, o tráfico de drogas e as DST são comuns nas regiões
menos favorecidas, principalmente no Norte e Nordeste do país, a prostituição infantil é
comum nas camadas mais pobres dos centros urbanos. A região do Pantanal e fronteiras
com os países sul americanos o turismo sexual é o grande mercado, onde crianças de
ambos os sexos são recrutados para satisfazer os desejos de pedófilos provindos de
todas as partes do mundo, em especial Estados Unidos e Europa.

3. A REALIDADE BRASILEIRA

A prostituição encontra espaço nos grandes e pequenos centros, nas casas de luxo e
nos casebres, pode ser requintada e gerar um lucro considerável para algumas das
operadoras do sexo, pode até ser desculpa para pagar uma faculdade, porém na sua
grande maioria é forma de discriminação e desigualdade social. A busca por um espaço
na sociedade, a capacitação para o consumo, a incapacidade para o mercado de trabalho,
os maus-tratos no seio da família ou simplesmente um prato de comida são alguns dos
fatores que levam grande parte das operadoras do sexo a enveredar pelo caminho da
prostituição e descobrir a cruel realidade que o cerca.
Maria de Lourdes de Souza, 32 anos, grávida de oito meses, vende carícias numa
calçada escura da capital do Brasil. Cobra R$ 10,00 promete paciência e jura que a
barriga não lhe atrapalha o ofício. Faz o serviço de olhos fechados, concentra o
pensamento no rebento que carrega no ventre retalhado de estrias. Ela é a puta que
pariu, ele é o filho da puta e esta é uma história sobre mães e filhos.
(www.direitos.org.br em 31 de agosto de 2005).
Maria Fernanda Valdez brinca no quintal do cabaré de sua avó na cidade de Ponta-Porã,
na violenta fronteira com o Paraguai, 60 mil habitantes, muamba, mulheres, cocaína e
armas à disposição do freguês. A menina tem 1 ano e 8 meses de vida, uma mãe, duas
tias, uma avó e nenhum pai. O homem que a fez não assumiu a paternidade. Alega que é
neta de cafetina e filha de devassa. Franciele Valdez (mãe de Maria Fernanda), 18 anos,
teme que o leite do peito seque e silencia. Aprendeu a chorar para dentro e olhar para
frente. - Na escola, os garotos apontavam para mim e berravam: a mãe dela tem uma
zona! Ela é que carrega a filha para o bordel. Ensina a saciar covardes, vende a menina
para cafajestes. Sem peito, sem curvas, sem maldade, a criança obedece. Aprendeu que
mães jamais são malvadas. Essa é uma história sobre crimes. (www.direitos.org.br em
31 de agosto de 2005).
Ana Silva se rendeu. Servia a policiais, vereadores e turistas em Cáceres, no Pantanal
mato-grossense, Meca do turismo sexual verde-e-amarelo. Tinha 16 anos, trabalhava
desde os 11, até que engravidou e viu a clientela minguar a cada centímetro da barriga.
Com 4 meses desistiu. Pagou R$ 300 pelo aborto ao homem que até hoje chama de
monstro. Ele fez o serviço num quarto de motel e não cobrou apenas a retirada do feto.
Antes, exigiu 1hora de prazer. Ana cumpriu o acertado, tempos depois, denunciou o
criminoso. Pior para ela. Ganhou fama de delatora, não arranja emprego, vive sendo
ameaçada corre o risco de perder a guarda de outro filho. (www.direitos.org.br em 31
de agosto de 2005).
Estas são apenas algumas histórias do submundo da prostituição nas regiões menos
favorecidas. É muito mais do que vender o próprio corpo, segundo Bibiana Aído,
Ministra da Igualdade da Espanha, “a prostituição é a escravidão do século XXI”.
Este é o retrato de famílias destruídas pela profissão das mães. Elas vendem o corpo
