Rui Castro recebeu em 1985, 1989 e 1994 no Instituto Superior Técnico da Uni-
versidade Técnica de Lisboa os graus de Licenciado, Mestre e Doutor em Enge-
nharia Electrotécnica e de Computadores, respectivamente.
Rui Castro
rcastro@ist.utl.pt
http://energia.ist.utl.pt/ruicastro
1. INTRODUÇÃO 4
1.1. Breve Perspectiva Histórica 4
1.2. Classificações 6
5. BIBLIOGRAFIA 44
5.1. WWW 44
5.2. Tradicional 44
Introdução 4
1. INTRODUÇÃO
Os projectistas cedo se aperceberam que uma CMH não devia ser concebida como
uma cópia em escala reduzida de uma instalação de elevada potência, concluindo
1.2. CLASSIFICAÇÕES
A designação central mini-hídrica generalizou-se em Portugal para designar os
aproveitamentos hidroeléctricos de potência inferior a 10 MW. Este limite é ge-
ralmente usado internacionalmente como fronteira de separação entre as peque-
nas e as grandes centrais hidroeléctricas. As primeiras, devido ao seu impacto
ambiental diminuto, são consideradas centrais renováveis; as segundas, embora
usem um recurso renovável, produzem efeitos não desprezáveis sobre o ambiente,
pelo que a sua classificação como centrais renováveis é problemática.
Designação Pi (MW)
Designação Hb (m)
Em geral, o custo por unidade de potência instalada aumenta à medida que dimi-
nui a dimensão da central. Isto é devido às economias de escala e ao facto de cada
instalação possuir um determinado número de equipamentos, cujo custo não va-
ria apreciavelmente com o tamanho da mesma.
energia injectada na rede pública com origem em CMH é paga a um valor que se
situará em torno de 80 €/MWh, durante um máximo de 25 anos.
200
150
100
80 €/MWh
0
2000 2500 3000 3500 4000
Utilização anual da potência instalada (h)
Figura 2: Custo médio anual actualizado do MWh; a = 7%, n = 25 anos, dom = 2%It.
O caudal que passa por uma secção de um rio é uma variável aleatória, com re-
partição não uniforme ao longo do ano. Assim, os estudos hidrológicos só poderão
fornecer probabilidades de ocorrência dos caudais afluentes a uma determinada
secção do curso de água (geralmente, valores médios diários), ao longo do ano.
Esta curva é uma curva média suportada por observações realizadas ao longo de
vários anos; o seu significado será tanto maior, quanto maior for o período de
tempo considerado para a sua construção. É geralmente aceite que um período de
trinta a quarenta anos é o ideal para tomar como significativa a curva média ob-
tida.
30
25
20
Caudal (m3/s)
15
10
0
0 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
A Figura 5 mostra o aspecto da curva de duração de caudais que tem vindo a ser
usada, após a aplicação da operação de adimensionalização.
Curva de Duração de Caudais 13
30
25
20
Caudal (m3/s)
15
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Tempo (dia)
20
15
Q/Qmed (pu)
10
0
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Tempo (%)
No que diz respeito às turbinas, elas podem ser divididas em turbinas de impulso
(também chamadas de acção) ou de reacção, consoante o seu princípio de opera-
ção. Os rotores das turbinas de reacção estão totalmente imersos em água e colo-
cados dentro de uma caixa protectora em pressão. As pás do rotor têm um perfil
adequado a que as diferenças de pressão entre elas imponham forças que fazem
rodar o rotor. Ao invés, as turbinas de impulso operam a céu aberto, movidas por
um ou mais injectores de água.
As turbinas hélice são não reguláveis5, e por isso de constituição mais simples e
robusta, são mais baratas, e têm menor manutenção. Em contrapartida, não têm
a flexibilidade proporcionada pelas turbinas Kaplan, que são reguláveis. Esta re-
gulação pode ser dupla – mobilidade das pás da roda e do distribuidor – ou sim-
ples – apenas uma possibilidade de regulação. Neste último caso, é usual a opção
pela regulação das pás da roda, por esta proporcionar uma curva de rendimentos
mais plana (ver Figura 10).
