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SBS – XII CONGRESSO BRASILEIRO DE

SOCIOLOGIA

GRUPO DE TRABALHO GT 20
SOCIEDADE E ESTADO NA AMÉRICA LATINA

POR DENTRO DO EXECUTIVO:


UM ESTUDO DA ELITE POLÍTICO-BUROCRÁTICA
NO BRASIL MERIDIONAL

ADRIANO NERVO CODATO


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
&
JULIO CESAR GOUVÊA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

MAIO
2005
Adriano Nervo Codato & Julio Cesar Gouvea 2

POR DENTRO DO EXECUTIVO:

UM ESTUDO DA ELITE POLÍTICO-BUROCRÁTICA NO BRASIL MERIDIONAL

Resumo

O trabalho apresenta parte dos resultados da pesquisa “Quem governa? Mapeando as elites políticas e
econômicas no Paraná contemporâneo” desenvolvida no Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira
da Universidade Federal do Paraná - Brasil. Após determinar os postos que constituem as posições políticas
formalmente mais importantes do executivo estadual, identificamos os ocupantes dos cargos listados durante
o período 1995-2002 e traçamos um perfil da elite político-burocrática do estado do Paraná. Do total de 75
indivíduos foram entrevistados 54 (governador, vice-governador, secretários de estado, presidentes de
companhias estatais e assessores especiais). Analisamos a origem social, o perfil profissional, a carreira política
e os valores ideológicos desse grupo de elite. Através dos resultados do survey, processados pelo pacote
estatístico SPSS, procurou-se estabelecer as conexões internas ao grupo (laços familiares, geração, instituição
escolar, turma acadêmica etc.), o grau de coesão ideológica dos membros da elite, bem como os pré-requisitos
(o capital político) para o recrutamento dos secretários estaduais ao governo.
Introdução

Qual o perfil social e profissional da elite política no Paraná contemporâneo?

O objetivo deste paper é apresentar os atributos pessoais, sociais e profissionais dos


governantes do estado do Paraná entre os anos de 1995 e 20021. Para efeito de análise
estudamos a elite político-burocrática, composta basicamente pelo governador, vice-
governador, secretários de estado, presidentes de companhias estatais (banco oficial,
companhia de eletricidade, companhia de água) e chefes de polícia (civil e militar).

A questão central deste trabalho diz respeito ao grau de


homogeneidade/heterogeneidade da elite.

Trata-se de verificar se a elite político-burocrática do Paraná, no período, é


homogênea ou não; qual o grau dessa homogeneidade (alto ou médio ou baixo); e o tipo de
homogeneidade (se ela é de tipo social ou profissional; ou se é mais social ou mais
profissional; ou ambos). O estudo dos atributos da elite é um indicador seguro para
determinar os critérios presentes no processo de recrutamento. A questão correlata aqui é:
quais são os atributos que o indivíduo tem de ter para ser recrutado?

1. O método posicional

O trabalho tem como fonte de inspiração a Teoria das Elites, que estuda o grupo no
poder e suas características sociais para, a partir daí, extrair explicações para sua conduta
política. Para os “elitistas” existe sempre um pequeno grupo que comanda o restante dos

1Esse intervalo de tempo corresponde aos dois períodos de governo de Jaime Lerner: 1995-1998 e 1999-
2002.
Por dentro do executivo 3

indivíduos. Mais simplesmente: existiria uma minoria politicamente ativa comandando uma
grande maioria desorganizada politicamente.

Para analisarmos a elite político-burocrática paranaense entre 1995 e 2002


identificamos aqueles indivíduos que ocuparam postos de destaque no poder executivo
estadual.

A definição dos postos relevantes foi realizada através do método posicional (Wright
Mills, 1985). O método posicional sustenta que determinado grupo é elite porque, além de
ser um grupo coeso e homogêneo, ocupa posições institucionais estratégicas. São de elite
os que estão no topo das principais hierarquias e organizações da sociedade moderna.
Essas posições estratégicas podem ser de tipo econômico (controle dos meios de
produção), político (controle da máquina social do estado) e militar (estão no topo da
hierarquia militar).