para suprir o seu sustento, muitas trocam os favores sexuais por um prato de comida ou
para o filho, não há quem as provenha. Elas começam cedo, incentivadas pelas próprias
mães ou pela falta delas, os maus-tratos ou abusos sexuais na família são outro fator.
Em muitos casos as mães vendem as filhas para sustentar o próprio vício. O tempo
passa e o ciclo continua. É um ciclo vicioso e de poucas perspectivas.
Um cenário fértil para a ação do crime organizado que visa a exploração sexual de
mulheres e crianças. Segundo Nilmário Miranda, ex-secretário de Direitos Humanos da
Presidência da República , a prostituição como crime organizado só perde em
lucratividade para o tráfico de drogas e do contrabando de armas no Brasil.
Todas as pesquisas mostram que a venda de crianças, a exploração sexual e a
pornografia possuem causas no subdesenvolvimento, na pobreza, na desigualdade
econômica, na falta de estrutura familiar, na má qualidade da educação, nas migrações,
na discriminação contra as mulheres e no abuso sexual familiar. (Miranda,Nilmário.
Disponível em: HTTP://proex.reitoria.unesp.br/informtivo)
No Brasil, a região Norte tem um contexto favorável para a exploração sexual, as
amplas fronteiras, a natureza, as desigualdades sociais, o tráfico de drogas corroboram
para a prática. A pesquisa feita por Ana Beatriz Magno e José Varella1, apontam Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul como as regiões onde ocorre o mercado do corpo no
turismo sexual náutico (barcos, hotéis, agências de viagem, taxistas, boates), turistas de
todo país e estrangeiros viajam para a região para a temporada de pesca mas o que
buscam mesmo é a biscatearia(prazeres sexuais em motéis flutuantes) e nas suas
fronteiras com a Bolívia e o Paraguai, na conexão com o tráfico de drogas, nas boates
de luxo, no baixo meretrício nas áreas urbanas e nas estradas. As mulheres vendem o
corpo por R$1,99 e pagam R$1,00 pela base (pior parte da cocaína, o lixo, a sobra após
o refino, tem efeito rápido e estimulante – em menos de 5minutos) para suportarem o
meretrício. Ainda segunda a mesma pesquisa em Goiás o mercado do corpo funciona no
tráfico internacional e nacional de mulheres, crianças e adolescentes, além das boates de
luxo, que supervalorizam os produtos que vendem aos seus clientes, uma forma indireta
de negociar programas sexuais, pois cobram das prostitutas o estímulo ao consumo de
seus clientes repassando à elas míseros trocados e quando engravidam não serão mais
aceitas no plantel da boate, saindo sem nenhum direito e muitas obrigações.
A situação de miséria (fome, analfabetismo, desestrutura familiar, etc.) por que
passam as famílias pobres brasileiras, especialmente as do Norte e Nordeste, aliada à
cultura do machismo, contribui para a expansão da exploração sexual infanto-juvenil
que passa a se tornar muitas vezes imprescindível para a sobrevivência familiar, “um
1
Pesquisa sobre A Prostituição no Brasil, feita através do Correio Braziliense, no ano de 2005, com dados
sobre a CPMI da exploração sexual no Brasil, relata depoimentos de mulheres, crianças e famílias que
convivem com esta realidade. Disponível em: <HTTP://www.direitos.org.br>
mercado de trabalho” sexual, que ocasiona uma renda através da venda do corpo de
meninas e jovens, conduzindo-as à depreciação moral, ética, física e psicológica,
dificultando sua integração à sociedade e ao seu núcleo familiar.