Francis
Kaplan c/
rotor reg.
Pelton
5As turbinas de pás fixas possuem apenas regulação em vazio, para adaptação a diferentes regi-
mes de caudais afluentes (período de chuvas e período de estiagem).
Principais Opções Tecnológicas 18
Em Portugal, verifica-se que a maior parte das centrais mini-hídricas está equi-
pada com geradores síncronos, o que contraria a regra exposta acima.
Uma primeira razão que ocorre para explicar esta situação prende-se com o facto
de, ao tempo em que as mini-hídricas se começaram a espalhar pelo país (década
de oitenta), não haver experiência de operação das máquinas assíncronas no fun-
cionamento como gerador7. Esta circunstância terá levado os projectistas a toma-
rem uma atitude de prudência e a optarem por soluções com méritos comprova-
dos.
Outra razão tem a ver com a operação das turbinas. Para quedas baixas, caracte-
rísticas da maior parte das aplicações mini-hídricas, a velocidade da turbina
também é baixa (da ordem de 500 a 1000 rpm). Ora, os fabricantes de motores de
indução não ofereciam soluções equipadas com multipólos, porque não tinham
aplicação na indústria. Nestas condições, o uso deste tipo de conversor obrigava a
recorrer a uma caixa de engrenagens para adaptação de velocidades. Indepen-
PN = γ × QN × Hb × ηc equação 1
PN = 8 × QN × Hb equação 2
Uma expressão prática, de cálculo muito simplificado, a usar para estimar a po-
tência nominal (em kW) instalada numa central mini-hídrica é, portanto:
PN = 7 × QN × Hb equação 3
Qmin QMax
Turbina α1 = α2 =
QN QN
⎛ t2
⎞
Ea = 7 × Hb × ⎜⎜ ( t1 − t 0 )α 2QN + ∫ Q( t )dt ⎟⎟ equação 4
⎝ t1 ⎠
Exemplo MH1
Considere uma CMH, com uma altura de queda bruta, Hb = 6,35 m, a instalar num local onde a curva
de duração de caudais pode ser aproximada pela expressão analítica Q(t) = 25exp(-t/100), para t
(dia) e Q (m3/s):
A CMH será equipada com único grupo turbina/gerador, do tipo Kaplan com dupla regulação, dimen-
sionada para o caudal nominal de 11,25 m3/s. Sabe-se que, por insuficiência de queda, a central não
poderá funcionar durante 11 dias no ano.
Resolução:
• Sabendo que turbina é do tipo Kaplan, o que pode ser confirmado por recurso à Figura
6, com dupla regulação (rotor e distribuidor), os limites de exploração são (ver Tabela 4):
α1 = 0,25 e α2 = 1,25. Logo, α1QN = 2,81 m3/s e α2QN = 14,06 m3/s, a que correspondem,
respectivamente, t2 = 218,48 dia e t1 = 57,54 dia.
A figura seguinte mostra a curva de duração de caudais onde se efectuaram as marcações referidas,
permitindo definir a área de exploração.
Nesta fase de análise simplificada, consideram-se como constantes a altura de queda bruta e o ren-
dimento global do aproveitamento, pelo que uma estimativa da energia produtível em ano médio pode
ser obtida por:
⎛ 218,48 ⎞
E a = 7 × 6,35 × ⎜ ∫ Q( t )dt + (57,54 − 11) × 14,06 ⎟ × 24 = 1.898,28 MWh
⎜ ⎟
⎝ 57,54 ⎠
Energia Eléctrica Produtível 24
25
Qc
20
α2Qn
15
Q (m /s)
3
Área de exploração
10
Qn
5
α1Qn
t0 t1 t2
0
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
t (dia)
Exemplo MH2
Pretende-se instalar uma central mini-hídrica equipada com um grupo turbina/gerador de 750 kW
num rio cuja curva de duração de caudais pode ser expressa através da função analítica Q(t) = 30t-0,8,
para t em dia e Q em m3/s.
