O Código Civil brasileiro, no artigo 2º, declara que ‘a lei põe a salvo desde a
concepção os direitos do nascituro’
Em outras palavras, pretende que não o Congresso Nacional, mas o STF, nas vestes
de legislador positivo, isto é, de Parlamento, institua por jurisprudência um novo tipo
de aborto (eugênico) em face de o anencéfalo ter prognóstico de tempo de vida, no
ventre materno ou fora dele, menor do que as outras crianças e de sua deficiência
causar tristeza nos pais, sabendo que a criança terá, se nascida, poucas horas, dias,
meses ou anos de vida.
Estou com o eminente procurador-geral da República, que entende não ser adequado
o veículo escolhido.
A própria pretensão é também, a meu ver, inviável -mesmo que lei autorizando o
‘aborto eugênico’ viesse a ser produzida pelo Congresso- por violentar o ‘direito à
vida’, assegurado na Constituição Federal (art. 5º, caput) e garantido ‘desde a
concepção’ pelo Código Civil (art. 2º) e pelo tratado sobre direitos fundamentais de
que o Brasil é signatário (art. 4º do Pacto de São José).
Nossa intenção, ao elaborá-la, foi que o novo veículo processual viesse a atender às
hipóteses em que houvesse clara violação de um preceito fundamental expresso na
Constituição.
Aliás, o Código Civil brasileiro, no artigo 2º, declara que ‘a lei põe a salvo desde a
concepção os direitos do nascituro’. Seria fantasticamente curioso que essa
disposição preservasse todos os direitos menos o direito à vida. As próprias premissas
da ação, que impressionaram o brilhante ministro Marco Aurélio -quais sejam:
a) há risco de vida para a gestante (a maioria dos médicos diz que é idêntico ao de
qualquer parto);
b) a anencefalia seria diagnosticada com absoluta precisão em 100% dos casos (já
tive uma dedicada aluna de direito constitucional em que a anencefalia foi
diagnosticada e a mãe recusou-se a abortá-la, estando o diagnóstico errado);
c) o anencéfalo não resistiria senão algumas horas (conheço casos em que duraram
meses)-, do ponto de vista fático revelaram-se inconsistentes.
Se não for ‘uma coisa’, mas um ser humano, deve-se aplicar a ele o mesmo princípio
legal que se aplica aos casos de transplante de órgãos, só admitindo a retirada de
órgãos após a morte -vale dizer, desde que não haja nenhum sinal de vida cerebral ou
vital no ser de quem o órgão será retirado.
http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/13137
Em entrevista concedida quando a criança ainda estava viva, a pediatra afirmou ainda
que a discrepância não era só em relação ao diagnóstico intra-uterino, mas aos
prognósticos geralmente feitos: "Ela não pode ser comparada com uma criança com
morte cerebral, que não tem sentimentos. A Marcela não vive em estado vegetativo.
Como ela processa isso, é um mistério!"[9]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anencefalia
TJ-SP autoriza aborto de feto anencéfalo
POR FERNANDO PORFÍRIO
"É a vida que faz o Direito e não o Direito que faz a vida. A ausência de lei expressa
não significa que o Judiciário não possa autorizar a interrupção da gravidez quando
a vida fora do útero se mostra absolutamente inviável e constitui risco à saúde da
gestante. Afrontaria elementar bom senso exigir que a mulher prossiga
agasalhando em seu ventre feto absolutamente inviável. Permitir a interrupção da
gravidez, em casos assim, exalta a prevalência dos valores da dignidade humana,
da liberdade, da autonomia e da saúde, em absoluta consonância com os
parâmetros constitucionais."
Esses foram os termos do fundamento dado pela 13ª Câmara Criminal do Tribunal
de Justiça de São Paulo para autorizar a interrupção de gravidez de uma mulher
que estava na 16ª semana de gestação. A autorização para o aborto foi dada por
votação unânime diante da comprovação de que o feto era anencéfalo. C.L.A.
entrou com recurso contra sentença da 2ª Vara do Júri do Foro de Santana, na
capital paulista, negando seu pedido. O juiz argumentou que o aborto não encontra
amparo legal.
Insatisfeita com a negativa do juiz de primeiro grau, a mulher bateu às portas do
Tribunal de Justiça. A turma julgadora determinou imediatamente a realização do
aborto. “Em face do mal extraordinário e grave como também o potencial perigo
que corre a gestante, circundado por sua atual situação angustiante e doença
psicológica, que sem dúvida se verá acometida, outra não deve ser a conduta, se
não interromper o sofrimento”, afirmou o relator do recurso.
O Código Penal só permite o aborto quando não há outro meio de salvar a vida da
gestante, ou se a gravidez for resultado de estupro. No primeiro caso, o médico não
precisa de autorização judicial. Quando a gravidez é resultante de abuso sexual, o
aborto só pode ser feito com consentimento da mulher e permissão de um juiz. Em
outros casos, o aborto pode ser punido com pena de um a três anos de prisão para
a gestante, e de um a quatro anos de reclusão para o médico.
