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Marcelo Maroldi

Atualmente, temos livros sobre praticamente qualquer assunto que se deseja ler.
Há livros sobre as aranhas vermelhas do norte do Amazonas e sobre abduções extraterres
tres de pessoas albinas, sobre gastronomia nas ilhas Faroe e sobre como conquist
ar garotas nas baladas GLS da Turquia. Absolutamente tudo tem um livro correspon
dente. Nos últimos anos, principalmente, tornaram-se comuns os livros for dummies
ou "aprenda em 10 lições"... Os últimos que vi tratavam de ensinar como parecer culto,
um intelectual, como se portar em museus, teatros, exposições, como conversar sobre
literatura, sobre cinema e sobre artes plásticas e parecer que entende do assunto
. Não, não é piada, leitor (e eu juro que gostaria que fosse). Você não precisa entender n
ada de literatura!, basta comprar o livro e fingir que entende. É uma fraude intel
ectual!
Antes de prosseguir, é importante dizer que estes livros não têm como proposta ensinar
o básico do assunto, não é isso! Estes livros têm como objetivo apontar o que você precis
a falar quando te perguntarem de literatura, por exemplo, se é que alguém te pergunt
a isso (aliás, se alguém te pergunta sobre este assunto, favor me apresentar tal pes
soa). Por isso soa como piada! É quase um teatrinho: os autores mostram o que você p
recisa dizer e você não precisa estudar o assunto, basta repetir laconicamente o que
te mandarem dizer. Minha crítica não é contra quem escreve e publica tais livros, ele
s têm, provavelmente, interesses econômicos. Agora, comprar um livro desse?, tenha s
anta paciência (aliás, expressões populares não devem constar no livro, elas não combinam
com gente culta).
É difícil você encontrar alguém que admita ler tais livros, afinal, não é elegante ler tal
iteratura. O legal é você dizer que sabe tudo de literatura porque já leu muitos livro
s, lê revistas especializadas, participa de cursos, freqüenta uma biblioteca pública,
e não porque comprou os "10 livros que você precisa saber falar quando te perguntare
m de literatura". Entretanto, caso você conheça alguém que lê esses livros e o questiona
r, ele dirá, provavelmente: eu não tenho tempo para ler o que eu gostaria de ler. É cl
aro que eu não irei discutir o assunto, cada um sabe o que fazer com o seu próprio t
empo. Porém, acredito que quem lê um livro como este e que, portanto, precisa ou des
eja saber falar do assunto deveria arrumar tempo para estudá-lo. Se a pessoa não arr
uma tempo para estudar o assunto, é porque não deve encará-lo como importante para sua
vida. Ah, e se não o encara como importante, não deveria querer falar sobre ele e s
e importar com isso.
Tudo bem, tudo bem! A pessoa tem todo o direito de falar sobre filmes clássicos se
quiser, mesmo que não saiba nada disso. E daí ele compra o livro. Mas, por que essa
necessidade de parecer culto? Por que todo mundo atualmente tem que ser especia
lista em absolutamente tudo? Por que não posso dizer que não entendo nada de teatro
russo, ou de cubismo? Isso vai radicalmente contra tudo o que vejo nessa minha v
ida. As pessoas estão cada vez mais estúpidas, fúteis e despreparadas, por que, então, d
evo me preocupar em me mostrar culto e discutir com elas? Por que todo mundo pre
cisa ser culto? É muito raro encontrar pessoas intelectualizadas de fato, por que
preciso ler teatro russo for dummies? Talvez, sendo assim, mostrar-me (mais) cul
to que elas parece demonstrar que sou melhor que as mesmas. Só isso. É quase uma com
petição e vence quem mostrar ser mais culto.
Dentre os assuntos que você precisa conhecer para não ser considerado um inculto (e
para vencer essa competição bizarra), temos um interessante: filosofia, que está na mo
da. Hoje, proliferam-se cursos (não acadêmicos) de filosofia, livros de filosofia pa
ra leigos, artigos em jornais, revistas, etc. Antigamente, somente era necessário
citar Marx para estar adequado. Agora, não! Se você não conhecer uma meia dúzia de filósof
os, vai ter que apelar para os livros de auto-ajuda, como os supracitados. Colab
oram para isso obras como O mundo de Sofia, a popularização (sic) do assunto, como o
(péssimo) quadro "Ser ou não ser", do Fantástico e a presença de filósofos na televisão, c
mo a Márcia Tiburi no Saia Justa. Embora a iniciativa seja louvável, filosofia não é alg
o que se aprende em poucos meses. Não é algo imediato e tampouco trivial. É necessário a
nos de dedicação debruçados sobre um mesmo autor para poder dizer que o conhece. Então,
como é que as pessoas discutem filosofia? A moda entre a classe alta é discutir filo
sofia, e eu pergunto: qual?, o quê?, como assim? O sujeito assiste o Café Filosófico (
TV Cultura) e sai dizendo que estuda filosofia? Um professor meu na Unicamp dizi
a que era preciso se dedicar 4 horas por página de obra filosófica para entendê-la. É cl
aro, leitor, que ele estava brincando... 4 horas é muito pouco! A maioria das pess
oas que conheço não lê 4 horas num semestre todo (incluindo a leitura das bulas de reméd
io e do horóscopo), como poderiam então conhecer e discutir este assunto em profundi
dade? Antigamente, a moda era dizer que se estudava crítica literária. A elite pauli
stana, por exemplo, enchia os cursos particulares sobre o assunto, pagando preços
altos para ver nomes conhecidos lecionarem. Acho que a crítica literária ficou muito
simples, todos já sabem tudo a seu respeito, e por isso partiram para a filosofia
. Deve ser isso...
