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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO

Processo/Ano: 738/2006
São Paulo - Capit 56 20090212 11:31:52 738 2006

1 <P></P><P>TERM 00738200605602

Comarca: São
Vara: 56
Paulo - Capital
Data de
Inclusão: Hora de Inclusão: 11:31:52
12/02/2009
TERMO DE AUDIÊNCIA

Processo n.º 00738-2006-056-02-00-4

Aos 27 (vinte e sete) dias do mês de janeiro do ano dois mil e nove (2009), às 16h00min,
na sala de audiências desta Egrégia 56ª Vara do Trabalho, sob a presidência do Exmo. Sr.
Juiz do Trabalho, Dr. EVERTON LUIS MAZZOCHI, foram apregoados os litigantes,
ausentes, sendo, imediata e posteriormente, submetido o feito a julgamento e proferida a
seguinte

SENTENÇA

RELATÓRIO

Vistos e examinados os autos.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO ajuíza, em 12/06/2006 (fls. 02), Ação Civil Pública,
com pedido de tutela antecipada, em face de [1] SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E
PEQUENAS EMPRESAS DE SÃO PAULO – SEBRAE/SP e [2] JOSÉ LUIZ RICCA. Em
síntese, requer seja antecipada a tutela para que os requeridos se abstenham de utilizar
trabalhadores oriundos de cooperativas intermediadoras de mão-de-obra, de pessoas
jurídicas ou mesmo de trabalhadores vinculados às pessoas jurídicas, sob pena de
pagamento de multa diária no valor de R$ 5.000,00, a ser revertida ao FAT, com a
conseqüente emissão de ofício aos Órgãos competentes. Requer, ainda, que os requeridos
sejam condenados na obrigação de não fazer, em definitivo e nos mesmos moldes supra
referidos, além do pagamento de indenização a título de reparação aos direitos difusos e
coletivos dos trabalhadores, no importe de R$ 10.000.000,00, em favor do FAT. Junta
prova documental. Atribui à causa valor de R$ 10.000.000,00.

O pedido de antecipação de tutela é indeferido (fl. 59).

Os requeridos defendem-se, preliminarmente, impugnando o valor da causa e arguindo:


inadmissibilidade da ação civil pública no Direito Processual do Trabalho, inexistência de
norma regulamentadora do exercício da ação civil pública, ilegitimidade ativa do MPT,
ausência de interesse específico de agir, ilegitimidade passiva em relação ao 2º requerido,
inépcia da petição inicial e o esgotamento das vias administrativas (inquérito civil). No
mérito, impugnando as alegações e pretensões do Ministério Público do Trabalho com
razões de fato e de direito, requerendo a improcedência dos pedidos. Junta atos
constitutivos, procuração e prova documental.

Réplica (fls. 393/421);

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Na audiência (ata – fl. 436) é deferido prazo para juntada de novos documentos pelo MPT;

Juntada dos documentos pelo MPT (fls. 450/455);

Manifestação dos requeridos (fls. 461/465);

Na audiência (ata – fl. 466), o Juízo encerra a instrução, sob protestos dos requeridos que
alegam cerceamento de defesa;

Razões finais pelo MPT (fls. 469/472);

Razões finais pelos requeridos (fls. 478/511);

Reconsiderada a decisão (fl. 512), é reaberta a instrução processual com a designação de


audiência;

Depoimento pessoal (ata – fls. 516/517);

Prova testemunhal (ata – fls. 517/519);

Razões finais complementares pelo MPT (fls. 523/528);

Razões finais pelos requeridos (fls. 530/568), acompanhadas de documentação (fls.


569/644);

Na decisão (fl. 647), este Juízo converte o julgamento em diligência, agora para o fim de
que o MPT manifeste-se sobre a documentação juntada em razões finais pelos requeridos,
sendo esses penalizados com a cominação de multa de 1% (um por cento) por litigarem de
má-fé;

Pedido de reconsideração não conhecido (fls. 656/662);

Certidão de autuação de correição parcial (fl. 663);

Informações prestadas à Corregedoria (fls. 665/669);

Manifestação do MPT (fls. 672/676);

Decisão de improcedência da correição parcial (fls. 677/679);

Rejeitadas ambas as propostas de conciliação;

É o relatório, decido:

FUNDAMENTAÇÃO:

DA INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL:

A alegada inépcia da petição inicial não procede. Tanto não é inepta a prefacial que os
requeridos puderam defender-se adentrando, sem qualquer dificuldade, às questões de
fundo, impugnando todas as argumentações e parcelas postuladas pelo Parquet.

Ademais, todos os pedidos veiculados na petição inicial mostram-se aptos porque


formulados de modo claro e preciso, decorrem logicamente dos fatos narrados, são

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juridicamente possíveis e compatíveis entre si. Rejeito, portanto, a preliminar.

DA IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA:

Os requeridos impugnam o valor atribuído à causa, pelo Ministério Público do Trabalho,


sob a alegação de ser abusivo e ilógico (fl. 66). Entretanto, entendo que não possuem
interesse jurídico na fixação de valor inferior. Isso porque, caso condenados, arcarão os
requeridos com custas calculadas sobre o valor arbitrado à condenação, a teor do art. 789,
I, da CLT, e não sobre o valor da causa. Por fim, o valor da causa representa a expressão
do pedido condenatório (CPC, artigo 259). Rejeito.

DA INADMISSIBILIDADE DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA NO DIREITO PROCESSUAL DO


TRABALHO:

Como bem ressaltado pelo autor (MPT) em sua réplica, a tese defendida pelos requeridos
é, por demais, retrógrada, e, no estágio atual da doutrina e jurisprudência pátrias, beira até
a má-fé, afinal, hodiernamente, é indiscutível o cabimento de ação civil pública no Direito
Processual do Trabalho, a qual preza pela tutela efetiva dos direitos difusos e coletivos
genericamente considerados. Nesse sentido, inclusive, são as previsões do artigo 129, III,
da CF/88, e do artigo 1º, V, da LACP, bem como as redações da Súmula nº. 414 e da
Orientação Jurisprudencial de nº. 130 da SBDI-2, ambas do E. TST. Rejeito.

DA INEXISTÊNCIA DE NORMA REGULAMENTADORA DO EXERCÍCIO DA AÇÃO CIVIL


PÚBLICA:

Insistem os requeridos na aplicação de teses há muito ultrapassas, destituídas de qualquer


justificativa legal, jurisprudencial ou doutrinária, afinal, indiscutível a competência do Juízo
Singular para o processamento da ACP, que, segundo o próprio C. TST (OJ nº. 130 da
SBDI-2) atrai a aplicação do artigo 93 do CDC. Assim, como, no caso, o dano a ser
reparado limita-se ao âmbito regional (fls. 233/251 e 265 – 2º vol. docs. apartado), a
competência para conhecer e julgar a presente ação é deste Juízo por estar entre uma das
Varas do Trabalho da capital do Estado de São Paulo. Rejeito.

DA ILEGITIMIDADE ATIVA E DA INEXISTÊNCIA DE INTERESSE ESPECÍFICO DO


MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO:

Os interesses, ora discutidos, referem-se aqueles de ordem metaindividual, sejam eles


difusos ou coletivos, estando aqui inseridos também os interesses individuais homogêneos.
E, neste passo, a CF/88 (artigo 129, III) prevê como sendo uma das funções institucionais
do Ministério Público promover não só o Inquérito Civil Público, como também a Ação Civil
Pública na busca da proteção de interesses difusos e coletivos. No mesmo sentido é a
previsão da LC nº 75/1993 (artigo 83, III) e da LACP (Lei nº 7.347/1985, artigo 5º), cujas
disposições tornam inquestionável a legitimidade e o interesse específico do Ministério
Público do Trabalho na defesa dos aludidos interesses individuais homogêneos, coletivos e
difusos trabalhistas amplamente considerados. Rejeito a preliminar.

