Introdução
Desde os primeiros tempos do Homem que os elementos visuais limitam a sua interacção com o
mundo condicionando assim a sua evolução. Nesta nova era em que utilizamos ferramentas
informáticas, tendo ao nosso dispor a possibilidade de criar produtos multimédia onde a palavra de
ordem é a interdisciplinaridade, é fundamental perceber os pilares principais em que assenta a
percepção visual. Porque dela dependem todas as relações e aplicações que a imagem pode ter.
Neste trabalho focamos a base de toda a construção visual.
I. A Percepção Visual
1. O que é a Percepção
2. Neurobiologia
1. Tempo
2. Estrutura
3. Forma
V. Conclusão
I. A Percepção Visual
1. A Percepção
Julgamos que a percepção é cíclica. O indivíduo ao percepcionar cria emoções e essas emoções
condicionam futuras percepções. É através deste ciclo que o homem constrói a ideia do que é e do
mundo que o rodeia.
Ao contrário, do que se pensava, o Homem não é divisível somente em razão e emoção, estando a
razão centrada na cabeça e a emoção no corpo. Chegou-se à conclusão de que razão e emoção
intercepcionam-se numa região do cérebro, responsável pela gestão da atenção, memória e emoções.
Esta região é a causa do nosso pensamento. Por estas duas características humanas serem
indissociáveis, tudo o que percepcionamos está associado de emoção, muitas vezes até inconsciente.
As emoções moldam e condicionam a nossa forma de julgar e de agir. É normal termos reacções
instintivas perante determinadas situações, sem sabermos qual a verdadeira emoção que nos está a
dominar.
Percepcionamos porque temos sentidos, órgãos que recebem estímulos. Os sentidos que mais nos
condicionam são a visão e a audição, isto possivelmente porque são também os primeiros de que
temos consciência.
E é assim que a percepção se constitui, como um processo dominante na espiral da experiência
humana e em que a visão participa em quase todas as acções do indivíduo, não só como facilitadora
do reconhecimento do conjunto dos estímulos da situação, mas também, incluindo processos de
discriminação, selecção e identificação de estímulos. Somos um produto das nossas próprias vivências.
2. Neurobiologia
Tudo o que conhecemos (sons, cheiros, sabores, tacto e cores) é fruto de frequências de onda.
Sendo as cores a forma como alguns organismos percepcionam as frequências de onda da luz.
Para percebermos o que é a percepção visual, optamos por espreitar levemente o campo da
Neurologia e analisar o processo de formação de imagens.
A visão não é um sentido isolado sobre si mesmo. No desenvolvimento de um indivíduo, a visão é
vista como resultado da integração dos seguintes processos sensório-motores: o processo antigravítico
que engloba as aquisições motoras que vão permitir superar a acção permanente da gravidade (a
locomoção ou, o andar); o processo de localização corporal, compreendendo este, a possibilidade de
permitir a orientação e a exploração do espaço envolvente como resultado da referencialização própria
do nosso corpo em relação com o meio; um outro processo é o de identificação, que tem a ver com a
manipulação do real, isto é, da acção sobre os objectos e os outros, que irá conduzir ao conhecimento
dos seus atributos, propriedades e características (aqui, a visão assume o papel de um órgão
coordenador, regulador e controlador) com estreita correlação neuro-sensorial entre a visão e a
audição; o quarto processo é o auditivo-verbal que em conjunto com as relações visuo-motoras da
acção, irão participar no desenvolvimento da linguagem; por último, temos o processo visual que é a
inter-relação e interacção entre os quatros anteriores processos por intermédio da – visão (englobando
esta, os três tipos de linguagem: a corporal, a falada e a escrita.