A altura bruta de queda é igual a 100 m. Estima-se que a central esteja parada durante 15 dias por
insuficiência de queda.
A turbina será do tipo Francis e tem os seguintes limites de exploração: α1 = 0,35 e α2 = 1,15.
Usando o modelo simplificado, calcule estimativas para: a) a energia produzida nos dias do ano cor-
respondentes aos 3 menores caudais turbináveis; use o método de integração trapezoidal; b) a ener-
gia produzida anualmente pela central mini-hídrica e a respectiva utilização anual da potência instala-
da.
Resolução:
a)
O caudal nominal é QN = 750/(7x100) = 1,07 m3/s, o que define os caudais máximo e mínimo de ex-
ploração como:
Qmin = α1QN = 0,35x1,07 = 0,375 m3/s e QMax = α2QN = 1,15x1,07 = 1,23 m3/s.
1 1
− −
⎛ Q min ⎞ 0,8 ⎛ QMax ⎞ 0,8
t2 = ⎜ ⎟ = 239,26 dia e t1 = ⎜ ⎟ = 54,08 dia
⎝ 30 ⎠ ⎝ 30 ⎠
O que se pretende é calcular a energia produzida pela central nos dias limitados por td1=INT(t2) e
td2=td1-2.
Dado que a curva de duração de caudais pode ser representada por uma expressão analítica, é fácil
calcular a energia produzida nos dias correspondentes aos menores caudais turbinados, através de:
239
1 239
∫ 30t
−0,8
E 3− = 7 × 100 × 24 × dt = 504.000 × t ( −0,8+1) = 12.653,21 kWh
237
( −0,8 + 1) 237
Contudo, o enunciado pede explicitamente que seja usado o método de integração trapezoidal. O
objectivo é habilitar o leitor com uma ferramenta que possa ser usada quando a expressão analítica
da curva de duração de caudais é complexa ou quando não está disponível uma expressão analítica.
Recorda-se o algoritmo de cálculo do integral F da função f(x) pelo método de integração trapezoidal,
com passo de integração ∆t.
f F
f(0)
f(1) F(1)=∆t*(f(0)+f(1))/2 j =n
f(2) F(2)=∆t*(f(1)+f(2))/2 F = ∑ F( j)
j =1
. .
. .
f(n) F(n)=∆t*(f(n-1)+f(n))/2
j t Q(t) F
j= 2
m3
0 237 0,3779 F = ∑ F( j) = 0,7532 dia
1 238 0,3766 0,3772 j=1 s
2 239 0,3753 0,3760
239
∫ 30t
−0,8
E 3− = 7 × 100 × 24 × dt ≅ 16.800 × 0,7532 = 12.653,24 kWh
237
b)
⎡ 239,26
⎤
E a = 7 × 100 × ⎢(54,08 − 15 ) × 1,23 + ∫ 30t −0,8 dt ⎥ × 24
⎢⎣ 54,08 ⎥⎦
239,26
30 0,2 239,26
∫ 30t
−0,8
dt = t
54,08
0,2 54,08
obtém-se
E a = 2.747,84 MWh
Ea
ha = = 3.663,78 h
PN
Neste rio, no local onde a altura bruta de queda é 100 m, pretende-se estudar a instalação de uma
CMH equipada com um grupo Francis de potência 3 MW e caudal nominal 4 m3/s. O regime de explo-
ração previsto para a central é o seguinte: para os caudais superiores aos que são excedidos durante
20% do ano, o grupo é operado à potência nominal constante; para caudais inferiores aos que são
excedidos em 40% do ano, a central é desligada, sendo a água afluente aproveitada para outros fins.
Usando o modelo simplificado, calcular estimativas para: a) a energia anual produzida; b) a energia
anual não produzida devido ao regime de exploração adoptado.