DO INQUÉRITO CIVIL INSTAURADO E NÃO CONCLUÍDO:

O inquérito civil, não obstante tratar-se de procedimento investigativo prévio, de natureza


inquisitória, não constitui requisito para o ajuizamento da ação civil pública, porquanto
representa apenas mais um elemento de prova, sendo certo que não se faz necessário o
esgotamento desta via administrativa para a busca da tutela jurisdicional, em nome do
princípio constitucional da inafastabilidade do Poder Judiciário. Rejeito.

DA ILEGITIMIDADE PASSIVA DO 2º REQUERIDO:

O Sr. JOSÉ LUIZ RICCA, como o próprio autor (MPT) refere, é o Superintendente do 1º

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requerido, e, por esse simples fato, o feito contra ele é extinto, sem resolução do mérito,
nos termos do artigo 267, VI, do CPC, aplicado subsidiariamente ao Processo do Trabalho
por força do artigo 769 da CLT.

Todavia, sem prejuízo de tal decisão, nada obsta que o autor (MPT), caso entenda
justificável, conforme decisão a ser proferida, adote as medidas cabíveis no sentido de
buscar a responsabilidade do 2º requerido, nos termos da lei, perante os Órgãos e Justiça
competentes.

DA PREJUDICIAL DE MÉRITO:

DA PRESCRIÇÃO:

O Ministério Público do Trabalho, por meio da presente Ação Civil Pública, busca a tutela
de interesses e direitos de ordem metaindividual, cuja natureza, por si só, afasta a
prescrição, tudo em conformidade com as disposições dos artigos 3º e 13º da LACP c/c
artigo 95 do CDC. Afasto.

DO MÉRITO:

DA INTERMEDIAÇÃO FRADULENTA DE MÃO-DE-OBRA:

A questão, objeto de discussão nestes autos, restringe-se em saber se o primeiro


requerido pode utilizar-se de contração de pessoas jurídicas, cooperativas ou outras
empresas intermediadoras de mão-de-obra para a consecução dos seus objetivos
dispostos no seu Estatuto Social. Essa é tese pretendida pelo Ministério Público do
Trabalho e que é pautada na lesão aos direitos coletivos e difusos dos trabalhadores que,
ao prestarem serviços ao SEBRAE/SP, o fazem sem a respectiva garantia dos seus
direitos sociais (trabalhistas) constitucionalmente assegurados.

Passo a análise:

O primeiro requerido (SEBERAE/SP) é uma entidade associativa de direito privado, sem


fins lucrativos, instituída sob a forma de serviço social autônomo, cujos objetivos, segundo
o artigo 5º do seu Estatuto Social, são:

“(...) promover o empreendorismo, fomentar o desenvolvimento sustentável, a


competitividade e o aperfeiçoamento técnico das microempresas e das empresas de
pequeno porte, industriais, comerciais, agrícolas, de base tecnológica e de serviços,
notadamente nos campos da economia, administração, finanças e legislação, da facilitação
do acesso ao crédito, do estímulo e facilitação à adoção da formalidade jurídica e fiscal, da
capitalização e fortalecimento do mercado secundário de títulos de capitalização daquelas
empresas; da ciência, da tecnologia, inovação e meio ambiente; da capitação gerencial e
da assistência social, mediante a execução de ações condizentes:

()

1º - O SEBRAE/SP poderá eventualmente constituir meios para promover a venda de


produtos e a prestação de serviços intrinsecamente ligados aos seus objetivos, desde que
os resultados auferidos sejam aplicados na manutenção das atividades previstas neste
Estatuto” (fls. 149/150 – grifos nossos)

Ademais disso, o documento juntado em razões finais, pelo primeiro requerido, que
ensejou a conversão do julgamento em diligência, prevê a necessidade do cumprimento do
“(...) edital de credenciamento de pessoas jurídicas para a prestação de serviços
profissionais de consultoria e instrutoria em diversas áreas (...)”, cujo objetivo é o de “(...)
disciplinar o processo de seleção para credenciamento de profissionais integrados às

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pessoas jurídicas que, atentando aos critérios ora estabelecidos, integrarão ao cadastro
nacional do Sistema SEBRAE, visando à prestação de serviços de consultoria e/ou
instrutoria nas áreas/subáreas de conhecimentos listadas em anexo (...)”. - (fls. 572 – grifos
nossos)

Ademais, é condição sine quo non para a participação no processo seletivo do


SEBRAE/SP, que a pessoa jurídica tenha por objeto social e atuação efetiva aquelas
condizentes às áreas requisitadas no edital, sendo certo que seus profissionais indicados
para a execução dos treinamentos, capacitação, instrutoria, educação, assessoria e/ou
consultoria também “(...) deve ter um vínculo formal com esta, apresentando-se como
sócio, empregado conforme CLT (registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social –
CTPS) ou cooperado (em caso de cooperativa)”. - fls. 572 – grifos nossos

Seguindo ainda as exigências do aludido edital, os profissionais indicados (pessoas físicas


que realmente desempenham os serviços) são submetidos a uma avaliação de capacidade
técnica, cujo processo envolve as seguintes fases: (i) avaliação de conhecimento técnico e
específico (ex.: currículo, entrevista e provas); (ii) avaliação de habilidades e atitudes (ex.:
prova prática); (iii) repasse da metodologia.

A respeito da fase de “repasse de metodologia”, interessante ressaltar os termos


constantes do edital de credenciamento que, após a sua 6ª edição (maio/2008), passou a
prever o seguinte:

“(...) Item 4.3.3.2 – Programa Tutorial de Alinhamento.

Concluído o processo de credenciamento, o SEBRAE-SP poderá convidar profissionais já


credenciados em consultoria para novos repasses de metodologia, alinhamento de
informações e/ou conceitos, entendimento da realidade das MPEs e legislação pertinente,
ou ainda acompanhar atendimento ou atividades em sala de aula, de acordo com o
programa tutorial de alinhamento. Neste caso, poderá haver reembolso das despesas
conforme item 4.3.3.1, ou remuneração das horas técnicas, conforme anexo VIII (hora
técnica acrescida da ajuda de deslocamento e custo). Para tanto, o SEBRAE-SP emitirá
convite para o profissional indicado pela empresa, definindo carga horária, período, local,
condições de pagamento e outras informações (...)”. - fls. 578 – grifos nossos

No mesmo sentido, saliento também a fase de “alinhamento de informações e orientações


para a prestação de serviços”, que, após a alteração do edital, também passou a prever a
seguinte situação:

“(...) 4.4.1. As despesas decorrentes de hospedagem, alimentação e deslocamento para a


participação no Encontro de Alinhamento de Informações, poderão ser custeadas pelos
SEBRAE-SP quando for realizado na mesma semana do Encontro de Repasse de
Metodologia totalizando três dias ou mais. Na ocasião, os profissionais convidados serão
orientados antecipadamente sobre o procedimento (...)”. fls. 59 – grifos nossos

Destaco, ainda, o quanto disposto na 5ª etapa - “oficialização da prestação de serviços”:

“(...) 4.5.9. O profissional indicado pela pessoa jurídica que recusar a solicitação de
execução do serviço 3 (três) vezes consecutivas, para qualquer dos cursos/programas do
SEBRAE-SP, terá seu registro cadastral suspenso até que informe formalmente, por e-
mail, sua disponibilidade de agenda (...)” fls. 580 – grifos nossos

A respeito de aludias penalidades ao profissional prestador de serviço, o edital prevê ainda


as seguintes hipóteses de “descredenciamento”:

“(...) 6.1. Será descredenciado o profissional que:

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a) Receber avaliações desfavoráveis por parte de clientes e empregados do SEBRAE, nos
termos dos critérios de acompanhamento da prestação de serviço previsto.

b) Faltar sem justificativa, interromper a atividade em andamento, atrasar constantemente.

c) Entregar e/ou divulgar material promocional de sua empresa e/ou serviços como
autônomo, durante os contatos mantidos em no do SEBRAE.

d) Organizar eventos ou propor a grupos de clientes do SEBRAE que solicitem seus


serviços, beneficiando-se, nestes casos, com a referida prestação de serviços.

