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Revista Eletrônica “Fórum Paulo Freire”

Ano 1 – Nº 1 – Julho 2005

Educação na Crise da Racionalidade:


Reflexões a partir de Horkheimer e Freire?1
Juliana Damasceno de Oliveira2
Avelino da Rosa Oliveira3

Resumo:

O presente trabalho, pretende fazer uma reflexão acerca da Educação na Crise da


Racionalidade, fundamentada em Max Horkheimer e Paulo Freire. Este estudo toma
como hipótese geral a afirmação de que a teoria crítica, sustentada pelos
frankfurtianos, em especial, por Max Horkheimer, e herdada fundamentalmente por
Paulo Freire, é uma retomada do impulso mais substancial da Aufklärung, ou seja, do
ideal emancipador da razão humana. Assim, a rejeição da teoria tradicional não
significa o abandono dos fundamentos do Esclarecimento, mas a crítica do modelo de
racionalidade que historicamente dominou o cenário teórico no decorrer da
Modernidade. Como hipótese específica, inserida nessa perspectiva mais geral,
sugerimos que: se o ideal emancipador da razão humana fosse rejeitado, devido aos
rumos tomados pela teoria tradicional, instaurando assim uma crise na Modernidade, a
educação seria a primeira a sofrer as conseqüências dessa crise – afinal, estaria ela sem
objetivo. Concluímos aproximando as teorias de Horkheimer com os escritos de
Freire, afim de realizar diálogos e reflexões subsidiado pelos dois autores.

Considerações iniciais
Os intelectuais da chamada Escola de Frankfurt caracterizaram-se por pensar
radicalmente o conceito de emancipação humana, através de um conjunto de
investigações interdisciplinares. Max Horkheimer, um dos principais pensadores da
referida escola, e Paulo Freire – teórico crítico, que, assim como os frankfurtianos, é
herdeiro das teorias de Karl Marx – podem ser tomados como referencial para que se

1
O presente texto é parte dos resultados de pesquisa apoiada por bolsa e recursos financeiros do CNPq e
da FAPERGS. Motivados pela experiência original dos pesquisadores do Institut für Sozialforschung, os
autores desenvolvem suas reflexões em constante debate com os demais pesquisadores e estudantes do
Grupo de Pesquisas em Filosofia, Educação e Práxis Social (FEPráxis). Deste modo, apostam que a
constante discussão de idéias, num processo de reflexão coletiva, contribui para o aperfeiçoamento dos
estudos produzidos.
2
Acadêmica do curso de Pedagogia da FaE/UFPel. Bolsista PIBIC/CNPq. E-mail:
judeoliveira.fae@bol.com.br.
3
Professor titular de Fundamentos da Educação da FaE/UFPel. E-mail: avelino.oliveira@ufpel.edu.br.
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lance luz sobre as questões que nortearão este estudo, subsidiando a fundamentação
racional da práxis educativa, e o não abandono ao ideal de emancipação humana.

A questão dos fundamentos da práxis educacional tem merecido a atenção de


inumeráveis educadores, desde as últimas décadas do século XX. O foco principal
onde tem sido localizado o problema é a identificação de que “... a denominada crise
na educação não é mais nem menos que a crise da modernidade e da racionalidade,
das quais a educação se apresenta como filha promissora.” (PRESTES, 1996, p.11)
Portanto, o problema da fundamentação filosófica da racionalidade ultrapassa o nível
de problema exclusivamente teórico e se apresenta como questão indispensável para
pensarmos a educação de nossos dias.