Solução
a) Ea = 8.541 MWh
O caso mais simples consiste em ter dois grupos iguais, com repartição de caudais
entre turbinas segundo uma regra pré-fixada. O caudal máximo turbinável, QMT,
é:
Energia Eléctrica Produtível 27
2
QMT = ∑ α 2QNi equação 5
i =1
Qj Turbina 1 Turbina 2
0 ≤ Q j ≤ QN 2 Qj 0
t3
Ea 2 = 7 × Hb × ∫ Q( t )dt equação 7
t2
Energia Eléctrica Produtível 28
Exemplo MH3
Considere a CMH do Exemplo MH1, agora equipada com dois grupos turbina/gerador Kaplan com
dupla regulação iguais.
Pelo modelo simplificado, calcular uma estimativa da energia adicional anualmente produzida com
esta configuração.
Resolução:
• O caudal máximo turbinável é QMT = α2(QN1+QN2) = 14,06 m3/s, mas o limite mínimo de
exploração passou a ser α1QN1 = α1QN2 = 1,41 m3/s. A este caudal mínimo corresponde
t3 = 287,79 dia.
25
Qc
20
α 2Qn
15
Qn=2Qn1=2Qn2
Q (m /s)
3
Área de exploração
10
Área adicional 2
5
t3
α 1Qn1=α 1Qn2 t2
t1
t0
0
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
t (dia)
⎛ 287,79
⎞
Ea 2 = ⎜ 7 x 6,35 x ∫ Q( t )dt ⎟ x 24 = 150,02 MWh
⎜ ⎟
⎝ 218,48 ⎠
Energia Eléctrica Produtível 29
Problema MH2.
A curva de duração de caudais de um rio pode ser aproximada pela expressão seguinte para t em
dias e Q em m3/s.
Pretende-se instalar uma Central Mini-Hídrica num local onde a altura bruta de queda é Hb = 350 m.
Admita que:
A central vai parar 15 dias por ano por motivo de excesso de caudal.
∫
Recorde que ln( x )dx = x ln( x ) − x + C
Usando o modelo simplificado, calcular estimativas para: a) a potência nominal total a instalar; b) o
caudal nominal de cada turbina; c) a energia anual produzida.
Solução:
a) PN = 2.000 kW
c) Ea = 7.655,64 MWh
Considere um rio com caudal máximo de 50 m3/s e em que a curva de duração de caudais pode ser
aproximada por uma recta. O leito está seco durante 115 dias por ano.
Neste rio, no local onde a altura bruta de queda é 40 m, vai ser instalada uma central mini-hídrica
com uma potência de 6 MW e caudal nominal de 20 m3/s. A turbina é do tipo Kaplan com dupla regu-
lação e limites máximo e mínimo de exploração de 125% e 25% do caudal nominal, respectivamente.
O caudal de cheia que impossibilita a operação da turbina é de 40 m3/s.
Pretende-se estudar a solução que consiste em instalar dois grupos turbina/gerador iguais, cada um
com 3 MW, equipados com turbinas Kaplan. Nestas condições, o rendimento global do aproveitamen-
to é de 75%.
Solução:
Ea = 24.169,388 MWh
Energia Eléctrica Produtível 30
A potência eléctrica, P (W), que pode ser aproveitada numa central hidroeléctrica
é dada, com generalidade, pela expressão:
• hhidr (m) e hcheia (m) são as alturas de perdas equivalentes às perdas no cir-
cuito hidráulico e às perdas devidas aos caudais de cheia, respectivamente
À parte o peso volúmico, que pode ser expresso em kN/m3 para a potência vir ex-
pressa em kW, nenhuma das grandezas da equação 8 é constante. Esta circuns-
tância torna o processo de escolha da potência a instalar, e a sua repartição pelo
número de grupos, uma operação complexa.
Energia Eléctrica Produtível 31
Em termos genéricos, pode afirmar-se que o caudal nominal deve ser aquele para
o qual um determinado índice de avaliação de projectos (por exemplo, o VAL ou a
TIR) é máximo. Assim, o cálculo das receitas proporcionadas pela venda de ener-
gia, das correspondentes despesas e do investimento, deve ser repetido para vári-
os caudais nominais, retendo-se o que maximiza o índice de avaliação de projectos
escolhido.