Concluí-se, que toda a apreensão do que nos rodeia, construída através dos nossos sentidos, é
formada e organizada por imagens de modalidades sensoriais diversas (imagens perceptivas). Até
mesmo as recordações (sejam elas sons, formas, cheiros, temperatura, etc.) são constituídas por
imagens, que vão ocorrendo à medida que as evocamos (imagens evocadas). A natureza das imagens
de algo que ainda não aconteceu é idêntica às imagens que retemos do que já aconteceu. Assim sendo,
o processo de formação das imagens é semelhante nos três casos. Os sinais são emitidos pelo sector do
corpo em questão (olho e retina, para as imagens evocadas e terminações nervosas da articulação do
cotovelo, para as imagens que não aconteceram), são transportados por neurónios, ao longo dos seus
axónios e através de várias sinapses electroquímicas, para o cérebro. Para os sinais vindos da retina, a
recepção acontecerá nos córtices visuais iniciais, localizados na parte superior do cérebro, no lobo
occipital
Estas imagens não têm origem num centro, mas são produto da actividade de um conjunto de
áreas. Podemos concluir então que as imagens não são armazenadas sob a forma de fotografia. Uma
lembrança não acontece num local único do cérebro, encontrando-se por ele distribuída sob a forma de
muitas representações disposicionais. São uma forma de disparo dormente que ganha vida quando os
neurónios disparam com um determinado padrão, a um determinado ritmo, num determinado intervalo
de tempo e em direcção a um alvo particular, que é outro conjunto de neurónios. Estas disposições são
o nosso depósito de conhecimento adquirido através da experiência.
A percepção que temos do mundo é afectada por elementos que advêm do modo como o nosso
cérebro processa a informação exterior. Podemos resumir estes elementos em três fundamentais: O
tempo, que está inerente a tudo o que existe porque temos memória; a estrutura, que impomos a tudo o
que nos rodeia, organizando os elementos observados num padrão coerente, sendo este padrão sempre
o mais simples possível; e finalmente a forma, que é o resultado da organização por comparação que o
cérebro faz das diferenças de luminosidade, sendo este o mecanismo que nos obriga a ver pelo menos
duas dimensões.
1. Tempo
Pode-se considerar que nada é estático. A própria Ciência, para estudar algum fenómeno,
compreendê-lo e prevê-lo, precisa de isolá-lo. No entanto não consegue is mais longe do que controlar
os fenómenos (temporais e não só) a ele associados. A dimensão do tempo está inerente a tudo o que
existe e a tudo o que somos. A uma estátua cuja pedra vai sendo progressivamente corroída, a uma
melodia que ouvimos, a um bailado que assistimos, à luz que é reflectida por um objecto, ao tempo de
leitura de um quadro, ao acto de estarmos a escrever um trabalho e simultaneamente à posição que
temos em relação ao Sol ou à Lua. Todas estas situações não existem só por si, estáticas e isoladas,
enquadram-se num contexto espaço – temporal. Este enquadramento é um todo composto por uma
sequência de instantes. Somos nós que impomos lógica a esses instantes, atribuindo-lhes significado e
percebendo assim o todo. O tempo não existiria se não tivéssemos memória. No momento em que
ouvimos o segundo tom de uma melodia, apesar de já não estarmos a ouvir o primeiro, guardamos a
sua percepção, afim de o inserirmos num todo que é a composição. Em termos visuais é a mesma
coisa. Conseguimos percepcionar o decorrer do dia pela variação de luz, que guardamos na memória,
que vai sendo reflectida pelos objectos. Quando observamos um quadro, impomos um tempo de
leitura, que nos permite assimilar as partes, guardando-as na memória, afim de ir construindo o todo.
Assim sendo, todo o campo visual está sujeito ao tempo de leitura do observador. Encontramos
condicionamento do tempo da percepção visual, por exemplo, no Cubismo (que junta vários instantes
de percepção na mesma área visual), na banda desenhada e no Design de Comunicação. No exemplo
gráfico que se segue, podemos ver como com poucos elementos, conseguimos induzir ou quebrar a
sensação de movimento:
a b
Nesta sequência de
rectângulos, nota-se o
movimento contínuo a b
descendente, da esquerda
para a direita.
