RESUMO
Esse texto apresenta os resultados do nosso Trabalho de Conclusão de Curso, que teve como objetivo
geral investigar o acúmulo do capital social refletido nas práticas sociais (ligadas à arte) que os brincantes
do Maracatu Nação Erê realizam para além dos muros do CEPOMA, sob algumas perspectivas da teoria do
capital social de Bourdieu. Utilizamos como instrumentos metodológicos o questionário, aplicado juntamente
aos brincantes, bem como de conversas informais com duas coordenadoras do projeto e uma das mães dos
sujeitos. Os resultados apontaram que as práticas sociais, descritas pelos brincantes, revelam retratos de
seu acesso a bens culturais. Tal acesso se dá de forma diferenciada entre os brincantes de acordo com a
herança cultural e o acúmulo de capital (econômico e simbólico) que cada sujeito revela. Verificamos,
também, que as práticas sociais, dentre elas, o gosto musical, não são influenciados por uma única via, mas
pelas diversas redes de relações sociais das quais se tem acesso.
INTRODUÇÃO
1
Concluinte de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE. deulbara@gmail.com
2
Concluinte de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE. juannasilvestre@hotmail.com
3
Professora Adjunta do Departamento de Música – Centro de Artes e Comunicação – UFPE.
cmgabr@yahoo.com.br
2
houve uma ampliação do conceito de educação, não mais restrito às instituições formais
de ensino. Diversos espaços passaram a ser utilizados para processos de ensino-
aprendizagem, a partir dos anos 1980, a exemplo das organizações não governamentais
– ONGs – movimentos sociais, espaços religiosos e diversos outros tipos de organizações
civis sem fins lucrativos, dando corpo ao que chamamos hoje de educação não formal
(GOHN, 2005; SOUZA, 2010).
No que diz respeito aos espaços de educação não formal, em muitas partes da
Região Metropolitana da cidade do Recife, podemos notar diversas iniciativas sociais 4 em
favor de grupos menos favorecidos, destacando-se o público de crianças, adolescentes e
jovens que têm sido focalizados sob a prerrogativa da formação cidadã e do acesso à
educação e cultura. Em linhas gerais, estas instituições elaboram suas ações com o
intuito de aproximar seu público aos mais variados bens sociais e culturais, numa
tentativa de suprir a lacuna deixada pelo Estado no que diz respeito à saúde, educação,
arte, entre outros.
Há um grande contingente de ONGs que desenvolvem trabalhos ligados a arte
popular, com o intuito de aproximar as pessoas a uma determinada “realidade” e afastá-
las de outras. No debate sobre educação e arte, muitos autores reafirmam suas
contribuições para a formação cidadã/integral/humana dos indivíduos e no ambiente das
ONGs, “a arte é quase sempre tomada como uma diretriz pedagógica fundamental”
(CARVALHO, 2009, p. 295).
Podemos dizer ainda que dentre as diversas ações empreendidas no universo das
organizações civis, atividades de música, dança e teatro se destacam como um forte
atrativo, mantendo a frequência da clientela, principalmente de jovens.
No caso da música, sua prática educativa em espaços não formais é entendida como
educação musical não formal, pois ainda que obedeça a sistematizações de conteúdos e
desenvolvimentos de ações pedagógicas, não ocorre em tempos e espaços definidos.
Suas ações são realizadas “[...] a partir da prática e da convivência, sendo os
conhecimentos musicais transmitidos a partir de uma organização que se diferencia dos
processos formais e (ou) escolares” (SOUZA, 2010, p. 35).
O autor ainda afirma que
4
Organizações civis sem fins lucrativos como: Cepoma, Arricirco, Daruê Malungo, etc.
3
eleito deste estudo, por si só, deságua resultados permeados de concepções de mudança
social e transformação da realidade.
Fazendo uma analogia com a acessibilidade ao ensino superior, podemos
compreender que o fato de frequentar uma universidade não implica necessariamente
mobilidade social. Além disso, o acesso à universidade é diferente para cada indivíduo,
pois os recursos sociais aos quais os sujeitos tiveram e têm aproximação, é que dizem
quais perspectivas profissionais terão posteriormente.