Por razões ambientais, o caudal existente não pode ser totalmente utilizado para
a produção de energia eléctrica, sendo necessário deixar uma determinada quan-
tidade de água para evitar que o leito principal fique completamente seco, o cha-
mado caudal residual, Qr. O valor deste caudal deve ser conhecido à partida ou,
pelo menos, estimado. Na ausência de outra informação, são comuns valores da
ordem de 3% a 5% do caudal nominal.
O caudal residual deve ser subtraído a cada um dos valores da curva de duração
de caudais, obtendo-se os valores do caudal disponível, Q’i:
Energia Eléctrica Produtível 32
A altura útil de queda, hu, obtém-se subtraindo uma altura equivalente de perdas
à altura bruta. No modelo que estamos a usar consideram-se dois tipos de perdas
hidráulicas: as perdas no circuito hidráulico propriamente dito, hhidr, (as chama-
das perdas de carga) – por atrito nas tubagens, devidas às curvaturas, nas válvu-
las, etc. – e as perdas devidas ao facto de a queda diminuir em períodos de cau-
dais elevados, ou de cheia, hcheia.
Assim, oferece-se uma forma simplificada de contabilizar os dois termos das per-
das hidráulicas, que se considera dependerem do caudal afluente e do caudal no-
minal através das relações quadráticas seguintes:
2
⎛ Q ⎞
hhidr = H pmax
b hidr
⎜⎜ ⎟⎟ equação 10
⎝ QN ⎠
2
⎛ Q − QN ⎞
hcheia = hmax
⎜⎜ ⎟⎟ equação 11
⎝ Qmax − QN ⎠
cheia
em que phidrmax (%) e hcheiamax (m) são, respectivamente, o valor máximo das perdas
de carga em percentagem da altura bruta de queda e a redução máxima na queda
bruta devida aos caudais de cheia. Note-se que a equação 11 só é aplicada para os
caudais afluentes que excedem o caudal nominal.
Energia Eléctrica Produtível 33
hidr ∈ [3%; 5%]; No que diz respeito a hcheia o seu valor tem de ser
pode tomar-se pmax max
Por isso, opta-se por oferecer uma equação empírica simplificada, obtida a partir
da análise de um grande número de curvas de rendimento de diversos fabrican-
tes, para diversos tipos de turbinas operando sob diferentes condições de queda e
caudal afluente.
⎧⎪ ⎡ Q
χ
⎤ ⎫⎪
ηt = ⎨1 − ⎢α 1 − β ⎥ ⎬δ equação 12
⎪⎩ ⎢⎣ QN ⎥⎦ ⎪⎭
Hélice 65%
Kaplan 15%
Francis 30%
Pelton 10%
Para cada valor de caudal da curva de duração de caudais, pode calcular-se a res-
pectiva potência disponível através da equação 8, formando-se assim uma curva
aparentada com uma curva de duração de potência.
Uma vez que o caudal nominal foi definido como sendo o caudal máximo turbiná-
vel, os caudais que são efectivamente usados são os que satisfazem à condição:
Chama-se a atenção para o facto de os valores de caudal que devem ser usados na
equação 8 e na equação 10 serem os caudais Qi_usado. Já na equação 11, o caudal
máximo turbinável e o caudal residual não devem ser tidos em consideração, pelo
que os valores a usar são os caudais Qi.
20 P
⎛ + P( k ) ⎞
E = ∑ ⎜⎜ ( k −1) ⎟⎟ × ∆T% × 8760 × (1 − pindisp ) equação 15
k =1 ⎝ 2 ⎠
Exemplo MH4
Retome a CMH considerada no Exemplo MH1 que tem uma altura de queda bruta, Hb = 6,35 m, a
instalar num local onde a curva de duração de caudais pode ser aproximada pela expressão analítica
Q(t) = 25exp(-t/100), para t (dia) e Q (m3/s).