Partimos do pressuposto que é através dos cargos que se podem tomar decisões.
De acordo com o método posicional, são os postos institucionais estratégicos que
conferem aos indivíduos a oportunidade de influenciar no processo decisório.

Na análise de elites há, como se sabe, dois outros procedimentos: o método


reputacional e o método decisional. O método reputacional, defendido por Floyd Hunter (1963),
considera membros da elite os “notáveis”. Porém, o maior inconveniente é que este é um
critério muito pouco seguro, uma vez que esses membros são escolhidos segundo o arbítrio
do analista. O método decisional, que tem como principal defensor Robert Dahl (1970),
analisa não somente as posições ocupadas pelo grupo que forma a elite, mas também
quem, nesse grupo, toma efetivamente as decisões. Para Dahl, não basta analisar as
posições ocupadas pelo grupo, mas também as preferências desse grupo em situações
concretas, levando-se em conta seus objetivos políticos fundamentais. Esses objetivos são
as preferências de um grupo com relação a um tema específico.

Optamos pelo método posicional primeiramente por ser esse procedimento de fácil
aplicação, dado que é relativamente simples identificar os cargos formais que constituem
posições politicamente estratégicas em uma determinada comunidade; segundo, por se
tratar de um primeiro passo no estudo de uma determinada elite. As posições teóricas rivais
não são, no entanto, excludentes. Trata-se, na verdade de, é o que se sustenta, momentos
distintos da análise.

2. Os postos político-burocráticos
Adriano Nervo Codato & Julio Cesar Gouvea 4

Feita a escolha metodológica, chegamos à identificação dos postos de destaque no


executivo do estado, a saber: governador, vice-governador, secretários de estado,
presidentes de companhias estatais (Banestado, Copel e Sanepar) e chefes de polícia civil e
militar. São o que pode se chamar “cargos de primeiro escalão”, exatamente por estarem
situados no topo da hierarquia do executivo estadual2.

3. O universo da pesquisa

Uma vez identificados os postos político-burocráticos mais importantes do


executivo do estado, compilamos uma relação de nomes de todos as ocupantes desses
cargos no intervalo estudado, o que foi obtido através de banco de dados fornecido pela
Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação. Chegamos, assim, a 75 indivíduos,
divididos da seguinte maneira: um governador; uma vice-governadora; 59 secretários de
estado; 5 presidentes de companhias estatais; e 9 chefes de polícia, sendo 5 chefes da
polícia civil e 4 da polícia militar.

4. O questionário

Para extrairmos as informações pretendidas, foi aplicado um survey dividido em três


blocos de questões, a saber: i) questões referentes à carreira política, onde nos interessava
saber quais os cargos públicos ocupados pelo indivíduo, sua trajetória partidária e seus
vínculos institucionais; ii) questões relativas a valores políticos, em que se perguntava as
opiniões desses indivíduos sobre o regime democrático (sua natureza e forma institucional),
sobre algumas políticas de governo e outras idéias políticas gerais; e, por último, iii)
informações pessoais e familiares, a fim de compreendermos melhor o perfil social e profissional
dos indivíduos que dominaram o cenário político do Paraná entre 1995 e 2002.

Nesse paper, interessa-nos apenas esse último bloco de questões e respostas.


Apresentaremos dados referentes a alguns atributos pessoais (gênero, cor e religião; local de
nascimento); e sociais (tipos de ocupação; grau de escolaridade; local e tipo de formação).

5. Os resultados

De 75 indivíduos, foram processadas informações referentes a 54 deles, que


responderam ao questionário, ou seja, 72% do total.