()

f) Utilizar qualquer material desenvolvido pelo SEBRAE para os seus produtos e


programas, assim como dados obtidos por meio de pesquisa ou estudos, em atividades
executadas a não clientes, sem prévia autorização do SEBRAE.

g) Designar outra pessoa para executar o serviço contratado pelo SEBRAE, seja no todo
ou em parte, se esta pessoa não estiver credenciada e com autorização prévia e por
escrito do SEBRAE ( )” - fls. 581/582 – grifos nossos

Nesse contexto, a partir, apenas da simples análise do edital de credenciamento de


pessoas jurídicas e cooperativas, infere-se, portanto, existir verdadeira violação às normas
que regem a política nacional do cooperativismo. Sem falar, ainda, na intermediação
irregular de mão-de-obra, por intermédio de pessoas jurídicas constituídas especialmente
para esse fim (conhecido fenômeno da “pejotização”), conduta essa que, de fato, implica
na lesão aos direitos trabalhistas de natureza metaindividual e de caráter indisponível (CF,
artigo 7º c/c CLT, artigos 2º, 3º e 9º) a justificar, sobremaneira, a atuação do Ministério
Público do Trabalho.

Assim, considerando a política instituída pelo SEBRAE/SP, já referida, não poderia o réu
valer-se da celebração de supostas “parcerias” para fraudar os direitos trabalhistas
constitucionalmente previstos e assegurados pela Carta Magna, afinal, na persecução dos
seus objetivos institucionais, o primeiro requerido não pode furtar-se do cumprimento da
legislação vigente no ordenamento jurídico brasileiro.

Nota-se, nesse ponto (cumprimento de normas), que o SEBRAE/SP tampouco observou os


termos contidos no seu próprio Edital de Credenciamento. Nesse sentido, entre as
hipóteses de impedimento de participação de empresas e/ou profissionais no processo
seletivo, está a de não contratar “cooperativas do tipo multiprofissionais e/ou multiserviços”
- item 3.1, “f” (fl. 572 – grifos nossos). Em absoluto, tal circunstância não restou observada
pelo primeiro requerido ao aceitar a “Cooperativa de Multiserviços do Estado de São
Paulo”, cujo credenciamento restou reconhecido em manifestação apresentada no
procedimento preparatório nº. 6526/2003 instaurado pelo MPT (fls. 20/24 – 1º vol. docs.
MPT).

Esta própria “CooperATIVA”, conforme denominação constante do seu Estatuto Social


(artigo 1º), sequer tem um objeto determinado, pois, segundo o seu artigo 2º, tem ela por
finalidade “a prestação direta de serviços aos seus associados, na defesa de seus
interesses, na melhoria econômica e social, na orientação e gerenciamento das atividades
executadas a terceiros pelos seus associados, buscando aproximar o seu associado de
fontes de trabalho, para que este possa executa-lo, de acordo com a competência e a
capacidade de cada um, conforme previsto no artigo 7º da Lei Federal nº 5764/71” (fls. 98
– 1º vol. docs. MPT) – grifos nossos

Ora, não obstante não tenha um objeto delimitado, o Estatuto Social reconhece ainda,
textualmente, que a “CooperATIVA” tem por finalidade a intermediação de mão-de-obra de

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trabalhadores, cujas profissões são até regulamentadas por lei específica e pela própria
legislação consolidada, sendo certo que o parágrafo primeiro ainda adverte que “no
cumprimento de suas finalidades, a CooperATIVA atuará apoiando e distribuindo as
atividades para seus cooperados, na área de sua abrangência” (fls. 99 – 1º vol. docs. MPT)
– grifos nossos

Claro está, portanto que o primeiro requerido promove a contratação de trabalhadores, de


forma dissimulada e fraudulenta, para a consecução de suas atividades-fim, o fazendo por
intermédio de sucessivos pactos com terceiros, configurando verdadeira terceirização
ilícita.

A esse respeito, ainda, em inquérito civil promovido pela Procuradoria Regional do


Trabalho da 15ª Região, onde o SEBRAE já havia incorrido a mesma situação, ora
debatida, o ilustre membro do Parquet, Dr. Ricardo Wagner Garcia, já advertia que a
legislação trabalhista impede que trabalhadores cuja atividade são tipicamente
subordinadas, por sua natureza técnica ou social, tenham sua mão-de-obra fornecida a
terceiros por meio de sistema cooperativista, porque este exige real autonomia do
profissional e completo domínio técnico e econômico da atividade que realiza, sem
qualquer subordinação a terceiro. A prática do uso da forma cooperativista para o
fornecimento de mão-de-obra esconde, na realidade, uma estrutura empresarial em que
parte dos sócios são os proprietários do negócio, locupletando-se com a apropriação do
trabalho dos demais, por meio de remunerações diferenciadas, pagamento por produção
típico de trabalho subordinado e intervenção de terceiras pessoas na administração do
serviço e do patrimônio dessas entidades. Tais “cooperados” são empregados das
empresas tomadoras que ao final acabarão respondendo, como de fato tem ocorrido, pelos
direitos trabalhistas sonegados nessa relação espúria ” (fl. 230 – 2º vol. docs. MPT).

Por fim, e em diligência in loco promovida pelo Auditor-Fiscal do Trabalho, procedimento


esse que originou a lavratura do Auto de Infração nº. 012052302, foi constado que uma
das “facilitadoras”, Sra. Márcia Vilela de Melo, confirmou, em depoimento prestado, a
necessidade de prévia intermediação irregular de mão-de-obra (no caso, associação a uma
cooperativa) para a prestação de serviços ao SEBRAE-SP. Vejamos:

“Quando terminou o treinamento fomos informados de que teríamos de nos filiar a uma
cooperativa de mão de obra. Mandaram-me uma relação delas, para escolher uma. Optei
pela COOPERTEC, que fica em Campinas, por uma situação de momento. Dentre todas
que consultei, essa era a que cobrava mais barato para a admissão. As demais cobravam,
em média, R$ 100,00, e a Coopertc cobrava apenas R$ 30,00. Como estava em situação
um pouco “apertada”, preferi esta. Foi o SEBRAE que enviou para lá meu pedido de
filiação. Fiz tudo pelo Correio, inclusive o envio dos R$ 30,00. Não fui a Campinas, por isso
não sei onde fica a Cooperativa” (fl. 277 – 2º vol. docs. MPT).

Ora, indiscutível que ao assim agir, o SEBRAE/SP, busca, na verdade, mascarar o vínculo
empregatício existente ele e os chamados “facilitadores”, por intermédio da celebração de
sucessivos contratos de natureza civil, cujas atividades realizadas por estes (treinamento,
capacitação, instrutoria, educação, assessoria e/ou consultoria) estão enquadradas nos
objetivos sociais daquele, isto é, traduzindo-se na persecução de suas próprias atividades-
fim.

Restam afastadas, por conseguinte, as previsões normativas contidas na Lei nº 5.764/71, e


o próprio comando do artigo 442 da CLT, afinal, no caso em questão, os elementos
caracterizados do vínculo empregatício estão presentes, em vista da aplicação do princípio
da primazia da realidade, cuja intermediação fraudulenta de mão-de-obra é vedada pelo
entendimento consubstanciado na Súmula nº. 331 do E. TST.