4. MOBILIZAÇÃO DAS PROSTITUTAS POR DIREITOS

O menosprezo, desrespeito, a estigmatização sempre fizeram parte do dia-a-dia das


prostitutas, optar (?) por esta profissão raramente traz só benefícios e a história
comprova.
Em 1979, uma forte repressão policial à prostituição no centro de São Paulo que
resultou nas mortes de um travesti e duas mulheres, uma delas grávida, incitou a
primeira grande mobilização das prostitutas em busca de seus direitos.
Começam aí as passeatas reivindicando direitos e denunciando os abusos e
arbitrariedades da polícia. O I Encontro Nacional das Prostitutas2, aconteceu em julho
de 1987 e constitui-se daí a Rede Brasileira de Prostitutas. Associações regionais foram
organizadas objetivando a formalização das relações de trabalho, o combate às múltiplas
formas de violência que vivenciam e a crítica ao estigma que sobre elas recai.
Desde 2004 uma representante é eleita para representar a categoria na Conferência
Nacional dos Direitos Humanos, evidenciando o interesse da Rede em descentralizar o
poder.

5. DIREITOS HUMANOS E PROSTITUIÇÃO FEMININA

Com o apoio do Fundo de População das Nações Unidas, em 2008 foi realizado um
projeto de pesquisa "Direitos Humanos e Prostituição Feminina”3 na cidade do Rio de
Janeiro com o objetivo de conhecer no âmbito nacional a prostituição e a questão dos
direitos.
Esta pesquisa foi realizada na sede da Davida e contou com a colaboração de uma
mediadora política, a prostituta Jane Eloy4. As entrevistas resultaram em um denso
2
O I Encontro Nacional de Prostitutas, aconteceu no Rio de Janeiro em julho de 1987 e teve como sua
principal articuladora, Gabriela Silva Leite, líder do movimento pelos direitos das prostitutas. O lema do
encontro era “Mulher da vida, é preciso falar”.
3
O projeto Direitos Humanos e Prostituição foi elaborado pelo núcleo de pesquisa da Instituição Davida
(fundada em 1992 por Gabriela Silva Leite) que tem por objeto articular políticas públicas nas áreas de
prostituição, cultura, cidadania, direitos humanos e saúde, incluindo ações de prevenção de DST e AIDS.
4
Jane Eloy, prostituta e ativista do movimento participou como mediadora e facilitou o fornecimento de
depoimentos de forma menos constrangedora e mais real para o projeto.
material de pesquisa, integrado por uma diversidade de temas a serem posteriormente
explorados, as prostitutas revelaram experiências diversas de violações no contexto de
suas histórias de vida e no exercício de sua profissão. Abordar o tema dos direitos e
instigar a fala sobre a percepção de direitos das entrevistadas nas diversas situações por
elas descritas, proporcionou a avaliação do cenário em que vivem as prostitutas.
O quadro demonstrativo abaixo foi elaborado a partir da pesquisa feita e demonstra
os contextos mais abordados nas entrevistas: rua, termas e zona confinada. Através dele
é possível analisar os tipos de violação diferentes em cada cenário de atuação.
Tabela 1- Prostituição e Direitos Violados
Modalidades de Violação de Direitos no Percepções de Direitos por
Exercício da Exercício da Profissão parte das Prostitutas
Prostituição
Calote de clientes Direito de ser remunerado
pelo trabalho

Negação por parte das Direito de ter sua ocupação


autoridades policiais e médicas devidamente reconhecida
em reconhecer a prostituição
como ocupação, cfe CBO

Agressão física vivenciada Direito de exercício seguro da


pelas mulheres em locais de profissão
trabalho considerados pouco
seguros

Violação das regras do Direito de estabelecer as


programa combinadas entre a regras do programa e
prostituta e o cliente assegurar seu cumprimento

Violação dos direitos da Direito de ser respeitada


mulher face a sua integridade como mulher, cfe
física e moral determinado pela Conferencia
Prostituição na Rua Mundial de Direitos
Humanos, Viena, 1993

Recusa masculina ao uso do Direito ao uso do preservativo


preservativo no exercício da profissão

Cobrança de parte dos Direito de receber


rendimentos obtidos pelas integralmente a remuneração
prostitutas por diferentes obtida com seu salário
agentes intermediários

Múltiplas formas de Direito a uma vida livre de


discriminação discriminações
Violação do direito de ir e vir Direito de ir e vir
praticadas por policiais

Endividamento e controle Direito de ter controle sobre


sobre os rendimentos auferidos os rendimentos do seu
pela prostituta trabalho

Diferentes mecanismos de Direito a um comportamento


cobrança (multas) referidos à livre de injunções de terceiros
Termas conduta da prostituta no local no local de trabalho
de trabalho

Redução do tempo de Direito de estabelecer o


programa com fins de tempo de duração do
maximizar a rentabilidade do programa
proprietário do
estabelecimento

Detenção por endividamento Direito de romper uma


relação de trabalho

Coerção ao uso de drogas no Direito de não usar drogas no


exercício da prostituição exercício da prostituição

Destituição de um lugar para Direito de ter um lugar para


dormir em condições dormir em condições
adequadas de higiene e adequadas de higiene e
Zona Confinada segurança, física e psíquica segurança, física e psíquica

Perda da noção de tempo, do Direito a controlar o seu


dia e da noite próprio tempo

Ausência de atendimento Direito ao acesso ao


médico, inclusive de serviços atendimento de saúde
de emergência em caso de
acidente no exercício da
prostituição