Estas tensões, que estão inerentes a tudo o que vemos, tal como na Física, têm um ponto de
aplicação, uma direcção e uma intensidade, e são chamadas forças perceptivas. Estas forças são
invisíveis, no entanto existem, sendo incutidas pelo observador, ao estímulo visual. Neste exemplo que
mencionámos, apesar do estímulo visual ser somente o quadrado com um circulo nele inserido,
percepcionamos bem mais do que isso. Caso contrário, as duas figuras dar-nos-iam a mesma
informação. O que entendemos é o resultado da avaliação por comparação, do estímulo visual com
todas as forças perceptivas inerentes. O que vemos é sempre uma estrutura e não elementos gráficos
isolados. Ouvimos uma melodia sempre em relação a uma determinada escala. Percebemos quando
uma refeição está salgada porque conhecemos a escala do tempero do sal.
Qualquer elemento gráfico está sempre associado a um qualquer dinamismo, imposto pelo
observador. Mesmo que este dinamismo esteja em equilíbrio, não deixa de ter tensão. Percebemos o
equilíbrio por comparação ao desequilíbrio e vice-versa.
Na experiência perceptiva este padrão associativo (estímulo visual – força perceptiva) cria um todo
a que chamamos de esqueleto estrutural. Podemos dizer que é a moldura de referência que associamos
a todos os elementos pictóricos. No exemplo do quadrado, o esqueleto estrutural define, como se vê na
figura que se segue, as tensões que o observador impõe ao conjunto.
Figura 1
As áreas delimitadas a
tracejado correspondem a
campos de intensidade
visual
Concluindo: a estrutura, que é uma parte integrante do campo perceptivo, corresponde ao esqueleto
mais simples em que se podem apoiar as características espaciais da forma e da relação entre as suas
partes. Não é apenas a soma das partes, mas sim o conjunto de elementos regidos por um princípio de
ordenação de tal modo que uma mudança de uma parte altera a estrutura do todo. Não esquecer que as
tensões impostas pelo observador fazem também parte deste todo.
3. Forma
Pictogramas
criados para os
WC
Não existe uma imagem bidimensional verdadeiramente plana. Tendemos sempre a ver, pelo
menos dois planos, a figura e o fundo. Na relação figura (forma/fundo), temos os seguintes
pressupostos:
Temos tendência a
ver montanhas sob
um céu preto
• A superfície circundada tende a ser vista como forma e a circundante como fundo.
• As áreas convexas tendem a ser lidas como formas e as côncavas como fundo.
Convexa Côncava
O campo visual relaciona-se com a nossa própria posição no espaço real, como a percepção do céu
e da terra, de alto e baixo, de cheio e vazio, leitura da esquerda para a direita ou vice versa, existência
de força gravítica, etc. Enfim, o campo visual relaciona-se com as experiências da nossa cultura e dos
nossos hábitos.
Sendo o campo perceptivo sempre associado de uma estrutura de tensões invisível, a posição da
forma em relação ao campo, vai sempre actuar como condicionante de peso visual e significado. As
linhas de estrutura básica (relembra-se: a figura 1, que descreve o esqueleto estrutural de um
quadrado) orientam o nosso olhar para a leitura da composição. Uma composição com significado e
informativa é uma composição equilibrada, onde todos os factores como configuração, direcção e
localização estão organizados de tal modo, que todas as partes que constituem o todo, todos elementos,
são necessários e indispensáveis. Por definição, equilíbrio é o estado de distribuição no qual toda a
acção chega a uma pausa.
É de referenciar que não é necessário igualdade nem simetria para uma situação de equilíbrio.
Basta que num enquadramento em que os elementos sejam desiguais, se compensem de algum modo.