Por fim, e para corroborar todo o exposto acima, transcrevo registros relevantes da
audiência de instrução, onde, não só houve a confissão real do SEBRAE/SP a respeito da
matéria, como também as suas próprias testemunhas confirmam a fraude ora combatida

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pelo Ministério Público do Trabalho:

DEPOIMENTO PESSOAL DA 1ª RÉ.: “que a mão de obra da 1ª reclamada para ministrar


os cursos é contratada mediante “editais de credenciamento” abertos a pessoas jurídicas,
o que também inclui as Cooperativas associadas à OCESP (Organização das
Cooperativas do Estado de São Paulo); ; que para participar do credenciamento a empresa
interessada deve se comprometer a somente se valer de empregados registrados em
CTPS ou de seus sócios, sendo todos os contratos de trabalho informados à 1ª reclamada;
que qualquer nova contratação ou dispensa de empregado por empresa credenciada deve
ser informada à 1ª reclamada; ; que os facilitadores, nos cursos, valem-se de suas próprias
experiências, devendo seguir “uma linha mestra” (programa do curso elaborado pela 1ª
reclamada); que os facilitadores são avaliados pelos próprio alunos em sala de aula; que a
carga horária e os horários das aulas são fixados pela 1ª reclamada ; que o facilitador é
informado que deve observar a metodologia do SEBRAE bem como que pode, no curso
das aulas, inserir exemplos e adaptar as aulas ao perfil dos alunos; que as empresas e
Cooperativas que se candidatarem ao credenciamento têm seus empregados ou
cooperados submetidos a avaliação de conhecimento pela 1ª reclamada. Nada mais” (fls.
516/517 – grifos nossos).

1ª TESTEMUNHA DA 1ª RECLAMADA: Sra. SOLANGE SILVEIRA DOS SANTOS, RG nº


17.098.920, SSP/SP, nascida em 28/10/1967, residente na Rua dos Camarés, 150, apto.
23, bloco 4, S.Paulo/SP. ADVERTIDA E COMPROMISSADA, RESPONDEU: ” que
pessoas jurídicas interessadas em atuar nos cursos ministrados pela 1ª reclamada
inscrevem-se em processos licitatórios; que podem se inscrever também Cooperativas,
mas não se admite a inscrição de pessoas físicas, mesmo porque a 1ª reclamada é voltada
a cursos para micro e pequenas empresas e empreendedores; ; que os indicados são
avaliados pela 1ª reclamada; que a 1ª reclamada exige que, por ocasião do
credenciamento das pessoas jurídicas, os correspondentes profissionais sejam indicados
com a demonstração documental da condição de empregado, sócio ou cooperado; ; que
não ocorre de a 1ª reclamada contratar diretamente o facilitador, mas sempre a
contratação é feita com a empresa ou a Cooperativa credenciada; que na carta-contrato
são estabelecidos os horários e dias das aulas, a carga horária e o dver de o facilitador
seguir a metodologia do SEBRAE; que tal metodologia é padronizada pela 1ª reclamada
conforme a área do curso, o mesmo ocorrendo com o material e os recursos audio-visuais
utilizados; que a finalidade de se estabelecer a metodologia é padronizar os ensinamentos
dos cursos que são ministrados em todo o Estado; ; ; que a Sra. Márcia trabalha
intermediando a aula, ou seja, tirando eventuais dúvidas dos alunos; que as tele-salas são
exceções; que o profissional referido não precisa ter nível superior, mas apenas “vivência
em salas de aula, com grupos”; ; que os facilitadores são avaliados pelos alunos, tendo a
avaliação a finalidade de verificar se o curso atendeu os objetivos e se o padrão SEBRAE
foi seguido; ; que caso o facilitador seja mal avaliado pelos alunos, o SEBRAE, em
conjunto com a empresa ouj Cooperativa à qual o facilitador é vinculado, faz junto a este
um alinhamento de informações, que consiste em repassar a metodologia do SEBRAE;
que tal má avaliação não impede nova contratação da empresa ou da Cooperativa à qual o
facilitador é vinculado, ou então que o facilitador ministre outros cursos, mas havendo
reincidência na má avaliação pelos alunos o SEBRAE solicita que a empresa ou
Cooperativa não envie mais o facilitador” (fls. 517/518 – grifos nossos).

2ª TESTEMUNHA DA 1ª RECLAMADA: Sr. PAULO GUILHERME PATO VILA, RG nº


16.503.951-6, SSP/SP, nascido em 03/02/1967, residente na Av. Genève, 326, Parque
Petropolis, Mairiporã/SP. ADVERTIDA E COMPROMISSADA, RESPONDEU: “ que a carga
horário do curso e os horários das aulas ou palestras são fixados pela 1ª reclamada; que o
depoente pode até sugerir alteração nos horários das aulas antes de firmar a carta-
contrato, cabendo à 1ª reclamada aceitar ou não; que pela MG são credenciados na 1ª
reclamada o depoente, seu sócio e um empregado; ; que é avaliado pelos alunos no final
de cada curso; ; que o Código de Conduta da 1ª reclamada é mencionado nos editais e
deve ser seguido fielmente pelo depoente nos cursos e palestras que minsitra; que deve
observar roteiro, metodologia e objetivos determinados pela 1ª reclamada, informando que

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a exposição do conteúdo e os exemplos utilizados ficam a critério do depoente; que o
material é disponibilizado integralmente pela 1ª reclamada; que inicialmente o depoente
prestava tais serviços como empresário pessoa física; que posteriormente prestou serviços
como cooperado, o que ocorreu até as vésperas de constituir a MG; que enquanto prestou
serviços na primeira condição era sócio da empresa DROGARIA PRÓ DIA LTDA, situação
que ainda persiste; ; que por volta de 50% dos treinamentos no ano de 2007 foram para a
1ª reclamada e o restante para terceiros; ; que conheceu o empregado de sua empresa
acima mencionado porque ele ministrava treinamentos para a 1ª reclamada ou para
terceiros” (fls. 518/519 – grifos nossos).

Portanto, caracterizado está o desvirtuamento da contração de profissionais trabalhadores,


pessoas físicas, por intermédio de cooperativas e pessoas jurídicas fraudulentas, cuja
questão, inclusive, já foi objeto de apreciação de parte do E. Tribunal Superior do Trabalho,
que, por meio de sua 6ª Turma, em recente decisão unânime proferida em 06/12/2008, em
processo individual envolvendo um “facilitador”, reconheceu o vínculo de emprego
diretamente com o SEBRAE/ES, conforme voto de lavra do Professor, Jurista e Ministro,
Dr. Maurício Godinho Delgado, cujas brilhantes palavras são assim destacadas abaixo:

“(...) Na revista, o Reclamado sustenta que não restou comprovado o preenchimento de


todos os requisitos necessários à configuração do vinculo empregatício. Segundo o
Reclamado, a prova dos autos demonstrou a ausência de subordinação e de pessoalidade.
Defende que a existência de cooperativa - à qual o Reclamante era vinculado - elide o
vinculo empregatício. Por fim, sustenta que a atividade realizada pela cooperativa não se
constituía em sua atividade fim, mas em atividade meio. Aponta violação dos arts. 3º e 442
da CLT; 5°, II, da CF; e contrariedade à Súmula 331 /TST. Colaciona arestos para confronto
de teses.

Sem razão o Reclamado.

A Lei 8.949/94, que acrescentou o parágrafo único ao art. 422 da CLT, introduziu hipótese
de inviabilização jurídica de vínculo empregatício (e, portanto, da presença da figura do
empregado) no contexto de uma relação de prestação de trabalho no sentido amplo. Trata-
se das chamadas cooperativas de mão-de-obra.

Dispõe o novo preceito que qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade
cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes
e os tomadores de serviços daquela.

Na verdade, não se trata de uma excludente legal absoluta, mas de simples presunção
relativa de ausência de vínculo de emprego, caso exista efetiva relação cooperativista
envolvendo o trabalhador latu sensu.

O objetivo da lei foi retirar do rol empregatício relações próprias às cooperativas - desde
que não comprovada a roupagem ou utilização meramente simulatória de tal figura jurídica.
Ou seja: a lei favoreceu o cooperativismo, ofertando-lhe a presunção de ausência de
vínculo empregatício; mas não lhe conferiu um instrumental para obrar fraudes trabalhistas.
Por isso, comprovado que o envoltório cooperativista não atende às finalidades e princípios
inerentes ao cooperativismo, fixando, ao revés, vínculo caracterizado por todos os
elementos fático-jurídicos da relação de emprego, esta deverá ser reconhecida, afastando-
se a simulação perpetrada.

