PELOTAS
2010
SANDRA REGINA BERGMANN SCHNEIDER
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................8
2. HISTÓRIA DA PROSTITUIÇÃO................................................................................9
3. A REALIDADE BRASILEIRA..................................................................................10
4. MOBILIZAÇÃO DAS PROSTITUTAS POR DIREITOS........................................12
5. DIREITOS HUMANOS E PROSTITUIÇÃO FEMININA........................................12
6. A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS.............................16
a)Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a
Mulher.........................................................................................................................18
b)Convenção sobre os Direitos das Crianças..............................................................19
7. CONCLUSÃO.............................................................................................................20
8. REFERÊNCIAS.........................................................................................................21
LISTA DE TABELAS
3. A REALIDADE BRASILEIRA
A prostituição encontra espaço nos grandes e pequenos centros, nas casas de luxo e
nos casebres, pode ser requintada e gerar um lucro considerável para algumas das
operadoras do sexo, pode até ser desculpa para pagar uma faculdade, porém na sua
grande maioria é forma de discriminação e desigualdade social. A busca por um espaço
na sociedade, a capacitação para o consumo, a incapacidade para o mercado de trabalho,
os maus-tratos no seio da família ou simplesmente um prato de comida são alguns dos
fatores que levam grande parte das operadoras do sexo a enveredar pelo caminho da
prostituição e descobrir a cruel realidade que o cerca.
Maria de Lourdes de Souza, 32 anos, grávida de oito meses, vende carícias numa
calçada escura da capital do Brasil. Cobra R$ 10,00 promete paciência e jura que a
barriga não lhe atrapalha o ofício. Faz o serviço de olhos fechados, concentra o
pensamento no rebento que carrega no ventre retalhado de estrias. Ela é a puta que
pariu, ele é o filho da puta e esta é uma história sobre mães e filhos.
(www.direitos.org.br em 31 de agosto de 2005).
Maria Fernanda Valdez brinca no quintal do cabaré de sua avó na cidade de Ponta-Porã,
na violenta fronteira com o Paraguai, 60 mil habitantes, muamba, mulheres, cocaína e
armas à disposição do freguês. A menina tem 1 ano e 8 meses de vida, uma mãe, duas
tias, uma avó e nenhum pai. O homem que a fez não assumiu a paternidade. Alega que é
neta de cafetina e filha de devassa. Franciele Valdez (mãe de Maria Fernanda), 18 anos,
teme que o leite do peito seque e silencia. Aprendeu a chorar para dentro e olhar para
frente. - Na escola, os garotos apontavam para mim e berravam: a mãe dela tem uma
zona! Ela é que carrega a filha para o bordel. Ensina a saciar covardes, vende a menina
para cafajestes. Sem peito, sem curvas, sem maldade, a criança obedece. Aprendeu que
mães jamais são malvadas. Essa é uma história sobre crimes. (www.direitos.org.br em
31 de agosto de 2005).
Ana Silva se rendeu. Servia a policiais, vereadores e turistas em Cáceres, no Pantanal
mato-grossense, Meca do turismo sexual verde-e-amarelo. Tinha 16 anos, trabalhava
desde os 11, até que engravidou e viu a clientela minguar a cada centímetro da barriga.
Com 4 meses desistiu. Pagou R$ 300 pelo aborto ao homem que até hoje chama de
monstro. Ele fez o serviço num quarto de motel e não cobrou apenas a retirada do feto.
Antes, exigiu 1hora de prazer. Ana cumpriu o acertado, tempos depois, denunciou o
criminoso. Pior para ela. Ganhou fama de delatora, não arranja emprego, vive sendo
ameaçada corre o risco de perder a guarda de outro filho. (www.direitos.org.br em 31
de agosto de 2005).
Estas são apenas algumas histórias do submundo da prostituição nas regiões menos
favorecidas. É muito mais do que vender o próprio corpo, segundo Bibiana Aído,
Ministra da Igualdade da Espanha, “a prostituição é a escravidão do século XXI”.