Tabela de pesquisa extraída do Livreto das Prostitutas, disponível em : <http://www.sxpolitics.org>

A Rede Brasileira de Prostitutas ao longo de sua trajetória organizou diversos


encontros nacionais, em que discutiu-se a violência no exercício da profissão além das
DST e AIDS, preocupações constantes nesta profissão. O debate possibilitou a
avaliação de um novo quadro, no qual verifica-se as diferentes formas de discriminação
e violência contra a mulher em todo o território nacional. Vejamos o quadro:
Tabela 2 – Violação de Direitos da Mulher nas Cidades Brasileiras
CIDADES/ VIOLAÇÃO DE DIREITOS MAIS RECORRENTES
ASSOCIAÇÕES MENCIONADAS PELAS LIDERANÇAS NA
OFICINA
Corumbá- MS -abusos policiais, sobretudo na região de fronteira coma
DASSC Bolívia;
-prisão indevida: frequentemente as mulheres são liberadas
do outro lado da fronteira:
-recusa de atendimento médico, dificuldade de marcar
consultas médicas por prostitutas.

Macapá- AP -“cafetinagem severa”, nas zonas de confinamento;


AMPSAP -Policiais corruptos que, tratando indevidamente a atividade
da prostituição como ilegal, cobram propina às mulheres;

-violência policial na cidade de Belém: policiais que forjam


Belém-PA
flagrantes de porte de drogas para incriminar as mulheres e
GEMPAC
roubam-lhes o dinheiro. Sentindo-se ameaçadas, as
mulheres enfrentam dificuldades em realizar as denúncias;
- em “região de garimpo” no Estado do Pará, as mulheres
muitas vezes são submetidas à prostituição compulsória
pelos designados “donos de pista” ou “donos de avião”, sem
as mínimas condições de trabalho e sem direito de ir e vir
ou de se expressar;

-prisões indevidas às quais se estipula como “pagamento de


Manaus-AM
fiança” prestações de serviço de limpeza e de serviços
AS AMAZONAS
sexuais sem a devida remuneração;

- ação constante de um policial militar, no centro da cidade,


Curitiba-PR
que joga gás de pimenta nos olhos das mulheres, as deixa
GRUPO DA
nuas, lhes bate com toalha molhada e toma-lhes o dinheiro;
LIBERDADE
-fechamento dos hotéis por parte de autoridades públicas,
impedindo as mulheres de trabalhar em alguns lugares da
cidade;
-cárcere privado;

-cobrança de “pedágio” em vários pontos da cidade de


Salvador-BA
Salvador por policiais, travestis, traficantes;
APROSBA
-prostitutas que são impedidas de entrar em restaurantes do
centro histórico, hoje revitalizado;
-políticos locais que tomam medidas hostis ao exercício da
prostituição em determinadas áreas da cidade;

Belo Horizonte-MG - violação verbal por parte dos transeuntes;


APROMIG -tentativa de remoção de zona para área distante da cidade;
-atitude hostil por políticos locais face ao exercício da
prostituição em área da cidade que deverá ser revitalizada;
-tentativa de erradicação da prostituição de rua na cidade de
BH através de ofício de um deputado dirigido a policiais,
delegados e demais autoridades referidas ao aparato de
repressão policial;

São Luis-MA -denúncia do caso das conhecidas “Irmãs Marlene”,


APROSMA traficantes de Praça João Lisboa, que ocuparam a região e
tributam as prostitutas no valor de um programa por noite;
-travesti que age com violência e cobra as mulheres no
centro da cidade;

Porto Alegre-RS -taxação do trabalho das prostitutas na Rua dos Farrapos e


NEP na Praça Florida por diversos exploradores: travestis,
lésbicas, os chamados “chefes de zona”;
-agressões de policiais a prostitutas com “garrafas pet” com
intuito de não deixar marcas no corpo que provem as
agressões físicas;
-assassinatos de prostitutas em áreas de fronteira por parte
de traficantes que pretendem aliciar as prostitutas do tráfico.