O valor máximo das perdas de carga em percentagem da altura bruta de queda é phidrmax = 4% e a
redução máxima na queda bruta devida aos caudais de cheia é hcheiamax = 6,1 m.
A CMH será equipada com único grupo turbina/gerador, do tipo Kaplan com dupla regulação, dimen-
sionada para o caudal nominal de 11,25 m3/s. Por questões ecológicas deverá ser reservado um
caudal residual de 1m3/s.
Calcular estimativas para: a) a energia anual produzida; b) a potência instalada. Use o modelo deta-
lhado.
Resolução:
a)
Supondo que a curva de duração de caudais é definida em intervalos de tempo de 5%, uma estimati-
va da energia anual produzida pode ser obtida através da equação 15. Para tal, é necessário calcular
primeiramente as potências P(k) que integram o somatório, as quais dependem dos caudais da curva
de duração de caudais.
Vamos exemplificar o processo de cálculo para o caudal Q50 = 4,03 m3/s, a que corresponde um tem-
po em que o mesmo é igualado ou excedido de 50% (182,5 dias).
O caudal disponível é:
As perdas devidas aos caudais de cheia são consideradas nulas, pois o caudal afluente Q50 é inferior
ao caudal nominal.
hu = 6,35–0,0184–0 = 6,3316 m
⎧⎪ ⎡ ⎛ 3,03 ⎞ ⎤ ⎫⎪
6
ηC = 0,6856x0,95x0,99x(1-0,02) = 63,19%
O cálculo da energia produzida anualmente obriga ao cálculo dos restantes valores de P(k) e à consi-
deração das perdas devidas a indisponibilidades diversas.
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70% 75% 80% 85% 90% 95% 100%
Q (m3/s) 25,00 20,83 17,35 14,46 12,05 10,04 8,36 6,97 5,81 4,84 4,03 3,36 2,80 2,33 1,94 1,62 1,35 1,12 0,94 0,78 0,65
Qdisp (m3/s) 24,00 19,83 16,35 13,46 11,05 9,04 7,36 5,97 4,81 3,84 3,03 2,36 1,80 1,33 0,94 0,62 0,35 0,12 0,00 0,00 0,00
Qusado (m3/s) 11,25 11,25 11,25 11,25 11,05 9,04 7,36 5,97 4,81 3,84 3,03 2,36 1,80 1,33 0,94 0,62 0,35 0,12 0,00 0,00 0,00
Tempo
A interpretação dos gráficos requer uma explicação: por exemplo, no gráfico da altura de perdas no
circuito hidráulico, o valor de 0,02 m, significa que este é o valor de perdas para o caudal usado cor-
respondente ao caudal afluente que é excedido ou igualado em 50% do tempo.
Energia Eléctrica Produtível 38
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70% 75% 80% 85% 90% 95% 100%
h_hidr (m) 0,25 0,25 0,25 0,25 0,24 0,16 0,11 0,07 0,05 0,03 0,02 0,01 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Qusado (m3/s) 11,25 11,25 11,25 11,25 11,05 9,04 7,36 5,97 4,81 3,84 3,03 2,36 1,80 1,33 0,94 0,62 0,35 0,12 0,00 0,00 0,00
Tempo
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70% 75% 80% 85% 90% 95% 100%
h_cheia (m) 6,10 2,96 1,20 0,33 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Q (m3/s) 25,00 20,83 17,35 14,46 12,05 10,04 8,36 6,97 5,81 4,84 4,03 3,36 2,80 2,33 1,94 1,62 1,35 1,12 0,94 0,78 0,65
Tempo
Por exemplo, no gráfico da potência eléctrica disponível, o valor de 119 kW quer dizer que esta po-
tência está disponível para os caudais usados correspondentes aos caudais afluentes que são igua-
lados ou excedidos em 50% do tempo.