Este é o retrato de famílias destruídas pela profissão das mães. Elas vendem o corpo
para suprir o seu sustento, muitas trocam os favores sexuais por um prato de comida ou
para o filho, não há quem as provenha. Elas começam cedo, incentivadas pelas próprias
mães ou pela falta delas, os maus-tratos ou abusos sexuais na família são outro fator.
Em muitos casos as mães vendem as filhas para sustentar o próprio vício. O tempo
passa e o ciclo continua. É um ciclo vicioso e de poucas perspectivas.
Um cenário fértil para a ação do crime organizado que visa a exploração sexual de
mulheres e crianças. Segundo Nilmário Miranda, ex-secretário de Direitos Humanos da
Presidência da República , a prostituição como crime organizado só perde em
lucratividade para o tráfico de drogas e do contrabando de armas no Brasil.
Todas as pesquisas mostram que a venda de crianças, a exploração sexual e a
pornografia possuem causas no subdesenvolvimento, na pobreza, na desigualdade
econômica, na falta de estrutura familiar, na má qualidade da educação, nas migrações,
na discriminação contra as mulheres e no abuso sexual familiar. (Miranda,Nilmário.
Disponível em: HTTP://proex.reitoria.unesp.br/informtivo)
No Brasil, a região Norte tem um contexto favorável para a exploração sexual, as
amplas fronteiras, a natureza, as desigualdades sociais, o tráfico de drogas corroboram
para a prática. A pesquisa feita por Ana Beatriz Magno e José Varella1, apontam Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul como as regiões onde ocorre o mercado do corpo no
turismo sexual náutico (barcos, hotéis, agências de viagem, taxistas, boates), turistas de
todo país e estrangeiros viajam para a região para a temporada de pesca mas o que
buscam mesmo é a biscatearia(prazeres sexuais em motéis flutuantes) e nas suas
fronteiras com a Bolívia e o Paraguai, na conexão com o tráfico de drogas, nas boates
de luxo, no baixo meretrício nas áreas urbanas e nas estradas. As mulheres vendem o
corpo por R$1,99 e pagam R$1,00 pela base (pior parte da cocaína, o lixo, a sobra após
o refino, tem efeito rápido e estimulante – em menos de 5minutos) para suportarem o
meretrício. Ainda segunda a mesma pesquisa em Goiás o mercado do corpo funciona no
tráfico internacional e nacional de mulheres, crianças e adolescentes, além das boates de
luxo, que supervalorizam os produtos que vendem aos seus clientes, uma forma indireta
de negociar programas sexuais, pois cobram das prostitutas o estímulo ao consumo de
seus clientes repassando à elas míseros trocados e quando engravidam não serão mais
aceitas no plantel da boate, saindo sem nenhum direito e muitas obrigações.
A situação de miséria (fome, analfabetismo, desestrutura familiar, etc.) por que
passam as famílias pobres brasileiras, especialmente as do Norte e Nordeste, aliada à
cultura do machismo, contribui para a expansão da exploração sexual infanto-juvenil
que passa a se tornar muitas vezes imprescindível para a sobrevivência familiar, “um
1
Pesquisa sobre A Prostituição no Brasil, feita através do Correio Braziliense, no ano de 2005, com dados
sobre a CPMI da exploração sexual no Brasil, relata depoimentos de mulheres, crianças e famílias que
convivem com esta realidade. Disponível em: <HTTP://www.direitos.org.br>
mercado de trabalho” sexual, que ocasiona uma renda através da venda do corpo de
meninas e jovens, conduzindo-as à depreciação moral, ética, física e psicológica,
dificultando sua integração à sociedade e ao seu núcleo familiar.
Com o apoio do Fundo de População das Nações Unidas, em 2008 foi realizado um
projeto de pesquisa "Direitos Humanos e Prostituição Feminina”3 na cidade do Rio de
Janeiro com o objetivo de conhecer no âmbito nacional a prostituição e a questão dos
direitos.