Com efeito, para se avaliar a respeito da efetiva existência de uma relação de natureza
cooperativista é necessário que o operador justrabalhista verifique a observância dos
princípios que justificam e explicam as peculiaridades do cooperativismo no plano jurídico e
social. Por isso é necessário conhecer e lidar, consistentemente, com as diretrizes da
dupla qualidade e da retribuição pessoal diferenciada.

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Note-se que é necessário também examinar-se a presença ou não dos elementos
componentes da relação de emprego: configurados estes, há, efetivamente, o tipo legal
regulado pela CLT. É que não permite a ordem jurídica civilizada a contratação do trabalho
humano, com os intensos elementos formadores da relação de emprego, sem a incidência
do manto normativo mínimo assecuratório da dignidade básica do ser humano nesta seara
da vida individual e socioeconômica. Os princípios constitucionais da valorização do
trabalho e da dignidade da pessoa humana não absorvem fórmulas regentes da relação de
emprego que retirem tal vínculo do patamar civilizatório mínimo afirmado pela ordem
jurídica contemporânea.

Nessa linha, consoante expressamente registrado pelo Regional, se, com apoio nas provas
produzidas, restou comprovada a presença dos elementos componentes da relação de
emprego, necessário se reconhecer a utilização simulatória de tal figura jurídica.

Assim, não restou configurada a alegada transgressão ao disposto nos arts. 3º e 442 da
CLT.

Resta prejudicada a análise da alegada contrariedade à Súmula 331/TST, tendo em vista


que o vínculo empregatício foi reconhecido em razão do preenchimento dos requisitos
contidos no art. 3º da CLT, bem da existência de fraude na relação cooperativada.

Ademais, a alegação do Reclamado de que a prova dos autos demonstra a inexistência da


subordinação e da pessoalidade não se mostra viável nessa instância recursal, já que
implica o revolvimento de fatos e provas - o que não se admite em sede de recurso de
revista. (Súmula 126/TST).

No que tange à alegada violação dos arts. 5º, II da CF, a revista não vinga. Ressalte-se
que eventual infringência ao princípio da legalidade, consagrado no inciso II do art. 5º da
CF - de caráter genérico -, não se encontra apta a viabilizar o conhecimento de recurso de
revista, que exige, necessariamente, a configuração de violação direta de dispositivo
constitucional. A título de reforço do fundamento, vale mencionar a Súmula 636 do STF.

Os arestos colacionados desservem ao confronto de teses, na medida em que nenhum


deles revela identidade com a situação fática delineada nos autos, qual seja, evidência de
fraude na relação de cooperativismo a implicar verdadeira intermediação de mão-de-obra e
presença dos elementos formadores da relação de emprego. Aplicação da Súmula
296/TST.

Por fim, diversamente do sustentado pelo Reclamado em agravo de instrumento, registro


que o primeiro juízo de admissibilidade do recurso de revista, seja por seus pressupostos
extrínsecos, a que sujeitos todos os recursos, seja por seus pressupostos intrínsecos, está
previsto no art. 896, § 1º, da CLT, não importando a decisão denegatória em usurpação de
função, uma vez que não impede a análise do mérito da questão por esta Corte. À parte,
acaso inconformada, incumbe buscar o destrancamento do recurso, justamente pelo
remédio processual ora utilizado (agravo de instrumento). Incólume o art. 111 da CF,
analisados em relação ao despacho denegatório do recurso de revista.

Por todo o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo de instrumento (...)” - grifos nossos

DA LESÃO GENÉRICA E DA REPARAÇÃO DO DANO:

Uma vez constatada a fraude perpetuada pelo primeiro requerido, claro está que há lesão
aos interesses coletivos e difusos de toda a coletividade de trabalhadores, cuja
responsabilidade, no caso, é objetiva, não dependendo da comprovação dos prejuízos de
cada um dos empregados “facilitadores” individualmente considerados; ao contrário, a
reparação genérica é plenamente cabível na medida em que houve violenta transgressão
ao ordenamento jurídico vigente, e, dessa forma, a penalização do infrator é medida que se

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impõe, inclusive para desestimular futuros atos eventualmente a serem praticados.

Assim, como o Ministério Público do Trabalho busca a efetiva tutela jurídica dos interesses
difusos e coletivos (portanto, de ordem transindividual), e, como a reparação de ordem
coletiva justifica-se na medida em que há um sentimento de desapreço e perda de valores
essenciais que, por sua vez, geram repercussões negativas a toda a coletividade, a
indenização arbitrada deverá ser revertida ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador),
que, como fundo federal de gerenciamento de recursos dos interesses difusos e coletivos
na área trabalhista, está apto a proporcionar benefícios aos trabalhadores em contrapartida
às lesões sofridas.

Desse modo, considerando os danos causados pelo SEBRAE/SP em vista da sua conduta
ilegal e inconstitucional frente aos direitos fundamentais e sociais, e diante dos lucros
auferidos pela irregular intermediação de mão-de-obra, sem o reconhecimento do vínculo
empregatício dos empregados “facilitadores”, com o correspondente pagamento das
verbas constitucionalmente asseguradas, acolho a pretensão do Parquet e arbitro a
indenização aos direitos difusos e coletivos dos trabalhadores no importe requerido de R$
10.000.0000,00 (dez milhões de reais), valor esse a ser corrigido monetariamente até o
seu efetivo recolhimento, tudo a ser revertido em favor do FAT, que, como já dito, custeia o
pagamento do seguro-desemprego e o financiamento de políticas que visam a redução dos
níveis de desemprego no país, sobretudo nos atuais tempos de “forte crise econômica” e
que contaminou todo o mercado de trabalho com “demissões em massa” no âmbito
nacional.

Destaco, ainda, que há possibilidade de condenação em ação civil pública para reparação
dos danos aos interesses coletivos e difusos, porquanto encontra respaldo na lei, a teor da
simples leitura do inciso VI, artigo 6º, da Lei nº 8078/90 e dos próprios artigos 3º e 13 da
Lei de Ação Civil Pública, que estabelecem a possibilidade de pedido de condenação em
dinheiro, além dos pedidos relativos à adequação da conduta.

De outra parte, tal valor indenizatório, ora arbitrado, leva em consideração igualmente o
orçamento do Sistema SEBRAE que, só no ano de 2008 (janeiro/novembro), arrecadou o
importe de R$ 1.880.850.627,00 (um bilhão, oitocentos e oitenta milhões, oitocentos e
cinquenta mil e seiscentos e vinte e sete reais), entre receitas correntes e receitas de
capital, informação essa obtida no próprio endereço eletrônico da sua página na internet
(www.sebrae.com.br).

Com efeito, ainda, a indenização fixada considera também a violação ao patrimônio ideal
da coletividade (CF, artigo 5º, V e X; e CC, artigos 186 e 927), a agressão ao princípio da
dignidade humana e da valorização do trabalho (CF, artigo 1º, III e IV, artigo 170, “caput” e
III), a gravidade da conduta, a extensão do dano, os princípios da razoabilidade, da
proporcionalidade e da equidade, bem como outras circunstâncias específicas que cercam
o fato.

Saliento, por fim, que a indenização arbitrada visa, sobretudo, desestimular o primeiro
requerido, sancionando-o, de modo que a reprovação social da sua conduta sirva de
exemplo pedagógico para a sua conscientização, bem como a de todos os SEBRAE,
considerando a entidade em âmbito nacional, afinal, caso cada Estado da Federação onde
o SEBRAE atua (ex.: Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Cataria, Rio Grande do Sul,
Bahia, Paraná, Minas Gerais, dentre outros) deixar de contratar irregularmente seus
profissionais, conduta essa, inclusive, já combatida pelo Ministério Público do Trabalho de
outras regiões (ex.: Minas Gerais – fls. 40/57), a Justiça do Trabalho deixaria de receber
milhares de ações individuais desses “facilitadores”, minimizando o volume e a sobrecarga
de processos em trâmite perante a deficiente estrutura do Poder Judiciário.