Ribeirão Preto-SP -fechamento de bares em locais de prostituição localizados


VITÓRIA RÉGIA na área da baixada, próxima a rodoviária;
-agressões recorrentes de clientes na Rua 9 de Julho, onde o
programa é realizado nos carros. As agressões nesse caso
são combatidas pela Associação através de estratégias de
registro das placas de carro, disseminada entre as mulheres;

Recife-PE -agressão de prostitutas de transeuntes em área de


APPS prostituição da cidade;
-fechamento dos Cabarés do município de Tamarajibe,
obrigando as mulheres a exercer a prostituição em
municípios próximos.
Tabela extraída do Livreto das Prostitutas. Disponível em:http://www.sxpoltics.org

Estas pesquisas nos trazem um cenário de insegurança e violação de direitos básicos


como ir e vir, além da violência física e psíquica. A vida neste contexto gera
conseqüências diretas no dia-a-dia das prostitutas e suas famílias e na forma como
interagem.

6. A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS


Os direitos humanos são os direitos e liberdades básicos de cada ser humano, a idéia
de liberdade de expressão e de pensamento, e a igualdade perante a lei.
Apesar de ter sido debatida pelos filósofos e juristas ao longo dos séculos,
encontrando alicerces no Cristianismo, que defende a igualdade de todos os homens
numa mesma dignidade desde a Idade Média, passando pela Magna Carta,5 a
Declaração Americana de Independência6, a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão7, foi somente no século XX depois da 2ª Guerra Mundial que os Estados
tomaram consciência das tragédias e atrocidades vividas durante a guerra e criaram a
Organização das Nações Unidas (ONU) em prol de estabelecer e manter a paz no
mundo. Assim em 10 de dezembro de 1948, a Assembléia Geral das Nações Unidas
proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A Declaração em seu artigo 1º afirma:
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de
razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
(DUDH, 1948).

Com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a ONU passou a trabalhar no


sentido da internacionalização desses direitos, sendo necessário redefinir o âmbito e o
alcance do tradicional conceito de soberania estatal, a fim de permitir o advento dos
direitos humanos como questão de legítimo interesse internacional. O Direito
Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho foram os
primeiros passos nesse processo de internacionalização.
A universalização dos direitos humanos fez com que os Estados consentissem em
submeter ao controle da comunidade internacional o que até então era de seu domínio
reservado.
O processo de universalização traz em si a necessidade de implementação, mediante
sistemática de controle e monitoramento.
Surgem a partir daí diversos Pactos e Convenções, especificando direitos e garantias
aos homens.
5
Magna Carta (Grande Carta das liberdades, ou Concórdia entre o rei João e os Barões para a outorga das
liberdades da Igreja e do rei inglês) , documento de 1215 que limitou o poder dos monarcas da Inglaterra,
impedindo assim o exercício do poder absoluto.
6
Declaração Americana de Independência ocorreu em 4 de julho de 1776 e constavam os direitos naturais
do ser humano que o poder político deve respeitar.
7
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada na França em 1789, sintetiza em 17
artigos e um preâmbulo dos ideais libertários e liberais da primeira fase da Revolução Francesa. Pela
primeira vez são proclamados as liberdades e os direitos fundamentais do homem de forma ecumênica,
visando abarcar toda a humanidade.
a) Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação
contra a Mulher.

Em 1979, é realizada a primeira Conferência Mundial sobre a Mulher8, as Nações


Unidas aprovaram a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de
Discriminação contra a Mulher.
A Convenção se fundamenta na dupla obrigação de eliminar a discriminação e
assegurar a igualdade.
Nos termos do art. 1º da Convenção, discriminação contra a mulher significa:
Toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou
resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo, exercício pela mulher,
independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher,
dos direitos humanos e das liberdades fundamentais nos campos político, econômico,
social e civil ou em qualquer outro campo.

O artigo 4º prevê a possibilidade de adoção de ações afirmativas, como importante


medida a ser adotada pelos Estados para acelerar o processo de obtenção da igualdade.
Ou seja, o intuito não é apenas de eliminar a discriminação contra a mulher e suas
causas, mas estimular estratégias de promoção de igualdade.
Ao ratificar a Convenção os Estados-parte se comprometem a progressivamente
eliminar a discriminação e assegurar a efetiva igualdade.
Esta Convenção entende a violência contra a mulher uma forma de discriminação e
portanto não há recorrência ao tema de forma explícita na Convenção.
Em 1993 foi adotada a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher,
que define a violência contra a mulher como sendo:
Qualquer ato de violência baseado no gênero que resulte, ou possa resultar, em dano
físico, sexual ou psicológico ou em sofrimento para a mulher, inclusive as ameaças a
tais atos, coerção ou privação arbitrária da liberdade, podendo ocorrer na esfera pública
ou na esfera privada. (Conselho Social e Econômico, Nações Unidas, 1992).

