“O PRR desenvolveu um projeto político não-oligárquico na medida em que
sempre se apresentou como o executor de políticas que respondem aos interesses
do estado como um todo e de diversos segmentos sociais em particular, constituindo uma base de apoio que lhe deu condições de chegar, nos últimos anos da década de 20, como líder de uma campanha que resulta no fim do pacto oligárquico que regeu o período”.
1) Analisar os elementos utilizados para a comprovação dessa hipótese?
A formação do Partido Republicano Rio-Grandense ocorre tardiamente. A
primeira manifestação de republicanos no estado ocorreu no ano de 1882, quando foi fundado o partido. Um ponto importante a destacar era que o partido não era constituído pela tradicional oligarquia pecuarista do estado. Assim, o PRR conseqüentemente não dominava as relações de poder coronelistas e articulava-se com outras forças de apoio para se consolidar. Segundo o autor no texto em análise, ao se analisar a trajetória política do PRR no Rio Grande do Sul, devem-se focar – primordialmente – dois pontos: Primeiro, que o Partido Republicano Rio Grandense não era composto pela oligarquia tradicional do Estado e, segundo, que o projeto político do partido não era estritamente liberal, mas que também continha fortíssimos traços positivistas. Este processo resulta em uma situação peculiar, já que diferente dos outros partidos republicanos nacionais, não divide com eles anseios oligárquicos e liberais e, regionalmente, não domina tais relações coronelistas presentes a nível nacional. Um elemento a se destacar é como o discurso do PRR neste processo de consolidação vai servir como ferramenta de legitimação, já que o Partido vai defender a equivalência entre o novo regime republicano e a sua condição de manutenção no poder, identificando todas as formas de oposição como a própria negação da República. É interessante destacar que no Rio Grande do Sul o processo de formação do estado republicano teve um caráter extremamente peculiar devido a existência desta oposição diferenciada. As elites – que nos outros estados brasileiros estavam no comando da consolidação republicana – aqui se encontravam a parte desta construção e lutavam avidamente para construir uma alternativa ao projeto do PRR. O autor destaca que nos outros estados da federação, os partidos republicanos foram capazes de trazer para seus quadros as oligarquias locais. No caso gaúcho, o próprio fato de as oligarquias mais tradicionais terem se organizado no Partido Federalista levou o PRR a acentuar seu discurso republicano, identificando na oposição, como mencionamos anteriormente, uma tentativa de retorno ao período monárquico. Assim, o posicionamento das oligarquias na oposição e a luta política no interior do processo político gaúcho começam também a desenhar o caráter não oligárquico do PRR. A preocupação do PRR vai centrar-se em programar políticas eficazes e que respondam aos interesses da população e não da oligarquia tradicional. Indicio de um caráter não oligárquico do PRR, o partido não luta para conquistar o apoio dos coronéis, mas busca criar uma força de resistência a estes, conforme o autor cita em seu trabalho. Gradativamente, o Partido Republicano Rio Grandense vai moldando e desenvolvendo seu discurso “liberal” na tentativa de consolidar-se no cenário político do RS, identificando todas as formas de oposição como a negação da republica e apresentando-se como a alternativa republicana no estado. Neste contexto também se insere dois pensamentos que, teoricamente soariam distintos, mas que através das ações do PRR passam a caminhar lado a lado também como instrumentos de consolidação do poder do partido no RS. São eles o Positivismo e o Liberalismo. O texto constantemente afirma que o PRR nunca negou a influencia positivista de seus princípios e políticas, o que aparece claramente em todas as suas manifestações e, ainda, trabalhou para que a doutrina fosse um norte central na constituição da republica gaúcha. Mas, a influência positivista fortemente presente no discurso do PRR tornava a questão do liberalismo um setor sensível para o partido frente aos seus aliados no centro do país. O liberalismo, enquanto regime político, foi sempre identificado pelo PRR como caos, anarquia e preconceito, que impedia o bom andamento do estado. Assim, na medida em que o PRR era parte integrante do bloco de poder a nível federal, que era nitidamente liberal, o partido passou a construir uma segunda versão para a questão do liberalismo, onde o apresentava como sinônimo de liberdade. Passa-se então a discutir e construir a idéia de similaridade entre estes pensamentos dentro dos ideais do PRR para a projeção do futuro republicano do Rio Grande do Sul. O PRR utiliza-se então da constituição como a ferramenta capaz de garantir a manutenção de suas idéias positivistas e que agradasse a classe republicana dirigente do centro do país. Assim, a constituição da República Rio Grandense vai ser marcada pela presença das idéias positivistas, pela capacidade do PRR de impor sua constituição e pela importância que esta constituição vai exercer na consolidação do Partido Republicano como força política no RS. A legitimação do PRR no poder então passa diretamente pela Constituição Rio Grandense elaborada por Julio de Castilhos, líder máximo do partido, e figurará como instrumento chave para a consolidação do PRR e para derrubar e desmoralizar as oligarquias locais que tanto ambicionavam, no período, assumir o controle do estado do Rio Grande do Sul. A constituição, ignorando a estrutura oligárquica que estava nas mãos dos grupos oposicionistas, criou uma estrutura legal que garantia a reprodução do partido no poder e que, aliada a políticas voltadas aos interesses do estado como um todo e de diversos segmentos sociais, constituiu a base que lhe deu condições de desenvolver um projeto não oligárquico que pode ser claramente observado entre o final do século XIX e inicio do século XX. 2) Buscar nos textos anteriores elementos que reforcem ou refutem a hipótese defendida pela autora.
Em seu texto Aspectos políticos do sistema republicano rio-grandense, José
Hildebrando Dacanal enfoca a ascensão e tomada do poder no estado pelos partidários do Partido Republicano Rio-Grandense e ainda descreve a formação da oposição no RS. Dacanal trabalha a ascensão do PRR não como uma nova vertente política ligada a um projeto político não-oligárquico, e sim como uma parte da classe oligárquica ligada a uma nova concepção teórica em voga na época, como o Positivismo. Assim, ocorre a diferenciação na configuração de dois modelos conservadores, ambos assentados na estrutura de dominação tradicional, mas que possuem como elementos de conflito a dicotomização do sistema políticos entre conservadores-liberais e conservadores-autoritários. Imbuídos da ideologia positivista o PRR embora minoritário, consegue chegar ao poder, compensando sua fraqueza numérica através de uma disciplinada estruturação política. A legitimação do PRR no poder ocorre com a promulgação da Constituição Estadual de 1891 que resulta na concentração de poderes nas mãos do presidente do Estado que dispunha do poder de legislar através de decretos, conseguindo assim a possibilidade de ser reeleito indefinidamente. Assim, está possibilidade de reeleição irrestrita chamada de “ ditadura cientifica” e se utilizava de métodos coercitivos para a manutenção deste poder. Um destes métodos foi o “voto livre” e público, que apesar de ter sido proposto como “sufrágio popular” se tornou uma arma para a manutenção no poder do PRR, visto que, o voto sendo público era fácil o eleitor ser coagido a votar em certo candidato. Apesar dos partidários do PRR não serem oriundos das tradicionais oligarquias rurais gaúchas, buscaram o apoio de novos setores da oligarquia rural ligados à agropecuária no litoral e na serra e nos seguimentos da classe média, já que as oligarquias tradicionais estavam representadas na oposição com figuras como Silveira Martins.