O equilíbrio é sempre o intuito, é o que dá objectividade, fugindo a um padrão ambíguo, evitando que
o observador caia em interpretações subjectivas. Excepção a esta regra é quando a intenção é
objectivamente criar um estímulo com desequilíbrio.
A B C D
3. Peso Visual
As propriedades que influenciam no equilíbrio são o peso e a direcção. Na física denomina-se por
peso a intensidade da força gravítica para baixo. Podemos ainda, acrescentar mais, que esta força física
é uma força de atracção, somente é para baixo porque a terra é bem maior do que nós. Portanto, tal
como esta força, o peso visual existe em todos os sentidos. Peso é diferente de tensão, é um efeito
dinâmico, mas a tensão não é necessariamente orientada ao longo de uma direcção dentro do plano
pictórico. Pode-se acrescentar ainda a definição de que o equilíbrio é o resultado de uma coerente
concentração de tensões, de uma distribuição aceitável de diversos pesos visuais.
Em traços gerais, o peso varia com:
• A Localização
Qualquer elemento colocado no esqueleto estrutural (fig. 1) sustenta mais peso do que colocado
fora do mesmo. Em Física , “o peso de um objecto numa alavanca aumenta com a sua distância ao
centro”. Podemos generalizar este princípio também em termos visuais.
• A Dimensão
O peso é tanto maior quanto for a dimensão da forma. As formas espontâneas são mais leves do
que as geométricas.
• O Isolamento
As formas isoladas tendem a adquirir maior destaque, acentuando o significado e poder da sua
presença.
• A Direcção
As formas verticais parecem ser mais pesadas do que as que se orientam segundo os eixos
oblíquos.
• O Interesse Intrínseco
Numa composição, um objecto mesmo de escala reduzida em relação aos restantes, pode despertar
a prioridade visual, pelo seu tema.
• “Lei da Simplicidade”
A associação dos elementos visuais é de tal modo padronizável que se pode falar de Leis da
Organização da Forma. A percepção visual faz-se de uma forma simplificada, reduzindo a forma ao
essencial. O nosso cérebro tem tendência a acrescentar a uma figura fragmentada, linhas subjectivas
que surgem da sua procura por um padrão, ligando os fragmentos num conjunto coerente. Este padrão
tende sempre a ser o mais simples possível.
Para o nosso cérebro, o circulo é o padrão total mais simples, sendo seguido pelo quadrado e
depois o triângulo. O quadrado tem somente duas orientações e quatro ângulos iguais, enquanto que o
triângulo tem três orientações e três ângulos diferentes. Por outro lado, o ângulo recto é mais simples
porque apresenta uma subdivisão do espaço baseada na repetição de um ou mesmo ângulo.
• Rotações
Ao contrário das crianças que conseguem efectuar rotações mentais completas das figuras, para os
adultos a vertical é definitivamente um eixo privilegiado. No nosso dia-a-dia, de pé ou sentados, temos
a cabeça para cima e os pés para baixo e vemos os outros seres humanos na mesma posição. Também
é factor importante o facto de termos os nossos músculos e o órgão de equilíbrio do ouvido interno
condicionados pela força da gravidade. Quando confrontados com determinadas situações, como por
exemplo a de observarmos uma fachada de um edifício muito alto, não conseguimos compensar a
sensação de inclinação para trás. Por tudo isto, aceitamos facilmente apenas certas deformações e
outras não.
Conclui-se então, que a forma muda de aparência quando simplesmente: a rodamos. Contudo, se
mantivermos a orientação da forma e a observarmos rodando a cabeça até à horizontal, a percepção
mantém-se. Ou seja, é-nos importante a orientação do objecto no enquadramento do ambiente e não a
orientação do objecto em relação ao observador.
Outro tipo de rotação é aquele que nos permite perceber múltiplas configurações distintas de um
objecto fixo, rodando à volta dele. Exactamente o que fizeram na Antiguidade: os egípcios (ao
juntarem dois pontos de vista numa figura, de lado e de frente), ou no século XX, os cubistas (ao
juntarem várias perspectivas no mesmo quadro).
