Julho de 2010
Número 5
ABSTRACT
In this article we present some consequences of the paradigm shift in the teaching of
Portuguese language, emphasizing the importance of the introduction of text genres in
teaching and their distinction in relation to text types. The National Curriculum
Parameters (PCN) are taken as an example and ratify the need to consolidate these
concepts to enable effective mother tongue education.
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Mestranda em Linguística pelo Programa de Pós-graduação da Faculdade de Letras da UFMG. Pesquisa
as produções de texto nos livros didáticos de língua portuguesa, sob a perspectiva dos gêneros textuais e
também as provas de vestibulares aplicadas no Brasil. Ministra curso de capacitação de professores e faz
parte de equipes de correção e elaboração de avaliações sistêmicas. E-MAIL:
karenalvesandrade@yahoo.com.br
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ISSN 1983 7429
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RESUMO
ABSTRACT
In this article we present some consequences of the paradigm shift in the teaching of
Portuguese language, emphasizing the importance of the introduction of text genres in
teaching and their distinction in relation to text types. The National Curriculum
Parameters (PCN) are taken as an example and ratify the need to consolidate these
concepts to enable effective mother tongue education.
Seguindo uma série de estudos linguísticos, encabeçada por Bakhtin, acredita-se que um
dos meios eficientes de se alcançar progressos no ensino de língua materna é o trabalho
com os gêneros textuais. Todo usuário da língua fala, lê, escreve, enfim, se comunica
por diferentes gêneros textuais - faz escolhas a cada momento, adapta sua fala e enfatiza
diferentes aspectos do discurso. O que na verdade se faz é escolher, mesmo que
intuitivamente, um gênero textual para as diferentes situações comunicativas das quais
participa. Sendo assim, a que o ensino deveria ater-se senão à forma utilizada para a
efetivação das práticas de linguagem?
É nessa perspectiva que se defende que o ensino deve basear-se no domínio dos gêneros
textuais, de forma a apresentar e desenvolver nos alunos habilidades específicas para
utilizarem a língua nas diversas situações de uso da linguagem, seguindo os contornos
sócias já pré estabelecidos e configurados nos gêneros.
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Mais informações em: Resultados SAEB 2003. INEP/MEC, versão preliminar, 2004. Disponível em
<http://inep.gov.br/basica/saeb/publicacoes.htm
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Os gêneros textuais são, conforme SCHNEUWLY & DOLZ (2004, p. 74)
“instrumentos que fundam a possibilidade de comunicação”, funcionando como um
modelo comum ao qual o falante da língua deve lançar mão para interagir nas diversas
situações comunicativas de seu dia-a-dia. Em seu cotidiano, o falante se depara com
inúmeras situações em que deve fazer uso da linguagem – seja para fazer-se entender ou
para compreender algo. Porém, cada um desses momentos possui especificações que
ditam “o que dizer”, “como dizer” e “à quem dizer”. Depreendem-se, então, os 3
elementos caracterizadores dos gêneros textuais: o conteúdo temático, a estrutura
composicional e o estilo.
Visto que um dos papéis da escola, no que concerne ao ensino de língua materna, é
preparar os alunos para dominar a língua em várias situações, fornecendo-lhes
instrumentos eficazes que lhes possibilitem um comportamento discursivo consciente e
voluntário (SCHNEUWLY E DOLZ, 2004, p.49), passa a ser clara a necessidade de se
trabalhar os textos como eventos comunicativos, que se manifestam nos gêneros
textuais. Segundo SCHNEUWLY E DOLZ (2004, p. 71), “o gênero é que é utilizado
como meio de articulação entre as práticas sociais e os objetos escolares, mais
particularmente no domínio do ensino da produção de textos orais e escritos”.
COSCARELLI (2007, p.4) reforça que “a idéia de trabalhar com os gêneros na escola
surgiu da necessidade de trazermos o contexto, ou seja, a situação de produção e
recepção daquele texto, para a sala de aula. Quem escreve precisa saber para quem está
escrevendo, o que quer dizer e com que objetivo está escrevendo.” A escola e os
educadores devem estar prontos, então, para incluir em suas salas de aulas essa
novidade não tão recente, mas ainda desconsiderada em algumas práticas escolares.