Essa discussão se pauta sob o pensamento de Bourdieu acerca de capital social. O
autor defende que a aquisição e apreensão dos bens culturais se dão por uma série de
fatores que vão além da simples acessibilidade a esses bens. Durante nossa vida nos
deparamos com diversas situações onde precisamos fazer escolhas, seja no campo
profissional – na escolha pelo tipo de trabalho que iremos exercer e sua função social –
seja no âmbito pessoal – quando escolhemos as pessoas que farão parte do nosso meio
social. O fato é que ao optarmos por alguma coisa, em detrimento de outra, está implícito
ali todo um legado de valores e posturas adquiridos através de nossa inserção em meios
sociais (BOURDIEU, 2008).
A obtenção desse legado ou herança é o que molda nosso comportamento, de
maneira inconsciente, durante toda a nossa vida. É o que Bourdieu denomina “capital
social”. Segundo o autor,
capital social é o conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse
de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de
interconhecimento e de inter-reconhecimento ou, em outros termos, à vinculação a
um grupo, como conjunto de agentes que não somente são dotados de propriedades
comuns (passíveis de serem percebidas pelo observador, pelos outros ou por eles
mesmos), mas também são unidos por ligações permanentes e úteis (BOURDIEU,
2008, p. 67).
necessidade de conhecer algumas práticas sociais dos brincantes do MNE, a fim lançar
um olhar a partir de algumas perspectivas da teoria do Capital Social.
TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
Para realização desta pesquisa abordamos quinze sujeitos, que foram eleitos
segundo a disponibilidade de cada brincantes em responder o questionário, participantes
do Maracatu Nação Erê, grupo artístico-educacional organizado pelo Centro de Educação
Popular Maílde Araújo (CEPOMA), situado no bairro de Brasília Teimosa 5 (Ver anexo A),
na zona Sul da cidade do Recife, nas proximidades dos bairros de Boa Viagem e Pina 6,
numa área privilegiada,
5
A fim de caracterizar socialmente o bairro, elegemos duas informações como Taxa de Alfabetização da
População com mais de 15 anos: 85,45%; bem como o rendimento Nominal Médio Mensal dos
Responsáveis por Domicílios com Rendimento Mensal: Total: R$358,11.
Fonte:http://www.recife.pe.gov.br/pr/secplanejamento/inforec/bairros.php
6
Com o intuito de estabelecer um parâmetro com bairros vizinhos, disponibilizamos também as mesmas
informações dos bairros de Boa Viagem e Pina, respectivamente: Taxa de Alfabetização da População com
mais de 15 anos: 96,32% e rendimento Nominal Médio Mensal dos Responsáveis por Domicílios com
Rendimento Mensal: R$3.012,16; Taxa de Alfabetização da População com mais de 15 anos: 87,64% e
rendimento Nominal Médio Mensal dos Responsáveis por Domicílios com Rendimento Mensal: R$868,23.
Fonte:http://www.recife.pe.gov.br/pr/secplanejamento/inforec/bairros.php
6
7
Os jovens brincantes de maracatu são identificados pelas iniciais do nome informado por eles.
8
As coordenadoras são tratadas no texto por: Coordenadora 1 e Coordenadora 2. Não havendo nenhuma
justificativa hierárquica para tal.
7
ensino superior, mas não concluiu o curso. D.F.S. tem 21 anos e é instrutor de percussão
do MNE. E, finalmente, D.R.L. de 30 anos de idade (faixa etária que se distancia do perfil
dos demais sujeitos), que possui um histórico familiar de pais e avós escolarizados a nível
superior (Graduação e Pós-graduação), não reside no bairro de Brasília Teimosa, tem
Síndrome de Down, e frequenta o MNE há 11 anos.