No presente artigo, inicialmente fazemos uma análise da Teoria Crítica de


Horkheimer e do Iluminismo. Concomitantemente, desenvolvemos nosso objeto de
estudo e tomamos como hipótese geral a afirmação de que a teoria crítica, sustentada
pelos frankfurtianos e, em especial, por Max Horkheimer, é uma retomada do
impulso mais substancial da Aufklärung, ou seja, do ideal emancipador da razão
humana. Apoiamos o estudo na análise de três textos de Horkheimer . Dois deles –
“Teoria Tradicional e Teoria Crítica” (1937) e “Filosofia e Teoria Crítica” (1937) –
são bons exemplos da fase inicial da produção intelectual de Horkheimer; o terceiro
– “Conceito de Iluminismo” (1947) – situa-se em período já mais amadurecido de
suas reflexões em parceria com T. W. Adorno. Com base na análise destes textos,
buscamos demonstrar que o impulso mais substancial do Iluminismo, ou seja, o ideal
da emancipação do homem enquanto sujeito racional, é revitalizado pela crítica de
Max Horkheimer ao modelo de fundamentação da racionalidade contemporânea.
Portanto, a luta em favor de uma teoria crítica não é mais que a reafirmação do
potencial emancipador da razão, desde que esteja comprometida historicamente com
as forças sociais que buscam construir um projeto prático de libertação humana.

Por último, tomamos o livro de Paulo Freire – “Conscientização: Teoria e


prática da libertação” (1980) – como instrumento de comparação entre os dois
autores, a respeito do ideal Iluminista de emancipação humana através da razão,
perceptível nos escritos de Horkheimer, e possivelmente presente na teoria de Paulo
Freire através do conceito de desmitologização (FREIRE, 1980, p.29).
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Teoria tradicional e teoria crítica


A partir dos textos de Max Hokheimer, julgamos ser possível demonstrar que
a rejeição da teoria tradicional e a conseqüente proposição de uma teoria crítica não
significou o abandono em si de um projeto de racionalidade, ou seja, não buscou
proscrever os fundamentos do Esclarecimento. Tendo em vista que uma teoria não se
sobrepõe à outra como uma linha do tempo, Hokheimer faz uma crítica ao modelo de
racionalidade que historicamente dominou o cenário teórico no decorrer da
Modernidade, mas nem por isso deixa de conferir o adequado valor às construções da
racionalidade. Em seu texto Teoria Tradicional e Teoria Crítica, ele afirma:

Se não há continuidade no esforço teórico, então a esperança de


melhorar fundamentalmente a existência humana perderá a sua
razão de ser. Referimo-nos ao esforço que investiga criticamente
a sociedade atual com vista a uma sociedade futura organizada
racionalmente, e que é construída com base na teoria tradicional,
formada nas ciências especializadas. A existência de positividade
e submissão, que ameaça também tornar insensíveis à teoria os
grupos mais avançados da sociedade, afeta não só a teoria, mas
também a práxis libertadora. (1983, p. 148)

Percebe-se claramente na passagem citada que Horkheimer não abre mão de


que o projeto social capaz de garantir a definitiva emancipação da humanidade não
poderá deixar de ser organizado racionalmente. Mais ainda, não se pode entender a
teoria crítica como simples substituta da teoria tradicional. Tal compreensão seria o
mais veemente abandono da dialética, uma vez que o devir superador das
contradições é sempre subsunção (Aufhebung) dos momentos anteriores, superação e
simultânea conservação, enfim, elevação a um superior patamar, seja epistemológico
ou ontológico. Daí o fato de o autor sublinhar que a investigação crítica constitui-se
com base na teoria tradicional.

Outro aspecto imprescindível de ser considerado, tanto pela relevância no


contexto de argumentação do autor quanto pela surpreendente atualidade que ainda
carrega, diz respeito à perda de rumo de certos grupos sociais que seriam
fundamentais para a construção do projeto da radical emancipação humana. Neste
sentido, pressentindo que a positividade crua que dominou as ciências modernas
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pudesse fazer descrer absolutamente na razão, Horkheimer alerta que tal caminho,
mais do que afetar a teoria, teria incidência nefasta também sobre a práxis
libertadora. Por isso, pouco adiante do excerto referido, volta a enfatizar que a
necessária crítica ao modelo de racionalidade reinante "... não tem nada a ver com o
princípio de questionar radical e permanentemente qualquer conteúdo teórico e de
estar iniciando sempre tudo de novo ...”. (HORKHEIMER, 1983, p.149) Hoje,
infelizmente, constatamos que não era infundada a apreensão do autor.