2 Só foi possível identificar os postos estratégicos de governo através de organogramas da “Estrutura


Organizacional Básica do Poder Executivo do Estado do Paraná”, obtido junto à Secretaria de Estado da
Administração e Previdência. Em função das freqüentes “reformas administrativas”, frise-se que esses
organogramas referem-se aos períodos de novembro de 1995; setembro de 1998; janeiro de 2001; maio de
2002 e agosto de 2002.
Por dentro do executivo 5

5. 1 O perfil da elite político-burocrática

O primeiro dado que apresentamos mostra as características pessoais dos membros


da elite político-burocrática. Segundo Keller (1967), as elites tendem a ser mais
homogêneas quanto a atributos naturais como raça, religião, ascendência e sexo do que
quanto a atributos conquistados como riqueza e educação.

Na tabela I apresentamos os percentuais dos indivíduos com relação ao seu gênero,


cor e religião em comparação ao restante do estado.

Tabela I

Gênero, Cor e Religião


Elite político- População População
categorias burocrática Paraná* Brasil*
Freqüência % % %

Masculino 45 83,3 49,5


Gênero
Feminino 9 16,7 50,5

Branca 50 92,6 77,2 53,7

Parda 2 3,7 18,3 38,5

Amarela 2 3,7 0,9 0,4


Cor
Preta - - 2,8 6,2

Indígena - - 0,3 0,4

NR - - 0,5

Católica romana 35 64,8 76,6 73,57

Religiões evangélicas 5 9,3 16,6 15,41

Judaísmo 4 7,4 0,2 0,51


Religião
Outras 4 7,4 2,4 3,16

Sem religião 4 7,4 4,2 7,35

NR 2 3,7 -

Total 54 100 100


*Fonte: IBGE – Censo Demográfico 2000

A elite político-burocrática é predominantemente masculina, branca e católica3.


Comparando com os dados do Censo 2000 do IBGE, podemos ver que existem muito
mais homens entre a elite político-burocrática do que entre a população, o que constitui

3 No mesmo intervalo de tempo (1995-2002) foram estudados dois outros segmentos de elite, a parlamentar e
a partidária. A prevalência (homens, brancos, católicos) foi idêntica, mas com percentuais ligeiramente
diferentes. Para a elite parlamentar temos: 97,7% de homens; 86,4% de brancos; e 79,5% de católicos. Para a
elite partidária as cifras são: 100%; 85,7%; e 71,5% respectivamente.
Adriano Nervo Codato & Julio Cesar Gouvea 6

aqui o dado mais relevante (mas não o mais surpreendente). Embora mais numerosas que
os homens na população do Paraná, há apenas 16,7% de mulheres na elite4.

Em relação à religião, a situação é um pouco similar nos dois universos, dado que a
maioria é católica nos dois casos (havendo mais católicos entre a população do que na elite
político-burocrática); porém, o dado diferente é que, segundo o IBGE, existe apenas 0,2%
de praticantes do judaísmo entre os paranaenses, enquanto que entre os entrevistados da
nossa elite há 7,4%. Talvez o fato do governador do estado também praticar essa religião
explique o porquê desse percentual.

Enquanto entre os paranaenses existem 77,2% de brancos, na elite existem 92,6%.


Não existem pretos entre os entrevistados, mas há 2,8% de pretos declarados no estado. O
número de pardos em relação à população total também é discrepante: 18,3% contra
apenas 3,7% na elite.

Os dados sobre gênero, cor e religião tendem a concordar com as afirmações de


Keller. Mais adiante (Tabela III), veremos também que, do ponto de vista da educação, a
elite é tão homogênea quanto aos atributos naturais (raça, religião e cor).

Outro dado relevante é o local de nascimento dos entrevistados. Como se pode ler
na tabela II, a grande maioria dos indivíduos são nascidos no Paraná, em especial, em
Curitiba. Seu grau de localismo é bastante alto.