Segundo SCHNEUWLY E DOLZ (2004, p. 58), por algum tempo as tipologias textuais
foram consideradas uma “saída promissora”. Porém, percebeu-se que o trabalho com
tipologias traz consigo importantes limitações, ainda que apresentasse conhecimentos
muito relevantes sobre o funcionamento da linguagem. As tipologias são elementos que
devem ser levados em conta no trabalho com textos, mas não devem ser o eixo
norteador das práticas escritas. Ainda conforme os autores, isso ocorre visto o trabalho
com tipologias não centrar-se no texto nem nos gêneros como objeto de estudo, mas sim
as operações de linguagem que os constituem, ou seja, “a análise se exerce sobre
subconjuntos particulares de unidades linguísticas que formam configurações,
traduzindo as operações de linguagem postuladas”.
Sendo assim, para atender às orientações dadas nos PCN - que apresentam como foco as
funções sociodiscursivas da linguagem e se preocupam com o desenvolvimento dos
alunos em diversas situações comunicativas – as atividades de produção escrita
deveriam lançar mão dos gêneros textuais, criando condições de escrita semelhantes
àquelas que o aluno vivenciará em sua vida social. Entretanto, os próprios PCN
confundem algumas vezes as terminologias e tendem a incentivar a produção de tipos
no lugar dos gêneros textuais.
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Os Parâmetros Curriculares Nacionais são um instrumento desenvolvido por
especialistas e educadores do Brasil visando criar um referencial para o ensino do país.
Seu objetivo principal e direcionar e auxiliar as equipes escolares no planejamento e na
execução de práticas didáticas, além de incentivar a reflexão dos professores e demais
profissionais da educação acerca de suas práticas. É um instrumento que serve, também,
para prover conhecimento aos educadores com menor acesso às informações, dando-
lhes a oportunidade de reconhecer e praticar novas metodologias educativas.
Sendo assim, o professor sabe que deve trabalhar com os gêneros textuais, mas
desconhecendo como fazê-lo, acaba por reproduzir as práticas anteriores do ensino em
que pouco se aprendia. Ele acaba, muitas vezes, por promover equívocos e manter o
modelo de ensino tradicionalista, preocupado com definições e regras, concentrando
seus esforços na caracterização e categorização de textos.
* a continuidade temática;
Observa-se também que, ainda que o enunciado refira-se à redação de diferentes tipos
textuais, os subitens que o seguem referem-se ao tema, ao propósito, à continuidade
temática e ao contexto que são elementos constituintes dos gêneros textuais. Vê-se que
as implicações do trabalho com gêneros são reconhecidas, mas atribuídas a um conceito
inadequado, que é o de tipos de textos.
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Deve-se, então, amadurecer essas questões, firmando os textos e os gêneros nos quais
eles se manifestam como o objeto de ensino em língua portuguesa e reconhecendo os
tipos, ou tipologias textuais, como subconjuntos de unidades linguísticas subjacentes
aos gêneros.
Considerações finais
O ensino de Língua Portuguesa tem sido desde os anos 70 um dos pontos centrais para
a melhoria do ensino do país e, desde então, muitos avanços tem ocorrido, dentre eles o
reconhecimento dos gêneros textuais como instrumento eficaz para o ensino de língua
materna. É necessário, porém, que o conceito de gênero seja consolidado na esfera
educacional, assim, como o reconhecimento dos tipos como internos e dependentes do
gênero. Dessa forma, mais um passo será dado em direção a um ensino que privilegie
uma concepção de língua atrelada à função social da linguagem.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
COSCARELLI, Carla Viana. Gêneros textuais na escola. Juiz de Fora, n.2, 2007. Disponível
em <http://www.revistaveredas.ufjf.br/volumes/veredas_ensino/artigo05.pdf>. Acesso em: 02
ago.2008.
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