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Curso de Direito ² 9º Período ² Noturno
Disciplina de Direito Tributário II
Professor: Bruno Roberto Soares
Aluno: Carlos Olivar de Farias Júnior
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O questionamento sobre a constitucionalidade ou inconstitucionalidade do
parágrafo único do artigo 116 do Código Tributário Nacional ² CTN (Lei no 5.172,de
1966), surgiu com as alterações advindas daLeiComplementar no 104, de 2001, a qual
efetivou a introdução explícita, no sistema tributário pátrio, de uma normageral
antielisiva. A regra foi alojada no dispositivo legal objeto do presente trabalho
científico, passando assim, este artigo a possuir a seguinte redação:
"Art. 116 - Salvo disposição de lei em contrário,considera-se
ocorrido o fato gerador e existentes os seusefeitos:
I - tratando-se de situação de fato, desde o momento emque se
verifiquem as circunstâncias materiais necessáriasa que produza os
efeitos que normalmente lhe sãopróprios;
II - tratando-se da situação jurídica, desde o momentoem que esteja
definitivamente constituída, nos termos dedireito aplicável.
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Como analisado nas linhas anteriores, a norma antielisivaconsiste em um
instrumento de combate aos riscos fiscais e para isso, tem o apoio do princípio da
transparência. Visa punir os contribuintes que deturpam a interpretação do direito
tributário, praticando abuso de forma sobre o conteúdo jurídico da operação sujeita
ao imposto ou pela manipulação da forma societária da empresa sob o manto da
liberdade de iniciativa.
A referida norma tem por finalidade evitar o favorecimento injusto dos que
praticam elisão abusiva em relação àqueles que nada têm a elidir, garantindo
igualdade e dando transparência às relações jurídico-tributárias. Sendo sua
eficáciacondicionada à legislação ordinária de cada Ente Federativo.
Alguns insistem em afirmar que evasão e elisão são sinônimas. Mas não é
possível dar continuidade ao estudo da norma antielisiva sem fazer esta distinção,
que, com o apoio de renomados autores, consubstancio neste trabalho.
No caso da evasão, o contribuinte atua numa área não sujeita à incidência da
norma impositiva. Ou seja, o contribuinte deixa de praticar ato que esteja sobre a
incidência da obrigação tributária. Ricardo Lobo Torres conceitua evasão como:
´a economia de imposto obtida ao se evitar a prática do ato ou o
surgimento do fato jurídico ou da situação de direito suficientes à
ocorrência do fato gerador tributárioµ Op. Cit., p. 246
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fato que a norma antielisiva foi criada pelo legislador com uma finalidade
teoricamente útil, mas a grande questão é que ela foi elaborada e introduzida no
CTN de forma genérica, já que o legislador não se aprofundou no assunto, deixando a
cargo da doutrina e da jurisprudência os esclarecimentos necessários sobre o
instituto. Por este motivo, grandes discussões e controvérsias existem sobre a
incidência da norma nos casos concretos, o que dificulta a consolidação de um
posicionamento definitivo sobre seu verdadeiro objetivo.
O que mais dificulta a aplicação da norma é o fato de ela não ser específica,
permitindo diversas interpretações. Mas, de qualquer forma, seria muito difícil
discriminar na lei todas as situações da vida prática sobre as quais incidiriam a
norma. Sempre haverá uma situação diferente que poderá, ou não, ser considerada
abusiva aos olhos da lei.
Parte da doutrina discutea constitucionalidade da norma antielisiva. Alegam
que há conflito de princípios constitucionais acerca do assunto, pois, de um lado, há
o princípio da legalidade tributária fechada, e de outro lado, o princípio da
capacidade contributiva. A solução deste impasse é o equilíbrio, como para a maioria
dos problemas sempre o é. O grande problema é atingir o tal equilíbrio, quando não
há como garantir o direito de um, sem limitar parcialmente o de outro. A intenção é
não prejudicar o contribuinte e não prejudicar da mesma forma, o Fisco.
O contribuinte é protegido pelo princípio da igualdade, presente na
Constituição Federal.
´Art. 5° (...): II ² ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de leiµ
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Isso que dizer que, para que o fisco intervenha economicamente na vida do
contribuinte, deve haver razões claras e comprovadas que justifiquem essa
intervenção. Os cidadãos trabalham para adquirir salário, propriedade, alimentos.
Não é justo que a autoridade administrativa intervenha no seu patrimônio se ainda
restar qualquer dúvida de que isso é necessário. Para isso, deve ser concretizada a
parte final do parágrafo único do art116 do CTN: ´... observados os procedimentos a
serem estabelecidos em lei ordináriaµ. Enquanto não for criada lei ordinária que
estabeleça claramente os critérios, métodos e limites a serem adotados pelo fisco,
não poderá haver desconsideração dos atos ou negócios jurídicos praticados pelos
contribuintes, já que uma lei depende de outra para ser aplicada corretamente.
O Código Tributário Nacional estabelece normas gerais em matéria de
legislação tributária, conforme prevê a Constituição Federal:
´Art. 146. Cabe à lei complementar: III - estabelecer normas gerais
em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: a)
definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos
impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos
geradores, bases de cálculo e contribuintes; b) obrigação,
lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários; c)
adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas
sociedades cooperativas; d) definição de tratamento diferenciado e
favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno
porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do
imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art.
195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239µ.
Sendo assim, cabe à lei ordinária de cada ente federativo elencar as hipóteses
de elisão que devem ser proibidas, para que se cumpra o disposto na parte final do
parágrafo único do art. 116 do CTN.
´Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro,
penitenciário, econômico e urbanístico;µ
Outro questionamento quanto à norma antielisiva é que ela fala em
´...dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos
constitutivos da obrigação tributária...µ. Vale ressaltar que dissimulação não se
confunde com simulação, posto que a primeira significa o encobrimento de algo que
existe, ou seja, realmente ocorreu o fato gerador, já a segunda significa fingir o que
não aconteceu. E o que ocorre desde a inserção desta norma no ordenamento
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O contribuinte tem todo o direito de utilizar artifícios lícitos, até seus estritos
limites legais, para realizar seu planejamento e economia tributária. Reservar parte
de sua remuneração todo mês para dar ao governo, quando se tem suas próprias
necessidades pessoais, já é algo que o contribuinte faz contra a sua própria vontade,
não por falta de pretensão cooperativa, mas por necessidade financeira.
Quanto ao fundamento da norma antielisiva, alguns doutrinadores são até
radicais em afirmar que ela nada inovou no sentido antielisivo, já que além de ser
incompleta e confusa, não trouxe novidades e não é necessária. Neste sentido, Hugo
de Brito Machado brilhantemente assevera:
´Parece-nos que essa norma geral antielisão, se interpretada em
harmonia com a Constituição, e assim aplicada apenas aos casos nos
quais esteja configurado evidente abuso de direito, nada vai
acrescentar, posto que nossa jurisprudência já admite a
desconsideração de atos ou negócios em tal situação. Por outro
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O legislador, na tentativa de combater a elisão abusiva e reduzir o déficit
fiscal, criou a norma geral antielisiva, introduzida no Código Tributário Nacional pela
LC n° 104/01. Porém, ao tentar solucionar um problema, acabou gerando dúvidas
quanto à aplicação da norma, pela sua generalidade e imprecisão. A norma foi criada
para dar mais transparência na relação entre o Estado e o particular.
A finalidade da norma é desconsiderar atos ou negócios praticados pelo
contribuinte com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo
ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, o que gerou
discussões sobre o fato de que se está julgando a intenção do particular. O objetivo
da norma é alcançar os atos dos contribuintes que pretendem burlar a lei, ocultando
a ocorrência do fato gerador para se esquivar da obrigação tributária. Por este
motivo é que não se pode confundir dissimulação com simulação, já que na última, o
fato gerador não ocorreu, não se aplicando a norma nos casos de simulação.
Alguns doutrinadores alegam que a norma geral antielisiva é desnecessária.
Estes são adeptos da teoria de que a dissimulação nada mais é do que uma simulação
relativa e que este fenômeno já está disciplinado na legislação civil e tributária,
tornando o parágrafo único do art. 116 do CTN inútil ao ordenamento jurídico
brasileiro.
O planejamento e a economia tributária são direitos do contribuinte e suas
obrigações tributárias devem ser impostas de acordo com o princípio da capacidade
contributiva, ou seja, os limites econômicos de cada um devem ser respeitados. A
partir do momento que se dá ao Fisco autorização para desconsiderar os atos ou
negócios praticados pelo contribuinte, há uma intimidação que limita o planejamento
tributário de cada um.
Outro grande questionamento é o poder que foi concedido pela lei à
autoridade administrativa de desconsiderar os atos do contribuinte. Muitos
questionam a constitucionalidade deste aumento de poder, já que o próprio CTN
veda a alteração pela lei tributária de definição, conteúdo e alcance de institutos,
conceitos e formas de direito privado que limite competências tributárias.
O CTN é uma Lei que estabelece normas gerais em matéria tributária,
cabendo aos Entes Federados criar normas específicas que tratem de
maneiraindividual cada caso. Para que a norma geral antielisão seja aplicada com
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efetividade e gere os efeitos desejados, cada Ente Federativo deve criar lei ordinária
estabelecendo os procedimentos que a autoridade administrativa deve adotar para
realizar a desconsideração do ato ou negócio praticado pelo contribuinte.
Os defensores da norma geral antielisiva alegam que seu fundamento
constitucional está na defesa dos princípios da capacidade contributiva e da
isonomia, porém, o que se vê claramente, é uma tentativa extremista de limitar a
economia tributária do contribuinte para evitar riscos fiscais. Assim, surge o conflito
de princípios constitucionais, pois os opositores da norma antielisiva alegam que ela
está em dissonância com o princípio da legalidade, já que não há tipos legais
delimitados que realmente provem a ilicitude do ato ou negócio praticado pelo
contribuinte. Realmente, não parece haver justiça e segurança jurídica no fato de
ser o contribuinte submetido às conseqüências da norma geral antielisiva, quando
não há na lei previsão da ilicitude do ato praticado por ele, sendo deixado a cargo da
autoridade administrativa analisar cada caso e desconsiderar seu ato.
A norma geral antielisiva tem finalidades plausíveis, tais como: conferir
transparência às relações dos contribuintes com o Estado; evitar riscos fiscais
decorrentes da má-fé do contribuinte; e respeitar os princípios da isonomia e da
capacidade contributiva. O fato é que o legislador foi sucinto ao extremo, abrindo
portas a discussões sobre sua constitucionalidade, legalidade e aplicabilidade, o que
só será solucionado quando os Entes Federativos criarem leis ordinárias
procedimentais para as autoridades administrativas e quando os tipos legais
evidenciando os casos sujeitos à norma antielisiva forem criados. Ainda assim, haverá
controvérsias sobre a atuação do Fisco sobre o contribuinte.
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(1). ARAUJO CASTRO,Aldemario. Norma geral antielisiva (art. 116, parágrafo único
do ctn):constitucionalidade e outros aspectos relevantes. Brasília, 28 de dezembro de
2002.
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