A energia eléctrica produzida em ano médio é, de acordo com a equação 15: Ea = 1.501,60 MWh
Rendimentos
100
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70% 75% 80% 85% 90% 95%
%
rend_Kaplan 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,88 0,82 0,69 0,46 0,15 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
rend_global 0,83 0,83 0,83 0,83 0,83 0,83 0,83 0,83 0,82 0,76 0,63 0,43 0,14 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Qusado (m3/s) 11,25 11,25 11,25 11,25 11,05 9,04 7,36 5,97 4,81 3,84 3,03 2,36 1,80 1,33 0,94 0,62 0,35 0,12 0,00 0,00 0,00
Tempo
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70% 75% 80% 85% 90% 95% 100%
Pot_disp (kW) 0 287 448 528 548 457 376 306 242 180 119 62 16 0 0 0 0 0 0 0 0
Qusado (m3/s) 11,25 11,25 11,25 11,25 11,05 9,04 7,36 5,97 4,81 3,84 3,03 2,36 1,80 1,33 0,94 0,62 0,35 0,12 0,00 0,00 0,00
Tempo
b)
O leitor é convidado a comparar os resultados obtidos neste exemplo com os do Exemplo MH1 em
que se usou o modelo simplificado.
Problema MH4.
Uma CMH vai ser instalada num local onde a altura bruta de queda é 146 m. Conhecem-se os se-
guintes pontos da curva de duração de caudais:
O valor máximo das perdas de carga em percentagem da altura bruta de queda é phidrmax = 5% e a
redução máxima na queda bruta devida aos caudais de cheia é hcheiamax = 5 m. Por questões ambien-
tais é necessário reservar um caudal de 0,25 m3/s.
Pretende-se avaliar a viabilidade económica do projecto para duas turbinas com as seguintes carac-
terísticas: turbina A – dimensionada para um caudal nominal igual a 4 m3/s; turbina B – dimensionada
para um caudal nominal igual a 2 m3/s.
A solução equipada com a turbina A tem um investimento unitário de 1.400 €/kW, enquanto que na
solução B esse investimento é de 2.000 €/kW. Os investimentos consideram-se totalmente realizados
em t=0. Admite-se que as despesas de operação e manutenção são iguais todos os anos e iguais a
3% e 4% do investimento total, respectivamente para a solução A e para a solução B.
Considere que, para as duas soluções, a energia eléctrica produzida é vendida à rede a um preço
médio de 70 €/MWh.
Usando o modelo detalhado, calcular estimativas para: a) a energia anual produzida, a potência insta-
lada e a utilização anual da potência instalada referentes à solução equipada com a turbina A; b) re-
petir a) para a solução equipada com a turbina B; c) o VAL a 15 anos à taxa de actualização de 7%
da solução A e da solução B.
Solução:
Se a CMH estiver equipada com dois grupos turbina/gerador (T1 e T2) cada um
com metade do caudal nominal, produz-se mais energia do que com uma única
turbina (T) com a totalidade do caudal nominal.
Já na zona de baixos caudais, quando apenas uma turbina, T1, está a trabalhar, o
rendimento global é substancialmente melhorado em relação ao que se obtém
com a turbina “grande”, T. Esta situação explica-se porque, para caudais baixos, a
turbina T1 funciona numa zona de rendimentos mais elevados, já que o seu cau-
dal nominal é mais baixo.
Rendimentos
100
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70% 75% 80% 85% 90% 95%
%
rend_Francisx1 0,00 0,00 0,15 0,30 0,43 0,54 0,64 0,71 0,77 0,82 0,86 0,88 0,90 0,91 0,92 0,92 0,92 0,92 0,92 0,91 0,90
rend_Francisx2 0,00 0,15 0,43 0,64 0,77 0,86 0,90 0,92 0,92 0,92 0,90 0,88 0,90 0,91 0,92 0,92 0,92 0,92 0,92 0,91 0,90
Caudal / Caudal Nominal
Figura 11: Rendimentos da turbina: solução com uma turbina e com duas turbinas
(Francis, hu = 138,7 m, QN = 4 m3/s, α = 1,250, β = 1,264, χ = 2,947, δ = 0,919)
Energia Eléctrica Produtível 42
Exemplo MH5
Calcule a energia produzida pela CMH considerada no Exemplo MH4 na hipótese de a mesma estar
equipada com dois grupos turbina/gerador iguais.