A religião que predomina entre o público pesquisado é a católica, aparecendo dois
representantes do espiritismo, dois evangélicos, e quatro sujeitos que não definem
posição religiosa ou afirmam não ter religião. Um fato que nos chamou atenção foi a não
ocorrência de seguidores de religiões de matriz africana. O MNE não está associado a
cultos e rituais afro-descendentes. Todavia, em um estudo sobre a atividade musical do
CEPOMA, escrito por Cristiane Maria Silva, como monografia do curso de especialização
em Etnomusicologia da Universidade Federal de Pernambuco, a autora informa que os
brincantes têm “conhecimento pleno da tradição do cortejo desta manifestação cultural”
(SILVA, 2003, p.15).
Em relação à escolarização dos genitores dos brincantes abordados, pudemos
constatar que a grande maioria não conseguiu ultrapassar o Ensino Médio. As ocupações
profissionais das primeiras e segundas gerações anteriores (pais e avós) dos brincantes,
em sua maioria, podem ser classificadas como profissões manuais. Na área das Ciências
Sociais, essa nomenclatura é recorrente em estudos sobre mercado de trabalho e
emprego, designando “profissões ligadas à execução de tarefas reconhecidas como
„pesadas‟ ou „perigosas‟ (pedreiro, mecânico), ou mesmo [...] (que envolvam) uma relação
de sujeição a um chefe ou profissional mais experiente (RANGEL, 2010, p. 74).
Destacamos que dois sujeitos têm pais com profissões não manuais, sendo D.M. com
avós de profissionais manuais e D.R.L. com um avô de ocupação não manual. A Tabela
abaixo descreve mais claramente como se dispõem as profissões e ocupações das
gerações anteriores aos jovens.
Dos quinze sujeitos participantes deste estudo, apenas dois não frequentam mais
instituições escolares. D.R.L. frequentou a escola regular até a 2ª série do Ensino
Fundamental I (atual 3º ano do E.F.). Ao passo que D.R.L. respondia ao questionário
8
aplicado por nós, sua mãe o auxiliava, apenas oralmente,quando ele não compreendia a
questão lida, e também conversava conosco: ela nos informou que D.R.L. passou 15 anos
frequentando a escola regular, nesse período, cursou até a 2ª série, passando dois anos
em cada série e conseguir avançar para a seguinte. Na segunda vez que cursava a 2ª
série, sua professora chegou à conclusão de que ele não teria condições de seguir para a
3ª série, a atitude de sua mãe foi tirá-lo da escola regular, e a partir de então, D.R.L.
passou a estudar em casa e a frequentar diversos cursos ligados à música no
Conservatório Pernambucano de Música (CPM), onde sua mãe leciona. Atualmente ele
faz parte do MNE e faz aula de capoeira na Universidade Católica de Pernambuco
(UNICAP), num grupo para alunos especiais.
O outro sujeito que afirmou não mais frequentar a escola foi D.F.S., de 21 anos, e
disse estar desempregado. Porém, em conversa informal, constatamos que ele trabalha
com o primo, pescando, mas ele não admite tal atividade, prefere dizer que está
desempregado. O sujeito cursou até a 7ª série (atual 8º ano do E.F.) e afirmou não
frequentar mais a escola por “falta de incentivo”.
Todos os sujeitos da pesquisa já foram alfabetizados, embora dois deles tenham
tido dificuldades em responder sozinhos ao questionário: um deles pediu nossa ajuda
para perguntar e escrever por ele, o outro respondeu sozinho, mas suas respostas às
questões abertas foram difíceis de analisar devido a sua escrita. E os que estão
frequentando a escola básica se encontram entre 2ª e 8ª séries (3º e 7º anos, na
nomenclatura atual do Ensino Fundamental de nove anos).
A jovem D.M., aluna do 2º período do curso de Educação Física da Universidade
de Pernambuco (UPE), é a única que frequenta uma universidade. Dos quinze sujeitos,
nove deles sempre estudaram em escola pública; cinco afirmaram ter estudado tanto na
rede pública quanto na rede privada; apenas um (D.R.L.) disse ter estudado sempre em
escola privada.
