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Impressão e acabamento:
Gráfica Círculo
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Compreende três contos inseridos em diferentes publicações, anteriores a 1983, e
um intitulado "A memória de Shakespeare" (1980), não incluído até agora em livro.
VINTE E CINCO DE AGOSTO, 1983
1
"O meio ambiente cotidiano." (N. da T.)
Spinoza. A pedra quer ser uma pedra, o tigre, um tigre, eu
queria voltar a ser Hermann Soergel.
Esqueci a data em que decidi libertar-me. Dei com o
método mais fácil. No telefone marquei números ao acaso.
Vozes de criança ou de mulher respondiam. Achei que meu
dever era respeitá-las. Dei por fim com uma voz culta de
homem. Disse-lhe:
– Você quer a memória de Shakespeare? Sei que o que lhe
ofereço é muito sério. Pense bem.
Uma voz incrédula replicou:
– Enfrentarei esse risco. Aceito a memória de Shakespeare.
Declarei as condições da dádiva. Paradoxalmente, sentia ao
mesmo tempo a nostalgia do livro que eu deveria ter escrito e
que me foi proibido escrever e o temor de que o hóspede,
o espectro, nunca me deixasse.
Desliguei o telefone e repeti como uma esperança estas
resignadas palavras:
Simply the thing I am shall make me live.
Eu havia imaginado disciplinas para despertar a antiga
memória; tive de buscar outras para apagá-la. Uma entre tantas
foi o estudo da mitologia de William Blake, discípulo rebelde de
Swedenborg. Comprovei que era menos complexa do
que complicada.
Esse e outros caminhos foram inúteis; todos levavam-me
a Shakespeare.
Encontrei, enfim, a única solução para povoar a espera: a
estrita e vasta música, Bach.
ÍNDICE
A MEMÓRIA DE SHAKESPEARE
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