Esta pesquisa foi realizada na sede da Davida e contou com a colaboração de uma
mediadora política, a prostituta Jane Eloy4. As entrevistas resultaram em um denso
2
O I Encontro Nacional de Prostitutas, aconteceu no Rio de Janeiro em julho de 1987 e teve como sua
principal articuladora, Gabriela Silva Leite, líder do movimento pelos direitos das prostitutas. O lema do
encontro era “Mulher da vida, é preciso falar”.
3
O projeto Direitos Humanos e Prostituição foi elaborado pelo núcleo de pesquisa da Instituição Davida
(fundada em 1992 por Gabriela Silva Leite) que tem por objeto articular políticas públicas nas áreas de
prostituição, cultura, cidadania, direitos humanos e saúde, incluindo ações de prevenção de DST e AIDS.
4
Jane Eloy, prostituta e ativista do movimento participou como mediadora e facilitou o fornecimento de
depoimentos de forma menos constrangedora e mais real para o projeto.
material de pesquisa, integrado por uma diversidade de temas a serem posteriormente
explorados, as prostitutas revelaram experiências diversas de violações no contexto de
suas histórias de vida e no exercício de sua profissão. Abordar o tema dos direitos e
instigar a fala sobre a percepção de direitos das entrevistadas nas diversas situações por
elas descritas, proporcionou a avaliação do cenário em que vivem as prostitutas.
O quadro demonstrativo abaixo foi elaborado a partir da pesquisa feita e demonstra
os contextos mais abordados nas entrevistas: rua, termas e zona confinada. Através dele
é possível analisar os tipos de violação diferentes em cada cenário de atuação.
Tabela 1- Prostituição e Direitos Violados
Modalidades de Violação de Direitos no Percepções de Direitos por
Exercício da Exercício da Profissão parte das Prostitutas
Prostituição
Calote de clientes Direito de ser remunerado
pelo trabalho
8
Realizada no México, a primeira Conferência Mundial sobre a Mulher instou a ONU a elaborar um
tratado internacional que assegurasse no plano internacional, de forma obrigatória, os Princípios da
Discriminação contra a Mulher.
No Brasil, a violência contra a mulher é crime e a Lei 11.340/2006, conhecida como
Lei Maria da Penha, coíbe a violência doméstica e familiar contra as mulheres. E há
uma atenção especial quando esta violência tenha sido cometida por pessoas que têm ou
tiveram intimidade com a vítima.
Além disso, a lei federal 10.778/2003 estabelece a notificação compulsória, no
território nacional, dos casos de violência contra a mulher atendida em serviços de
saúde públicos ou privados.
9
Este Protocolo entrou em vigor em 18 de janeiro de 2002, de acordo com o art. 14 deste Protocolo.
No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, regulamenta os
direitos das crianças e adolescentes com base nas diretrizes da Constituição Federal de
1988 a qual internaliza uma série de normas internacionais como a Declaração dos
Direitos da Criança10, Regras mínimas das Nações Unidas para a administração da
Justiça da Infância e da Juventude11 e Diretrizes das Nações Unidas para a prevenção da
Delinqüência Juvenil12. O ECA considera criança a pessoa até 12 anos incompletos, e
entre 12 e 18 anos é considerado adolescente, até os 14 anos é proibido qualquer tipo de
trabalho adulto para o menor.
O ECA é considerado uma lei controversa. Em teoria, protege a criança e educa
melhor o infrator. Mas na prática os menores ficam sem nenhum tipo de punição ou
educação e acabem sendo usados, pelo menos nos casos de tráfico de drogas, pelos
adultos recaindo a culpa sobre os menores, saindo o bando sem punição. O abandono à
criança também é recorrente, nas ruas ou em casa, quando não vendidas.
7. CONCLUSÃO
8. REFERÊNCIAS