Dentre os pesquisados, apenas dois disseram trabalhar: D.M. e L.T., que disse
realizar atividades de pesca com o primo (experiência citada acima). Ambos declararam
não trabalhar além de 5 horas por dia. Todos os jovens revelaram morar com familiares e
em conversa informal, tomamos conhecimento de que alguns têm os pais falecidos, ou
não mantêm contato com os genitores.
O questionário aplicado não aprofundou tais questões familiares, apenas revelou,
quantitativamente, as condições de moradia e de sustento do lar. Verificamos, com base
nas respostas obtidas, que muitos dos familiares dos brincantes estão desempregados,
sendo que em dois lares todos vivem essa realidade.
9
entre outras questões. As respostas obtidas nos questionários apontaram um norte para
compreensão de algumas práticas sociais dos sujeitos envolvidos com o Maracatu.
Dos quinze participantes, onze realizam atividades extra-CEPOMA, destacando-se as
áreas de esporte e de artes (dança e música). Podemos considerar que estes sujeitos
possuem recursos sociais que os demais não possuem. Contudo, tanto as atividades do
CEPOMA quanto as externas, são permeadas, genericamente, por intenções de
assistência social. Desta forma, o tipo de recurso social adquirido não ultrapassa os
recursos já existentes, pois, embora a “natureza” de algumas atividades seja diferente, no
caso do esporte, elas comungam o mesmo contexto. Com isso, percebemos que os
recursos sociais se apresentam em função do ambiente no qual está inserido.
Em relação às ações realizadas nas horas vagas pelos brincantes, como jogar
bola, ir à praia, brincar na rua, ficar em casa estudando, estão entre as mais comuns
dentre as respostas obtidas. Apenas um dos sujeitos disse frequentar ambientes como
festas, teatros, restaurantes e realizar viagens. Para entender este resultado, retomamos
os dados sociais do sujeito em questão e constatamos que ele não se enquadra no perfil
social dos demais respondentes, pois além de um histórico de acesso ao ensino superior
em gerações anteriores, sua família dispõe de um capital financeiro superior ao dos
demais sujeitos.
Nesse grupo de brincantes de maracatu, quatorze afirmaram ter acesso a internet,
dentre os quais seis o fazem em casa, quatro em lan houses e os demais, em lugares
como casa de amigos ou parentes, escolas e cursos de informática. A maioria dos
participantes demonstrou ter interesse por sites de jogos e de relacionamentos. Tal
prática revela algo em comum entre os sujeitos, visto que, atualmente, a internet é uma
ferramenta de comunicação acessível as mais diversas classes sociais.
Onze participantes responderam frequentar cinemas e sete já visitaram museus.
Em relação a idas ao teatro, apenas um sujeito respondeu nunca ter estado nesse
ambiente. É importante salientar que as idas a teatros e museus foram proporcionadas
pela instituição, conforme as falas que a maioria dos indivíduos empreendeu no momento
em que respondiam o questionário, com exceção de um dos sujeitos, que além de
participar da ida coletiva aos passeios que o CEPOMA promove, realiza outras atividades
culturais com sua família.
O baixo capital financeiro, no caso da maioria dos sujeitos, pode-se apresentar
como impedimento ao acesso a tais espaços. Porém, este não é o único fator. Há a
questão da herança cultural que pode influenciar o interesse em determinadas atividades,
bem como na construção de sentidos de tal prática (BOURDIEU, 2008).
12
Estilo Sujeitos que afirmaram a não influência do Sujeitos que afirmaram a influência do
musical MNE no gosto musical MNE no gosto musical
Samba 5 4
Brega 7 6
Hip Hop 2 0
Pop 3 3
Funk 4 3
Rock 2 1
Rap 2 1
Forró 1 3
MPB 1 2
Clássica 0 2
Chorinho 0 1
Tabela 3. Cruzamento dos dados: preferência de estilo musical x opinião em relação a influência do MNE na preferência musical.
Noutras palavras, como demonstra a tabela acima, os mesmos sujeitos que outrora
afirmaram ser influenciados pelo grupo percussivo, são os ouvintes do mesmo estilo
musical dos sujeitos que declararam não ser influenciados pelo MNE.
