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Na doutrina atual, encontra-se ainda a referência ao modo e ao título quando os autores referem que a
aquisição dos direitos se dá por duas espécies de modo, o originário e o derivado, ou por duas espécies de
título, o universal e o singular.
5
SERPA LOPES, 1988, p. 172.
apreensão ou tomada da posse, é o modo de adquirir"6, como
escrevia Coelho da Rocha, que exemplificava:
6
"O sistema de transferência da propriedade de bens móveis e de imóveis no Brasil é o do titulus e do
modus. Neste sentido, exige o art. 620 et seq. a tradição, enquanto o art. 530 et seq. exige para a
transferência dos direitos reais sobre bens imóveis o competente registro da escritura de compra e venda.
(...) Assim, alcança o sistema o CCBr a importante separação (Trennung) entre o negócio obrigacional
(Verpflichtungsakt), no caso o titulus ou a causa, e os efeitos do ato real de transmissão
(Verfügungsaktes), no caso de móveis, a tradição. (Lima Marques, Cem anos, p. 34).
O sentido original da expressão justo título, elemento existencial da usucapião ordinária de imóveis (art.
551, CC brasileiro), é, precisamente, o do texto acima, tenha-se presente a tradição jurídica a que se
filia o código mencionado. Como o uso das palavras tem o mesmo efeito do cachimbo, entorta a boca, o
título da usucapião passou a ser, para alguns intérpretes, documento, o que não constitui a nossa
posição nem a de uns poucos autores atentos. Lembremos, ainda, o princípio de que a posse injusta não
cria título. O CC português (arts. 1293.º a 1296.º) admite, em dois casos de usucapião de imóveis, o
registro do título de aquisição ou o registro da mera posse (posse titulada). No direito argentino,
encontramos referência ao modo e ao título no seguinte texto: "La norma [do art. 2505 do CC argentino]
consagra la publicidad del acto jurídico y su oponibilidad a los terceros desde su inscripción, pero a los
efectos de la adquisición del derecho real implicaba que debía cumplirse con la tradición (modo) y la
instrumentación mediante escritura pública del acto jurídico (título suficiente).
7
COELHO DA ROCHA, 1984, p. 243.
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Usa-se no Direito, algumas vezes, a mesma palavra para designar o fato jurídico e o direito subjetivo
que dele nasce. Por outro lado, em muitos casos, há denominações específicas diferentes para o fato e
para o direito: é o caso, por exemplo, do fato jurídico da compra e venda de que nasce o direito de
propriedade sobre determinada coisa.
se com o solo uma só coisa pelo fenômeno jurídico da acessão; por
isso se diz que o edifício é imóvel por acessão (melhor, o edifício
tornou-se parte integrante do imóvel por efeito da acessão), porque
aderiu física e juridicamente; assim como se diz que não há acessão
(união) quando a construção não tem caráter de permanência, de
definitividade, como, por exemplo, "as construções ligeiras, que se
levantam no solo ou se ligam a edifícios permanentes, e que se
destinam à remoção ou retirada, como as barracas de feira, os
pavilhões de circos, os parques de diversões que se prendem ao chão
por estacas, mas que para própria utilização devem ser retirados e
conduzidos para outro local"9.
Acessão é, portanto, um evento relevante para o Direito sobre o
qual incide a norma jurídica. Esta pode ser construída nos seguintes
termos: se e quando se verifica a união inseparável, com caráter de
permanência, de duas (ou mais) coisas, o proprietário de uma das
coisas torna-se proprietário do todo.
9
PEREIRA, Caio Mário da Silva. 1987, p. 282.