Georges Braque
(1882-1963)
“Violin and Pitcher”
• “Lei da Semelhança”
As formas de natureza semelhante têm tendência a associarem-se, segundo as suas
semelhanças (cor, tamanho, textura, orientação e forma)
• “Lei da simetria”
A simetria dá maior unidade ao conjunto
• Escalas
Para se observar alguma coisa, é necessário ter um referencial. Os referenciais ou escalas são
sempre relativas, permitindo que os elementos se modifiquem e se definam uns aos outros.
A A
Neste conjunto temos uma referência da letra maior,
A A
A
que se altera quando introduzimos a terceira letra.
Não pode existir o grande sem o pequeno, o escuro sem o claro nem o alto sem o baixo.
• Perspectiva
O espaço em que vivemos apresenta três dimensões, comprimento, largura e profundidade. Como
possuímos dois olhos distanciados de cerca de 10 cm, o nosso cérebro fica encarregue de fundir as
imagens recebidas por cada olho. Cada olho tem um campo de visão específico. O cérebro, para
construir uma imagem tem de conjugar as duas imagens que recebe do campo visual de cada olho,
comparando-as e extraindo destes dois pontos de vista uma imagem enriquecida pelas diferenças,
conseguindo assim, precisar os contornos de superfície, inclinações de linhas, de profundidade e
consequentemente os objectos em perspectiva. Este tipo de visão designa-se por estereoscópica ou em
relevo. Por os elementos nos parecerem menores com a distância, diz-se que vemos em perspectiva,
no entanto, na observação a curta distância, recusamos a perspectiva. Mantém-se constante a
dimensão dos objectos num campo de 2 a 20 metros de raio. Para além desta distância, o primeiro a
ser afectado é o gradiente do tamanho, seguido pelos gradientes de claridade, saturação, nitidez,
textura e cor. O relevo é interpretado a partir da variação mínima das inclinações lineares lidas pelo
cérebro, em cada ponto da forma observada. Basta apenas uma inclinação mínima para que o cérebro
a identifique tridimensionalmente.
• Ilusões Ópticas
A ilusão por definição é uma deformação da percepção, ela existe sempre que há uma contradição
entre os dados objectivos e os dados percepcionados. Alguns exemplos:
As linhas apresentadas em baixo têm todas
o mesmo comprimento. No entanto, a As três linhas parecem ter arcos de curvatura
primeira parece mais pequena do que a diferentes, apesar de serem iguais. Simplesmente
segunda estão cortados em pontos diferentes do arco.
a c
No decorrer da segunda metade do séc. XIX, alguns pioneiros da psicologia experimental, como
Delboeuf, Hering, Muller-Lyer, descobriram uma grande variedade de ilusão ópticas. Um artista que
se destacou por ter introduzido estas ilusões na sua arte foi Escher. Deixamos aqui alguns exemplos:
5. A Luz
b) Organização da Cor
Se a cor é um estímulo, então temos que considerar que associada à sua percepção está sempre
inerente uma mensagem, intencional ou não. Como portadora de uma mensagem, a cor representa uma
linguagem com códigos e regras. Não querendo dizer com isto, que a mensagem fica restrita a essas
leis. Assim como a comunicação verbal, a comunicação visual está sujeita à interpretação do receptor.
Não conseguimos contar uma história sem conhecermos as palavras e a gramática,
independentemente de quem a vai ouvir, porque essa consideração, só vem depois de conhecermos a
fundo as regras para podermos então quebrá-las e adequá-las ao receptor.
Como já foi referido, as cores são uma realidade sensorial, podem nos dar sensações de distância,
proximidade, movimento, peso, equilíbrio e espaço. Como em qualquer linguagem, existe uma
classificação para cada cor ou conjunto de cores, relativamente à sugestão que esta(s) representam.