Os principais alvos da crítica à teoria tradicional dizem respeito à absoluta


separação entre sujeito e objeto, à matematização do pensar e à assepsia em relação
aos embates sociais. Assim, a teoria tradicional caracteriza-se por limitar o
conhecimento à subjetividade do teórico, de um lado, e ao universo a ser investigado,
de outro. Necessita harmonia entre suas partes, que devem estar ligadas
ininterruptamente, pois seu ideal de perfeição é a ausência de contradição. Sua
construção lógica matematiza-se de tal modo que não se distingue das ciências
exatas, em especial da matemática. É uma teoria que tudo coisifica, trabalhando em
função do fetiche. Fragmenta os saberes e os isola, não unindo teoria e práxis.

A representação tradicional de teoria é abstraída do


funcionamento da ciência, tal como este ocorre a um nível dado
da divisão do trabalho. Ela corresponde à atividade científica tal
como é executada ao lado de todas as demais atividades sociais,
sem que a conexão entre as atividades individuais se torne
imediatamente transparente. Nesta representação surge, portanto,
não a função real da ciência nem o que a teoria significa para a
existência humana, mas apenas o que significa na esfera isolada
em que é feita sob as condições históricas. (HORKHEIMER,
1983, p.123)

A teoria tradicional não se compromete com nenhum grupo social, se diz


totalmente asséptica e neutra em relação às questões de classe. Porém devido a essa
pseudoneutralidade acaba favorecendo irremediavelmente as classes dominantes.
Diferentemente, a teoria crítica de Horkheimer surge do interesse por um estado
racional e torna explícito que todo saber aplicado e disponível está sempre contido
numa práxis social. Ademais, não conduz o pensamento segundo o padrão dos
experimentos das ciências naturais, mas fornece subsídios para os indivíduos de uma
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certa sociedade analisarem seu próprio tempo histórico. “... a teoria crítica não
almeja de forma alguma apenas uma mera ampliação do saber, ela intenciona
emancipar o homem de uma situação escravizadora.” (HORKHEIMER, 1983,
p.156)

Hokheimer fala sobre a possibilidade de o pensamento crítico interferir nas


futuras transformações da humanidade. Apesar de fazer duras críticas ao modelo
tradicional de teoria, por sua característica de conformismo e fragmentação, Max
Hokheimer não anula, como queremos demonstrar, os esforços teóricos já existentes.

O futuro da humanidade depende da existência do


comportamento crítico que abriga em si elementos da teoria
tradicional e dessa cultura que tende a desaparecer. Uma ciência
que em sua autonomia imaginária se satisfaz em considerar a
práxis – à qual serve e na qual está inserida – como seu Além, e
se contenta com a separação entre pensamento e ação, já
renunciou à humanidade. Determinar o conteúdo e a finalidade
de suas próprias realizações, e não apenas nas partes isoladas
mas em sua totalidade, é a característica marcante da atividade
intelectual. Sua própria condição leva à transformação histórica.
Por detrás da proclamação de “espírito social” e “comunidade
nacional” se aprofunda, dia a dia, a oposição entre indivíduo e
sociedade. A autodeterminação da ciência se torna cada vez mais
abstrata. O conformismo do pensamento, a insistência em que
isto constitua uma atividade fixa, um reino à parte dentro da
totalidade social, faz com que o pensamento abandone sua
própria essência. (HORKHEIMER, 1983, p.154)

Horkheimer pensava a atividade humana, de seu tempo, como contraditória e


ambígua: por um lado, a unidade e a orientação, por outro, o obscuro, o inconsciente
e o intransparente. Ele acreditava que a ação conjunta dos homens na sociedade e sua
racionalidade são a força e a essência da humanidade. Porém os resultados desse
processo são estranhos por conter desperdício de força de trabalho e de vida humana,
nas formas de guerras e miséria absurda. Enfim, para Max Horkheimer, a existência
humana pode ser considerada uma contradição, pois o indivíduo é extremamente
frágil às situações que ele próprio cria em sua sociedade. Como é perceptível, o
Iluminismo aparece freqüentemente recuperado nas idéias de Horkheimer,
principalmente quando ele se refere à crença incondicional na razão. Mesmo com as
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críticas à racionalidade técnica da modernidade, os frankfurtianos não abandonaram


o ideal do esclarecimento: a emancipação da humanidade através da razão.