DA OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER:

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Em ato contínuo, determino ao primeiro requerido (SEBRAE/SP) que se abstenha de
contratar trabalhadores advindos de cooperativas intermediadoras de mão-de-obra, de
pessoas jurídicas e de trabalhadores vinculados a pessoas jurídicas, nem contratar
trabalhadores por empresa interposta em caráter subordinado e não eventual, para as
funções de “facilitadores” ou outras denominações que porventura venham a ser dadas
(obrigação de não fazer). Descumprida a obrigação ora imposta, incide multa diária no
valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), que também reverte ao FAT, considerando cada
trabalhador contratado nestas condições.

DA MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ:

Consoante já decidido anteriormente (fl. 647), este Juízo, à época, reputou que o primeiro
requerido litigante de má-fé, cujas razões e motivos exarados naquela oportunidade,
reiterados, ainda, em sede de informações prestadas à Corregedoria deste E. TRT/SP, por
ocasião da apresentação de medida correcional de parte do SEBRAE, fazem parte
integrante desta fundamentação, e, por corolário, são mantidos agora em sentença.

Desse modo, mantenho apenas a condenação imposta ao SEBRAE/SP, já que o segundo


requerido fora excluído da lide, por ilegitimidade de parte, ao pagamento da multa de 1%
(um por cento) incidente sobre o valor da causa, cujo valor deverá ser revertido igualmente
ao FAT, sem prejuízo e juros e atualização monetária até o seu efetivo pagamento, tudo
computado, todavia, desde a publicação daquela decisão (08/10/2008).

DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA:

A concessão dos efeitos da antecipação de tutela, regulamentada na legislação processual


civil, aplicada subsidiariamente ao processo do trabalho, por expressa previsão do artigo
769 da CLT, trata-se de uma faculdade conferida ao Juiz. Assim, ao analisar os elementos
circunstanciais de cada caso concreto, o Juiz pode deferir ou não o provimento
antecipatório, desde que, para tanto, haja a observância concorrente dos seus
pressupostos e requisitos autorizadores.

Assim, para o deferimento da tutela antecipada faz-se necessária, todavia, não só a


inequívoca prova da verossimilhança das alegações autorais, cujo pressuposto se traduz
na plausibilidade de vitória da parte postulante, como também, e de forma alternativa, a
existência de um dos seus requisitos justificadores de sua concessão, quais sejam: o
abuso de direito ou de defesa de parte do Reclamado, intuito de procrastinar com sua
conduta, ausência de controvérsia quanto aos fatos alegados, ou, ainda, risco de dano
irreparável ou de difícil reparação.

Contudo, diferentemente das medidas cautelares, as quais são de natureza instrumental,


de cunho não satisfativo e de caráter precário, visando apenas dar utilidade ao processo, a
antecipação de tutela é medida que protege a parte postulante, e não o processo,
possuindo, portanto, natureza meritória e cunho satisfativo, cujo caráter igualmente
precário veda a sua concessão quando haja perigo de irreversibilidade do provimento
antecipatório.

Bem por isso, considerando presentes os elementos acima expostos, e considerando a


aplicação de multa por litigância de má-fé ao primeiro requerido, por opôs resistência
injustificada ao andamento do feito (fl. 647), e com finalidade de assegurar o resultado
prático da decisão, de modo a tutelar efetivamente os interesses coletivos e difusos dos
trabalhadores, defiro a tutela antecipada ora em sentença (Súmula nº 414, II, do C. TST),
determinando ao SEBRAE/SP que se abstenha de contratar trabalhadores oriundo de
cooperativas intermediadoras de mão-de-obra, de pessoas jurídicas e de trabalhadores
vinculados a pessoas jurídicas, ou mesmo contratar trabalhadores por empresa interposta
em caráter subordinado e não eventual, para as funções de “facilitadores” ou outras
denominações que porventura venham a ser dadas, sob pena de pagamento de multa

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diária no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), reversível ao FAT, por cada trabalhador
contratado nestas condições.

Frise-se, ademais, que a concessão dos efeitos da antecipação da tutela constitui


verdadeiro instrumento satisfativo ao interesse do destinatário da prestação da tutela
jurisdicional, qual seja: o próprio jurisdicionado, que, atualmente, está amparado pela
garantia constitucional da razoável duração do processo (inciso LXXVIII, do artigo 5º, da
Carta Magna, acrescido que foi pela EC nº 45/2004).

Do mesmo entendimento, inclusive, coaduna o Egrégio Tribunal Regional do Trabalho de


São Paulo da 2ª Região. Vejamos:

EMENTA: “Mandado de Segurança. Tutela antecipada concedida em Ação Civil Pública.


Verossimilhança das alegações do autor. Cabimento. Inteligência do art. 273 do CPC. O
juízo, uma vez convencido da verossimilhança das alegações do autor (CPC, art. 273,
caput) e do fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação (inc. I), pode
antecipar a tutela requerida, decisão que não viola direito líquido e certo do réu, porquanto
escorada em dispositivo legal. Segurança denegada” (TRT/SP – 2ª Região – SDI –
Acórdão nº 2008016429, Rel. Juiz Desembargador federal do Trabalho, Dr. Davi Furtado
Meirelles, j. 12/08/2008, DOE/SP 27/08/2008 – grifos nossos).

DOS OFÍCIOS:

Em vista das irregularidades constatadas, determino a expedição de ofício à


Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo, cito Rua Martins Fontes
nº 109, Centro, Capital/SP, CEP.: 01050-000, a fim de que tome ciência da liminar deferida
e verifique constantemente o seu cumprimento.

JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA:

Sobre os valores da condenação incidem juros e correção monetária, observados os


seguintes critérios:

a) Os juros são devidos na forma do art. 883 da CLT e do art. 39 da Lei nº. 8.177/91, ou
seja, de 1% ao mês, contados de forma simples, pro rata, a partir da publicação da
presente sentença, considerando-se o principal já corrigido (súmula nº. 200 do E. TST).

b) Quanto à correção monetária, incide a partir da fixação por sentença (marco inicial), na
forma da lei.

DISPOSITIVO:

Pelo exposto e ante os termos da fundamentação que integra este dispositivo, DECIDO:
Preliminarmente: REJEITAR a inépcia da petição inicial, a impugnação ao valor da causa,
a inadmissibilidade da ação civil pública no direito Processual do Trabalho, a inexistência
de norma regulamentadora do exercício da ação civil pública, a ilegitimidade ativa e a
inexistência de interesse específico do Ministério Público do Trabalho e o esgotamento da
via administrativa (conclusão do inquérito civil); ACOLHER a carência de ação por
ilegitimidade passiva do segundo requerido, e julgar EXTINTO O FEITO, SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO, em face de JOSÉ LUIS RICCA, com fulcro na previsão do
artigo 267, VI, do CPC, aplicado subsidiariamente ao Processo do Trabalho por força do
artigo 769 da CLT; e, no mérito: julgar PROCEDENTES os pedidos formulados pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, para condenar o primeiro requerido, SEBRAE/SP
– SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DE SÃO PAULO, nas
seguintes obrigações de (fazer e pagar), respectivamente:

a) Cumprimento da obrigação de não fazer, consistente na abstenção de contratar

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trabalhadores oriundos de cooperativas intermediadoras de mão-de-obra, de pessoas
jurídicas e de trabalhadores vinculados a pessoas jurídicas, nem contratar trabalhadores
por empresa interposta em caráter subordinado e não eventual, para as funções de
“facilitadores” ou outras denominações que porventura venham a ser dadas, sob pena de
pagamento de multa diária no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), que reverte ao FAT,
por cada trabalhador contratado nessas condições; e

b) Pagamento da indenização pela lesão aos interesses coletivos e difusos no valor


arbitrado de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais), que reverte ao FAT (Fundo de
Amparo ao Trabalhador), sem prejuízo dos juros e correção monetária, ora fixados nos
termos da fundamentação, até a data do seu efetivo pagamento.