De grosso modo, podemos sintetizar toda a gama de cores que encontramos na natureza numa
escala de referência, que a natureza também nos oferece: o arco-íris. Encaixando esses tons num
círculo, obtemos o famoso círculo cromático, de onde podemos obter quase todas as restantes cores.
Este círculo é constituído pelas três cores primárias (Magenta, Cian e Amarelo) e pelas secundárias,
que são a mistura das primeiras, par a par (Cor de Laranja, Violeta e Verde). Classificou-se também de
cores frias, a gama que vai desde o Verde, passando pelo Cian até aoVioleta e de cores quentes, a
gama que vai desde o Magenta, passando pelo Cor de Laranja até ao Amarelo. As cores frias parecem
dar-nos a sensação de distância, leveza, transparência e calma, em contraposição com as cores quentes,
que nos parecem próximas, densas, opacas e estimulantes.
Magenta
Violeta Cor de
Laranja
Cores Cores
Frias Quentes
Cian
Amarelo
Verde
As cores secundárias não são conseguidas arbitrariamente pela mistura de qualquer concentração
de duas primárias. Quando a concentração é a ideal, diz-se que a secundária é complementar da
terceira primária que não entrou na mistura. Atinge-se a concentração ideal, quando se mistura a
secundária que queremos, com a terceira primária, obtendo-se cinzento neutro.
Exemplos:
Cian Magenta
Amarelo
Cinzento
Cinzento Cinzento
Verde
Cor de
Laranja Violeta
Cor de
Violeta
Laranja Verde
Escala de Saturação
aplicada às três cores
primárias
:
Julgamos que, as definições acima apresentadas, são as necessárias para a compreensão do que se
segue ou seja, do modo como o indivíduo condiciona a escolha da cor e como é condicionado por ela.
2. O Indivíduo e a Cor
a) Factores Sociológicos
A utilização, a preferência por determinadas cores reflecte a cultura de um povo. Desde as
condições climatéricas em que ele vive, passando pela hierarquia social em que está inserido até aos
valores morais e estéticos. Todos estes elementos têm também uma identificação com determinadas
cores. Pensamos que, as cores funcionam como um reconhecimento social, porque afinal, também são
comunicação. Este reconhecimento torna-se inconsciente, porque deriva de hábitos sociais
estabelecidos durante muito tempo. É curioso ver que a evolução social de um povo pode ser analisada
pelo uso ou abandono de determinadas cores. A própria emancipação da mulher foi acompanhada por
uma mudança de vestuário. O homem deixou progressivamente de usar roupas escuras, fugindo a um
estereótipo conservador.
Será com certeza mais fácil perceber este fenómeno com exemplos. Em relação à influência que o
clima exerce, é dado adquirido que para se sentir menos calor, nas regiões mais quentes utiliza-se
roupas de tonalidades claras, que reflectem os raios solares. Pelo contrário, nas regiões mais frias são
usadas roupas escuras para absorver o calor. O ser humano opta instintivamente pela cor que o clima
lhe impõe. Excepção a isto, são os fenómenos impostos pela moda, que muitas vezes vão em oposição
ao que é natural, mas que também reflectem o tipo de socialização de uma cultura. Mas a influência do
clima não é tão obvia como pode parecer. Esta também se reflecte na arte de um povo. Pegando no
exemplo do Brasil, o nordestino que vive sob a influência de um cromatismo intenso provocado por
um clima quente, produz obras de arte com tons luminosos e quentes, enquanto que o sulista, sujeito a
um clima mais frio, está mais voltado para as cores frias, sendo a sua busca mais virada para a forma.