Tabela II
Local de Nascimento
Estado Freqüência % Cidade Freqüência %
Paraná 41 75,9 Curitiba 23 42,6
Outros 13 24,1 Interior PR 18 33,3

Outras 13 24,1
Total 54 100 54 100
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira - UFPR

Isso indica que a elite político-burocrática é recrutada no estado, isto é, os


indivíduos são nascidos, socializados, recebem treinamento5 e fazem sua carreira no estado

4Em que pese a democratização social (ampliação do acesso à educação e outros indicadores), nossos dados são
bem próximos aos apresentados por Love (1982) em seu estudo sobre a elite paulista no período 1889-1937.
A elite era composta quase que exclusivamente por homens e era predominantemente católica.
5 Cf tabelas VI e VII mais à frente.
Por dentro do executivo 7

de origem. Mais relevante ainda é que dos dois terços dos indivíduos nascidos no estado,
quase a metade nasceu na capital.

Ao separar os membros da elite paulista em gerações (nascidos antes de 1868, entre


1869-1888, e em 1889 e após) Love (1982) revela uma crescente “provincialização” da elite,
i.e., uma ênfase progressiva no recrutamento dentro do próprio estado e treinamento
político em São Paulo e não em postos fora do estado. Na tabela acima, vemos o mesmo.

5.2 Socialização e treinamento da elite político-burocrática

Analisando o grau de escolaridade da elite político-burocrática, vemos que a Tabela


III mostra como a elite político-burocrática é altamente educada, principalmente se
comparada aos seus pais (pai e mãe).

Tabela III

Nível de escolaridade do Indivíduo, do Pai e da Mãe6

Nível de escolaridade do pai7


Nível de escolaridade Total
do indivíduo Sem instrução Baixa escolaridade Média escolaridade Alta escolaridade
5,6% 5,6% 11,1%
Média escolaridade - - (3) (3) (6)

16,7% 33,3% 38,9% 88,9%


Alta escolaridade - (9) (18) (21) (48)

16,7% 38,9% 44,4% 100%


Total - (9) (21) (24) (54)

Nível de escolaridade da mãe


Nível de escolaridade Total
do indivíduo Sem instrução Baixa escolaridade Média escolaridade Alta escolaridade

9,3% 1,9% 11,1%


Média escolaridade - - (5) (1) (6)

1,9% 11,1% 55,6% 20,4% 88,9%


Alta escolaridade (1) (6) (30) (11) (48)

1,9% 11,1% 64,8% 22,2% 100%


Total (1) (6) (35) (12) (54)
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira - UFPR

Os indivíduos são bem mais estudados que os seus pais e mães. Houve uma grande
mobilidade escolar.

6As categorias utilizadas para níveis de escolaridade foram: “alta” (curso superior incompleto; curso superior
ou acima); e “média” (curso médio; curso fundamental ou médio incompleto).
7 A correlação encontrada entre a escolaridade do indivíduo com a escolaridade do pai é de -,092. A
correlação encontrada entre a escolaridade do indivíduo com a escolaridade da mãe é de -,038.
Adriano Nervo Codato & Julio Cesar Gouvea 8

Uma informação relevante é que se cruzarmos a escolaridade do pai com a


escolaridade da mãe, temos uma correlação alta de 0,461. Ou seja, podemos afirmar que
pais “educados” casam-se com mães “educadas”, pais com “baixa educação” casam com
mães de “baixa educação”.

Ao verificarmos mais detidamente a escolaridade do indivíduo, vemos que dos


entrevistados que possuem “alta escolaridade”, 41,7% deles são pós-graduados (lembrando
que estamos levando em conta, nesse caso, o n = 48). Trata-se assim de uma elite bastante
especializada.

A Tabela IV discrimina os tipos de ocupação exercidos pelos entrevistados e pelos


seus pais.