A anencefalia é uma malformação fetal congênita e irreversível, conhecida como
ausência de cérebro, que leva a criança à morte poucas horas depois do parto. Em
65% dos casos, a morte do feto é registrada ainda no útero. No caso apreciado
pelo tribunal paulista, a defesa da gestante sustentou que a interrupção da
gravidez era medida de urgência porque a continuidade da gestação colocava em
risco a vida da mulher, além de ser inviável a concepção do feto.
Amadurecimento jurisprudencial
Essa não é a primeira vez que a Justiça de São Paulo determina a interrupção de
gravidez em caso de malformação de feto. Em maio de 2009, o desembargador
Amado de Faria, então atuando na 3ª Câmara Criminal, capitaneou divergência que
determinou a medida por maioria de votos. Amado de Faria foi apoiado pelo voto
do desembargador Geraldo Wohlers.
Sobre a matéria, a doutrina e a jurisprudência oscilam em aceitar ou não a
interrupção da gravidez. Parte da jurisprudência entende que esse tipo de aborto
tem por fundamento o interesse social na qualidade de vida e é independente de
todo ser humano. Segundo essa tese, não importa o interesse em garantir a
existência da vida em quaisquer circunstâncias. Ainda que sem expressa previsão
legal, a interrupção da gravidez por má formação congênita do feto tem sido
admitida pelo Judiciário paulista por meio de Mandado de Segurança.
Na primeira instância paulista, o pioneiro nesse entendimento foi o então juiz
Geraldo Pinheiro Franco, hoje desembargador da 5ª Câmara Criminal do Tribunal
de Justiça. “Impossível a sobrevida do feto, deve ser autorizado o aborto”,
sentenciou Pinheiro Franco, em 1993, quando atuava como juiz do Departamento
de Inquéritos Policiais (Dipo).
O desembargador Francisco Galvão Bruno, da 9ª Câmara Criminal, quando ainda
juiz, enfrentou a questão. Ele seguiu a mesma trilha de seu colega Pinheiro Franco
autorizando a interrupção de gravidez num caso de Síndrome de Edwards. A
mesma posição foi tomada pela juíza Maria Cristina Cotrofe, quando titular da 2ª
Vara do Tribunal do Júri da Capital.
“Não há nenhuma possibilidade de tratamento intra ou extra-uterino nos casos de
trissomia do cromossomo 18 ou Síndrome de Edwards”, afirmou Galvão Bruno,
quando era juiz em primeira instância ao apreciar um caso que envolvia a doença.
“E a sobrevida, se houver, além de vegetativa não ultrapassará semanas”,
completou.
O TJ paulista também tem precedente como a decisão capitaneada pelo
desembargador Ribeiro dos Santos, que autorizou o aborto de um feto com
Síndorme de Edwards, ou ainda a que foi determinada pelo desembargador David
Haddad. Este mandou o Hospital das Clínicas da USP fazer o aborto de um feto com
falta de cérebro e olhos. Também tomara a mesma posição dos desembargadores
Marco Zanuzzi e Teodomiro Mendez.
A questão é tão complexa que o Supremo Tribunal Federal vem adiando decisão
sobre o tema. A corte ainda não julgou a ação movida pela Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Saúde (CNTS) para permitir a interrupção da gravidez em
caso de anencefalia fetal, hoje considerada crime. A ação, protocolada em junho de
2004, contrapõe ciência e religião, mas sobretudo joga luz na discussão sobre o
direito da mulher de interromper a gestação quando o diagnóstico revela
anencefalia.
O ministro Marco Aurélio Mello, relator da ação, diz que vai manter sua posição de
que, em caso de anencefalia fetal, a interrupção da gravidez não pode ser
considerada aborto. “O aborto é quando o feto tem possibilidade de vida. No caso
da anencefalia, não há cérebro. E, se não há cérebro, não há vida”, disse ele,
explicando que a doação de órgãos é autorizada a partir da morte cerebral.
A CNTS quer que o Supremo declare que a interrupção da gravidez em caso de
anencefalia não pode ser punida como se fosse aborto. O argumento é que a
permanência do feto anômalo no útero da mãe é potencialmente perigosa em
função do elevado índice de mortes ainda durante a gestação, o que empresta à
gravidez um caráter de risco.
Lançamento: Anuário da Justiça Rio Grande do Sul
http://www.conjur.com.br/2011-fev-24/tribunal-paulista-autoriza-interrupcao-gravidez-feto-
anencefalo
Tentei pesquisar sobre o assunto, que na verdade é muito complexo, através da pesquisa
consegui tirar as minhas próprias conclusões com base na lei, na ética e moral que me foram
impostas durante a vida.
Sou contra a legalização do aborto de feto anencefálo, primeiro que durante a pesquisa
percebi que não cabe a Medina determinar o tempo e condições de vida do feto anencefálo, já
tivemos casos em que o feto viveu mais de um ano, tivemos casos de engano do diagnóstico.
Penso que a lei existente que garante o direito a vida