Defiro a tutela antecipada ora em sentença (Súmula nº 414, II, do C. TST), e determino ao
SEBRAE/SP que se abstenha de contratar trabalhadores oriundos de cooperativas
intermediadoras de mão-de-obra, de pessoas jurídicas e de trabalhadores vinculados a
pessoas jurídicas, ou mesmo contratar trabalhadores por empresa interposta em caráter
subordinado e não eventual, para as funções de “facilitadores” ou outras denominações
que porventura venham a ser dadas, sob pena de pagamento de multa diária no valor de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais), reversível ao FAT, por cada trabalhador contratado nestas
condições.

Determino a expedição de ofício à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de


São Paulo, cito Rua Martins Fontes nº 109, Centro, Capital/SP, CEP.: 01050-000, a fim de
que tome ciência da liminar deferida e verifique constantemente o seu cumprimento.

Custas processuais pelo primeiro requerido (SEBRAE/SP), no valor de R$ 200.000,00,


passível de complementação ao final, calculadas sobre o valor de R$ 10.000.000,00,
provisoriamente arbitrado à condenação..

Cumpra-se após o trânsito em julgado, exceto quanto à antecipação de tutela deferida.

Intimem-se as partes e a União. A União, na forma da lei.

EVERTON LUIS MAZZOCHI

Juiz do Trabalho

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO

Processo/Ano: 738/2006
São Paulo - Capit 56 20090413 08:49:59 738 2006

1 <P>PROCESSO n 00738200605602

Comarca: São Paulo - Capital Vara: 56


Data de Inclusão: 13/04/2009 Hora de Inclusão: 08:49:59
PROCESSO nº. 00738-2006-056-02-00-4

Submetidos os embargos declaratórios a julgamento, profiro a seguinte

Text_SP 2460518v1 /
SENTENÇA

O Ministério Público do Trabalho e o SEBRAE/SP oferecem Embargos de Declaração, às fls.


716/717 e fls. 701/712, respectivamente, invocando, o primeiro, a extensão dos efeitos da presente
decisão para todo o Estado de São Paulo, e, o segundo, alegando a existência de suposta omissão,
contradição e obscuridade no julgado, mas que, na verdade, busca apenas, e, tão-somente, a sua
reapreciação.

RELATADOS.

DECIDO:

Tempestivos e regulares conheço de ambos os embargos opostos.

DOS EMBARGOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Total razão assiste ao Parquet em relação às razões trazidas nos Embargos de Declaração. Este
Juízo é competente para conhecer e julgar a presente Ação Civil Pública, uma vez que o dano a ser
reparado abrange o âmbito regional de todo o Estado de São Paulo. Assim, claro está que a decisão
gera efeitos para todo seu o território, não obstante a jurisdição do Tribunal Regional do Trabalho da
15ª Região sediado na Cidade de Campinas/SP, que, no caso, pela peculiaridade dos interesses
tutelados neste feito, não possui competência para dirimir o litígio.

Assim, nos termos da OJ nº. 130 da SDI-II, do E. TST, adotada como fundamento da decisão, e,
considerando a extensão do dano (todo Estado de São Paulo), a competência é fixada dentre uma
das Varas do Trabalho desta capital (São Paulo), portanto, deste Juízo.

Conforme restou peremptoriamente comprovado, o dano a ser reparado não é de âmbito supra-
regional ou nacional, ao contrário, limita-se, sua extensão, ao âmbito regional do Estado de São
Paulo (fls. 233/251 e 265 – 2º vol. documentos em apartado). Estendo, portanto, os efeitos desta
decisão a todos os Municípios do Estado onde o SEBRAE/SP tem Escritórios Regionais, a exemplos
das cidades: Araraquara, Guaratingueta, Barueri, Campinas, Ribeirão Preto, São Bernardo do
Campo, Jundiaí, Marília, Bauru, Presidente Prudente, Piracicaba, São José dos Campos, Osasco,
Guarulhos, Santo André, Mogi das Cruzes, entre outras constantes do próprio endereço eletrônico de
sua página na internet (www.sebraesp.com.br/no_estado).

Caso contrário, nenhuma razão lógica teria o ajuizamento desta Ação Civil Pública. Entendimento
divergente resultaria na idéia de que caberia ao Ministério Público do Trabalho ajuizar uma ação
coletiva em cada uma das cidades (exemplificadas acima), na busca de tutelar os mesmos
interesses difusos dos trabalhadores, ora defendidos, que têm a sua prestação de serviços
intermediada de forma fraudenta pelo SEBRAE/SP, o que em nada contribui para a coletivização do
processo.

Cito, aqui, os ensinamentos do Professor da USP/SP e Advogado, Estevão Mallet, que, ao proferir
palestra sobre o tema “Ação Civil Pública de Direitos Individuais Homogêneos do Trabalho”, em 22
de outubro de 2008, no Curso de Difusão sobre Temas Atuais de Direito do Trabalho, realizado no
Salão Nobre do Largo São Francisco, alertou sobre o necessário avanço do processo coletivo.
Iniciado com o dissídio coletivo, o processo coletivo não sofreu mudanças substantivas posteriores,
não evoluindo legislativamente.

Segundo o pensamento do ilustre professor (ora compartilhado), a alta litigiosidade decorrente da


sociedade de massa da qual vivemos, representada por milhares de ações individuais anualmente
despejadas na pouca e escassa estrutura do Poder Judiciário que, cada dia que passa, dá claros
sinais de esgotamento na absorção da demanda sempre crescente, justifica a tutela via processo
coletivo. A tendência moderna da doutrina que, a partir da edição da Lei nº 4.717/1965 (Ação
Popular), da Lei nº 7.347/1985 (Ação Civil Pública) e da Lei nº 8.078/1990 (CDC), é defender a
atuação cada vez mais abrangente dos sindicatos, associações de classe e do próprio Ministério

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Público do Trabalho na tutela dos direitos individuais homogêneos, coletivos e difusos dos
trabalhadores. como bem já decidiu recentemente o Excelso Pretório no RE 210.029/RS, no tocante
a interpretação dada ao artigo 8º, III, da CF/88, cujo Relator foi o Ministro Dr. Carlos Veloso.

Dessa feita, em decorrência da aplicação da Orientação Jurisprudencial de nº. 130, da SBDI-2, do E.


Tribunal Superior do Trabalho ao caso em tela, o que, indubitavelmente, atrai a aplicação igualmente
do comando do artigo 93 do CDC, em detrimento à restrição contida no artigo 16 da LACP,
determino a extensão dos efeitos da sentença para todo o território compreendido pelo Estado de
São Paulo.

DOS EMBARGOS DO SEBRAE/SP

Em que pesem as razões expendidas na peça dos embargos do Réu Embargante, inexiste as
alegadas omissão, contradição ou obscuridade no julgado (CLT, artigo 897-A c/c artigo 535 do CPC),
uma vez que a sentença é bastante clara e precisa, tendo apreciado todos os elementos constantes
dos autos. Nota-se que o SEBRAE/SP, ora Embargante, pretende, tão somente, a revisão da
decisão com a apresentação da presente medida, sendo certo que os Embargos não constituem
meio processual adequado para essa finalidade.

Ademais, as discussões relativas à incompatibilidade da Ação Civil Pública na Justiça do Trabalho,


inexistência de norma regulamentadora, ilegitimidade do Ministério Público do Trabalho,
intermediação fraudulenta de mão-de-obra, indenização por danos morais, expedição de ofícios para
o cumprimento da tutela antecipada e multa por litigância de má-fé, todas, sem exceção, restaram
apreciadas na sentença (basta uma simples leitura dos respectivos tópicos). A sentença analisou
pormenorizadamente todas as provas produzidas nos autos, questões essas devidamente julgadas
segundo o entendimento deste Julgador, com base no seu livre convencimento – princípio da
motivação racional (CPC, artigo 131). Eventual inconformismo, portanto, deverá ser manifestado
através de meio processual próprio e adequado.