Outro assunto que você não poderá negligenciar é o cinema. Mas, não, não o Hollywoodiano. T
m que ser filmes de arte, aqueles que não passam na TV e nem na maioria dos cinema
s comerciais. Cinema francês, ou Afegão, ou mesmo Bollywood já serve. O que não pode é não
ostar de nenhum deles, desconhecer os nomes dos autores e diretores e odiar film
es "parados". Isso é uma falha irreparável!
Teatro, claro, é assunto indispensável. Mas não pode ser qualquer peça. Comédia, nem pensa
r. Precisa ver os clássicos, ou os de vanguarda, tão de vanguarda que quase não se ent
ende nada. Aliás, esse é o ponto! Quanto menos inteligível, melhor é.
Na música, não se pode, jamais, dizer que se ouve pagode, axé ou sertanejo. Isso é inadm
issível! É necessário gostar de MPB (por sorte, é um campo vasto demais para se complica
r ao dar uma opinião), Bossa Nova e, se possível, música clássica. Seu Jorge, Los Herman
os e Lenine somam pontos também.
Sobre televisão, há 2 opções válidas: dizer que assiste (e então dizer o que assiste) ou di
er que não assiste, que também vale. Se decidir por dizer que assiste, tais (e somen
te estes) programas podem ser citados: Manhattan Connection, Roda Viva, Café Filosóf
ico, Entrelinhas, [re]corte cultural, Conexão Roberto D Ávila, Boulevard Brasil, Obser
vatório da Imprensa, jornalismo em geral (preferencialmente CNN ou BBC).
É necessário, também, conhecer algumas pessoas e o que elas fazem ou falaram. Se você ci
tá-los então, é perfeito! A minha lista tem: Diogo Mainardi, Olavo de Carvalho, Ferrei
ra Gullar, Michel Melamed, Chico Buarque, 1 diretor de cinema, 1 diretor ou ator
de teatro, 1 político de esquerda (PSOL, se possível), 1 filósofo qualquer, 1 poeta p
ouco conhecido, 1 artista plástico (vale parente ou vizinho), 1 teólogo qualquer (te
ologia da libertação não vale, está fora de moda), 1 jornalista que escreva para um gran
de jornal e 1 artista não reconhecido, mas "com muito talento" e que vai "estourar
".
Na internet, você deve mencionar Le Monde e El Pais, Primeira Leitura e revistas s
imilares, site do Canal Brasil, portais de cultura (literatura, música, etc) conti
dos nos grandes sites e alguns blogs de escritores, jornalistas. E você pode citar
este Digestivo Cultural também, claro.
Uma outra característica que causa muita boa impressão é citações e comparações que pouca g
e conhece. Por exemplo, dizer que um pensamento ou alguém é muito cartesiano (antica
rtesiano é melhor ainda!), ou que o behaviorismo radical é insustentável ou que a esco
la chilena de filosofia é muito interessante vai deixar a maioria das pessoas impr
essionada. Calma! Mesmo que você também não saiba o que seja isso, ninguém vai ousar te
perguntar e demonstrar não sabê-lo, e em último caso, você diz que é um assunto muito dens
o para aquele momento e que vocês podem marcar um café qualquer dia desses (e, evide
ntemente, não marque!). A propósito, marcar de bebericar cafés em livrarias é algo típico
da pessoa culta. Anote aí.
Se você fizer tudo isso vão te achar inteligentíssimo, creia-me. Para completar a frau
de, meus amigos, falta só um detalhe: o seu perfil do Orkut! Sim, isso é muito impor
tante. No seu perfil, você deve acrescentar todas as comunidades das personalidade
s acima e dos assuntos também. Comunidades como "Teatro Ucraniano moderno", "Bach"
ou "Gothic Poetry" ajudam muito. Depois, peça a uns amigos seus (uns 3 ou 4) para
escreverem depoimentos a seu respeito. Os depoimentos devem mencionar sua cultu
ra vastíssima, suas viagens para o Egito e seus tempos de Universidade Pública, curs
o de teatro, aquele mico no Louvre ou namoro com personalidades. E, finalmente,
o golpe final: sua autodescrição. Essa precisa ser matadora, como algo bem abstrato
(um neosartreano em busca da consciência plena), romântico (procurando alguém pra divi
dir os sonhos) ou culto mesmo(gosto de Stravinsky e estudo Piaget...). É batata, p
essoal! Se você for "solteiro", vai chover amigos querendo te conhecer melhor!

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