Tabela IV

Tipos de ocupação do Indivíduo e do Pai

Tipos de ocupação do pai


Total
Tipos de ocupação
do indivíduo8 Profissionais Funcionários
Proprietários liberais públicos Políticos Professores Trabalhadores
3,7% 1,9% 5,6%
Proprietários (2) - - - (1) - (3)

13% 13% 5,6% 1,9% 5,6% 38,9%


Profissionais liberais (7) (7) (3) (1) - (3) (21)

11,1% 13% 7,4% 1,9% 3,7% 37%


Funcionários públicos (6) (7) (4) - (1) (2) (20)

3,7% 1,9% 5,6%


Políticos (2) (1) - - - - (3)

7,4% 1,9% 1,9% 11,1%


Professores (4) (1) (1) - - - (6)

1,9% 1,9%
Trabalhadores - - - (1) - - (1)

38,9% 29,6% 14,8% 3,7% 3,7% 9,3% 100%


Total (21) (16) (8) (2) (2) (5) (54)
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira - UFPR

8 De acordo com a seguinte definição por categorias: “Proprietários”: grande proprietário rural, grande
proprietário urbano, médio proprietário rural, médio proprietário urbano, pequeno proprietário rural,
pequeno proprietário urbano; “Profissionais liberais”: advogado atuante, executivo de empresa privada,
profissional liberal; “Funcionários públicos”: altos cargos do setor público, funcionários públicos de médio
ou baixo escalão; “Professores”: professor universitário, professor de outros níveis; “Trabalhadores”:
trabalhador assalariado de empresa privada. Na tabela acima a correlação é de -,091.
Por dentro do executivo 9

Vemos que há uma grande concentração, entre os indivíduos, de profissionais


liberais (38,9%) e de funcionários públicos (37%). Já entre os pais, há uma concentração
maior na categoria “proprietários” (38,9%), e há também uma dispersão maior entre os
tipos de ocupação. Vale a pena ressaltar aqui que a maioria desses indivíduos na categoria
“proprietários”, entre os pais, é de médio proprietário (tanto rural como urbano).

Aqui também poderíamos afirmar que há certa homogeneidade entre os tipos de


ocupação dos indivíduos, uma vez que a concentração maior se dá em apenas dois tipos de
ocupação: profissionais liberais e funcionários públicos, que juntas totalizam 65,9%.

Na seqüência mostramos a qual estrato social os indivíduos pertencem, levando-se


em conta seu tipo de ocupação. A Tabela V traz também uma comparação entre os estratos
sociais dos indivíduos em relação seus pais9.

Tabela V
Estrato social do Indivíduo e do Pai

Estrato social do pai


Estrato social do indivíduo Total
Estrato social baixo Estrato social médio Estrato social alto

1,9% 1,9% 5,6% 9,3%


Estrato social baixo (1) (1) (3) (5)
14,8% 33,3% 9,3% 57,4%
Estrato social médio (8) (18) (5) (31)

9,3% 18,5% 5,6% 33,3%


Estrato social alto (5) (10) (3) (18)
25,9% 53,7% 20,4% 100%
Total (14) (29) (11) (54)
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira - UFPR

Aqui há alguma mobilidade, porém pequena, uma vez que a maioria dos indivíduos
está no mesmo estrato social que os seus pais já estavam (estrato médio). Inclusive, os
dados entre as duas gerações são muito parecidos. Assim, podemos afirmar que tanto os
membros da elite político-burocrática entrevistados como seus pais pertencem à camada
média da população.

As duas próximas tabelas tratam da formação escolar da elite político-burocrática.


Carvalho (1996) afirma que a homogeneidade da elite pode ser de natureza social (levando-

9 As mães não aparecem nessa tabela, em virtude de 63% delas pertencerem à categoria prendas domésticas
(donas de casa), e não ter como classificá-las num estrato. A correlação nesse caso é de -,127.
Adriano Nervo Codato & Julio Cesar Gouvea 10

se em conta a “origem de classe”), o que não é suficiente para dar coesão às elites; mas
também, e principalmente, a homogeneidade se dá pela socialização, treinamento e carreira.

Na Tabela VI, uma freqüência simples, temos os cursos que essa elite freqüentou.