A influência que as cores têm na organização social também não é difícil de verificar. Basta pegar
em exemplos como a Igreja Católica, Entidades Jurídicas (Tribunais) ou qualquer uma multinacional
que preste serviços ao grande público (claro que, deve haver excepções). Todas estas organizações têm
uma cor ou farda específica para cada estrato da hierarquia que a constitui. Não seria socialmente
aceitável que um funcionário de um banco entrasse no serviço, com um facto amarelo.
Toda a utilização que uma sociedade faz das cores, teve ou tem origem em conotações
psicológicas. Até a linguagem corrente está enraizada com sensações visuais. Alguns exemplos:
b) Factores Fisiológicos
O ser humano, como já referimos, está sujeito a conotações psicológicas que a cor lhe traz. Mas o
condicionamento não termina na parte psicológica, estende-se também à parte física. Pensa-se que este
condicionamento nada tenha a ver com essas conotações ou experiências passadas, por ter um carácter
imediato, quase instantâneo. Sabe-se, por exemplo que quando as pessoas são obrigadas a olhar para
uma cor, durante determinado tempo, observa-se que há uma estimulação de todo o sistema nervoso,
havendo uma elevação da pressão arterial, alterando o ritmo cardíaco. Isto acontece se a cor escolhida
for o vermelho puro, porque actua como estimulante. Pelo contrário, se for o azul, o ritmo cardíaco e a
respiração diminuem, actuando assim como calmante. Pensa-se também que o excesso do amarelo
pode produzir indigestões, gastrites e úlceras gástricas; certas variações do verde, doenças mentais e
nervosas; variações do vermelho, doenças do coração e reflexos na pressão arterial; o excesso de azul,
a pneumonia, tuberculose pulmonar e pleurisia. Outros cientistas afirmam que o azul ajudaria contra
doenças dos olhos, ouvidos, narizes e pulmões; o vermelho para o estômago, fígado e baço; o verde
para o sistema nervoso e aparelho digestivo.
Todos estes estudos validam o uso da cor na terapia ou a importância de não usar determinadas
cores quando se deseja evitar certos efeitos psíquicos ou fisiológicos. Não é indicado pintar o tecto de
branco, sabendo que o doente tenha de permanecer no quarto durante muito tempo, tornando-se
exaustiva a reflexão da luz. Neste caso, seria indicado pintá-lo de azul, transmitindo uma sensação de
calma e de bem estar. Para os nervosos é aconselhável salas verdes e azuis, para os anémicos, salas
pintadas de vermelho e amarelo.
Em termos fisiológicos, ocorre também um fenómeno que é importante mencionar. Com o
decorrer dos anos, o cristalino do olho humano vai tornando-se amarelo, absorvendo uma percentagem
cada vez maior de luz azul. Assim, o azul na escala de preferência vai subindo proporcionalmente à
idade do indivíduo. Uma pesquisa que alia a idade à preferência da cor, mostrou os seguintes
resultados:
• Vermelho (1 a 10 anos) – Idade da efervescência e da espontaneidade;
• Laranja (10 a 20 anos) – Idade da imaginação, excitação, aventura;
• Amarelo (20 a 30 anos) – Idade da força, potência, arrogância;
• Verde (30 a 40 anos) – Idade da diminuição do fogo juvenil;
• Azul (40 a 50 anos) – Idade do pensamento e da inteligência;
• Lilás (50 a 60 anos) – Idade do juízo, do misticismo, da lei;
• Roxo (para além dos 60 anos) – Idade do saber, da experiência e da benevolência.
Mais uma vez, estes resultados são muito importantes para o campo publicitário, onde a
quantidade de vendas é condicionada de uma maneira decisiva pelo estudo do público alvo e as
respectivas cores que por ele são elegidas.
a) Fenómenos de Contraste
Como já se referiu, qualquer forma que observamos está sempre inserida num enquadramento.