A Declaração estabelece ainda o dever dos Estados de condenar e eliminar a


violência contra a mulher, não invocando qualquer costume, tradição ou consideração
religiosa para afastar suas obrigações no que tange a eliminação dessa violência(art.4º).

8
Realizada no México, a primeira Conferência Mundial sobre a Mulher instou a ONU a elaborar um
tratado internacional que assegurasse no plano internacional, de forma obrigatória, os Princípios da
Discriminação contra a Mulher.
No Brasil, a violência contra a mulher é crime e a Lei 11.340/2006, conhecida como
Lei Maria da Penha, coíbe a violência doméstica e familiar contra as mulheres. E há
uma atenção especial quando esta violência tenha sido cometida por pessoas que têm ou
tiveram intimidade com a vítima.
Além disso, a lei federal 10.778/2003 estabelece a notificação compulsória, no
território nacional, dos casos de violência contra a mulher atendida em serviços de
saúde públicos ou privados.

b) Convenção sobre os Direitos das Crianças

Em novembro de 1989, as Nações Unidas adotaram por unanimidade a Convenção


sobre os Direitos da Criança, documento que enuncia um amplo conjunto de direitos
fundamentais, civis, políticos e também direitos econômicos, sociais e culturais de todas
as crianças, bem como as respectivas disposições para que sejam aplicadas. Destaca-se
pelo elevado número de ratificação dos Estados, é maior dentre todas as convenções.
Nos termos desta Convenção, a criança é definida como “todo ser humano com
menos de 18anos de idade, a não ser que, pelas legislação aplicável, a maioridade seja
atingida mais cedo” (art. 1º)
O art. 34 prevê a proteção do Estado contra a exploração e o abuso sexual, o Estado
deve tomar medidas para impedir:
a)Que a criança seja incitada ou coagida a dedicar-se a uma atividade sexual ilícita;
b)Que a criança seja explorada para fins de prostituição ou de outras práticas sexuais
ilícitas; c) Que a criança seja explorada na produção de espetáculos ou material de
natureza pornográfica. (Convenção dos Direitos da Criança, 1990).

No tocante à exploração econômica e sexual de crianças foi adotado em 5 de maio


de 2000, um Protocolo Facultativo à Convenção dos Direitos da Criança. O Protocolo
Facultativo sobre a Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantis9 impõe aos
Estados-partes a obrigação de proibir a venda de crianças, a prostituição e a pornografia
infantis, exigindo no seu art. 3º a promoção de medida mínima, a criminalização dessas
condutas.
O Comitê sobre os Direitos da Criança, tem como função a fiscalização e controle
da aplicação destes direitos nos Estados-partes, mediante exame de relatórios Periódicos
encaminhados por estes.

9
Este Protocolo entrou em vigor em 18 de janeiro de 2002, de acordo com o art. 14 deste Protocolo.
No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, regulamenta os
direitos das crianças e adolescentes com base nas diretrizes da Constituição Federal de
1988 a qual internaliza uma série de normas internacionais como a Declaração dos
Direitos da Criança10, Regras mínimas das Nações Unidas para a administração da
Justiça da Infância e da Juventude11 e Diretrizes das Nações Unidas para a prevenção da
Delinqüência Juvenil12. O ECA considera criança a pessoa até 12 anos incompletos, e
entre 12 e 18 anos é considerado adolescente, até os 14 anos é proibido qualquer tipo de
trabalho adulto para o menor.
O ECA é considerado uma lei controversa. Em teoria, protege a criança e educa
melhor o infrator. Mas na prática os menores ficam sem nenhum tipo de punição ou
educação e acabem sendo usados, pelo menos nos casos de tráfico de drogas, pelos
adultos recaindo a culpa sobre os menores, saindo o bando sem punição. O abandono à
criança também é recorrente, nas ruas ou em casa, quando não vendidas.

