Seca no Nordeste: previsão mais pessimista é que a região possa ficar até 4ºC mais
quente e ter 20% menos chuvas até 2100 (foto: Angela Meurer – CC BY-NC-SA 2.0).
A frequência das chuvas intensas praticamente triplicou entre 1964 e 2010 na Zona da
Mata e no litoral pernambucanos
Os números mostrados por Nobre são alarmantes. Eles mostram, por exemplo, que a
média mensal da temperatura máxima registrada em Vitória de Santo Antão, na Zona da
Mata de Pernambuco, aumentou 3,5ºC entre 1960 e 2005.
Outro indicador preocupante é a frequência das chuvas intensas, com mais de 100 mm
em um período de 24 horas: as precipitações desse tipo praticamente triplicaram entre
1964 e 2010 na Zona da Mata e no litoral daquele estado.
As projeções para o futuro são desanimadoras. No cenário pessimista, o Nordeste ficará
de 2 a 4ºC mais quente, e as chuvas terão redução de 15% a 20% até o fim do século.
Na hipótese otimista, o termômetro subirá de 1 a 3ºC, e as precipitações terão redução
de 10 a 15%, segundo dados apresentados por Paulo (que é irmão de Carlos Nobre,
também meteorologista do Inpe).
Para fazer frente a essa perspectiva assustadora, Paulo Nobre diz que é preciso romper
com o paradigma agrícola predominante no Nordeste. “A agricultura de subsistência no
semi-árido será inviável no futuro”, estima.
Ele defende que os agricultores abram mão de lavouras pouco adaptadas ao clima local,
como o milho. “Quem planta milho terá toda a chuva de uma estação em um único dia”,
prevê. “Ao plantador só restará chorar, porque o milho requer uma distribuição regular
de precipitações.”
“Quem investir em usinas de geração de energia elétrica com painéis solares vai sorrir
quando vier a seca”
Paralelamente ao investimento em energias renováveis, Nobre defende a criação de
programas de recuperação da mata ciliar nas margens dos rios locais e da caatinga
degradada – ações que garantiriam emprego para a população e protegeriam o meio
ambiente.
“A recuperação da vegetação nativa é uma das formas mais eficazes de mitigação dos
efeitos do aquecimento global”, justifica.
O cultivo de frutas que requerem pouca água para crescer e têm alto valor de mercado
também seria uma aposta adequada à realidade climática do Nordeste, diz o pesquisador
do Inpe.
Mas para que se consiga tudo isso, pondera, é fundamental colocar todas as crianças e
jovens na escola: “Temos de abandonar a visão de que o Nordeste é pobre porque não
tem água, e para isso é preciso que haja educação de qualidade para todos.”
O parque eólico de Rio do Fogo, no Rio Grande do Norte. O meterologista Paulo Nobre
defende que o Nordeste invista naquilo que tem tem de mais abundante: Sol e vento
(foto: Danish Wind Industry Association – CC BY-NC 2.0).