Com a cor é exactamente a mesma coisa. Qualquer cor que seja percepcionada tem sempre outra de
referência. Esta relação entre a cor principal e a cor de fundo denomina-se por contraste. É este
contraste que faz com que o observador identifique, facilmente ou não, objectos, formas ou letras. O
estudo desta relação de contraste é muito usado não só em publicidade, como também na organização
das cidades. Um bom exemplo é a cor dos táxis, que até há bem pouco tempo, era amarela,
contrastando assim com o cenário de fundo da cidade.
Sendo assim, este fenómeno do contraste não passa de uma combinação de cores ou tons. Se uma
só cor como já vimos, é capaz de provocar emoções, logicamente uma combinação de cores também o
faz. Chama-se de harmónica uma composição entre cores quando estas possuem uma parte básica da
cor comum a todas. Denomina-se por contrastante, uma combinação de cores totalmente diversas entre
si. No entanto, é de notar que por vezes, o choque entre cores pode ter um resultado mais harmónico
do que propriamente uma composição com tons da mesma cor, que pode passar despercebida, insípida
e morta.
Composição Harmónica Composição Composição Contrastante com
Contrastante resultado Harmónico
Composição
contrastante
entre azul e
Composição amarelo. Apesar
Harmónica de de ser
vários tons de contrastante
amarelo detém mais
harmonia e
chama mais
atenção do que
a composição
da esquerda
• Contraste Branco/Preto
Este contraste é muito usado em publicidade quando se precisa de suprimir as cores. Nestas
composições podemos usar os vários tons que vão desde o branco até ao preto.
O Cinza parece mais escuro sobre Podemos criar vários planos recorrendo só ao
o fundo Preto uso de Preto e Branco
• Contraste Quente/Frio
A percepção do quente/frio, é relativo a cada indivíduo e consequentemente, à sua cultura e
experiências do seu dia-a-dia. Não obstante, a temperatura de uma cor está sujeita à relação desta com
as outras cores.
• Contraste de Complementares
O contraste entre cores complementares (uma primária e outra secundária), é dos mais fortes e
vibrantes, produzindo efeitos muito violentos. Este contraste dificulta a legibilidade, no entanto, basta
alterar ligeiramente o tom das cores para ser eficaz.
• Contraste Consecutivo
O contraste consecutivo não é mais do que a percepção de outra cor, que o cinza nos dá. Por
exemplo, se observarmos a primeira figura, o cinza parece ser ligeiramente rosado. Por sua vez, na
segunda figura, o cinza já nos parece tendencialmente verde. Este contraste acontece para todas as
cores primárias e as suas complementares.
• Contraste de Superfície
IV. Conclusão
Podemos resumir, o comportamento da percepção visual nos seguintes pressupostos, que são
aplicáveis a tudo o que seja arte visual e as suas múltiplas aplicações interdisciplinares:
2. O cérebro não processa apenas uma única imagem, pois os olhos fornecem dois pontos de vista
aproximados, cuja desfasamento é chama de paralaxe - desvio aparente da posição de um objecto
visualizado contra um plano de fundo, quando a posição do observador se altera. Essa diferença
permite ao córtex visual realizar a passagem da informação bidimensional em um registro coerente em
três dimensões que reúne dados sobre os lados, a perspectiva, as cores, a luz e a sombra recebidos em
paralelo. Deste modo, para onde quer que olhemos, nunca percepcionamos só uma dimensão. Toda a
forma tem um fundo, um enquadramento. Pode ser ou não tridimensional, real ou induzido.
3. A consciência da percepção visual só existe, porque temos memória e consequentemente noção
de tempo. Se assim não fosse, a percepção não passaria de instantes dissociados, sem qualquer
correlação entre eles. Esta noção de tempo da percepção é um importante campo de estudo porque dele
dependem as relações entre a imagem, som e movimento.
4. A cor é característica intrínseca de tudo o que nos rodeia. Como tal afecta-nos a todos os
níveis desde psicológicos até fisiológicos. É um elemento tão fundamental para a existência humana
que se torna decisiva no condicionamento da evolução do indivíduo.