A decisão não é um diálogo entre o Juiz e as partes ou seus advogados. Se o Juiz fundamentou sua
decisão, esclarecendo os motivos que lhe firmaram seu convencimento, seu raciocínio lógico, a
prestação jurisdicional foi devidamente concedida às partes. Se os fundamentos estão certos ou
errados, a matéria não é de embargos de declaração, mas de recurso próprio. A Constituição
Federal/1988 exige apenas fundamentação e não fundamentação correta ou que atenda à tese de
interesse da parte.

Os Embargos de Declaração é um meio de aperfeiçoamento da sentença, a fim de corrigi-la e


integrá-la. Não é uma forma de devolver ao Julgador o conhecimento da matéria versada no
processo, com a pretensão de reformular ou modificar o seu conteúdo (artigos 463, inciso II, 471,
535, incisos I, II e 536, todos do CPC, aplicáveis ao Processo do Trabalho por força do artigo 769 da
CLT), sob pena de restar à letra morta os princípios e garantias constitucionais do direito processual.
Repito que a revisão da decisão somente poderá ser feita por intermédio de recurso próprio.

A esse respeito, inclusive, vem decidindo de forma reiterada o nosso Egrégio Tribunal Regional do
Trabalho de São Paulo (2ª Região), conforme as seguintes ementas:

EMENTA: “Embargos de declaração. Embargos declaratórios não constituem remédio processual


apto a alterar decisão para ajustá-la ao entendimento da parte. Destinam-se a eliminar obscuridade,
omissão ou contradição da decisão, irregularidades não constatadas no v. acórdão embargado.
Ausentes os pressupostos dos artigos 535 do CPC e 897-A da CLT, impõe-se a sua rejeição.
Embargos de declaração não providos” (TRT/SP – 2ª Região – 3ª T. – Acórdão nº 20090053910, Rel.
Juíza Desembargadora Federal do Trabalho, Dra. Maria Doralice Novaes, j. 10/02/2009, DOE/SP
20/02/2009 – grifo nosso).

EMENTA: “Embargos de declaração. Manifestação de inconformismo. Equívoco já renitente e


crônico nesta justiça especializada, em que a parte se vale dos embargos de declaração para, a
pretexto de prequestionamento, ou de omissões, questionar o julgado, para manifestar irresignação,

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inconformismo, para acusar, na verdade, error in judicando, e não, tecnicamente, omissão,
obscuridade ou contradição. Embargos de declaração improcedentes” (TRT/SP – 2ª Região – 11ª T.
– Acórdão nº 20090038988, Rel. Juiz Desembargador Federal do Trabalho, Dr. Eduardo de Azevedo
Silva, j. 03/02/2009, DOE/SP 17/02/2009 – grifo nosso).

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INCONFORMISMO. AUSENCIA DE VÍCIOS. “Rejeitam-


se os embargos de declaração que revelam mero inconformismo com o julgado, cujo manejo é
inviável em sede de declaratórios, visto inexistirem quaisquer dos vícios previstos nos artigos 535, do
CPC e 897-A, da CLT”. EMBARGOS REJEITADOS (TRT/SP – 2ª Região – 4ª T. – Acórdão nº
20090039232, Rel. Juíza Desembargadora Federal do Trabalho, Dra. Wilma Noqueira de Araújo Vaz
da Silva, j. 03/02/2009, DOE/SP 13/02/2009 – grifo nosso).

Existe omissão, portanto, somente quando o Juiz deixa de analisar certo ponto do qual deveria
pronunciar-se, inclusive, de ofício. Todavia, não é o que ocorreu no caso em tela, sendo certo que
este Julgador não é obrigado a rebater todos os argumentos trazidos pela parte, bastando, apenas,
decidir fundamentadamente, ainda que utilize apenas um fundamento jurídico (CPC, artigo 515),
cujas questões que lhe são contrárias são automaticamente excluídas. Por seu turno, só existe
contradição quando se afirma uma coisa, e, ao mesmo tempo, a mesma coisa é negada na decisão,
seja constante no próprio corpo da fundamentação ou na parte dispositiva da sentença, o que,
também, não ocorreu na hipótese dos autos. Por fim, entende-se por obscuridade a falta clareza na
exposição das idéias e expressões contida na decisão, de modo a torná-la ininteligível, o que,
igualmente, não ficou demonstrado.

Por tal razão, e considerando a oposição maliciosa dos presentes Embargos, os quais tiveram por
única finalidade procrastinar, retardar e tornar em descrédito e sem efeito a completa e efetiva
prestação da atividade jurisdicional, reputo os Embargos protelatórios e novamente enquadro o réu
como litigante de má-fé (CPC, artigo 17, I, II, III, IV, V, VI e VII). Portanto, condeno o réu embargante
ao pagamento da multa de 1% (um por cento), mais indenização por perdas e danos arbitrada em
5% (cinco por cento), nos termos dos artigos 16 e 18, caput e § 2º, da legislação processual civil,
ambas calculadas sobre o valor da causa, com atualização até a data do efetivo recolhimento e
revertidas ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

A esse respeito, inclusive, igualmente já decidiu o nosso Egrégio Tribunal Regional do Trabalho de
São Paulo da 2ª Região, com fulcro na garantia constitucional da razoável duração do processo,
introduzida que foi ao artigo 5º, LXXVIII, da Carta da República Federativa do Brasil, pela EC nº
45/2004, a saber:

EMENTA: “Embargos de declaração. Prequestionamento. Intuito protelatório. Atenta contra a ética, a


lealdade e a seriedade do processo e da Justiça a utilização abusiva dos embargos de declaração, o
que se evidencia quando a parte, a pretexto de um suposto - e mal compreendido -
preqüestionamento, não traz, objetivamente, os pontos relevantes e pertinentes do julgado que não
teriam sido enfrentados e, para isso, ainda se vale de argumentos de todo inconsistentes. Isso revela
atitude temerária, que caracteriza a má-fé. Embargos de declaração improcedentes. Multa” (TRT/SP
– 2ª Região – 11ª T. – Acórdão nº 20090039046, Rel. Juiz Desembargador Federal do Trabalho, Dr.
Eduardo de Azevedo Silva, j. 03/02/2009, DOE/SP 17/02/2009 – grifo nosso).

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INTENÇÃO PROTELATÓRIA. “A reprovável conduta da


parte embargante que pretende postergar a entrega da prestação jurisdicional definitiva opondo
embargos de declaração protelatórios enseja a aplicação da pedagógica sanção prevista no
parágrafo único do artigo 538 do CPC. A medida adotada faz-se necessária também em razão do
princípio da celeridade alçado à condição de garantia constitucional (inciso LXXVIII do art. 5º da CF),
o qual se dirige não só ao Poder Judiciário, mas também às próprias partes e seus advogados”
(TRT/SP – 2ª Região – 12ª T. – Acórdão nº 20080965134, Rel. Juiz Desembargador Federal do
Trabalho, Dr. Marcelo Freire Gonçalves, j. 30/10/2008, DOE/SP 14/11/2008 – grifo nosso).

Ante ao exposto: JULGO PROCEDENTES os embargos de declaração opostos pelo Ministério


Público do Trabalho para estender os efeitos da sentença a todo o território do Estado de São Paulo,
onde estão situados os Escritórios Regionais do réu; e JULGO IMPROCEDENTES os embargos de

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declaração opostos pelo SEBRAE/SP, mantendo a sentença na sua integralidade e condeno o Réu
Embargante ao pagamento de multa 1% (um por cento), além de indenização por perdas e danos
arbitrada no percentual de 5% (cinco por cento), ambas calculadas sobre o valor da causa e
revertidas ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

No mais, fica mantida a sentença ora atacada.

Intimem-se as partes.

Nada mais.

São Paulo, 31 de março de 2009.

EVERTON LUIS MAZZOCHI

Juiz do Trabalho

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