Aufklärung: a filosofia das luzes e o fundamento da educação


O Movimento Iluminista abrangentemente pensava que a superioridade do
homem residia em seu saber, o qual seria o único caminho de sua emancipação.
Entretanto, o tipo de racionalidade privilegiado pelo desenvolvimento da ciência a
partir do século XVIII foi quase que exclusivamente o modelo cartesiano hipotético-
dedutivo. Assim, o caminho histórico percorrido pelo sujeito racional, ao contrário
da pretendida libertação da humanidade das correntes do obscurantismo, acabaram
por reconduzir a tantas outras formas de irracionalidade. O Iluminismo, designado
como um movimento filosófico, pedagógico e político (REALE; ANTISERI, 1990,
p.666), ocupou os períodos das revoluções Inglesa e Francesa nos séculos XVII e
XVIII; caracterizava-se pela sua postura racionalista, ou seja, confiança no uso
crítico e construtivo da razão, e questionava o modelo tradicional dominante de
pensamento.

Apropriado da idéia de um pensamento que objetiva o progresso da


humanidade, o Iluminismo buscou a libertação da razão dos dogmas metafísicos,
superstições religiosas e relações desumanas entre os homens. O Iluminismo,
filosofia otimista, estreitamente vinculado aos rumos da sociedade burguesa em
ascensão, elegeu a razão como verdade única e indiscutível, reconhecidamente como
conhecimento científico e técnico para transformação do mundo e melhoria
progressiva das condições espirituais e materiais da humanidade. A racionalidade
técnica estaria acima de qualquer dúvida.

Desde sempre o Iluminismo, no sentido mais abrangente de um


pensar que faz progressos, perseguiu o objetivo de livrar os
homens do medo e de fazer deles senhores. Mas, completamente
iluminada, a terra resplandece sob o signo do infortúnio triunfal.
O programa do Iluminismo era o de livrar o mundo do feitiço.
Sua pretensão, a de dissolver os mitos e anular a imaginação, por
meio do saber. (ADORNO; HORKHEIMER 1983, p.89)
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De fato, desde que Kant exortou a humanidade com seu Sapere aude!,
definindo claramente os propósitos do Esclarecimento, outra não foi a lógica
Iluminista do que o esforço em evidenciar como a humanidade detinha a faculdade
de, pela razão, retificar seus desvios da ordem natural universal com o propósito de
certamente alcançarem a felicidade.

E nesta empresa, quão elevado foi o papel adscrito à educação! A


aposta na racionalidade como fundamento da emancipação fez-se
acompanhar da crença de que na educação encontrar-se-ia a
fonte inexaurível do progresso humano. (OLIVEIRA, 1998,
p.32)

Kant afirma ser impossível ao homem “... tornar-se um verdadeiro homem


senão pela educação” (1996, p.15) E após assim asseverar, atribui com fidelidade o
envolvimento da educação no processo emancipatório da humanidade.

“É entusiasmante pensar que a natureza humana será sempre


melhor desenvolvida e aprimorada pela educação, e que é
possível chegar a dar aquela forma que em verdade convém à
humanidade. Isto abre a perspectiva para uma futura felicidade
da espécie humana.” (1996, p.17)

É nesta perspectiva que desenvolvemos nosso estudo, na confiança de que


existe propósito na educação e na escola. No entanto, algumas vertentes teóricas
contemporâneas abandonaram a hipótese de que o homem poderia emancipar-se
através da razão. Negaram a racionalidade humana e voltaram-se a estudos de outros
mecanismos que reproduzem as desigualdades sociais na escola, alegando que os
ideais iluministas e a produção notável de novos conhecimentos e saberes na
modernidade, só levaram a humanidade a sua própria destruição. Entretanto, se o
ideal emancipador da razão humana for irremediavelmente rejeitado, instaurando
assim uma crise insolúvel na modernidade, a educação será a primeira a sofrer as
conseqüências dessa crise – afinal, estará ela sem objetivo.