Tabela VI

Curso superior em que se formou

Cursos Freqüência %

Arquitetura 1 1,9

Ciências Contábeis 1 1,9

Direito 17 31,5

Economia 3 5,6

Educação Física 1 1,9

Engenharia Agronômica 1 1,9

Engenharia Cartográfica 1 1,9

Engenharia Civil 12 22,2

Engenharia Elétrica 1 1,9

Engenharia Eletrônica 1 1,9

Geografia 1 1,9

Jornalismo 3 5,6

Medicina 2 3,7

Medicina Veterinária 1 1,9

Pedagogia 2 3,7

Sem curso superior 6 11,1

Total 54 100
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira - UFPR

Boa parte da elite político-burocrática ainda se gradua num curso que é conhecido
como típico daqueles que aspiram a um cargo político, o curso de Direito (31,5%). Até aí,
nenhuma novidade. Porém, vemos que um pouco atrás, aparece um curso que, pelo menos
até então, não era tão comum assim para ingressar na política. O curso de engenharia civil,
ainda mais se somado às demais engenharias (29,6%), denota que algo de diferente
acontece quando se olha para os atributos dessa elite.

Na Tabela VII temos uma agregação por tipos de curso feitos pelos entrevistados,
bem como o local onde fez seu curso.
Por dentro do executivo 11

Tabela VII
Formação escolar
Tipo de curso em que se Local onde
Freqüência % Freqüência %
formou estudou
1 1,9 UFPR 23 42,6
Arquitetura
1 1,9 Outras no Paraná 17 31,5
Ciências Contábeis
3 5,5 Outras 8 14,8
Economia
16 29,6
Engenharias10
17 31,5
Direito
2 3,7
Medicina
8 14,8
Outros11
Sem formação
6 11,1 6 11,1
Sem formação superior superior
54 100 54 100
Total
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira - UFPR

O interessante é que, como bem sabemos, cursos como direito e medicina são
aqueles que geralmente servem como mecanismo de recrutamento para a elite política,
como demonstrado por vários estudos. No nosso caso, a maioria dos entrevistados
formou-se nos cursos de arquitetura, ciências contábeis, economia e engenharias, que
podem ser considerados cursos mais voltados à “técnica”, sem serem “tradicionais”.

Os dados mostrados acima, nas duas tabelas anteriores, mostram que nossa elite
tende a ser homogênea também porque se socializa e passa por um processo parecido de
educação, como afirma Carvalho (1996).

É importante trabalharmos aqui também com os indicadores de homogeneidade


trabalhados por Love (1982). O autor afirma que a elite paulista estudada por ele não
possui indivíduos da classe trabalhadora; mais de três quartos do grupo eram bacharéis em
direito ou medicina (70% eram advogados, sendo que 63% deles se graduaram na mesma
faculdade); 43% do grupo tinham pelo menos um outro membro da família ali
representado; a base política da maioria da elite encontrava-se na capital.

A exemplo da elite paulista estudada por Love, na nossa elite não temos indivíduos
da classe trabalhadora; utilizando novamente os dados sobre os cursos e o local de
formação da elite político-burocrática do Paraná, vemos que, nesse nosso caso, o

10A categoria Engenharias agrega os seguintes cursos: engenharia agronômica, engenharia cartográfica,
engenharia civil, engenharia elétrica, engenharia eletrônica.
11 A categoria Outros agrega: educação física, geografia, jornalismo, medicina veterinária, pedagogia.
Adriano Nervo Codato & Julio Cesar Gouvea 12

percentual de formados em direito e medicina (35,2%) é bem mais baixo que os da elite
paulista (mais de 70%); mas, por outro lado, na mesma direção de Love, houve uma
concentração da formação universitária numa mesma instituição (Universidade Federal do
Paraná).

5. 3 O recrutamento da elite político-burocrática

Levando-se em conta todos os dados apresentados quais são os atributos que esses
indivíduos possuem para que sejam recrutados à elite política?