7. CONCLUSÃO

Os múltiplos processos de estigmatização que incidem sobre as prostitutas,


resultaram em diversas formas de destituição da fala delas sobre si e de imposição de
10
Resolução 1386 da ONU de 20 de novembro de 1959.
11
Regras de Beijing – Resolução 40/33 ONU de 29 de novembro de 1985.
12
As Diretrizes estão disponíveis no site: <HTTP://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/c_a/lex45.htm>
uma identidade que foi construída para elas de fora. Nesse sentido, pode-se afirmar qua
as prostitutas, em função do processo histórico e social, não falam, mas são faladas, ou
seja, não detém o processo de construção de sua própria subjetividade e apesar de
algumas se insurgirem frente aos problemas que enfrentam e os direitos que tem
desrespeitados, a grande maioria acata o que a sociedade lhes imputa, viverem apartadas
da sociedade.
Elas assim vivem, uma vez prostituta o estigma recai e é difícil sair do “ramo”,
mesmo querendo, o mercado de trabalho não suporta todos, quer por falta de capacidade
técnica (as prostitutas mais pobres tem menos opções e menos direitos respeitados) ou
por que a sociedade as discrimina. Precisam sustentar suas famílias, filhos sem pai,
mães e avós ou o vício que as domina para enfrentar o submundo na qual vivem.
Muito já se fez no intuito de proteger as mulheres e crianças desta violência,
principalmente no tocante a positivação de normas para coibir os abusos.
No entanto, apesar desses ganhos e compromissos, as promessas ainda não se
materializaram para muitas mulheres, adolescentes e crianças. Desde as crianças
excluídas da educação em razão de gênero até adolescentes que podem morrer em
decorrência de problemas relacionados à gravidez ou parto, ou que enfrentam violência
ou abuso sexual, a discriminação de gênero leva a violações de direitos que repercutirão
em todo o ciclo de vida.
Serão necessárias ações mais incisivas do Estado para eliminar as causas, sendo a
miséria o fator mais determinante e primário de todo o problema. Diminuir a
desigualdade social e disseminar o conhecimento e a qualificação profissional
possibilitará opções às famílias, à mulher e à criança. Todos são vítimas. Da miséria
nem os homens escapam. Uma vida mais digna pode diminuir a sujeição à este
submundo. Punição aos que deste submundo se apropriam, enriquecem e violam
direitos humanos.

8. REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição Federal , 1988.


BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente e Legislação Pertinente. Porto
Alegre. Ministério Público do Rio Grande do Sul, Procuradoria-Geral da Justiça, 2008.

BRASIL. Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006.

GUILAYN, Priscila, Unanimidade contra anúncios de prostituição. Blog Lá Fora.


Set.2010. Disponível em:
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anuncios-de-prostituicao-326502.asp>. Acesso em 24 out 2010.

MAGNO, Ana Beatriz e VARELLA, José A Prostituição no Brasil. Fórum de


Entidades Nacionais de Direitos Humanos, ago.2005. Disponível
em:<HTTP://www.direitos.org.br/index.php?
option=com_content&task=view&id=2468&itemid=2>. Acesso em: 24 out 2010.

MASSARIOLI, Abner. Congresso Internacional de Direitos Humanos. 2003.


Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, campus de Araraquara. Disponível em:
<HTTP:// proex.reitoria.unesp.br/informativo/webhelp/2003/edi_o34/congressoflc.htm>
. Acesso em 28 out 2010.

ONU. Diretrizes das Nações Unidas para Prevenção da Delinqüência Juvenil.


Disponível em:< HTTP://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/c_a/lex45.htm> . Acesso
em: 29 out 2010.

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 11


ed. São Paulo : Saraiva,2010.

SEXUALITY POLICY WATCH, Livreto das Prostitutas. Disponível em:


<HTTP://www.sxpolitics.org/wp-content/uplods/2010/07/livreto-prostitutas-1.pdf> .
Acesso em: 25 out 2010.

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técnico-científicos da UCPEL. Disponível em:
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WIKIPÉDIA. Direitos Humanos. Disponível em:
<HTTP://pt.wikipedia.org/wiki/direitoshumanos>. Acesso em 28 out 2010.

WIKIPEDIA. Magna Carta. Disponível em:


<HTTP://pt.wikipedia.org/wiki/magnacarta>. Acesso em 28 out 2010.

WIKIPÉDIA. Prostituição. Disponível em:


<HTTP://pt.wikipedia.org/wiki/prostituicao>. Acesso em :26 out 2010.

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