A promulgação da Lei 12.089 em 12 de dezembro de 2009 proibiu que “uma mesma
pessoa ocupe, na condição de estudante, 2 (duas) vagas, simultaneamente, no curso de graduação, em instituições públicas de ensino superior em todo o território nacional”. O argumento do autor da proposta, dep. Maurício Rands (PT-PE) é: "Tem gente que, além de ter o privilégio de estar na universidade pública, toma conta de duas vagas". Em sua visão a lei é benéfica. A decisão simplista, não resiste ao exame superficial aqui proposto, sob o ponto de vista constitucional. Antes de adentrar ao mérito da questão vejam como alguns países procedem. Nos Estados Unidos não há qualquer impedimento ou restrições. Na Argentina, idem, e permite ainda que os alunos cursem em uma mesma universidade, de modo a facilitar a educação de seus cidadãos. Na Espanha é permitido, desde que o ingresso em dois cursos se dê em anos alternados. Na Alemanha não há proibição, mas cabe às universidades o acolhimento ou não da matrícula, após exame de mérito. Denota-se que prevalece a meritocracia de seus cidadãos. Educação e saúde são direitos fundamentais que não são divisíveis ao bom grado do legislador, muito menos para a obtenção do milagre da multiplicação de vagas, em face da ineficiência administrativa governamental. Há intervenção no direito individual de adquirir conhecimento. Esta privação fere a dignidade da pessoa humana, gera preconceito, desrespeita o princípio da igualdade e promove forma de discriminação. O imperativo da igualdade elencado em nossa constituição não está apartado do mérito. Vejamos que a Magna Carta em seu Art. 205 trata a educação como um direito e dever do Estado. Tal dever está contido no caput do Art. 208, onde ainda trata de garantir a igualdade de acesso à educação de nível superior, estampada no Inciso V, in verbis - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um. Esta e sua projeção não podem ser limitadas por lei. Não cabe poder ao estado vincular atos restritivos aos direitos fundamentais estabelecidos na constituição, devendo com estes guardar conformidades. Pois, além de extrapolar sua limitação no sentido material e funcional, ultrapassa as fronteiras nas esferas da individualidade e liberdade de aprender contida no inciso II, do Art. 205, atrelado ao desenvolvimento natural da personalidade humana. A “não discriminação” apontada no Art. 3º da Lei Maior estabelece um dos objetivos fundamentais do Estado brasileiro, ainda mais, se esta acontece de modo proibitivo. Proibir uma pessoa de adquirir conhecimentos significa impor sua renúncia aos próprios direitos de crescer, desenvolver para diminuir as desigualdades e de forma justa promover o próprio bem. A despeito de haver outros olhares acerca do tema, cito doutrina emanada por José Antonio da Silva que ressalta: a inconstitucionalidade também se revela por impor obrigação, dever, ônus, sanção, ou outra qualquer sacrifício a pessoas ou grupo de pessoas, discriminando-as em face de outros na mesma situação que, assim, permanecem em condições mais favoráveis. È o ato inconstitucional por fazer discriminação não autorizada entre pessoas em situação de igualdade, ferindo o princípio da isonomia de modo injustificado.
1 Aluno do 4º ano de Direito – Faculdade Pitágoras - Londrina