Tabela VIII

Recrutamento da elite político-burocrática12


Escolaridade Estrato social Atividade política regular do
pai

Freqüência % Freqüência % Exerceu? Freqüência %

Superior incompleto 6 11,1 Estrato social baixo 5 9,3 Sim 16 29,6

Superior completo 28 51,9 Estrato social médio 31 57,4 Não 38 70,4

Pós-graduados 20 37,0 Estrato social alto 18 33,3

Total 54 100 54 100 54 100


Fonte: Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira - UFPR

A Tabela VIII mostra que os indivíduos são altamente graduados (37% do universo
total fizeram pós-graduação e 88,9% têm curso superior), advindos da camada média da
população (57,4%) e não pertencem a famílias tradicionais na política (70,4%). Apenas
3,7% (duas pessoas, portanto) dos entrevistados responderam que suas mães já haviam
exercido atividade política regular.

Para afirmarmos se existe um critério político para a escolha dessa elite, seria
necessário fazer um estudo da história política de cada indivíduo. O survey aplicado aos
entrevistados não dá conta disso, e necessário seria aprofundarmos a pesquisa para
responder a essa questão.

Giddens (1974) sustenta que quanto mais moderna é a sociedade, mais as elites
tendem a ser heterogêneas. Se de um lado podemos concordar com essa afirmação
levando-se em conta que aqui a filiação política tradicional não conta (basta olhar para o
percentual altíssimo de indivíduos que não pertencem a famílias tradicionais na política),

12A correlação entre estrato social e escolaridade é de ,179 e entre estrato social e atividade política regular do
pai é de -,093.
Por dentro do executivo 13

por outro, vamos verificar que a origem social é a mesma (a maioria pertence aos estratos
sociais médios).

Conclusões

Pode-se concluir que a elite político-burocrática paranaense, entre os anos de 1995


a 2002, é homogênea tanto social como profissionalmente, em graus muito próximos.

Vimos que tanto em relação à origem social (a elite advém, em sua maioria, do
estrato social médio da população) como ao processo de socialização e treinamento (grande
parte são funcionários públicos e profissionais liberais, e possuem alta escolaridade) a elite
estudada é homogênea.

Portanto, para além da elite político-burocrática ter um perfil social homogêneo,


seu recrutamento é fechado e seus atributos são uniformes. Em outras palavras, a elite
político-burocrática no período supracitado é recrutada nos estratos sociais médios da
população paranaense, uma vez que sua grande maioria é nascida no estado.

E não podemos nos esquecer do fato desses indivíduos afirmarem não possuir pais
com atividade política regular, ou seja, não ser advindos de famílias acostumadas à política,
ou, em outros termos, não pertencerem à elite política tradicional.

Seguindo essa idéia, seria o fato desses indivíduos terem uma alta escolaridade que
os habilitaria a ingressar na elite política? Ou é o tipo de curso, mais moderno e menos
tradicional, em que eles se formaram que constitui a variável principal do recrutamento?

Essas questões surgem após uma visão descritiva dessa elite. Será a partir delas que
prosseguiremos esta pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, José Murilo de. 2003. A construção da ordem: a elite política imperial; Teatro das
Sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
DAHL, Robert A. 1970. Uma crítica do modelo de elite dirigente. In: Amorim, Maria Stella
de (org.) Sociologia Política II. Rio de Janeiro: Zahar.
GIDDENS, Anthony. 1974. Elites in the British Class Structure. In: Stanworth, P. &
Giddens, A. (eds.). Elites and Power in British Society. Cambridge: Cambridge University
Press.
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City: Anchor Books.
KELLER, Suzanne. 1967. O destino das elites. Rio de Janeiro: Editora Forense.
Adriano Nervo Codato & Julio Cesar Gouvea 14

LOVE, Joseph L. 1982. A locomotiva. São Paulo na federação brasileira. Rio de Janeiro: Paz
e Terra.
WRIGHT MILLS, C. 1985. A elite do poder: militar, econômica e política. In: Fernandes,
H. (org.). Wright Mills, São Paulo, Ática (Coleção Grandes Cientistas Sociais, n. 48).

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