Paulo Freire: desmitologização e educação


Através de nossas leituras de Paulo Freire, percebemos que ele deposita
confiança e esperança de libertação dos homens, através da educação que oferece
subsídios para o pensamento crítico sobre a realidade. Essa confiança na educação
aparece em seus escritos muitas vezes de forma utópica. Porém, para Freire só os
utópicos
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... podem ser proféticos e portadores da esperança. Somente podem


ser proféticos os que anunciam e denunciam, comprometidos
permanentemente num processo radical de transformação do
mundo, para que os homens possam ser mais. (FREIRE, 1980
p.28).

Freire diz que a conscientização – que leva ao pensamento crítico e racional,


subsidiado pela educação – é um distanciamento da realidade devido a apropriação da
própria realidade e do conteúdo utópico anunciado. Esse afastamento da realidade nada
mais é do que desmitologização. Parece óbvio, mas o opressor jamais poderá provocar
este distanciamento da realidade para a libertação dos homens. Pelo contrário, o
opressor mistifica a realidade que existe para cooptar os oprimidos, e isso não é feito de
forma crítica.
O trabalho humanizante não poderá ser outro senão o trabalho da
desmitificação. Por isso mesmo a conscientização é o olhar mais
crítico possível da realidade, que a “des-vela” para conhecê-la e
para conhecer os mitos que enganam e que ajudam a manter a
realidade da estrutura dominante. (FREIRE, 1980, p.29)

No trecho acima, Paulo Freire afirma que o trabalho humanizante é o trabalho


de negação da crença arraigada a uma idéia. Os mitos, ou seja, uma forma de
pensamento oposta ao lógico e científico, contribuem para manter a realidade
estática. O termo desmitologização em Freire, pode ser associado à hipótese
defendida em nosso trabalho – a teoria crítica de Max Horkheimer faz uma retomada
do ideal Iluminista de emancipação da humanidade através da razão – Paulo Freire
refere-se à negação do lógico, do científico, enfim, do racional para forjar uma
realidade que favorece apenas a classe dominante. Nessa perspectiva, entendemos
que Freire, assim como Horkheimer, vê na razão fonte indispensável para o
progresso humano.

Conclusões: Reflexões a partir de Horkheimer e Paulo Freire


No decorrer deste estudo, tentamos demonstrar que a teoria crítica de Max
Horkheimer faz uma retomada do ideal iluminista da emancipação do homem num
projeto de racionalidade. Horkheimer e os demais frankfurtianos criticam a razão
Iluminista, sem deixarem de, ao mesmo tempo, fazer uma retomada de seus ideais e
propósitos; enfim, não abdicando jamais da possibilidade de emancipação radical da
humanidade, numa práxis social que não pode prescindir da razão. Paulo Freire que,
como diz Henry Giroux, herdou dos frankfurtianos os fundamentos da teoria crítica,
também se encontra imerso nesse panorama. Concordamos com Nadja Hermann
Prestes, quando afirma:
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As relações do homem com o mundo social estão


necessariamente mediadas pelas categorias de racionalidade que
foram forjadas no desenvolvimento histórico. Conhecimento e
interesse são inseparáveis e o processo de auto-reflexão se impõe
para articular o conhecimento com a crítica social e compreender
a necessidade de mudanças na sociedade vigente. (1995, p. 85)