As questões que permeiam os efeitos da aproximação dos sujeitos ao CEPOMA
são, de certo, subjetivas e complexas. Tais indagações sugerem um estudo mais
aprofundado a fim de aferir as “reais” influências da instituição na vida dos indivíduos.
Contudo, tomamos, para esta pesquisa, como ponto de partida, a “fala” dos brincantes e
suas próprias concepções sobre a vivência no CEPOMA. A seguir, trataremos dos
resultados acerca deste imaginário.
Frequência
Opinião/posição dos pais
da citação
Me deixam participar 3
Aprovam e me incentivam 9
Me deixam participar;
Aprovam, mas querem que eu
3
me dedique mais à escola;
Aprovam e me incentivam
TOTAL 15
Tabela 4. Opinião dos pais em relação a participação das
crianças e jovens no MNE.
9
Com espaço para descrição da opinião dos pais.
15
10
No sentido de conteúdo escrito, em resposta ao questionário.
16
em uma acepção pejorativa, sinônimo de fazer nada, fazer coisa errada, vagabundar. Os
demais sujeitos declararam ter havido uma mudança em seus relacionamentos
interpessoais e fizeram as seguintes citações: “...me ensinou a ser mais compreensivo...”;
“[Influenciou na] Minha socialização...”.
Em relação a tal categoria, podemos dizer que essa se configura como um
elemento que reflete, segundo o dizer dos sujeitos, o significado atribuído a sua
participação nas ações desenvolvidas pelo MNE. A mudança de comportamento, então,
pode estar ligada ao tempo em que o sujeito despende com o grupo percussivo. Dessa
forma, podemos nos remeter, novamente, à ideia de que o aumento no volume do capital
social está atrelado à extensão da rede de relações as quais o indivíduo consegue
mobilizar de forma objetiva e ao ethos (BOURDIEU, 2008). Ou seja, ao considerarem a
mudança de comportamento consequência de sua inserção no MNE, os sujeitos, de
forma inconsciente, afirmam a internalização dos valores e recursos sociais transmitidos
pelo grupo.
Apenas um sujeito citou a categoria mudança no “modo de ver a cultura”. Esta
jovem (D.M.) apresenta características sociais que destoam da maioria dos colegas do
MNE. Como já relatado anteriormente, ela é filha de pessoas que estiveram diretamente
ligadas ao CEPOMA desde sua fundação e tiveram acesso ao ensino superior; frequenta
a Instituição desde os dois anos de idade e hoje faz parte do corpo de funcionários da
mesma como educadora, além de frequentar uma universidade pública. Este capital
cultural acumulado não condiz com o dos demais sujeitos que compartilham, com ela,
vivências do maracatu, pois a forma como a jovem teve acesso a determinados bens
culturais e a extensão de suas aproximações sociais se mostram diferentes dos demais
sujeitos. Para Bourdieu,
Outro aspecto pontuado na fala dos sujeitos, sobre o que mudou com o ingresso ao
MNE, foi o acesso a um “conhecimento específico”, no caso, o toque do maracatu, que foi
citado por três brincantes. Esse conhecimento se torna acessível aos sujeitos na medida
em que apreendem e internalizam as informações que lhes são transmitidas (BOURDIEU,
2008).
O objetivo do trabalho do CEPOMA não é, necessariamente, formar músicos.
Porém, quando indagados sobre sua posição em relação à música, se se consideram
17
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final desse estudo, percebemos que a teoria do Capital Social nos proporcionou
uma visão diferenciada sobre educação. Uma perspectiva distanciada da concepção que
tínhamos e que, de certa forma, se mostrava como a solução de problemas sociais, pelo
simples acesso ao espaço pedagógico. Essa teoria nos fez entender que a educação não
é, por si só, um instrumento, por exemplo, de transformação social. Ela, a educação,
mediada pelos espaços educacionais, se mostra um ethos em que os recursos sociais
são trocados entre os agentes numa dinâmica material e simbólica, como acontece em
todos os grupos sociais.