Solução:
De acordo com o modelo adoptado, a única alteração a registar é no cálculo do rendimento da turbina
equivalente (naturalmente que esta alteração influencia os cálculos subsequentes).
Para o caudal usado de 3,03 m3/s que nos tem vindo a servir de exemplo, vamos exemplificar o cál-
culo do rendimento.
Uma vez que este caudal é inferior ao caudal nominal de cada turbina (QN1 = QN2 =5,625 m3/s), ape-
nas uma turbina está em operação. O rendimento para este caudal é agora:
⎧⎪ ⎡ ⎛ 3,03 ⎞ ⎤ ⎫⎪
6
Já, por exemplo, para o caudal usado correspondente ao caudal afluente que é igualado ou excedido
em 25% do tempo, Q25_usado = 9,04 m3/s, estão as duas turbinas em funcionamento a repartir igual-
mente o caudal, sendo o rendimento de cada uma delas igual ao rendimento que se obtém com uma
turbina “grande” e igual a:
⎧⎪ ⎡ ⎛ 9,04 / 2 ⎞ ⎤ ⎫⎪
6
⎧⎪ ⎡ ⎛ 9,04 ⎞ ⎤ ⎫⎪
6
A figura seguinte compara o rendimento da solução equipada com uma turbina com a solução equi-
pada com duas turbinas iguais. Nota-se que em abcissas está o tempo em que o caudal que determi-
na o rendimento é igualado ou excedido.
Rendimentos
100
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70% 75% 80% 85% 90% 95%
%
rend_Kaplan 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,88 0,82 0,69 0,46 0,15 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
rend_Kaplan2 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,88 0,79 0,58 0,21 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Tempo
Problema MH5.
Jan. 5,75 Fev. 8,10 Mar. 6,01 Abr. 7,14 Mai. 4,77 Jun. 4,44
Jul. 1,45 Ago. 1,06 Set. 1,32 Out. 16,81 Nov. 19,21 Dez. 26,96
Pretende-se instalar uma CMH local onde a altura bruta de queda é Hb = 15 m. Em primeira aproxi-
mação, o caudal nominal é igual ao caudal médio anual, QN = Qmed. A central será equipada com dois
grupos turbina/gerador iguais, do tipo Hélice.
O valor máximo das perdas de carga em percentagem da altura bruta de queda é phidrmax = 3% e a
redução máxima na queda bruta devida aos caudais de cheia é hcheiamax = 3 m. Por questões ambien-
tais é necessário reservar um caudal de 0,1 m3/s.
Usando o modelo detalhado, calcular estimativas para: a) a energia anual produzida; b) a potência
instalada.
Solução:
a) Ea = 3.730,83 MWh
b) PN = 1,023 MW
Bibliografia 44
5. BIBLIOGRAFIA
5.1. WWW
[APRH] Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos, http://www.aprh.pt/
[CREST] Center for Renewable Energy and Sustainable Technology (CREST), Wash-
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sity of Glamorgan, UK, http://www.eco-build.net/renewable/hydro/
[EREN] EREN – Energy Efficiency and Renewable Energy Network, DOE – Depart-
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[FWEE] FWEE – The Foundation for Water and Energy Education, USA,
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5.2. TRADICIONAL
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mentação de um regulador de nível utilizando controladores lógicos progra-
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[ESTIR] Energy Scientific & Technological Indicators and References (ESTIR), Area:
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[Penche] Celso Penche, “Guide on How to Develop a Small Hydropower Plant”, The-
matic Network on Small Hydropower (TNSHP), European Small Hydropower
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[Vilas Boas] P. Vilas Boas, Graça Medina, Manuela Portela, “A metodologia de projecto de
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Fontes de Energia Eléctrica Descentralizadas, IST, Maio 1986.