Prestes faz-nos ver que a humanidade está irremediavelmente relacionada


com a racionalidade, através da práxis social. Porém, alguns movimentos teóricos
contemporâneos, questionam a racionalidade iluminista através do sujeito racional,
afirmando que o atual sujeito é fragmentado, “... e porque não dizer manipulado,
pois ele é dirigido e dominado pelas estruturas e instituições.” (SILVA, 2001, p.4).
Questionando a razão, inexoravelmente questiona-se também a educação. Que
propósitos e objetivos podemos encontrar em uma educação que duvida da
racionalidade de seus sujeitos? Se concordarmos que o ideal de emancipação da
humanidade, num projeto de racionalidade, deve ser abandonado, porque a
racionalidade historicamente reconduziu à irracionalidade, o “que levou o homem
moderno à tragédia das guerras e da desumanização” (GADOTTI, 2003, p.311)
então, estaremos concordando também em negar a educação e a escola, que
fatalmente perderiam seus objetivos.

Portanto acreditamos em uma educação onde o sujeito racional não seja


negado, transformando-o em um mero repetidor, alguém que perdeu ou nunca teve
capacidade crítica. É evidente que se trata de um desafio e não de uma conclusão.
Logo, sugerimos neste artigo que o ideal de emancipação do homem, enquanto
sujeito racional, é revitalizado pela crítica de Max Horkheimer ao modelo de
fundamentação da racionalidade contemporânea, e pelos escritos de Paulo Freire
(1980; 1997) que vêm ao encontro com a teoria crítica e compromete-se histórica e
socialmente com a libertação dos homens – subsidiada pela educação – que leva a
transformações sociais.
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Referências:
ADORNO, Theodor W., HORKHEIMER, Max. Conceito de Iluminismo. In: BENJAMIN,
Walter, HORKHEIMER, Max, ADORNO, Theodor W., HABERMAS, Jürgen. Textos
escolhidos. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p.89-116. (Os Pensadores)

FREIRE, Paulo. Conscientização: Teoria e prática da libertação. São Paulo: Moraes, 1980.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 1996.

FREITAG, Bárbara. A Teoria Crítica: Ontem e Hoje. São Paulo: Brasiliense, 1990.

GADOTTI, Moacir. História Das Idéias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 2003.

HENRY, Giroux. Pedagogia radical: subsídios. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1983.

HORKHEIMER. Filosofia e Teoria Crítica. In: BENJAMIN, Walter, HORKHEIMER, Max,


ADORNO, Theodor W., HABERMAS, Jürgen. Textos escolhidos. 2º ed. São Paulo: Abril
Cultural, 1983. p.155-161. (Os Pensadores)

HORKHEIMER, Max. Teoria Tradicional e Teoria Crítica. In: BENJAMIN, Walter,


HORKHEIMER, Max, ADORNO, Theodor W., HABERMAS, Jürgen. Textos escolhidos. 2º
ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p.117-154. (Os Pensadores)

KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: O que é Iluminismo? In: KANT, Immanuel. A Paz
Perpétua e outros opúsculos. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1990. p. 11-19. (Textos
Filosóficos, 18)

KANT, Immanuel. Sobre a Pedagogia. Piracicaba, SP: Editora Unimep, 1996.

OLIVEIRA, Avelino da Rosa. O problema da verdade e a educação: uma abordagem a partir de


Horkheimer. Cadernos de Educação, Pelotas, n. 11, p. 31-42, jul./dez. 1998.

PRESTES, Nadja Mara Hermann. Educação e racionalidade: conexões e possibilidades de uma


razão comunicativa na escola. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996. (Coleção Filosofia, 36)

PRESTES, Nadja Mara Hermann. A Razão, a Teoria Critica e a Educação. In: PUCCI, Bruno
(org.). Teoria Crítica e Educação: A Questão da Formação Cultural na Escola de Frankfurt.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. p. 83-101.

REALE,Giovanni, ANTISERI, Dario. História da filosofia: Do Humanismo a Kant. 6º


ed. São Paulo: Paulus, 2003. p. 663-852.
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SILVA, Márcia Alves da. Contribuições do Pós-Modernismo para a Teoria Educacional.


Artigo da disciplina Paradigmas Sociais da Educação. Mestrado FaE/UFPel, 2001. (mimeo)

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