Os grupos sociais não são apenas dotados de propriedades comuns entre seus
agentes, mas de ligações que, segundo Bourdieu, são úteis e permanentes. Entendemos,
por esses termos, a funcionalidade e a frequência de determinado recurso social. Ou seja,
se a troca de recursos sociais acontece numa dinâmica material e simbólica, a obtenção
de recursos sociais é irredutível à relação objetiva de proximidade (física, geográfica) com
espaços educacionais.
Além disso, queremos chamar a atenção para algumas percepções que, ao longo
do estudo, nos inquietaram e motivaram dúvidas no percurso de escrita deste artigo.
Durante a caminhada para o desenvolvimento deste estudo, percebemos que, embora
tenhamos utilizado como embasamento teórico os estudos de Bourdieu acerca do Capital
Social, não tivemos a intenção de emitir juízo de valor em relação às culturas e às
práticas relacionadas à arte, realizadas pelos brincantes. Tal concepção assemelha-se à
defendida por Snyders, quando admite a legitimidade das diversas culturas.
deparar com respostas que remetiam a ritmos considerados mais específicos da cultura
pernambucana. No entanto, as respostas sugerem que o acesso a determinados
conhecimentos, mediados por instituições, não são fatores de mudança ou transformação
das práticas sociais dos sujeitos.
Por fim, podemos considerar, a partir dos resultados, que as práticas sociais não
são influenciadas diretamente por uma única via ou um único grupo social, mas pelas
diversas redes de relações sociais das quais se tem acesso. No entanto, por se tratar de
um estudo exploratório, esse trabalho aponta a necessidade de se aprofundar, entre
outros aspectos, as maneiras de aquisição dos recursos sociais e as relações de gênero
nas linguagens artísticas desenvolvidas no CEPOMA.
Referências
AMOSSY, R. Da noção retórica de ethos à Análise do Discurso. In: AMOSSY, Ruth (org.).
Imagens de si no discurso: a construção do ethos. São Paulo: Contexto, 2005. p. 26.
MINAYO, M.C. S. Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa social. In: MINAYO, M.C.
S. et al (Orgs.). Pesquisa social teoria, método e criatividade. 17 ed. Petrópolis: Vozes,
2000.
Anexo A
21
Anexo B
1.
Universidade Federal de Pernambuco
2.
1. Centro de Educação
Departamento de Psicologia e Orientação Educacionais
QUESTIONÁRIO
Data de aplicação: ____/_____/____
1. Dados pessoais e familiares
2.2) Há quanto tempo você frequenta os ensaios e encontros do Maracatu Nação Erê?
________________________________________________________________________
2.5) Em que momentos você mais gosta de estar com o grupo do Maracatu Nação Erê?
( ) ensaios ( ) apresentações ( ) outros
Qual/quais? ______________________________________________________________
2.7) Se você toca mais de um instrumento, de qual você mais gosta? _________________
Com qual você tem mais domínio? ____________________________________________
2.9) O que mudou na sua vida a partir do momento em que começou a participar das
atividades do Maracatu Nação Erê?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
3. Práticas Culturais
3.20) Marque com X as opções que você utiliza para ter acesso a músicas:
( ) Compro CD´s
( ) Baixo da internet
( ) Copio de amigos
( ) Outros ________________________________________________________________
3.21) Que gênero musical você mais gosta de ouvir?
( ) Samba ( ) Forró ( ) Brega ( ) Mpb ( ) Pop ( ) Rock ( ) Clássica/Ópera
( ) Chorinho ( ) Funk ( ) Instrumental ( ) Outro ___________________________
_________________________________________________________________________
3.22) Seu gosto musical foi influenciado pelo contato com o Maracatu Nação Erê?
( ) não ( ) sim
3.23) Se sua resposta foi “sim”, escreva abaixo que tipo de música você ouve hoje,
influenciado(a) pelo Maracatu Nação Erê.
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
3.24) Você frequenta outras atividades ou grupos fora do CEPOMA?
( ) não ( ) sim De que tipo? ( ) musicais
( ) teatrais
( ) dança
( ) esportivas
( ) outras Qual/quais? ___________________________
________________________________________________________________________